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Política
A minha vivência política em Alhos Vedros pode considerar-se como quase inexistente, em termos formais, contrariamente à herança paterna. Aliás, a primeira memória, na altura algo incompreensível, do que se pode classificar como vida política, foram algumas noites de espera e medo, com a minha mãe a espreitar pela persiana, o par de GNR colocados na esquina da Vasco da Gama com a Rua particular José Sancho (na altura em terra batida, com pilares que impediam a circulação sem ser em duas rodas ou a pé), provavelmente à espera que o meu pai regressasse, de motorizada, do turno terminado à meia-noite na CUF, pois ele era um dos distribuidores do Avante por lá. E a minha mãe dera com uma mala sob a cama do casal com diversos exemplares e nunca mais dormiu sossegada até ele os esconder em outro lugar. Mas, umas quantas noites, era eu petiz com menos de um punhado de anos, observava com surpresa o alvoroço materno e a ausência paterna, graças a avisos atempados de gente amiga, que então circulavam com uma rapidez a fazer inveja a qualquer rede social digital.
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A segunda memória que guardei, por assistir ou ouvir muito falar, foi a do par de assaltos praticados em Alhos Vedros pelas Brigadas Revolucionárias do PRP e que o Carlos Antunes descreve quase no final do livro Memórias de um Revolucionário de Isabel Lindim, pelo ambiente festivo de que foram rodeados, com a população local a festejar os assaltantes como heróis e a GNR a chegar adequadamente atrasada ao local.
Outra memória, mais pessoal, que posso com ironia considerar de activismo político-ambiental, passa pela irritação que me causava a abundante quantidade de cartazes que algumas forças políticas distribuíam por paredes que eu achava ficarem muito melhor sem tanto cartaz colorido. Por isso, em especial quando dobrava a esquina da Vasco da Gama para a Avenida Bela Rosa, a caminho da Escola Primária (a minha 4ª classe foi em 1974-75), antes da farmácia, naquele naco de parede com pequenos mosaicos pretos que ainda lá estão, aproveitava para arrancar, se ninguém estivesse à vista, alguns dos cartazes que era habitual o MRPP ali pespegar, com aquela cola artesanal com farinha e não sei mais o quê, com a beira de um a sobrepor à do anterior. O que era imensamente prático para descolar logo 2 ou 3 de uma vez.