Conjunto palmeiras felipe neto

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As cidades são construídas de histórias, memórias e mistérios, feitas de um estuário de afetos, retóricas, discordâncias, interesses, apegos, datas e festas. Grandes celebrações. São os homens com seus sólidos perfis que constroem e desmancham as cidades todos os dias. A Coleção Pajeú, publicada por meio da Secretaria da Cultura do Município de Fortaleza, é uma proposta editorial que pretende reafirmar o patrimônio material e imaterial dos bairros da nossa cidade, permeada por uma consciência histórica e cidadã. Esta terceira etapa contempla os livros Conjunto Palmeiras, José Walter, Montese, Pirambu, Praia de Iracema e Rodolfo Teófilo. Além de Música de Fortaleza, da Série Fortaleza Plural; e os infantis Teatro São José e Maracatu. Foto da capa Trecho da avenida Valparaíso.


Conjunto Palmeiras


Obra realizada com o apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza – Secultfor. Prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra Vice-Prefeito de Fortaleza Gaudêncio Gonçalves de Lucena Secretário Municipal da Cultura de Fortaleza Francisco Geraldo de Magela Lima Filho Secretária-Executiva Paola Braga de Medeiros Assessora de Políticas Culturais Nilde Ferreira Assessor Jurídico Vitor Melo Studart Assessora de Comunicação Paula Neves Coordenadora de Ação Cultural Germana Coelho Vitoriano Coordenadora de Criação e Fomento Rejane Reinaldo

Coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural Jober José de Souza Pinto Coordenadora Administrativo-Financeiro Rosanne Bezerra Diretora da Vila das Artes Cláudia Pires da Costa Diretora da Biblioteca Pública Dolor Barreira Herbênia Gurgel Diretor do Teatro São José Pedro Domingues

Secretário da Regional VI Renato César Pereira Lima


Felipe Neto

Conjunto Palmeiras


Copyright © 2016, Felipe Neto

Concepção e Coordenação Editorial Gylmar Chaves Projeto Gráfico e Diagramação Khalil Gibran Revisão Milena Bandeira Lívia Leitão Fotos da Capa e Contracapa Rafael Crisóstomo Assessoria Técnica Adson Pinheiro Graça Martins A 474 C

Alves Neto, Felipe Conjunto Palmeiras / Felipe Alves Neto. - Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016. 52 p. (Coleção Pajeú) ISBN: 978-85-420-0805-0 1. Bairros - aspectos sociais 2. Conjunto Palmeiras - Usos e costumes 3. História e memórias I.Título CDD: 918.1310


Sumário Introdução 13 Mãe 15 Educação e prosperidade pelo olhar de Claudiomar Costa 19 10 por 20 21 Relatos sobre o Bairro 27 1981 29 Palmas 35 Nasce um bairro 45 Referências 49


Apresentação Neste ano de 2016, a nossa cidade de Fortaleza completa 290 anos e continua a nos envolver com seu traçado urbano, história de lutas, celebrações e benquerença de nossa gente. Ao editarmos a Coleção Pajeú, que reúne escritores, memorialistas, pesquisadores, fotógrafos, revisores e designers, queremos reafirmar a trajetória histórica da nossa Capital, ao mesmo tempo que anunciamos ao universo dos nossos bairros um itinerário constituído de litoral e sertão, espaços de afetos e de memórias, singularidades e pluralidades que compõem o conjunto de nossas relações enquanto cidade e cidadãos. Nossa Coleção percorre oralidades, referências bibliográficas, travessias, séculos, perfis, datas e festas. Uma escrita fina que, muito bem, pode ser lida sob a brisa forte de nossa terra e a sombra dos palmares, mas, sobretudo, que resgata e eterniza nossos traços e belezas. Parabéns, Fortaleza! Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra Prefeito de Fortaleza


Aos que tĂŞm coragem para continuar lutando e ao povo do Conjunto Palmeiras.


A minha mãe e ao meu pai, sempre. Aos meus irmãos. A minha esposa e ao meu filho. Ao amigo Gylmar Chaves, pelo convite para escrever este livro para a Coleção Pajeú. Aos demais pesquisadores que se detiveram na pesquisa sobre o Conjunto Palmeiras e que me auxiliaram na revelação de sua grande história.


Introdução

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onsidero o Conjunto Palmeiras um dos bairros mais instigantes de Fortaleza. Sabendo que outros pesquisadores já haviam tratado o assunto de maneira irretocável, aceitei o convite para participar da Coleção Pajeú na tentativa de também contribuir para a disseminação do exemplo que aquela comunidade tem a nos dar com suas experiências inovadoras e o seu espírito de luta. Incentivado por memórias do passado, saí em busca do meu arquivo de lembranças relacionadas ao Conjunto Palmeiras. Aos relatos da época em que minha mãe atuou como professora na comunidade, agreguei tanto a vivência que tive ao dialogar com moradores quanto as leituras relacionadas à história e às conquistas do bairro. Assim, além do conhecimento que já detinha, adicionei o que adquiri no decorrer de sua história. Com isso, ative-me em traçar importantes dados referentes ao citado bairro, repleto do desejo de que com esse livro eu possa alcançar a curiosidade de leitores e pesquisadores. O autor. 13


Mãe

Q

uando me detenho ao Conjunto Palmeiras, logo me vem a imagem de minha mãe. Será sempre assim. Isso porque ficou registrada a época em que ela ia trabalhar na Escola Municipal Supervisora Maria Helenilce Cavalcante Leite Martins. Outra imagem, essa já mais desgastada pelo tempo, insiste em me transportar ao pátio da referida escola, local que se fazia imenso ante o meu olhar dirigido ao gramado. Não sei se estou fantasiando, misturando memórias, o certo é que aquele bairro faz parte da minha história, fatos que se encontram, se distanciam, voltam e colidem, gerando marcas indeléveis. Com minha mãe obtive informações sobre como era o tempo em que ela ensinava no bairro. Ouvi atentamente a descrição da caminhada que ela fazia pelas ruas ainda não urbanizadas do Sítio São José, comunidade onde moramos até hoje. Quase sempre ela ia acompanhada de amigas, também professoras, que juntas se dirigiam ao trabalho. Após algum tempo caminhando, chegavam ao 15


centro de Messejana, onde apanhavam o ônibus já lotado. Esse ônibus fazia a linha Fortaleza-Conjunto Palmeiras, cujo itinerário seguia ainda pela avenida Val Paraíso, atravessando os Parques Santa Maria, Santa Filomena e o Sítio São João. Minha mãe fez parte do primeiro grupo de professoras da Escola Helenice. Nessa época, grande parte do Conjunto Palmeiras ainda estava em formação. Seu território ainda não possuía habitações seguras e, quando chovia, a comunidade enfrentava grandes problemas com enchentes, transtorno que durava semanas. Durante os dez anos que lecionou nessa escola, minha mãe fez inúmeras amizades, ainda hoje conservadas. Seu magistério foi ali exercido de maneira efetiva até o dia em que foi transferida para a Escola de Ensino Fundamental Fernanda Alencar Colares, no bairro Lagoa Redonda. Com minha mãe, aprendi máximas que, diariamente, me fazem lidar com a vida de maneira respeitosa. Por suas mãos, fui protegido, ainda em seu ventre, e salvo de uma grande tragédia. Certo dia, ao dirigir-se para mais uma aula, quando ainda se encontrava grávida, quase sofreu um acidente por imperícia de um condutor de ônibus. Foi o seu instinto materno que me protegeu daquele susto. O ocorrido, 16


mesmo diante das proporções, não retirou de minha mãe sua missão de ensinar. Diante dos desafios, por suas mãos, foi-me revelado o caminho que devo trilhar nessa vida: o de sempre perseverar o equilíbrio e manter a tranquilidade. Por meio de seus relatos, também adentrei a trajetória histórica do bairro. Mesmo tendo sempre me dedicado a estudos sobre os bairros de nossa capital, tarefa que compartilho com meu pai, o Conjunto Palmeiras tomoume uma atenção maior por se tratar de um pedaço de Fortaleza que, de alguma forma, é parte direta da minha vida. Imerso nesse universo, descobri um espaço geográfico de nossa capital com natureza singular e aspectos muito peculiares. Nesse mergulho, elejo esse bairro como uma de minhas principais referências de vida e de pesquisa.

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Educação e prosperidade pelo olhar de Claudiomar Costa

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inha convivência com o Conjunto Palmeiras iniciouse no dia 05 de janeiro de 1980, quando fui nomeada para assumir a Secretaria da Escola Municipal Marieta Cals, localizada na rua Modesta, 41 (hoje denominada de rua Socorro Virino).

No mês de junho do mesmo ano, fui agraciada com um terreno, na rua Evaldo Braga, 721, fruto de uma ação do Centro Comunitário do bairro. Nesse terreno, com muita dificuldade e esforço, construímos, minha família e eu, uma casa onde residimos por oito anos. Durante esses anos pude ver e acompanhar de perto o crescimento e o desenvolvimento do bairro, através do empenho e do esforço de uma comunidade inteira. A Escola Municipal Marieta Cals tinha como diretora a professora Maria do Socorro Serpa Cláudio e como vice-diretoras as professoras Maria José Macedo e Maria Clara (in memoriam). 19


Além da escola em que trabalhava, existiam ainda as escolas Professora Aldaci Barbosa e Professora Helenilce Martins. O bairro era beneficiado com uma maternidade pública (Casa de Parto), onde está situada, hoje, a Escola Cesar Cals; uma lavanderia pública, onde, hoje, funciona a Escola Professora Maria Isolda; um Mercado Público que se transformou posteriormente da Escola Marieta Cals; e uma sede do Lions Clube, onde, hoje, funciona a Escola João Germano. Por iniciativa do professor Joaquim Melo, juntamente com a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras, liderada pelo Sr. Augusto, o bairro passou a apresentar maiores resultados na área social, sendo o Banco Palmas a mola propulsora desse desenvolvimento. Durante os anos que residi e trabalhei no conjunto Palmeiras, posso dizer que foi um grande aprendizado, tendo como exemplos o esforço e a organização dos moradores, o que permitiu os avanços substanciais nos campos da educação, da saúde e da cultura.

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10 por 201

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formação do Conjunto Palmeiras tem suas raízes no acolhimento de habitantes desabrigados ou removidos de outras áreas de Fortaleza. O Conjunto Palmeiras fica localizado a sudoeste da zona urbana de Fortaleza, a 22 km do centro da cidade, no bairro Jangurussu e foi criado em 1973 com a transferência, realizada pela Prefeitura, dos desabrigados das enchentes e de famílias desapropriadas de áreas de ocupação urbana. Na época da realização dos surveys2 e das entrevistas, existiam 5.250 lotes cadastrados na Prefeitura, sendo que a população estimada era de 26.250 habitantes. A maioria dos moradores era casada (64,0%), e com mais de 31 anos de idade (70,0%). Quase 2/3 dos residentes (65,0%) viviam no local há mais de nove anos. A população possuía baixa escolarização: quase 1/5 dos adultos eram analfabetos 1 Segundo George Pedrosa, em seu livro Palmas e Palmeiras, 10 por 20 metros eram as medidas dos primeiros lotes “oferecidos” aos primeiros habitantes do Conjunto Palmeiras, que foram removidos de outras áreas para aquele novo local. 2 Em português, pesquisas.

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(19,0%) e 37,5% tinham entre a 1ª e a 4ª série do ensino fundamental. Os que estudaram da 5ª à 8ª série eram pouco mais de 1/4 (26,5%). Cerca de 17,0% tinham entre o ensino fundamental e o ensino médio completos (DIAS; LUCENA, 2013, p. 324-325).

A influência do poder central sobre a formação do território da cidade de Fortaleza foi sempre latente em sua história, inclusive desde os primeiros indicativos, quando a cidade impôs-se frente à construção dos sítios militares para defesa do território. Os responsáveis pela administração definiam motivos e ações visando determinar a forma de como o pequeno e inexplorado território de Fortaleza do século 17 seria ocupado. A formatação da cidade foi uma construção sempre planejada por alguém que, de alguma forma, detinha o poder de conter as manifestações ocasionadas pelo polo atrativo que Fortaleza foi se tornando ao longo do tempo, embora isso não fizesse parte do roteiro desejado. Quando a administração era feita por militares e religiosos, somente eles ditavam como e onde os índios habitariam, regulando sua cultura e forma de lidar com a natureza. Esse processo peculiar afastava dos centros de poder essas e outras parcelas “dona da terra”, expurgadas sob a promessa de terras em outros lugares. 22


Observam-se, no desenrolar da história de Fortaleza, outros processos que ajudaram na nucleação da cidade, como, por exemplo, as vilas de índios do século 18, que contribuíram para a formação das principais centralidades de Fortaleza; as comunidades operárias, no auge da industrialização; os campos de concentração, gerados pela seca; bem como os locais de refúgio criados pela elite para se preservar do crescimento da capital. Todo esse leque de providências junta-se aos conjuntos habitacionais da década de 1970, elementos que se tornaram o principal mecanismo de ocupação do território de Fortaleza, auxiliando na urbanização das cidades vizinhas, ajudando a fortalecer a região metropolitana e proporcionando a sedimentação da vida urbana no cenário fortalezense, fato que fez surgir comunidades de destaque, impactando a vida de todos que se utilizavam desse modelo. Dentro desse processo de descentralização está inserido o bairro Conjunto Palmeiras, que, embora tenha se estabelecido com famílias remanejadas de outras áreas já ocupadas, não podemos caracterizá-lo como uma área de ocupação tradicional. De certa forma, foi uma ocupação “oficial” planejada pelo governo. Devido às características do Distrito de Messejana, onde, hoje, se localiza o Conjunto Palmeiras, e por ser conhecido historicamente pela longa distância do centro da capital, a urbanização de seu território deu-se de forma lenta, em descompasso com o ritmo do restante da cidade. 23


Assim, vastas áreas do território urbano, na década de 1970, ainda se encontravam despovoadas. No entanto, foi numa dessas áreas, situadas ao sul de Fortaleza, no limite dos bairros Jangurussu e Ancori, que o Governo Municipal resolveu sediar o novo bairro. Para efeito de registro, faz-se necessário que falemos um pouco das terras onde esse bairro está sediado. Por volta de meados do século 19, o Sr. Urbano da França Alencar fundou o Sítio Jangurussu em terras que se estendiam da estrada Guarani (antiga BR-116) ao rio Cocó, no sentido leste/oeste; e da estrada do Mondubim (hoje Perimetral) ao limite com o Sítio Ancori, no sentido norte/sul. Foi nesse terreno, onde eram produzidos a canade-açúcar e o leite, que o Conjunto Palmeiras começou a formar-se e, posteriormente, outras comunidades, que também passaram a usufruir do mesmo local, tais como o Conjunto São Cristóvão, o Parque Santa Filomena, o Sítio São João e o Conjunto Almirante Tamandaré. Apesar de ser uma área de verde exuberante e de clima ameno, as terras onde o Conjunto Palmeiras está situado eram, quase em sua totalidade, de característica pantanosa, formadas, em grande parte, por riachos e lagoas. A má situação do terreno refletiu-se nas dificuldades enfrentadas pela comunidade, em especial, na época 24


da ocupação. Inúmeras intervenções de saneamento básico, como drenagens, pavimentação, entre outras, foram se sucedendo ano após ano, até o bairro adquirir o mínimo de condições dignas para comportar sua população. No início da formação do Conjunto Palmeiras, a água era privilégio de poucos. Logo, é desse período a ameaça de furar os canos de adutoras que abasteciam as regiões privilegiadas da metrópole e da beira-mar. Os moradores do bairro, vendo suas crianças padecerem por doenças relacionadas à escassez de acesso ao líquido mantenedor da vida, tiveram que radicalizar e bater de frente com o poder público. Historicamente, os bairros de Fortaleza desenvolvidos a partir de conjuntos habitacionais receberam planejamento urbano. O Conjunto Palmeiras, embora não se enquadre nesse tipo de modelo, apresenta certa semelhança, pois antes de ser ocupado, houve a preocupação com arruamentos e a demarcação de outras áreas públicas importantes para a convivência de uma comunidade.

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Relatos sobre o Bairro

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ndando pelo bairro em busca de relatos de seus moradores, deparei-me com o Sr. Gilmar de Sousa, proprietário de um mercadinho instalado na esquina da avenida Val Paraíso com a rua Iracema. Homem de voz mansa e pouca pressa, relatou-nos que, assim como muitos moradores de Fortaleza, ele também é do interior, mais precisamente do munícipio de Ocara, tendo vindo morar no bairro Conjunto José Walter no ano de 1974. No ano de 1982 casou-se e veio morar no Conjunto Palmeiras, onde iniciou a nova vida como comerciante. De seu estabelecimento, observou, ao longo do tempo, as transformações do bairro, principalmente no tocante a sua infraestrutura, pois, segundo seu relato, quando ele ali chegou, havia muita lama e desassossego, principalmente em época de inverno, quando as casas eram sistematicamente invadidas pelas águas. Segundo disse, hoje o bairro livrou-se desse problema e, de modo geral, está mais amparado pelo poder público. Conta ele que quando chegou ao bairro existia apenas uma casa de parto, hoje existe um posto de saúde; existia 27


apenas uma escola, ao contrário de hoje, que já existe uma dezena delas; sem contar os programas sociais ali desenvolvidos, tanto pelo poder público quanto por organizações não governamentais, como é o caso do Banco Palmas, que, embora o Sr. Gilmar não tenha utilizado os seus serviços de crédito, em muito serve-lhe como recebedor de suas contas de água, luz e outros pagamentos. Por fim, o Sr. Gilmar falou da pretensão de voltar a morar na sua terra natal, não porque não goste do Conjunto Palmeiras, até porque foi no bairro que ele construiu seu pequeno, porém sólido patrimônio, mas porque já está cansado da vida de comerciante e, também, porque quer estar junto aos seus parentes.

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1981

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último período da ditadura militar no Brasil foi marcado como um tempo de efervescência social, cuja abertura democrática gerou marcas identitárias em nosso povo que, ainda hoje, reverberam no nosso cotidiano, pautando nossas discussões e formas de se desejar um futuro melhor para o país. Tendo convivido com a ditadura desde 1964, o país testemunha o surgimento de movimentos por melhorias nas condições de vida, por liberdade de expressão e pela garantia de direitos em todos os lugares, mesmo sabendo dos riscos que poderiam sofrer com a perseguição atroz da máquina governamental. Chegados os anos 1980, o movimento comunitário ganhar força e passa a tratar de questões que envolviam diretamente os bairros e as pequenas comunidades, tendo como foco a falta de estrutura que afetava diretamente o seu cotidiano, como transporte coletivo, educação, saneamento, saúde etc. 29


É importante lembrar que, nos anos 1970 e 1980, os movimentos de bairros caracterizaram-se pela ofensividade e visibilidade públicas, fortalecidos pelo apoio das assessorias, dos partidos de esquerda e da mídia. Na década de 90, processualmente, configurou-se a tão desejada democracia em relação aos anos arbitrários da ditadura. A sociedade redefiniu-se. Eram outras as exigências do fazer político. Os partidos retomaram seu espaço e, em vista da reconstrução social, as assessorias do movimento popular, a mídia, algumas lideranças e os teóricos elegeram novos enfoques, novos espaços de organização, novos olhares sobre a realidade que se apresentava (MATOS, 2012, p. 487).

No Conjunto Palmeiras, surge, na década de 1970, sob a orientação da Prefeitura, um organismo que passou a reunir os moradores da comunidade e que também propunha-se a servir de canal de discussão entre o poder público e a população, ainda muito dentro da perspectiva do primeiro momento de ocupação do território através da concessão dos terrenos pelos órgãos da gestão municipal. Em 1981, dá-se a fundação efetiva da Associação de Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP). Em toda a literatura sobre o bairro, podemos identificar registros de que essa é a entidade inaugural da institucionalização das lutas na comunidade. 30


Art. 1º A Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras, criada a 11.02.1981 e sediada nesta Capital de Fortaleza [...] é composta pelos moradores do referido Conjunto [...], escolhidos em Assembleia Geral a cada três meses. São Finalidades da Associação Art. 2º a) Organizar os moradores para lutarem por seus direitos constitucionais a saúde, educação, moradia, trabalho, cultura e lazer, com especial ênfase no direito da mulher; b) Negociar de forma propositiva com o poder público e outras instituições as legítimas reivindicações dos moradores do Conjunto; c) Executar projetos de desenvolvimento local de combate à pobreza, administrar fundos de crédito e outras operações financeiras que venham a colaborar para a melhoria das condições de vida dos moradores do bairro; d) Fazer prestação de serviços em áreas de seu domínio, principalmente na linha de projetos sociais (ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO CONJUNTO PALMEIRAS, 1999).3

3 Trecho extraído de artigos iniciais do Estatuto da Associação de Moradores do Conjunto Palmeira, com redação registrada em cartório no ano de 1999.

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A criação de uma entidade comunitária foi essencial para levar àquela população a debates envolvendo questões fundamentais para o seu dia a dia, valores estes ainda não discutidos entre seus membros. A partir de então, a comunidade palmilhou amenizar seus problemas em meio ao caos instalado desde a formação urbana do bairro e, com essa luta comunitária, surgem nomes que assumiram a coordenação das muitas frentes de articulação popular que permitiram construir a história do Conjunto Palmeiras, os quais alguns eram da própria comunidade e, os demais, oriundos de outras partes que compunham aquele contexto. Marinete Brito, presidente da ASMOCONP, sempre esteve presente nas ações transformadoras do bairro, como também o ex-seminarista Joaquim Melo, detentor de grandiosa visão de futuro, referência na guarda da memória do bairro, principalmente a relacionada ao Banco Palmas. Os dois, hoje, são imprescindíveis na construção de melhorias da comunidade. Nas minhas andanças pelo bairro, em busca pela compreensão e conhecimento do lugar, pude observar um sentimento de pertencimento de seus moradores que, apesar dos problemas enfrentados cotidianamente, continua muito vivo.

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Comprovei isso quando encontrei o morador e entusiasta do bairro, Ivan de Sousa, em quem descobri uma fonte de informações sobre o lugar e também encontrei um amigo. O Sr. Ivan reside à avenida Val Paraíso e recebeume em uma segunda-feira, dia de feira no bairro. Conversamos bastante sobre a história da comunidade para onde ele veio morar logo na sua formação urbana. Anteriormente, morava no Conjunto Alvorada. O morador nos conta que, no início da ocupação do Conjunto Palmeiras, as casas deveriam ser construídas seguindo o modelo de chalé, com as águas caindo do telhado para as laterais. Toda habitação deveria estar no meio do terreno, sendo reservados dois metros para cada lado, mas poucas foram construídas assim. Naquele tempo, cada um improvisava da melhor maneira que conseguisse. Eram tempos difíceis, de ruas intransitáveis e a coleta de lixo era feita por carroça movida à tração animal. Nosso anfitrião registra a emoção de ver, pela primeira vez, ainda em sua infância no bairro, a chegada de um caminhão de refrigerante que adentrou ao bairro. Aliás, descobri que o lugar guarda muitas histórias marcantes, como o acidente aéreo que causou a morte do ex-presidente da República Humberto de Alencar Castello Branco, sendo esse um fato pouco conhecido como ocorrido no bairro. Soube ainda que havia festas grandes e animadas 33


no bairro, como pré-carnavais e quadrilhas juninas, mas hoje somente a Festa de São Francisco, promovida pela igreja local, resiste ao tempo. No final da minha conversa com o seu Ivan, ele mostrou-me seu ponto de vista sobre a evolução do bairro e, com orgulho, expressou: “Em canto que tem gente trabalhando, não existe pobreza”, referindo-se à imagem que o Conjunto Palmeiras tinha e tem de ser um bairro pobre. Situação refutada por ele veementemente, sob a afirmação que, em Fortaleza, não há bairro melhor para se morar. Foi então que percebi claramente a força do Conjunto Palmeiras no apego dos moradores ao seu bairro.

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Palmas

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bairro Conjunto Palmeiras alcançou reconhecimento, mesmo não obtendo do poder público o auxílio necessário para se estabelecer como uma comunidade à altura de suas famílias. Esse contexto fez com que toda a comunidade adotasse como dever de ofício a superação diária de obstáculos ao seu desenvolvimento. Justamente as pessoas que contribuíam para a expansão da cidade, recorrendo à criatividade na construção de soluções para avançar em busca de dignidade. Mesmo diante de tantos absurdos que não se permitem a uma coletividade, os moradores do bairro jamais sucumbiram à desesperança e, por meio da luta comunitária, uniram-se visando salvar suas crianças, garantir o direito de ir e vir, do abastecimento de água e do saneamento básico. O resultado de todo esse périplo vivido por homens e mulheres, motivados pela vontade de conquistar um novo amanhã, gerou algo pouco percebido: é uma comunidade, hoje, bem estabelecida e com uma identidade forte. 35


Rompendo qualquer paradigma que pudesse paralisar sua capacidade de fazer-se constar apenas em páginas que relatam os problemas da cidade, o Conjunto Palmeiras passa de recebedor de ajuda paliativa a ser exemplo de como a cooperação e a criatividade podem mudar a vida de um povo. Sua vontade de vencer superou as consequências de uma gênese traumática, dando vasão a algo melhor, tornando-se o indutor das mudanças. Após o período caracterizado pelas lutas em busca de serviços básicos, o bairro passa a enfrentar problema de outra ordem: o endividamento gerado em virtude da urbanização que chegava e dispunha de diversos atrativos. Ademais, o comércio surgido na comunidade, ainda que pequeno, padecia em relação às opções existentes em outros bairros, pois aquele oferecia facilidades para um consumo além do limite seguro possível. Como é marca do bairro, debates realizados através de muita conversa e deliberação, todos organizados pela ASMOCONP, suscitaram a mudança de modelos dentro do espaço da comunidade, visto que esta já havia observado o êxodo de muitos moradores antigos, os quais preferiam aproveitar a valorização dos seus terrenos àquela altura, na intenção de algum ganho, para fazer frente ao aumento do custo de vida, pois, com o Conjunto Palmeiras cada vez mais integrado à vida da cidade, nada passava 36


incólume, fazendo com que o bairro sofresse impactos de demorada recuperação. Percebeu-se, então, que a questão econômica era o grande viés a ser abordado naquela nova fase existente na periferia da cidade. Focados na identidade construída pela comunidade, os moradores adquiriram uma autoconfiança que os manteve unidos e determinados, resultando benefícios para a coletividade. A ideia de uma ferramenta que aproveitaria o potencial criativo da população em prol do fortalecimento daquele tecido social manteve, em cada um, o senso de integridade, evitando, assim, a perda das verdadeiras convicções em cada morador. Essa persistência fez a ideia tomar forma e transformar-se no maior símbolo do Conjunto Palmeiras, que jamais voltaria a ser o mesmo, o Banco Palmas. 1. Quem criou o Banco Palmas, de onde veio a ideia? Não teve um criador. Na época, eram cinco pessoas que estavam à frente da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeira. Foram estas pessoas que sistematizaram a criação do banco. O Conjunto Palmeira era uma grande favela. Durante 25 anos, a Associação de Moradores organizou mutirões comunitários e urbanizou o bairro. Construiu um canal de drenagem, redes de esgo37


to, pavimentou as ruas, construiu praças, creches comunitárias e outros serviços. Quando o bairro foi urbanizado (1997), a população local não teve como pagar as taxas (água, esgotamento sanitário, energia elétrica, IPTU e outras) e, então, começou a vender suas casas e ocupar outras favelas. Para tentar reverter esta situação, a Associação de Moradores tomou a iniciativa de criar um projeto que pudesse gerar trabalho e renda para os moradores, na própria comunidade. Esse projeto foi o Banco Palmas (EQUIPE BANCO PALMAS, 2010).4

Sendo a principal marca do bairro, a experiência de banco tinha como missão a disponibilização de microcrédito para dar novo impulso à comunidade que, apesar de vir de uma gloriosa experiência de luta, dava, naquele momento, sinais de enfraquecimento de seu espírito comunitário. Esse feito transformou-se numa forte onda que mexeu com todo aquele povo, além de servir como indutor para a integração de várias correntes sociais intrínsecas ao Conjunto Palmeiras. A contribuição que esse bairro pode dar como referência para a vida dos demais bairros de Fortaleza é ímpar. Tendo vivido a luta comunitária em Messejana, em especial no Sítio São José, e conhecendo iniciativas de 4 Da cartilha “100 perguntas mais frequentes”, editada pela equipe do Banco Palmas.

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diferentes localidades, não percebo experiência igual à do bairro Conjunto Palmeiras. O ano de 1998, um ciclo depois da implantação do Plano Real, que também transformou o Brasil no campo econômico, servirá de ponto inicial para todo o universo criado a partir da preocupação em manter o bairro vivo e, mais do que isso, preservar sua forma. A iniciativa de economia solidária engendrada naquele lugar foi o que permitiu o nascimento do Banco Palmas, entidade que se tornou objeto de muitos trabalhos nacionais e internacionais. Aliás, a repercussão desse nascimento espalhou-se por toda a nação, servindo de exemplo para outras comunidades e mostrando que criatividade pode gerar transformações sem medo das barreiras que sempre emergem da desesperança. Foi assim que, sem nunca esmorecer, seus idealizadores conseguiram o valor de R$ 2.000,00 com a Ceará Periferia – ONG que também desenvolvia trabalhos na oferta de crédito para reforma de moradias –, para dar início às atividades do banco. No dia 20 de janeiro de 1998, em um pequeno galpão, o projeto do Banco Palmas foi colocado em prática. Então cinco clientes foram pedir crédito, 39


um peixeiro, um artesão, um que tinha um mercadinho, um que fazia sapatos e outro que era dono de uma banca de bombom. Como toda mídia foi cobrir a inauguração, o Banco fez um grande sucesso e muitos moradores do bairro foram pedir empréstimo. No primeiro dia, todo o dinheiro tinha acabado. Depois de três dias, a notícia do banco da favela saiu no Jornal Nacional com o William Bonner. Então, a fila no banco cresceu, mas não tinha dinheiro. Passaram seis meses no vermelho, até que os empréstimos fossem pagos (FORTALEZA, 2008).

Deste dia em diante, o Conjunto Palmeiras conseguiu projetar-se em âmbito local, nacional e internacional. Tudo isso por uma realização pautada na vontade de fortalecer a comunidade. Com o surgimento do Banco Palmas, o espectro da inovação foi moldando a história do bairro: do Palmacard, primeiro instrumento utilizado para efetuar o comércio por meio de crédito, passando pela Palmares5, até chegar à Palma6, perpetuando-se como símbolo econômico não apenas para o Conjunto Palmeiras, mas para toda a cidade de Fortaleza. Tamanha foi a abrangência do assunto, que virou até tema de cordel, como podemos conferir pelos versos de Thomas Enlazador. 5 Moeda do Banco Palmas. 6 Moeda que substituiu a anterior Palmares.

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“Esse conjunto é mesmo arretado, residem 30.000 pessoas humildes, guerreiros sonhadores para nada ficam à toa. Foi por lá que começou um processo que vou contar a criação do Banco Palmas uma ação solidária pra ficar. Alguns já ouviram falar de uma economia jovem que é capaz de gerar renda para a comunidade sem o dinheiro centralizar. O nome é fácil decorar são valores que gosto e procuro aclamar, são repletos de significado Economia Solidária uma teia a prosperar. Foi pioneira a iniciativa principalmente no País que surgiu assim com encanto o primeiro banco comunitário no Brasil.

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No ano de 1998 já comemorou-se 12 anos que surgiu o Bancos Palmas e seus créditos sem juros transparente nas finanças, sem criar desconfiança gerando renda em louvor ao trabalho da esperança. Apenas 10 clientes e nada mais que R$ 2.000, que uma estória começou, a revolucionar o Brasil. É beleza de se ver, o que acontece aqui, a moeda que circula, vai e volta e fica ali. O nome dela é Palmas inspirada na comunidade que, como tem que ser, reforça sua identidade. Não é igual a um banco, pois tem fortes diferenças de valores e conceitos, pois no Palmas se buscou 42


com muito respeito fugindo do preconceito a busca por um consenso. Dos empréstimos vou falar. é sem juros o micro-crédito com confiança no ator local, destoa dos grandes bancos, que deixam o povo mal sem ter como pagar o dinheiro emprestado e o juros que foi roubado. Tem loja pra vender, os produtos locais são esses os atores sociais e culturais feitos pelos empreendimentos que o banco vem incubar. Tem roupas mel e sabão, tudo que é gerado é de base comunitária. Assim é que dá gosto, da compra benfeitorada.

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Pra participar é fácil entrar mas na comunidade tem que morar. Sem delongas ou fichas de azar basta ser sincero e no banco se cadastrar. Esse banco, é bom lembrar, se quiser pode estudar quem sabe um dia nós por que não sonhar, vamos ter os nossos bancos pra comunidade administrar” (ENLAZADOR, 2010)

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Nasce um bairro

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epois de 34 anos, o Conjunto Palmeiras adquiriu, em 2007, a oficialização de bairro dentro da conjuntura do município de Fortaleza. O reconhecimento oficial deu-se devido às articulações políticas de forças atuantes dentro da comunidade. Contudo, o recorte geográfico não satisfez por completo os moradores, dada a defesa da identidade histórica da sua construção.

DECRETO LEGISLATIVO Nº 290 DE 13 DE NOVEMBRO DE 2007 Oficializa a denominação do Conjunto Palmeiras e estabelece seus limites, na forma que indica. O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas pelo art. 36, inciso IV e parágrafo único da Lei Orgânica do Município. PROMULGA: 45


Art. 1º Fica oficializada a denominação de Conjunto Palmeiras a uma área sul de Fortaleza, constituindo-se em um novo bairro no Município de Fortaleza, na forma constante do croqui anexo único. Parágrafo Único - O bairro a que se refere o caput tem seus contornos assim delimitados: inicia na confluência do Rio Cocó com a reta imaginária prolongamento da Rua Gutemberg Braun, seguindo por essa reta imaginária e depois pela Rua Gutemberg Braun, no sentido leste, e depois pela Avenida de Contorno Sul do Conjunto São Cristóvão, no sentido norte, até encontrar a Avenida Castelo de Castro, seguindo por essa avenida, no sentido sul, até encontrar a Rua Juripeba, seguindo por essa rua, no sentido leste, até encontrar a Rua Jaborandi, seguindo por essa rua, no sentido norte, até encontrar a Rua Jurema, seguindo por essa rua, no sentido leste, até encontrar a Rua Domingos Alves Ribeiro, seguindo por essa rua, no sentido sul, até encontrar a Rua Verde 34, seguindo por essa rua, no sentido oeste, até encontrar a Rua Verde 1, seguindo por essa rua, no sentido sul, até encontrar a Rua Verde 37, seguindo por essa rua, no sentido oeste, até encontrar a Rua Catolé, seguindo por essa rua, no sentido sul, até encontrar a linha limite do Conjunto Palmeiras, seguindo por essa linha limite, no sentido oeste, até encontrar a Avenida 46


Castelo de Castro, seguindo, no sentido sul, pela servidão de passagem que é o prolongamento da avenida, até encontrar o Anel Viário, seguindo por essa rodovia, no sentido oeste, até encontrar a linha limite do Município de Fortaleza, seguindo por essa linha limite, no sentido oeste, até encontrar o Rio Cocó, seguindo por esse rio, no sentido norte, até o ponto inicial. Art. 2º Este decreto legislativo entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (PAÇO DA CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA JOSÉ BARROS DE ALENCAR, em 13 de novembro de 2007).

O Conjunto Palmeiras, comunidade ou bairro, alcançou, em seus anos de história, um patamar que quase nenhum bairro em Fortaleza conseguiu. Sua insistência em não descansar enquanto os merecidos benefícios não fossem concedidos, criou uma força que faz parte do espírito de cada um que ali reside. Mesmo enfrentando os problemas sociais, como qualquer outra comunidade do nosso país, o bairro insiste em manter sua paz. Ainda há muito o que ser feito no bairro, como a integração das áreas do Jagatá, Palmeiras II, Piçarreira 47


e Aldaci Barbosa ou Favela do Circo, comunidades que foram se formando no entorno do conjunto original. Apesar dos percalços, o Conjunto Palmeiras tem hoje como oferecer educação pública para suas crianças em uma das maiores concentrações de escolas públicas da cidade. Outras necessidades, como saúde e lazer, também estão contempladas graças aos esforços de várias gerações que decidiram fazer desse lugar seu próprio lar. Esse bairro, mesmo em meio às adversidades, assistiu surgir movimentos culturais de destaque. Podemos citar o CORDAPÉS, pioneiro na dança e outras atividades artísticas dentro da comunidade, bem como o cantor Parahyba, reconhecido no cenário nacional. O bairro é solidário e inovador, trabalha para manter sua identidade e a valorização do seu povo. Pela sua trajetória, deveria ser estudado sistematicamente em nossas escolas por ter o signo de resistência e os ensinamentos de como podemos enfrentar os obstáculos sem nos perdermos em discursos vazios. Para mim, o Conjunto Palmeiras é digno de todas as homenagens, assim como sua população de quase 40 mil habitantes.

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Este livro foi impresso em Fortaleza (CE), no outono de 2016. A fonte usada no miolo é Times New Roman, corpo 11/13,5. O papel do miolo é pólen 90g/m², e o da capa é cartão supremo 250g/m².


Felipe Neto, nascido em Messejana, filho de Simone e Edmar, é historiador formado pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), e já tem publicadas as obras Muito além dos muros do Forte: as dinâmicas que propiciam a anexação do antigo município de Messejana a Fortaleza em 1921 e os seus desdobramentos e A lenda viva dos animais que voavam, ambas resultado de premiações. É ativista do movimento comunitário em sua terra natal. Foto da contracapa Igreja da Paróquia de São Francisco de Assis.



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