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ChatGPT: desafios e possibilidades dentro da sala de aula

Lançada em 2022, a ferramenta de inteligência artificial que permite criação de textos coesos coloca modelos tradicionais de ensino em debate

Por Jorge de Souza

Uma nova tecnologia, lançada no final de 2022, vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões em diversos setores da sociedade. O ChatGPT, ferramenta que permite a construção de textos bastante coesos, já redigiu até um roteiro de um filme de ficção científica que alcançou US$ 250 milhões em receitas com bilheteria. Com um modelo de funcionamento diferente de outros chatbots, o ChatGPT alia a inteligência artificial ao machine learning, que nada mais é do que um fluxo de aprendizado do programa para gerar conteúdos com base no histórico de trabalho. Ou seja, o ChatGPT consegue utilizar conteúdos originais da internet para elaborar modelos mais efetivos de resposta, por meio da análise dos padrões de escrita do usuário. Com benefícios tentadores, plataformas tec- nológicas como o ChatGPT precisam ser analisadas e utilizadas com inteligência. Afinal, a criação automática de conteúdos coloca em xeque diversas funções inerentes ao ser humano, como o pensamento crítico e, claro, o aprendizado.

“Tenho sempre dito: o maior desafio dos educadores no mundo moderno é saber trabalhar com tantas ferramentas disponíveis e com tanta inovação. É notório observar o quanto as tecnologias têm impactado a vida das pessoas como um todo – para o bem e para o mal. O ChatGPT, assim como outras ferramentas inovadoras, me parece estar em linha com tudo o que vem acontecendo no mundo da educação nos últimos tempos”, explica o CEO da Youtz e professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), Valdecir Cava- lheiro, Diretor de Ensino dos Cursos Livres, do Sinepe/PR. E essa problemática pode ser cada vez mais vista nas salas de aula. A ferramenta lança desafios e possibilidades a estudantes, professores e toda a comunidade acadêmica, em especial em como gerar conhecimento e agregar essas ferramentas tecnológicas no ambiente escolar sem diminuir o poder analítico e crítico dos alunos.

Cabe a nós como professores, educadores, diretores, pais e sociedade como um todo inseri-la como instrumento de aprendizagem. Precisamos fazer com que os estudantes observem essas tecnologias de maneira crítica.

“Temos várias possibilidades para o fomento do conhecimento por meio das tecnologias. O próprio ChatGPT pode ajudar muito nisso. A ferramenta em si oferece muitas possibilidades, até porque os estudantes diariamente nos trazem demandas que precisam ser analisadas e dialogadas para garantir um conhecimento contextualizado e aprofundado”, analisa o diretor do Colégio Medianeira, Carlos Torra.

Diante desse cenário, é importante que os centros de educação preparem os professores e educadores para criarem atividades que englobam a tecnologia dentro de sala de aula. Essas práticas auxiliam na velocidade da troca de informações entre docentes e estudantes, seja como ferramentas de pesquisas que podem servir de iniciação para discussões ou até mesmo para correções e retornos de conteúdos já programados.

“Tenho que uma das questões-chave é o ganho de tempo. Lembremo-nos de que essa tecnologia ainda é incipiente e vamos aprender muito sobre suas potencialidades. O que precisamos neste momento é fazer uma adequada gestão do recurso para um bom proveito no processo pedagógico”, complementa o diretor. Outro benefício dessas tecnologias é o fomento a criação de práticas inovadoras dentro do ambiente acadêmico. Com a conexão dos estudantes com essas plataformas, é possível reforçar a importância do trabalho colaborativo e conceitos como a economia solidária e cidadania global. Ou seja, novamente a plataforma desempenha o papel de iniciar os debates que serão estabelecidos, desenvolvidos e até mesmo transformados em projetos de cocriação pelos alunos em sala de aula.

“Sinceramente, não acredito que o ChatGPT pode trazer prejuízos ao processo pedagógico se o uso da ferramenta for bem orientado. Vejo muito mais como um excelente apoio na busca do conhecimento. No fundo, o que se tem agora é uma forma diferente de busca e estruturação da informação já disponível. Precisamos envidar esforços para evitarmos os ‘pré’ conceitos e fazermos da escola a protagonista no uso de boas ferramentas”, pontua Cavalheiro. Mas para que o uso de ferramentas como o ChatGPT seja efetivo e positivo, é importante que os educadores reforcem diariamente a importância do aprendizado e da autonomia. Mais do que apenas combater a prática de plágio, é fundamental evitar que os alunos se tornem reféns da ferramenta, buscando por respostas fáceis e tornando-os incapazes de analisar diversas questões no cotidiano e, consequentemente, incapazes de criar respostas e soluções para essas problemáticas.

“Nós sabemos que, mesmo a escola propondo um cenário criativo, esse tipo de tecnologia será utilizado pelo estudante com foco na diminuição dos esforços para as atividades diárias. Cabe a nós como professores, educadores, diretores, pais e sociedade como um todo inseri-

-la como instrumento de aprendizagem. Precisamos fazer com que os estudantes observem essas tecnologias de maneira crítica”, contextualiza Torra. Ou seja, é necessário uma construção coletiva por toda a comunidade acadêmica para que o ChatGPT e outras plataformas tecnológicas sejam inseridas de forma programada e responsável dentro das salas de aula, como foco na potencialização da esfera de debate e geração de conhecimento. “Esse conhecimento só vai ter significado se o estudante entender que, com aquilo, ele conseguirá resolver problemas no dia a dia, seja em relações com a família, colegas e até mesmo na vida profissional mais adiante. Se a tecnologia nos dá algumas ferramentas para a leitura do mundo, somente a interação constante entre pessoas vai garantir que de fato esse conhecimento seja humanizado e possa produzir uma consciência criativa nos estudantes, que assim poderão aplicá-las para a resolução de problemas diários, do mundo real”, finaliza Torra.