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Mergulho na alma

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Solange Alves

Solange Alves

Oscar Wilde

O corpo é comparável a uma frase que convidaria à desarticulação, para que os seus verdadeiros conteúdos fossem recompostos através de uma série de anagramas sem fim.

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Hans Bellmer, L’anatomie de l’image.

A exposição Mergulho na Alma, faz uma retrospectiva merecida da carreira artística de Solange Alves, paulistana que escolheu Palmas para ser o seu lar. Iniciada em 1979, sua carreira artística completa 44 anos em 2023. Ao longo desses anos criou muitas artes, ganhou vários prêmios e realizou diversas exposições individuais e coletivas.

Ao montar a exposição a curadoria buscou selecionar obras de diferentes períodos de sua carreira. Esses recortes curatoriais possibilitam ao público conhecer as diferentes fases de sua criação artística e perceber a evolução estética e conceitual percorrido por Alves ao longo de sua carreira artística. E por questões conceituais e didáticas a exposição está dividida nos seguintes núcleos: produções de designer gráfico, pinturas naturalistas, pinturas surrealistas, instalação artística e um vídeo arte, demonstrando dessa forma a profusão de possibilidades e de inventividade da artista. No catálogo, buscamos ampliar essa exposição acrescentando outras obras e textos traçando dessa forma uma linha do tempo da carreira de Alves.

O corpo humano tem sido um dos temas mais abordados ao longo da História da Arte. Ele aparece representado, desde as pinturas rupestres e esculturas de pedra da Antiguidade até os grafites realizados nos muros das grandes cidades atuais. Apesar de a figura humana ser um tema constante na arte, é sempre um desafio para os artistas expressar os gestos e as emoções das pessoas através de suas obras. Na obra de Solange Alves, esse tema se faz presente, como um dos focos centrais. Vemos desde corpos representados de forma naturalistas até corpos fragmentados ou desconstruídos.

Numa carta a Breton, Antonin Artaud dizia que “ o homem não devia pensar-se como revolucionário apenas no plano social, mas acreditar e sobretudo sê-lo no plano físico, fisiológico, anatômico, funcional, circulatório, respiratório, dinâmico, atômico e elétrico”. Ou, como diria André Masson mais tarde, “era preciso se fazer uma ideia física da revolução”¹. Na obra de Solange Alves percebemos essa revolução no corpo, que integra ao universo físico e metafísico, perpassando por questões psicológicas, filosóficas, estéticas e arquetípicas. Sua obra, desvela o ser humano e revela-o mais humano que o humano. Como afirma a artista: “A minha arte não é fruto de uma atividade misteriosa, mas objeto feito por um ser humano para outros seres humanos”.

Estar na exposição é entrar em contato com a alma da artista. É tocar o humano que existe em cada um com o humano representado nas diversas obras de arte. Ou ainda, pensando na frase de Antoine de Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Eu diria, transpondo esse pensamento para a experiência de observar obras de arte, que, o ato de contemplar a arte, deixam um pouco dela em nós e agregam um pouco de nós nela. Pois cada observador trás um ponto de vista, uma história, que se completa com a narração da obra de arte.

Promotor Cultural em Artes Visuais

1- Citado por Noel, Bernard. La chair du regard. Paris: Gallímard, 1993, p.37. apud Moraes, Eliane Robert. O corpo impossível: a decomposição da figura humana: de Lautréamont a Bataille. São Paulo: Iluminuras, 2012. p. 70.

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