
1 minute read
NaPrimeiraPessoa NaPrimeiraPessoa
Alhos Vedros, Outros Tempos
Paulo Guinote
Advertisement
Em tom de brincadeira, costumo dizer que decidi sair de Alhos Vedros ao fim de 33 anos de vida, não por ter decidido espalhar uma nova religião, como Jesus Cristo, mas pela razão oposta: uma crescente falta de crença ou fé na capacidade de travar um processo de descaracterização e destruição da sua identidade histórica a natural, muito acelerada nas duas últimas décadas do século XX quando as opções urbanísticas e de gestão do território local foram, em regra e na minha opinião, quase sempre erradas.
Quando o Fábio Silvano me convidou para escrever este texto, a primeira reacção foi a de pensar que não podia ceder à tentação negativa de apontar aquilo que me fez sair de Alhos Vedros. Tentei respirar fundo e pensar, com o véu da nostalgia, aquilo que me fez sentir Alhos Vedros como a minha terra natal, à qual fui voltando por causa das amizades, em particular daquela maior com quem continuei a partilhar actualidades e opiniões até desaparecer com a besta pandémica, ou seja, o meu amigo de décadas Luís Guerreiro.
Com ele, desapareceu praticamente a última pessoa com a qual partilhava memórias de uma Alhos Vedros quase desaparecida, pois foi muita a gente que com o tempo também foi partindo das mais diversas maneiras, não apenas em direcção a outras terras, mais ou menos distantes, mas mesmo fisicamente desta Terra, porque aquela geração, nascida ali pelos anos 60, viveu demasiados acidentes e infortúnios, sendo muitas as baixas registadas. Origens
Mas vamos lá ao que mais interessa, um olhar sobre um passado feito de gentes que foram chegando a Alhos Vedros, em diversos momentos e fluxos migratórios, quando a vila, a dada altura despromovida a aldeia, se tornou abrigo para quem vinha em busca de trabalho ao longo do século XX, antes de mais na cortiça, depois num círculo exterior dos “dormitórios” da CUF, e ainda depois no período de ascensão e auge das fábricas têxteis (GEFA, Bore, HellyHansen, Fristads).