Os caminhos da democracia e a hora da política

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Porque a crise econômica, por exemplo, é, na verdade, uma crise da política econômica. A crise institucional originase do desequilíbrio político das instituições. E a própria crise ética pode ser entendida como uma reprodução, no campo dos comportamentos individuais, dos descaminhos institucionais e políticos em que nos perdemos nos últimos anos. O que quero dizer é simples: se não recuperarmos a credibilidade e a legitimidade da atividade política, não ultrapassaremos essa crise. Tão importante quanto isso: se não recuperarmos a capacidade da política para intervir eficazmente sobre a realidade – ou seja, se não formos capazes de devolver o poder aos Poderes legítimos –, não chegaremos a lugar nenhum, e continuaremos a extenuar nossos passos num caminho sem destino, mas também sem fim, porque ele apresenta sinais do que se convenciona chamar causação circular. Essa circularidade é cumulativa, pois ela nasce da falta de credibilidade e legitimidade da política, e se realimenta da anomia social daí decorrente. A anomia social é aquele estado em que as pessoas não acreditam mais nas suas instituições, e nem na sua capacidade de atuar sobre elas. Precisamos inverter a direção e o sentido dessa causação, fazendo com que, ao recuperar a credibilidade e a legitimidade, a atividade política recupere igualmente a sua capacidade de ação efetiva, e possa atrair novamente, para o seu âmbito, as cidadãs e os cidadãos de bem que hoje se afastam da política como se fosse uma atividade corrompida e corruptora por natureza. 13


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