Concertos Didáticos FEA - Série Pianistas

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Ministério da Cultura apresenta

Concertos Didáticos série pianistas

Direção artística: Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini


LEME ENGENHARIA

PRECISÃO E PAIXÃO Como a engenharia, toda música é um projeto. De nota a nota, número a número, cria-se um conjunto preciso que, acompanhado de sentimento, produz uma harmonia perfeita. Nós, da LEME Engenharia, somos movidos por paixão e precisão, assim como a música. Por isso, apoiamos, mais uma vez, a realização dos Concertos Didáticos.UFMG. A LEME Engenharia, parte integrante do Grupo Tractebel Engineering (GDF SUEZ), é uma empresa com mais de 45 anos de experiência em engenharia consultiva para projetos nos segmentos de energia e infraestrutura. Com escritórios em diferentes estados do Brasil e no Chile, Equador, Panamá e Peru, desenvolve e gerencia obras de médio e grande porte, atuando desde as fases preliminares até a implantação final do empreendimento.

www.leme.com.br


Concertos Didáticos série pianistas 17 março

NELSON FREIRE

14 abril

RICARDO CASTRO

12 maio

LUIZ GUSTAVO CARVALHO

26 maio

ARTHUR MOREIRA LIMA

30 junho

VERA ASTRACHAN

4 agosto

CRISTINA CAPPARELLI

25 agosto

ANNA MALIKOVA

15 setembro

CELINA SZRVINSK e MIGUEL ROSSELINI

29 setembro

RICARDO CASTELO BRANCO

27 outubro

ARNALDO COHEN


Homenagem Ă Berenice Menegale


Queridos amigos, Com alegria apresentamos, dentro da programação dos Concertos Didáticos FEA, a Série Pianistas, trazendo no decurso dos dez concertos da temporada, além de Anna Malikova, grandes artistas brasileiros do piano, um indício claro da relevância de nossa história pianística. A melhor forma de tributo ao artista é, sem dúvida, conceder-lhe oportunidade de exercer sua arte. Não podendo Berenice Menegale aceitar nosso convite para apresentar-se nessa programação, prestamos a ela uma homenagem mais singela, dedicando-lhe a Série Pianistas. Pianista inconteste, devotada a grandes desafios, intérprete comprometida com o seu tempo, sempre voltada para ações transformadoras, Berenice Menegale é personalidade marcante como artista, empreendedora e pedagoga. Suas realizações distinguem-se nessas esferas com propósitos invariavelmente altruístas. Ainda ecoam magníficas lembranças de seus concertos de 2006, quando apresentou a Integral das Sonatas de Mozart e, igualmente, de seu recital no bicentenário Chopin. Contudo, se não celebramos o privilégio de sua música, continuamos a admirá-la pelo trabalho que desenvolve na Fundação de Educação Artística, instituição da qual foi membro fundador, há quarenta e nove anos, e que dirige desde então. À frente da Fundação de Educação Artística, criou o Festival de Inverno de Ouro Preto, atualmente produzido pela UFMG, realizou várias edições de Encontros de Compositores Latino-americanos, Ciclos de Música Contemporânea e inúmeros outros de fundamental importância para a cena musical belo-horizontina. Foi Secretária de Cultura do Município de Belo Horizonte e do Estado de Minas Gerais, e é presença essencial em todos os segmentos da cultura de nosso estado. No anseio de manifestar o reconhecimento por sua notável produção e incansável generosidade, receba pois, Berenice Menegale, dos artistas e do público da Série Pianistas, nosso mais fervoroso aplauso. Miguel Rosselini Prof. Adjunto de Piano e Música de Câmera da Escola de Música da UFMG



Concertos Didáticos série pianistas

17 de março - sábado - 18 horas J ohann S ebastian B ach (1685-1750) - F erruccio B usoni (1866-1924) Prelúdio-Coral “Je vous invoque, Seigneur” L ud w ig van B eethoven (1770-1827) Sonata nº31 em lá bemol maior op.110 Moderato cantabile molto espressivo Allegro molto Adagio ma non troppo Fuga: Allegro ma non troppo

R obert S chumann (1810-1856) Cenas Infantis op.15 De Povos e Terras Distantes História Curiosa Cabra-Cega Criança Suplicante Felicidade Perfeita Grande Acontecimento Devaneios À Lareira Cavaleiro do Cavalo-de-Pau Quase Sério Demais Meter Medo Criança Dormindo Fala o Poeta Intervalo

F r éd éric C hopin (1810-1849) Balada nº4 op.52, em fá menor Noturno op.15 n°1, em fá maior Scherzo nº2 op.31, em si bemol menor

Nelson Freire


“A transcrição de Busoni do Prelúdio-Coral nº40 para órgão Ich ruf’ zu dir, Herr (Clamo por ti, Senhor), mantém a severa grandeza de J. S. Bach, num dos 45 flagrantes do gênio em seu Orguelbuchlein”. São estas as palavras do crítico musical Zito Baptista Filho, na contracapa do terceiro LP de Nelson Freire, gravado no Rio, em 1964. Nelson, então aos dezenove anos, via-se às vésperas de sua viagem para a Lisboa, onde venceria o II Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta. Lembremos que ele já obtivera projeção nacional por angariar, aos treze, o prêmio no I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro. Invocando a religiosidade em música, este Prelúdio-Coral de Bach, por Busoni, vem, providencialmente, preludiar este recital e toda a programação desta temporada. A Sonata op.110 de Ludwig van Beethoven, composta em 1821, é habitualmente considerada como um louvor do gênio de Bonn aos mestres do barroco. A música de J. S. Bach e Haendel sempre desempenhara importante papel na escrita musical beethoveniana, na qual encontramos frequentes associações estilísticas. O terceiro movimento da op.110 está construído sob técnicas originalmente barrocas, fundamentadas numa citação da Paixão Segundo São João, de Bach: Es ist vollbracht (está tudo consumado). Usando artifícios barrocos, tais como a combinação recitativo-arioso-fuga, Beethoven parece expressar sua própria Paixão. A ausência de dedicatória da obra rendeu-nos a bela observação de Vincent d’Indy: “Beethoven só a si próprio poderia dedicar esta expressão musical da sua própria vida”. Após dois anos de diligente dedicação ao estudo do piano, o compositor alemão R obert S chumann teve sua mão direita parcialmente paralisada. Incapaz de se consagrar à carreira de compositor-virtuose, confiou a Clara, filha de seu professor e sua futura esposa, à divulgação de seu trabalho. Mas isso não o impediu de erigir, em pouco mais de dez anos, uma monumental obra para piano repleta de um virtuosismo criativo, belo e dinâmico. Deste conjunto, surgem as Cenas Infantis, que possuem a característica de suas mais importantes criações: o encadeamento lógico de pequenas peças num ciclo organizado por dados extramusicais. Escrito em 1838, este ciclo, embora inspirado pela infância, não foi especificamente designado para ser executado por crianças ou jovens. Robert explicou para Clara: “talvez fosse um eco do que me dissera certa vez, que às vezes eu te parecia uma criança; de qualquer modo, subitamente tive uma inspiração e lancei ao papel cerca de trinta pequeninas coisas, das quais selecionei algumas e as chamei Cenas Infantis. Gostará delas, embora tenha de esquecer por algum tempo que é uma virtuose”. Sobre Frédéric Chopin e suas Baladas, Schumann escreveu: “Ele contou-me que havia encontrado inspiração para as Baladas em alguns poemas de seu amigo e compatriota Mickiewicz, embora considere que seria muito mais fácil a um poeta encontrar palavras para suas músicas, pois comovem o mais íntimo da alma”. Segundo Charles Rosen, “as Baladas possuem forma narrativa, mas não possuem um programa. Não há acontecimentos, apenas expressão elegíaca, nelas a forma narrativa é preenchida por um conteúdo lírico”. Nas quatro Baladas de Chopin é possível definir os princípios de construção, embora cada uma possua uma estrutura única. A 4ª Balada foi escrita em 1842, em Nohant, no castelo de George Sand, novelista excêntrica e companheira de Chopin. Ali passaram as férias de verão, na esperança de que o compositor se curasse da tuberculose. Um dos amigos que os acompanharam notou que, em nenhum momento, Chopin se afastara tanto do mundo como ao compor sua 4ª Balada, considerada frequentemente sua melhor obra. Chopin escreveu 21 Noturnos, atingindo a expressão máxima do gênero. São normalmente estruturados em três partes: apresentação, seção intermediária (em geral mais dramática e tumultuada) e reprise (restabelecendo o repouso climático do início). Este processo composicional, chamado de forma-ternária, é claramente observado no belo Noturno op.15 nº1, de 1832. Entre 1832 e 1842, Chopin compôs os Scherzi (scherzo, do italiano “brincadeira”) que, assim como as Baladas e os Improvisos, reúnem um grupo de quatro peças. Diferentemente de Beethoven, que consolidou o scherzo como movimento de sonatas e sinfonias, Chopin firmou o gênero como movimento independente, um “poema musical”, como dizia Alfred Cortot. O scherzo chopiniano se distingue ainda pela ausência da jocosidade suscitada pelo título, substituída por um clima lúgubre e certa exaltação trágica. Dentre seus 4 Scherzi, o em Si bemol Menor nº2 é o mais iluminado, e exibe um Chopin mais carregado de energia vital. Marcelo Corrêa


Na ausência das palavras, não há necessariamente o silêncio – apenas a certeza do imponderável. Essa parece ser a lição principal da arte do pianista brasileiro Nelson Freire. Avesso a entrevistas – e à tarefa de definir aquilo que no piano é natural e espontâneo –, ele deixa escapar um sorriso maroto ao dizer que tem brigado com as palavras “desde sempre”. Mas sua linguagem sobre o palco, no entanto, é fluida e levou à formação de uma gramática própria, construída ao longo de mais de 50 anos de uma carreira que o levou aos principais palcos de todo o mundo. “Sou mineiro de alma, mas carioca de coração”, define Freire sobre sua infância. Ele nasceu em Boa Esperança, no interior de Minas Gerais, onde começou os estudos de piano com Nise Obino. Aos 5 anos, porém, mudou-se para o Rio e passou a receber orientações de Lúcia Branco, antes de, na adolescência, seguir em direção à Europa, para estudar com Bruno Seidlhofer em Viena. “O Rio me viu crescer em todos os sentidos, pessoais e profissionais e é ainda hoje a cidade para onde volto, minha casa”, diz. Foi também na cidade que o pianista conheceu uma das principais influências de sua carreira, Guiomar Novaes. “Ouvi-la sempre provocou em mim impacto – e surpresa. Ela jamais se repetia. A cada apresentação sua, tinha-se a sensação de que aquelas obras acabavam de ser compostas. Tudo o que fazia era tão convincente e natural que parecia impossível de ser de outra maneira.” Freire refere-se a Guiomar, mas poderia estar falando de si próprio. Nas últimas décadas, seus recitais – assim como a parceria com maestros como Kurt Masur, Riccardo Chailly, Charles Dutoit, Colin Davis, Lorin Maazel ou Pierre Boulez –, no palco e em gravações pra o selo Decca/Universal, tem sido recebidos com encanto por público e crítica. Seu registro dos concertos de Brahms, por exemplo, foi indicado ao Grammy e recebeu da revista inglesa “Gramophone” o prêmio de melhor disco do ano, “o Brahms que esperávamos ansiosamente”. Já o disco dedicado a Chopin recebeu o Diapason D’Or e vendeu, apenas no Brasil, mais de 40 mil cópias. Escrevendo sobre o álbum com obras de Debussy, o crítico João Marcos Coelho atribuiu ao pianista “plena forma física e uma total maturidade artística”, capaz de “revelar os segredos” do compositor francês. Para um artista que, há pouco tempo, via com desconfiança gravações em estúdio, seu legado discográfico é notável – e será aumentado em breve por um volume todo dedicado à música brasileira, com ênfase em Villa-Lobos e alguns de seus contemporâneos. Freire diz não gostar de fazer balanços. Mas a memória, quando ele está sobre o palco, é parte intrínseca da interpretação musical. É como se, a cada interpretação, um mosaico de lembranças, capazes de nos transportar a outras épocas, dialogasse com a certeza de uma abordagem sempre renovada. E entramos assim em um mundo particular, no qual fica clara a recusa do virtuosismo como meta, a exploração máxima dos coloridos sonoros, o gosto pelo detalhe e a capacidade de, ao mesmo tempo, não perder de vista a arquitetura das obras. Tudo isso ele nos oferece a cada oportunidade em que sobe ao palco. Até que, em certo momento é preciso reconhecer os limites da palavra. E celebrá-los através da música. Texto de João Luiz Sampaio



Concertos Didáticos série pianistas

14 de abril - sábado - 18 horas

L ud w ig van B eethoven (1770-1827) Sonata nº 8 em dó menor op.13, “Patética” Grave - Allegro molto e con brio Adagio cantabile Rondo: Allegro

Sonata nº14 em dó sustenido menor op.27 nº 2 “Ao Luar” Allegro sostenuto Allegretto Presto – Agitato

C laude D ebuss y (1862-1918) Suite Estampes Pagodes La soirée dans Grenade Jardin sous la pluie

F r éd éric C hopin (1810-1849) Noturno op.27 nº 1 em dó sustenido menor Noturno op.27 nº 2 em ré bemol maior Balada nº 1 op.23 em sol menor

Ricardo Castro


O próprio Ludwig van Beethoven intitulou sua célebre sonata op.13 “Grande Sonata Patética”. Isso imediatamente levantara dúvidas a respeito do significado desse nome. O que teria Beethoven desejado transmitir? Alguns associaram aos primeiros sinais de aproximação da surdez, o que deve tê-lo levado a um grande desespero. Outros procuraram uma explicação mais convencional, menos pessoal. Qualquer que seja a razão, podemos asseverar que, com a designação desta obra, Beethoven novamente estabelecera uma tendência a ser seguida pelos compositores do século dezenove: o de conceder nomes plenos de emoção a obras que julgavam adequadas a isso. Patética ou não, esta é sem dúvida uma sonata poderosa, um autêntico trabalho dramático em forma de sonata. Escrita entre 1798 e 1799, ela inaugurou um novo estilo de compor, exigindo mais do instrumento, do intérprete e do ouvinte. Nos primeiros acordes, Beethoven enfatiza os contrastes que perdurarão por todo primeiro movimento: forte-piano, grave-allegro. O segundo movimento, um belo discurso, reina sereno em oposição aos allegros. No final, um inteligível rondó valoriza aspectos não-dramáticos da tonalidade menor, contrastando o primeiro movimento. Ao ampliarmos interiormente a percepção destes contrastes, participamos da retórica e da filosofia deste “poeta dos sons”, cuja música sempre terá algo a nos dizer. A Sonata op.27 nº2, de 1801, foi oficialmente intitulada “Sonata ao Luar”, não por Beethoven, mas sim pelo poeta Rellstab, autor dos textos de muitas canções de Schubert. Com os olhos do pensamento, o poeta viu a imagem de “um pequeno barco ‘ao luar’, sobre o lago dos Quatro-Cantões”, ou Lago Lucerna. Franz Liszt caracterizou o Allegretto, em que se reflete um Ländler rústico, como “uma flor entre dois abismos”. Beethoven criara uma grande confusão, ao trocar a dedicatória da sonata no último momento antes de ser publicada, endereçando-a a Condessa Giulietta Guicciardi ao invés da Condessa Henrietta Lichnowsky. Condessa, em alemão, é Gräfin, desse modo temos as iniciais G.G.G. – que, transportadas em música, dão a repetição da nota sol – como o tema do 1º movimento. Isso contribuiu para aumentar as especulações sobre a enigmática “amada imortal”, destinatária incógnita da única carta de amor escrita por Beethoven. Em 1889, ocorreu a grandiosa Exposição Universal de Paris, para a qual um arco de entrada comemorativo do centenário da Revolução Francesa fora inaugurado: a Torre Eiffel. Claude Debussy tinha 26 anos, já se formara no Conservatório de Paris e recebera o Prix de Rome. O fato de estar presente onde estava presente o mundo – um quilômetro quadrado de exposições chinesas, maias, indianas, árabes, entre outras –impressionara-o profundamente. Musicalmente, o que mais lhe chamara a atenção foram os sons exóticos dos gamelões javaneses. Em carta ao escritor Pierre-Louÿs, perguntou: “lembra-te de música javanesa que continha todas as nuances, mesmo aquelas que não podemos denominar, onde a tônica e a dominante nada mais eram que fantasmas utilizados por crianças incultas?” As novas experiências artísticas levaram sua música a incursionar no domínio dos símbolos sugestivos, a uma nova fase de seu imaginário criador, evidenciada na suíte Estampes. Neste tríptico de 1903, ligam-se os templos sagrados do extremo oriente (Pagodes), a noite misteriosa da bela cidade andaluz de Granada (Soirré dans Grenade) e a chuva da tarde num jardim francês (Jardin sous La pluie). Esta última peça foi ainda enriquecida por dois temas infantis franceses, alternados numa textura virtuosística em forma de tocata. Fugindo do cerco militar russo e atrás de melhores oportunidades artísticas, Frédéric Chopin, aos 21 anos, abandonou definitivamente a Polônia e estabeleceu-se em Paris. Viajou pela Áustria, tocou em Dresden e chegou a Viena uma semana antes de eclodir a revolução em Varsóvia. Foi em Viena que ele esboçou a primeira de suas Baladas. Mas o ambiente vienense não lhe foi favorável, pois os austríacos não apreciavam os poloneses, Chopin era desconhecido como compositor e apenas ligeiramente conhecido como pianista. A 1ª Balada foi finalizada em Paris quatro anos mais tarde, quando celebridade, fama e fortuna tornaram-se parte de sua vida. O termo balada foi uma invenção de Chopin, no sentido por ele usado, pois se distanciava grandemente do gênero homônimo dançado e cantado pelos trovadores no século XIII. Embora o título também sugira um estilo literário, estas peças estão livres de inspirações extramusicais. Já o título noturno, amplamente usado no classicismo por autores como Mozart (Serenata notturna) e Haydn (Notturni) difere do sentido adotado no romantismo por John Field, Chopin e Gabriel Fauré. Primeiramente empregado para designar uma peça a ser executada à noite, o termo passara a traduzir-se por peças pianísticas de caráter sereno e meditativo, que sugerem ou evocam a noite. Os dois Noturnos Op.27, de 1836, refletem de maneira única a atmosfera etérea aspirada por Chopin. Marcelo Corrêa


Em 1993, Ricardo Castro recebeu o primeiro lugar no prestigioso «Leeds International Piano Competition» na Inglaterra sendo o primeiro vencedor latino-americano desde sua fundação em 1963. Radicado na Suíça desde 1984, já foi solista em concertos da City of Birmingham Symphony, Tokyo Philharmonic, Orchestre de la Suisse Romande, Mozarteum de Salzburg, BBC Philharmonic, English Chamber, Academy of St. Martin in the Fields. Já colaborou com Sir Simon Rattle, Yakov Kreizberg, John Neschling, Kazimierz Kord, Gilbert Varga, Alexander Lazarev e Michioshi Inoue. Suas apresentações e gravações são aclamadas pela crítica internacional. Nascido em Vitória da Conquista, Bahia, começou espontaneamente a tocar piano aos 3 anos de idade. Com 5 anos foi admitido em caráter excepcional nos Seminários de Música de Salvador, famosa escola que hoje faz parte da UFBa. Brilhante aluno de Esther Cardoso, aos 8 anos deu seu primeiro recital e aos 10 tocou o Concerto em Ré Maior de Haydn acompanhado pela Orquestra da UFBa. Em 1984 foi com recursos próprios estudar na Europa. Entrou no Conservatório Superior de Música de Genebra na classe de virtuosidade de Maria Tipo e na classe de regência de Arpad Gerecz. Primeiro lugar dos concursos Rahn em Zurique em 1985 e Pembaur em Berna em 1986, recebeu do conservatório de Genebra em 1987, o “Premier Prix de Virtuosité avec Distinction et Félicitations du Jury”. Neste mesmo ano foi vencedor (ex-aequo) do Concurso Internacional da ARD de Munique dando assim o primeiro impulso na sua carreira internacional. Pouco depois completou seus estudos de piano em Paris com Dominique Merlet. Em 2003 iniciou uma colaboração em duo com a pianista Maria João Pires. Juntos fizeram uma série de recitais nas mais importantes salas de concerto da Europa, dentre as quais Konzerthaus em Viena, Palau de la Música em Barcelona, Alte Oper de Frankfurt, Auditório Nacional de Madrid, Théâtre des Champs Elysées, Concertgebouw de Amsterdam e Tonhalle de Zurich. Em janeiro de 2005 foi lançado o primeiro CD do duo pelo selo Deutsche Grammophon com obras de Franz Schubert a solo e a quatro mãos. Ricardo Castro já gravou vários discos para o selo Arte Nova - BMG com obras de W. A. Mozart, Manuel De Falla, Franz Liszt e um box de 5 cds “Master Pieces” dedicado à Fréderic Chopin para comemorar os 150 anos da morte do compositor. As atividades pedagógicas e sociais tem sido uma constante na sua vida. É professor de um exclusivo grupo de jovens pianistas profissionais na “Haute École de Musique” de Lausanne, Suíça e é desde 2007 Diretor Fundador do NEOJIBA – Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, um programa pioneiro no Brasil inspirado no famoso “El Sistema” da Venezuela.



Concertos Didáticos série pianistas

12 de maio - sábado - 18 horas

F ranz S chubert (1797-1828) 4 Improvisos op.90 D.899 nº1 Allegro molto moderato - dó menor nº2 Allegro - mi bemol maior nº3 Andante - sol bemol maior nº4 Allegretto - lá bemol maior

J ohannes B rahms (1833-1897) Intermezzo op.76 nº1 Intermezzo op.117 nº1 Intermezzo op.117 nº3 Intermezzo op.118 nº2 Sonata em fá sustenido menor op.2 Allegro non troppo, ma energico Andante con espressione Scherzo: Allegro Finale - Introduzione: Sostenuto - Allegro non troppo e rubato

Luiz Gustavo Carvalho


Em 1827, ano da morte de Beethoven, Franz Schubert escreveu oito inspiradas peças para piano, as quais, simplesmente, ordenou por número. As quatro primeiras foram publicadas em vida do compositor e as quatro últimas, postumamente. O editor foi o responsável por nomeá-las “improvisos” e editá-las em dois grupos. Cada Improviso de Schubert é individual, completo em si mesmo, mas a execução sequencial em grupos de quatro peças nos permite uma audição mais enriquecedora. Schumann chegou a afirmar que o conjunto de Improvisos 5 a 8, publicados como opus 142, poderia ser, potencialmente, uma sonata em quatro movimentos. Os 4 Improvisos Op.90 não possuem, entre si, uma relação tonal que permita essa característica de unidade. Entretanto, a relação tonal interna, o passeio tonal de cada obra, um devaneio de modulações tipicamente schubertianas, são, às vezes, tão longínquos harmonicamente (mi bemol maior/si menor, lá bemol maior/dó sustenido menor), que parecem dar um passo à frente do romantismo musical inaugurado por ele próprio. J ohannes B rahms começou a compor em anonimato sob o pseudônimo de “Joh. Kreisler Jun.” e assim apresentou-se a Robert e Clara Schumann, que logo lhe depositaram toda a confiança. Brahms tinha 18 anos e, em agradecimento ao artigo publicado por Robert na revista Neue Zeitschrift für Musik, escreveu: “O louvor público que você se dignou de me conceder aumentou tão grandemente as expectativas do mundo musical para com a minha obra que não sei como vou conseguir, sequer parcialmente, fazer justiça a isso. Antes de tudo, isso me obriga a agir com o máximo de cautela na escolha das peças para publicação. Acho que não publicarei nenhum dos meus trios, mas selecionarei duas sonatas para serem meus op. 1 e 2...” A Sonata op.2, de 1852, antecede cronologicamente a op.1 e foi dedicada a Clara Schumann. Semelhantemente ao que Beethoven fizera na Sonata Waldstein, Brahms iniciou o finale do op.2 com uma livre introdução de 25 compassos. O Andante, a primeira parte a ser composta, é o mais antigo conjunto de variações de Brahms e baseia-se na canção folclórica alemã Mir ist leide. A tardia produção pianística de Brahms é representada por pequenas peças agrupadas em número de opus. Considerados o testamento pianístico de Brahms, os opus 116, 117, 118 e 119, da década de 1890, foram apropriadamente chamados por Hanslik de “monólogos”. As peças do op.76 pertencem a uma fase anterior, à década de 1870, entretanto são igualmente profundos. O Capriccio op.76 nº1 não possui nenhum capricho: é austero e intimamente irrequieto. Os três Intermezzi op.117 foram compostos e publicados em 1892. O primeiro é um acalanto inspirado em uma velha balada de origem escocesa: O Lamento de Lady Anne Bothwell, extraído de As Vozes dos Povos Através dos Seus Cânticos, do filósofo alemão Herder. O terceiro, indicado sotto voce, pouca voz, possuia um significado especial para Brahms, que confessou tê-lo como “o acalento de todas as minhas dores”. O Intermezzo op.118 nº2 é a mais famosa de suas derradeiras peças para piano e dispensa comentários, a não ser sobre sua comovente ternura que acalenta a todos nós. Marcelo Corrêa


A revista francesa “Le Monde de la Musique”, na edição de fevereiro de 2004, aponta Luiz Gus­tavo Carvalho como um dos músicos mais promissores da sua geração, com o honroso aval de Nelson Freire, que sobre ele comenta: “a primeira vez que eu o ouvi, ele tinha 11 anos e me im­pressionou muito; é alguém muito especial e preparado e tem um grande valor”. Nas últimas temporadas Luiz Gustavo apresentou-se no Festival du Piano aux Jacobins em Marrakech e em Toulouse e participou do “Encuentro de Música de Santander”. Como solista Luiz Gustavo tocou o Concerto de Mozart para dois pianos e orquestra junto com a pianista Elisso Virsaladze e a “Orquestra Sinfônica da Nova Rússia” na Grande Sala do Conservatório de Moscou. Participou do Progetto Argerich em Lugano colaborando como camerista com diversos músicos. Em 2011, realizou o ciclo das 32 Sonatas de Beethoven em Belo Horizonte. Estudou com Oleg Maisenberg na Universität für Musik und darstellende Kunst, e participou de masterclasses de Lazar Berman, Andrei Gavrilov, Gyorgy Kur­tág e Dmitri Bashkirov. Frequentou a classe da pianista Elisso Virsaladze no Conser­vatório Tchaikovsky de Moscou. Em 2004, Luiz Gustavo foi vencedor do II Concurso Nelson Freire para jovens Solistas no Rio de Janeiro e do Mozart Award da Orpheum Stiftung em Zurique . Luiz Gustavo Carvalho nasceu em nove de julho de 1982 em Belo Horizonte. Iniciou seus estudos aos 9 anos de idade, em 1991, com Magdala Costa que, percebendo seu excepcional talento, com ele trabalhou quase diariamente até 1997. Sua cultura foi solidamente incentivada pelo maestro Sergio Magnani, com quem estudou durante alguns anos no Brasil. Aos 12 anos apresentou-se como solista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais no Teatro Palá­ cio das Artes, em Belo Horizonte. Era o início de sua atividade concertística, que se estendeu rapidamente a várias cidades do Brasil e da Alemanha recebendo, já nesta época, significativos elogios da crítica, tais como: Com um vasto repertório que abrange obras desde Bach até Kurtág e Piazzolla, sua carreira pia­nística tem se intensificado, totalizando nos últimos anos mais de 200 concertos na Alemanha, Áustria, Espanha, Suíça, Itália, França, Reino Unido, Holanda, Rússia, Ucrânia, Eslovênia, Brasil e Líbano. Solistas de diversas orquestras tais como a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica da Nova Rússia e a Camerata Salzburg, Luiz Gustavo tocou sob a regência de Ira Levin, Howard Griffiths e Evgeny Bushkov entre outros. Como camerista tem colaborado com o violinista Geza Hosszu-Legocky, o pianista Nelson Freire, a pianista Khatia Buniatishvili, a soprano Eliane Coelho e principais membros das Orquestras Filarmônicas de Viena e Berlin e da Orquestra da Tonhalle de Zurique. Gravações para as rádios Suisse Romande e DRS (Suíça), ORF (Áustria), BBC (Inglaterra) e France Musique docu­mentam a sua atividade artística. Para a temporada de 2012/2013 estão agendados recitais na Suíça, França, Alemanha, Holan­da, Rússia, Equador, Estados Unidos e no Brasil, além de realizar também o ciclo de Sonatas de Beethoven em Oxford. O seu vasto interesse por todas as artes, proporcionaram-lhe diversas colaborações com artistas tais como o fotógrafo Antanas Sutkus, o ator Charles Gonzales e Irène Jacob e o guitarrista flamenco Pedro Soler. Apaixonado pelo cinema, frequentou as classes de realizador e de roteirista no Instituto Cinematográfico Gerassimov em Moscou (VGIK). Atualmente escreve o seu segundo roteiro para cinema.



Concertos Didáticos série pianistas

26 de maio - sábado - 18 horas

J ohann S ebastian B ach (1685-1750) - M y ra H ess (1890-1965) Coral da Cantata 147 “Jesus, Alegria dos Homens” L ud w ig van B eethoven (1770-1827) Sonata nº14 em dó sustenido menor op.27 nº2, “Ao Luar” Allegro sostenuto Allegretto Presto - Agitato

F r éd éric C hopin (1810-1849) Polonaise em lá bemol maior op.53 Valsa em dó sustenido menor op.64 nº2 A stor P iazzolla (1921-1992) Adiós, Nonino R adam és G nattali (1906-1988) Dois Estudos em Ritmo de Choro Duas contas, sobre um tema de Garoto Encontro com a Saudade, sobre um tema de Billy Blanco e Nilo Queiroz

P i x inguinha (1897-1973) - J o ão de B arro (1907-2006) Carinhoso

Arthur Moreira Lima


Membro mais célebre de uma família que durante seis séculos produziu músicos eminentes, J ohann S ebastian Bach foi não só o último grande representante da era barroca, mas o mais genial compositor da história da música ocidental. Sintetizou três séculos de criação musical, utilizando-se de formas e estilos existentes e elevando-os a um nível artístico superior, além de, através de gênio e intuição, indicar o caminho que a música viria a percorrer nos séculos posteriores. Dentre milhares de obras vocais e instrumentais de todos os gêneros, deixou-nos extensa lista de 224 Cantatas, das quais a 147 “Jesus, Alegria dos homens” é a mais famosa. Ao final de cada cantata, Bach assinava as letras SDG, abreviação latina de Soli Deo Gloria, ou seja, para a glória de Deus somente. Igualmente famosa é a transcrição para piano desta obra realizada pela grande pianista britânica Dame Myra Hess. A presença da Sonata ao Luar de Ludwig van Beethoven em outra nota de programa desta temporada nos dá a oportunidade de inserirmos, de forma complementar, as preciosas palavras de Alfred Cortot acerca desta obra: “(...) Esta sonata foi escrita em 1801 e editada em 1802. Fazia cinco anos que Beethoven atentara para a sua surdez. Seguem-se seus progressos com angústia. Por outro lado, sabemos quão lamentável foi o fim de sua aventura com Giulietta: Beethoven, dividido entre o seu amor e seus sofrimentos físicos, escreve, à mesma época em que vê nascer a Sonata em dó sustenido, o Testamento de Heiligenstadt, que devemos ler minuciosamente, se quisermos relacioná-lo com seu pensamento. A forma! Aqui Beethoven a faz irromper, reduzindo a nada as teorias, os sistemas e os métodos de composição. Aquele que tem algo a dizer encontra a forma que deve vir em ajuda de seu pensamento. Isso é improvisação transportada a uma forma definitiva. Mas não nos enganemos, as improvisações de Beethoven não eram nem as de Schubert, que sentava à mesa de trabalho e, ao correr da pena, escrevia uma sonata entre as duas e quatro e meia da tarde, nem as de Mozart, cuja facilidade era igualmente célebre. As improvisações de Beethoven duravam às vezes três anos e lhe custavam lágrimas de sangue. O autor cria sua forma, mas a quer perfeita. Tudo, em sua construção, depende da sua concepção. E cada sonata nova é uma nova forma de sonata.” Apesar das danças valsa, mazurca e polonaise partilharem do mesmo compasso – três por quatro –, suas inflexões rítmicas as fazem bem distintas. Para Frédéric Chopin, uma diferença também constava: as mazurcas e as polonaises o uniam ao seu país natal, a Polônia, de onde se exilara em 1830 para nunca mais retornar. A polonaise, embora ritmicamente duas vezes mais lenta que a mazurca, é exaltada e militaresca. A famosa Polonaise op.53, conhecida como “Heróica”, é mais que um canto do exilado, é uma espécie de reflexão lírica sobre a violência sofrida pelos camponeses poloneses durante a ocupação russa. As valsas, tão apreciadas nos salons franceses, o ligavam ao meio aristocrático, ambiente inevitável a uma boa projeção social. Prova disso é a dedicatória da Valsa op.64 nº2 a uma de suas melhores alunas, a baronesa de Rothschild, esposa de Nathaniel de Rothschild, filho do patriarca francês da rica dinastia de banqueiros, associados ao sobrenome americano Rockfeller. Astor Piazzolla foi o segundo maior bandoneonista da Argentina, precedido pela figura de seu mestre e amigo Anibal Troillo, o Pichuco, entre os tangueiros. Ao saber da morte de Troillo, Piazzolla compôs páginas tão inspiradas quanto o célebre tango Adiós Nonino, criado após a morte de seu pai. “O tango é um pensamento triste que se baila”, disse Discépolo. Piazzolla vai além: “o tango nunca poderá ser alegre. Quando percebo que a platéia está chorando, fico contente.” Entre Villa-Lobos e Tom Jobim, entre a música brasileira popular e a erudita, está a obra de R adam és G nattali, compositor sem barreiras, que afirmava: “música, só tem dois tipos: a boa e a ruim”. Foi membro tanto da Academia Brasileira de Música quanto da Academia de Música Popular Brasileira. Nasceu em Porto Alegre e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde faleceu. Lá conheceu Ernesto Nazareth, trabalhou como pianista, regente e arranjador e, com a inauguração da Rádio Nacional, viu nascer sua carreira como compositor. “Sempre fiz música para meus amigos”, dizia modestamente Radamés, referindo-se à parte de sua obra dedicada a Garoto, Billy Blanco, Joel do Nascimento, Paulo Moura, Jacob do Bandolim, Chiquinho do Acordeom, entre outros. “Evidentemente, mesmo quando está fazendo música popular, um artista clássico não se desprende totalmente da linguagem que aprendeu e usou a vida inteira”, escreveu Arthur Moreira Lima, que passou a se dedicar também, a partir de 1980, à execução da música popular nacional. “Assim sendo”, prossegue, “(...) Carinhoso, tem passagens inspiradas em Debussy, Liszt e Bach. Não sei se são arranjos, paráfrases, transcrições livres ou fantasias.” Pixinguinha foi o maior compositor de choros da música brasileira. Além disso, foi arranjador, e teve o trabalho nos estúdios da RCA Victor continuado por Gnattali. Seu mais famoso choro, Carinhoso, de 1917, recebeu depois letra de Braguinha, também conhecido com João de Barro.

Marcelo Corrêa


Considerado uma das mais importantes personalidades da nossa cultura, Arthur Moreira Lima projetou-se internacionalmente no Concurso Chopin de Varsóvia (1965). Laureou-se também nos Concursos de Leeds (Inglaterra 1969) e Tchaikovsky (Moscou 1970). Desde então, Moreira Lima tem feito turnês em todos os continentes, lotando as principais salas de concertos do mundo. Entre as orquestras e os regentes famosos com quem já se apresentou, estão as Filarmônicas de Leningrado, Moscou, Varsóvia, Sinfônicas de Berlim, Viena, Praga, BBC de Londres, National da França, sob a direção de Kurt Sanderling, KiriIl Kondrashin, Mariss Jansons, Serge Baudo, Jesus Lopez-Cobos, Sir Charles Groves, Vladimir Fedosseyev, Rudolf Barshai... A crítica mundial o considera extraordinário intérprete do grande repertório romântico e não tem poupado elogios à beleza da sua sonoridade e ao seu grande virtuosismo. A revista LA SUISSE chamou Moreira Lima “O Pelé do Piano”, a crítica americana elegeu sua gravação dos Noturnos de Chopin “o mais importante registro pianístico do ano”, e o famoso crítico londrino Dominic Gill do FINANCIAL TIMES escreveu “Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar”. Nascido no Rio de Janeiro, Arthur Moreira Lima começou a estudar piano aos seis anos, e já aos nove tocava um concerto de Mozart com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Seus mestres foram Lúcia Branco (Rio de Janeiro de 1946-1959), Marguerite Long (Paris 1960-1962) e Rudolf Kehrer (Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde estudou entre 1963 e 1971). Em seu trabalho de resgate e difusão das raízes culturais brasileiras, Arthur Moreira Lima foi solista da primeira audição do Concerto n. 1 de Villa-Lobos no Japão, Rússia, Áustria e Alemanha. Foi também o pianista que fez reviver a obra de Ernesto Nazareth. Por seu trabalho discográfico no Brasil, recebeu por duas vezes consecutivas o Prêmio Sharp (1989 e 1990). Nos Estados Unidos, seu CD da obra de Ernesto Nazareth foi incluído na lista das melhores gravações do ano da Stereo Review Magazine. Um CD de Chopin Favourites lançado no Japão pela Nippon Columbia continua como um dos best-sellers da companhia. Lançado internacionalmente pelo selo Olympia em 1999, seu CD com músicas de Astor Piazzolla foi considerado na França como “Disco do Mês” pela revista Répertoire e pela revista Tipptopp da Rádio da Suiça alemã. Gramophone, na Inglaterra, escreveu que Moreira Lima “captou magicamente a fantasia e grandiosidade da música”, e a BBC Music Magazine: “Moreira Lima é um marcante e eloquente campeão de Piazzolla. Este CD certamente irá converter os céticos”. A revista CARAS lançou em 98/99 em todo o Brasil uma coletânea de 41 CDs onde Moreira Lima interpreta de Bach a Bartok, incluindo compositores brasileiros como Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Nazareth. Ao total, mais de 100 compositores europeus, americanos e brasileiros, clássicos e populares. Arthur Moreira Lima já gravou nos Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Japão, Suíça, Bulgária e Polônia. No repertório: Bach, Beethoven e Mozart (as sonatas famosas), Chopin (integral da obra para piano e orquestra com a Filarmônica de Sofia, todos os Noturnos, Polonaises, Valsas, Prelúdios e Scherzi) nos Estados Unidos, uma antologia da obra pianística de Villa-Lobos (3 CD’s), de Radamés Gnattali e de Tchaikovsky, assim como os grandes concertos para piano e orquestra (Rachmaninov, Tchaikovsky, Mozart) com grandes formações sinfônicas européias: Orquestra da Rádio da Polônia, da Rádio de Moscou e de Câmara de Moscou. Desde 2003, tem percorrido mais de 150.000 Km e 400 concertos, o interior do Brasil inteiro em seu caminhão-teatro, já tendo tocado para cerca de 1 milhão de pessoas, em lugares os mais distantes, que antes jamais tinham presenciado um concerto de piano. Sua permanente inquietação e a valorização que dá à nossa cultura, fazem de Arthur Moreira Lima o mais popular, versátil e completo dos intérpretes clássicos brasileiros.



Concertos Didáticos série pianistas

30 de junho - sábado - 18 horas

J oseph H ay dn (1732-1809) Sonata em mi menor Hob.XVI/34 Presto Adagio Vivace molto

L ud w ig van B eethoven (1770-1827) Sonata em lá maior op.2 nº2 Allegro vivace Largo appassionato Scherzo - Allegretto Rondo - Grazioso

J ohannes B rahms (1833-1897) Intermezzo op.118 nº1 Intermezzo op.118 nº2 Ballade op.118 nº3 Intermezzo op.118 nº6 S ergei P rokofieff (1891-1953) Sonata nº3 em Lá menor op.28 “D’ après des vieux cahiers” Allegro tempestoso

Vera Astrachan


“Abismos da paixão”: assim define o musicólogo Clemens Goldberg acerca das sonatas em tonalidade menor da década de 1780, a penúltima fase criadora do compositor austro-húngaro Joseph Haydn. A grande maioria das 62 Sonatas que compôs é em tonalidade maior, sendo que somente sete são em tons menores. Assim é a Sonata em mi menor, composta provavelmente entre 1781 e 1782. A escassa utilização do modo menor na música instrumental do período clássico reservou às últimas sonatas de Haydn um caráter especial e particularmente profundo. Mesmo trabalhando ainda para a corte dos Eszterházy, na Hungria, ele não mais era um autor palatino de sonatas-divertimento de aspecto amador, ingênuas e ornamentadas. O momento de sua carreira coincidiu com mudanças nos instrumentos de teclado: o forte-piano, muito mais expressivo, com sua ação martelo e possibilidades dinâmicas, substituiu gradualmente o cravo e clavicórdio. As indicações dinâmicas presentes na Sonata em mi menor,dão um belo exemplo dos contrastes de vigor e graciosidade propiciados pelo novo instrumento. Com as três Sonatas op.2 um jovem de 25 anos apresentara a introdução a uma obra-prima que até hoje repercute como um dos mais importantes trabalhos pianísticos da História da Música. O primeiro opus das 32 Sonatas de Ludwig van Beethoven fora bem noticiado e bastante elogiado, contudo, aquele que pelo destino se tornou seu mestre, Joseph Haydn, fez duras críticas ao compositor. Entretanto, Beethoven possuía doze anos de experiência como compositor e sabia, com infalível precisão, quando suas composições estavam maduras para uma apresentação formal. Na Sonata op.2 Nº2, de 1795, ele parece estar pagando um tributo aos limites da capacidade de seu instrumento. Virtuosismo? Sem dúvida. Mas, acima de tudo, o sinfonismo e a grandiosidade da música para piano são evidentes. Nesse primeiro estágio de desenvolvimento,o gênio de Bonn proporciona inconfundível ímpeto às possibilidades sem precedentes do instrumento. Influenciados por ele, Brahms e Liszt farão, no século 19, ressurgir os ocultos sons orquestrais em suas composições para piano. O Largo desta sonata nos abre os ouvidos para isso. Meses antes de completar 60 anos, o compositor alemão Johannes Brahms se dedicara a criar peças para piano provindas de fontes mais íntimas do coração do que tudo o que ele escrevera antes para este instrumento. As seis peças do op.118 significam mais do que um presente para sua admirada amiga Clara Schumann, septuagenária e enferma. Tais peças foram, sobretudo, um meio de mantê-la viva. “É maravilhoso como ele combina paixão e ternura nos menores espaços... estas coisas novas me absorvem completamente”, comentou Clara a respeito da densidade e das multíplices emocionais que compõem as peças para piano do op.118. “Eu sempre gostei da idéia de escrever obras simples numa estrutura tão superior como a forma-sonata”, escrevera o compositor russo Sergei Prokofieff. Desde os primeiros estudos, nos quais aprendera sobre as formas musicais, até o final de sua vida, ele manteve seu fascínio sobre a estrutura da sonata. Um grupo de sonatas, escritas durante o curso no Conservatório de São Petersburgo, reflete seu interesse. Dentre elas, a terceira, de 1907, fora totalmente reestruturada dez anos depois para se tornar sua Sonata nº3, subtitulada “após os velhos cadernos”. Obra de um só movimento, é a menor de suas nove sonatas oficiais e foi estreada pelo próprio compositor, em 1918, em Petrogrado. Marcelo Corrêa


Uma das mais prestigiadas pianistas brasileiras, V era A strachan nasceu no Rio de Janeiro, foi aluna de Arnaldo Estrella e graduou-se pela UFRJ, onde obteve medalha de ouro. Mais tarde, aperfeiçoou-se com Hans Graf e Bruno Seidlhofer em Viena, Ilona Kabos em Londres e Joaquin Nin-Culmell em Berkeley. Sua primeira apresentação em Viena valeu-lhe uma crítica no jornal Kurier: “... há certamente poucos pianistas da sua geração que sabem tocar Beethoven tão bem quanto Vera Astrachan ...” É detentora de inúmeros prêmios, entre os quais o 1º. Prêmio no Concurso Backhaus, dedicado à obra de Beethoven, Prêmio Jeunesses Musicales em Berlim, e Prêmio de Melhor Solista do Ano (1978) pela APCA. Apresentou-se com êxito em inúmeras cidades européias e norte-americanas, como Viena, Paris, Londres, Lisboa, Nova York, San Francisco e Los Angeles. Realizou gravações para a BBC de Londres e para a Radio e Televisão Francesa. No Brasil, apresentou-se como solista das principais orquestras sob a batuta de regentes como Eleazar de Carvalho, Camargo Guarnieri, Isaac Karabtchevsky, Julio Medaglia, John Neschling, Roberto Tibiriçá, Roberto Duarte, Henrique Morelenbaum, entre outros. Como recitalista, vem se apresentando nos mais renomados centros musicais do país, e como camerista, ao lado de importantes instrumentistas como o clarinetista Alain Damiens, o violoncelista Walter Michael Vollhardt, a violinista Elisa Fukuda. Apresentou em 1ª. audição no Brasil a Sonata no.4 de Francisco Mignone - tema de sua tese de mestrado na USP, as Variações sobre um tema popular brasileiro de Lorenzo Fernandez para piano e orquestra, “Les Djinns” de César Franck, para piano e orquestra e em S.Paulo, a obra de Leonard Bernstein “The Age of Anxiety”, Sinfonia no.2 para piano e orquestra. Em 2004 lançou em CD sua gravação com obras de Schumann e Ravel. Em 2009 celebrou os 20 anos do seu duo com a violinista Elisa Fukuda em vários recitais, além de ter se apresentado com orquestra e em recitais solo dedicados à obra de Haydn. Em 2012 lançará um CD com a violinista Elisa Fukuda com obras de Camargo Guarnieri e César Franck.



Concertos Didáticos série pianistas

4 de agosto - sábado - 18 horas

J ohann S ebastian B ach (1685-1750) - F erruccio B usoni (1866-1924) Prelúdio, Fuga e Allegro em mi bemol BWV998 F ranz S chubert (1797-1828) Wanderer-Fantasie em dó maior op.15

Intervalo

G abriel Faur é (1845-1924) Balada em fá sustenido maior op.19 F r éd éric C hopin (1810-1849) Barcarola em fá sustenido maior op.60 M anuel de Falla (1876-1946) Fantasía Baetica

Cristina Capparelli


A transcrição musical é uma tradução, se utilizarmos da analogia literária. O próprio J. S. Bach escreveu diversas transcrições para cravo de concertos e obras orquestrais de outros compositores, como do italiano Antonio Vivaldi. Outro italiano, o pianista e compositor Ferrucio Busoni, por sua vez, se dedicou a executar, revisar, analisar, editar e realizar transcrições das obras de J. S. Bach para piano. Prosseguira com o trabalho iniciado por Liszt, que foi um dos pioneiros na divulgação da obra de Bach, até então desconhecida. O tríptico para alaúde ou cravo - Prelúdio, Fuga e Allegro - fora transcrito anteriormente para piano por Tausig, que utilizara notas pedais e efeitos de articulações próprias do piano moderno. A versão de Busoni é mais límpida e fiel, pois mantém todas as notas do original. “Vim como forasteiro, como forasteiro me vou”: este é o verso inicial de Viagem de Inverno, de Müller, musicado por Franz Schubert. “Às vezes acho que não pertenço de modo algum a este mundo”, costumava dizer o músico, “fui posto no mundo apenas para compor”. A figura do viandante (“wanderer”, em alemão), tão presente no espírito do romantismo alemão, tem, na música de Schubert e no quadro homônimo do pintor Caspar Friedrich, sua mais alta expressão. Na verdade, o título Wanderer não fora dado por Schubert à Fantasia escrita por ele, sendo aquele o título de uma de suas canções. A estrutura formal e o desenvolvimento singular dado aos materiais melódicos desta Fantasia fascinaram Franz Liszt de tal modo, que ele transformou-os em concerto para piano e orquestra e usou-os como modelo em sua Sonata em si menor. Schubert tornara o tema de suas variações um personagem sonoro que, a cada variação, ressurge com uma nova expressão musical, como um viajante em seus caminhos. As barcarolas, tanto no sentido poético-literário quanto no sentido musical, referem-se ao movimento das ondas sob uma embarcação. Em música, o acompanhamento num vai-e-vem de arpejos ordenados sob a métrica do compasso seis-por-oito, é o padrão do gênero altamente descritivo. Sobre esse acompanhamento ondulante e perpétuo, desenrolam-se as mais diferentes inspirações melódicas, italianizadas, amorosas e exaltantes. Muitos compositores se inspiraram na imagem dos gondoleiros venezianos, a citar Offenbach, Mendelssohn, Chopin, Tchaikovsky, Fauré e Rachmaninoff. A Barcarola, de Frédéric Chopin, e a Balada, de Fauré, são coincidentes em espírito e em tonalidade. Chopin, apaixonado pelo canto operístico de Bellini, decanta o que poderia ser a ária do timoneiro e torna-a algo metafísico, uma “apoteose misteriosa”, como observou Cortot. A Barcarola, de Chopin, foi escrita em 1846 e representa o “poeta do piano” e sua nau, o próprio piano, atingindo a margem de sua vida: após esse ano, ele não compôs mais nenhuma peça de envergadura para o instrumento. Na Balada, de Gabriel Fauré, a introdução, plácida e lírica, prepara a entrada do canto sostenuto. Esta é uma obra de grande dimensão e magistralmente desenvolvida. Sua escrita polifônica o inspirou a realizar, em 1881, a versão para piano e orquestra. Fica a lembrança, da saudosa pianista brasileira Magda Tagliaferro, que, aos 15 anos, percorreu várias cidades da França como solista dessa obra acompanhada pelo próprio Fauré no segundo piano, com toda a simplicidade, realizando a parte orquestral. O compositor espanhol Manuel de Falla fugiu do folclorismo de cartão-postal e, por isso, é figura à parte da romantizada Escola Nacional Espanhola, representada por Albéniz e Granados. A Fantasia Bética, composta em 1919, foi encomendada e dedicada ao pianista Arthur Rubinstein que, após executá-la por diversas vezes, a retirou do seu repertório sob a escusa de não compreendê-la totalmente. Bética era o nome dado pelos romanos para o sul da Espanha, região da Andaluzia. Daí o calor flamenco desta fantasia, compartilhado também nas famosas composições de Falla El Amor Brujo e El Sombrero de Tres Picos. Marcelo Corrêa


Mineira de Uberlândia, a pianista Cristina Capparelli é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 1985. Tendo sido a primeira coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música iniciado em 1987, é professora titular de piano desde 1996. Seus alunos têm obtido premiações expressivas em concursos no Brasil e no exterior bem como colocações em universidades e escolas de música de reconhecido prestígio. Ao lado de sua intensa atividade docente, apresenta-se regularmente com orquestras, grupos de câmara e em recitais de piano solo na cidade. Na sua formação recebeu o título de mestre em música com honras no New England Conservatory, o doutorado em artes musicais na Boston University com bolsa da Comissão Fulbright e no final dos anos 1990 concluiu um estágio de pós doutorado na University of Iowa. Durante uma das suas estadias naquele país, foi escolhida para uma turnê pelo sul do país como solista da orquestra de Câmara New England Sinfonia. Como pianista do Trio Panamericano apresentou-se em vários recitais em uma turnê sob os auspícios da Comissão Fulbright por todo o Brasil e como professora visitante tem sido presença marcante em escolas de música do país. Entre os CDs que gravou constam a obra completa para piano do compositor Bruno Kiefer (1995) “e a vida continua... “, sendo que a última peça gravada Terra Selvagem pode ser encontrada em outra gravação Colóquio, ambas produzidas pelo selo Funproarte. Seu CD intitulado Música Latino-americana para Piano, sob os auspícios do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Música da UFRGS, reflete seu interesse por um repertório variado e extenso. No ano de 2008 gravou o CD The Brazilian Cello para o selo Meridian da Inglaterra com a violoncelista Tânia Lisboa e que contem a obra completa para violoncelo e piano de Camargo Guarnieri e em 2011 o CD “Cristina Capparelli interpreta a obra para piano de Alda Oliveira e Jamary Oliveira”. Presentemente está organizando o lançamento de um CD com as 8 sonatinas e a sonata de Camargo Guarnieri em colaboração com os professores do Departamento de Música da UFRGS sob os auspícios do Programa de Pós-Graduação em Música da mesma instituição. Cristina publica frequentemente nas principais revistas de música e, entre suas realizações cabe assinalar o lançamento da publicação intitulada: Três Estudos Analíticos: Villa-Lobos, Mignone e Camargo Guarnieri. Convidada freqüente para masterclasses em universidades no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, em maio de 2009 apresentou uma conferência no Royal College of Music em Londres sobre a projeção da expressividade na execução ao piano. É pesquisadora do CNPq e procura ativamente conciliar as atividade acadêmicas, pedagógicas e artísticas. O resultado de suas pesquisas e bem como o acervo de obras latino-americanas colecionadas por sua equipe de bolsistas pode ser acessado em www.ufrgs.br/gppi. Em 2009, celebrou 40 anos de atuação artística com o violinista Fredi Gerling. No ano em curso, realizou um estágio sênior sob os auspícios da CAPES nos Estados Unidos, University of Connecticut para trabalhar sobre música e memorização com o renomado pesquisador e psicólogo Roger Chaffin e sua equipe. Durante esta estadia realizou concertos, recitais de música de câmara e participou de gravações de Cds.



Concertos Didáticos série pianistas

25 de agosto - sábado - 18 horas F ranz S chubert (1797-1828) 10 Ländler D.366 Sonata nº6 em mi menor, D.566 Moderato Scherzo - Trio Allegretto Rondo - Allegretto

F ranz S chubert (1797-1828) - F ranz L iszt (1811-1886) Der Wanderer Der Atlas Auf dem Wasser zu singen R obert S chumann (1810-1856) Arabeske em dó maior op.18 Carnaval op.9 (Scènes mignonnes sur quatre notes) Préambule Pierrot Arlequin Valse noble Eusebius Florestan Coquette Réplique Papillons A.S.C.H. - S.C.H.A: Lettres Dansantes Chiarina Chopin Estrella Reconnaissance Pantalon et Colombine Valse Allemande Intermezzo: Paganini Aveu Promenade Pause Marche des “Davidsbündler” contre les Philistins

Anna Malikova


A fama do compositor austríaco Franz Schubert limitou-se por muito tempo à de um autor de canções, uma vez que sua imensa produção instrumental não havia sido publicada nem sequer executada até o final do século 19. Além de extremamente tímido e modesto, Schubert sentia-se profundamente intimidado por Beethoven e afastava-se dos editores: “quem pode fazer qualquer coisa depois de Beethoven?” Lembremos que, apesar de ter nascido vinte e sete anos após Beethoven, Schubert morreu um ano após o autor das célebres 32 Sonatas. Das 15 Sonatas que Schubert compôs, só as escritas em seu último ano de vida são reverenciadas e executadas nas salas de concerto. Daí a oportunidade rara de se ouvir, num recital, a sua única sonata no tom de mi menor, composta em 1817. Com veracidade, o epitáfio de Schubert diz: “a música perdeu um rico tesouro e uma promessa mais rica ainda”. Precursor da valsa, o Ländler é uma dança folclórica da região de Landel, na Áustria, daí o seu nome. O grupo D.366 de Schubert é formado por 17 Ländler, dos quais 10 foram escolhidos para este programa. Schubert deixou-nos cerca de 600 canções. Insatisfeito de somente unir palavra e música, ele iniciou uma nova era para a canção, assim como Beethoven fizera à sinfonia, Chopin à música pianística e Wagner ao drama musical. No entanto, por ter criado uma nova forma de arte, suas canções foram recebidas com indiferença ou incompreensão. Compreendemos então a importância de Franz Liszt para a vida musical de sua época, ao levar ao conhecimento do grande público as canções de Schubert. Obviamente, Liszt o fizera em arranjos próprios para piano-solo, pois havia a necessidade de enriquecer seu próprio repertório para as turnês. Sobretudo, a admiração pelo esquecido mestre vienense e o fascínio pela arte do canto aplicada ao piano, aliavam-se ao prazer da virtuosidade que, depois de Paganini com seu violino, alcançaria, com Liszt e seu piano, alturas até ali desconhecidas. Dentre as obras dos 80 diferentes compositores que Liszt transcrevera para piano sobressaem 150 canções, das quais 60 são do venerado Schubert. Em 1830, após assistir a um concerto de Paganini, Robert Schumann decidiu-se por sua vocação musical: abandonou o curso de Direito em Heidelberg para estudar piano com Friedrich Wieck, em Leipzig. Iniciou-se então o primeiro período composicional de um dos maiores expoentes do romantismo musical alemão. Dentre a produção deste período, caracterizado por ser puramente pianístico, figuram as obras Arabeske, Blumenstück e Humoreske – trilogia escrita durante a visita de Schumann a Viena. A palavra francesa “arabesque” vem do ornato presente nas construções arquitetônicas de origem árabe e é comumente empregada na linguagem musical para designar uma peça de ornamentação floreada. A Arabeske op.18 é um perfeito exemplo da escrita em acordes arpejados, tão prediletos por Schumann, nos quais belas guirlandas melódicas sutilmente escondem um denso contraponto e uma rica harmonia. Apesar de conter a figura de Clara Schumann em Chiarina, o Carnaval Op.9 associa-se, primordialmente, ao antigo relacionamento amoroso de Robert com Ernestine Von Fricken, representada em Estrella. Robert a conheceu numa excursão pelas montanhas da Boêmia, quando se hospedou na cidade de Asch, hoje pertencente à República Tcheca. As quatro letras desta cidade, traduzidas nas notas lá, mi bemol, dó e si, estão também presentes no sobrenome SCHumAnn, e foram enigmaticamente embaralhadas por ele nas melodias desse famoso ciclo. Marcelo Corrêa


Anna Malikova nasceu no Uzbequistão, onde recebeu suas primeiras aulas de piano com Tamara Popovich. Na Escola de Música Central e no Conservatório Tchaikovsky de Moscou estudou com Lev Naumov, graduando-se nesta última instituição em 1991. Mais tarde ela própria obteve o cargo de professora nesse Conservatório durante muitos anos. Sua carreira como recitalista e solista de orquestra teve início na antiga União Soviética, tocando em cidades como Moscou, São Petersburgo, Omsk, Baku, entre outras. Detentora de prêmios em importantes concursos em Oslo, Varsóvia (Concurso Chopin) e Sydney, Anna Malikova começou a tocar mais frequentemente na Europa Ocidental. Passou a ser convidada por importantes orquestras como Orquestra de Câmera da Austrália, Sinfônica de Sydney, Filarmônica Nacional de Varsóvia, Academia de St Martin in the Fields e a Orquestra Corporativa da Rádio Bávara, entre várias. Em 1993, Anna Malikova obteve o primeiro prêmio no Concurso ARD de Munique, prêmio que por 12 anos consecutivos já não era oferecido a nenhum pianista. Este sucesso garantiu-lhe destaque no cenário internacional. Atualmente apresenta-se como recitalista, camerista e solista por toda a Europa, América do Sul, Oriente Médio e Extremo Oriente. Paralelamente é convidada como jurada de importantes concursos, como o Concurso Chopin em Moscou e Beijing, Concurso Vianna da Motta, em Lisboa e Concurso Gyeongnam, na Coréia. Juntamente com sua agenda intensa de concertos, Anna Malikova aumenta continuamente seu repertório gravado. Até o momento já foram registradas em CD grande parte das obras importantes de Chopin, assim como obras de Schubert, Liszt, Shostakovich, Prokofiev e Soler. Como destaque entre as recentes gravações, encontram-se os cinco concertos de Camille Saint-Saëns, com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Colônia, sob a regência de Thomas Sanderling. Essa produção ganhou em 2006 o Prêmio Internet Clássica e foi aclamada entusiasticamente pela crítica internacional. Novo CD com obras de Tchaikovsky acaba de ser lançado. Em seus projetos para 2011 e próximos anos incluem-se reiteradas turnês pela Europa, Coréia, Japão e China. Malikova estará ativa como solista com orquestra e recitais e também como jurada de concursos como o Concurso Europeu de Piano da França, Concurso Maria Canals da Espanha e Concurso Chopin da Rússia.



Concertos Didáticos série pianistas

15 de setembro - sábado - 18 horas

C laude D ebuss y (1862-1918) Sinfonia em si menor Six Épigraphes antiques Pour invoquer Pan, Dieux du vent d’été Pour un tombeau sans nom Pour que la nuit soit propice Pour la danseuse aus crotales Pour l’Égyptienne Pour remercier la pluis au matin

M aurice R avel (1875-1937) Ma mère l’Oye (Cinco peças infantis para piano a quatro mãos) Pavane de la Belle au bois dormand Petit poucet Laideronnette impératrice des pagodes Les Entretiens de la Belle et la Bête Le Jardin féerique

Rapsodie espagnole Prélude à la nuit Malagueña Habanera Feria

Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini


Claude Debussy iniciara os estudos de piano aos sete anos, e tivera como professora a sogra de Paul Verlaine, que dizia a todos ter sido aluna de Chopin. Em 1880, Debussy fora contratado pela rica e excêntrica viúva Nadezhda Von Meck, protetora de Tchaikovsky, como tutor de seus filhos e músico da residência. Na mansão de 53 cômodos que ela possuía em Moscou, Debussy ampliara seus horizontes culturais, pois tivera contato com a música pouco conhecida dos russos Balakirev, Rimsky-Korsakov, Borodin e, principalmente, Mussorgsky, que muito lhe impressionara. Através de Madame Von Meck, Debussy conhecera pessoalmente Wagner e Liszt e pode enviar suas composições a Tchaikovsky, que retribuiu sem entusiasmo. Na intenção de se aprofundar no estudo estilístico da música eslava, Debussy se dedicara a uma obra maior, a Symphonie en si mineur. Ela foi escrita primeiramente para piano a quatro mãos, no intuito, não realizado, de orquestrá-la posteriormente. Em 1882, Debussy retornara definitivamente à França após uma infeliz proposta de casamento feita a Sophie, filha de Madame Von Meck, que sempre o considerou um empregado útil, mas não um genro adequado. Se a Sinfonia em si menor representa o início e a pujança do jovem Debussy, as Seis Epígrafes Antigas, de 1914, são a visão do fim de um compositor num período cercado de incertezas: o início da primeira guerra, o fim da próspera belle époque, as dificuldades materiais, a crise criativa, além de uma doença incurável e uma prolongada gripe. Buscando inspiração nas Chansons de Bilitis e nos poemas do amigo Pierre Louÿs, Debussy criara seis quadros musicais, cada qual relacionado a um diferente poema, como as antigas epígrafes que introduzem as grandes obras literárias. O pai de Maurice Ravel era um engenheiro de ascendência suíça e sua mãe era de origem basca. O próprio Maurice nasceu nos Baixos Pirineus, próximo à fronteira espanhola, e mudou-se ainda criança para Paris. Do pai herdou o interesse por coisas mecânicas, tanto na música como em seus hábitos pessoais: era colecionador de relógios e objetos musicais mecânicos. Stravinsky dizia que a escrita musical de Ravel assemelhava-se “à precisão de um relógio suíço”. Da mãe, Ravel herdou a afinidade com a Espanha, elemento refletido em muitas de suas composições. Dentre as mais conhecidas, destacam-se duas obras de 1907: a Rapsodie Espagnole, para orquestra, e a comédia musical em um ato L’Heure Espagnole. Uma das habilidades musicais de Ravel consistia em transcrever obras orquestrais para piano e vice-versa, daí a existência de versões pianísticas e orquestrais de muitas de suas obras, a citar La Valse, Ma Mère L’Oye, Alborada del Gracioso e Rapsodie Espagnole. Além de orquestrar Ma Mère L’Oye (Mamãe Gansa), original para piano a 4 mãos, Ravel adicionou novas partes e transformou-a num balé, baseada em contos-de-fada. Na obra desfilam a Bela Adormecida, o travesso Pequeno Polegar, a alegre Imperatriz que baila entre templos orientais e a Bela e a Fera, os quais dialogam amorosamente até a obra se encerrar num jardim encantado. A Rapsódia Espanhola contém os seguintes movimentos: Prelúdio à noite, baseado num misterioso tetracorde descendente; Malagueña, dança ternária do gênero do fandango, originária de Málaga e Múrcia, sul da Espanha; Habanera, dança cubana introduzida naquele país pelos negros vindos da África; e A Feira. Nesse último movimento, surgem vários elementos da dança folclórica espanhola, numa suntuosa escrita orquestral, no espírito de Chabrier e Rimsky-Korsakov. Interpola-se no movimento um episódio irônico que descreve uma embriaguez; seu final apoteótico completa a colorida visão de Ravel sobre o fascinante país que ele próprio afirmava ser sua “segunda pátria musical”. Marcelo Corrêa


Reconhecido como um dos mais destacados duos pianísticos do país, Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini são artistas premiados nacionalmente. Formado em 1984, o duo é convidado para as principais salas de concerto do Brasil. Já se apresentaram na Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Rússia e Japão. Como solistas já atuaram com as seguintes Orquestras Sinfônicas: de Minas Gerais, de Campinas, Estadual de São Paulo, da USP, Sinfônica Nacional, Filarmônica de Câmara da Polônia, Filarmônica de Baden-Baden e Bach-Orchester Herzogtum-Lauenburg, Alemanha. Os pianistas integram também várias outras formações camerísticas entre duos e trios. São freqüentemente convidados como jurados de concursos nacionais e internacionais e como docentes em cursos de férias e master classes. De 1991 a 1996 realizaram estudos de pós-graduação na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, onde gravaram em 1998 CD com obras de compositores brasileiros e alemães. O segundo CD, de 2005, foi citado pela revista Diapason entre as melhores gravações brasileiras do ano. Desde 1985 são professores de piano e música de câmera na Escola de Música de UFMG. Na capital mineira dirigem ainda a série Concertos Didáticos UFMG que têm trazido à cidade os maiores artistas brasileiros e vários grandes nomes internacionais.

“O CD Piano a 4 mãos merece ser mencionado como um registro ímpar na interpretação pianística brasileira a dois. Escolha de repertório, qualidade de som e excelência de execução justificam essa execução. Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini dedicam a mesma sensibilidade a compositores nacionais e europeus ... com a devida leitura de filigranas.” Revista Continente outubro/2006 “Há surpresas muito agradáveis. Uma das melhores é a seleção de peças a 4 mãos, patrocinada pela FUNDEP e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, o duo mineiro Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini demonstra solidez técnica, diversidade estilística e muita fluência expressiva, ao abordar, seja autores franceses, sejam compositores brasileiros.” Lauro Machado Coelho - Revista Diapason - março/2006 “O recital dos pianistas brasileiros não poderia ter sido mais convincente. Ambos conquistaram o público com seu carisma e com um inusitado programa e também, em primeira instância, pela extrema musicalidade e presença interpretativa. Precisão rítmica, virtuosismo, transparência sonora, lirismo, elegância pianística marcaram a interpretação de Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini”. Badische Neueste Nachrichten - outubro/98 “Os pianistas apresentaram com precisão as nuances das Variações de Brahms sobre um tema de Schumann, op.23, do melancólico tema às variações mais rápidas, que foram tocadas com técnica brilhante... ao final, com três Danças Húngaras atingiram plenamente o coração dos ouvintes”. Badische Neueste Nachrichten - fevereiro/94 “De forma sedutora o duo apresentou as Cenas do Oriente de Schumann impregnadas dos mais sutis matizes tímbricos. Uma interpretação extraordinária! Badisches Tagblatt - agosto/93



Concertos Didáticos série pianistas

29 de setembro - sábado - 18 horas

J ohann S ebastian B ach (1685-1750) Fantasia e Fuga em lá menor BWV 904 J ohannes B rahms (1833-1897) 7 Fantasias op.116 Capriccio Intermezzo Capriccio Intermezzo Intermezzo Intermezzo Capriccio

A le x ander S criabin (1872-1915) 4 Prelúdios op.11 nº5 Andante cantabile nº6 Allegro nº10 Andante nº14 Presto

A lberto G inastera (1916-1983) Suite de danzas criollas, op.15 Adagietto pianissimo Allegro rustico Allegretto cantabile Calmo e poetico Scherzando (Attacca) Coda: Presto ed energico

H eitor V illa -L obos (1887-1959) Bachianas Brasileiras nº4 Prelúdio (Introdução) Coral (Canto do Sertão) Ária (Cantiga) Dança (Miudinho)

Ricardo Castelo Branco


A publicação, em 1722, da coleção de 48 prelúdios e fugas de J. S. Bach, intitulada O Cravo Bem-Temperado, representou um marco da música europeia. Em sua época, a afinação do cravo não permitia a realização de modulações distantes e nem a execução de peças com muitos acidentes. Ao conceber prelúdios e fugas em todas as tonalidades, ele explorou e firmou todas as possibilidades do sistema de temperamento igual, isocromático, ou bem-temperado. Em outras obras, como na Fantasia e Fuga BWV 904, de 1725, Bach também explorou as qualidades do temperamento igual de seu instrumento, o cravo, que, aliás, ele próprio afinava. A introdução da Fantasia e Fuga BWV 904, em acordes cambiantes ao estilo do italiano Frescobaldi, é seguida por uma fuga repleta de tonalidades distantes e seções modulantes. Por volta de seus setenta anos, Johannes Brahms compôs vinte peças curtas para piano distribuídas entre os opus 116 a 119. Elas parecem ser, na verdade, uma coleção de confidências poéticas feitas por ele em forma de som. Embora tardias, em muitas ecoam reminiscências de seu passado: o vigor demandado na execução pianística e a utilização de canções populares como fonte de inspiração. Dos grupos de peças para piano, o único que recebeu um título geral foi o op.116, denominado Fantasien pelo próprio autor. Os Caprichos e Intermezzos, que formam o conjunto destas sete Fantasias, se diferem das peças dos demais grupos de opus por constituírem uma entidade coerente, e não uma simples compilação. De um modo alusivo, as Fantasien se assemelham a uma sonata de muitos movimentos, devido a um mútuo relacionamento melódico-tonal cuidadosamente estruturado por Brahms. Assim como Debussy e Stravinsky, Alexander Scriabin é considerado um dos pais da música moderna. Nasceu dez anos após Debussy e dez anos antes de Stravinsky, no entanto, faleceu prematuramente antes dos dois. Compôs dez sonatas para piano, além de notáveis estudos, prelúdios, poemas, improvisos, mazurcas e outras peças. Em 1890, mostrou algumas peças antigas a um editor, que as aceitou para publicar. Logo, elas obras chamaram a atenção do distinto crítico e editor Belaiev, o qual decidiu não só publicar toda a obra de Scriabin, como também patrocinar sua carreira artística. Seus 24 Prelúdios op.11 foram escritos entre 1888 e 1896 e organizados de acordo com a ordem de quintas ascendentes, como o fizera Chopin, influenciado por Bach, nos seus 24 Prelúdios op.28. Scriabin, como compositor de pequenas peças, é o único que se aproxima da capacidade chopiniana de condensar macrocosmos emocionais em apaixonadas miniaturas pianísticas. Alberto Ginastera é considerado o maior compositor argentino e um dos mais importantes da América Latina e de seu tempo. Conseguiu combinar, em sua música, a rudeza selvagem do gaucho pampeano e a reflexão íntima de quem comtempla a vastidão das pastagens argentinas. Na Suite de danzas criollas, escrita aos trinta anos, estão presentes os aspectos rítmicos e melódicos da música folclórica argentina. Nos movimentos lentos, a harmonização se baseia em intervalos de quarta e de quinta, que dão à música um sentimento de expansividade. Nos movimentos rápidos, Ginastera usa harmonias dissonantes e clusters, cachos de notas, os quais pede para o pianista tocar com a palma da mão. Assim como os Choros, as nove Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos foram escritas para as mais diversas formações: desde solos e grupos camerísticos até grandes massas sinfônicas. Bachianas Brasileiras nº4 foi composto originalmente para piano e posteriormente orquestrado pelo autor. O Prelúdio, de 1941, é a única peça do grupo que não faz referências à música brasileira. No Coral, também de 1941, é descrito o som monótono, agudo, da araponga, que não é um canto do sertão, e sim das florestas brasileiras. No Coral, o autor utiliza o recurso da reverberação do piano como os sons do órgão de uma catedral. Na Ária, de 1935, contrastam o triste canto sertanejo e a folia do maracatu. O Miudinho, a última peça do grupo, é de 1930, portanto, a primeira a ser escrita. É um passo de samba em forma de tocata e foi dedicada a uma das melhores pianistas brasileiras, Antonietta Rudge. Marcelo Corrêa


Ricardo Castelo Branco , mineiro de Montes Claros, iniciou seus estudos de piano aos nove anos. Estudou no Brasil com Luiz Senise e Celina Szrvinsk. Na Alemanha, como bolsista do DAAD, concluiu o Mestrado com distinção, orientado por Michael Uhde. Foi aprovado em rigorosa seleção para participar do curso “Sonatas para Piano e Violino”, realizado em Lausanne (Suíça), ministrado pelo pianista Pavel Gililov e o violinista Pierre Amoyal. Também destacou-se pela elogiosa atuação em Master Classes dos renomados pianistas Arnaldo Cohen e Dominique Merlet (França). Entre os prêmios conquistados estão os primeiros lugares nos concursos nacionais: “I Concurso de Piano Cidade de Belo Horizonte” (2006), “Governador Valadares” (2002), “Arnaldo Estrella” (1998, 2002), “Maria Tereza Madeira” (2000), “Art Livre” (1992, 1998, 1999), “Souza Lima” (1998, 1999) e “Lorenzo Fernandez” (1992). Os concursos lhe renderam concertos no Brasil e na Alemanha além de importantes críticas e gravações em rádios e CD. Como camerista vem atuando em recitais e festivais internacionais ao lado de grandes artistas, dentre eles, Häkan Rosengren, Benjamin Coelho, Annette Haaβ, Ana Raquel Feitosa, Rebekka Stöhr, Washington Barella e Ysmael Reys. Paralelamente às suas atividades artísticas, atuou como professor e pianista acompanhador na Universidade Estadual de Minas Gerais no período de 2005 a 2010. Atualmente ocupa o cargo de pianista acompanhador na Universidade Federal de São João Del-Rei.

“...pianista de excepcional nível artístico, altamente sensível e introspectivo, capaz de ricos matizes sonoros.” (Badische Neueste Nachrichten – Alemanha) “Trata-se de um talento musical muito expressivo, possuidor de rara consciência pianística, e de grande personalidade artística”. (Fernando Lopes)



Concertos Didáticos série pianistas

27 de outubro - sábado - 18 horas J oseph H ay dn (1732-1809) Sonata em fá maior Hob.XVI/23 Allegro moderato Adagio Finale

A lberto N epomuceno (1864-1920) Air da Suite Antiga op.11 L uis L ev y (1861-1935) Valsa Lenta nº4 F rancisco B raga (1868-1945) Corrupio J ohann S ebastian B ach (1685-1750) - F erruccio B usoni (1866-1924) Chaconne Intervalo

M aurice R avel (1875-1937) Sonatina Modéré Mouvement de menuet Animé

F r éd éric C hopin (1810-1849) Balada nº3 op.47, em lá bemol maior S ergei P rokofieff (1891-1953) Sonata nº7 op.83, em si bemol maior Allegro inquieto Andante caloroso Precipitato

Arnaldo Cohen


Joseph Haydn compôs 62 Sonatas para piano, a maioria delas escritas em seus primeiros anos como compositor. Descrever suas sonatas é muito complexo, pois englobam estilos musicais diferentes, e suas estruturas vão das peças curtas e simples aos mais complexos desenvolvimentos temáticos e variações. Poucas sonatas contêm passagens virtuosísticas e a maioria soa bastante simples. Isso não diminui sua musicalidade, mas explica por que suas sonatas são menos executadas em concerto. Em 1761, Haydn foi contratado como Kapellmeister dos Eszterházy, uma das mais importantes famílias húngaras. Mudou-se então para Eszterháza, o castelo dos Eszterházy na Hungria, onde trabalhou por 25 anos. Sua Sonata em fá maior, de 1773, é parte das “seis sonatas para cravo dedicadas ao Príncipe Nicolau Esterházy” e “reservada ao uso exclusivo de Sua Alteza”. Nascido em Fortaleza, Alberto Nepomuceno estudou longos anos na Europa, o que imprimiu à sua música um caráter universal e tradicionalista, sem ofuscar, porém, suas páginas de nacionalismo eminente. Compôs a Suite Antiga na Noruega, em 1893, época em que conheceu sua esposa, a pianista Walborg Bang, na residência daquele que durante dez anos fora seu mestre: Edvard Grieg. Originalmente escrita para piano, a Suite foi orquestrada e estreada pelo compositor em março de 1894 à frente da Filarmônica de Berlim. A Ária, nitidamente influenciada por Bach, figura entre as danças minueto e rigaudon num contraste de pureza e profundidade que anteveem em quase quarenta anos as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos. Em 1878, aos 17 anos, o compositor paulista Luiz Henrique Levy visitou, na companhia da mãe, de origem suíça, a Exposição Universal de Paris e se apresentou como pianista na famosa Sala Érard. Deste prodigioso feito se seguiram inúmeros concertos no Club Haydn, em São Paulo, ao lado do irmão mais moço, Alexandre. Enquanto os “meninos Levy” se destacavam ao piano, o pai, comerciante e editor, além de protetor de Carlos Gomes, administrava a Casa Levy, centro da pianolatria paulista. Foi em 1904, no ambiente musical dos salões, regados a Ernesto Nazareth, que Luiz Levy compôs sua Valsa Lenta nº4 op.32, peça nostálgica e polifônica, adotada pelo programa oficial de piano do Instituto Nacional de Música. O carioca Francisco Braga é conhecido como o autor do Hino à Bandeira, composto sobre os versos de Olavo Bilac. Foi educado no Asilo de Meninos Desvalidos e ainda jovem frequentara o Conservatório Imperial de Música. Com bolsa do governo brasileiro, em 1890 foi mandado a Paris a fim de se aperfeiçoar com Jules Massenet. Corrupio é uma pequena valsa-capricho no estilo francês de Massenet e Saint-Saëns e constitui um verdadeiro exercício cromático da técnica dos cinco dedos. Em 1720, J. S. Bach compôs seis sonatas para violino sem acompanhamento juntamente com as seis suítes para violoncelo. Derivadas da sonata da chiesa, suas sonatas para violino demonstram nítida influência de Corelli, criador desta forma instrumental. Destas seis sonatas, três são denominadas partitas, por se assemelharem à suíte de danças onde se alternam andamentos lentos e rápidos geralmente encerrados por uma alegre giga. Nascida da tradição irlandesa, giga é sinônimo de violino, ainda hoje conhecido por geige na Alemanha. A Partita nº2 difere das demais por possuir, após a giga,uma grande ciaconna. Este célebre movimento em forma de variação é tão conhecido em sua instrumentação original como nas imortais transcrições para piano de Busoni e Brahms. E ainda para outros instrumentos a citar o violão, por André Segóvia, e a harpa, por Nicanor Zabaleta. Mendelssohn também publicara esta chacone com acompanhamento de piano, e Schumann fizera o mesmo com as seis sonatas para violino-solo. Seguindo os passos de Debussy, Maurice Ravel tentou o Prêmio de Roma, atribuído pelo governo francês a jovens artistas. Nunca foi classificado e, além disso, na última tentativa, em 1905, foi desclassificado. A polêmica decorrente da decisão do júri desencadeou, na imprensa parisiense, debates entre músicos e críticos musicais. Sem se abater, Ravel ingressou em outro concurso de composição para o qual deveria criar um movimento de sonatina. E foi novamente desclassificado: era o único candidato e sua composição possuía alguns compassos além do delimitado pelas regras concurso. Para vitória da humanidade, Ravel decidira por não abandonar a obra e adicionar-lhe dois movimentos. A Sonatina de Ravel, segundo Alfred Cortot, “oferece, através de sua concisão, o exemplo de uma construção perfeita, onde todos os detalhes estão na exata medida do título. Palavras definem menos do que a própria música, já que cedem à tentação de explicar o encanto do primeiro movimento no qual se lê a indicação: apaixonado – única presença desse vocábulo em toda a obra de Ravel. A sutil perfeição de seu ofício é de tal grau que ela só tende a se fazer esquecer e tornar de alguma maneira a música mais musical”. Frédéric Chopin sempre foi avesso aos palcos. Suas aparições em salas de concerto foram raras e remontam aos seus primeiros anos em Paris. Uma delas ocorreu no dia 21 de fevereiro de 1842, coincidentemente, no mesmo dia que seu primeiro mestre de piano, Wojciech Żywny, falecera na Polônia. No concerto, realizado na Sala Pleyel, Chopin executou sua 3ª Balada juntamente a alguns noturnos, prelúdios e mazurcas de sua autoria. Usado por Chopin em um sentido muito próprio, o termo balada tem sua origem no poema medieval nascido na Provença cuja narrativa ritmada servia de acompanhamento ao baile. Os temas principais de suas Baladas são em compasso binário-composto, moderado e dançante, como o refrão da 3ª Balada. Nesta obra, Chopin realizara um trabalho temático sofisticado, nem sempre percebido por intérpretes e críticos musicais. Da melodia inicial deriva quase toda a obra, através de variantes, inversões e, principalmente, no diálogo temático utilizando os registros do piano como se fossem naipes de uma orquestra. O resultado aproxima-se de algo que Chopin deliberadamente nunca ousara fazer: música sinfônica. Sergei Prokofieff iniciara a composição da sexta, sétima e oitava sonatas em 1939. A esta trilogia denominou “sonatas da guerra”: a sexta reflete a nervosa antecipação da Segunda Guerra; a sétima projeta a angústia e a luta dos anos de guerra; e a oitava analisa retrospectivamente os acontecimentos. O pianista russo Sviatoslav Richter, responsável pela estréia da Sonata nº7, notara que o sucesso da obra deu-se através do sentimento comum compartilhado pela audiência: “com este trabalho, fomos brutalmente mergulhados na atmosfera ameaçadora de um mundo que perdeu o seu equilíbrio. Reinam o caos e a incerteza. Vemos forças assassinas à frente. Mas isto não significa que o que vivíamos antes deixara de existir: continuamos a sentir e a amar. Agora irrompe uma gama de emoções. Junto com os nossos concidadãos, homens e mulheres, ergue-se uma voz em protesto compartilhando a dor comum. Varremos tudo diante de nós, movidos pelo desejo de vitória. Na tremenda luta que isto envolve, encontramos resistência para afirmarmos uma irreprimível força de viver.”

Marcelo Corrêa


Arnaldo Cohen foi o único aluno

na história da universidade brasileira a graduar-se com grau máximo em piano e violino pela Escola de Música da UFRJ. Teve no grande pianista brasileiro Jacques Klein seu principal mestre. Conquistou por unanimidade o 1º Prêmio no Concurso Internacional Busoni, na Itália e, desde então, apresentou-se em mais de 2.000 concertos pelo mundo, como solista das mais importantes orquestras. A BBC Magazine definiu-o como um raro fenômeno. Para o selo sueco BIS gravou Cd dedicado à música brasileira e, sobre essa gravação, o crítico do jornal inglês The Times escreveu: “Cohen é possuidor de uma técnica extraordinária e capaz de chamuscar as teclas do piano ou derreter nossos corações”. Em 2006, a revista Gramophone escolheu a gravação de Cohen para o selo BIS, com obras de Liszt, para integrar a prestigiosa e seleta lista do Editor’s Choice e justificou: “Sua interpretação de Liszt não fica nada a dever à famosa gravação feita por Horowitz, tanto em cores como em temperamento. Sua maturidade musical e virtuosidade estonteante o colocam na mesma categoria de Richter”. A mesma Gramophone não poupou elogios ao CD de Cohen lançado recentemente como solista da Orquestra Sinfônica de São Paulo sob a regência de John Neschling. Executando os dois concertos de Liszt e a Totentanz, o crítico Jeremy Nicholas resumiu: “difícil de superar”. Após viver mais de vinte anos em Londres, Cohen transferiu-se para os Estados Unidos em 2004, tornando-se assim o primeiro músico brasileiro a assumir uma cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana. Na Inglaterra, Cohen lecionou na Royal Academy of Music e no Royal Northern College of Music, onde recebeu o título de Fellow Honoris Causa. Seu interesse pela vida acadêmica levou-o a participar como jurado de vários concursos internacionais como o Concurso Chopin, em Varsóvia. Os destaques da última temporada incluem apresentações como solista das orquestras de Cleveland, Filadélfia, Los Angeles e Seattle, entre outras. O crítico Steve Smith do New York Times definiu a arte de Cohen: “Com uma técnica infalível, sua performance foi um modelo de equilíbrio e de imaginação.” Yehudi Menuhin, um dos mais importantes músicos do século XX, foi mais longe: “Arnaldo Cohen é um dos mais extraordinários pianistas que já ouvi”.



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