Conexões Escolares com a TV Digital. Caderno 4 - Diversidades Geotelevisivas

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DIVERSIDADES GEOTELEVISIVAS CADERNO 4

Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa (Organizadoras) Aline Neves Rodrigues Alves Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Heli Sabino de Oliveira Ludmila Gomides Freitas Marcelo Dias



CADERNos temรกticos Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa (Organizadoras)

CADERNO 4

Diversidades Geotelevisivas

Aline Neves Rodrigues Alves Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Heli Sabino de Oliveira Ludmila Gomides Freitas Marcelo Dias

Sรฃo Paulo Seja Digital 2017


Ficha técnica Organizadoras Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Autores Aline Neves Rodrigues Alves Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Heli Sabino de Oliveira Ludmila Gomides Freitas Marcelo Dias Colaboradores Ana Tereza Melo Brandão Fernando G. O. Dias Neias Marcus Aurelio R. Manhaes Shirley Santos Oliveira Projeto Gráfico e Capa Warley Bombi Ilustrações Warley Bombi Revisão Virgínia Mata Machado Realização Seja Digital

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Cadernos temáticos: Conexões escolares com a TV digital/ Cirlene Cristina de Sousa; Deisy Fernanda Feitosa, organizadoras. – São Paulo: Seja Digital, 2017. 4 v.: il. ISBN: 978-85-8007-113-9 Inclui Bibliografia Caderno 1. Televisão: mais que uma palavra?/ Aline Neves Rodrigues Alves, Cirlene Cristina de Sousa, Deisy Feitosa, Denise Prado Figueiredo, Heli Sabino de Oliveira, Ludmila Gomides Freitas, Marcelo Dias – Caderno 2. Trilhas televisivas/ Aline Neves Rodrigues Alves, Cirlene Cristina de Sousa, Deisy Feitosa, Heli Sabino de Oliveira, Ludmila Gomides Freitas, Marcelo Dias, Marcos Antônio Silva – Caderno 3. Materialidades televisivas/ Aline Neves Rodrigues Alves, Cirlene Cristina de Sousa, Deisy Feitosa, Heli Sabino de Oliveira, Ludmila Gomides Freitas, Marcelo Dias – Caderno 4. Geodiversidades televisivas/ Aline Neves Rodrigues Alves, Cirlene Cristina de Sousa, Deisy Feitosa, Heli Sabino de Oliveira, Ludmila Gomides Freitas, Marcelo Dias, Shirley Santos Oliveira. 1. TV digital e pedagogia do olhar 2. História da televisão, materialidades, geotelevisão e sinal digital 3. Educação midiática, televisão digital e escola básica. CDD- 302.2307

Todos os direitos reservados pela Seja Digital

A reprodução total ou parcial desta obra é permitida desde que citada a fonte.


Sumário Apresentação

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Conexões escolares com a tv digital

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Resumo

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Em busca de um pensamento espaço-televisionado

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Paisagem: realidade concreta e sensível a partir da TV

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Região: mapeando a TV ou a TV nos mapeando?

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O lugar e a televisão: o tecer das experiências cotidianas

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Territórios televisivos: um fenômeno em disputa

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Formas solidárias do fazer televisivo

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Atividades

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Ensino fundamental I

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Ensino fundamental II

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Educação de Jovens e Adultos - EJA

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Referências

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˜ Apresentação Car@ professor@, até o final de 2018, a exemplo de vários países do mundo, grandes e médias cidades do Brasil terão o sinal analógico terrestre de TV desligado, o que, de certa forma, vai impactar o cotidiano da população nas esferas econômica, social e ambiental. Por isso, a Seja Digital, Entidade Administradora da Digitalização da TV, propôs a construção de um material educativo que pudesse explorar os detalhes desse processo, a partir do princípio da transdisciplinaridade. Assim nasceu a coleção “Conexões Escolares com a TV Digital”, um rico material que dialoga com várias áreas do currículo escolar, especialmente Geografia, História e Ciências, construído por pesquisadores especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), que já viveram ou vivem o dia a dia da escola. A Seja Digital é uma organização sem fins lucrativos, constituída por determinação do governo federal para acelerar o processo de transição do sinal de TV nos domicílios brasileiros. Começamos pensando nossa operação como um projeto muito centrado em tecnologia, mas hoje temos a certeza de que é muito mais do que isso. É, de fato, um projeto de inclusão e de utilidade pública, pela importância que a TV tem na vida das pessoas, pelas oportunidades que a TV digital oferece e pelo que vem depois, uma vez que o desligamento do sinal analógico de TV viabiliza uma política pública de expansão da banda larga móvel no nosso país. Com isso em mente, entendemos que é importante levar essas discussões à sala de aula e à comunidade escolar como um todo, a fim de que ninguém seja deixado para trás nem fique sem ver TV. Motivados e cheios de alegria, esperamos contar com o seu apoio. Dessa forma, gostaríamos de saudá-l@, caro professor@, desejando-lhe que a coleção “Conexões Escolares com a TV Digital” seja mais que uma excelente leitura, seja um grande apoio na construção e no planejamento de suas aulas. Seguimos em frente, sem deixar ninguém para trás! Antônio Carlos Martelletto CEO da Seja Digital

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Caro@s Professor@s, Chega para vocês a coletânea Conexões escolares com a TV digital, elaborada a partir de uma parceria entre a empresa Seja Digital e professor@s mestres e doutores que atuam na educação básica e superior. O objetivo primeiro dos cadernos é ter a comunidade escolar como parceira de mobilização do projeto de desligamento do sinal analógico de TV. A princípio, o convite para escrevermos estes cadernos suscitou-nos duas questões, a saber: este acontecimento tão pontual como da migração de um sinal de TV atrairia o interesse do professor@ da educação básica? Por que o convite à participação da escola neste projeto de migração de sinal? A partir dessas questões, procuramos entender como a escola poderia se conectar ao projeto da Seja Digital. Compreendemos que a proposta pedagógica destes cadernos ultrapassa o acon-

tecimento da migração de sinal televisivo. A escola está sendo convidada a ampliar suas reflexões sobre o processo de democratização da comunicação digital no Brasil. E foi essa possibilidade que moveu e sensibilizou cada um de nós, autores e convidados desta coletânea, que agora compartilham com vocês o produto de suas reflexões. Assim, dois objetivos orientam a escrita dos cadernos. O primeiro visa a informar e formar a população brasileira sobre a mudança do sinal analógico para o sinal digital de televisão, mobilização que também se faz urgente no “chão da escola”, lugar da experiência, das trocas, das práticas e vivências do coletivo escolar. O segundo objetivo é transformar esse acontecimento em uma oportunidade de fortalecer a educação midiática na escola básica.

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A Seja Digital tem construído uma rede de colaboradores por todo o Brasil. Centros religiosos, movimentos sociais, universidades, ONGs, lideranças comunitárias e jovens têm apoiado este projeto em suas comunidades. Mas, como educadores, acreditamos que é no “chão da escola” que muitas crianças, jovens e adultos terão a oportunidade de experimentar mais fortemente o mundo da cultura digital. Na escola a democratização do sinal digital de televisão pode alçar voos maiores. Por isso, a Seja Digital estende este convite a você professor@, com o desejo de que nenhum brasileiro fique sem acesso ao sinal de televisão e, mais especificamente, que se construam na escola

pedagogias capazes de provocar educações midiáticas entre os sujeitos escolares. Esta coletânea contém quatro cadernos temáticos, organizados por cores. O caderno Televisão: mais que uma palavra? traz uma discussão teórico-metodológica da relação entre “televisão, currículo escolar e ‘pedagogia do olhar’”. Os demais cadernos estão divididos em dois eixos: um teórico-formativo e outro com sugestões, atividades e oficinas. Cada cor indica uma temática específica. Não há uma hierarquia, nem uma sequência linear entre as temáticas ou propostas de leitura; cada professor pode construir seu próprio percurso de reflexão. Nessa perspectiva, apresentamos um resumo de cada caderno.

1. Televisão: mais que uma palavra? O caderno articula três questões distintas: cultura midiática, currículo escolar e “pedagogia do olhar”. A primeira diz respeito ao conjunto de mudanças verificadas na sociedade nas últimas décadas. As novas tecnologias da informação e da comunicação se fazem presentes nos mais longínquos rincões do país, modificando profundamente a relação entre indivíduo e sociedade. Além das alterações na esfera do trabalho e do consumo, novas formas de se relacionar têm surgido, afetando a subjetividade dos sujeitos. Até a condição de aluno foi afetada: as redes sociais, a internet e o celular são, não raro, usados para a realização de trabalhos, revisões de provas e para fotografar a lousa, com registro de informações escritas pelo professor. A segunda questão diz respeito ao currículo escolar. O advento da midiatização da cultura impõe a necessidade da construção de novas competências: agora as escolas têm o desafio de formar @s alun@s para viverem na sociedade da informação. A terceira questão diz respeito à “pedagogia do olhar” (FREIRE, 1983; CHAUÍ, 1998; FISCHER, 2006), uma perspectiva investigativa que busca compreender a televisão como objeto de estudo, com linguagem e interesses próprios. Trata-se de um olhar denso, marcado pela curiosidade e pelo estranhamento.

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Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa (Organizadoras) Cirlene Cristina de Sousa Heli Sabino de Oliveira Aline Neves Rodrigues Alves Deisy Fernanda Feitosa Ludmila Gomides Freitas Marcelo Dias

˜ Televisao: Mais que uma Palavra?


2. Trilhas televisivas. O caderno demonstra que, ao lado de outras esferas educativas, como família, escola e centros religiosos, a televisão participa da educação e da tessitura das experiências cotidianas de todos nós. Ela influencia o nosso imaginário, afeta nossos comportamentos, nossas identidades e nossas subjetividades. A partir dessa consideração do papel pedagógico da televisão na sociedade contemporânea, este caderno faz um percurso pela história da televisão, dialogando com as várias trilhas linguísticas, técnicas e discursivas que esse dispositivo de comunicação foi construindo ao longo dos anos. A história televisiva influencia também nesse seu percurso o mundo dos afetos, das curiosidades, dos hábitos e das memórias dos seus públicos. Um capítulo à parte dessa história é a chegada definitiva da TV digital nas experiências midiatizadas de todos nós no Brasil.

3. Materialidades televisivas. O caderno aborda a mudança do sinal de televisão analógico para o digital sob o ponto de vista da cultura material – tubos de raios catódicos, sinais eletromagnéticos, píxels e bytes – tendo em vista três eixos teóricos: Antropoceno, uma nova era geológica definida pela ação humana sobre o planeta; teoria do ator rede, pessoas e coisas (como objetos, animais e ondas) serão igualmente responsáveis pela consolidação de uma nova tecnologia, a televisão digital; bricolagem, prática que permite criar novas montagens a partir dos objetos existentes. No caderno, é explorada a natureza das ondas eletromagnéticas e como a informação pode ser transmitida por meio delas, contrastando-se a diferença entre a transmissão e a recepção do sinal analógico e digital. O descarte incorreto das televisões de tubo é um dos desafios a serem enfrentados pela chegada da tecnologia de televisão digital, por isso são apresentadas formas de abordagem e atividades referentes ao tema, buscando soluções dentro dos três ‘R’ da reciclagem: reduzir, repensar e reciclar. O progresso técnico não é notado como algo linear/esperado, mas problematizado como mudanças advindas de demandas e/ou interesses econômicos, políticos, culturais e sociais que afetam instituições e sujeitos.

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materialidades TELEVISIVAS CADERNO 3

Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa (Organizadoras) Marcelo Dias Aline Neves Rodrigues Alves Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Heli Sabino de Oliveira Ludmila Gomides Freitas

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4. Diversidades geotelevisivas. O caderno reflete sobre o fenômeno da televisão no cotidiano da sociedade brasileira. Para isso, são utilizados os conceitos norteadores da ciência geográfica em articulação com a prática pedagógica em sala de aula. Investimos em uma proposta didática alicerçada no diálogo entre o caderno e o professor@ e na cooperação teórica, a fim de contribuir e incentivar novas experiências sobre o tema TV no contexto escolar. Espera-se que, ao final da leitura do caderno, você, professor@, trabalhe os seguintes parâmetros: TV, como objeto situado no lugar; TV, como equipamento que apreende a diversidade de paisagens; TV, como rede (material e imaterial) construída nas regiões brasileiras; e TV, como fenômeno técnico-científico-informacional (mundial), que territorializa espaços, a partir das relações de poder e que, consequentemente, mobiliza indivíduos e coletivos.

Como se pode notar, os quatro cadernos são independentes e, ao mesmo tempo, complementares. São independentes porque você pode começar sua leitura pelo tema que desejar ou necessitar. Complementares, porque um tema convoca outros. Ou seja, nossa intenção foi produzir textos dialógicos e formativos. Desejamos que os elementos formativos, atividades e oficinas desses cadernos possam auxiliar no entendimento sobre a importância da cultura midiática para os currículos escolares e para a educação midiática de todos nós. Convidamos você, professor@, a caminhar por essa trilha, navegar por essas ondas, explorar esse mosaico e desnaturalizar o olhar que temos sobre a TV. Boa leitura!

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CAPA Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa (Organizadoras) Aline Neves Rodrigues Alves Cirlene Cristina de Sousa Deisy Fernanda Feitosa Heli Sabino de Oliveira Ludmila Gomides Freitas Marcelo Dias


Diversidades GeoTELEVISIVAS Car@s Professor@s, Neste caderno, a televisão é pensada como recurso didático-pedagógico e como meio de comunicação social. Nesse sentido, buscamos compreender como ela afeta e é afetada pelas experiências geográficas humanas. Para tanto, utilizamos os conceitos de paisagem, região, lugar e território, visando a compreender as diversidades geotelevisivas que atravessam nossas vidas cotidianas e nossas práticas pedagógicas em sala de aula. Ao ler o material, é importante que @ professor@ tenha em mente a seguinte indagação: como tais conceitos geográficos nos ajudam a ler o fenômeno televisão? Investimos

em uma proposta dialógica, a fim de aprofundar os princípios da pedagogia do olhar sobre a televisão no contexto escolar. Este material foi elaborado para @s professor@s de Geografia e profissionais da educação que têm interesse em utilizar os conceitos elementares da Geografia para interpretar o cenário contemporâneo, marcado pelos novos espaços/meios de comunicação que despontam na era digital. Esperamos que @ professor@ se sinta, ao final da leitura, desafiado e confiante em abordar a TV como objeto de estudo à luz das novas realidades suscitadas pela TV digital.

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Em busca de um pensamento espaço-televisionado As comunidades humanas, ao longo de milhares de anos, fazem uso do espaço que as cerca. Os primeiros grupos que surgiram eram conhecidos por não fixarem moradias e, por essa razão, receberam o nome de nômades. Contudo, já haviam acumulado aprendizagens ligadas à caça, à pesca e à coleta de alimentos oriundos da natureza. A superação desse modo de vida nômade, com instrumentos e técnicas rudimentares como pedras e ossos, só se daria com a observação da paisagem e dos fenômenos da natureza. Tais técnicas contribuíram para aprendizagens ligadas à agricultura, à descoberta do fogo e à domesticação de animais. Isso permitia a fixação no espaço e o aumento da população humana. Uma experiência social conhecida por sedentarismo. Na condição de sedentários, homens e mulheres primitivos passaram a se distinguir dos animais ao conseguirem, por exemplo, organi-

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zar conhecimentos e expressar seus sentimentos por meio da comunicação. Portanto, a fixação desses grupos no espaço e a construção de uma linguagem comum entre os habitantes possibilitaram a interpretação do meio em que viviam e, consequentemente, a transformação do espaço natural em espaço geográfico. E, com isso, os seres humanos passaram a se comunicar, organizando suas intenções e projetos em relação ao espaço. Portanto, a necessidade de nomear objetos e práticas cotidianas, numa determinada área, fez com que a comunicação humana se aperfeiçoasse, em diferentes partes do planeta. Passados milhares de anos, essas formas de se comunicar foram aprimoradas, e, hoje, vão além da fala, dos gestos e do corpo humano. Elas viajam por revistas, arquitetura, cinema, fotografia, artes, rádio, TV e, mais recentemente, o computador via internet.


Professor@, diante da complexidade da comunicação humana, acreditamos que a reflexão sobre a inter-relação entre novas formas de comunicação midiatizadas e as transformações e trocas sociais no espaço e no tempo, pode trazer dados de grande riqueza pedagógica para nossas áreas de conhecimento da educação básica. No caso do objeto televisão, você, professor@, já se perguntou o quanto esse meio de comunicação interfere em nossas noções e experiências de espaço e de tempo, a partir das paisagens que nos apresenta? O quanto a televisão produz visibilidades, invisibilidades e representações sobre o “lugar”? Como a TV apresenta aspectos da região onde a escola se situa? Como os territórios vividos e a construção identitária d@s noss@s alun@s são objeto da produção televisiva? A partir dessas questões e de outras que possam surgir ao longo da leitura do caderno Diversidades geotelevisivas, convidamos você, professor@, a observar e compreender a maneira como as tecnologias de informação e comunicação operam dentro e fora da comunidade escolar. Mais especificamente, buscamos examinar como os meios de comunicação televisivos territorializam, num ambiente comunicativo de forte convergência digital, o Brasil. Nesse processo, é fundamental compreender o lugar ocupado pelas redes de emissoras, pelas suas afiliadas e retransmissoras. Contudo, por que pensar as diversidades geotelevisivas na escola? Para respondermos a tal questão, propomos a seguir a relação TV e escola.

Cultura da convergência: O desenvolvimento tecnológico da era digital modifica o modo como os meios de comunicação se relacionam, como bem lembra Henry Jenkins (2006, p. 36): “Um único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas - pode transportar os serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio - seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia - agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes”. A convergência, assim, exerce um grande poder de transformação na organização das indústrias midiáticas, no modo de consumir comunicação, em nossas atitudes e no modo como interagimos.

ZAPe ANDO

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TV e escola A proposta deste caderno está baseada na hipótese de que TV e escola são instituições que constroem valores e ditam comportamentos para a sociedade. Trata-se de espaços de informação humana disputados por diferentes grupos sociais, cada qual com seu projeto de sociedade, leituras de mundo e expectativas de vida. Desse modo, repensar a relação televisão e currículo escolar parece-nos algo relevante, pois, para além de um objeto de consumo, a televisão é um meio de comunicação social que produz discursos e representações sobre os modos de o ser humano se adaptar, comunicar-se, viver, conviver e aprender.

Afinal de contas, como a TV perpassa os estudos geográficos? No ambiente escolar, a Geografia estuda e reflete sobre conteúdos que colaboram para uma experiência da consciência individual, coletiva, ética e cidadã de todos nós, ao relacionar identidade, pertencimento e capacidade humana de respeitar e valorizar o outro e o lugar em que se vive. Nesse sentido, a televisão pode ser um recurso didático para o ensino da Geografia, na medida em que exibe conteúdos que nos ajudam a conhecer e/ou interrogar sobre a diversidade ambiental, econômica, social e cultural das diferentes partes do Brasil e do mundo.

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Em geral, as produções das emissoras televisivas permitem a socialização de informações sobre territórios, pessoas e coletivos sociais, quer em âmbito local, quer em nível mundial. A redução do espaço-tempo permitida pelas TVs, em tempo real, por exemplo, faz com que nos relacionemos com grupos étnico-culturais distintos. E embora não aconteça uma relação presencial, as interações são possibilitadas através de imagens, áudios. A relação com o outro ocorre também quando acessamos produtos fotográficos, cinematográficos, artísticos ou iconográficos de pessoas pertencentes, ou vistas como pertencentes, a outros grupos sociais. Pedagogicamente, é sempre importante questionar sobre como tal programação televisiva dá visibilidade ou não aos diversos grupos humanos e aos espaços – lugares de vivência – que eles ocupam. Indagamos: há desfigurações, caricaturas, estigmatizações, visibilidades ou invisibilidades dos nossos lugares de convivência cotidiana? Pergunte ao seu aluno@ se ele já se sentiu contemplad@ ou incomodad@ com as formas pelas quais a televisão representa os grupos sociais brasileiros. Em certo sentido, o estudo das diversidades geotelevisivas pode contribuir também para pensarmos sobre as formas de resistência dos outros que não se veem representados pela TV. Trata-se de uma oportunidade para se discutir sobre identidades sociais que foram historicamente estigmatizadas e/ou invisibilizadas na sociedade brasileira, tais como os grupos etnicorraciais: indígenas, ciganos e quilombolas.


Esperamos que com a chegada da TV digital aumentem nossas chances de conhecer, acessar e legitimar múltiplas experiências de vida (por exemplo, não apenas valorizar o modo de vida urbano em detrimento da vida no campo) e se crie uma maior pluralidade de ideias. Para além da qualidade de som e imagem, há recursos que podem permitir a participação. Ou seja, @ telespectador@ poderá navegar nos recursos ofertados pela TV num movimento atitudinal, intervindo na realidade, no mundo que o rodeia. E você, professor@, o que já conhece a respeito das possibilidades da TV digital? Professor@, convidamos você a ser protagonista no contexto de migração do sinal de TV, pois você é quem sensibiliza @ alun@ para o seu pensar reflexivo sobre a espacialização das experiências cotidianas. Fique à vontade para usar o controle remoto. É você quem decide qual conceito geográfico é o mais adequado para sua aula. Nenhum conceito-categoria aqui é estanque ou imutável. Fique à vontade, e traga seu computador ou celular, caso seja possível, para acessar os links que sugeriremos.

Sinto nizese!

O pensador grego Sócrates teve receio de que a escrita prejudicasse a memória das pessoas. Temia que códigos assentados numa tábua de cera enfraquecessem sua memória. Já intelectuais no contexto do início da imprensa de Gutemberg, na Idade Moderna, tiveram receio de que livros trouxessem a banalização da cultura. Qual a sua expectativa para a TV digital?

ZAPe ANDO

Oi, eu sou o professor Luís! Do ponto de vista geográfico, você já pensou sobre como a TV digital pode nos ajudar em investigações sobre assuntos de interesse social? Imagine um aplicativo que faça controle de obras inacabadas ou denuncie serviços públicos prestados de forma precária? E sobre traduções para surdos e mudos na TV, anúncios de vagas de emprego e marcação de consulta médica, você sabia que isso é possível via interatividade na TV? É, sim, e basta utilizar os botões coloridos do controle remoto. diversidades geotelevisivas

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Paisagem: realidade concreta e sensível a partir da TV

A Geografia possui conceitos que nos permitem observar e compreender o espaço geográfico como fruto de interações entre grupos e classes sociais que modificam o espaço natural. As feições dessas transformações são perceptíveis a partir das paisagens. Mas, afinal, o que é a paisagem? A paisagem é a parte percebida pelos sentidos. Ela diz respeito aos aspectos que nos rodeiam, captados pela visão, audição, olfato e tato. Assim, as paisagens expressam significados que precisam ser compreendidos, a princípio, a partir de sua aparência e por meio do olhar de quem as observa. Contudo, quem

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não as enxerga também percebe a paisagem a partir dos outros sentidos. As pessoas podem ter considerações, ideias e avaliações diferentes sobre a mesma paisagem, o que permite deduzir que há uma relação de subjetividade entre as pessoas e as paisagens. A relação do sujeito com a paisagem surge desde muito cedo, quando as crianças insistem em explorar, por exemplo, os ambientes de suas moradias, que é a paisagem mais próxima nos primeiros anos de vida. A curiosidade em relação à paisagem do entorno as instiga na exploração do meio, que por sua vez guarda objetos e símbolos impregnados de significa-


dos sociais. Esse movimento de apreciação da paisagem do entorno é importante, pois contribui para que as crianças não sejam apenas espectadoras da vida. Uma maneira de nos aproximarmos e posteriormente explorarmos a discussão sobre TV e paisagem pode se dar com o uso dos mapas mentais construídos pelas crianças nos anos iniciais da educação básica. Esses revelam, por sua vez, o lugar de vivência das crianças, e como estão distribuídas as forças sociais dos seus antepassados no espaço vivido. Para ilustrar, podemos pensar em crianças quilombolas que, ao desenharem suas comunidades, podem apresentá-las, como na imagem abaixo:

ZAPe ANDO Os mapas mentais são imagens que os homens constroem dos lugares, paisagens ou regiões. Assim, houve na Geografia uma tentativa de se trazer para o campo das técnicas cartográficas essas representações, que, na verdade, devem ser tratadas enquanto fatos cartográficos com significações subjetivas (AMORIM, 1999, p.141).

Rosiane, 10 anos

Eliel, 10 anos¹

Imagem 1

¹ Desenhos elaborados, em 2010, por crianças de uma comunidade quilombola chamada Barro Preto, localizada no município de Santa Maria de Itabira (MG). (ALVES, Aline. Monografia de graduação. UFMG. Território quilombola e escola: percepções do lugar a partir do uso de mapas mentais, 2012)

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A primeira paisagem, à esquerda, abriga uma igreja e a natureza alterada historicamente pela comunidade. Destaca-se na segunda o uso de uma antena parabólica e uma caixa d’água (encanada), ambas uma novidade para as crianças no ano de 2010. Observe que a paisagem abriga em si o velho e comporta o novo. Contudo, o que parece novo para uma criança de uma determinada região pode ser considerado obsoleto para outras. É importante perceber que a paisagem acolhe também as feições da globalização, ou seja, não só os elementos fixos como a construção de casas, vias e aparatos de serviços básicos como água e luz para alguns grupos, mas também os fluxos como os transportes, serviços de correios e a TV com a circulação da informação.

Ao ler a paisagem [com auxílio dos mapas mentais], “a criança estará lendo a sua própria história” (CALLAI, 2005), concretamente retratada nas vivências diárias. Poderá ir, inclusive, muito além! A despeito de seu caráter dinâmico, a paisagem abriga o presente e o passado, omitindo ou expondo as informações e características socioeconômicas e político-culturais das sociedades ao longo do tempo. Com a televisão, @s alun@s podem se reconhecer e/ou serem influenciados por outras paisagens. As cenas televisivas exploram os nossos sentidos, fazendo-nos imaginar os sabores, os odores e as texturas de uma determinada paisagem.

ZAPe ANDO Os fixos são produtos das ações humanas, logo são resultado de intencionalidades que atraem pessoas, comunicação e, dentro do possível, produzem conhecimento. O espaço é resultante das interações entre equipamentos materializados e localizáveis espacialmente, como casas, prédios e indústrias (esses são os fixos). Já os fluxos são aqueles que dão vida aos fixos. O termo remete à circulação de pessoas, produtos, capital, cultura, saberes, dentre outros. Uma escola, por exemplo, enquanto fixo, produz fluxos com o deslocamento dos familiares e responsáveis pelos alun@s; com a circulação de capital no comércio, com a compra de material escolar e alimentação. Esses termos foram criados pelo geógrafo Milton Santos, que trouxe um olhar sensível sobre os territórios e sobre como as pessoas se organizam nele, a partir de forças econômicas e políticas, e reinterpretou a Geografia e as suas formas de compreender o mundo.

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A leitura da paisagem A leitura da paisagem passa pelos conhecimentos e identidades de quem a lê. Ou seja, a relação das pessoas com uma suposta paisagem, próxima ou não, é passível de interpretação a partir das experiências que elas acumulam e reformulam em diálogo com os espaços em que convivem e com quem as rodeia: fisicamente ou virtualmente. Assim, uma criança moradora de uma comunidade de pescadores pode não fazer exatamente a mesma leitura/interpretação de uma paisagem que uma criança da mesma idade que vive em uma metrópole. Dependendo da forma como decide exibir os seus conteúdos, a televisão poderia aproximar ou naturalizar as experiências dessas crianças. Além disso, a paisagem é inerente ao processo televisivo, pois as emissoras de TV colocam no ar a complexidade e o dinamismo de suas produções, a partir de recortes da realidade social de muitos lugares. Enquanto objeto de estudo, a TV nos fornece elementos a priori visuais para problematizar os fluxos, como os de informação, circulação de pessoas e circulação de mercadorias, que ocorrem nas paisagens tele/transportadas para as residências de grande parte da população brasileira. E isso contribui para ampliar o leque discursivo e visual das crianças no período escolar. Então, por que não aproveitar as experiências que @s alun@s acumulam com os meios de comunicação, com a televisão e as paisagens (locais e virtuais) para reinterpretar o espaço? Por exemplo, um@ alun@ do meio rural pode não ter visitado centros urbanos, no entanto, conhece essa paisagem através da TV e dos la-

ços afetivos que pode, ou não, manter com pessoas que vivem no ambiente de lá. E perceber, inclusive, como as ações humanas são distintas na produção desses espaços geográficos. Com a televisão, e com as atuais mídias, nós, professor@s, somos chamad@s a não enrijecer as estruturas hierárquicas de estudo do espaço (da casa para o bairro, desse para o município e assim por diante), pois as crianças tendem a ter consciência cada vez mais cedo das relações entre sua casa e os espaços geográficos muito distantes, aproximados no espaço-tempo graças ao avanço técnico-comunicacional. É possível trabalhar com o conceito de paisagem um pouco mais ampliado, levando em consideração a diferença e o contraste dos elementos naturais e culturais, mas sobretudo promovendo a interpretação de outros temas como meio ambiente e as consequências da destruição da natureza; as diferentes vegetações e climas brasileiros; e os antigos e atuais meios de transporte. Todos elementos veiculados, em alguma medida, pela TV e que podem ser trabalhados em sala de aula numa associação entre conteúdo programático curricular e relações reais de experiência d@s aluno@s com esses temas na TV. É o caso das estações do ano, que podem ser experimentadas de formas diferentes por alguém que assiste a um programa de TV transmitido em tempo real do outro lado do mundo. Na cidade onde esse telespectador mora é verão, e a sensação térmica de calor é percebida fisicamente, ao passo que os seus olhos vivenciam uma experiência diferenciada ao ver, por exemplo, Nova York coberta de neve.

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A sua imaginação vive, através da paisagem, dois tipos de sensação térmica. Você já percebeu, car@ professor@, como as crianças se envolvem com o conteúdo exibido? Tenho um bom exemplo disso. O meu filho, Joaquim, quando tinha quatro anos, gostava muito de assistir ao desenho animado Peppa Pig. Certa vez, um dos episódios mostrava uma paisagem com neve. Enquanto isso, os personagens conversavam e tomavam chocolate quente. Então, o Joaquim me pediu um cobertor, uma touca e ainda me fez preparar um achocolatado. Outro exemplo próximo é o do Papai Noel, um personagem que utiliza vestimentas de inverno, uma vez que no Natal faz frio no hemisfério norte, lugar de onde seria originário. O Papai Noel brasileiro usa as mesmas roupas, apesar de nesse período estarmos em pleno verão. Contudo, a TV contribuiu para legitimar a sua imagem tradicional. Por isso, é tão importante identificarmos exemplos de como despertar n@s alun@s a curiosidade para compreender as diferenças entre o conteúdo exibido por uma tela de TV, a realidade vivenciada no mundo e o conteúdo estudado na escola. Outra experiência que envolve as paisagens audiovisuais abrange assuntos ligados aos períodos históricos específicos, em continentes distantes como o europeu e o asiático, por exemplo, que exigem uma capacidade muito grande de imaginação (não inventiva) por parte d@s alun@s e professor@s. Documentários e filmes exibidos na TV nos transportam para uma realidade não vivida, indo muito além das imagens estáticas do livro didático, pois apre-

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sentam movimento, cor e angulações que enriquecem o conhecimento a respeito de uma paisagem desconhecida. Nesse exercício de reconhecer novas paisagens, @s alun@s-telespectador@s também se defrontam com paisagens que lhes despertam dois tipos de percepção identificados pelo geógrafo sino-americano Yi-Fu Tuan (1980): topofilia e topofobia. O que essas palavras significam? Existem paisagens que suscitam em nós sentimentos de orgulho, amor e pertencimento, e por elas criamos laços afetivos (topofilia). Há, por outro lado, a topofobia, que decorre da paisagem do medo. São imagens que sugerem sentimento de ameaça, insegurança. Por exemplo, uma pessoa do interior que tem medo de se movimentar em grandes centros urbanos, pois vê diariamente notícias sobre a violência urbana. E, ao contrário, pessoas da cidade que têm medo da vida no campo, de suas matas, seus animais, do isolamento, ou até mesmo medo de ficar longe das tecnologias. Medos e uma dose de conceitos preconcebidos. Assim, o conceito de paisagem e sua apreciação poderão ser trabalhados a qualquer momento em sala de aula. Longe de ser estática, a paisagem guarda fluxos e pontos de vista de quem nela vive e a interpreta. A paisagem é puro movimento, e guarda em si elementos naturais e sociais produzidos pelas diferentes culturas humanas. É passado e presente num movimento de transformação contínua, que guarda valores e sentimentos, como amor e afinidade, daqueles que nela vivem, sejam crianças, adultos ou idosos.


˜ Região: mapeando a TV ou a TV nos mapeando?

O mundo está em constante modificação e a ação humana é uma das principais responsáveis por esse fato. Até mesmo no plano das ideias demarcamos, nomeamos e qualificamos o espaço e, principalmente, suas partes, a que comumente chamamos de regiões. Como categoria de análise do espaço, o conceito de região ganha fundamentação teórica na ciência geográfica e passa a ser visto como resultado das interpretações e decisões humanas. Em outras palavras, a região só se torna região com a análise humana, que demarca e distingue as partes do espaço, como: região natural, região econômica, região periférica e região industrial. O conceito de região tem o objetivo de capturar particularidades ou sutilezas expressas no ambiente que nos cerca. Os recortes do espaço pressupõem a busca por uma uniformidade de aspectos socioeconômi-

cos, culturais, físicos ou mesmo políticos, que distinguem uma região das demais áreas. Ou seja, a região pode ser compreendida como um recorte determinado por práticas sociais ou por fatores técnicos. No plano político, o Brasil é dividido atualmente em cinco regiões (Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste), uma regionalização estabelecida na década de 1960 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levando em conta o ambiente natural e econômico. Contudo, o mesmo órgão em 1940 nomeava as cinco regiões em: Norte, Centro, Nordeste, Leste e Sul. Bahia e Minas Gerais se encontravam ambos na região Leste. Sob o ponto de vista do acúmulo de ciência, tecnologia e informação no território brasileiro, o geógrafo Milton Santos e a geógrafa Maria Laura Silveira elaboraram uma proposta de regionalidiversidades geotelevisivas

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Imagem 2: Mapa da regionalização proposto por Milton Santos e Maria Laura Silveira Créditos: Carlos Henrique Pires

zação do país, na década de 2000, dividindo o Brasil em quatro regiões (ver imagem 2): Amazônica; Nordeste; Centro-oeste e Concentrada. Essa regionalização explica em parte o fato de a TV brasileira ter surgido na região denominada Concentrada: eixo Rio-São Paulo, estados favorecidos, historicamente, pelo maior investimento econômico do país. Em resumo, as regiões são definidas a partir de uma elaboração intelectual (e política) marcada por determinados contextos históricos. Assim, as regiões naturais e as regiões que sofreram intervenções humanas se combinam, pois há uma integração do espaço humano com o espaço físico e, portanto, a definição ou redefinição do espaço, em região, perpassa pe-

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ZAPe ANDO Richard Hartshorne (1899-1992) foi um dos expoentes do conceito de região. No plano epistemológico, defendia a ciência geográfica como aquela que estuda o modo como os fenômenos da natureza e os fenômenos humanos se combinam e se interagem. Isso resultaria na possibilidade de uma determinada porção do espaço ser identificada como região, dadas as suas peculiaridades.


las interpretações e intencionalidades dos grupos sociais. E como se dá a história da televisão brasileira, se considerarmos o processo de regionalização? No meio televisivo, as primeiras transmissões ocorreram de forma regional, em São Paulo (1950) e no Rio de Janeiro (1951), estados que reuniam à época as melhores condições técnicas, políticas e econômicas para sua implantação. Com o aprimoramento desse veículo tecnológico e informacional, foi possível realizar programas que ganhariam destaque em âmbito nacional. Essa seria a forma como a rede de televisão brasileira se estabeleceria. Além disso, a regionalização da TV atendeu às necessidades e interesses de distribuição do sinal, pois o funcionamento de uma rede de

ZAPe ANDO A Constituição de 1988, no Capítulo V, que trata da Comunicação Social, no artigo 221, prevê: Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. Para conhecer melhor tais discussões, acesse a cartilha on-line “Liberdade de expressão e direito à comunicação” (ver sites indicados ao final deste caderno).

televisão, principalmente da TV comercial, é fundamentado na divisão de tarefas entre três tipos de estação. A primeira é a geradora, que produz e transmite a programação televisiva. Possui sedes, geralmente, nas capitais do país. São conhecidas também pelo nome de “emissoras” e algumas delas, principalmente as do eixo Rio-São Paulo, produzem conteúdos de caráter programático mais abrangente, como novelas, entretenimento e telejornais, de relevância nacional e internacional. Teoricamente, essas geradoras, também chamadas de cabeças de rede, além de cumprirem uma série de regras técnicas, devem garantir conteúdo e programação que respeitem a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira. Em outras palavras, há barreiras legais para a veiculação de conteúdo unificado em todas as regiões brasileiras. Já as afiliadas de emissoras seriam as empresas responsáveis por repassar o sinal da geradora, principalmente em capitais ou cidades medianas em que a emissora não está presente. Elas, assim como as geradoras, possuem concessão para explorar um canal por meio do Ministério das Comunicações. A permissão é restrita, porque há um limite de espaço dentro do espectro eletromagnético para uso das faixas de frequência, o que limita o alcance territorial, o número de espectadores e o valor publicitário. Amparadas por legislação nacional, as afiliadas têm resguardada também a garantia de produção de conteúdo televisivo com temas ligados à cultura e economia das regiões onde estão localizadas. Essa atividade, em geral, ganha destaque na produção de telejornais e programas culturais e educativos. Quanto maior a produção de uma afiliada, mais autonomia ela poderá ter em relação à geradora. Na maioria das vezes, as grandes empresas que financiam as TVs, através de anúncios, preferem negociar com as geradoras. Talvez se os investimentos em propagandas voltadas às TVs locais fossem mais altos, poderíamos ter uma programação que valorizasse produções locais diversidades geotelevisivas

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e a exibição de conteúdos regionais. Por fim, as retransmissoras, que se localizam em cidades menores, apenas replicam o conteúdo transmitido pelas afiliadas, com a função de alcançar todos os domicílios dentro de sua área de cobertura. Agora que você já conhece essa hierarquia da rede de TV, da geração de conteúdo à distribuição do sinal, é preciso compreender os motivos da regionalização, do ponto de vista da produção no interior das afiliadas. As afiliadas têm o papel de apresentar as singularidades da região a que pertencem, enaltecendo as suas diferenças enquanto riqueza do ponto de vista da representatividade e difusão da pluralidade de conhecimentos. Você já teve a oportunidade de perceber que o telejornalismo da região onde você vive é diferente de outras regiões no mesmo estado? Já notou diferenças na paisagem de cenário de fundo ou na imagem panorâmica mostrada pelo cinegrafista? As afiliadas que você acompanha valorizam a cultura da sua cidade? Mes-

mo quando produzem programas esportivos e telejornalísticos locais, as afiliadas seguem um padrão estabelecido pelas emissoras, embora isso venha mudando aos poucos. Muitas técnicas de narração, por exemplo, ainda são seguidas pelas afiliadas, mas os sotaques já não são completamente “neutralizados”, como em outras épocas da televisão. Assim, há uma tendência de os apresentadores e repórteres locais incorporarem o sotaque pronunciado na região onde atuam. Além de ser uma forma de respeito às diversidades culturais, ao ouvir o sotaque da sua região sendo pronunciado na TV, @ telespectador@ se reconhece nos conteúdos que acompanha e se sente de alguma forma representado. Há casos de programas produzidos por emissoras regionais que foram promovidos para exibição em rede nacional, pelo nível de qualidade, criatividade e sucesso local, como, por exemplo, o programa infantil Dango Balango, da Rede Minas, que foi para a TV Brasil, e o programa esportivo Vrum, da

ZAPe ANDO Os canais de sinal aberto são de posse do Estado e podem ser concedidos publicamente por um prazo determinado de 15 anos, por meio de processo de licitação. Em outubro de 2016 tivemos um marco histórico: o vencimento do prazo de concessão de muitas emissoras privadas. Na ocasião, a sociedade civil organizada manifestou-se sobre a necessidade de mudança das regras para renovação. O atual presidente sancionou em março de 2017 uma lei que muda as regras para renovação de concessões de TV e rádio. A medida provisória, já aprovada pela Câmara, retira do texto a necessidade de as emissoras terem “cumprido todas as obrigações legais e contratuais, mantida a mesma idoneidade técnica, financeira e moral, e atendido o interesse público” para renovação da concessão. Consideramos o tema de interesse público!

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E não são somente os serviços de telecomunicações que possuem legislação de respeito à diversidade étnica e cultural brasileira. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB – Lei n9.394/96) também contribui para se pensar uma escola que compreenda e respeite as diferenças. Do ponto de vista da afirmação de identidades historicamente negadas, temos a Lei 11.645/08, que trata da obrigatoriedade do ensino de história da África e cultura afro-brasileira, bem como culturas indígenas, nas escolas da educação básica, públicas ou privadas. Um direito que inclui no calendário escolar o dia 20 de novembro como “Dia da Consciência Negra”. Com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação para as Relações Étnico-raciais você tem acesso a orientações, princípios e fundamentos conceituais para promoção de práticas pedagógicas de combate ao racismo, à discriminações e conhecimento sobre movimentos sociais da luta antirracista no país, que elaboram e propõem a promoção de políticas públicas de ações afirmativas, ou seja, políticas temporárias que visam a corrigir desigualdades estruturais em nossa sociedade brasileira.

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TV Alterosa, que foi para o SBT. Ambas são emissoras mineiras. Então, como fica o processo de regionalização televisiva com a chegada da TV digital? Com a mudança do sinal analógico para o digital, há expectativa do aumento do número de redes de TV aberta no Brasil. Novos concorrentes para as principais emissoras no país podem surgir, a partir do desligamento do sinal analógico. Além disso, abre-se a possibilidade de grandes grupos regionais de afiliadas se tornarem redes de televisão independentes com o sinal digital, pois haverá aumento exponencial de público, como resultado da melhora na qualidade de som e imagem e de tantas características permitidas pela tecnologia de TV

digital. Como já dito, esse processo de “independência” necessita da captação de grandes anunciantes. Dessa forma, a TV digital tem muito a contribuir para a diversificação de programas e conteúdos na TV aberta brasileira, de forma local e regional. Apostamos num futuro em que se reduza a hegemonia de algumas redes de TV e se democratize a possibilidade de assistirmos a programas televisivos de diferentes regiões do país e com multiprogramação, ou seja, a recepção de programas simultâneos de uma mesma emissora ou afiliada, o que hoje só é regulamentado para as TVs públicas (por exemplo, a TV Senado e a TV Cultura oferecem multiprogramação). diversidades geotelevisivas

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A influência dos aspectos físicos na transmissão do sinal de TV Assim como o sinal analógico, o sinal digital é transmitido por meio de ondas eletromagnéticas. As informações de áudio e imagens “viajam” nessas ondas. Contudo, o sinal analógico de TV terrestre é bastante suscetível a obstáculos ou interferências no momento da transmissão. Quando as interferências ocorrem, as imagens e áudios chegam ao aparelho de TV com chuviscos, “fantasmas”, alterações no áudio, ruídos e distorção de cor. Isso ocorre porque, no modo analógico, as mensagens de áudio e imagem são transmitidas separadamente no interior de uma determinada faixa de frequên-

cia. No modelo de transmissão do sinal digital, o áudio e a imagem são compactados, encapsulados e transportados num mesmo pacote de dados, por meio de códigos binários (0 e 1); e por causa das tecnologias de modulação desse sinal (a modulação é o processo de inserção e ajuste das informações a serem transmitidas pela onda portadora), o sistema de TV digital é mais robusto contra interferências diversas. Isso garante a recepção de imagem e som com excelente qualidade e, ainda, o envio de outros serviços, como a interatividade, o guia de programação, a portabilidade e a mobilidade (ver mais informações no caderno Materialidades televisivas). E é exatamente por utilizar a linguagem binária que não existe um meio-termo

ZAPe ANDO O local onde o sinal não pode ser recebido devido a barreiras físicas (naturais ou artificiais) é denominado de “área de sombra”. Trata-se de uma zona que, mesmo coberta por serviços de telecomunicações, recebe com dificuldades o sinal emitido, ou não o recebe. Isso porque a onda se propaga em linha reta e, nesse caso, enfrenta grandes obstáculos geográficos ou físicos (TELECO, 2015).

Em 1950, foram descobertas mais duas plataformas de transmissão do sinal de televisão: o cabo e o satélite. O cabo foi uma solução encontrada para aqueles que não conseguiam receber o sinal de TV por antenas de radiodifusão ou recebiam-no com falhas, devido à dificuldade de as micro-ondas eletromagnéticas atravessarem obstáculos, como prédios e relevos acidentados. Conforme DeFleur e Ball-Rokeach (1993), a história mais aceita sobre o desenvolvimento do cabo diz respeito ao eletricista norte-americano Robert Tarlton, da cidade de Lansford, na Pensilvânia. Ele teria constatado que as características montanhosas de sua localidade impediam a chegada do sinal de TV com qualidade às residências de seus clientes. Isso o levou a realizar uma experiência bem-sucedida e que seria mais tarde reproduzida: instalar uma antena num ponto alto da cidade para que ela captasse o sinal e

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ZAPe ANDO o retransmitisse para os cabos conectados às casas. A transmissão do sinal de TV por meio de satélite, por sua vez, além de ter permitido o envio de informações de uma estação a outra, trouxe consigo a possibilidade de transmissão de programas ao vivo de qualquer ponto da Terra, por mais remoto que fosse. O primeiro satélite artificial foi o Sputnik 1, lançado pela União Soviética durante a Guerra Fria, em 1957. A partir de então, travou-se a corrida espacial com os Estados Unidos. [...] De lá para cá, muitos outros satélites de transmissão e comunicação foram lançados na órbita da Terra. Os sistemas de TV a cabo e satélite possibilitaram a ampliação da oferta de canais – inclusive internacionais –, trouxeram ganhos à qualidade do sinal, o acesso a vários serviços – incluindo a vídeos sob demanda e à gravação de programas – e levaram as emissoras a pensar numa programação mais segmentada, dedicada a editorias específicas, tais como: jornalismo, infantil, música, esportes, cinema, documentários, educação, gastronomia, entretenimento, cultura, conteúdo adulto e saúde. Porém, esses benefícios eram estendidos apenas aos assinantes. Quem não podia pagar mais tinha duas escolhas: ou comprava uma antena parabólica, se morasse num local de “sombra”, ou se conformava em receber o sinal da TV aberta terrestre, que muitas vezes trazia, dependendo do local, sérios problemas de interferência (chiados e fantasmas), de acordo com a jornalista e acadêmica Deisy Feitosa (2015).

para a recepção do sinal digital. Costumamos dizer que é “0 ou 1”: ou o sinal chega no domicílio em perfeito estado, ou não é recebido. Por isso, às vezes, o sinal digital oferece uma cobertura territorial de transmissão mais limitada. Principalmente em nosso país, que possui extensões territoriais semelhantes às de um continente, e uma superfície terrestre diversa em seus aspectos físicos, como o relevo, a vegetação e a hidrografia que, muitas vezes, interferem no compartilhamento do sinal de TV. Para vencer adversidades e distâncias, dentre outros motivos, há a necessidade de uso da frequência de canais de TV geridos por estações retransmissoras, uma vez que essas podem retransmitir a produção das emissoras (ou mesmo das afiliadas). Sabemos que os elementos físicos do território brasileiro interferem na propagação do sinal, criando barreiras difíceis de serem vencidas. Então, apontaremos características geográ-

ficas que limitam, mas também colaboram nesse processo de circulação do sinal de TV pelo ar. Árvores de matas ou florestas, por exemplo, absorvem parte da energia das ondas eletromagnéticas que levam as informações televisivas até as nossas residências, como no caso dos planaltos localizados na porção sul do país, representados pelo Domínio das Araucárias.

Imagem 3: Domínio ​​ das Araucárias. Crédito: MAndrade

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Sinto nizESE!

Olá! Sou a Pixelvânia! Quero lhe contar uma coisa que aconteceu na escola. Outro dia o professor de Português nos deu um texto para interpretação. Lá dizia que as rádios com as frequências AM e FM atingem diferentes distâncias. Eu aprendi que as duas possuem sinal analógico e que, em breve, todas se tornarão digitais. Fiquei me perguntando: o que farão com o espaço do espectro eletromagnético utilizado para a transmissão do sinal do rádio analógico? Eu sei que no caso da TV, o sinal analógico servirá para telefonia móvel! Parece que está vindo coisa boa no ar!!! Hahaha! Adoro trocadilhos.

De outro lado, existem os relevos planos, que facilitam a distribuição do sinal, podendo até mesmo colaborar para a disseminação das ondas de TV. Contudo, as árvores desses ambientes podem ser uma barreira. É o caso de algumas faixas de transição, com destaque para o Pantanal, no centro-oeste do país. Esse lugar, embora apresente um relevo plano, possui vegetações compostas por floresta tropical, equatorial e cerrado, que reduzem a eficiência da transmissão.

Imagem 4: Complexo do Pantanal Crédito: Alexandre Kozoubsky.

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Regiões planas, com vegetação baixa e espelhos d’água, favorecem a circulação das ondas eletromagnéticas. Podemos aqui citar as pradarias, formadas principalmente de gramíneas com ecossistemas alagados. Esse domínio é conhecido também pelo nome de Pampa, e se localiza na região sul do país. Já ao norte do Brasil, o mesmo ocorre com a hidrografia do Domínio Amazônico, dada a enorme quantidade de cursos de água que formam essa bacia.

Imagem 5: Serra Geral – Sul do Brasil Crédito: Alex Pereira.


Imagem 6: Encontro das águas do Rio Negro e Rio Solimões – Manaus/AM Crédito: Lilian Bernardes. Fonte: Arquivo pessoal.

Entretanto, os maiores desafios da disseminação das ondas de TV se encontram no próprio relevo, com destaque para a região sudeste. O relevo de planaltos, representado no domínio morfoclimático de mares de morros, causa interferências nas ondas eletromagnéticas devido à variação da altitude, motivo pelo qual as estações de TV instalam antenas no topo de serras. No caso de residências localizadas logo atrás ou no sopé de uma serra, é bem provável que a captação do sinal seja mais difícil, porque o sinal é transmitido em linha reta.

Imagem​​ 7: Serra do Curral / Belo Horizonte – MG. Crédito: Prefeitura de Belo Horizonte.

Sinto nizESE!

Oi! Eu sou o Diginácio. Você já percebeu que há locais que encontram dificuldades em receber o sinal de TV aberta terrestre? Esses lugares estão localizados nas chamadas “zonas de sombra”, cuja recepção do sinal é comprometida por barreiras geográficas (naturais ou produzidas pela humanidade). Então, as pessoas usam as antenas parabólicas, que recebem o sinal enviado ao satélite pelas emissoras. Nesse caso, o telespectador não recebe a programação local, produzida pelas afiliadas. O que é uma pena, pois, quase sempre, recebe conteúdos produzidos pelas emissoras do eixo Rio-São Paulo. Além disso, nos momentos em que deveriam entrar as propagandas ou programas regionais, a tela fica sem imagem e sem som. diversidades geotelevisivas

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Antenas Antenas domésticas, internas ou externas, servem para recepção do sinal das ondas eletromagnéticas de TV. Entretanto, situações adversas provocadas pelo clima – ventos e chuvas – podem prejudicar a recepção do sinal. Essas interferências fazem com que a imagem e o som, na recepção analógica, cheguem com alterações, como “fantasmas ou chiados”. Já na recepção digital, se isso ocorrer, o sinal será interrompido (como já dito, não existe um meio-termo na transmissão digital), e é preciso reposicionar a antena em direção ao transmissor.

É muito importante conhecer os aspectos físicos da sua região para saber o tipo de antena a ser adotado em sua residência. A antena UHF (Ultra High Definition) é a adequada para a recepção do sinal digital. Existem as antenas UHF internas e externas. A antena externa, popularmente conhecida como “espinha de peixe”, é aquela que oferece maior potência para captação do sinal de TV, e é recomendada para regiões mais baixas ou cercadas por barreiras físicas, como prédios, árvores e morros. Já a antena interna é recomendada para domicílios em regiões mais elevadas e próximas às antenas (transmissoras e retransmissoras) que amplificam e distribuem o sinal das emissoras.

Imagem 8: Serra do Curral – Torres de transmissão em Belo Horizonte/MG Crédito: Nelson CLM

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Neste tópico, discutimos a categoria região, sua interpretação e organização a partir dos interesses humanos; refletimos sobre como estão distribuídas as forças político-econômicas que regem o fazer televisivo, falamos das regulamentações jurídicas para concessão, uso e veiculação de conteúdos na TV e aprendemos sobre as condições físico-ambientais (naturais ou modificadas pelos grupos sociais) que favorecem ou limitam a propagação de ondas eletromagnéticas sobre a área geográfica brasileira. Espera-se que com isso, você, professor@, reforce entre os seus alunos a importância de interpretar a região onde se vive do ponto de vista cultural, físico, político e econômico. O nosso próximo passo é abordar a relação entre nossas experiências cotidianas no lugar e os modos como a televisão opera e nomeia os lugares dessas experiências. Mais especificamente, analisar como o lugar – ambiente de experimentação do mundo – tem sido afetado pela cultura da mídia. E como esse processo de afetação tem um papel significativo em nossas aprendizagens e modos de viver o cotidiano. Mas, afinal, o que queremos dizer quando usamos a categoria “lugar” na Geografia?

O raio de alcance de um sinal televisivo é limitado. Isso significa que, quando atinge o seu limite, ele pode ser retransmitido por uma outra estação ou então reutilizado, para que a mesma frequência seja operada por outra emissora, em outra região.

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O lugar e a ˜ televisão: o tecer das experiências cotidianas Para a Geografia, o lugar emerge da experiência cotidiana das pessoas, tornando-se “lugar” no contato do eu com outros sujeitos (TUAN, 1983). Nesse sentido, não há lugar sem identidades, sem subjetividades e sem significados. Ou seja, a afeição das pessoas ao lugar constrói-se a partir dos seus sentimentos de pertencimento. Assim, devemos ler o lugar como um produto da ação humana em movimento, e não apenas como uma informação cartografada.

O lugar na Geografia A interpretação do conceito de lugar dentro das correntes teóricas da Geografia ganhou diferentes definições a partir da década de 1970. Antes, a Geografia tradicional era voltada à relação homem/natureza; hoje as discussões foram ampliadas com a Geografia humanista e crítica, que também discute a relação homem/

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sociedade. Assim, o conceito de lugar passou a ser entendido também como a relação dos indivíduos entre si e com o espaço que ocupam. Para a Geografia humanista, as experiências intersubjetivas são elementos que nos ajudam a compreender os sentimentos de apego e pertencimento experimentados entre as pessoas e o espaço em que vivem; e como as pessoas modificam esses espaços em razão das intencionalidades ali depositadas. De modo que o espaço se torna lugar a partir de uma leitura oriunda daquele que nele habita, indo muito além da descrição de aspectos aparentes que a paisagem exprime, e abarcando também os símbolos visíveis e invisíveis ali inscritos. O arcabouço humanista na ciência geográfica se inspira na fenomenologia e em geógrafos de diferentes nacionalidades. Cada qual trouxe contribuições singulares para pensarmos o conceito de lugar. O estadunidense David Lowentall (1961) sugeriu as “ge-


ografias pessoais”, ao defender que qualquer pessoa pode ser um@ geógraf@, desde que viva e reflita sobre sua relação com o lugar. O sino-americano Yi-Fu Tuan e a irlandesa Anne Buttimer diferenciam os conceitos de espaço e de lugar a partir da intersubjetividade que o último expressa: a relação dos indivíduos com o mundo vivido. Buttimer (1982) se inspirou em geógrafos franceses do início do século XX, ao afirmar que o “sentido de lugar” é preservado nos hábitos rotineiros vividos pelos indivíduos. E isso ocorre apesar de as alterações no campo técnico-informacional nos permitirem relações cada vez mais alargadas, como aconteceu com a chegada da telefonia, da TV e da internet. Já entre as contribuições de Tuan, destaca-se o tempo como fato que interfere diretamente na relação entre o indivíduo e o espaço, em que, quanto mais se vive em um lugar, mais intensa e significativa é sua experiência. Tanto Buttimer quanto Tuan revelam que o apreço dos indivíduos pelo movimento da vida, em outras escalas como as que podemos visualizar pela TV, baseia-se numa interpretação mais seccionada e distante do sentimento de apego. Portanto, o espaço se torna abstrato com a distância, embora conhecido pelas imagens, áudios ou tato.

De modo geral, a categoria de análise ora apresentada leva em consideração o indivíduo no exercício contínuo de significar e ressignificar o espaço em que vive. Um sujeito ativo, e não passivo, quando se relaciona socialmente com outros, experimenta diariamente o espaço e o traduz por meio do sentimento de afeição, e não somente por meio de elementos aí contidos. Sem deixar de levar em consideração a existência, em seu convívio, de elementos próprios do global. Ele, pelo contrário, utiliza-os para afirmar seu pertencimento (identitário e cultural) com o espaço em que vive – transformando esse espaço em lugar de resistência. Isso redefine o lugar como uma realidade singular no mundo. A escolha pela “categoria lugar”, a partir da Geografia humanística, não exclui outras leituras que a aproximam, por exemplo, da Geografia crítica. Há autores que veem confluências no modo de produção capitalista com o modo de pensar da corrente humanística. Isso significaria a integração do modo de pensar o local e o global (e suas desigualdades) com as relações e experiências ligadas aos afetos, vivências e solidariedades. A brasileira Ana Fani Carlos, por exemplo, fala da “hierarquização dos lugares gerada pelo modo de produção

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capitalista”. Contudo, ela se aproxima também da abordagem humanista (RODRIGUES, 2015, p. 5045), ao definir o lugar como “porção do espaço apropriável para a vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores” (CARLOS, 1996, p. 201). Assim, pensar a TV e sua influência no cotidiano das pessoas é pensar em seus lugares sociais de vivência. Por isso, apesar de ser um objeto comum em grande parte do mundo, esse veículo de comunicação se torna singular quando analisado a partir de determinados indivíduos ou grupos, espaços e tempos. Nas páginas que se seguem, aproximamos mais a relação da televisão com nossos lugares de experiências cotidianas.

A TV no lugar Por se colocar como um lugar de fala importante na contemporaneidade, a televisão desenvolveu, ao longo de sua história, formatos e programações que afetam as experiências cotidianas de todos nós. No dizer de Rosa Bueno Fischer (2002), o modo de a televisão operar no processo de “constituição de sujeitos e subjetividades” faz com que se produzam “imagens, significações e saberes que de alguma forma se dirigem à ‘educação’ das pessoas”. Assim, o “lugar mídia” sintoniza partes de nosso cotidiano permeável e áspero e, através de sua diversidade linguística e de suas programações, ordena o mundo em que nos é dado viver. No caso específico da televisão, há uma construção de narrativas sobre o mundo e sobre os lugares que nos faz perguntar geograficamente: como a televisão interfere ou afeta os lugares afetivos das nossas experiências diárias? No ambiente familiar, por exemplo, a correria e o cansaço do trabalho reduzem muito o contato entre os membros de uma família. Os momentos de encontro nessa ambiência acontecem geralmente ao final do dia e, em alguns contextos, reduzem-se aos horários de telenovelas, filmes, documentários, séries e telejornalismo.

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Esses momentos televisivos na família podem comportar conversas, partilhas e sensações sobre representações, discursos e/ou imagens. As notícias do telejornal podem pautar conversas sobre o bairro, sobre acontecimentos nacionais e internacionais, sobre saúde e beleza, sobre o time de futebol e sobre nossos modos de olhar outros lugares e paisagens. Portanto, o nosso cotidiano é atravessado pela mídia televisiva, que afeta nossas relações afetivas, sociais e até físicas. Em termos físicos, o aparelho televisivo, além de estar presente nas salas, nos escritórios, na cozinha e nos quartos das residências, pode ser encontrado em muitos outros lugares da nossa convivência diária, tais como: restaurantes, bares, hospitais, transporte público e consultório dentário. Diante disso, pode-se analisar com os alunos: como a presença da TV interfere na construção dos ambientes, das relações entre os grupos sociais? Como contribui para aproximar o que se encontra distante e/ou distanciar o que se encontra próximo? Para os diversos grupos sociais, o aprendizado sobre modos de existência e modos de compreender o nosso lugar de vida e o lugar do outro se faz com a contribuição inegável dos meios de comunicação. Mais que fontes básicas de informação e lazer, os meios de comunicação se colocam como um lugar extremamente poderoso no que tange à produção e à circulação de uma série de valores, concepções e representações relacionados a um aprendizado cotidiano sobre quem somos nós e como lemos e experimentamos nosso lugar e o do outro no mundo. Em suma, segundo Fischer (2002), os espaços televisivos constituem – ao lado da escola, da família e das instituições religiosas – um lugar de formação/educação. Essa autora trabalha com a hipótese de que a TV (na condição de meio de comunicação social, de linguagem audiovisual ou de um simples eletrodoméstico) tem uma participação decisiva na nossa formação como pessoa e/ou sujeito na contemporaneidade. Ou seja, a televisão é parte integrante dos complexos processos de veiculação e de produção de


sentidos em nossa constituição como sujeitos, os quais por sua vez estão relacionados a modos de conhecer, de ser, de pensar, de se relacionar com a vida e, também, a modos de ler nossas experiências no mundo. Outro elemento importante é o fato de que, ao ocupar os lugares de nossas experiências diárias, a televisão é responsável por parte

de nossas memórias, a saber: da nossa infância na casa dos pais, da relação com os nossos vizinhos e amigos, entre outras tantas memórias. A história da professora Shirley Santos, que atua na educação básica de Belo Horizonte, é um relato interessante sobre essa relação da televisão com os lugares de nossas memórias infantis. Vejamos!

A TV FUSCA Ela não entendia muito bem por que seu pai ainda possuía aquele carro. Carro? Sim, aquele fusca branco 66, há vinte anos mal saía da garagem, a não ser quando o pai resolvia que o “Poisé” precisava esticar as pernas, quer dizer, as rodas. Lavava, polia, lustrava, sentava em um dos bancos cobertos com um tapete de retalhos, ligava o som, ouvia “Eduardo e Mônica”, olhava para o portão, mudava a música, tirava uma flanelinha amarela do porta-luvas, limpava o volante e seu olhar se perdia em todos aqueles movimentos que ele, religiosamente, fazia questão de repetir a cada semana. Até insidiversidades geotelevisivas

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nuava uma curva à esquerda, outra à direita, mas poucas vezes ouvia-se o som daquele motor. Para a menina, havia algo mágico entre os dois e ela ansiava em descobrir um dia o segredo que os fazia tão cúmplices. O sol pouco piscou naquela manhã. Um raio ou outro, vez ou outra, acertava diretamente seus olhos, mas a menina sabia que aquela indecisão do sol em brincar de pique-esconde trazia, nas entrelinhas, nos “entrerraios”, alguma notícia especial... Quase não houve tempo de encaixotar tudo. O caminhão tinha pressa. Mas a menina não queria deixar nada para trás. Afinal, uma vida resumida em uma bicicleta vermelha, herdada de seu pai, uma boneca cujos cabelos teimavam em se “descolar” a cada penteado, alguns poucos livros que sua mãe trouxera como lembrança dos tempos de escola e seu presente do último aniversário: uma TV portátil amarela que ficava em uma cadeira em seu quarto que, segundo ela, era o lugar mais confortável de sua casa. Tudo pronto! A buzina do caminhão alertava quanto à demora. O pai, após todo o ritual, retirou o fusca da garagem para seguir à frente do caminhão. A mãe e o irmão iriam na boleia. E a TV? O pai sugeriu que a enrolasse em um cobertor para que não estragasse. Mas, e se a estrada fosse esburacada? O pai contava que a nova casa ficava em um lugar de acesso “aventuroso”... A menina sempre achava que o pai usava aquelas palavras para deixar as coisas mais poéticas! Ele sabia das “coisas”... Como a menina, apesar da pouca idade, tinha um poder de convencimento daqueles, conseguiu convencer o pai a irem, a TV e ela, no banco de trás do “Poisé”. Ah, essa seria a primeira vez que a menina viajaria naquele fusca. Na verdade, foram poucas as saídas, e aquela, tendo a TV por companheira, fazia-lhe muito bem! O pai dizia que não era longe, mas, afinal, por que estava demorando tanto? Por que o carro andava tão devagar? O pai estaria prolongando a viagem para que tivesse a mesma sensação que ela, abraçada à sua TV? Caso fosse isso, estaria tudo bem, afinal, não era sempre que se ouvia aquele motor. E muito menos uma menina abraçada àquela TV enrolada em um cobertor suspirar tanto, vendo seu pai, literalmente, fazendo as curvas que tanto treinava na garagem. A poeira encobria seu olhar. Pouco a pouco uma casinha branca surgia entre as árvores. E o pai tinha razão, dizia que ela iria gostar da casinha com alpendre e do pé de pitanga ao lado da cisterna. Ela gostou... e gostou muito. Colocar tudo no lugar era razoavelmente fácil. A mãe já havia arquitetado tudo. Planejamento era com ela mesma! Sabia exatamente o melhor lugar para cada objeto. Mas, no quarto da frente, com janela azul, apenas uma cama, uma cômoda e a cadeira aguardavam a menina e sua companheira de viagem enrolada no cobertor xadrez. Aquele momento era de descoberta. A casinha branca lembrava a casa da avó, sem o pé de manga em que subia para se esconder dos primos, mas com o pé de pitanga, que, aos olhos da menina, parecia muito mais atraente e delicado, principalmente por suas frutinhas lembrarem pequenos corações, iguais aos que ela colocava em todos os pingos dos “is”.

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O dia foi pequenino para tanta curiosidade. E os poucos raios de sol que ainda restavam “alaranjaram” aquela tarde de outono. A menina, que não se cansava de admirar a vista com bracinhos apoiados no parapeito do alpendre, conseguia avistar com fascínio a tudo, mas sentiu que era hora de ajeitar as coisas no quarto e “aconfortar” sua pequena companheira amarela na cadeira. Havia algo diferente no ar. A menina sabia que aquele lugar em nada se assemelhava à sua antiga casa, mas, somente ao esconder do sol, pôde perceber que o brilho vindo da cozinha era da vela mariana que sua mãe, providencialmente, pedira ao pai para comprar aos montes. Como se uma fagulha daquela luz caísse sobre a menina, de ímpeto, correu ao quarto para confirmar aquilo que sua cabecinha insistia em não querer acreditar. Como poderia, naquelas condições, apesar de todo o conforto da cadeira, a sua TV amarela não funcionar? Naquele instante, segurar o disparar do coração era algo inevitável, afinal, aquele havia sido um presente muito sonhado. Mas para que presente tão esperado se, agora, sua voz havia sido silenciada? A menina já não mais se encantava com as pitangas em forma de coração, nem com a vista, acomodada ao parapeito do alpendre. Ia, vez ou outra, até o quarto para, com o olhar, consolar sua TV que, na cadeira, sem o brilho habitual, pouco inspirava aquela cabecinha tão sonhadora. O pai, que por vezes empregava uma palavra e outra para despertar o lirismo recorrente da menina, ainda não descobrira palavra capaz de deixá-la feliz. Não era certo, mas, naquele momento, mesmo com o sol “tilintante” no alpendre da casa, o pai percebia que a menina ansiava por outro sol. Nos dias que se seguiram, a calmaria do lugar contagiou a todos, como que embalados ao vento. Não a menina! Que, da janela azul do seu quarto, revia atentamente o ritual do pai, que lavava, polia, lustrava, sentava em um dos bancos cobertos com um tapete de retalhos, ligava o som, ouvia “Eduardo e Mônica” e continuava com a sua cumplicidade explícita com o carro. Algo a fascinava ao observá-los, mas ainda não sabia bem o que era! Domingo! Na noite anterior, pai e mãe conversaram sobre a menina, sobre a TV amarela e o quanto tudo aquilo, todo o novo, era novo demais para ela. A mãe fechou a porta. Era cedo! E, com uma sacola estampada e alças de couro, passaram pelo alpendre. Ao longe, avistava-se um banquinho de madeira ao canto da estrada. Pelo desgaste do chão, sabia-se que, naquele lugar, apoiavam-se os pés daqueles que se assentavam no pequeno banco de madeira. Não demorou muito! A mãe já sabia que os instantes para a passagem do ônibus seriam breves. Tudo a seu tempo... naquele lugar cujo tempo mais parecia esbanjar tempo. A mãe, com cuidado, apoiava a sacola estampada no colo. O irmão, embalado pelo

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sacolejar do ônibus, apoiava a cabeça sonolenta no braço da mãe. A menina sentou-se à frente, ao lado de um senhor que carregava um galo garnisé embaixo do braço, presente ao neto que fizera aniversário no domingo anterior, ele dissera. Não demorou muito a chegar. Quase todos já haviam descido no caminho. A mãe, o irmão e a menina desceram apressadamente, antes mesmo que a poeira levantada pela partida do ônibus pudesse alcançá-los. O sol daquele dia despontava imponente. A menina apenas abria uma frestinha de olho para enxergar o outro lado da rua. Aquele era o lugar... A mãe retira da sacola algo que não parecia estranho à menina. Recentemente ela havia visto o pai retirando aquele objeto do carro. Não sabia exatamente para que servia, mas percebeu que, nos rituais de cumplicidade com o fusca, Eduardo e Mônica já não narravam a sua história de amor. O senhor que pegou o objeto disse que precisariam esperar por duas ou três horas. Não importava o tempo. O ônibus sabia exatamente que não precisariam dele até que o objeto estivesse pronto para retornar à casa. Pronto! A mãe esticou o braço. Esse era o sinal que a menina mais aguardara após todo aquele tempo sentada à beira daquele caminho que lhe trouxera tantas ideias a serem concretizadas ao chegarem em casa. Afinal, tudo estava em seu devido lugar. E isso era bom... A noite despontava ao longe. Mas despontava especial. A menina não sabia exatamente, mas sentia. Sentia porque aquele havia sido um dia de muitas sensações. O pai já havia chegado do trabalho. E tudo parecia muito peculiar... A mãe pediu que todos fossem ao quarto da menina. A pequena cama ao canto estava especialmente arrumada. A mãe trouxe as almofadas bordadas com pontos de casinha de abelha que ela fizera na aula de artesanato. Eram especiais. O pai preferiu sentar-se em uma cadeira que trouxera da cozinha, dizia que as costas já reclamavam cuidados. A menina não estava entendendo exatamente o porquê daquela reunião inesperada em seu pequeno quarto. Estava apreensiva, inquieta! Mas a sensação, ah, era boa! Em quaisquer momentos, estarem juntos era maravilhoso! Não importando o lugar. Assentaram-se todos à beirada da cama. Exceto o pai, que se levantou e foi em direção à cadeira com a TV amarela. Sim, havia algo diferente embaixo da cadeira. Era o objeto que a mãe, o irmão e ela haviam levado àquele senhor de bigode preto à beira da estrada empoeirada. Estava tudo muito estranho, mas a menina gostava... De repente, uma luz familiar, mas um pouco esquecida, cegou-a por instantes. Não pôde acreditar no que via, ou tentava ver! A sua TV amarela estava de volta, e com uma vivacidade única, mesmo que, não sabendo a menina, fosse só por alguns especiais instantes. A sensação tomada pela menina não se explica em palavras. Talvez nem existam palavras. Mas, seguramente, aquela teria sido uma sensação única, singular.

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Pensando bem, como poderia, a partir de então, concentrar-se tamanha felicidade somente naquele pequeno quarto de janelas azuis? Ah, o coraçãozinho generoso da menina sabia que momentos de tamanha felicidade mereciam ser compartilhados, como no dia em que a mãe fez empadão de frango e serviu com café de garapa para todos os vizinhos no alpendre. Felicidade pura! E foi assim... Nos domingos seguintes, ao piscar da TV no alpendre da casinha branca de janelas azuis, cada um, à sua maneira, em seu cantinho, e com olhos vidrados em quase êxtase, reunia-se, dali de pertinho ou de não tão pertinho assim: vizinhos que se encantavam com todas aquelas imagens e vozes que vinham daquela caixinha amarela posicionada sobre a mesma cadeira de então. Na plateia, a menina. E atenta às mais variadas reações dos amigos que ali se reuniam em todas aquelas noites de domingo, compreendeu que, para dar vida à sua companheira amarela, o pai precisou silenciar “Eduardo e Mônica”, pois a bateria, que nos rituais entre o pai e o fusca anunciava a todos aquela história de amor, agora alimentava a pequena TV, dando voz a outras histórias, a outros enredos. Não, certamente a cumplicidade entre o pai e o fusca 66 não acabaria, pois era algo mais forte que os unia. A menina compreenderia isso com o tempo... Com o tempo, também, muitas outras histórias com muitos outros personagens surgiriam. Talvez não tão singulares como os daquele alpendre, os que ficavam proseando com o pai embaixo do pé de pitanga ou aqueles avistados pela menina debruçada na janela azul. Ah, mas uma história a menina certamente chamaria de sua. A história de um presente amarelo que conseguiu reunir tantas outras “histórias” naquele lugar onde o tempo tinha tempo de sobra e, a partir de então, muita história para contar...

Diante dessas lembranças e das questões até aqui propostas, imaginemos o que aconteceria se esse equipamento fosse desligado numa casa cujos moradores se reúnem para assistir TV com regularidade? Como se dariam as relações a partir daí? Algum outro aparato tecnológico poderia substituí-lo sem mudar a dinâmica de reunião e disposição dos moradores? Você já se deparou com situações semelhantes? Há fatos interessantes sobre o assunto, como o caso de famílias que deixam de se reunir na sala de estar quando aumenta o número de televisores nos quartos da casa.

Assim, os questionamentos e reflexões propostas, neste item, têm a intenção de auxiliá-lo, professor@, a pensar como a televisão vem sendo incorporada e organiza parte da nossa vida cotidiana: nas casas, nas praças, nas ruas, no comércio, por exemplo, em dias de jogos de futebol ou de evento religioso. Até mesmo para socialização dos acontecimentos (políticos, econômicos e culturais) mais longínquos e nos quais não tivemos a oportunidade de estar presentes fisicamente, mas que marcam a história da nossa sociedade e do mundo.

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As possibilidades educativas da relação TV e lugar Como dispositivo midiático, a televisão medeia nossas relações cotidianas, fazendo parte dos nossos lugares de vivência. Entretanto, parafraseando Santos (2001, p.96), é válida a luta por “pertencermos àquilo que nos pertence”. Professor@, procure, então, dialogar com seus alunos sobre os lugares que são, via de regra, representados pela televisão. Fundamental é saber como são representadas as periferias dos grandes centros urbanos, o meio rural, o Norte e o Nordeste brasileiro. Já que, como se sabe, parte do público do ensino básico vive no meio rural, nos centros periféricos das grandes cidades brasileiras, nas comunidades quilom-

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bolas, nas reservas indígenas, em comunidades tradicionais de pescadores, ciganos, ribeirinhos e outros. Como tais lugares são representados pela TV? Esse é um momento singular para verificarmos o tratamento que a mídia televisiva confere aos chamados “diferentes” e suas diversas questões (de gênero, de etnia, de geração, de condição social, de profissão etc.), diretamente relacionadas a modos de representação, de enunciação, a formas de interpretação e de comunicação. Trata-se de um momento oportuno para se debater sobre os lugares em que vivem as diferentes etnias brasileiras e cons-


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truir um conhecimento e/ou aprendizagem significativa. Nesse sentido, a TV enquanto objeto de análise gera reflexões imprescindíveis ao exercício da cidadania. Enquanto ferramenta informacional e comunicacional do cotidiano é, sem dúvida, um produto que medeia nossas relações com os nossos lugares de vida. O convite a você, professor@, é o de ousar um diálogo que atravesse experiências geracionais e étnico-culturais, o de adentrar no universo da escola e perceber o quanto ela precisa ser, ou já é, significativa, como lugar de experiências expressivas.

A aprendizagem significativa ocorre quando se aprende por meio ou a partir de uma associação com aprendizagens ou conhecimentos anteriores (prévios), notadamente do cotidiano. Isso permite dar sentido às aprendizagens escolares. Contudo, para que seja possível a aprendizagem significativa, é importante que o novo conceito seja suficientemente interessante. Neste caderno, apostamos que o tema TV seja um modo pelo qual você, professor@, possa despertar o interesse dos alunos acerca dos diferentes conteúdos trabalhados em sua sala de aula. (DOS SANTOS, 2009)

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Territórios televisivos: um fenômeno em disputa Território, um dos conceitos-chave da Geografia, não é utilizado somente pela ciência geográfica, abarcando definições de outras áreas, como as biológicas e humanas. Para muitas correntes do pensamento geográfico, o território é resultado da ação humana, por meio de grupos ou entidades que conseguem se apropriar de forma concreta ou abstrata do espaço, de modo a territorializá-lo. Essa apropriação se faz projetando-se trabalho, energia e informação. Ou seja, toda prática espacial realizada por um conjunto de ações ou comportamentos humanos gera uma produção territorial, ou seja, um território (RAFFESTIN, 1993).

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Henri Lefebvre descreve a produção do território: a produção de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam (1978, p. 259).

ZAPe ANDO Esperamos que você, professor@, consiga refletir como a rede de TV pode ser vista como uma entidade que produz e/ou altera territórios, abstratos ou concretos, a partir de suas estruturas institucionais (gestores, apresentadores, jornalistas, produtores, diretores etc.); estruturas físicas (emissoras, afiliadas, retransmissoras, satélites, antenas, cabo, ilhas de edição, estúdios etc.); e estruturas abstratas (fluxos de sinais, circulação de informações imagéticas e de áudio via faixas eletromagnéticas). E também perceber que a TV nos cartografa (mapeia) diariamente, conhece nossos gostos, cultura, idade, hábitos de consumo,


sexo, em busca de dados importantes para uma programação segmentada, que visa a atender, principalmente, aos anunciantes. Para fins de análise, o conceito de território precisa ser compreendido a partir da ideia de território usado, ou seja, em que se encontram o “fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida”, numa relação vivida e percebida no cotidiano (SANTOS, 2002, p. 10). Comumente associamos território às relações estatais, e isso faz sentido do ponto de vista das relações de poder. Contudo, “é o território que ajuda a fabricar a nação, para que a nação depois o afeiçoe”. Assim, o conceito de território a que aludimos é anterior à ideia de Estado-nação, embora esse se apresente, hoje, como elemento intrínseco à leitura política e econômica que podemos realizar sobre os atuais países do mundo. Assim, o território é concebido como qualquer espaço que é apropriado por meio de relações de poder, ou seja, produzido

ZAPe ANDO O conceito de território é um convite para pensarmos relações de poder e, em alguns momentos, a consolidação da ideia de Estado-nação. Que tal pesquisar como a TV contribuiu para a popularização do nacionalismo, no período da ditadura militar (1964-1985)? Slogans, anúncios, reportagens, músicas e até hinos foram produtos de uma das maiores campanhas publicitárias da história da TV brasileira.

por meio do controle e da posse de um grupo ou grupos que o delimitam. Daí a designação que apresentamos neste caderno: territórios televisivos. Partimos do pressuposto também de que todas as sociedades organizam suas ações de modo a assegurar controle sobre aquilo que pode ser distribuído, alocado e/ou possuído e, com isso, realizar uma futura integração e coesão das regiões dentro do território. Na história da televisão brasileira (caderno 2 desta coleção), vimos que foi implantada com investimentos e apoio do Estado, que produziu e planejou o seu destino, o seu controle, por meio um conjunto de legislações ligadas às áreas de telecomunicações. Então, o tema da digitalização do sinal de TV e a forma como está sendo determinado e gerido sobre o território brasileiro são definidos mediante acordos, regulamentações e disputas, desde meados da década passada. Trata-se de uma negociação entre o Estado, as redes de televisão e as expectativas do novo sinal para o território usado, envolvendo interesses de mercado, mas também da sociedade civil. Além disso, ao mobilizar os interesses daqueles que compreendem a importância dessa mídia na produção da opinião pública, as redes televisivas se tornaram espaço de disputa. Assim, os grupos sociais não hegemônicos buscam nas telas da TV a representação de suas ideias e o reconhecimento no plano cultural, identitário, político e econômico. Há também aqueles que vão construir modelos televisivos alternativos e afirmativos para avançar na ideia de respeito à diversidade de pensar, organizar e interpretar a cena pública. Isso tem ocorrido sobremaneira entre grupos como indígenas, quilombolas, população LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), movimento de mulheres e em diferentes áreas: educação, diversidades geotelevisivas

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Sinto nizESE!

saúde, política, meio ambiente e outros, a partir da denúncia e/ou visibilidade de temas via redes sociais ligadas à internet. As disputas e interesses, no tempo e no espaço, ocorrem também entre as próprias redes de TV, públicas ou privadas, numa relação de força semelhante para algumas emissoras e assimétricas para outras. Nesse jogo de interesses, que abrange o exercício das redes de TV em cartografar e atuar sobre determinadas regiões do país, o conflito se torna inerente. Afinal, cada emissora quer manter ou buscar

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Como vai? Eu sou o Analogildo. Acompanhei várias fases da TV. Será que você conhece o hino do tricampeonato brasileiro de 1970? “Pra Frente, Brasil”, de Miguel Gustavo? E as músicas de oposição ao regime militar que, às vezes, eram cantadas em festivais de músicas na TV, mas proibidas em momentos mais severos da censura? Bom, a Pixelvânia me disse que, se eu entrar na internet e acessar memoriasdaditadura.org.br, descobrirei muitas histórias. E você, professor@, que tal visitar esse site?

sua presença (política, econômica e cultural) no maior número possível de regiões por meio da publicidade, venda de produtos e prestação de serviços. Então, a TV, compreendida como objeto e fenômeno social neste caderno, agora pode ser interpretada como entidade social, formada por pessoas e grupos, disputada por diferentes setores e visões de mundo, graças à possibilidade de forte atuação sobre o espaço geográfico – território usado – via comunicação e emprego de trabalho técnico e informacional. Afinal, ninguém duvida da força que a televisão exerce sobre a sociedade. Cabe agora ampliarmos a nossa compreensão do fenômeno televisivo sob a ótica da digitalização de seu sinal. Então nos perguntamos: a digitalização do sinal de TV, em nível mundial, é um fato social e político para todas as nações? Como a Geografia interpreta o aprimoramento das técnicas científico-informacionais da TV nas últimas décadas? Veremos a seguir as disputas, a desigual acumulação de recursos e os movimentos de solidariedade intrínsecos ao processo do fazer televisivo.


ZAPe ANDO O filme “Estrelas além do tempo” busca dar visibilidade às mulheres negras, diante de seu protagonismo fundamental na corrida espacial dos EUA, durante a Guerra Fria. Lançado em 2017, e inspirado em pessoas reais, a película dá notoriedade àquelas que participaram de grandes feitos, como levar o homem pela primeira vez ao espaço. Por décadas, elas foram esquecidas. O filme coloca em relevo questões raciais e relações de gênero, destacando processos de hierarquização e de invisibilidade social. Trata-se de um reconhecimento, ainda que tardio.

Mundo: técnica, ciência e informação Desde o início deste caderno, demos ênfase ao fato de que o espaço natural pode ser transformado em espaço geográfico, agora compreendido como “território usado”, produ-

Imagem 9: Da esquerda para direita: a engenheira Mary Jackson (Janelle Monáe), a matemática Katherine Johnson (Taraji P. Henson) e a programadora Dorothy Vaughan (Octavia Spencer).

to da interação entre homem e natureza. Uma transformação social no tempo e no espaço que emprega transporte, matéria-prima, fluxos, comunicação, residências e outros. Torna-se preciso compreender que os elementos da natureza só se transformam em mercadorias ou informações através de técnicas e trabalho. As técnicas são primordiais para alterar o espaço, e com elas as sociedades. Por exemplo, após a primeira revolução industrial, no século XVIII, na Inglaterra, com o avanço técnico consegue-se certo controle sobre alguns resultados dos fenômenos da natureza e produções em larga escala. No século XX, especialmente no contexto da Guerra Fria (1947-1989), houve também um paulatino e importante avanço

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das tecnologias de informação, com o lançamento de satélites e ampliação da telefonia e internet. A Guerra Fria foi um período marcado pela rivalidade entre o capitalismo liderado pelos Estados Unidos e o socialismo liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que buscavam a hegemonia no mundo sobretudo por meio do aperfeiçoamento de técnicas oriundas dos avanços científicos e informacionais. Ao longo desses períodos, é possível perceber a convergência da técnica, da ciência e da informação. Isso quer dizer que elas podem ser encontradas num mesmo sistema, como nas redes de internet ou de comunicação instantânea, que colaboram com a redução do espaço-tempo, consolidando-se no processo de globalização ou de mundialização da difusão de técnicas e objetos, ainda que desigual-

mente. A própria concorrência das potências capitalista e socialista culminou em atividades científico-espaciais de complementação no final da Guerra Fria. E as redes de televisão foram usadas para divulgar fatos preciosos e de interesse das nações envolvidas. Contudo, as intencionalidades políticas de ambas as partes não podem ser lidas apenas como fusão de conhecimentos, mas como trocas e acordos para avanço de um determinado produto e/ou ideia, muitas vezes, ligado e/ou ligada ao mercado. Então, indagamos: há cooperação no sistema de digitalização das redes televisivas no mundo? De pronto, constata-se que quase todo o mundo está em rede, uma teia complexa de relações pessoais, institucionais e estatais de uma realidade multifacetada. Se, por um lado, a dinâmica social se dá em relações de articulação e trocas das mais diversas, simbólicas,

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Imagem 10: Astronauta russo Yuri Gagarin, responsável por levar o primeiro homem ao espaço e colocar o primeiro satélite em órbita.

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A corrida espacial, disputada entre duas grandes potências mundiais (URSS e EUA), no período da Guerra Fria, possibilitou grandes avanços no setor aeroespacial e militar. Nesse momento é que foram lançados os satélites artificiais na órbita da Terra. Além da comunicação, os satélites enviam informações com conteúdo em tempo real. No caso da TV, as emissoras enviam suas programações para satélites. E é de lá que os sinais partem para as residências.


materiais, políticas e culturais, por outro lado a globalização implica também relações nem sempre simétricas entre países, até mesmo, de um mesmo continente ou comunidade econômica. Se na Guerra Fria o poderio era medido pela quantidade de armas (nucleares) e avanço nas questões espaciais (satélites, foguetes, por exemplo), hoje toda e qualquer ideia ou tecnologia é disputada entre nações, de tal modo que as vantagens econômicas, muitas vezes, suplantam as intenções mais democráticas de socialização de uma técnica. Portanto, as inovações tecnológicas não são apropriadas e distribuídas de forma homogênea sobre o globo e nem sempre ocorrem igualmente no interior de um mesmo território-nação. Elas se relacionam ao poderio econômico e político de cada país. De modo que a adoção de determinadas técnicas e modelos de digitalização da TV carrega em si os olhares e escolhas dos grupos sociais que detêm o poder político-econômico de um determinado território. O Japão, já em 1964, começou as suas primeiras pesquisas em busca de uma TV analógica com imagem melhorada, capaz de gerar uma experiência mais imersiva do telespectador. Esse aprimoramento resultou em soluções que levaram à digitalização do sinal de TV. Com o passar dos anos, vários países passaram a desenvolver o próprio padrão de televisão digital. Chegou-se a quatro principais: o europeu, o estadunidense, o japonês e o brasileiro. Ou

Uma das primeiras grandes transmissões de TV se deu na Alemanha. Aconteceu em 1936, na ocasião dos Jogos Olímpicos de Berlim. Em julho de 1969, foi transmitida, também, a chegada do homem à Lua (missão Apollo XI). Nesse momento, 41% das TVs brasileiras estavam ligadas.

ZAPe ANDO seja, cada país criou e aperfeiçoou seu sistema tecnológico de televisão digital. No caso do Brasil, optou-se, ao final, por se implementar um sistema híbrido, que reunisse a tecnologia do Sistema Brasileiro de Televisão Digital - Terrestre com a tecnologia japonesa advinda do padrão Integrad Services Digital Broadcasting - Terrestrial. Isso resultou no Integrad Services Digital Broadcasting Terrestrial – versão brasileira (ISDB-Tb). O padrão nipo-brasileiro é reconhecido atualmente pela União Internacional de Telecomunicações (UIT)

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como o melhor padrão de TV digital do mundo. Por isso, além de Brasil e Japão, foi adotado por mais 17 países, de três continentes. A digitalização da TV é um processo que já foi completado em 55 países e está em andamento em 68. Em sua maioria, esses países representam o hemisfério norte com grande poder de influência política e econômica no

mundo. Como mostra o mapa abaixo, já foi iniciado em todos os continentes, e a expectativa é que aconteça no mundo inteiro, nos próximos vinte anos. O que sabemos é que hoje a Europa está aprimorando o seu padrão de televisão digital e que pesquisas estão sendo realizadas no sentido de desenvolver um padrão global e interoperável.

África: Botsuana América: Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela Ásia: Maldivas, Filipinas e Sri Lanka

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Desligamento do sinal analógico e migração para o sinal digital

55 países concluíram

68 países estão em fase de transição

14 países ainda não iniciaram

59 países ainda não definiram o início

​Imagem 11: Fonte: http://www.itu.int/en/ITU-D/Spectrum-Broadcasting/Pages/DSO/Default.aspx. Imagem com alterações da autora.

Como vemos nos mapas acima, o processo de digitalização da televisão terrestre vem ocorrendo de forma desigual pelo mundo. Enquanto países da União Europeia, Japão e Estados Unidos já passaram pela transição do sinal, países da América do Sul, Oriente Médio e África ainda vivem a fase de definição do padrão tecnológico, adoção e implantação. Em resumo, o desigual acesso às tecnologias é sintoma das relações de poder assimétricas entre os diferentes territórios nacionais.

Diante disso, sociedades marcadas por desigualdades estruturais, e com população majoritariamente de baixo poder aquisitivo terão dificuldades em implantar o sinal digital, sendo desafiadas a superar problemas de exclusão social e digital e, ao mesmo tempo, acompanhar um acelerado progresso tecnológico aparentemente global. Para a migração, a população precisa ter condições de adquirir aparelhos que façam a conversão do sinal analógico para o digital, ou

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Imagem 12: Cupons distribuídos gratuitamente pelo governo dos Estados Unidos. Domínio público.

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Imagem 13: Fonte: cupons distribuídos gratuitamente pelos Estados Unidos. Domínio público (Wikipédia).​

Imagem 14: Crédito: Mario Jiménez Leyva. ​

ter condições de comprar uma TV digital, que já tem o conversor embutido. Em alguns países que passaram pelo switch off (desligamento do sinal), os governos distribuíram gratuitamente kits conversores para famílias de menor renda, como é o caso do Reino Unido, Itália e México. Nos Estados Unidos o governo distribuiu cupons à população de menor renda como forma de subsidiar a compra dos conversores e aparelhos de TV. O governo mexicano, por sua vez, criou o programa Mover México, para distribuição gratuita de aparelhos de televisão. No caso do Brasil, devido à crise econômica vivenciada nos últimos anos, o governo encontrou uma solução para atender às famílias de menor renda: leiloou a faixa de 700 MHz do espectro eletromagnético, que será desocupada com o desligamento do sinal analógico de TV. Assim, nasceu a Seja Digital — entidade administradora da digitalização da TV

— uma organização sem fins lucrativos, constituída pelas operadoras de telefonia Algar, Claro, TIM e Vivo, vencedoras da licitação nº 002/2014-SOR/SPR/CD-ANATEL, de lotes de radiofrequências na faixa de 700 MHz. Como contrapartida, o governo federal determinou que as operadoras vencedoras do leilão deveriam fundar uma entidade comum para operacionalizar o processo de desligamento do sinal analógico no Brasil. Assim, a Seja Digital, fruto de uma política pública do governo federal para a inclusão digital e apoio à população de baixa renda, é o braço operacional do processo de transição da TV analógica para a digital em nosso país, e acelera a digitalização de domicílios brasileiros, em grandes e médias cidades, que precisam estar aptos a receber o sinal digital de TV, até o final de 2018. Para isso, precisa executar um conjunto de ações, de modo a garantir a continuidade

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dos serviços de televisão. Essas ações visam a informar e prestar assistência à população sobre o processo de desligamento do sinal às famílias de menor renda, inclusive com a distribuição de kits de conversão – para o aproveitamento das TVs antigas (normalmente TVs de tubo) – às famílias cadastradas em programas sociais. Além de distribuir gratuitamente os kits conversores para a população de menor renda, a entidade também possui os seguintes compromissos: - Promover campanhas de comunicação e mobilização social com o objetivo de preparar a população para o desligamento do sinal analógico; - Aferir por meio de pesquisas a adoção do sinal de TV digital; - Remanejar os canais nas frequências adequadas; - Garantir a convivência sem interferência dos sinais da TV e 4G, após o desligamento do sinal analógico.

TV e telefonia 4 G no Brasil Com o desligamento do sinal analógico de TV e a reutilização da faixa de 700 MHz espera-se aumentar a oferta e a qualidade dos serviços de banda larga no Brasil, seguindo as tendências globais de democratização das tecnologias da informação. Será implantada nessa faixa a tecnologia LTE/4G (Long Term Evolution, em português Evolução de Longo Prazo), que representa um fato histórico de grande relevância na área das telecomunicações. O desligamento do sinal analógico traz também a vantagem da oferta de uma internet melhorada no Brasil. Então, sob o ponto de vista do uso do espaço virtual habitado, a territorialização imprimida no espaço pela TV digital não termina em si, mas acontece um movimento de desterritorialização da faixa ocupada pelo sinal da TV analógica (remanejamento de canais) e sua reterritorialização (implantação da

ESPECTRO DE RADIOFREQUÊNCIA

Hoje TV ABERTA Analógica & Digital 470 MHz

530 MHz

590 MHz

650 MHz

698 MHz 710 MHz

770 <Hz

806 MHz

4G Como será

TV ABERTA Digital 470 MHz

530 MHz

590 MHz

650 MHz

BANDA LARGA LTE 698 700 MHz

748 758MHz

803 806 MHz

Imagem 15 ​

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Sinto nizESE!

Traduzindo. Se você tem interesse em saber mais sobre a tecnologia 4G, eu posso ler os benefícios para você. São eles: • Nas áreas urbanas favorece a cobertura indoor (áreas internas); • Nas áreas rurais possui melhor propagação e necessita de menos torres para cobrir a mesma área; • A faixa está harmonizada em âmbito regional e multirregional, o que possibilita ganhos de escala na fabricação dos terminais e preços acessíveis ao consumidor; • Atende ao crescimento da banda larga móvel.

ZAPe ANDO tecnologia 4G na faixa de 700 MHz). A mobilidade das fronteiras territoriais (virtuais ou físicas) acontece de forma dinâmica, a partir de disputas e relações de poder, o que sempre impacta a vida e o bem-estar das populações envolvidas. Território não existe sem pessoas e/ou seus grupos sociais. Assim, toda e qualquer política global para implementação de uma tecnologia comunicacional, que abarque inclusão digital e acesso democrático, precisa ser discutida enquanto política pública que envolva Estado, sociedade civil e, neste caso, setor televisivo (emissoras, fabricantes e lojistas). Portanto, professor@, discutir os territórios televisivos é pensar também nas pessoas, na vida e em como elas são tocadas pelos resultados e dinâmicas institucionais, local ou globalmente.

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“A faixa de 700 MHz vai complementar a de 2,5 giga-hertz (GHz), leiloada em junho de 2012, também para a tecnologia 4G. Enquanto a frequência de 2,5 GHz tem mais capacidade e raio de cobertura menor, a de 700 MHz tem abrangência maior e necessita de menos antenas, além de ser usada por diversos países, como os Estados Unidos e a Argentina. Segundo a Anatel, com o uso da faixa de 700 MHz, haverá a possibilidade de levar a telefonia móvel e a internet em banda larga às áreas rurais a um custo operacional mais baixo, pois essa faixa é ideal para a cobertura de grandes distâncias. Atualmente, a faixa de 700 MHz é utilizada por emissoras de TV abertas entre os canais 52 e 69, que deverão desocupar o espectro, com a digitalização do sinal”. (Agência Brasil, 2014).


Formas solidárias do fazer televisivo

A participação das redes de televisão na vida dos lugares, a forma como alteram as paisagens por meio de estruturas materiais (na sala de estar ou nas serras que agora abrigam antenas transmissoras) e os fluxos de informações (culturais, políticas e econômicas) que circulam nas regiões fazem com que a entidade televisiva conheça, avalie e faça parte do cotidiano das pessoas que vivem o território. E, neste momento de mudança do sinal analógico para digital, a presença da televisão sobre o território se torna ainda mais perceptível. Afinal, estamos, em alguma medida, modificando nossas rotinas para compreender, e quem sabe fazer parte, desse aprimoramento tecnológico da TV. Grupos sociais “não hegemônicos”, oriun-

dos das classes populares, apresentam cada vez mais a necessidade de ser representados nas grandes mídias televisivas e ter poder de decisão na construção das pautas dos programas. Destacam-se também as lutas que os movimentos sociais têm travado nos últimos anos para que o processo de digitalização do sinal de TV seja uma oportunidade de ampliação do debate, na cena pública, sobre a importância da democratização da comunicação. Principalmente se lembrarmos que a TV aberta brasileira é uma concessão pública e que precisa servir aos interesses da população. É, portanto, um direito de todos nós. Sobre o desligamento do sinal analógico da TV e a migração plena para o sistema digital, no diversidades geotelevisivas

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Reino Unido e na Itália, por exemplo, aconteceu um intenso processo de mobilização social para garantir que o sinal de televisão continuasse acessível para todas as famílias, especialmente para aquelas com idosos e pessoas com deficiência, dada a importância desse veículo no cotidiano desses grupos. No Brasil, essa experiência é replicada, através da Seja Digital. E o que podemos fazer a partir da escola? Para nós, você, professor@, pode ser um importante multiplicador dessa temática. A partir da sua experiência pedagógica, esperamos que você nos ajude a pensar novas formas de trabalhar o tema da digitalização e desligamento do sinal analógico da TV, em sala de aula. Apresentando suas vantagens, seus limites e a compreensão de que esse movimento é fruto do aprimoramento de técnicas que se encontram em diferentes estágios sobre os territórios da superfície terrestre. Ou seja, as contradições inerentes a esse processo, bem como as possibilidades de melhoria de comunicação televisiva, em ambiente digital, podem ser elementos das suas próximas aulas. Esperamos que, para além de amadurecer a ideia sobre a televisão como recurso didático, que ora se comporta como objeto social, ora como entidade que territorializa o país, você consiga transmitir a importância de se ter acesso a informações de interesse social dentro de um serviço público, aberto e gratuito. Afinal, o direito à informação é um importante elemento de construção da cidadania, do acesso legítimo a fatos que podem ser locais, regionais ou globais, de modo que consigamos fortalecer o exercício de emitir opinião e nos mobilizar para práticas sociais que busquem igualdade e respeito às diferenças presentes em nosso território nacional. Assim, desejamos que a digitalização da rede televisiva seja um movimento que guarde em si as possibilidades de se viver uma cidadania plena, do ponto de vista da informação e da comunicação, e o cuidado do meio

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ambiente em que vivemos, o direito à diversidade e a coragem de lutarmos por uma televisão de mais qualidade não apenas na imagem, mas em seus conteúdos! A meta é seguirmos junt@s, sem deixar ninguém para trás! De ponta a ponta, da nascente do Rio Ailã ao Chuí (de norte a sul do país), da Ponta do Seixas à nascente do Rio Moa (de leste a oeste do Brasil), vamos transformando os lugares, pois “o centro do mundo está em todo lugar. O mundo é o que se vê de onde se está!”, como diz o nosso grande mestre Milton Santos. E é justamente isso que os movimentos sociais – locais e internacionais – nos revelam: que, para além da fábula e da perversidade da globalização, há também possibilidades e alternativas plurais de integração e de bem viver. Ou seja, há trocas de amparo e reciprocidade empáticas entre indivíduos e coletivos que utilizam justamente os aprimoramentos técnicos (ou tecnológicos), como o caso da TV e suas redes, para ventilar importantes resistências culturais e práticas políticas de solidariedade, via comunicação e informação. Alun@s de toda e qualquer região, em diferentes ciclos de ensino escolar, podem, com os conceitos-chave da Geografia oferecidos neste caderno, mergulhar no universo televisivo. É um exercício proposto aqui nestas páginas, mas vivo, e em movimento, na sua sala de aula, por meio de elementos fundantes da prática educativa: informação e comunicação! Principalmente agora, que nos movemos da sala para o quarto, e do quarto para o mundo. O conceito de televisão nos acompanha. Não falamos mais apenas do aparelho de televisão da sala, mas de podermos assistir à televisão em nosso quarto, pelo celular, pelo notebook, e até mesmo “fazer televisão”, por meio de uma câmera de celular e de programas intuitivos de edição de vídeo. Isso nos ajuda a criar novas formas de comunicação social via organizações


contra-hegemônicas, de solidariedade e ajuda mútua, tais como: organizações comunitárias, agremiações, coletivos juvenis, sindicatos e cooperativas. Que podem, sim, ser incluídas nos atuais telejornais regionais por meio de demanda pública, mas também produzidas pelos próprios cidadãos daquele lugar e divulgadas em redes sociais. Caríssim@ professor@, esperamos que você tenha gostado do caderno e das atividades sugeridas; e que as reflexões e conhecimentos sobre a TV o tenham instigado a pensar, também, sobre a diversidade brasileira e mundial, do ponto de vista humano, cultural e do pertencimento identitário (múltiplo) e geracional. Ampliar a compreensão sobre a TV, à luz do conceito de “território”, “lugar”, “paisagem” e “região” na Geografia, significa estarmos abertos a perceber as linhas imaginárias que nos separam, e, sobretudo, aquelas que nos unem, a partir dos espaços naturais e geográficos do planeta Terra e sua diversidade. O que fundamentou este trabalho foi a

certeza de que é possível transformar diferenças em riquezas, e de que é preciso sempre repensar situações cotidianas, como assistir à televisão, para que não sejamos meros reprodutores de estereótipos ou desigualdades. As emissoras, afiliadas e suas estruturas, ao longo do nosso território, marcaram nossas relações, nossas regiões, nossos comportamentos de forma tão dialógica que não sabemos quem influenciou a quem. A TV é nossa. Portanto, é importante, e necessário, que participemos ativamente desse processo de melhoria tecnológica e ampliação de serviços, quer divulgando a chegada de uma era plenamente digital, quer realizando o monitoramento e controle social dos passos dados cotidianamente pelo governo, emissoras e empresas de telecomunicações. E, o mais importante, que você continue a olhar criticamente para a TV que temos e a lutar, com @s seus aluno@s – que serão os diretores, produtores, jornalistas e apresentadores de amanhã –, pela TV que queremos. diversidades geotelevisivas

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ATIVIDADES As propostas abaixo são apenas sinalizações para atividades didáticas. O objetivo é que sejam referências para que você, professor@, avalie e decida por aquela que dialogue melhor com o conteúdo ministrado em sala de aula; que respeite as competências e habilidades da classe escolar e as questões socioeconômicas e culturais do público-alvo. Perceba que elas se encontram divididas por modalidade de ensino, e podem ser desdobradas em mais de uma atividade ou momentos, na sala de aula, ao longo do ano. Sugerimos, para ampliação do tema, o uso de repositórios de atividades que, por sua vez, cumprem a função de arquivar materiais virtuais com fins educacionais. Existem vários no país, e muitos são gratuitos. Sugerimos repositórios do Ministério da Educação (MEC): Portal do Professor <portaldoprofessor.mec.gov.br> e da Rede Interativa Virtual de Educação da Secretaria de Educação a Distância <rived.mec.gov.br>. Então, basta entrar e pesquisar sobre atividades das mais diversas áreas do conhecimento.

Ensino Fundamental I Atividade 1: Objetivo: introduzir os conceitos de lateralidade em Geografia, a partir das experiências espaciais que as crianças acumulam sobre a TV no ambiente doméstico. Descrição: nas séries iniciais do ensino fundamental, a Geografia tem o seu centro no corpo humano e nas noções primárias de representação espacial. O conceito de paisagem caracteriza o espaço, colaborando para que @s alun@s percebam as noções de distância e orientação (direita, esquerda, frente, atrás, acima, abaixo) a partir de seu próprio corpo e com o meio que @s envolve. Já que a televisão é um objeto social concreto, ou seja, possui cor, forma, tamanho e ocupa espaços que podem ser explorados, e como é inegável o acesso diário de muitas crianças à televisão, propomos aqui um exercício a respeito desse equipamento.

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Exercício: como uma criança telespectadora desenharia uma TV? Em qual espaço da casa o aparelho se encontra? Está em qual altura? Fixado em qual parede? Nessa parede há portas e janelas? Quais outros objetos dividem a cena com a TV? E o aparelho TV está próximo ou distante do local em que a criança se senta para assisti-la? O aparelho de TV pode ser peça fundamental na aproximação dos conceitos de orientação desenvolvidos em sala de aula e nas experiências de vida d@s alun@s no ambiente doméstico. Sugerimos que esta atividade seja iniciada em sala de aula, continuada em casa e finalizada na escola, numa roda de conversa. Nesse sentido, é preciso oferecer a possibilidade de se expressar, inclusive corporalmente, sobre a localização da TV no ambiente pesquisado. Observação: você, professor@, poderá inserir ainda outras perguntas: quanto tempo a criança gasta por dia vendo TV? Quem se senta com ela para assistir? O que a criança assiste no dia a dia? O que já aprendeu com a TV? Que sentimentos são despertados no ato de assistir à TV? São indagações que podem trazer elementos para a compreensão de que a TV é muito mais que um objeto na paisagem doméstica, e que nos fazem pensar a relação criança/família/escola considerando os conteúdos da TV; e observar se as famílias seguem, no cotidiano, a classificação indicativa elaborada para os conteúdos da TV.

Atividade 2: Objetivo: desenvolver a capacidade de interpretação e troca de experiências sobre o tema televisão. Colaborar para a compreensão da linguagem lógico-matemática com o uso de informações cotidianas e tratamento dos dados em formato de gráfico. Descrição: o tema é abordado dentro de sala de aula e a participação deve ser incentivada. @s alun@s apresentam pontos de vista sobre o surgimento da TV. O uso de vídeos como o da TV Escola, “De onde vem a televisão?” (encontrado no Youtube), poderá ajudar nesse diálogo. Após o vídeo citado, ou outro semelhante, explore em roda de conversa como se dá o uso do aparelho de TV em casa. Uma entrevista poderá ser realizada junto aos familiares, bem como posterior tratamento dos dados em formato de gráfico, indicando quais foram os programas mais assistidos (telejornal, filmes, documentários etc.). É possível produzir questionários a partir de textos literários ou de música, para fins de interpretação do texto; bem como produzir uma TV de papelão, inserindo nomes e ilustrações dos programas preferidos d@s alun@s. Para essa última atividade, destaca-se a oportunidade de @s alun@s trabalharem com o lúdico e a linguagem oral/escrita. Para tal, é desejável que se disponibilize uma sequência de cenas que serão coloridas pela turma, para elaboração de uma história.

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Materiais: caixa de papelão e adereços para confecção do aparelho de TV. Observação: para as séries finais do ensino fundamental I, sugerimos uma pesquisa sobre os meios tecnológicos que possibilitam a transmissão de imagens, a exemplo das estações de TV, antenas, satélites, cabo e parabólicas.

Atividade 3: Objetivo: identificar os danos causados ao meio ambiente pela produção de lixo eletrônico e sensibilizar os pais/mães, ou responsáveis pel@s alun@s, sobre a limitação do planeta em gerar recursos naturais. Considerar também o aumento da poluição ambiental e a necessidade de se reduzir o consumo, reutilizar produtos e fazer reciclagem. Descrição: discutir em sala de aula como o desligamento do sinal analógico pode gerar o aumento da produção de lixo eletrônico, através do descarte de televisores. Assistir ao vídeo “História das coisas” (no youtube) e refletir sobre ele. Propor a exposição de um acervo construído a partir de objetos descartados pelas famílias, culminando em alguma ação coletiva da escola, como uma feira de ciências. Confira também se na sua região há campanhas educativas sobre o tema do lixo eletrônico, ou especificamente sobre a mudança do sinal de TV para digital. Ou mesmo se existem empresas ou associações de coleta de “lixo eletrônico” que têm parceria com escolas. Se não encontrar, que tal propor uma parceria com uma delas? Comunicar aos alunos que através do site sejadigital.com.br, no campo “O que fazer com a sua TV velha”, é possível encontrar o endereço do ponto de coleta de lixo eletrônico mais próximo de casa. Para isso, basta digitar o CEP e o tipo de equipamento que se deseja descartar.

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Material: montar uma exposição com materiais não descartados pelos familiares. Posteriormente, fazer a entrega desses equipamentos a um centro de reciclagem ou de aproveitamento desses dispositivos. Sugestão: utilizar proposições que constam nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ética e Cidadania, pois a escola é local de exercício da solidariedade e reflexão crítica.

Oficina: Visita orientada a uma emissora/filiada ou a um museu de rádio e TV. Objetivo: conhecer afiliadas, emissoras ou museus que contam a história da TV, com o intuito de se compreender como são produzidos os programas televisivos e como são os bastidores de quem trabalha na TV. É uma oportunidade de se aplicar a metodologia de aula de campo. Observação: a metodologia de aula de campo é importante por ajudar na socialização entre alun@s e escola. É uma estratégia didática, principalmente quando se torna limitado tratar de determinado assunto dentro de sala de aula. É também recomendável quando se quer explorar o meio. Sugerimos, nesse caso, que seja uma atividade interdisciplinar, pois o conteúdo televisão abarca mais de uma área de ensino, como se pode perceber nos quatro cadernos da coleção “Conexões televisivas em sala de aula”. Descrição: depois de fazer pesquisas sobre o assunto e desenvolvê-las dentro de sala de aula, realize o pré-campo do local escolhido. Agende horário e local. Verifique se é possível ter um@ profissional da instituição que dialogue com os alunos levando em conta a faixa etária. Identifique se o trajeto entre a escola e a instituição visitada permite uma abordagem de questões relacionadas ao meio, como por exemplo: considere fazer paradas em locais onde seja possível avistar as antenas de transmissão de TV. Material: documento da escola para autorização dos pais; lanche (se necessário) e equipamento para registro fotográfico (se possível) para as atividades.

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Ensino Fundamental II

Atividade 1: TV de bolso Objetivo: observar e compreender os diferentes sentidos do espaço habitado, de preferência o bairro, através de entrevistas (filmadas) com os moradores e pessoas que passam pelo local. Temas: topofobia e topofilia. Como foi dito no item “Em busca de um pensamento espaço-televisionado”, no qual abordamos a categoria “Paisagem”, topofobia resulta do medo e desconforto em/com algum lugar, enquanto topofilia é uma atribuição cultural positiva. Local: rua que possui maior movimento de pessoas. De preferência, num bairro ou região mais próxima. A ideia é observar como as pessoas sentem e percebem o espaço. Descrição: o grupo de alun@s (cinco a seis integrantes) precisa ser orientado sobre a escolha do local. Propomos que se realizem entrevistas com a maior diversidade possível de público: moradores, visitantes e comerciantes, considerando a diversidade etária (idade) e de sexo/gênero. Sugerimos a divisão do trabalho em três etapas: 1 - Escolher o local e organizar o questionário junto @ professor@ em sala de aula; 2 - De posse de uma câmera digital ou celular, realizar as entrevistas; 3 - Editar o material mais relevante do ponto de vista da diversidade de sujeitos e de respostas. E, por fim, aproveitar o resultado das entrevistas para fazer uma cena gravada, simulando um estúdio de telejornal. Ou seja, @ alun@ apresentador anuncia, direto do “estúdio”, as entrevistas feitas na rua. Perguntas norteadoras: a paisagem muda conforme o horário do dia? Por mais próxima e familiar, é possível que uma mesma paisagem cause medo, espanto, desconforto ou alegria, tranquilidade ou calma, em uma mesma pessoa? Esses sentimentos mudam conforme o período do dia? Por que alguns lugares podem ser perigosos para uns e para outros não? Qual é o público do local? Material: celular ou câmera digital. Computador para edição do vídeo.

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Atividade 2: Fusos horários Objetivo: associar e compreender como o conhecimento escolar vincula-se às experiências vividas na programação televisiva. A atividade permite reflexões sobre as regiões (conceito geográfico), as redes televisivas que territorializam o espaço com estações e antenas, a divisão do Brasil em quatro fusos horários e a sua posição no mundo em relação ao meridiano de Greenwich (desconsiderando o horário de verão). Descrição: dentro do conteúdo de fusos horários, utilize o mapa-múndi. A imagem utilizada poderá ser do livro didático ou de uma cópia impressa para tod@s @s alun@s. Ou ainda, construída sobre uma base de papelão em tamanho suficiente para que todos possam manusear e sugerir pontos onde alguma TV entre no ar ao vivo. A ideia é que @s alun@s percebam a mudança do horário em relação às programações ao vivo nas emissoras de TV. Elabore questões a partir da discussão do seguinte trecho: As afiliadas das emissoras de TV precisam estar atentas quando notícias ao vivo forem veiculadas pelas emissoras. Além disso, em função dos fusos horários no Brasil, um programa que entra ao vivo numa determinada faixa coberta por um fuso assistirá à mesma notícia em tempo real noutro horário, ou seja, o horário local. E sempre é preciso fazer ajustes para que a rede fique sincronizada. Já houve, inclusive, discussões jurídicas para que cerca de 26 milhões de crianças e adolescentes, que moram em cidades com fusos horários diferentes do horário de Brasília, não fiquem expostos a cenas desaconselháveis pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O estatuto determina que as emissoras de televisão exibam, no horário recomendado para o público infantojuvenil, somente programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. Exemplo: a que horas será exibida em Campo Grande (MS) uma entrevista prevista para entrar no ar às 8hs da manhã em São Paulo (SP)? Material: imagem do livro didático ou mapa-múndi impresso de forma ampliada, caso não seja possível usar o mapa ampliado da biblioteca.

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Atividade 3: Contextualizando: nosso país possui extensão territorial continental, além de uma diversidade muito grande de domínios morfoclimáticos e seus diferentes relevos. A ideia é associar o conteúdo em questão com as possibilidades e limites das ondas eletromagnéticas viajarem sobre esses territórios. Sugerimos consultar também o caderno “Materialidades televisivas” desta coleção, para ampliar o tema. Objetivo: compreender como o relevo influencia na transmissão do sinal de TV sobre o território brasileiro e construir maquetes que dão visibilidade ao tema. Descrição: após exposição do conteúdo (relevo, hidrografia e vegetação das regiões brasileiras), indague @s alun@s sobre quais regiões mais facilitam e mais prejudicam a transmissão do sinal de TV. Posteriormente, separe a classe em cinco grupos de trabalho, que representarão as cinco regiões brasileiras. A execução da tarefa deve levar em conta as experiências d@s alun@s com o tema. Se já viajaram para algumas das regiões, melhor ainda. Discutir sobre áreas de sombra e posicionamento das antenas das emissoras é um convite para uma atividade interdisciplinar. Materiais: isopor, papelão, tintas e pincéis.

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Oficina: Produtora de conteúdo Objetivo: refletir sobre a quantidade e a qualidade de elementos de comunicação visual na TV que incentivam o consumismo. Desenvolver pensamento crítico frente a propagandas que “criam necessidades” aparentemente irrelevantes. Por outro lado, compreender recursos básicos da propaganda televisiva e experimentar a noção de empreendedorismo a partir de um produto da região. Descrição: divida @s alun@s em grupos. E para fazer um levantamento dos seus conhecimentos sobre propaganda e consumo, separe aqueles grupos que irão defender os pontos positivos e os que vão defender os pontos negativos da propaganda e consumo. Na aula seguinte, retome o debate, trazendo os resultados da discussão associados à interpretação da música “Propaganda”, do grupo musical Nação Zumbi. A tarefa final do grupo é elaborar uma propaganda televisiva sobre um serviço ou produto realizado em sua comunidade, bairro ou região que não tenha visibilidade na TV local, entretanto é motivo de orgulho para muitos. Para a elaboração da atividade, alguns conceitos básicos são necessários, tais como: conhecer os benefícios/efeitos do produto, o público-alvo e o melhor horário na grade de programação da TV. Observação: trabalhe o tema junto ao professor@ de Artes, Português ou História. Indicamos também o poema “Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade, contido em vários vídeos do youtube. Abra a possibilidade de incluir marcas e propagandas internacionais que influenciam no desejo de compra.

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Educação de Jovens e Adultos - EJA

Atividade 1: Objetivo: debater criticamente a representatividade de jovens negros, idosos e mulheres nos programas de TV, observando e contrastando o pertencimento identitário e etário. Descrição: Aula 1: @s alun@s devem organizar material para o debate a respeito da representatividade de idosos, mulheres e jovens negros na TV. Sugerem-se três vídeos de até cinco minutos cada. Caso não seja possível, o ideal é que você, professor@, providencie o material audiovisual. Ele tem a função de qualificar a discussão já iniciada em sala. Aula 2: @s alun@s confeccionarão cartazes com as informações mais relevantes das pesquisas e/ou discussão em sala de aula. O cartaz deverá ser afixado no ambiente escolar. Aula 3: sugere-se uma encenação teatral, produzida pel@s alun@s, simulando uma situação ligada ao tema, trazendo possibilidades sociais para corrigir as desigualdades. Material: computador com acesso à internet para possíveis pesquisas e ambiente com projeção ou TV, para assistir aos vídeos selecionados. Atividade 2:

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Objetivo: discutir e analisar publicidade infantil nos programas televisivos e elaborar redações. Descrição: em forma de debate. Peça aos alunos que tragam tópicos importantes para a discussão. Posteriormente, elaboram e apresentam uma redação sobre o tema, em gênero literário a ser escolhido pel@ professor@. Esta atividade poderá ser proposta de maneira interdisciplinar. Material: há necessidade de um texto-base sobre o tema a ser disponibilizado entre @s alun@s. Sugerimos buscar na internet exemplos de redação do Enem - Exame Nacional do Ensino Médio 2014.

Oficina 1: Geo-observando Objetivo: estabelecer relações para a compreensão de que a realidade e a paisagem são interpretadas diferentemente entre as pessoas e, consequentemente, nos programas de TV. Descrição: projetar as imagens deste trabalho em tamanho legível, para que todos vejam e participem, trazendo interpretações plurais. Há possibilidades de se encontrar na internet um conjunto de imagens curiosas. Investigue! Na sequência, coloque imagens do bairro ou região. Em seguida, deixe que eles expressem livremente os sentimentos/observações que emergem e, posteriormente, façam distinção entre processos naturais e sociais do fato registrado. Material: conjunto de imagens ambíguas, de ilusões de ótica ou de sete erros, que permitam diferentes interpretações. E outro conjunto de imagens do bairro ou região na qual se localiza a escola. Contextualizando: a paisagem é a aparência visual-real. Contudo, a percepção de cada pessoa se distingue em função de suas experiências. Por isso, a interpretação pode ser distinta para a mesma paisagem. À medida que adquirimos novas informações, a nossa percepção se altera, por isso a oficina busca reconhecer informações “novas” numa troca com colegas de sala de aula. O exercício é de desnaturalização do olhar para com o meio. É enxergar as entrelinhas não ditas. Compreender a diversidade das paisagens: relevo, clima, vegetação, área construída, áreas de circulação de pessoas ou mercadorias etc. É diversificar e alargar o campo de interpretação e problematizar como essa interpretação pode ser distinta entre programas de TV de mesmo gênero. Oficina 2: A TV que queremos

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Objetivo: questionar @s alun@s quanto à programação de TV (gratuita e paga); repensar a programação que temos e conhecer as regras para transmissão de programação brasileira. Contextualizando: atualmente, não participamos da construção de programas de TV. E a programação ofertada, muitas vezes, assume a posição das emissoras e afiliadas sobre a população regional ou nacional. O papel da escola é contribuir para o pensamento crítico acerca das instituições que fazem parte do nosso dia a dia. Nesse sentido, a ideia é pensar a TV que temos e repensar a TV que queremos. Descrição: promover uma discussão sobre a atual programação ofertada pela maioria das emissoras de TV aberta, e seus limites. Colaborar nos momentos de pesquisa sobre o tema, ou seja, as regras de transmissão (emissoras/afiliadas e conteúdo regional); indagar a quais programações gostariam de ter acesso na TV aberta, bem como o seu conteúdo. Para isso, dividir @s alun@s em grupos e distribuir as tarefas de elaboração de um vídeo de até dez minutos, simulando um programa de TV; antes, porém, é desejável que se construa um roteiro de criação do vídeo (onde constem tema, tempo e divisão de tarefas entre @s envolvid@s). Em um segundo momento é interessante que o vídeo produzido seja apresentado para toda a turma e, quando oportuno, para toda a escola, caso seja do interesse dos envolvidos. Materiais: câmera digital ou celular com câmera. É desejável material para construção de um cenário.

Observação: para ilustrar a atividade, sugerimos o vídeo produzido por alun@s do CEF 05 de Sobradinho – Distrito Federal. Trata-se de alun@s da EJA que fizeram parte do Projeto Transiarte, promovido por mestrandos da Universidade de Brasília. Segue o link: < http://www.proejatransiarte.ifg.edu.br/ index.php/transvideos/388-doris/video/75-gravidez-na-adolescencia-e-sua-influencia-na-vida-escolar-cef-05-sobradinho >

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REFERÊNCIAS AGÊNCIA BRASIL. Anatel aprova edital para leilão de telefonia 4G. 2014. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-07/anatel-aprova-edital-para-leilao-de-telefonia-4g> Acesso em 22 março/2017. ALVES, Aline Neves Rodrigues. Território quilombola e escola: percepções do lugar a partir do uso de mapas mentais. Monografia apresentada ao IGC/UFMG, 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. FEITOSA, Deisy Fernanda. A televisão na era da convergência digital das mídias: uma reflexão sobre a comunicação comunitária. Tese defendida na Universidade de São Paulo, 2015. FISCHER, R.M.B. O dispositivo pedagógico da mídia: modos de educar na (e pela) TV. Educação & Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 151-162, 2002. LEFEBVRE, Henri. De l’ État 4. Les contradictions de l’ État moderne. Paris, UGE, 1978. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. RODRIGUES, Kelly. O conceito de lugar: a aproximação da Geografia com o indivíduo. XI ENCONTRO NACIONAL DA ANPEGE. Anais. Out/2015. Disponível em <http://www.enanpege.ggf. br/2015/anais/arquivos/17/473.pdf> Acesso em 12 de abril/2017. SANTOS, Júlio César Furtado. Aprendizagem significativa: modalidades de aprendizagem e o papel do professor. Porto Alegre: Mediação, 2009. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2002. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. SANTOS, Milton. O lugar encontrando o futuro. Conferência de abertura do ENCONTRO INTERNACIONAL LUGAR, FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL, MUNDO. São Paulo: Anpege-DG/USP, 1994.

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SANTOS, Milton. Técnica, espaço-tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1994. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980.

Sites indicados Direito à comunicação no Brasil – do Observatório do Direito à Comunicação. http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/ Cartilha: “Liberdade de expressão e direito à comunicação”. Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social (2014): http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?wpfb_dl=8 Documentário: Encontro com Milton Santos ou “O mundo global visto do lado de cá”. Silvio Tendler (2006): www.archive.org ou http://mcaf.ee/qigb0

Créditos e fontes das imagens: Imagem 1: Mapas mentais de crianças quilombolas (MG). ALVES, 2012. Imagem 2: Fonte https://www.brunovalverde.no.comunidades.net Imagem 3: Domínio das Araucárias. Crédito: MAndrade Fonte: https://www.flickr.com/photos/mmkdkf/albums Licença: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/ Imagem 4: Complexo do Pantanal Crédito: Alexandre Kozoubsky. Fonte: https://www.flickr.com/photos/alkoby/page4 Licença: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/ Imagem 5: Serra Geral – Sul do Brasil Crédito Alex Pereira. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Grande_do_Sul Imagem 6: Encontro das águas do Rio Negro e Rio Solimões – Manaus/AM Crédito: Lilian Bernardes. Fonte: Arquivo pessoal. Imagem 7: Serra do Curral / Belo Horizonte – MG. Crédito: Prefeitura de Belo Horizonte. Fonte: https://www.flickr.com/photos/portalpbh/

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Imagem 8: Serra do Curral – Torres de transmissão em Belo Horizonte/MG Crédito: Nelson CLM Fonte: http://www.panoramio.com/photo/911735 Imagem 9: Da esquerda para a direita: a engenheira Mary Jackson (Janelle Monáe), a matemática Katherine Johnson (Taraji P. Henson) e a programadora Dorothy Vaughan (Octavia Spencer). Reprodução/Divulgação. Imagem 10: Yuri Gagarin – URSS. www.bbc.com/portuguese/internacional-38407916 Imagem 11: Fonte: http://www.itu.int/en/ITU-D/Spectrum-Broadcasting/Pages/DSO/Default. aspx. Imagem com alterações da autora. Imagem 12: Fonte: cupons distribuídos gratuitamente pelos Estados Unidos. Domínio público (Wikipédia). Imagem 13: Programa Mover México.Fonte: http://www.m-x.com.mx/2015-01-28/el-ine-ordena-quitar-el-mover-a-mexico-de-los-televisores-que-regala-el-gobierno/. Imagem 14: Crédito: Mario Jiménez Leyva. Fonte: http://old.nvinoticias.com/en/node/270728

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