O sal tornou-se assim, rapidamente, a maior riqueza daqueles tempos. E certamente o motivo para a deslocação e fixação de gentes provindas de outras regiões. Logo que as águas lagunares estabilizaram, mesmo ainda no principio lagunar, a produção do sal, que como referimos se situou em tempos muito anteriores bem lá para o interior do Vouga, logo que este deixou de ser navegável, transferirse-ia, por razões da salsugem das águas, para as zonas de altos fundos que se foram sucessivamente formando, mais para próximo da ligação ao mar. Fixando-se, especialmente, nos arredores dos centros populacionais de Vagos, Ílhavo e Aveiro. Os altos fundos emergentes, logo que consolidados, eram cercados e protegidos por blocos (de torrão) lodosos. E as águas que ficavam no seu interior, divididas numa acertada e geométrica complexidade de depósitos, decantadores, tabuleiros de evaporação etc., para que o sal, se colocada a água no ponto exacto de salsugem
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, surgisse, como que por prestidigitação
divina. Na realidade, o efeito conjugado, do vento e calor, provoca a evaporação rápida das águas densas, permitindo o aparecimento do sal. Recolhido com a rasoila, encanastrado, era seguidamente levado pelo marnoto no canastro, à cabeça, em passo de gaivina apressada através das barachas, para o malhadal. E aí acumulado em alvos cones, num trabalho penoso de mourejo, árduo, feito sob canícula, 25
Salsugem – teor adequado de salinidade, capaz de permitir, por exposição da água, ao vento e sol, o aparecimento do sal.
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