Celina Portella
Rio de Janeiro, 1977
Público, 2017 [Public]
Os vídeos, fotografias, performances e instalações de Celina Portella constantemente tensionam a relação entre o que se encontra dentro e fora da imagem. Nas situações encenadas pela artista, o corpo – muitas vezes o seu próprio – é o protagonista de uma coreografia que desafia os limites do campo imagético. A partir de dispositivos tecnológicos, suas obras induzem continuidades e espelhamentos entre presenças reais e artificiais, espaços físicos e ilusórios. Nas fotografias da série Puxa (2016), Portella aparecia em escala miniatura tensionando uma corda para criar contrapeso com algum objeto que estava além da moldura, gerando a ilusão de um equilíbrio real de forças. Já na instalação sobre trilho intitulada Movimento² (2010), ao escorar-se na extremidade do quadro de filmagem, a artista parecia empurrar o monitor no qual sua imagem era reproduzida, como se ele se deslocasse em sincronia com seu movimento. Em trabalhos como Nós (2011), desdobrou sua figura em camadas de vídeo sobrepostas, projetadas na escala humana, e dançava com esses duplos fantasmagóricos. Semelhante caminho foi investigado em Público, videoinstalação interativa que integra esta edição de Frestas. Graças a um sensor de movimento, a entrada do espectador na sala escura ativa um foco de luz direta e uma série de monitores, cada um reproduzindo a imagem de uma pessoa aplaudindo. O conjunto dá a impressão de que o visitante está diante de uma plateia de teatro no final de uma apresentação. Os aplausos virtuais parecem inverter os papéis de público e artista, emulando um espetáculo no limiar entre realidade e ficção. Portella instaura assim a possibilidade de um novo campo relacional, um jogo intrincado que concilia e acumula múltiplas dimensões. OA
128 | 129
Celina Portella’s videos, photographs, performances and installations constantly explore and test the relationship between the encounter inside and outside the image. In the situations the artist stages, the body—often her own—stars in a choreography that challenges the limits of the imagetic field. Her works use mechanical and technological devices to induce continuities and mirrorings between real and artificial presences, physical and illusory spaces. In the photographic series Puxa [Pull] (2016), a miniature Portella is seen pulling on a rope to counterweigh some object outside the frame, generating the illusion of a real balance of forces. In the installation Movimento² [Movement²] (2010), the artist is seen on-screen apparently pushing the monitor along a wall-mounted sliding track. In works such as Nós [Us] (2011), she multiplied lifesized projections of her own figure in superposed video layers, then danced with these phantasmagoric peers. A similar approach was explored in Público [Public], an interactive videoinstallation onshow at this edition of Frestas. When the visitor enters the room, a motion sensor in the darkened room triggers a spotlight trained on the entrant, while a series of monitors fills up with images of people applauding, greeting the exhibition-goer with a standing ovation. The virtual applause seems to reverse the roles normally attributed to the artist and the public by evoking a theater spectacle on the threshold between fiction and reality. It’s a process that enables Portella to devise a new relational field, an intricate game that reconciles and accumulates multiple dimensions.