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Entrevista

Comércio de combustíveis e lubrificantes entre os segmentos econômicos mais afetados pela pandemia

Queda no poder de compra, menor circulação de pessoas, mudanças nos hábitos da população e aumento da taxa de inflação. Esses são alguns dos itens listados pelo economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, que explicam o fraco desempenho do varejo em 2021. A repórter Rose Guidoni, da revista Combustíveis & Conveniências, da Fecombustíveis, entrevistou o economista, para quem a recuperação das vendas no segmento de combustíveis só deve se concretizar após a volta da normalidade da circulação de pessoas. Para Fabio Bentes, os juros tendem a subir mais ao longo de 2022. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

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Fabio Bentes – Economista da CNC

Qual sua avaliação sobre o desempenho econômico de 2021? Apesar da vacinação, que era algo esperado para a retomada da economia, a alta de preços foi uma barreira para a melhora do consumo?

A economia conseguiu se recuperar bem ao longo do ano e o PIB deve crescer 4,7% em 2021. É uma boa notícia. Entretanto, há preocupações em relação a 2022 e devemos ter um crescimento baixo porque o ano de 2021 deixou como herança uma taxa de inflação elevada. Com isso, os juros tendem a subir mais ao longo de 2022. Aliás, os impactos negativos dessa inflação elevada já estão, na margem, desacelerando a economia e o comércio.

Com a perda do poder de compra, quais os impactos para o varejo? Na visão da CNC, quais segmentos estão sendo mais afetados? Os postos de combustíveis estão entre os mais impactados?

O varejo sofre duplamente. Por um lado, reduz-se o poder de compra da população e isso afeta negativamente as vendas. Por outro, a inflação tem pressionado os custos e despesas do setor produtivo. Ou seja, a rentabilidade do comércio tende a ser menor neste cenário. Dentre os principais segmentos do varejo, podemos apontar três como os mais afetados. O comércio automotivo, o ramo de vestuário e a venda de combustíveis e lubrificantes, cujo volume de vendas ainda se encontra 7,5% abaixo do nível pré-pandemia.

Ao longo dos meses de pandemia, o modelo de consumo mudou, as pessoas passaram a comprar mais online e focar em produtos essenciais. De que maneira isso afetou o mercado de combustíveis?

Essa mudança nos hábitos de consumo afetou negativamente o segmento de venda de combustíveis e lubrificantes. Mesmo sendo considerado essencial, o setor ainda amarga perdas. A recuperação das vendas neste segmento só deve se concretizar após a volta da normalidade da circulação de pessoas.

Houve aumento na demanda por crédito? O aumento do endividamento traz quais reflexos para a economia?

O crédito tem crescido, mas esses recursos não são suficientes para reaquecer a economia por conta do elevado grau de endividamento da população. Esses recursos acabam absorvidos pelo próprio sistema financeiro. Pelo menos a inadimplência não tem crescido de forma significativa.

A alta dos combustíveis também tem despertado inúmeros debates, seja sobre questões tributárias, seja relacionada ao modelo de precificação (pareado ao preço internacional, com influência do câmbio). Qual sua avaliação sobre isso?

Acredito que o bom senso deve prevalecer. A política de paridade é coerente, entretanto, a frequência dos reajustes poderia ser menor. A redução dos tributos deveria ser planejada no contexto de uma reforma tributária ampla. Nada garante que a redução dos impostos mantenha preços mais baixos no médio prazo pois as fontes de pressão desses reajustes tendem a afetar para cima os preços dos combustíveis por mais algum tempo. Não há sinais de que o preço do petróleo irá ceder e por estarmos entrando em um ano eleitoral a tendência é que haja oscilação na taxa de câmbio.

Qual sua opinião sobre a carga tributária no Brasil? O que deveria ser prioridade na reforma tributária?

Acho que o timing da reforma tributária passou. Não vejo espaço para uma discussão adequada sobre este tema neste momento. A reforma administrativa deveria preceder a reforma tributária, mas, infelizmente, o carro passou na frente dos bois. O setor produtivo está desconfiado em relação ao aumento do peso dos impostos e tributos, especialmente pela carência de informações técnicas sobre como as alíquotas estão sendo propostas. Alguns projetos e propostas, se implementados da forma como estão sendo apresentados tendem a penalizar as atividades de comércio e, principalmente, serviços.

Qual sua expectativa para o varejo de combustíveis neste início de 2022?

O setor deverá fechar 2021 no azul por conta da baixíssima base comparativa de 2020, quando as vendas recuaram 9,7%. O varejo de combustíveis só deverá se recuperar de forma mais significativa quando a circulação de consumidores se normalizar e os reajustes nas refinarias se tornarem menos frequentes. Nossa previsão para 2021 é de alta de cerca de 3%. Para 2022, ainda não temos previsão em razão das incertezas no cenário econômico brasileiro e mundial.

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