A dança dos nomes na Praça da República

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Os nomes da Praça

Solicitaram-me uma explicação sobre os nomes que já designaram a actual Praça da República. Numa troca de impressões que se generalizou, parece existirem muitas duvidas e confusões, sobre os nomes, e em que datas, teriam sido atribuídas outras designações àquele local, sem duvida a centralidade da urbe, e por isso, o local mais fotografado logo que as novas tecnologias trouxeram com elas a possibilidade de registar para a posteridade o que apenas de outro modo se poderia fazer, de memória. Resolvemos juntar uma série de clichés e com eles tentar estabelecer uma certa ordem cronológica da evolução daquele centro urbano. Desde logo outros documentos se poderão ir juntando, se justificado. Desde já é, certamente, importante referir que foi ali naquela praça que esteve implantado o Pelourinho, de que não existem referências conhecidas, quanto ao seu tipo, mas que, erecto no reinado de D.Manuel I, deveria ser muito idêntico aos que se espalharam pelas diversas vilas a quem foram concedidos Forais Novos. O Pelourinho deveria ser muito idêntico ao ainda existente em Esgueira, encimado pela esfera armilar. Este Pelourinho e a designação da praça onde o mesmo estava colocado, aparecem-nos referenciados no Auto de Posse de 1713, quando o Procurador de D.Maria Antónia d’Almada (Donatária) tomou posse da Vila e da Igreja, de Ílhavo. Deve ter sido esta – Praça do Peloutrinho – uma das primeiras, senão a primeira designação, para lá da simples Praça (que dava ao rio da villa). Na busca feita às actas camarárias não encontrámos a data em que teria sido atribuído o nome de Praça Mouzinho de Albuquerque, à mesma. Mas deveria ter sido cerca de 1850. A foto 1 retrata-a tal como seria, numa altura em que se tentava ensaiar uma tosca arborização na mesma.


Foto1

Na foto 2 (abaixo), o cliché de Paulo Namorado data a referida Praça como tendo essa designação em DCCCXXLX (quereriam, certamente, escrever DCCCLXXX). A anterior arborização tinha desaparecido (?), e tinha sido já instalada a iluminação a petróleo (ou querosene) e, claro, podia ver-se por detrás, a ainda existente Capela das Almas.

Foto 2

Já a Foto 3 (abaixo) é uma perspectiva da Rua Direita por fins séc. XIX (cerca 1898), notando-se que o prédio da família «Regala» ainda não tinha sido construído, ocupando o gaveto e prolongando-se pela rua, absorvendo o prédio branco que se distingue na foto (centro).


Foto 3

A foto 4 é, cronologicamente, de uma data posterior. Será próxima de 1910.Ora em 12.10.1910 a Comissão Republicana, então presidida por Eduardo Craveiro, fixa o nome de Praça da República, ao local. Em 1911,em sessão de 5 de Abril, a propósito da instalação de um posto de telégrafo, já se fala na Praça da República quando se refere a proximidade àquela praça, da casa de um tal José Marques, onde o telégrafo seria instalado. Ainda não é a Praça Alexandre da Conceição, mas a evolução é notória. A casa dos «Regala» já existe. O local é ainda o «Mercado daVila», com as vendedeiras a expor os produtos, sentadas no chão.

Foto 4

A Foto 5 é já Praça Alexandre da Conceição. A atribuição do nome do insigne poeta ilhavense, Alexandre da Conceição, foi proposto por José Bixirão, e aceite em sessão da Câmara de 31.08.1926, presidida pelo Dr. Júlio Calixto. Há já passeios bem delineados, e uma nova tentativa de arborização. De notar a casa que foi do Sr. Joaquim Machado, já


com a forma actual. Os alinhamentos dos arruamentos começavam, já então, a ser delineados.

Foto 5 A foto 6 indica-nos o primeiro Mercado – designado por Mercado das Hortaliças (que se instalou no terrado da Capela das Almas em 1914) – visto da Praça da República, e tem data provável de cerca 1920 (a Capela das Almas tinha sido desmantelada em 1911),

Foto 6

A Foto 7 (1926),é da Praça Alexandre da Conceição, sendo notório o alindamento que começou a ganhar expressão, aquando da foto 5.


Foto 7

A foto 8 evidencia o largo do Oitão, visto da Praça. Pelas indicações (iluminação, prédios, e ainda sem passeios bem definidos) diremos que datará da primeira década de séc. XX.

Foto 8 A Foto 9 corresponde já a uma evolução urbana, sensível e bem pronunciada, relativamente à Foto 3. Nota-se a existência de passeios perfeitamente definidos, como o são actualmente. Mas ainda a rua de macadame (o paralelepípedo foi aplicado na década de 40 nas ruas, Direita (Arc.Bilhano), Samuel Maia, Serpa Pinto e Ferreira Gordo. As casas tinham a forma actual (note-se o «dente» existente no prédio da família Bagão, na zona onde está instalada a Barbearia Cândido). Os candeeiros de iluminação parecem ser, já, eléctricos. Então esta foto seria, provavelmente, da década de 20.


Foto 9

A foto 10 é uma vista da rua de Camões, na saída da «Manga». Interessava distinguir se a Rua Ferreira Gordo estava já aberta (1907), pois esta foto deverá ter uma data próxima,desta.


Foto 10 A Foto 11 permite ver a actual Rua de Camões. Em primeiro plano a casa do Dr.Machado (fins séc. XIX) (hoje da D.M. Paula Ramalheira ). . Ao lado, a norte, ficava a moagem de António Paradela.

Foto 11 Julgamos ter sintetizado bem as datas que definem as alterações de nomenclatura. Certo é que, parece, a designação Alexandre da Conceição ( depois de anteriormente lhe ter sido


outorgado o nome de Praça da República), não pegou, e a praça foi, habitual e continuadamente, e oficialmente, designada por Praça da República.

Senos Fonseca Junho 2008


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