100 Histórias da Jornada do Desligamento do Sinal Analógico de TV pelo Brasil

Page 1

100 da jornada do desligamento do sinal analรณgico de TV pelo Brasil



100 da jornada do desligamento do sinal analรณgico de TV pelo Brasil


Este livro também está disponível gratuitamente no formato eBook em diversas livrarias virtuais como Google Livros e Amazon.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 & 22 KLVWµULDV GD MRUQDGD GR GHVOLJDPHQWR GR VLQDO DQDOµJLFR GH 79 SHOR %UDVLO >RUJ $QGU« &LDVFD@ —— 6Â¥R 3DXOR 6HMD 'LJLWDO 2 2 S LO FP ,QFOXL ELEOLRJUDILD ,6%1 22 7HOHYLVÂ¥R GLJLWDO $VSHFWRV VRFLDLV &RPXQLFD©¥R H PRELOL]D©¥R VRFLDO +LVWµULDV GH YLGD %UDVLO &RQGL©·HV VRFLDLV &U¶QLFDV , &LDVFD $QGU« ,, 7¯WXOR &''


Apresentação Relatos, contos e crônicas da vida real

Durante quase quatro anos, milhares de mobilizadores sociais percorreram as ruas de mais de 1.300 cidades pelo Brasil em nome da Seja Digital. A missão desse exército era mobilizar a população, especialmente as famílias de menor renda, para que se preparassem para o desligamento do sinal analógico de TV. Ninguém poderia ficar sem ver televisão Para cumprir esse objetivo, foi necessário ir até onde as pessoas estavam, não importava a distância ou as condições sociais do local. Por vezes, foi necessário pegar na mão dessas pessoas e conduzi-las por todo o processo - da orientação básica, explicando o que estava acontecendo e por que, até a instalação dos equipamentos que transformavam o televisor antigo, que não exibia mais do que chiados e chuviscos, em uma nova janela para o mundo, com imagem limpa, cores vivas e som perfeito. Nessa jornada, os mobilizadores da Seja Digital conheceram pessoas, ouviram histórias e vivenciaram experiências únicas, daquelas que só são possíveis ao estar junto da população. Esse “estar junto” significou muito mais do que divulgar informações, prestar orientação ou cumprir com obrigações protocolares. Significou fazer parte, mesmo que por alguns instantes, das realidades mais diversas, complexas e humildes que existem pelo Brasil. Com esse livro, queremos assegurar que um pouco dessas inspiradoras vivências não sejam perdidas. São relatos, contos e crônicas da vida real para que você também participe um pouco do que nós vimos, ouvimos e vivemos na jornada com a Seja Digital.

Boa leitura!

Antonio Carlos Martelletto

Presidente da Seja Digital


Índice Apresentação ....................................................................................................................

5

Notas Explicativas ...........................................................................................................

10

#001. Alô, quem fala?.....................................................................................................

12

#002. Babá com sinal digital .....................................................................................

13

#003. Desenvolvendo talentos para a vida .......................................................

14

#004. Puxadinho digital ..............................................................................................

15

#005. Solidariedade em ação ..................................................................................

16

#006. Criando oportunidade ....................................................................................

17

#007. Sem medir esforços .........................................................................................

18

#008. Santo sinal ............................................................................................................

19

#009. Faça você mesmo .............................................................................................

20

#010. Visão além do alcance .....................................................................................

21

#011. Um por todos ........................................................................................................

22

#012. Tudo sob controle ..............................................................................................

23

#013. O cara do megafone ........................................................................................

24

#014. Ninguém é Zé Ninguém .................................................................................

25

#015. Nada é por acaso ...............................................................................................

26

#016. Vale a pena acreditar na sorte? ...................................................................

28

#017. No meio do caminho havia uma TV ...........................................................

30

#018. O nome dela é Ana ...........................................................................................

31

#019. Orgulho, gratidão e felicidade .....................................................................

32

#020. Parece que ficou nova ....................................................................................

34

#021. Aplausos para o sinal ........................................................................................

35

#022. As latinhas viraram TV ....................................................................................

36

#023. Varanda digital ...................................................................................................

38

#024. Na hora certa .......................................................................................................

39

#025. Alegria na garupa ..............................................................................................

40

#026. Reforma garantida ............................................................................................

41

#027. Reconstruindo a vida .......................................................................................

42


#028. A melhor notícia da vida ................................................................................

43

#029. Companheira de vida .......................................................................................

44

#030. Um anjo em minha vida .................................................................................

45

#031. No último instante ..............................................................................................

46

#032. A melhor amiga ..................................................................................................

47

#033. E era verdade! ......................................................................................................

48

#034. Por toda a cidade ..............................................................................................

49

#035. Alô, D. Cadu ..........................................................................................................

50

#036. O problema era o sinal ..................................................................................,,

51

#037. Chega mais, vizinho ...........................................................................................

52

#038. Ele é incansável ...................................................................................................

54

#039. No meio do temporal .......................................................................................

55

#040. Área de conflito .................................................................................................

56

#041. Digitalizando em Libras ...................................................................................

57

#042. Meu quintal, meu escritório ..........................................................................

58

#043. Sem medo de desafios ....................................................................................

59

#044. Alegria, café e biscoitos .................................................................................

60

#045. Reconstruindo a esperança ..........................................................................

61

#046. Orgulho e felicidade .........................................................................................

62

#047. A famosa D. Marli ...............................................................................................

64

#048. A força do coletivo ...........................................................................................

66

#049. Em boa hora .........................................................................................................

67

#050. Com muita garra ...............................................................................................

68

#051. Luz e força em um sorriso ..............................................................................

70

#052. Um olhar sensível ...............................................................................................

71

#053. Que elegância! .....................................................................................................

72

#054. O que era bom, ficou melhor ........................................................................

73

#055. Tudo preparado ..................................................................................................

74

#056. Chega de silêncio ..............................................................................................

75

#057. Lágrimas de felicidade ....................................................................................

76


#058. Todo mundo engajado ....................................................................................

77

#059. Resgatando a dignidade ...............................................................................

78

#060. Brincar é coisa séria ........................................................................................

79

#061. A força de fazer o bem ....................................................................................

80

#062. Criando laços e parceiros ..............................................................................

81

#063. Na última hora .....................................................................................................

82

#064. Sonho realizado .................................................................................................

83

#065. Força, coragem e conquista ........................................................................

84

#066. Gerando renda e oportunidades ...............................................................

86

#067. Mulher de garra ..................................................................................................

87

#068. Trabalho em conjunto .....................................................................................

88

#069. Ele sentiu que ia ganhar .................................................................................

89

#070. O valor da caminhada .....................................................................................

90

#071. Vai um cafezinho? ...............................................................................................

91

#072. A alegria em pessoa .........................................................................................

92

#073. Sem limites geográficos ................................................................................

93

#074. 110 anos de vida, e energia no 220 ............................................................

94

#075. Ele fez a diferença .............................................................................................

95

#076. Família reunida ...................................................................................................

96

#077. Parceira de uma vida .......................................................................................

97

#078. Organizada e comprometida .......................................................................

98

#079. Eles chegaram! ...................................................................................................

99

#080. Sem perder a magia ........................................................................................

100

#081. Ajuda imediata .....................................................................................................

101

#082. Solidariedade não tem idade ......................................................................

102

#083. Legado ambiental .............................................................................................

103

#084. Muito além da obrigação ..............................................................................

104

#085. Só dava caixa postal ........................................................................................

105

#086. O velho que vira novo .....................................................................................

106

#087. Só de barco ..........................................................................................................

107


#088. Sem jamais desistir ...........................................................................................

108

#089. Despensa cheia, graças a Deus ..................................................................

109

#090. Experiência que transforma ........................................................................

110

#091. Feliz como nunca ...............................................................................................

111

#092. Parece que a casa está cheia ......................................................................

112

#093. Agendamento com elegância .....................................................................

113

#094. Instalação abençoada .....................................................................................

114

#095. Sem barreiras para fazer o bem .................................................................

115

#096. Sobre as águas do rio Madeira ...................................................................

116

#097. Visão perfeita para o sinal digital ..............................................................

117

#098. Ela chorou de alegria .......................................................................................

118

#099. Vida reconstruída ..............................................................................................

119

#100. Uma varanda mais que especial ..................................................................

120

Nossos mobilizadores ...................................................................................................

122

Entidades parceiras ........................................................................................................

124

Créditos ................................................................................................................................

126


Notas

explicativas Criamos esta seção para apresentar termos e palavras, encontradas em diversas histórias, que fizeram parte da rotina de atuação da Seja Digital pelo Brasil.

Regionais

As 1.379 cidades que tiveram o sinal analógico de TV desligado foram organizadas em 62 agrupamentos definidos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Esses agrupamentos foram chamados de regionais.

Mobilização social

Era o termo utilizado para identificar as equipes regionais da Seja Digital que atuaram junto à população das cidades onde o sinal analógico de TV foi desligado.

Kit gratuito

Composto por antena, conversor e controle remoto, era distribuído pela Seja Digital às famílias de menor renda inscritas em programas sociais do Governo Federal. Ao instalar a antena e o conversor, os televisores mais antigos passavam a exibir a programação dos canais abertos transmitida em sinal digital. Agendamento As pessoas que tinham direito ao kit gratuito precisavam agendar a retirada dos equipamentos. O agendamento ocorria por ligação telefônica gratuita, pelo site www.sejadigital.com.br ou pessoalmente nos eventos realizados pelas equipes de Mobilização Social da Seja Digital.

Instalação Após retirar o kit gratuito, a população precisava instalar a antena e o conversor para assistir aos canais abertos de televisão pelo sinal digital.


Formação de instaladores

A Seja Digital treinava pessoas da comunidade para que se tornassem instaladores e pudessem ajudar a população a instalar a antena e o conversor.

Instalação Premiada

A Seja Digital criou a promoção Instalação Premiada para estimular as famílias que tinham direito ao kit gratuito a instalarem os equipamentos logo após a retirada. Os inscritos das regionais São Paulo e Goiânia concorriam a aparelhos de televisão e cartões com crédito de R$ 500. Para os inscritos que faziam parte das regionais cujo desligamento ocorreria a partir do segundo semestre de 2017, os prêmios eram cartões com crédito de R$ 2.000.

Caravana da TV Digital

Era uma das ações realizadas pelas equipes de Mobilização Social da Seja Digital em ambientes públicos de grande circulação, como praças e feiras. Os objetivos desta ação eram orientar a população sobre como preparar a residência para o sinal digital, verificar quem tinha direito ao kit gratuito e agendar a retirada dos equipamentos.

Mutirão de agendamento e Mutirão de instalação

Equipes de voluntários ou colaboradores percorriam as comunidades para abordar a população para fazer o agendamento ou a instalação da antena e do conversor.

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

Os CRAS são unidades de atendimento onde o cidadão de menor renda encontra oferta de serviços de Assistência Social. Em todos os municípios onde a Seja Digital atuou, os CRAS se tornaram parceiros no processo de atendimento e aproximação às famílias mais vulneráveis.

Cadastro Único (CadÚnico)

É o banco de dados do Governo Federal que coleta e reúne dados e informações para identificar as famílias de menor renda existentes no Brasil para avaliação e inclusão em programas de assistência social.


#001

Alô,

quem fala? Regional: Aracaju

Ela achou melhor ir ao nosso encontro no escritório. Ainda não acreditava no telefonema que havia recebido. – Dois mil reais? É isso mesmo, né? Lembro de ter visto no papel – indagou, ainda confusa. No dia de receber o prêmio, não veio sozinha. Ela e o marido chegaram um pouco antes do horário e nós já os aguardávamos. Contou o que havia planejado fazer, “caso fosse mesmo verdade”. O marido nos olhava atento. Perguntaram-nos sobre o projeto, interessados em saber o porquê de uma organização entregar equipamentos e premiações assim, “de graça”. Ao ouvir as respostas sobre o trabalho voluntário e as instalações, o marido se ofereceu para ser instalador comunitário onde moravam, Santa Maria, um dos bairros prioritários da Regional. – Vocês nos ajudaram e eu quero poder ajudar vocês a ajudarem os meus vizinhos também. Até já tinha feito uma instalação lá na vizinha. Quem sabe ela não é a próxima a ganhar? – disse ele. E ele virou mesmo um dos instaladores comunitários. Os dois saíram radiantes com a ideia de que poderiam contribuir de alguma forma com o projeto, e nos deixaram emocionados ao saber que, mesmo com o pouco que tinham, sentiam o desejo de compartilhar com todos e multiplicar.

12


#002

Babá com

sinal digital Regional: Belém

D. Elisângela, moradora de local muito conhecido por conta da produção de cerâmica marajoara, toma conta dos 11 netos – alguns deles portadores de deficiência – para que os filhos trabalhem na coleta do barro (argila) na beira do rio e produzam artesanalmente as peças de cerâmica que vendem às margens da pista. Apesar de todos trabalharem na olaria, a compra de um kit digital iria mexer muito com o orçamento da família, que é muito pobre. Moram todos em casa de palafita com dois compartimentos e, como é construída sobre a água, as crianças não têm quintal ou outro espaço para brincar. Toda a diversão acontece dentro de casa, sendo a TV o divertimento delas. A maior preocupação da avó era em como as crianças ficariam sem ver TV após o desligamento do sinal analógico em Belém. Disse que chegou a perder o sono algumas noites, preocupada com o desligamento do sinal, chorava e conversava com Deus pedindo ajuda. Quando soube que tinha direito e que iria receber um kit gratuitamente, disse que ficou muito contente, porque nunca havia recebido nada grátis na vida.

13


#003

Desenvolvendo talentos

para a vida Regional: Belo Horizonte

Esta é a história de uma colaboradora especial, e tem início no segundo semestre de 2017, quando a Seja Digital estava digitalizando a cidade de Belo Horizonte e outras 38 cidades da região central do estado de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, nossos Pontos de Aconselhamento (PDAs) foram estruturados nas regionais administrativas, e não nos CRAS, pois o CadÚnico era feito somente nas regionais. Com isso, elas tinham sempre um número enorme de pessoas para realizar o atendimento. A entidade parceira da Seja Digital na realização de trabalho nos CRAS contava em sua equipe com uma pessoa que realizou um excelente trabalho para o projeto. Chamava atenção, não somente pelo cuidado que dedicava a cada uma das pessoas atendidas, em especial aos idosos, mas também pelo trabalho que passou a realizar nos bairros onde atuava. Visitando os postos de saúde, os CRAS e as escolas da região, conseguiu ampliar ainda mais o atendimento. No ano seguinte, durante a estruturação da equipe para o trabalho na Regional Interior de Minas Gerais, a mesma entidade parceira a contratou novamente, dessa vez para dar treinamento para os nossos mobilizadores. Porém, rapidamente nos demos conta de que ela poderia fazer muito mais do que treinar o pessoal. Passou então a dar assessoria aos coordenadores e supervisores dos quatro agrupamentos da Regional. Mais uma vez, destacouse e passou a fazer um acompanhamento de todos os mobilizadores. Sua história é certamente parecida com a de outras pessoas que entraram para trabalhar no projeto Seja Digital e que, aos poucos, demonstraram outros talentos e ampliaram sua atuação.

14


#004

Puxadinho

digital Regional: Blumenau

Combinei com a Sra. Cristina de ir até sua casa para entregar o cartão da Instalação Premiada e gravar uma matéria com uma emissora de TV. Chegando lá, um choque de realidade: casa simples de chão batido, com um portão enferrujado que fechava de forma criativamente ajambrada. Fui recebida por uma senhora de seus 30 e poucos anos, com marcas de expressão de quem já tinha sofrido muito nessa vida. Descobri que Cristina morava sozinha em um puxadinho na lateral dessa casa, onde vivem sua irmã e três sobrinhos. Ao lhe perguntar o que faria com o valor do prêmio, respondeu:

– Vou trocar de celular e garantir a ceia de Natal da família.

Num primeiro momento, pensei que trocar de celular talvez não fosse uma prioridade, dada a situação familiar, mas, ao ajudá-la a fazer o cadastro da senha do cartão, percebi sua real necessidade, pois tinha um aparelho antigo, todo rachado, em que mal dava para enxergar o que estava escrito na tela. A equipe de reportagem chegou, gravamos a matéria no quarto compartilhado pelas crianças, onde estava a TV com o kit gratuito instalado, e a vencedora abriu um sorriso de felicidade ao perceber que aquilo tudo era realidade e, para finalizar aquele momento, mandou um beijo para seu apresentador favorito, que retribuiu ao vivo quando a matéria foi ao ar.

15


#005

Solidariedade

em ação Regional: Campina Grande

A beneficiária Elânia já havia retirado o seu kit digital e, em poucos dias, o instalaria em sua residência. Três dias após a retirada do kit, ela recebeu em seu trabalho a notícia de que sua casa havia sido incendiada. Constatar que sua única filha não estava em casa no momento da tragédia foi de imensurável felicidade. No entanto, as perdas materiais a obrigariam a rever a vida. Documentos, eletrodomésticos, roupas, móveis... O fogo havia destruído tudo e Elânia e sua filha viram uma vida inteira ser tomada pelas chamas. “Como recomeçariam?”, era a pergunta que todos se faziam. Iniciou-se então uma forte mobilização para reunir doações do que foi perdido. Pessoas de várias partes da cidade colaboraram com o que podiam. A vizinha as abrigou em seu lar. Roupas e alimentos chegaram de muitas comunidades. Semanas depois, estavam ambas em novo endereço e com um novo aparelho de TV, frutos da generosidade dos paraibanos. Mas 5 de dezembro de 2018, data de desligamento do sinal analógico, se aproximava. Seria impossível continuar assistindo à programação da TV aberta, já que não havia condições financeiras para a compra de um novo kit digital. Neste momento, realizamos a doação do aparelho, que fez parte da retomada de vida da família restabelecida. O kit foi recebido com muita emoção, lágrimas e palavras de agradecimento, confirmando ainda mais o sentido do trabalho social realizado pela Seja Digital.

16


#006

Criando

oportunidade Regional: Caruaru

Sob o sol escaldante do agreste pernambucano e submerso na beleza exuberante da vegetação da caatinga, encontra-se um povo que luta pela sobrevivência. Na aridez não apenas climática, sob um cenário de exclusão, busca-se oportunidade, em uma terra de profundas qualidades poéticas e produtora das artes, como é Caruaru. A oportunidade, às vezes, está no acesso básico à documentação civil. Aos 19 anos, a jovem Celina, mãe de um bebê de menos de um ano, estava desempregada e sem documentos há três meses. Tentou tirar a 2ª via gratuita do RG três vezes, sem sucesso, e desistiu. Havia concluído o ensino médio há pouco tempo e, desde então, ansiava por ingressar no mercado de trabalho. Ao saber do recrutamento do projeto Seja Digital, via entidade parceira, expôs sua situação e foi contratada para participar dos mutirões de mobilização comunitária. A alegria de Celina irradiava. Seu trabalho durou dois meses, o suficiente para pagar o quartinho em que vivia e fazer, segundo a própria, “umas compras grandes”, expressão usada para relatar que havia garantido os suprimentos alimentícios até conseguir outra oportunidade de trabalho.

17


#007

Sem medir

esforços Regional: Cuiabá

“Foi muito bom poder ajudar nossos pacientes. Nós sabíamos que a maioria deles ia ficar sem ver TV. Dava uma tristeza não poder fazer nada. Acho que fiquei mais feliz que eles. Poder ajudar alguém nos faz mais felizes do que ser ajudado.” Alguns meses de correria, articulações avançando, outras nem tanto, o tempo seguindo mais rápido do que o necessário, a data do desligamento chegando e o “bendito BI” (painel de informações gerenciais para acompanhamento em tempo real do número de agendamentos e retiradas de kits) que não crescia em percentual, reuniões semanais (muitas vezes até diárias) para mudança de rota. Daí, chega aquela voz e pergunta:

– Onde estão os agentes comunitários de saúde?

No dia seguinte, amanheci na porta da Secretaria de Saúde. Tudo pronto: apresentação no pendrive e certeza de que a coordenadora de atenção primária estaria lá à minha espera. E não é que ela estava mesmo? Em meia hora de conversa, já havíamos articulado capacitação, encontros semanais para avaliação, equipe de campo para unir as pontas e a boa notícia: “Estaremos juntos na campanha, conte conosco!”. Foi uma parceria e tanto. A equipe estava envolvida e os agentes comunitários de saúde eram engajados. Muitos beneficiários foram acolhidos por uma equipe de agentes comunitários de saúde que não mediu esforços para “não deixar ninguém para trás”.

18


#008

Santo

sinal Regional: Curitiba

Padre Reinaldo é diretor de uma instituição que acolhe deficientes abandonados por suas famílias e atua com casas-lares em Curitiba há mais de 50 anos. Visitei a instituição, e Padre Reinaldo me levou a todos os espaços, onde pude conversar com os moradores. São pessoas com deficiências, de leves a severas, separadas em casas com atendimento de profissionais da saúde, terapeutas e famílias sociais. Cada casa-lar da instituição possui uma TV em que os moradores podem assistir à programação de sua preferência. Há ainda aparelhos de TV nos refeitórios, nos quartos de internamento e em outros espaços da instituição. Ao todo eram 50 TVs que ficariam inoperantes a partir do desligamento do sinal analógico. A Seja Digital fez, então, a doação e a instalação dos kits conversores digitais. Além disso, levamos até lá o Mascote Digital, que passou em todas as casas, entregou brindes aos moradores, tirou fotos e alegrou todos. Algumas semanas depois, tivemos a oportunidade de levar representantes da Anatel para conhecer a instituição já digitalizada e, naquele momento, Padre Reinaldo reforçou o quanto a doação e a instalação haviam sido importantes, pois a instituição depende de apoio para se manter.

19


#009

Faça você

mesmo Regional: Dourados

Teresa, moradora de um longínquo distrito abrangido pela Regional Dourados, transbordava alegria. Sua felicidade era proporcional ao calor intenso que fazia naquela tarde em que a visitamos. Contou-nos que, ela mesma, sem qualquer ajuda, instalara seu kit de TV digital. E fez questão de nos mostrar o resultado do seu trabalho, apontando para uma haste de bambu comprida e, lá na ponta, a antena digital instalada. – Aqui onde moro, o sinal de TV não é tão bom. Tive que colocar essa haste para ficar bem no alto e pegar melhor – comentou, orgulhosa. Moça jovem com filho pequeno, casada com um rapaz que trabalha numa usina instalada ali perto, Teresa mostrava, com muita alegria, sua casa e sua rotina diária. Seu dia começava cedo, com os cuidados com filho, marido e todos os afazeres do lar. Nas poucas horas vagas, fazia também serviços de manicure para a vizinhança. Era então a vez de cuidar dos animais que ficavam no quintal: galinhas, porcos, cães e até um pequeno cabrito.

– Tenho hábitos de quem veio da roça! – disse.

20


#010

Visão além do

alcance Regional: Feira de Santana

Ela tem parte da visão de um dos olhos comprometida. O outro olho já não pode enxergar. Era difícil ver o que passava na televisão com um sinal tão ruim. Fomos até sua casa para registrar a instalação gratuita do kit que havia sido retirado há pouco tempo. Como a entrevista fora agendada, todos estavam esperando “a TV chegar”. Ela estava radiante. Sua condição que, ao olhar dos outros, pode parecer ruim, para ela era motivo de seguir em frente, de não perder o riso. Ainda mais agora que podia ver o que estava acontecendo em sua cidade e também no mundo através de imagens. Com o sinal digital, era possível enxergar, nem que fosse pouco. Com a melhora na qualidade do som e da imagem, isso seria possível novamente, já que com ruídos e chiado ela não conseguia entender o que estava acontecendo. “Eu nem acredito que vou voltar a ver minha novela”. E, assim, ela embarcaria também na história daqueles personagens, sem antes deixar de nos contar sua história de vida e de como luta diariamente para ter seus direitos garantidos. Todos que nos acompanharam se emocionaram, mas principalmente o instalador, que foi instrumento para que ela pudesse voltar a assistir a seus canais favoritos. Saímos de lá com a certeza de que a vida e a rotina de mais uma pessoa haviam sido transformadas, e que esse era o caminho para digitalizar aquelas cidades.

21


#011

Um por

todos Regional: Florianópolis

Entre os mais de 200 beneficiários atendidos pela instituição de amparo à população em situação de rua, estava Manuel. Assim como tantos outros nessa condição, ele também tinha uma história dolorosa e difícil. Passava períodos na rua e períodos no abrigo, e foi lá mesmo que ele instalou o kit digital que ganhou. Presenteou a instituição que o acolhe de tempos em tempos com o equipamento. O que ele não sabia é que, ao instalar o kit, alguém o inscreveu na promoção Instalação Premiada. Pouco tempo depois, a surpresa: Manuel, morador de rua, ganhou o prêmio de R$ 2.000. Parece pouco, não é? É muito para quem não tem absolutamente nada. Ganhar o prêmio traz alegria para quem a vida deu tão pouco. Para alguns, ganhar o prêmio dá oportunidade de dividir um momento com os amigos, de fazer um simples churrasco. Sim, esse foi o destino de uma parte do prêmio. Manuel compartilhou o kit digital com a entidade que o atendia e ainda compartilhou parte do seu prêmio com outras pessoas na mesma situação.

22


#012

Tudo sob

controle Regional: Fortaleza

“Encontrei uma forma de dar certo. Agora todos vão poder ver a sua TV, sem risco de perder programa por conta do controle remoto.” Digitalizamos um abrigo de idosos em Fortaleza, missão cumprida, 86 conversores instalados. Ali, a TV é a única companhia da maioria dos idosos residentes durante grande parte do dia. Os instaladores trabalharam felizes por terem contribuído com a ação. Alguns nunca haviam visitado um abrigo de idosos, e emoções não faltaram ao depararem com tantas histórias de vida, enquanto instalavam conversores e antenas. Os idosos não saíam de perto, aproveitando a companhia, pois visitas em abrigos são uma raridade, e as histórias para contar são muitas. Canais sintonizados e tarefa finalizada, não fosse o fato de os idosos desprogramarem tudo por falta do hábito de alguns no uso do controle remoto. “Minha TV não presta mais”, ouve-se. Nova programação de canais, seguida de desprogramação. O ciclo parecia não ter fim para o coordenador de manutenção do abrigo. Por fim, uma solução criativa foi encontrada: ocultar com fita isolante os botões que tanto tiravam a paz dos idosos (e do funcionário da manutenção). Ficaram expostos no controle remoto apenas os botões principais. Daquele dia em diante, foram eliminadas as ocorrências de canais desprogramados.

23


#013

O cara do

megafone Regional: Governador Valadares

No processo de mobilização inicial na Regional Governador Valadares, encontramos um locutor, Juliano. No primeiro mutirão de agendamento, montamos uma estrutura para atender à população, e o nosso escopo contava com o locutor para atender à demanda e sair pelas ruas com um carro de som anunciando o evento. Antes de começarmos, conversei com ele sobre a importância daquela atividade para a mobilização. No primeiro evento, ele se saiu superbem. Em seguida, estudou sobre a Seja Digital e todas as mobilizações que já haviam sido feitas pelo país. O interesse dele em nos ajudar em qualquer atividade foi notório: logo ele estava fazendo agendamentos pelo telefone em sua casa. Dois meses se passaram e precisamos aumentar a equipe, contando com alguém à frente de um time que atuava em campo, um supervisor porta a porta. E ele me veio à mente, pois conhecia muito bem a cidade, sabia chamar a população para qualquer situação. Então, era ele o nome ideal. E não erramos. Juliano foi um colaborador de destaque. Integrava a equipe e era o elo da comunidade com a Seja Digital visível. Percebeu logo que não entregávamos só o kit digital, levávamos cidadania à população. Mergulhou em todas as comunidades, andou em todos os becos, utilizou uma ferramenta nova que fez muito sucesso, um megafone. Foi sua marca. Na semana em que encerramos as atividades, Juliano agradeceu emocionado e disse que não tinha noção da dimensão do poder da mobilização e de como aquele trabalho era importante para sua cidade.

24


#014

Ninguém é

Zé Ninguém Regional: Imperatriz

Chegamos à etapa de ter um grupo de jovens instaladores e recebemos algumas indicações. Entre os mais de 20 jovens ali sentados, um me chamou atenção. De início, o jeito muito introspectivo e calado – até para dizer o nome tinha dificuldade – me fez logo pensar: “ele não tem perfil para o trabalho”. Mesmo assim, apostamos nele, até mesmo por ser indicação do CRAS. O trabalho de instalador lhe rendeu dois salários, que usou para alugar um espaço para chamar de seu. Depois de um mês de trabalho, era querido pela equipe e todos o apoiavam. Voltou a sorrir e a fazer planos. A oportunidade dada não lhe trouxe apenas experiência profissional, mas dignidade. – Com uma carteira assinada agora, posso procurar emprego sem ser visto como um Zé Ninguém, já posso ser chamado de instalador – disse ele.

25


#015

Nada é

por acaso Regional: Interior MG

O encontro na rua podia não ter passado de um “bom dia” costumeiro. Sábado, pensamento longe, repassando solitariamente a agenda do dia, recebo um sorriso largo, acompanhado de um pedido: – Desculpe incomodar, D. Andreia! Vi a senhora na televisão. Como eu faço pra saber se posso receber aquele aparelho? Gosto do jornal e do futebol. Estava eu diante do “Mamão”. Na rua é ele quem poda jardins, capina terrenos, faxina os prédios. Um trabalhador, tantas vezes invisível. Orientações sobre direitos, programas sociais, kits, CRAS e muitos etcéteras. Missão inicial cumprida e a alegria por reafirmar o compromisso com os direitos do Mamão. Dias depois, como em um “insight”: aquele foi um encontro pela TV e para a TV. Claro, como não pensei nele para personagem no vídeo institucional?

Na mesma rua:

– D. Andreia, quero agradecer à senhora. Instalei o kit. Deu tudo certinho! – Que bom, Mamão! Você quer ser nosso personagem em um vídeo (...)? – D. Andreia, me desculpe, mas antes de levar o rapaz lá em casa para a filmagem, eu preciso pagar as contas de luz em atraso (e depois as de água). Tenho até vergonha, mas tá faltando luz. Como ligar a TV?

Era mesmo um encontro daqueles iluminados!

Mamão segue seu caminho. É um personagem, mas antes de tudo, é um trabalhador. Tornou-se colaborador da Seja Digital por dois dias, falou brilhantemente sobre direitos, kits e televisão. Distribuiu panfletos com as mesmas mãos da enxada e, mais do que pagar contas, descortinou um caminho de direitos.

26


27


#016

Vale a pena acreditar

na sorte? Regional: Interior RJ

Valéria recebeu minha ligação em uma quarta-feira à tarde. Eu quase não conseguia ouvir sua voz do outro lado da linha. Minha empolgação era tanta que, acredito, falava por mim e por ela. Depois de me apresentar e falar do prêmio, aquele silêncio.

– Val — eu disse, já íntima –, está me ouvindo? Entendeu?

Ouvi um simples “sim”. Nenhuma vibração. Expliquei tudo e disse que nossa assessora de imprensa entraria em contato com ela para combinar a entrega em uma rádio. Aí ela se apavorou. – Mas eu nunca falei nem em reunião de escola, por que alguém vai querer me ouvir? Ninguém nunca se interessou pelo que tenho a dizer. Foi nesse momento que pensei: tenho muito mais a fazer além de entregar um simples cartão de plástico com um crédito pré-pago. Depois de conversar com a assessora, falei da situação de timidez e insegurança com a qual precisaríamos lidar. Acolhimento era a chave. Marcamos então para que Val, agora ainda mais íntima, chegasse com mais de uma hora de antecedência. Conversamos muito, interessei-me verdadeiramente por sua história de vida — sofrida, é claro. Saímos então rumo à rádio. Diante de todo aquele aparato técnico de equipamentos, microfones e computadores, o conforto e relaxamento adquiridos deram lugar a um olhar apreensivo, que buscou, junto ao meu, nada mais que segurança. Peguei em sua mão e a conduzi, juntamente com o locutor, muito sorridente, aos nossos lugares. Depois de algumas intervenções e perguntas, nosso locutor finalizou:

– E então, Valéria, vale a pena acreditar na sorte?

Nossa Val respondeu em alto e bom som:

– Na sorte e nas pessoas.

28


29


#017

No meio do caminho

havia uma TV Regional: Interior SP

Dona Maria, beneficiária do programa Minha Casa, Minha Vida, retirou o conversor pela manhã, mas saiu de lá desolada porque não tinha uma TV para instalar o kit. No caminho de volta para casa, nove quilômetros percorridos a pé, pediu a Deus por uma TV. Nessa caminhada, viu na calçada uma TV de tubo jogada, inteira, mas que ela não sabia se estava funcionando. D. Maria não pensou duas vezes. Pegou a TV e seu conversor e saiu carregando ambos pelas ruas da cidade. Como já tem mais de 70 anos, a cada esquina cansavase e sentava em cima da sua “nova TV”. E assim foi, até chegar em casa. No mesmo dia, o instalador Francisco, que fazia uma varredura no bairro, passou onde D. Maria morava para realizar a instalação. Colocou a TV na tomada e ela funcionou! Na sequência, instalou o kit e gerou o código da Instalação Premiada. A alegria de D. Maria foi impactante e fez com que toda a equipe do mutirão na região chorasse quando o instalador relatou a história, em uma das reuniões gerais.

30


#018

O nome dela

é Ana Regional: João Pessoa

Mais de 90 instaladores ajudaram a cidade de João Pessoa a digitalizar milhares de lares. Nesse grupo houve pessoas que se sobressaíram pela qualidade no trabalho – o maior deles tem um nome tão curto quanto forte e ao mesmo tempo delicado: Ana. Dona de casa, mãe de duas meninas, ela driblou estereótipos e enfrentou o desconhecido. Vê-la caminhar por entre becos e ruelas com sua caixa de ferramentas, transcendendo as barreiras do preconceito em uma atividade notoriamente dominada pelos homens, me trouxe muito orgulho. Ana nunca havia usado furadeiras, mas a garra com que abraçou a oportunidade a fez não apenas instalar com primor: ela mostrou que a técnica do ofício, quando aliada às qualidades humanas, faz diferença no resultado. Ana abordou os lares com empatia, foi cordial sem deixar de lado a agilidade e usou a perspicácia feminina para lidar com situações diversas. Em seu relato, nos contou que havia concorrido à vaga de instaladora por precisar de recursos para consertar o telhado de casa, mas que, ao conhecer tantas outras, agregou um novo propósito à sua jornada, o de trazer satisfação ao maior número de famílias que encontrasse. E assim, de telhado em telhado, Ana fez mais de mil instalações e trouxe mais significado a cada dia de batalha. Disse-me com alegria que o trabalho lhe proporcionou mais que a reforma do seu telhado. Trouxe-lhe a certeza de que não há limites para quem persegue seus sonhos e fortaleceu sua convicção de que a mulher pode fazer o trabalho que bem quiser.

31


#019

Orgulho, gratidão e

felicidade Regional: Jaraguá do Sul

A entrega do kit digital proporcionou para as secretarias de Assistência Social a oportunidade de identificar famílias que se enquadravam no perfil socioeconômico elegível a receber o kit digital gratuito, mas que ainda não acessavam nenhum programa social, e isso aconteceu em todos os municípios por onde passamos. Certo dia, a equipe trabalhava em um dos CRAS do interior de Santa Catarina, quando atendeu um senhor que se enquadrava nos critérios do cadastro único. Analfabeto e com muita dificuldade de se expressar, contou que viu no telejornal que as TVs de tubo, como a que tinha em casa, deixariam de funcionar. Sr. Antenor não estava inscrito em nenhum programa social, mas com o apoio da equipe do CRAS fez seu cadastro no CadÚnico. O processo para acessar o kit digital demorava um pouco e a data do desligamento estava próxima. Antenor partiu apreensivo, mas com a promessa de retornar. Semanas depois, a equipe realizou uma ação no terminal de ônibus. Entre muitas pessoas, nosso supervisor na região reconheceu de longe a sacola da Seja Digital que era entregue junto com o kit. A pessoa que a carregava foi se aproximando e ele então percebeu que era aquele senhor que havia deixado o CRAS preocupado.

– Você lembra de mim?

Nosso supervisor respondeu que sim.

Antenor, com lágrimas nos olhos, disse:

– Eu orava todos os dias para ganhar o kit porque não tinha condição de comprar. Muito obrigado pelo que vocês fizeram por mim! O supervisor contou que uma mistura de emoções tomou conta dele naquela hora: orgulho, gratidão, felicidade. Sua maior vontade era de abraçá-lo e chorar junto com ele. Antenor se despediu com um sorriso em meio às lágrimas e foi embora feliz, carregando seu kit digital.

32


33


#020

Parece que ficou

nova Regional: Joinville

A casa era pequena e simples, assim como várias outras no bairro de Joinville, mas tinha algo especial nela. Era dia de gravação da “Caravana”, projeto da Seja Digital em parceria com uma emissora de TV. Nossa equipe já havia mapeado as residências que precisavam de instalação. Quando chegamos, apenas a esposa, duas crianças e os cachorros, que latiam sem parar. Na sala, uma TV de tubo, um colchão no chão e um pufe. Evandro, o dono da casa, havia saído para ver uma oportunidade de emprego. A equipe de instalação pediu autorização e iniciou os trabalhos. Evandro chegou logo em seguida. Receptivo, agradecido, falante, sabia tudo sobre a Instalação Premiada e nos surpreendeu quando começou a explicar com riqueza de detalhes a promoção. O prêmio infelizmente não veio, mas Evandro ganhou uma TV quase nova, nas palavras dele. Incrédulo e surpreso com a qualidade do som e da imagem do televisor após a instalação do kit digital, soltou alguns palavrões e fez todos rirem. A alegria estampada no rosto contagiava todos e ele parecia não acreditar que a velha TV pudesse transmitir uma imagem tão perfeita. Evandro e a família agora podiam, sentados no colchão rasgado jogado no canto da sala, assistir a seus programas favoritos com imagem e som de cinema, em sua própria casa. Ao sairmos, percebi um silêncio quase incômodo na equipe. Cansados do dia intenso de instalações e gravação, nossos olhos sorriam, orgulhosos e agradecidos por estarmos ali vivenciando aquela experiência.

34


#021

Aplausos para

o sinal Regional: Juazeiro do Norte

Em um dos municípios da Regional, conheci o Sr. Moreira, de 92 anos, que morava em um abrigo. Abandonado pelos familiares, formou ali uma nova família. Gostava de receber os amigos nos seus aposentos para assistirem à programação de TV. Possuía um aparelho de tubo de 14 polegadas e não conseguia mais acompanhar seus programas favoritos: a imagem analógica já não funcionava a contento e, com a dificuldade visual que tinha, não conseguia assistir à TV, ficando por vezes entristecido com a situação. Quando soube que tinha direito de receber o kit digital, disse alegremente: “Ah, minha filha, agora vou ver as meninas bonitas da TV”. Ligado o kit digital, ao ver que a TV transmitia imagem e som com qualidade de cinema, ficou com os olhos lacrimejantes e bateu palmas virado para a TV. Foi emocionante esse momento. Imediatamente, ele chamou os amigos para assistirem à TV com alegria. O abrigo passou a ver novamente a alegria nos olhos de todos.

35


#022

As latinhas

viraram TV Regional: Maceió

Dia ensolarado, muito movimento, pessoas andando pra lá e pra cá. Muitas queriam entender o que estava acontecendo. Cobertura da imprensa, repórter de rua famoso na capital alagoana. Foi nesse cenário que ocorreu a Caravana Digital na comunidade, conhecida na região não apenas pela produção de mariscos, fonte de renda e alimentação para muitos, mas também pelos altos índices de violência. Durante a ação, uma pessoa chamou muita atenção pela sua história de vida, o Sr. Arnaldo, um homem alto, de pele clara castigada pelo sol e barba por fazer, simpático e muito falante. A aparência nos fazia crer que tinha entre 60 e 65 anos de idade. Catador de recicláveis, nos contou que juntou muitas latinhas com um único objetivo: adquirir uma TV. Com a venda dessas latinhas, conseguiu juntar R$ 70 e comprar uma antiga televisão de tubo, que, segundo ele, em fala bastante entusiasmada e orgulhosa, estava em perfeito funcionamento. Durante o atendimento, ele conversava com todo mundo, parecia muito feliz em estar ali. No instante em que o promotor pediu para ele escolher dia e hora para a retirada do seu kit conversor gratuito, o Sr. Arnaldo trocou o sorriso do rosto por uma expressão de incredulidade. Desconfiado, perguntou: – Vou mesmo ganhar isso e poder assistir à minha televisãozinha? Vocês não estão mentindo pra mim? A equipe reforçou que ele teria direito, e foi aí que ele desabou no choro por alguns minutos. Entre lágrimas, disse: – Vou fazer 50 anos amanhã e nunca, nunca, nunca na minha vida ganhei um presente, nunca ninguém me deu nada. Essa é a primeira vez. E eu ainda posso escolher? Homem, isso é bom demais.

Nesse momento, a felicidade estava traduzida em seu olhar.

Foi então que descobrimos que Arnaldo era muito mais jovem do que a sua dura vida o fazia aparentar e, ainda assim, distribuía sorrisos e gentilezas por onde passava. Foi um momento de tanta emoção que contagiou a todos os envolvidos no trabalho e nos fez ter a certeza de que um mundo melhor ainda é possível.

36


37


#023

Varanda

digital Regional: Manaus

Manaus nos surpreendeu pela complexidade. Eram bairros extremamente populosos e divididos por setores. Numa dessas grandes regiões, encontramos uma líder comunitária que entendia bem a realidade da sua cidade e principalmente do seu bairro, na Zona Leste de Manaus. O lugar era um dos nossos principais focos de atendimento, com um grande número de pessoas vivendo em área de vulnerabilidade social. Ali montamos uma estratégia para atendimento setorial, reunindo outras lideranças locais, e conseguimos atingir a comunidade com essa líder à frente de toda a mobilização. Ela percorria as ruas junto com as equipes, entregava panfletos, colava cartazes e fazia de sua varanda um ponto de apoio dos mobilizadores. Sua casa virou referência para a busca de informações sobre o projeto. Era mais que uma mobilizadora, fazia agendamento para quem não tinha acesso à linha telefônica e orientava sobre a instalação. Tinha vários contatos com outras lideranças comunitárias e abriu as portas da Zona Leste para nossa mobilização. Parte do nosso sucesso local é devido aos líderes atuantes anônimos.

38


#024

Na hora

certa Regional: Marabá

Caetano, primeiro ganhador do prêmio da Instalação Premiada da Regional, é um senhor de mais de 85 anos, viúvo e sem filhos, que ainda trabalha na roça plantando mandioca para se sustentar. Gosta de trabalhar com a terra. Ao receber, por telefone, a notícia de que havia sido contemplado com uma premiação, a primeira pergunta que fez foi:

– Posso comprar remédios e pagar meus exames com esse prêmio?

Ao saber que poderia gastar o prêmio como desejasse, chorou ao telefone, agradeceu muito e abençoou todos os que o estavam ajudando. O prêmio, segundo ele, havia chegado em boa hora, pois precisava realizar alguns exames e se submeter a um procedimento cirúrgico importante. Já estava sem esperança de poder cuidar da saúde. Caetano, apesar da idade e das dificuldades da vida, tem alegria de viver.

39


#025

Alegria

na garupa Regional: Mossoró

Na rádio rural local, era comum abrir espaço para a ligação de ouvintes com o intuito de esclarecer dúvidas e passar orientações. Quando já estava saindo do estúdio, o operador da mesa que atendia às ligações, já fora do ar, me passou o telefone. D. Ester fazia questão de falar comigo. Expressou toda a sua gratidão, pois sua filha, que até então não tinha televisão em casa, comprou uma TV usada após receber o kit gratuito e estava muito feliz por poder assistir a seus programas favoritos junto de seus cinco filhos, em sua própria casa. Após seu comovente depoimento, fiz questão de conhecê-la pessoalmente. Peguei o contato e o endereço delas e marquei a data. Ao chegar na residência de D. Ester, fui recebido com um forte abraço. Ela contou que sempre me ouvia na rádio. Após alguns minutos de conversa, sua filha, que morava do outro lado da rua, também chegou. Contou sobre sua experiência com a retirada do kit: – A atendente foi bem legal e atenciosa, agendou rapidamente a retirada do meu kit. Fiquei muito feliz, porque aqui em casa nem TV tinha, assistia na casa da minha mãe. Depois de receber o kit digital, fiz um esforcinho e comprei um aparelho usado lá no “Vuco Vuco” (mercado público de troca e venda de equipamentos eletrônicos usados). Voltei carregando uma TV na moto, mas valeu a pena! – disse ela aos risos, mostrando como foi levar a TV na garupa da moto do marido. – Nada paga o sorriso dos meus filhos, e um outro presente que darei a eles é o prêmio de R$ 2.000, da Instalação Premiada – afirmou ela, entusiasmada e confiante em sua sorte.

40


#026

Reforma

garantida Regional: Natal

Chegando à periferia de Natal, a uns 40 minutos do centro da cidade, avistei D. Francisca, filhos e netos em frente à sua casa. Estavam todos nos esperando para receber o prêmio da Instalação Premiada. Muito entusiasmada, nos convidou a entrar. Em sua casa, humilde, mas bem organizada, nos ofereceu um café, apresentou seus filhos e netos com muito orgulho e começou a contar sua história. Após morar alguns anos em São Paulo, tinha retornado a Natal e estava no aguardo de seu filho retornar de lá também. Ele iria morar junto com a esposa na casa ao lado, que estava inacabada. Extremamente positiva, contou que tinha fé que poderia ganhar. O dinheiro já tinha destino certo: iria comprar cimento, portas e janelas para ajudar o filho a finalizar a obra em sua casa.

41


#027

Reconstruindo

a vida Regional: Oeste PR

Recebi uma ligação de nossa mobilizadora, informando que a casa de um beneficiário que já tinha retirado o kit digital havia pegado fogo. Ele tinha perdido tudo e procurou o CRAS para saber o que fazer, pois seu conversor digital havia sido queimado no incêndio. Liguei para ele, que me contou sua história e o que estava passando. Era eletricista e estava desempregado. Sua esposa encontrava-se em tratamento médico e sua filha pequena apresenta transtornos neurológicos. Na noite do incêndio, sua esposa levantou de madrugada e viu a cortina e o sofá pegando fogo. Jogaram água até conseguir apagá-lo, mas perderam móveis e eletrônicos, inclusive TV e conversor digital, única distração da família. A Seja Digital prontamente disponibilizou um novo conversor e, através de uma mobilização no comércio local, conseguimos a doação de uma TV. Essa família teve de volta a diversão que a une.

42


#028

A melhor notícia

da vida Regional: Palmas

Saí empolgada de casa, mas a reunião não atingiu as expectativas. Entretanto, quando eu ia saindo, fui abordada por uma menina de uns 10 anos que veio com um sorrisão no rosto e perguntou:

– Você é da TV Digital? Meu irmão não pode ficar sem TV!

Fui entender a história: o irmão não era irmão, mas primo. A mãe dela o buscou no interior do estado para morar com eles quando a avó morreu. O primo tem paralisia cerebral e fica o dia todo sentado em uma cadeira de fibra ou no colchão assistindo à TV. É isso que o distrai. A menina me levou até sua casa para fazer o agendamento da mãe. O lugar era muito simples. A família se desdobrava para custear as despesas de duas pessoas especiais. Não havia só o irmão/primo. Tinha também uma outra prima que a mãe trouxe do interior depois do falecimento da avó. No total, a casa abrigava seis moradores, e a grande distração de todos era a TV. Quando fiz o agendamento e afirmei para a jovem que eles não iriam ficar sem TV, o sorriso, que já era lindo, ficou mais bonito ainda. Ela disse:

– Você me deu a melhor notícia da vida.

Dias depois, passei na casa deles para saber se haviam conseguido retirar o kit e instalá-lo. A menina não estava, mas a mãe falou que estava tudo funcionando e agradeceu.

43


#029

Companheira

de vida Regional: Parnaíba

Estava entrando ao vivo na TV na Praça das Graças, na cidade de Parnaíba (PI). Ao dar início à entrevista, algumas pessoas pararam para escutar o que eu falava. Encerrada a entrevista, algumas me abordaram para tirar dúvidas, mas D. Arminda foi a que mais me chamou atenção. Uma senhora, com rosto bem maltratado pelo tempo e pela vida, disse-me que morava sozinha, nunca havia recebido benefício algum e estava preocupada em perder a sua única companheira, a TV, por não ter condições de comprar um kit conversor. Na ocasião, peguei o número de seu telefone para ver o que poderia ser feito. Depois de uma avaliação interna sobre seu caso e da aprovação, liguei para contar a ela que receberia a doação de um kit conversor. Ela se emocionou bastante, falando que não sabia como me pagar, que Deus iria me dar tudo em dobro. Nesse momento, percebi a bondade que existia em seu coração, suas palavras sinceras encheram meu coração de felicidade e orgulho por fazer parte de um trabalho tão especial e importante para a população.

44


#030

Um anjo em

minha vida Regional: Petrolina

Foi uma busca muito intensa até localizar seu telefone atual. Quando consegui fazer contato, ouvi um misto de surpresa e desconfiança: – Sério? Isso é verdade, mesmo? Como você pode me confirmar essa história? Confirmações feitas e data de entrega marcada, quando enfim a boa nova se concretizou, a emoção tomou conta. – O senhor foi um anjo em minha vida – disse-me ela, com olhos marejados, para em seguida explicar: – Estou em um momento muito difícil de minha vida, com pouca coisa em casa, triste e sem muitas perspectivas para o final de ano. Aí, recebo uma ligação dizendo que ganhei dois mil reais! Agora vou poder comprar uma nova TV e um presente de Natal para o meu filho. O choro deu lugar a um sorriso de contentamento. Com um abraço forte, ela me agradeceu mais uma vez e saiu animada. Um enorme sentimento de alegria me percorreu, e ficou a gratidão por poder ser portador desses momentos na vida das pessoas. Ajudar a fazer a diferença e levar um pouco de felicidade para quem tanto necessita é a marca maior que fica desse projeto.

45


#031

No último

instante Regional: Porto Alegre

Esta é a história de um trabalho em equipe, quase uma força-tarefa. Já passava da metade da tarde do exato dia do desligamento, quando um casal de velhinhos de Nova Hartz chegou até a assistente social do município, muito preocupados porque compreenderam que sua TV de tubo não funcionaria mais a partir da meia-noite, e eles não tinham condições de comprar outra televisão. Ela, com 92 anos; ele, aos 90 anos. A assistente social, muito sensibilizada, nos contatou para saber como poderíamos ajudá-los, pois nem constavam na lista de beneficiários. Descobrimos que havia um motorista da Secretaria da Saúde do município, em trabalho na capital. Acionamos os funcionários de nosso depósito de equipamentos para que aguardassem a chegada do motorista, já autorizado a retirar um kit conversor para o casal. Ele o retirou e, por volta de 19h30, o kit já estava com a assistente social que, mesmo findo o seu expediente de trabalho, foi até a casa do casal de idosos e instalou o kit. Naquele dia, eles tinham um compromisso muito importante, mas abriram mão e ficaram em frente à casinha, aguardando com esperança a chegada do kit conversor. Tanta gente ajudou e, à meia-noite, quando o sinal analógico foi desligado, sentimos muito orgulho e alegria em nossos corações, porque ninguém ficou para trás! Nem mesmo esses velhinhos de Nova Hartz.

46


#032

A melhor

amiga Regional: Recife

Entrar naquele barraco estreito feito de tábuas representaria mais um dia acompanhando os mutirões de instalação, mas aquela visita tornouse especial. Deitada em sua cama, D. Raimunda mostrava-se feliz com nossa chegada e, mesmo com dificuldades na fala, enquanto seu kit digital era instalado, relatou episódios de sua vida e o motivo de tamanha alegria. Morava sozinha e não sabia onde estavam os parentes. Um incidente teria agravado sua situação: na volta para casa, após retirar seu kit, sofreu uma queda e, só depois de um mês de internação, conseguiu voltar para casa. Por ter permanecido com dificuldade para caminhar, seus dias e noites a partir de então eram vividos dentro de seu barraco, sozinha, e por não ter com quem conversar, tratava a TV como sua única e melhor amiga. Contou-me já ter se acostumado às situações que a vida lhe havia apresentado. Até o dia da chegada dos instaladores, sentia um grande medo, por não saber como iria fazer sem a companhia de sua melhor amiga quando o sinal analógico de TV fosse desligado. Ao final da instalação, em um choro aliviado, me disse cheia de gratidão que a partir dali ela dormiria tranquila.

47


#033

E era

verdade! Regional: Rio de Janeiro

“Eu não imaginava que conseguiria. Num primeiro momento, achei que não fosse acontecer. Que não fosse nada de graça. Mas aí eu vi minhas vizinhas, o pessoal da igreja falando e tal. Um dia, bateram na minha porta, pediram meu número de documento, mesmo sem acreditar muito, deixei que o menino tentasse. Aí, apareceu meu nome no tablet dele e depois ele me disse que eu poderia escolher dia e lugar para retirar de graça meu kit. Agora, olha eu aqui com o meu kit, na minha sala. Obrigada aos meninos que bateram no meu portão. Obrigada, Seja Digital.”

(Depoimento de beneficiária recebedora do kit gratuito)

48


#034

Por toda

a cidade Regional: Rondonópolis

Levar a tecnologia da TV digital para todos os lugares. Não deixar ninguém para trás! E assim a Seja Digital foi ao encontro de muitas instituições em Rondonópolis. Colaborando com o processo de ressocialização, a campanha chegou também a um presídio da região onde, devido à doação de kits, centenas de reeducandos continuaram a ter acesso à programação televisiva. Em instituição beneficente, onde dezenas de crianças aguardam por uma família, os kits entregues fizeram a alegria da meninada. Do outro lado da cidade também há um lugar bem especial onde a esperança vive. Não são crianças, mas idosos. A eles foi proporcionado o prazer de assistir a seus programas favoritos com imagem e som de cinema.

49


#035

Alô,

D. Cadu Regional: Salvador

Recôncavo baiano, comunidade quilombola. D. Cadu, uma senhora de 101 anos, mestre na arte de fazer panelas de barro que, mesmo centenária, trabalha durante todo o dia, recebe turista, ensina sua arte. Descansa à noite assistindo às suas novelas. Quando chegamos à vila em que mora D. Cadu, tudo tinha cor de barro. Imediatamente, lançamos um desafio à comunidade e, sob sua liderança, todos foram agendados, retiraram seus kits e tiveram os mesmos instalados. Como prêmio, 30 artistas fizeram pinturas nas paredes das casas de toda a comunidade. A Seja Digital levou tecnologia, mas também alegria e humanidade.

50


#036

O problema era

o sinal Regional: Santa Maria

Um dia lindo e muito quente, um calor que nos alimentava, uma energia que nos motivava a trabalhar. Estávamos realizando uma “varredura de rua”, passando de casa em casa para divulgar o projeto, identificando os beneficiários e realizando algumas instalações. Próximo das 14h, entre as grades de um pequeno portão, fomos abordados por um senhor com voz tímida solicitando nossa ajuda. Ele estava há alguns dias com seu kit, mas não conseguia instalar devido a limitações físicas. Com sua permissão, entramos em sua casa e realizamos a instalação. Não fixamos a antena na parte externa da casa, pois ela provavelmente seria furtada (como já havia acontecido; por muito tempo ficaram sem TV). Para ele e sua esposa, a TV era a única forma de entretenimento, informação e passatempo. Quando apareceu a imagem digital na pequenina TV, Sr. João sorriu e falou algo rapidamente, que não compreendemos. Notamos uma expressão de felicidade e lágrimas em seus olhos. – Meus filhos, há anos tenho problema de visão, quase não enxergava, via vultos, riscos e nuvens, agora percebo que minha visão não é tão ruim assim, a imagem é muito boa, consigo ver as pessoas, consigo assistir de longe, de perto, muito obrigado. Que Deus abençoe vocês – disse ele.

51


#037

Chega mais,

vizinho Regional: Sul do RS

O dia amanheceu quente e com aquele vento tradicional nas cidades coirmãs, Rio Grande e São José do Norte. Realizamos a travessia da balsa com o carro, tudo balançava muito. Por fim, chegamos a São José do Norte. A agenda previa a visita a uma comunidade extremamente pobre, barracos espalhados em cima das dunas, sol a pino. Nossa equipe percorria as casas em meio a muitas crianças, carroças e adultos que, curiosos, procuravam saber o que estava acontecendo ali na rua. Quando percebiam que era a equipe da Seja Digital, vibravam com a possibilidade de receberem suas antenas e conversores e a devida instalação. Ao chegarmos a um casebre solto no meio da areia, percebemos que se tratava de um pequeno bar com uma decoração alusiva à Copa do Mundo, já esmaecida pelo sol, e fotos de times de futebol descoloridas pelo tempo. Eis que surge sorridente a proprietária, D. Rosana, senhora de uns 55 anos, que nos convidou a entrar em seu estabelecimento e, muito emocionada, narrou que o aparelho de TV, de tubo e muito antigo, era o único meio de reunir os vizinhos para assistirem aos jogos do Grêmio, Internacional, à Copa e outros. A equipe precisou de muita criatividade e esforço para instalar a antena em local adequado, e D. Rosana parecia não acreditar no que estava acontecendo. Finalizada a instalação, a TV foi ligada e D. Rosana não cabia em si de alegria. Saiu para a frente da casa e começou a chamar os vizinhos. Aos gritos, dizia: – Ooiii, venham cá, já temos TV, é digital, venham, venham, logo teremos jogo! D. Rosana, muito emocionada, mal conseguia falar quando nos despedimos. Enquanto nos afastávamos, ouvíamos seus gritos chamando os vizinhos para anunciar a novidade. A Seja Digital encerrou suas atividades técnicas nas nossas comunidades, mas o projeto permanecerá para sempre na história das nossas cidades.

52


53


#038

Ele é

incansável Regional: Teresina

Pai Rondinelli é um líder religioso na cidade de Teresina (PI) e teve papel importante no processo de desligamento do sinal analógico. Sempre sensível às questões sociais, principalmente em relação à população de menor renda, foi um dos mobilizadores voluntários mais atuantes na região, estando sempre presente nas ações realizadas. Uma das ações que mais chamou atenção aconteceu durante um mutirão de agendamento, realizado em um terreiro de umbanda onde ele atuava, antes de serem iniciados os trabalhos no salão. Essa ação teve um ótimo resultado, com grande participação da população umbandista e até mesmo de pessoas que não participavam das atividades do salão, mas que moravam próximo ao local e se sentiram à vontade para realizar o seu agendamento ali. O trabalho do Rondinelli se destacou por ele se mostrar incansável na busca da população que tinha direito a receber o kit conversor gratuitamente, não deixando ninguém para trás. Chamou também atenção a forma como ele tratava todos em sua “casa”, com respeito, carinho e cuidado – independentemente de fazerem parte da atividade do salão.

54


#039

No meio

do temporal Regional: Uberlândia

O primeiro mutirão de agendamento que realizamos em um bairro de um município do interior de Minas Gerais caminhava para dar certo, mas um temporal começou a cair após duas horas do início dos atendimentos. Isso frustrou nossa expectativa, pois no início veio um número expressivo de pessoas, que aos poucos foi diminuindo. Porém, ocorreu um ótimo encontro com um beneficiário. Francisco surgiu com sua família no meio do temporal. Quando terminou de fazer o agendamento, ficou aguardando a chuva apaziguar para ir embora. Nessa espera, o abordei e conversamos sobre a sua vida. Disse-me que estava desempregado, ganhando uns trocados vendendo salgados na porta de uma escola e em outros pontos do bairro. Dias antes havíamos sido autorizados a ampliar a equipe, estávamos procurando pessoas para trabalhar como auxiliar de antenista. Fiz o convite e ele aceitou. Em poucos dias, estava na labuta conosco. Mais tarde, fiquei sabendo que faltara ao trabalho por causa do alcoolismo. Na segunda vez em que faltou, entrei em contato pessoalmente com ele, relembrando-o de nosso encontro e da oportunidade que lhe tinha sido dada. Francisco ficou constrangido, pediu desculpas e me garantiu que isso não ocorreria mais. Ao final, cumpriu o prometido, como também se tornou o auxiliar de antenista com o maior número de instalações.

55


#040

Área de

conflito Regional: Vitória

Lembro-me de nossa primeira beneficiária, Diana. Era moradora de um bairro bem afastado da cidade, onde a vulnerabilidade social era gritante. Foi o primeiro kit da cidade a ser disponibilizado e entregue em uma cerimônia que marcava o início de nossa operação de distribuição e instalação de kits. E, de fato, ela marcou; me marcou. Após a cerimônia, nos dirigimos até sua casa para que pudéssemos registrar o momento exato em que iria descobrir as vantagens da TV digital. Era um bairro com características rurais, e ela, com simplicidade, nos ofereceu café quentinho e pão. Eis que vivenciamos a dura realidade: houve um tiroteio na entrada do bairro, o que adiou nossa saída da casa. Diante da impotência momentânea, nosso olhar para aquela realidade foi outro. Apesar de tanta adversidade, foi notório observar a felicidade nos olhinhos dos três filhos sentados enfileirados na cama vendo que a antiga TV agora pegava muito bem os canais. E quantos canais! Ao final da visita, saímos com a sensação de que tínhamos levado muito mais do que o sinal digital. Levamos uma janela para o mundo, talvez um mundo melhor do que aquele que nos surpreendeu no início da visita.

56


#041

Digitalizando

em Libras Regional: Blumenau

Era sexta-feira, por volta das 19h, e estávamos encerrando um mutirão de agendamento realizado ao longo do dia em uma praça de um município do interior de Santa Catarina. Uma garotinha de nove anos estava nas proximidades, muito inquieta e, ao perceber que iríamos embora, pediu para que esperássemos mais alguns minutos antes de encerrar o atendimento, pois seu pai, deficiente auditivo, precisava de ajuda para fazer o agendamento. No local acontecia uma aula de informática para crianças e adolescentes da comunidade e, ao perceber que a nossa equipe estava ali para realizar atendimentos, ela enviou uma mensagem para o pai ir até lá com a documentação necessária, mas ele estava demorando mais que o previsto. Uma de nossas mobilizadoras imediatamente se prontificou para aguardar e realizar o agendamento da família. O senhor chegou com a filha mais velha e, juntas, ela e a irmã caçula, o ajudaram a se comunicar através da linguagem de sinais, informando os dados de contato, traduzindo para Libras – Linguagem Brasileira de Sinais as disponibilidades de data e horário para a retirada. Assim conseguimos fazer o agendamento para que eles pudessem retirar seu kit gratuito. Encerramos mais tarde que o previsto, mas com a certeza de que cada minuto do nosso dia valeu a pena para proporcionar alegria a essa família e vivenciar a gratidão desse pai por filhas tão responsáveis e amorosas com ele.

57


#042

Meu quintal, meu

escritório Regional: Campina Grande

Severina é daquelas mulheres que fazem o que for necessário para que sua comunidade esteja feliz, assim como ela sempre parece estar. Mesmo desempregada, mantém a alegria, o sorriso generoso e o ombro amigo, fazendo com que os que a procuram tenham acesso aos seus direitos de cidadãos. Seu objetivo de vida é claro: incluir pessoas. Há 20 anos leva médicos para dentro de casa e, assim, presta atendimento à comunidade onde vive. Além disso, disponibiliza seu quintal como espaço para aulas gratuitas de reforço escolar para crianças e adolescentes, e promove reuniões comunitárias para ouvir as necessidades dos moradores. Divide o pouco que tem e abre as portas para os que menos têm. A impressão é que não foi o projeto que descobriu Severina, e sim ela que nos encontrou e nos deu a chance de fortalecer sua luta. Como voluntária no processo de mobilização da Seja Digital, deu informações e fez agendamentos em mais de 300 residências. Para receber em sua casa, enfeitou a varanda (ainda de chão batido) com um tapete encontrado por ela no lixão e fez atendimentos sobre sua mesa de manicure, que chamava carinhosamente de “meu escritório”. Aguerrida, lutou para que nenhum morador ficasse para trás. Severina foi a grande inspiração do projeto “Vizinhança Digital”. Seu exemplo incentivou várias outras “Severinas” de Campina Grande, que usaram a força da liderança feminina para o trabalho voluntário em benefício de suas comunidades.

58


#043

Sem medo

de desafios Regional: Caruaru

A terra de um dos maiores polos de confecção do Nordeste é sobrevoada pela asa branca, ave que traz esperança em meio à Caatinga. Nela, as mulheres criam oportunidades e produzem vida. E, assim, voam em busca de novos horizontes, em funções outrora tidas como masculinas. Assim se passou com Gabriela, cerca de 40 anos, desempregada, há oito meses empreendendo no mercado alimentício informal para sobreviver, quando se voluntariou numa ação de agendamento para a retirada do kit digital gratuito, convidada pela associação de moradores do bairro das rendeiras. A solidariedade para incluir quem mais precisava foi o que a motivou, pois entendia que se tratava de um direito social adquirido. Na ação, soube que a Seja Digital buscava pessoas para compor a equipe de instaladores. Ávida por uma oportunidade, não hesitou em concorrer à vaga. Quando chegou, encontrou uma sala repleta de homens. Naquele instante, achou que não teria chance. Porém, aguerrida, ela se apresentou, fez o treinamento e conquistou a vaga de supervisora, algo que estava além de suas expectativas. Junto com ela, outras mulheres conquistaram seu espaço. – Não tenho medo de desafios, estou sempre disposta a enfrentá-los, principalmente para ajudar o próximo, porque não tem nada melhor do que ver a alegria do próximo. Foi muito bom realizar esse serviço, pois tanto ajudei como fui ajudada – disse ela.

59


#044

Alegria, café

e biscoitos Regional: Cuiabá

“Eu estava num baixo astral só, triste e sozinha e, de repente, chegou a alegria, eu gosto de alegria.” Com alegria, café e biscoitos, D. Cecília nos recebeu numa manhã de sábado, com TV e conversor guardados e a ansiedade de ter seu kit gratuito instalado. Gravamos entrevistas, e a cada tentativa de encerrar, ela surgia com um novo mimo. D. Cecília não resistia a “se ver na TV” depois da instalação do kit gratuito pela equipe da Patrulha Digital. Não dava nenhuma atenção a quem estava por perto e não se cansava de dizer:

– Meu Deus, essa TV está novinha!

A gravação demorou e entrou no jornal do meio-dia. Hora de ir embora e D. Cecília nos falou de sua imensa alegria, de tantas coisas boas que aconteceram naquele dia. A vontade era de ficar, conversar, dar risadas, mas lembrei que havia outras Cecílias à nossa espera, e seguimos em frente na missão de “não deixar ninguém para trás”.

60


#045

Reconstruindo

a esperança Regional: Curitiba

A região Sul é muito castigada pelas chuvas nos meses de janeiro e fevereiro. Em fevereiro de 2018, as comunidades do maior bairro de Curitiba foram surpreendidas por uma forte enchente e perderam tudo. A maioria dessas famílias, beneficiárias dos programas sociais do governo federal, havia perdido também na enchente seus conversores digitais recebidos recentemente de forma gratuita. Foi criada então uma grande campanha de doação. A FAS, Fundação de Ação Social do município, ficou responsável por recebê-las e entregá-las aos moradores desabrigados e cadastrados no sistema da prefeitura. Como as TVs doadas eram em sua grande maioria de tubo, a Seja Digital reservou 840 kits conversores digitais às famílias vítimas da enchente. Dessa forma, muitas famílias foram contempladas e continuaram a ter acesso à informação e entretenimento pela TV.

61


#046

Orgulho e

felicidade Regional: Florianópolis

De todas as histórias do processo de digitalização de Florianópolis, esta certamente foi a que mais mexeu comigo. Certo dia, visitamos um hospital infantil. Lá dentro, corredores frios e infinitos. Nosso destino era a Oncologia. Em um dos quartos, poucos móveis, uma TV de tubo com a clássica antena com uma palha de aço na ponta e dois meninos, Davi (11) e Gabriel (14). Perguntei se eles viam TV e do que mais gostavam. Davi logo respondeu: – Gosto de ver desenhos, mas quase nunca consigo, porque o sinal aqui no hospital é ruim.

Gabriel, que pouco falava, me olhou e, com ar cansado, disse:

– Adoro futebol! Ontem tinha jogo do Brasil e fiquei tentando mexer na antena, mas não consegui assistir a nada, só tinha chuvisco na TV. Vou ficar aqui mais dois meses e seria bom poder ver algum jogo nesse período. tempo.

Aquilo entrou como uma flecha no meu coração. Dois meses era muito

Imediatamente respondi:

– Gabriel, tenho uma ótima notícia para você. A partir da próxima semana, você vai ver futebol nesta TV antiga. Vamos instalar antenas e conversores para que os televisores do hospital exibam a programação do sinal digital. Ele sorriu pela primeira vez, olhou para a mãe que estava ao lado da cama e acenou com a cabeça, em sinal de agradecimento.

Orgulho e felicidade tomaram conta de mim naquele momento.

62


63


#047

A famosa

D. Marli Regional: Fortaleza

“E agora, que estou fazendo o maior sucesso, onde chego? Já estou conhecida na cidade por conta das entrevistas na TV, vou conseguir mais coisas ainda para minha comunidade.” D. Marli, uma mulher de 70 e poucos anos, 50 deles dedicados aos vizinhos da comunidade de pesca, tornou-se a voluntária mais atuante da campanha em Fortaleza, onde rapidamente criou uma rede de solidariedade em busca de beneficiários para agendamento e instalação do kit gratuito. Encontrava crianças, jovens e adultos que não possuíam registro civil e agendava o recebimento do kit gratuito dos vizinhos que tinham dificuldade de comunicação. Foi ainda nossa personagem principal em muitas das entrevistas para a TV local. Em uma dessas entrevistas, ela me avisou: – Minha filha, hoje precisa ser rápido, pois é dia de levar meus vizinhos para registrar no cartório. Recebi minha aposentadoria ontem e já contratei o carro para levá-los.

Eu, curiosa, perguntei:

– Como a senhora consegue esse registro?

Ela me respondeu:

– Faço isso há mais de 10 anos, conheço o pessoal dos cartórios e só preciso ir a 10 cartórios com eles. Em cada um deles, retiro uma certidão de que não há registro deles naquele cartório e, quando chego ao 11º, eles já saem de lá registrados. Foi ela quem abriu as portas para a Seja Digital em uma comunidade de difícil acesso, com o intuito de “melhorar a televisão da casa dos meus vizinhos”.

64


65


#048

A força do

coletivo Regional: Feira de Santana

Estávamos mobilizando organizações para os Desafios Digitais em municípios da Regional. Recebemos uma indicação de uma prefeitura e fomos conhecer a história da comunidade quilombola. No local, cerca de cento e cinquenta famílias, todas descendentes de escravos no engenho desativado, localizado pouco acima da comunidade, em um morro, como eles contaram. “Não temos uma sede para a nossa comunidade e, sem ela, não conseguimos trazer cursos profissionalizantes nem receber doações de computadores ou máquinas de costura para o pessoal”, relatou uma das lideranças, falando em nome de todos os moradores presentes em nosso primeiro encontro. Foi unânime o desejo de transformar o desafio que estávamos propondo em uma sede. E eles aceitaram o desafio. No dia em que entregamos o material de construção como premiação, era possível ver, de forma literal, a força do coletivo daquela comunidade. Enquanto as mulheres aravam a terra onde seria construída a sede, os homens descarregavam o material do caminhão. As crianças ficavam curiosas ao redor, tentando entender o que acontecia, mas dava para ver, pelo brilho dos olhos, que elas entendiam ser algo bom para todos, haja vista a mobilização da comunidade. Saí de lá com o coração cheio de esperança e a certeza de que qualquer coisa é possível quando temos a força do coletivo agindo por um objetivo em comum.

66


#049

Em

boa hora Regional: Imperatriz

Antes mesmo de eu tentar encontrar a premiada da semana, fui procurada por ela. Depois de ser informada por amigos próximos que seu nome estava no site, foi buscar seu prêmio no Ponto de Retirada (PDR), imaginando que fosse dessa forma. Não era assim. Mas, depois de alguns dias, fui ao seu encontro. Sorriso tímido e meio desconfiado, foi assim que me recebeu, pedindo desculpa por estar tão simples e nem ter se arrumado. Depois da liberação do cartão, perguntei o que ela pretendia fazer com o prêmio. Nesse momento, ela respirou fundo e, emocionada, respondeu: – Estou com quarenta dias de resguardo e de luto. Meu filho, que esperei por nove meses, faleceu. Era um menino, nasceu com muitos problemas de saúde e resistiu por uns 30 dias.

Silenciei, meus olhos lacrimejaram, e ela continuou:

– Obrigada, dona. Esse dinheiro vai me fazer ocupar a cabeça. Minha casa tá jogada, com telhado, piso e parede por terminar. Agora posso pelo menos pensar em comprar alguma coisa, até quando Deus me der a graça de ter um filho de novo. Entreguei o cartão, dei um abraço forte e me despedi de uma mulher simples e com uma força que resplandecia de longe.

67


#050

Com muita

garra Regional: Interior RJ

Era reta final da campanha, e nossa gerente regional deu a notícia que queríamos ouvir: “Vamos começar a Busca Ativa. Formem suas equipes”. Rapidamente, entramos em contato com nosso parceiro local de mobilização e algumas lideranças comunitárias, e partimos para a ação. Primeiro passo: organizar um processo seletivo conciso, rápido e eficiente, para que pudéssemos entregar os resultados esperados. No dia e hora marcados, mais de 30 jovens oriundos do programa ProJovem, e alguns outros indicados, estavam lá firmes, fortes e precisando demais trabalhar. Eu e minha equipe nos encontrávamos em uma sala cedida pelo posto de saúde do município, ansiosas para entrevistar e formar mais um grupo para o desafio que foi o Projeto Busca Ativa ou porta a porta. Ouvimos histórias fantásticas de jovens com uma capacidade de resiliência surpreendente, muita vontade de vencer e uma extrema urgência em não deixar passar nenhuma oportunidade. Tivemos de tudo um pouco: exjogador de futebol, costureiro, mãe solteira com três filhos para criar sozinha, que não conseguiu terminar os estudos, estudante universitário e o Jonas. Ah, um anjo! Com apenas 20 anos, 12 deles vividos na lavoura, era um abnegado, o melhor exemplo de “missão dada é missão comprida”. Além de trabalhar, sustentava e cuidava dos irmãos e da mãe. Fazia um dos turnos conosco, era entregador no outro e ainda estudava. Foi nosso melhor agendador, com resultados impressionantes. Pouco antes de a campanha acabar, pediu para sair. Com muita alegria, me contou que uma empresa local que estava fazendo seleção o contratou, oferecendo carteira assinada e alguma segurança para a família. Perguntei o cargo: responsável pelo atendimento. Não poderia exercer função mais adequada.

68


69


#051

Luz e força em um

sorriso Regional: Interior SP

Com tantas histórias que arrepiam a pele e recarregam a empatia, destaco a de uma senhora de mais de 60 anos que me concedeu o privilégio de conhecer um pouco de sua trajetória em um encontro emocionante. Fora contemplada com o prêmio da Instalação Premiada, e havíamos tentado comunicação com ela por diversos dias, sem sucesso. Numa situação atípica, optamos por ir diretamente ao seu endereço. Chegando ao local indicado, avistei uma senhora cabisbaixa, sentada em frente a uma residência simples. Aproximei-me perguntando pela ganhadora e, para minha surpresa, ela se apresentou, dizendo ser a pessoa que eu procurava. Identifiquei-me, e ela chorou copiosamente. Convidou-me a entrar em seu lar e, a partir desse momento, tive a honra de conhecer um pouco da sua história. A beneficiária não era aposentada, e sua única fonte de renda vinha da coleta de materiais recicláveis. Recentemente, seus objetos residenciais e pessoais haviam sido furtados, inclusive a televisão de tubo onde estava instalado o kit digital. Benquista na região, os moradores da comunidade se reuniram e lhe doaram um televisor de tubo. Assim, tive a oportunidade de passar um longo tempo conversando com ela e saí de lá com a impressão de que foram apenas minutos, pois sua história e seu sorriso transmitiram luz e força.

70


#052

Um olhar

sensível Regional: Juazeiro do Norte

Foi em um dos municípios da Regional, através do trabalho de doação e de um olhar atento para o outro, que o Sr. Gilberto fez e faz a diferença entre os moradores da casa de assistência social onde é responsável. Uma parcela dos residentes — pessoas abandonadas, vítimas de maus-tratos e abusos familiares, esquizofrênicos e portadores de outras doenças mentais — estava prestes a não mais assistir à programação aberta de TV, pela carência de kits digitais. Ao realizarmos a visita, deixando agendadas as datas de retirada dos kits digitais por aqueles que tinham o direito de recebê-los, Gilberto partiu para a ação: como tutor desses moradores, organizou transporte que pudesse levar a todos ao Ponto de Retirada para receber os kits e, mais do que isso, acionou lideranças e comerciantes a fim de receber, por doação, aparelhos de TV para os quartos da referida casa. Com isso, transformou o dia a dia do lugar, onde os moradores passaram a assistir à programação aberta de TV, agora com o sinal digital. O Sr. Gilberto dizia: “O trabalho não é fácil, mas é gratificante. Ver a felicidade deles, que não têm ninguém, me faz bem, me faz crescer como pessoa. Só tenho a agradecer à Seja Digital”.

71


#053

Que

elegância! Regional: Manaus

Visitamos uma instituição que cuidava de idosos, localizada bem perto do nosso escritório. A moça que nos recebeu abriu as portas da primeira ala e, no primeiro quarto, lá estava ela. Um sorriso contagiante e toda arrumada: chapéu e brincos combinando com o vestido, que também combinava com os sapatos. Maquiada e perfumada. A felicidade estampada no rosto dela era comovente. Estava aliviada por não perder a companhia da TV, pois, além da doação do conversor, fizemos a instalação de cerca de 30 kits para a instituição. D. Socorro foi logo nos convidando para entrar e começou a contar sua história. Cantou versinhos sobre os pássaros e a flora amazônica, e nos disse que a TV era sua distração desde as seis horas da manhã, quando acordava, e a acompanhava até a hora de dormir. Ao final da instalação, percebeu logo que a qualidade do som tinha melhorado muito. Ficou tão feliz!

Disse ela:

– Agora, sim!

Afinal, era exatamente isso que não podia faltar para D. Socorro, que era deficiente visual. Saímos de lá com a real dimensão da importância da TV e com uma lição de superação que ficará marcada para sempre.

72


#054

O que era bom,

ficou melhor Regional: Mossoró

Após 40 minutos em estrada de terra, chegamos ao assentamento rural. Era o início do “Dia D” da mobilização na zona rural de Mossoró. A cooperativa já tinha avisado todos que iríamos realizar agendamentos e instalações no assentamento. Um dos beneficiários que atendemos, o Sr. Dorival, morador de uma agrovila na região, era um dos mais entusiasmados. Já tinha retirado seu kit, mas, por ter sido submetido a uma cirurgia, não estava apto a realizar a instalação. Com um antenista, nos dirigimos à sua residência, uma casa humilde, semiacabada, ao lado de um grande pé de jaca. Realizamos a instalação de seu kit e ele ficou maravilhado. Contou-nos que achava que sua TV era boa, mas que agora sabia o que é uma TV boa de verdade.

– Está 100% melhor! – disse ele.

73


#055

Tudo

preparado Regional: Oeste PR

Em visita a um hospital municipal na área da Regional, acompanhada por um dos seus diretores, observei que todas as TVs disponibilizadas nos corredores e salas de espera eram de tubo. O diretor informou que o hospital não tinha verba para a compra de conversores ou para trocar as TVs, de modo que, com o desligamento do sinal analógico, ficariam sem acesso à programação das TVs para distrair pacientes e acompanhantes. Eram 25 aparelhos ao todo e um fluxo muito grande de pessoas pelos corredores aguardando atendimento. A Seja Digital disponibilizou então 25 kits conversores digitais e, em parceria com uma emissora local de TV, realizou a instalação, deixando todas as TVs preparadas para captar o sinal digital, permitindo assim que pacientes e acompanhantes continuassem a se distrair assistindo à programação de TV.

74


#056

Chega de

silêncio Regional: Palmas

Durante a realização de um dos eventos, abordamos um senhor que estava vendendo pipoca. Na ocasião, ele nos disse que havia recebido o kit conversor digital, porém não tinha TV para realizar a instalação, e ainda revelou que sua esposa havia ficado cega há seis meses e não tinha como saber das notícias, acompanhar os programas de TV. Então, através de uma campanha de doação, conseguimos uma televisão e levamos até ela. Quando a entregamos e instalamos o kit, a senhora começou a chorar, porque tinha muito tempo que ela estava naquele silêncio e agora ela podia pelo menos ouvir a sua novelinha e saber das notícias, conectar-se com o mundo.

75


#057

Lágrimas de

felicidade Regional: Parnaíba

A Seja Digital destinou alguns kits para, em parceria com uma TV local, serem sorteados e doados à população de menor renda que, por algum motivo, não conseguiu receber o mesmo gratuitamente. Um repórter da TV ia até a residência de alguns dos contemplados para fazer a entrega desses kits. Ao chegar à casa de D. Ercília, encontrou-a se lamentando por não ter como comprar o kit conversor e que não poderia mais assistir à programação da TV. Ao ser informada que havia sido sorteada para receber um kit conversor gratuito, não conteve as lágrimas e agradeceu bastante por ter sido contemplada. O vídeo produzido emocionou todos pela simplicidade de D. Ercília e pela forma com que ela mostrou a importância da TV em sua rotina diária.

76


#058

Todo mundo

engajado Regional: Belo Horizonte

Em um dos municípios da Regional Belo Horizonte, tivemos uma parceria incrível com a secretária de Assistência Social, que abriu as portas, nos ajudou na seleção de pessoal para o atendimento à população e mobilizou toda a sua equipe para atender à grande demanda de novos cadastros no CadÚnico. Na reta final do trabalho, apareceu uma solicitação para o atendimento de uma casa de idosos. A grande maioria dos idosos estava inscrita no CadÚnico, mas era necessário viabilizar a entrega dos kits para eles, já que grande parte estava acamada. A secretária mobilizou mais uma vez a sua equipe para incluir aqueles e aquelas que não estavam no CadÚnico. Em menos de uma semana, todos estavam cadastrados. Foram muitos os colaboradores para viabilizar a entrega de 80 kits para a entidade, na semana do desligamento. O município foi um dos destaques no atendimento à população das classes C2, D e E, e grande parte do sucesso do trabalho deve ser atribuído à secretária de Assistência Social, uma gestora preocupada em atender à população.

77


#059

Resgatando a

dignidade Regional: Recife

Fui apresentada ao Programa Municipal de Coleta Seletiva na secretaria de Assistência Social de um município pertencente ao escopo da Regional Recife. Ali, conheci dezenas de catadores, que recolhiam materiais recicláveis nas ruas e lixões da cidade para abastecer as cinco cooperativas apoiadas pela prefeitura. Em um encontro afetuoso, eles me contaram sobre seus sonhos: queriam crescer na profissão, não ter vergonha do trabalho com o lixo e viver em melhores condições com suas famílias. Tais relatos, que envolviam tantas vidas, me deixaram impactada. Acabaram se unindo a outras ideias que bombardearam minha mente até o dia seguinte. Procurei especialistas no assunto, tive o apoio da gerência da Regional e, unindo expertises – Seja Digital, Prefeitura Municipal e Projeto Ideação –, foi possível criar e executar o Projeto Catador Digital: a capacitação de 75 catadores em gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos, metarreciclagem e recondicionamento de TVs. As três semanas de curso levaram a essas pessoas mais que formação profissional. Esperanças foram reativadas; sonhos, refeitos; a autoestima foi despertada e sorrisos foram revelados. Juntos, eles aprenderam, praticaram, profissionalizaram-se. Na exposição dos resultados do projeto, mostraram a alegria de serem catadores de cabeça erguida e brilho nos olhos. Apresentaram a arte produzida e relataram os ganhos financeiros em serviços prestados em suas comunidades. Para Givanildo, que dormia nas ruas embaixo de sua carroça, o sonho de viver em um abrigo agora tinha ganhado força. Criatividade, dignidade e esperança foram geradas em todas as instâncias. Percebi que tudo isso, mesmo que adormecido, vive dentro de cada um de nós.

78

O projeto Catador Digital foi adotado pela Prefeitura de Joboatão dos Guararapes e teve continuidade. Em 2019, o município foi o único no país a receber a premiação da Organização das Nações Unidas, o ONU Public Services Awards.


#060

Brincar é

coisa séria Regional: Salvador

Era uma comunidade como outras tantas que havíamos visitado para fazer mutirão de agendamento, mas aquele dia estava diferente. O volume de crianças era muito grande. Rapidamente, acionamos uma equipe de brincantes que chegaram com cordas, bacias (para fazer esculturas), material para bolinhas de sabão, entre outros itens para entreter as crianças. De repente caiu uma chuva forte, corremos todos para o toldo, pedimos para as crianças se sentarem e distribuímos nosso brinde, um quebracabeça com o nosso mascote. As crianças nos olharam com estranhamento, nunca haviam montado um quebra-cabeça. Nos entreolhamos emocionados. Naquele dia, não levamos só o acesso ao direito à comunicação: ampliamos o universo de experiências daquelas crianças e compreendemos o quanto era importante fazer um trabalho humano e repleto de sensibilidade.

79


#061

A força de

fazer o bem Regional: Santa Maria

Pessoas que doam seu tempo para cuidar de outras pessoas trazem consigo doses extras de generosidade, solidariedade, atenção e amor. Assim é Joana, líder comunitária e residente de um bairro empobrecido de Santa Maria, e que tem em sua natureza a disposição de ajudar. Durante quatro meses, ela transformou a pequena área de sua casa em ponto fixo de agendamentos e, com sua espontaneidade única, da frente do portão, chamava pelo nome quem passava na rua: – Ô, fulano(a)! Tu tem televisão, né? Já tem antena e conversor? O sinal vai acabar, viu! Quer saber se tem direito ao kit de graça? Entra aí, fala com aquele gurizinho – e apontava para nosso mobilizador que, sorrindo, atendia cada um que ali chegava. Joana também ia de casa em casa, batendo à porta daqueles que ela não via passar, anunciando a chegada da TV digital. Numa dessas andanças, ela nos disse: – Eles não podem ficar sem ver televisão, é a única coisa que têm para se distrair. Imagina ficar sem, não pode. Foi Deus quem trouxe vocês aqui. E, não se dando por vencida ao saber que ainda havia beneficiários sem a informação sobre o desligamento, nos levava à emoção extrema, vivências dolorosas, compartilhando a dura realidade daquele território. Entretanto, era contagiante a alegria de Joana ao ver as pessoas já contempladas com o kit gratuito agradecerem por aquilo que lhes é de direito. Todas as pessoas têm algo a oferecer, mas algumas são especiais, têm o poder da força do bem.

80


#062

Criando laços e

parceiros Regional: Vitória

Na correria de ir de uma reunião a outra, ou de uma entrevista para o local de uma ação de porta a porta, nem sempre reparamos no caminho que nos leva até lá. Na maioria das vezes, estamos ocupados com telefonemas, mensagens e pensando em como fazer mais. Para falar a verdade, sobra pouco tempo para olhar para nós e até mesmo para quem está ao nosso lado. Falo sobre pessoas que foram essenciais em nosso “caminho”, que nos levavam e buscavam em todos os cantos das cidades, várias vezes. Alguns foram mais do que motoristas. Devido à intensa agenda, foram nossos seguranças, guardadores de banners e folders, viraram amigos. Os taxistas eram nossos termômetros em vários momentos. Traziam notícias sobre a adesão das pessoas à campanha, diziam se os pontos de retirada (PDRs) estavam cheios, se tínhamos aparecido em alguma entrevista. Posso citar um que, de tanto usarmos os seus serviços, virou quase membro da equipe. Quando tínhamos reuniões comunitárias, era ele quem nos lembrava de levar os folders, o kit para demonstração e até mesmo ajudava a instalar a TV. Ah! Ele também pedia material de divulgação para que pudesse entregar aos outros passageiros do dia. Conversa vai, conversa vem, compartilhamos histórias e a certeza de que a mudança do sinal impactou a vida de muita gente, e não foi só pelo kit gratuito. Criamos laços.

81


#063

Na última

hora

Regional: Campina Grande

Uma das entrevistas que concedi às rádios aconteceu no dia anterior ao do desligamento do sinal em Campina Grande. Durante minha participação, a Rádio Lagar realizou o sorteio de três kits digitais para contribuir com o processo de mobilização no bairro das Malvinas. Os ouvintes que ligavam e respondiam corretamente à pergunta “Quando será desligado o sinal analógico de TV em Campina Grande?” participavam do sorteio. Ao sair, avistei ao longe um homem subindo a ladeira de bicicleta, em um esforço que me deixou impressionada, pois a ladeira era íngreme e ele trazia uma senhora no “bagageiro”. O senhor apresentou-se como Ademar, um dos ganhadores do sorteio. Com sorrisos enormes de tanta felicidade, Sr. Ademar e sua esposa só tinham mais um dia para comprar o kit digital, mas enfrentavam tempos difíceis que provavelmente os impediriam de fazê-lo. Além de ainda não terem conseguido pagar as necessidades básicas do mês, a filha voltaria para casa no mesmo dia do desligamento do sinal analógico de TV, após uma tentativa frustrada de construir uma vida melhor na capital. Mesmo com todas as dificuldades, eles queriam acolhê-la da melhor maneira que pudessem. Diante de tudo, preocupavam-se com seu primeiro dia em casa sem ver TV, e o momento se aproximava. Esperei que pegassem o kit para vê-los descer a ladeira sem o esforço da subida e com a alegria e o alívio merecidos. Aquela imagem ficou gravada em minha mente como um dos momentos mais representativos do projeto, e repetiu-se em minhas lembranças por vários dias. Não tenho dúvida de que a levarei para sempre.

82


#064

Sonho

realizado Regional: Caruaru

Subir a Serra Negra parece miragem. São paisagens bucólicas que lançam convites ao descanso. As casas construídas sobre rochas surgem na linha do olhar. Pés de mandacarus saúdam a todos, insistindo em avisar que há vida abundante no lugar. Famílias nativas vivem modestamente. Muitos trabalham na agricultura. O acesso à escola nem sempre é fácil, e a necessidade de sobreviver, às vezes, fala mais alto. O analfabetismo parece ser coisa do passado, mas não é. É comum na localidade. A ausência de oportunidades fomenta sonhos. Diante da carência de espaços públicos para a socialização, a TV é o aparelho mágico que abre o portal encantado para visitar outras realidades, onde vicejam sonhos que desejam ser descortinados e realizados. Nesse cenário vive Josimar, casado, pai de uma criança pequena. A família vive com renda mensal inferior ao salário mínimo, proveniente do seu trabalho na agricultura. Beneficiários do Bolsa Família, receberam um kit conversor gratuito, o que lhes permitiu acesso à TV digital. A esposa fez a inscrição na Instalação Premiada, disse ter tido fé e, ao falar, mirou para o crucifixo na parede da sua sala. Ao receber a notícia de terem sido sorteados, pareciam não acreditar. Receber R$ 2.000 parecia ilusão. Josimar, tímido e sorridente, não cabia em si de tanta alegria; sua criança só queria abraçar. A esposa era só gratidão. Revelaram que sonhavam em comprar os móveis do quarto, pintar a casa e arrumar o telhado. Ela confessou nunca ter tido tanta sorte: transformou sua TV e ainda ganhou o quarto dos seus sonhos.

83


#065

Força, coragem

e conquista Regional: Cuiabá

“Moça, esse dinheiro veio de Deus através da sua empresa. Ele sabia que eu estava precisando.” Não foi através da dor que pude viver um intenso aprendizado, e sim pela alegria do trabalho. Era dia de entrega do cartão para a ganhadora da Instalação Premiada. Repórter, câmera, assessoria de imprensa, tudo preparado para começar a gravação. Sinto uma pequena mão na minha mão e, ao olhar aquele sorriso, recebo um convite:

– Tia, vem aqui conhecer o meu irmão.

Seria impossível adiar.

– Sim, vamos lá – e saí seguindo aquele belo sorriso.

Ao abrir a porta do quarto, vejo a uns dois metros de distância um garoto de aproximadamente oito anos, em seu leito, acompanhado de profissional de enfermagem e um convite: “Entre”. Desculpei-me por não chegar muito perto. As regras de cuidados precisavam ser seguidas. A pequena menina de apenas quatro anos me apresentou ao seu irmão, conversamos por alguns segundos e voltei à entrevista. A ganhadora, uma mulher lutadora que, após dois anos morando em um hospital – por causa da recuperação do filho – e dividindo os cuidados da criança com as irmãs, ainda encontrou tempo para uma batalha jurídica com o Estado, conseguiu sair vitoriosa. Uma casa para morar (pois até então morava em um grilo, um arranjo coberto por lonas), todos os equipamentos e mobiliários para ter seu filho em casa e os cuidados 24/7 de um profissional de enfermagem. E o prêmio? Com ele iria fazer o muro da casa, pois vivia assustada com o risco de ser assaltada devido aos caros equipamentos que mantinha para os cuidados médicos do filho. Saí de lá com uma certeza. Tudo é possível para quem busca com coragem o seu sonho. Nunca mais serei a mesma depois da entrega daquele prêmio.

84


85


#066

Gerando renda e

oportunidades Regional: Curitiba

Estávamos divulgando, em parceria com o SENAI, o curso de instaladores em algumas comunidades. Foi então que conhecemos a Jacira. Ela é coordenadora de uma entidade que trabalha com a recuperação de pessoas com transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas. Contou-nos que tinha um grupo de 30 rapazes que haviam finalizado o tratamento para deixarem as drogas, estavam retornando para suas casas e precisavam de uma ocupação para colocarem em prática o projeto de vida que construíram sob a orientação da entidade. Montamos uma turma com eles. Participaram todos os dias das aulas teóricas, sem faltas ou atrasos. Nos mutirões de instalação, atuaram com muita responsabilidade e cuidado. Participaram de todos os mutirões realizados no município onde residem, e ainda de mutirões nas cidades vizinhas. O que mais nos encantou foi estarmos participando de um projeto não só de inclusão digital e social, mas também de geração de renda, de oportunidades de crescimento pessoal e profissional e de emancipação social.

86


#067

Mulher de

garra Regional: Florianópolis

Precisava de toda a ajuda possível para divulgar o curso de formação de instaladores para as diversas comunidades das quatro cidades onde teríamos as aulas. Ao longo do processo de seleção das turmas, em que a maioria dos inscritos era homem, um sobrenome chamou atenção. A mãe de uma de nossas mobilizadoras se inscreveu por incentivo da filha, que divulgou a oportunidade para a família. Joana foi selecionada, frequentou as aulas com assiduidade e recebeu nota máxima na avaliação do professor, rendendo-lhe a oportunidade de participar como antenista dos mutirões de instalação remunerados que estávamos executando nas comunidades. Ela se sentiu empoderada, ficou animada com o novo ofício e percebeu que, num mundo dominado pelos homens, sua delicadeza e cuidado com os detalhes eram um diferencial importante. Assim como outros tantos alunos que concluíram o curso, essa foi a oportunidade para conseguirem voltar ao mercado de trabalho com dignidade, alguns aprimorando conhecimentos e outros descobrindo uma nova profissão. Durante todo o processo de construção e execução do curso, a parceria com o SENAI/SC foi fundamental e gerou resultados para além do projeto de digitalização, proporcionando oportunidades de emprego e renda para cerca de 150 novos profissionais na Grande Florianópolis.

87


#068

Trabalho em

conjunto Regional: Interior RJ

Um dos bairros-alvo de nossas ações pertence à zona rural do interior do Rio de Janeiro, sendo o mais distante do centro do município. Fica a cerca de 50 quilômetros, com boa parte do trajeto via estrada de terra. Durante a campanha, foi identificada a dificuldade dos moradores do vilarejo em retirar o kit gratuito, devido à ausência de transporte público diário e ao acesso ruim. As equipes da Seja Digital e da prefeitura trabalharam em conjunto para viabilizar um evento destinado ao agendamento e retirada de kits, realizado em uma escola municipal da região, único ponto de apoio de uma comunidade muito carente. O perfil dos beneficiários que estiveram no evento era composto de pessoas idosas e mulheres com filhos pequenos. Uma delas chamou atenção: D. Josefina, senhora de meia-idade e beneficiária de programa social, artesã que produz tapetes de palha para complementar sua renda. Chegou por volta das 14h30, meia hora para o término da ação, e relatou que já havia agendado duas vezes a retirada do kit no centro do município, mas, por falta de dinheiro, não tinha conseguido vir buscá-lo. Naquele dia tão sonhado, pôde fazer a retirada. O evento teve um efeito social importante em D. Josefina e nos 200 moradores do bairro, pois se sentiram valorizados por terem sido atendidos pelo programa na comunidade.

88


#069

Ele sentiu que ia

ganhar Regional: Interior SP

O Sr. Francisco teve sua casa invadida alguns meses antes de o conhecermos. É beneficiário de um dos programas do governo federal, agendou a retirada do kit pela central de atendimento 147 e, apesar de ter visão extremamente limitada, assim que teve seu conversor em mãos, instalou-o e se cadastrou na promoção Instalação Premiada. Diz o beneficiário que, no momento da inscrição, sentiu que seria um dos contemplados pelo sorteio. E ele tinha razão! No final de outubro, recebeu a notícia de que fora contemplado com o prêmio de R$ 2.000, dinheiro que, segundo ele, será a chave para mudar de vida. Sobre a imagem de sua TV, é só elogios: “a imagem é uma maravilha, de cinema mesmo, e posso ver minha novela tranquilo com minha esposa. Eu nem quero uma televisão digital nova; com o conversor, a imagem é muito melhor”.

89


#070

O valor da

caminhada Regional: Manaus

Há um ditado que diz que “mais importante do que a chegada é a caminhada”. Ele é verdadeiro quando penso no papel de uma entidade parceira em Manaus. Iniciamos nossas conversas com um objetivo muito claro: precisamos fazer muitos agendamentos nos bairros. Surgiu ali a ideia de engajarmos embaixadores digitais, jovens moradores dos principais bairros de Manaus. De embaixadores voluntários, eles passaram a ser remunerados pelo trabalho, tinham metas e prazos. Passados alguns dias, a estratégia não se mostrou suficiente e tivemos de mudá-la radicalmente, pela terceira vez. Montamos uma equipe para telefonar para os beneficiários, realizando agendamentos, reagendamentos e oferecendo também ajuda na instalação do kit. Nas duas semanas que antecederam o desligamento, precisamos de força total na mobilização. Foi aí que, pela quarta vez, mudamos a estratégia. Os embaixadores contratados foram para a rua localizar os clientes nos seus endereços. Quase um trabalho porta a porta, visto que os endereços nem sempre estavam corretos. Em todos os momentos de mudança, sempre os olhávamos com esperança, motivados a achar uma forma de dar certo, mas existia um propósito ainda maior por trás de todas as estratégias. Era o de transformar a vida daqueles jovens que toparam o desafio. Trouxemos propósito, trabalho, renda e empoderamento para aqueles jovens até então desempregados. De fato, os números foram importantes para o desligamento, mas foi durante a caminhada que pudemos ensinar e aprender na prática o poder da resiliência, tão valioso nos dias de hoje.

90


#071

Vai um

cafezinho? Regional: Oeste PR

Liguei para ela apenas para informar que tinha sido sorteada e havia ganhado o prêmio da Instalação Premiada. Do outro lado da linha, um silêncio, seguido de um choro emocionado. No dia anterior, havia chovido muito em Maringá, muito mesmo. E chuva no interior do Paraná chega com muita água e acompanhada de ventos fortíssimos. Naquele dia, parte de sua casa tinha ficado destelhada e seus móveis e utensílios encharcados d’água. Ela se perguntava o que faria, pois a única fonte de renda da família provém da aposentadoria por invalidez de seu marido. Aquele choro era um misto de emoção e da mão de Deus em sua vida, segundo ela. Fiz questão de ir à sua casa logo em seguida para entregar pessoalmente o prêmio. Quando cheguei, vi a casa ainda bagunçada por causa da chuva e senti um cheiro de café delicioso vindo da cozinha. Ela tinha preparado um cafezinho com bolo de chocolate. Durante o café, contava feliz os materiais que compraria para consertar o telhado da casa e o sofá, todo molhado da chuva.

Saí de lá com a certeza de que fizemos diferença naquelas vidas.

91


#072

A alegria em

pessoa Regional: Palmas

Na reta final do projeto na Regional Palmas, foi criado, em parceria com uma emissora de TV local, o projeto Kombi Digital, pelo qual íamos às comunidades mais distantes e escondidas da cidade para ter a certeza de que ninguém iria ficar para trás. Numa dessas andanças, conhecemos D. Marta, uma senhora encantadora, a alegria em pessoa. Em sua residência, uma casa pequena, bem humilde e simples, ela tinha uma única TV. O sinal muito ruim pegava em preto e branco. Quando instalamos o kit e a TV ficou colorida, ela pulava de alegria junto com as duas netinhas. A netinha dizia:

– Vó, agora posso ver desenho.

Era pura alegria.

92


#073

Sem limites

geográficos Regional: Porto Alegre

Durante a operação regional da Seja Digital surgiram situações de beneficiários impossibilitados de receber o kit gratuito pela forma regular de entrega, caso dos residentes em comunidades indígenas e quilombolas isolados e de acamados ou sem mobilidade, atendidos em asilos ou instituições de acolhimento, impedidos de fazer a retirada dos kits por falta de representante legal. Em cooperação com os Correios, foi montada uma operação para fazer a entrega diretamente a esses beneficiários, onde estivessem. Esse formato de entrega colaborativa, que envolvia todo o ciclo em um único dia, foi aplicado em aldeias indígenas, comunidades quilombolas e entidades de acolhimento de idosos que tinham na velha TV de tubo seu único entretenimento ou janela para o mundo. Pela forte dimensão humanitária que a ação especial significava, a emoção de todos aflorava. Aqueles que faziam as entregas, os beneficiários, os mobilizadores sociais, as equipes de instaladores, as entidades sociais que nos acompanhavam, a imprensa que cobria as ações para as diversas mídias e nós – todos os que de alguma forma contribuíram para viabilizar o sonho utópico de “não deixar ninguém pra trás”, ninguém mesmo, vimos ali se concretizar o pleno respeito ao direito à inclusão.

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT foi a principal parceira na logística para distribuição dos kits gratuitos pelo Brasil e foi vencedora do World Post & Parcel Awards 2019 pela prestação de serviços à Seja Digital.

93


#074

110 anos de vida, e

energia no 220 Regional: Recife

Não foi difícil localizar sua residência. Todos a conhecem e a admiram na comunidade. Difícil foi marcar a visita, diante de tantas atividades que ela faz durante a semana. Quando chegamos, de dentro da casinha simples surge uma pessoa com um semblante de luz e um grande e afetuoso sorriso. D. Iraci, do alto de seus 110 anos, nos recebe em seu lar para a instalação do kit digital e a gravação para o programa de TV. Durante esse período, muitas histórias para compartilhar conosco: a trajetória de sua vida, do nascimento no interior de Alagoas até o estabelecimento definitivo em Pernambuco, lembranças das guerras mundiais, pessoas queridas e ótimos “causos” vividos sempre com bastante intensidade e alegria. Quando a imagem digital apareceu na tela, seu rosto brilhou ainda mais. Agora ela poderia ver e ouvir melhor seus programas preferidos. No final, uma benção (com direito a um afetuoso beijo na testa), um forte abraço e o agradecimento:

– Muito obrigado, meu filho. Vocês fazem um trabalho maravilhoso!

Maravilhado estava eu com D. Iraci.

94


#075

Ele fez a

diferença Regional: Vitória

Decidimos realizar as Caravanas Digitais em dez bairros do município de Vitória. Escolhemos os bairros onde havia maior concentração de população que poderia ter acesso ao kit gratuito. Com o apoio das lideranças comunitárias, mobilizávamos e divulgávamos que, no domingo, nossa caravana ia chegar. No dia, levamos brinquedos, brindes, tendas com atividades, criamos a corrida da família, e promotoras faziam abordagens para o agendamento, enquanto antenistas forneciam orientações sobre a instalação. O líder comunitário de um dos bairros nos marcou pela perseverança e espírito coletivo. Ele fez a diferença! Articulou carro de som para divulgar, mobilizou as escolas, conseguiu agregar serviços de corte de cabelo gratuito para a população e colocou ainda mais brinquedos. Lembro que fiquei tão impressionada com o seu envolvimento no bairro que ele acabou sendo nosso ponto de apoio nas outras oito edições da Caravana. Foi a representação de que juntos somos mais fortes, somos maiores e fazemos sim a diferença.

95


#076

Família

reunida Regional: Caruaru

Chegamos ao município da Regional na manhã de 10 de dezembro de 2018, na casa da ganhadora do último sorteio da Instalação Premiada. D. Arlete, de 59 anos, matriarca de uma grande família, recebeu-nos no portão de casa. Na sala estavam marido, filhos e netos, e todos aguardavam ansiosos. Uma festa. A energia contida na casa era enorme. A casa, muito pequena, quase não tinha espaço para tanta gente. Sorridentes, todos queriam conferir a entrega do prêmio, pareciam não acreditar. Toda falante, D. Arlete contou que só tinha tido sorte, até aquele momento, no jogo do bicho. Nunca tinha ganhado um valor tão grande. A filha caçula, tímida, olhava pela brecha da cortina vermelha que separava a sala da cozinha. Foi ela a pessoa que inscreveu a família no Instalação Premiada. Quando perguntamos à ganhadora qual tinha sido sua reação ao saber do prêmio, seu marido prontamente disse que tinha sido o filho que havia visto na TV. E este logo disse: – Foi (sic) eu que vi a senhora na televisão falando o nome de mãe. Ela nem acreditou, e daí ficamos esperando a senhora ligar. Durante o desbloqueio do cartão para que todos vissem o crédito, ela disse: – Agora, sim, vou comprar minha geladeira nova, a outra tá velhinha – e largou um belo sorriso. Abracei-a e nos despedimos. Dois dias depois, recebi a foto de sua geladeira, agradecendo a Seja Digital por ter realizado o seu grande sonho.

96


#077

Parceira de uma

vida Regional: Curitiba

Era dia de mutirão de instalação, e estávamos acompanhados pela equipe da TV local para uma matéria do jornal. A equipe de reportagem aguardava a primeira casa para filmar, até que uma mulher chegou até nós e perguntou se era verdade que estávamos fazendo instalações gratuitas. Disse a ela que sim, apresentei a equipe de reportagem e ela aceitou que gravássemos em sua casa. Era uma casa bem simples. O kit digital ainda estava na caixa. Enquanto a equipe de instaladores iniciava a montagem da antena, a mulher começou a contar sua história. Morava sozinha; seu marido havia falecido dois meses antes, após um ano acamado tratando de um câncer. Ela cuidou dele todo esse tempo. A televisão da sala era o divertimento dos dois. Compraram quando se casaram, há 40 anos. Era muito antiga, mas de maneira alguma ela queria se desfazer da TV, pois as lembranças da vida do casal estavam ali. Foi necessário usar um modulador para poder ligar o conversor no aparelho. Deu certo. Quando terminamos a instalação e a TV foi ligada, ela chorou muito de emoção. Sua história de vida estava ali, nos programas a que assistia com seu marido, agora sem chuvisco e com som perfeito. Disse que estava esperando havia algum tempo que um dos filhos pudesse instalar o kit. Que bom que conseguimos adiantar a instalação e ainda poder ouvir sua história.

97


#078

Organizada e

comprometida Regional: Interior RJ

Uma das atividades realizadas pela equipe de mobilização social da Seja Digital que mais trouxe resultados foi a Busca Ativa. O atendimento de porta em porta saía à procura de beneficiários que tinham direito ao kit gratuito e que não tiveram tempo de retirá-lo, ou que não sabiam que tinham direito a ele. Numa dessas andanças, ao chegar ao bairro selecionado, encontramos D. Miriam. Perguntei se ela recebia o Bolsa Família, ela disse que sim. Diante disso, quis saber se tinha interesse em fazer o cadastro para conseguir o kit, e ela consentiu. Falou que tinha uma pequena TV de tubo e que queria muito continuar a ver TV. Convidou-me a ir até sua casa para buscar a documentação necessária. Uma casa simples, de fundos, limpinha. D. Miriam é uma senhora semianalfabeta, na faixa dos 60 anos, com dois filhos – um deles com problemas mentais – e dois cachorrinhos lindos. Toda organizada, me passou uma pasta com todos os documentos e pediu para eu procurar o comprovante da folha-resumo. Depois de algum tempo de busca, enfim a encontrei. Na hora houve muita alegria, e comecei a fazer o cadastro de interessado dela, mas tínhamos um problema. D. Miriam não possuía telefone, tampouco seus filhos. Decidi colocar o meu e combinei que, assim que fosse aprovado o cadastro, faria o agendamento da retirada do kit e iria novamente até ela para informar local, dia e horário agendados. Passados dois dias, recebo a mensagem de aprovação, efetuo o agendamento e faço com que as informações sobre o agendamento cheguem até ela. No dia seguinte, recebo outra mensagem do sistema da Seja Digital, informando que a beneficiária já tinha realizado a retirada do kit. Missão cumprida, mais uma beneficiária digitalizada e feliz.

98


#079

Eles

chegaram! Regional: Interior SP

Uma pessoa que me impactou foi uma senhorinha que, ao chegarmos em sua casa, admirou-se e disse:

– Nossa, eu não estou acreditando que vocês estão aqui!

Ela nos chamou de anjos, pois achava que iria ficar sem TV, e saiu avisando à rua toda que a equipe da Seja Digital estava ali naquele momento para fazer instalações residenciais. Pode ser que ela nunca mais venha a se lembrar de mim, mas acho que me lembrarei dela sempre. Principalmente, quando tocar no assunto deste trabalho.

99


#080

Sem perder

a magia Regional: Manaus

Tive a oportunidade de participar de uma cerimônia muito peculiar e impactante. A convite da liderança de uma comunidade indígena, levamos promotores para realizar agendamentos durante o Ritual da Tucandeira. O evento aconteceu em uma comunidade tradicional indígena bem afastada do centro de Manaus. De fato, foi uma oportunidade única de conseguir reunir uma camada da população que tinha sérias dificuldades de acesso à cidade e, consequentemente, ao kit gratuito. Lembro das filas que se formavam para consultar se tinham direito ao kit. Carteirinha na mão e rostos e corpos pintados. Era uma experiência única de vivenciar uma tradição tão importante para aquela população. Experimentamos a culinária exótica, vimos adornos feitos pelos próprios índios e ouvimos muitas de suas histórias. O ponto alto do evento foi presenciar o ritual de passagem dos jovens. Lembro que não consegui tirar os olhos dos corajosos jovens que se submetiam ao desafio de colocar suas mãos em luvas com formigas tucandeiras. A poucos passos dali, as casas equipadas com televisão agora recebiam o sinal digital de forma perfeita. Eu mesma pensava: até aqui! Era a perfeita representação de como a tecnologia pode conviver em perfeita sintonia com a tradição, sem perder sua magia.

100


#081

Ajuda

imediata Regional: Oeste PR

Estávamos no ponto central de encontro do mutirão de instalação quando recebemos mensagem sobre uma instalação que precisava do apoio de um antenista. A moradora comentava que já havia pedido ajuda a três pessoas, que não haviam conseguido resolver o problema. Chegamos à sua casa, onde fomos recebidos com um grande abraço. Era uma casa bem simples. Entramos pela cozinha e logo estávamos na sala, onde ela nos apresentou a uma TV bem antiga. Comentou que a havia comprado de um vizinho por R$ 50, pois a anterior havia estragado. Como ainda não havia conseguido instalar o kit conversor, estava pensando em como poderia se organizar para tentar comprar uma nova. Após o atendimento do antenista e ver a TV funcionando, agradeceu imensamente à equipe e comentou que, graças à ajuda, poderia continuar assistindo à TV sem ter que comprar uma nova.

101


#082

Solidariedade

não tem idade Regional: Palmas

Durante uma Caravana nas Escolas, conhecemos um menino de oito anos que disse estar muito preocupado com sua vizinha, pois ela havia recebido o kit conversor digital e não conseguiu instalá-lo. Por essa razão, ia assistir à TV na casa dele, que já tinha recebido e instalado o kit. O garotinho nos pediu para fazer a instalação do kit na casa da vizinha. Após a caravana, fomos até a casa dela e realizamos a instalação. Ele ficou muito feliz, e a vizinha, muito emocionada com a atitude da criança de se preocupar com ela. Foi tocante.

102


#083

Legado

ambiental Regional: Porto Alegre

O dia anunciava que a chuva chegaria bem depressa. Andamos por entre longas estradas de chão batido e chegamos na linda aldeia Tekoá Pindó Mirim. Casas típicas cobertas de palha, uma casa central onde o fogo aquecia a manhã e a presença de idosos, que nos aguardavam com olhar curioso. A comunidade de Itapuã em Viamão já havia instalado os kits conversores gratuitos. Nesse dia, nossa presença levava 190 mudas de plantas nativas e frutíferas que passaram a compor o território indígena Guarani, juntando-se ao que naquela terra já era vida. Após o almoço, as mãos foram para a terra, com o Cacique Arnildo conduzindo o grupo. Todos envolvidos, nossa equipe, alguns parceiros e, claro, as crianças da aldeia, que a cada sorriso nos ensinavam o valor do plantio e da vida em natureza. Foi um grande dia de celebração. Encerrávamos a grandiosa operação da Regional Porto Alegre. Meses depois, vivemos novamente a prática de plantio de árvores, que buscou compensar a emissão de carbono, dessa vez na Regional Interior do Rio Grande do Sul. Prática bonita, simples, mas muito potente, que nos faz pensar no compromisso da Seja Digital em “não deixar ninguém para trás”, nem o nosso planeta.

103


#084

Muito além

da obrigação Regional: Vitória

O início das atividades de mobilização é sempre difícil e trabalhoso. Precisamos contar com uma rede de voluntários e parceiros para que a informação ganhe credibilidade e volume. Algumas pessoas nos surpreenderam pela intensidade e criatividade, e uma funcionária do CRAS de um dos municípios abrangidos pela Regional foi uma dessas gratas surpresas durante os meses da campanha de desligamento. Após a primeira reunião para apresentação do projeto, deixamos alguns folders para que ela pudesse distribuir para as famílias atendidas pelo CRAS onde atuava. Mas ela fez mais! Por iniciativa própria, fez cópias dos folders e anexou alguns deles nos ônibus que circulavam nos bairros do entorno. A notícia passou a circular muito mais rápido do que podíamos esperar. Nos dias que se seguiram, o número de agendamentos na área era muito maior do que em outros pontos de atendimento. E ela fez ainda mais! Criou um café da tarde e chamou todos os beneficiários atendidos para que pudéssemos falar sobre o sinal digital e kits gratuitos. Tornou-se um exemplo de colaboração e entendeu que levar a informação do desligamento para a população era serviço de utilidade pública, era o dever dela, e não mediu esforços para nos ajudar durante toda a campanha.

104


#085

Só dava

caixa postal Regional: Interior RJ

O tempo no interior realmente é outro!

D. Adelina foi uma das contempladas no sorteio da Instalação Premiada, no interior do Rio de Janeiro. Após tentarmos contato telefônico com ela durante vários dias – o telefone chamava, mas ninguém atendia –, tentamos localizá-la pelo endereço cadastrado, o que não foi difícil. Encontrei Adelina ao chegar à porta da sua casa. Informei o motivo da visita e aproveitei para perguntar se ela havia trocado de número de telefone, ao que me respondeu: – Minha filha, o telefone tocou muito esses dias, mas meu marido está fazendo uma pequena reforma aqui em casa, e fiquei muito ocupada para atender. Dona de casa, na faixa dos 60 anos, D. Adelina ficou muito feliz com a premiação de R$ 2.000 em vale-compras e agradecida por nosso empenho em achá-la para entregá-lo.

105


#086

O velho

que vira novo Regional: Interior SP

Ao se constatar que algumas famílias haviam retirado seu kit conversor digital gratuito e não possuíam televisão, surgiu a ideia de recolher aparelhos que seriam descartados ou estavam parados em outras casas e doar para quem precisava. A campanha de doação de TVs usadas repercutiu na imprensa local, que pôde acompanhar algumas histórias muito emocionantes envolvendo famílias com aparelhos de TV queimados ou emprestados de parentes, amigos e vizinhos. A felicidade dessas pessoas em receber seu novo aparelho de televisão e a alegria da equipe que estava promovendo a ação também puderam ser notadas. Foi criada uma corrente do bem no interior de São Paulo.

106


#087

Só de

barco Regional: Manaus

“Não deixar ninguém para trás.” Essa frase martelava na nossa cabeça todos os dias. A região amazônica nos desafiava cada vez que tínhamos a dimensão do seu tamanho, da sua diversidade. Alcançar comunidades ribeirinhas e indígenas certamente era um dos nossos maiores desafios. Tínhamos de pensar em estratégias diferenciadas. Não podíamos deixar ninguém, incluindo eles, para trás. Em uma iniciativa inovadora, uma parceria com a Marinha do Brasil e uma emissora local se concretizou. Utilizamos o navio oficial para fazer a travessia entre Manaus e Careiro da Várzea, município com pouco mais de 28 mil habitantes. Passamos pelo espetáculo do encontro das águas e fomos recebidos com festa na comunidade que aguardava uma ação de cidadania que levava serviços médicos, atendimento à população e acesso gratuito à TV digital, com a realização de agendamentos e instalação de kits. Percorremos as ruas de palafitas, vimos a pobreza extrema sob nossos pés, mas vimos também a importância de levar uma janela para o mundo que, para muitos que ali moravam, era a única forma de entretenimento. A prefeitura da localidade também disponibilizou pequenas embarcações para que comunidades mais afastadas pudessem participar desse grande momento. Talvez uma oportunidade única de solidariedade e de acesso a direitos. Estivemos lá e, na volta para casa, a frase que martelava na nossa cabeça ganhou uma nova conjugação: “Não deixamos ninguém para trás”.

107


#088

Sem jamais

desistir Regional: Oeste PR

Após algumas tentativas frustradas de contato telefônico para fazer a entrega do prêmio da Instalação Premiada, optamos por procurar a ganhadora pelo endereço que tínhamos. Colocamos o endereço no GPS e seguimos. Ao chegar ao local, não conseguíamos encontrar a casa, pois a numeração da rua era muito irregular. A alternativa era bater na porta das casas próximas e perguntar se alguém a conhecia. Foi o que fizemos em várias casas, até que um dos moradores indicou a casa correta. Chegando lá, encontramos a Fernanda, uma pessoa simples, mãe de seis filhos, que morava em uma casa bem modesta. Ao saber que havia sido contemplada, ficou radiante e comentou que estava desempregada, e que o valor do prêmio ajudaria muito a família a sobreviver nos próximos meses.

108


#089

Despensa cheia,

graças a Deus Regional: Palmas

Dias tentando entrar em contato com a ganhadora do sorteio, e nada. Liguei então para a mobilizadora do CRAS, que ficava no mesmo bairro da ganhadora, e disse o nome. Imediatamente a mobilizadora se lembrou. – Conheço, sim – disse ela –, é uma senhora que sempre vem aqui. Quando aparecer, eu peço a ela para te ligar.

Dois dias se passam e a mobilizadora me liga.

– A ganhadora está aqui.

Converso com a senhora pelo telefone, ela chora muito e conta toda a sua história; que o seu telefone não recebe chamadas porque ela não tem dinheiro para colocar crédito, e que todos em casa estão desempregados. No dia da entrega do prêmio, ela chora, diz que vai encher a despensa da casa de comida – pois há muito tempo não consegue fazer isso – e agradece.

109


#090

Experiência

que transforma Regional: Campina Grande

O relato de Adriana mostra o quanto é importante nos esforçarmos para mudar de caminho quando não vemos nenhuma luz. Professora do ensino fundamental, ela havia largado prematuramente a carreira e, depois de tanto tempo, não sabia recomeçar. A notícia de que Campina Grande receberia a Seja Digital não despertou sentimento algum a princípio, mas a insistência de uma amiga para que ela se candidatasse a uma vaga na Regional valeu a pena. Adriana não só aceitou o desafio como transformou o trabalho de mobilizadora em mais que uma atividade profissional: as caminhadas diárias preparando a população para o desligamento do sinal analógico de TV foram lhe devolvendo o ânimo. Ela me falou do valor dado a cada amanhecer e do quanto saber da vida das pessoas com quem encontrou nas abordagens foi importante para superar o momento que atravessava. Adriana entrou em muitas casas e conheceu outras realidades, observando problemas alheios que a fizeram perceber que as dificuldades pelas quais passava tinham solução. O trabalho de mobilização havia despertado em si novamente a vontade de viver. Em seu último dia de trabalho, reconheceu por fim sua força e capacidade para voltar à antiga profissão e ainda ser muito feliz. Terminou a conversa dizendo: “A vida espera por mim!”.

110


#091

Feliz

como nunca Regional: Interior RJ

A casa era cheia de gatos, pequena e acolhedora. D. Graça, uma senhora com semblante sério, mas coração generoso, abriu suas portas para a emissora de TV fazer a gravação da reportagem sobre a mudança do sinal. Estava tudo agendado para a entrevista na casa da vizinha que havia ganho o kit da Seja Digital, mas, na hora H, ela desmarcou: o filho não podia aparecer na televisão, algo bem comum na comunidade onde moravam. D. Graça não titubeou em oferecer a sua casa para que a equipe pudesse fazer a gravação. Faltava, porém, o ator principal: o kit conversor digital. Ele veio emprestado da vizinha. D. Graça, mesmo com o perfil adequado e após ter tentado várias vezes, ainda não havia conseguido um kit. A televisão parecia tela de cinema, e ela estava numa felicidade só. Quando a gravação terminou, veio a decepção. Tiveram que desinstalar o kit e devolver para a verdadeira dona. Tudo voltou a ser como antes, e a tela, antes de cinema, agora só mostrava fantasmas. Saí de lá com o propósito de conseguir um kit digital para ela. E o kit veio! Com certa demora para quem tinha pressa de ter sua imagem de volta, mas chegou. D. Graça pôde então assistir à sua novela, feliz como nunca.

111


#092

Parece que a casa

está cheia Regional: Interior SP

D. Gilda é viúva e mora com o neto, de quem cuida desde que perdeu a filha. É pensionista e reside numa casa simples, alugada, e passa a maior parte do tempo sozinha, já que o neto trabalha durante o dia e estuda à noite. O primeiro contato com ela foi feito num mutirão de agendamento em seu bairro. Recebeunos com alegria e contou que havia ganhado o kit graças a um anjo que a ajudou na Caravana da TV digital. Como ela ainda não havia instalado o conversor e a antena, imediatamente agendamos uma visita e, quando a equipe chegou, ela batia palmas e pulava de alegria. Chorou ao ver a imagem na TV, e nós choramos junto. Após algumas semanas, passamos em frente à casa e a vimos triste, chorando em companhia de uma vizinha. Parei o carro, e ela contou que estava com medo e assustada porque sua casa tinha sido assaltada e o pouco que tinha havia sido levado. Por sorte, deixaram a TV (“o bandido deve ter pensado que ela não funcionava porque está muito velha e nem botão tem, e, como eles mexeram em tudo, agora não pega nenhum canal”, verbalizou). Prontamente, fizemos a ressintonia, e a TV passou a pegar seis canais. D. Gilda continuou chorando, agora de alegria. A TV, além de distrair, faz companhia e passa segurança, pois “quando liga, parece que a casa está cheia”.

112


#093

Agendamento

com elegância Regional: Porto Velho

Estávamos no Bem-Estar Global. Ele veio de paletó e gravata, com a cartinha da Seja Digital e, com um sorriso nos lábios, disse: – Minha filha, é a primeira vez que ganho um presente assim. Estou muito feliz que sou importante para alguém. Alguém lembrou de mim. Se esse sinal desligar, não vou ter como assistir ao jornal. Já sou aposentado. Minha TV é antiga. Quero fazer meu agendamento. Do que precisa?

Explicamos e fizemos o procedimento. Deu tudo certo.

Sobre o recebimento da mensagem com os dados do agendamento, ele disse: – Eu tenho apenas este celular dos antigos. Não uso zapzap [WhatsApp]. – Não tem problema, Sr. Juarez. O senhor receberá uma mensagem simples de SMS, que chega em qualquer aparelho. Além disso, vamos preencher este cartão com todos os dados para que apresente na hora da retirada! Com o agendamento realizado, só precisará ir até a agência mais próxima de sua casa para retirar o equipamento, receber um treinamento sobre como instalar e ainda concorrer a prêmios de R$ 2.000! – Que maravilha! Vou guardar o cartão com muito cuidado. Quero ganhar esse prêmio também. Obrigado, minha filha. Deus te abençoe.

E saiu, ainda mais feliz do que chegou!

113


#094

Instalação

abençoada Regional: Interior RJ

Ela estava lá sentada, me aguardando no lugar onde havíamos combinado. Vi de longe seu sorriso de felicidade, perguntando-se se era mesmo verdade. De todas as ganhadoras do sorteio da Instalação Premiada, ela foi a mais marcante. Falante, contou sua história e como tinha ganhado as marcas de queimadura espalhadas pela lateral do corpo. Queimaduras profundas de 1º, 2º e 3º graus. Contou que não teve medo, não desmaiou, não sentiu dor. Que o manto sagrado de Nossa Senhora a protegia. Mistério até para os médicos incrédulos, que relataram nunca antes terem visto algo assim. Ela disse que a mesma Nossa Senhora a ajudou a ganhar o prêmio. Prêmio esse que veio pelas mãos do nosso instalador, que lhe deu a orientação para participar do sorteio.

Ela lhe disse:

– Vou ter sorte, não?

Ele respondeu:

– Quem sabe eu não fiz sua instalação para ser hoje seu dia de sorte?

E foi mesmo o dia de sorte dela. Mês do seu aniversário, bem perto do Natal. O prêmio tinha de ser dela. Muito feliz e falante, seguiu seu caminho, e de longe dava para ver uma luz a acompanhando.

114


#095

Sem barreiras para

fazer o bem Regional: Interior SP

Um caso que chamou atenção foi o da D. Ester. Embora beneficiária, havia um empecilho para fazer a retirada do seu kit. É paciente diabética e está impossibilitada de andar. Não tinha como ir até o Ponto de Retirada (PDR), pois nenhum familiar tinha carro, e ela também não tinha cadeira de rodas, necessária para sair do carro e entrar no PDR. Ela recebeu uma cadeira de rodas do município e imediatamente a família entrou em contato. Fui até sua residência e, com a ajuda da filha, a levamos para a retirada. Ela retirou seu kit e agradeceu imensamente, pois a televisão é a sua companhia, uma vez que não pode sair de casa. Foi muito gratificante participar desse momento.

115


#096

Sobre as águas do

rio Madeira Regional: Porto Velho

A equipe da Seja Digital se deslocou até uma comunidade distante 75 km de Porto Velho, no intuito de mapear o território. Para nossa surpresa, o sinal analógico de TV consegue chegar a várias regiões da comunidade e algumas pessoas já tinham retirado e instalado seu kit. Na chegada ao distrito, a poucos metros da barranca do Rio Madeira, identificamos uma antena da Seja Digital instalada e conectada a uma TV que ficava em um barco-residência. D. Josefina nos acolheu, agradecendo com firmeza a oportunidade de receber o kit de forma gratuita. De outra maneira, não conseguiria assistir televisão e ter notícias da capital, pois ela não tinha nem condições de comprar um equipamento de qualidade, nem antena parabólica.

Ela disse:

– Vivo aqui há muitos anos com a minha família. Quando meu marido sai para pescar, fico em casa cuidando das crianças. É uma rotina que não muda, mas gosto muito daqui. Porém, uma coisa me incomodava, não ter notícias do que acontece em Porto Velho. Aqui escutamos a rádio, mas não é a mesma coisa. Ver a notícia ao vivo e com imagem é muito melhor. A imagem é limpinha, sem chuvisco, uma maravilha!

Ainda lembrou:

– A única coisa que consegui salvar quando aconteceu a enchente em 2014, além da família, foi esta televisão. Nossa antena parabólica foi danificada e desde então não assistimos mais à TV. Eu mesma instalei o kit e, quando as crianças chegaram em casa e viram a TV funcionando, foi uma festa só.

116


#097

Visão perfeita para o

sinal digital Regional: Interior SP

Diversas histórias nos emocionaram durante os meses de trabalho para o desligamento do sinal analógico. D. Marli é um exemplo claro de como o processo de desligamento, na aparência apenas técnico, revela dimensões não previstas. Conheci D. Marli porque faríamos uma reportagem sobre o kit já instalado pela equipe de campo em sua casa. Quando chegamos ao endereço, D. Marli estava esperando ao lado de fora da casa. Estava com um casaco pesado e bem formal, mesmo fazendo um calor intenso, com muitos colares e anéis em quase todos os dedos. A primeira coisa que me falou foi:

– Tive que me arrumar caprichado para a TV!

Respondi:

– A senhora está muito bonita!

Ela então me disse que fazia apenas três meses que voltara a enxergar, tinha feito cirurgia de catarata. Estava muito emocionada porque, com o kit instalado, poderia assistir a suas novelas prediletas, que antes acompanhava só pelo som.

117


#098

Ela chorou de

alegria Regional: Porto Velho

Uma equipe de apoio aos mobilizadores da Seja Digital estava na ação porta a porta em um bairro da Zona Leste de Porto Velho. Em uma das ruas, o grupo identificou uma senhora que acabava de chegar em casa com seu kit gratuito. Não demorou muito, a equipe de mobilização chegou até sua casa para checar se ela precisava de apoio. Ela chorava. O supervisor, atento à cena, perguntou o que estava acontecendo, e se ela necessitava de alguma coisa. A resposta: – Acabei de chegar em casa com o kit que ganhei. Fui retirar com muito custo, pois não tenho muitos recursos e não quero ficar sem acompanhar a programação e as notícias. Moro sozinha. Sou aposentada e quase não enxergo. A imagem está quase fechando. Esse aparelho é minha única companhia. E agora ele não quer ligar. Que vida dura! O supervisor da equipe, comovido com a situação, buscou alternativas na região. Identificou uma eletrônica e qual era o problema. Pediu ajuda para algumas pessoas da equipe, que arrecadou dinheiro suficiente para o conserto do aparelho. Pediram licença à aposentada, informando que iriam levar a TV para o conserto. O equipamento retornou em menos de uma hora. Providenciaram na sequência a instalação do conversor e da antena. Quando a televisão foi ligada com imagem e som de qualidade, ela chorou de alegria e agradeceu muito. A situação, assim como outras, inspirou a equipe.

118


#099

Vida

reconstruída Regional: Interior SP

O Sr. João, aposentado, cerca de 70 anos, teve sua televisão de tubo destruída após uma árvore cair sobre a sua casa em dia de chuva forte. Logo em seguida, por causa de um curto-circuito, a casa pegou fogo, deixando-o sem nada. Salvou-se o kit conversor, guardado em um armário da cozinha que não queimou. Os vizinhos, sensibilizados pelo que aconteceu, se uniram e doaram uma televisão e, em mutirão, estão levantando três cômodos para ele reconstruir a vida. Quando não está na obra, sua companhia é a televisão. Ao ser instalado o conversor, ele se emocionou com a qualidade da imagem. Sua televisão fica na varanda improvisada, juntamente com o que lhe sobrou e o que foi doado, até que sua nova casa fique pronta.

119


#100

Uma varanda mais

que especial Regional: Dourados

Amadeu aparentava idade bem mais avançada do que constava em seus documentos. Recebeu-nos alegremente em sua casa humilde pertencente a um conjunto de casas populares na periferia de Dourados, onde mora sozinho. Do outro lado do muro havia muitas crianças que assistiam com curiosidade àquela movimentação atípica de pessoas, câmera de televisão, repórter etc. Sabiam que algo diferente estava acontecendo naquele improvável endereço. No interior da casa, além de uns poucos móveis velhos e um cachorrinho deitado na sala, via-se aquela TV de tubo pequena e surrada pelo tempo, mas com uma bela imagem digital e um sorriso no rosto de Amadeu: – Agora minha TV ficou boa de verdade! – disse ele com orgulho, pois ele mesmo havia instalado a antena. Terminadas as entrevistas, fotos e filmagens, pude conversar melhor com ele e conhecer sua história. Era o primeiro a ganhar o sorteio da Instalação Premiada na Regional Dourados, e fiquei curioso em saber o que pretendia fazer com o dinheiro do prêmio.

Ao receber o cartão de minhas mãos, não conteve a alegria e disse:

– Finalmente, vou poder fazer uma varanda para receber minha família em casa, vai ser muito bom realizar este sonho. Que presente bom estou ganhando da Seja Digital.

120


121


Nossos

mobilizadores A este time incansável, nosso muito obrigado.

ADRIANA SHIBATA ADRIANO DE OLIVEIRA CRISOSTONO AILTOM ALVES GOBIRA ALESSANDRA ANHAI PRADO FERREIRA ALESSANDRA CRISTINA DE TOLETO MARUCCI ALINE LEITE FERNANDES AMANDA CRISTINA COSTA PRADO AMANDA QUEIROZ NASCIMENTO AMANDA SANTOS MELO ANA PAULA SANTANA GIROTO ALVES ANA TEREZA M BRANDÃO ANDRÉ LUIZ ARAÚJO ALEIXO ANDRE LUIZ VIANA DA SILVA ANDREA CHRISTIANNE DA SILVA MENDES ANDREIA CAMARGO MARQUES POSTAL ANDREIA MARIA DE OLIVEIRA FIRMO ÂNGELA APARECIDA DOS SANTOS RIBEIRO ANGELA MARIA FERREIRA ANIELA GISLEINE DE ALMEIDA ANTONIO BIONDI ARTHUR FIGUEIREDO BARBARA DA SILVA GOMES BRUNA CARRAZZONE LOPES BRUNO OLIVEIRA SAMPAIO CAMILA ARGOLO GODINHO CARLA BUSATO CARLA NOVAES ALVES DOS REIS CARLA TAVARES GUIMARÃES CARLA VANESSA FERNANDES PRATA CARLINO LIMA CARLOS ARANTES CORRÊA CARLOS AUGUSTO GÉO DE SIQUEIRA CARLOS HENRIQUE GONTIJO PAULINO CAROLINE FRAZÃO RIBEIRO CAYRON HENRIQUE APARECIDO FRAGA CECILIA JUNQUEIRA SALLOWICZ ZANOTTI CÉLIA REGINA MACIEL DE SOUZA SENA CESAR PINTO CHEILA ZORTEA CIBELLE DURANTE FRASSON CLARA COELHO DE CARVALHO CLAUDIA CRISTINA LOPES CLAUDIA MOREIRA BORGES CRISTIANE MOREIRA SILVEIRA CRISTIANO BARBOSA CYBELLE BORGES DANIEL YACOUB BELLISSIMO

DANIELA APARECIDA HONÓRIO DA SILVA DÉBORA SABATINI FABIANO DEISY FERNANDA FEITOSA DIOGO DA LUZ COSTA DOMINIQUE MENDONÇA MADEIRA DOUGLAS ALMEIDA ECKHARDT DYULIANO MAGALHÃES EDIPO DE QUEIROZ SANTIAGO EDMILSON CURSINO DOS SANTOS JUNIOR EDNA APARECIDA BORGES ELANE JESUS DA CONCEIÇÃO ELENILDA CARLOS DE MELO ELESSANDRA DE SOUZA ELIANA SANTOS DOS SANTOS ELIS CRISTINA ALQUEZAR ELIZANGELA VITTORAZZI TESSINARI EMIRY MIRELLA BERNARDO FÁBIA CAROLINA HAFERMANN FABIANNY CASTRO ANDRADE FABIO CARDOSO SANTOS FABRICIA DE SOUZA CYRILLO FELIPE CAVALCANTE GUEDES FERNANDA JUSTOS FERNANDA MARQUES FERNANDO MICHELETTI FIAMA RICARDO DE LIMA FRANCILENE BARROS BARBOSA FREDERICO EUSTAQUIO MACIEL GABRIELA DE OLIVEIRA GABRIELA FELIS DA SILVA SIMÃO GERUSA COLOMBO DE OLIVEIRA GILBERTO FLACH GILSON DO PRADO CARNEIRO GISELA GEROTTO GIULLIANA CARRAZZONE LOPES GIVANILDO GOMES GRACIELLY VITÓRIA DE OLIVEIRA GRAZIELA BELOTTI SOLIS GUILHERME RODRIGUES DE MELO GUSTAVO RIBAS DOS SANTOS HAMILTON TAVARES DOS PRAZERES HANNA PEREIRA HELLEN SOUSA HERBERT GUSTAVO SATTIN IGOR CABRAL LIBERATO DE MATTOS REIS IGOR SANTANA OLIVEIRA IRACEMA SENA DE SOUZA MARQUES


IRIS MONTEIRO DA SILVA JAMILE DE CAMPOS COLETI JENAIR ALVES DA SILVA JOÃO PAULO DE MORAES PEDROSO JONAS CAMPOS JAEGER JOSÉ ELISIO DA SILVA GOMES JUCINEIA SILVA RIBEIRO JULIANA ALVARES LAVARINI JULIANA DE OLIVEIRA MORETTI JULIANA ZANINI JÚLIO ALBERTO DIAS SIQUEIRA KAREN CRISTIANE CESARINO KATIENE COSTA DE CASTRO KELLY CARDOZO KHARYNA PINTO GALINDO KLEBER RIBEIRO MEIRELES LAILA DA CUNHA LIMA NORONHA LEONARDO SCOTT LETICIA RODRIGUES SÁ SILVA LIA RANGEL LIVIA GUIMARÃES LIVIA SACRAMENTO TERRA DE SOUZA LUANA NUNES PEREIRA LUANA OLIVEIRA DE ARAUJO LUCIANA PEDREIRA DE CERQUEIRA JULIANO LUCIANE CRISTINA SILVA ESCOUTO LUCIANE SOARES RIBEIRO BESERRA LUCIMAR FERNANDES LUCINEIA APARECIDA RONCADOR LUCHETI LUCYMEIRE JOANA BASTOS DA SILVA LUIZ ALBERTO DANTAS MUHLETHALER CHOUIN LUIZ HENRIQUE PEREIRA MENDES LUIZ OTÁVIO DE ANDRADE MACHADO MAISA PORTO NACARI MARA FRANCY DE ANDRADE MARA LUCIANA DE ALMEIDA TORRES MARCELLO MARQUES ESPIRITO SANTO MARCIA HELENA KOBOLDT CAVALCANTE MARCUS VINICIUS DE BRITO SOARES MARIA APARECIDA MIRANDA MARIA CAROLINNA AMORIM PEIXOTO TOSTA MARIA GISELA GEROTTO MARIA GORETT NOGUEIRA DA SILVA MARIA LISONETE DE LIMA COSTA MARIA SONALE DE QUEIROZ MARILU SANTANA PAES DA CUNHA MARISA VALENTIM FERNANDES CASTILHO MARISTELA TRINDADE MARTA VINHAS MOREIRA MATHEUS PEREIRA DE QUEIROZ MAURICÉIA CORRÊA LEITE VIEIRA MIRLEY JONNES PEQUENO DA SILVA MÔNICA STAVALE DE MIRANDA PINTO NARCIZO DE SOUZA CHAGAS NATALY MEIRA MARTINS NEILZA ALVES BUARQUE COSTA

NOEMI KEREN DOS SANTOS PALMA SOUZA NORBERTO LOPES TEIXEIRA PATRÍCIA MAZONI CAVALCANTI PATRICIA VIANA FERREIRA PRISCILA SALGADO DA SILVA PRISCILA SANTIAGO FERREIRA DOS SANTOS PRISCILLA GOMES LACERDA RAFAEL DE SOUZA FONSECA RAFAEL PEREIRA POUJO RAFAEL YSSIS MONTAURIOL RAFAELA PONTES DA SILVA RAMON MARTINS SOUZA RANGEL PONTES MIRANDA RILDA BACHA LOPES RODRIGO DE FREITAS ESPINOZA ROMMEL SENA MORAIS ROSANA PADIAL DA SILVA ROSANA PRATI POLETTI ROSEMEIRE APARECIDA DA SILVA SABRINA VARGAS SANDRA REGINA DURANTE FRASSON SHIRLENNE NASCIMENTO DOS SANTOS SHIRLEY ANNY ABREU DO NASCIMENTO SHIRLEY COIMBRA DA CRUZ SILVANA MEDEIROS DE MELO SILVÂNIA CRISTINA ALVES MARINHO REQUIA SILVIA PATRIZIA DA SILVA CAMPOS STEFANNY JESSICA GERALDO STELLA PEREIRA LEITE TALITA GRIGORINI DA SILVA MEIRELES TÂNIA CORRÊA DA SILVA TARCISIO DA SILVA TASSIA CONSULIN SEABRA DE MELO TATIANA BRECHANI DA SILVA TATIANA DA COSTA SILVA TATIANA DE SOUZA MONTÓRIO TATIANE NASCIMENTO CONCEIÇÃO VALENTE THAIS ALVES DOS SANTOS THIAGO MAZUTTI SCHLITA VALDIRENE SIQUEIRA VALERIA GOMES PALHARINI VANDERLUCIA DA SILVA VANDREZA LIZANDRA PANTONI DA FREIRIA VANESSA MUNHOZ VANESSA PEREIRA VANÚSIA LEITE DA SILVA VEJUSE ALENCAR DE OLIVEIRA VERA LUCIA XAVIER STORTI VERENA CAVALCANTI FERRARI VINICIUS LUCENA VIVIAN ESTHER MESTERMAN BILHIM VIVIAN LEITE RIBEIRO DE MACEDO WELLINGTON DA SILVA VIDAURRE YANA SOUZA LIMA YASHI SAKIMOTO DE MIRANDA ZENITH CUSTÓDIO DA SILVA


Entidades

parceiras Muito obrigado às OSCs e entidades parceiras da Seja Digital.

Ação Educativa Alavanca Educacional Aldeias Infantis SOS Brasil AMENCAR Associação Boulevard Social Associação Casa dos Sonhos ASSOCIAÇÃO CEARENSE PRÓ-IDOSOSACEPI Associação Cresce DF Associação Cultural e Agrícola dos Jovens Ambientalistas de Alagoa Nova e da Paraíba ACAJAMAM Associação de Moradores do Arnaldo Estevão de Figueiredo II Associação de Prevenção à AIDS - Amazona ASSOCIAÇÃO FREI TITO DE ALENCAR Associação Koblenz Brasil – Kobra Associação Mão Amiga Associação Núcleo Interdisciplinar de Narradores e Agentes Culturais - NINA Associação para o Desenvolvimento de Iniciativas de Cidadania - ADIC Associação Pracatum Ação Social - APAS Associação Recreativa Cultural e Artística ARCA Associação Rever Juntos AVESOL - Associação do Voluntariado e da Solidariedade Brazucah Produções Culturais Ltda ME Brookson Tecnologia e Informática C. H. PEREIRA ME Carrapeta Produções Casa do Bem Casa Pequeno Davi Central de Artes Cênicas

Centro Artístico Cultural Belém Amazônia (Rádio Margarida) Centro de Impacto Consultoria em Gestão Empresarial Ltda. Centro de Integração de Redes Sociais e Culturas Locais (Cirandar) Centro Popular de Cultura e Comunicação CPCC CIPÓ Comunicação Interativa CIRC - Centro Internacional de Referência do Circo Coletivo DiCampana Coletivo Digital Coletivo Entrelinhas Coletivo Fuligem de Comunicação e Arte Comissão Pastoral da Terra - CPT Comitê para a Democratização da Informática de Santa Catarina (CDISC) Cooperativa de Catadores Agentes Ecológicos de Canabrava Cooperativa Mãos Dadas COPEV - Conselho de Pastores Evangélicos do DF CORSERTA Cooperativa dos Recicladores de Sertãozinho Direção Cultura Produções Ecko Gestão Arquitetura e Urbanismo Ltda ME Ecos – Espaço Cidadania e Oportunidades Sociais Escola de Aprendizagem e Cidadania de Franca – ESAC Escola de Comunicação e Artes - Universidade de São Paulo Escola Viva Olho do Tempo Espaço Cidadão Famílias em Ação - ECIFA Fábrica do Futuro


Federação dos Conselhos Comunitários e Entidades Beneficentes – FECEB FORMAÇÃO – CENTRO DE APOIO À EDUCAÇÃO BÁSICA Fundação Aroeira Fundação Educare Fundação Fé e Alegria Fundação Observatório do Livro e da Leitura Fundação Palavra Mágica GIRAL DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS Gol de Letra Grupo de Assessoria de Mobilização de Talentos GAMT IDE - Instituto de Desenvolvimento Evangélico Ideação IJUCI Inmanar Instituto Acariquara Instituto Arte & Vida Instituto Arte no Dique Instituto ELOS Instituto GRPCOM - Programa Impulso Instituto IDEIAS Instituto Paulista de CIDADES CRIATIVAS E IDENTIDADES CULTURAIS IPCCIC Instituto Querô Instituto Tellus Instituto Terroá Lar Fabiano de Cristo Lua Branca Produções Culturais Ltda. Movimento Cultural Nossos Valores Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST Mulheres em Movimento Núcleo de Desenvolvimento Social - NDS

ONG PRÓ TERRA Pacto Assessoria em Planejamento e Desenvolvimento Organizacional Parque Social Percurso Produções Programando o Futuro Projeto Incentivar Propositiva Empreendedorismo Social Reciclamp – Cooperativa Central de Coleta e Comercialização de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis de Campinas e Região Rede Crer Ser Rede de Educação Cidadã – RECID Rede Urbana de Ações Socioculturais Renata Caetano dos Santos ME Reverbere Produções Artísticas Ribeirão em Cena Saci Produções Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI Serviço Pastoral dos Migrantes UNAS - União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região UNIPOP Instituto Universidade Popular Universidade Católica de Brasília (UCB) Universidade Federal de Juiz de Fora Universidade Federal de Minas Gerais Visão Mundial


Créditos Presidente Antonio Carlos Martelletto

Diretora de Comunicação Patricia Abreu

Gerente de Comunicação Paula Aguiar

Consultor de Comunicação Organizador e editor desta obra André Ciasca

Projeto gráfico e diagramação Fourmi Publicidade Ilustrações Coletivo Entrelinhas Revisão Olívia Fraga Impressão Gráfica e Editora PifferPrint Ltda.

Agência Brasileira do ISBN ISBN 978-65-81741-00-6



A história da Seja Digital não pode ser contada por uma única voz. Foi uma construção coletiva, que contou com a participação de colaboradores, parceiros e voluntários que atuaram nas articulações da mobilização regional. Este livro conta apenas 100 de milhares de histórias vivenciadas por todo o Brasil, que só foram possíveis graças ao empenho de cada indivíduo que investiu tempo, energia e dedicação para garantir que o direito ao lazer e à informação se mantivesse disponível a toda a população das cidades por onde passamos.

Agência Brasileira do ISBN ISBN 978-65-81741-00-6

sejadigital.com.br

128


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.