Revista Construir Mais - Outubro de 2015

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OMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO

BIM

– conceitos e mitos para o planejamento e gerenciamento de empreendimentos na construção civil Independente do cenário econômico, o bom planejamento e o controle da sua execução se impõem como necessidades básicas para o sucesso de um empreendimento. Em tempos de dificuldade econômica estas necessidades se tornam mais latentes e exigem que todos os envolvidos na elaboração de um empreendimento cumpram seus papéis e colaborem com o sucesso deste empreendimento. Atualmente, temos disponível a plataforma BIM que oferece poderosas ferramentas para que o mercado da construção civil possa aliar qualidade construtiva à eficácia. Porém, sempre que o BIM é mencionado, é feita uma associação simplista ao modelo tridimensional (3D) que é gerado, mas apesar do modelo 3D ser o ponto de partida, ele não é o único produto produzido por esta tecnologia, que possui várias vantagens, desde o desenvolvimento dos projetos, o planejamento e gerenciamento da execução dos empreendimentos, até a operação da edificação através de modelo adequado. Mas afinal, o que é o BIM? O Building Information Modeling (BIM) ou Modelo de Informação Construtiva é um conceito que fundamentalmente envolve a modelagem das informações do edifício, criando um modelo digital integrado de todas as disciplinas e que abrange todo o ciclo de vida da edificação, desde seu planejamento até sua manutenção ou demolição. Como dito anteriormente, sua aplicação é feita inicialmente com a elaboração dos modelos tridimensionais (3D) de todas as disciplinas necessárias a um empreendimento imobiliário. Para isto, são utilizados softwares como o Revit da Autodesk, o ArchiCAD da Graphisoft e o Bentley Architecture, da Bentley. É por meio destes modelos tridimensionais que é feita uma integração entre as disciplinas e uma verificação de interferências nos projetos (clash detection), o que permite anteciparmos incompatibilidades e problemas que seriam detectados somente durante a execução do empreendimento. O BIM permite, também, que este modelo seja associado à variável tempo, tornando-se possível incorporar ao modelo informações sobre cronograma, sequência de obra e fases de implantação, sendo esta fase chamada de BIM 4D. Nesta fase, o gerente consegue visualizar virtualmente a progressão da obra, com o modelo integrado ao cronograma, e isto possibilita controles e tomadas de decisão mais assertivas sobre os prazos de execução. O uso do BIM pode proporcionar, também, a quantificação automática e precisa, auxiliando na orçamentação do empreendimento. Este recurso é o chamado BIM 5D. Ao modificar o modelo 3D, são automaticamente atualizados os quantitativos, que são instantaneamente recalculados. Isso permite que a análise de custos se estenda por todas as fases do empreendimento, apoiando o processo de decisão. Além das dimensões acima mencionadas, existem ainda o chamado BIM 6D e 7D. O 6D é a gestão tridimensional de itens de sustentabilidade aplicadas ao empreendimento. E o 7D é a fase que envolve a gestão do empreendimento pós-obra, utilizando o mesmo modelo 3D para dar suporte à manutenção e/ou retrofit do empreendimento. O BIM já é uma realidade há mais de 10 anos em mercados de construção civil em vários países, porém sua utilização pelas 16

SINDUSCON-GO • CONSTRUIR MAIS • OUTUBRO 2015

ANA GABRIELA LINS

IARA LUIZA GALVÃO

construtoras brasileiras ainda é incipiente, apesar dos avanços em sua implantação. Acreditamos que o maior desafio para a implantação do BIM está na falta de entendimento de que é necessário um esforço conjunto de projetistas e construtores envolvidos nos vários processos de planejamento e execução de um empreendimento para extrair o máximo de vantagens, que ela nos possibilita. Goiânia é uma das capitais brasileiras que já possui empreendimentos com modelos paramétricos completos desdobrando produtos em suas respectivas obras. Esta realidade surge graças à visão inovadora dos construtores goianos e do esforço de empresas projetistas como a Lins Galvão e Arquitetos Associados, que enxergando os benefícios da implantação do BIM, desde 2009 desenvolve seus projetos utilizando softwares de modelagem paramétrica, gerando os modelos de arquitetura em 3D (em nível executivo) e empenhando a compatibilização tridimensional entre todas as disciplinas de projeto, como estrutura e instalações. Nas instalações prediais podemos citar o trabalho da Mol Engenharia, que desenvolve os projetos de instalações prediais em ambiente tridimensional paramétrico e desdobra junto aos parceiros os produtos do 4D, que estão sendo implantados nos canteiros de obra, levando assim mais facilidade para quem está planejando e executando o empreendimento. Segundo depoimento do engenheiro Bruno Resende, que já está utilizando o modelo 3D no canteiro de obras de um edifício residencial, “a maior vantagem é a visualização 3D dos projetos, principalmente de várias disciplinas ao mesmo tempo, quando coloca as instalações sobre a arquitetura, é possível planejar melhor as etapas de execução, facilitando inclusive o entendimento para a equipe de produção. Outro grande ponto positivo é a possibilidade de se extrair de forma prática e rápida os quantitativos de projetos, com lista de materiais e em alguns casos até os valores finais”. O engenheiro Samuel de Paula Carneiro, que coordena outro empreendimento, concorda com Bruno e diz que “as maiores vantagens são na redução do risco na compatibilização de projetos e na redução de custos devida a sua exatidão e eficiência”. Apesar das dificuldades encontradas pela mudança de cultura necessária e a resistência de mestres de obras e encarregados, o engenheiro Bruno afirma, “essa tecnologia deve e precisa ser usada em outros empreendimentos, é um caminho sem volta, trata-se de um entendimento mais assertivo e completo da obra, BIM é fantástico!”. E o engenheiro Samuel completa, “mesmo sendo algo novo para todos os profissionais na obra, temos facilidade na compreensão e leitura dos projetos, evitamos inúmeros erros anteriores, além da economia significativa no que tange os materiais levantados e outros”. Diante do exposto, concluímos que é necessário que o mercado da construção civil saia da sua zona de conforto e alce passos mais largos em direção a novas práticas de planejamento e gerenciamento, para assim, poder produzir cada vez com mais qualidade técnica e eficácia, potencializando seus lucros e a satisfação de seus clientes. ANA GABRIELA LINS e IARA LUIZA GALVÃO são arquitetas da Lins Galvão e Arquitetos Associados


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