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INTERCULTURALIDADE

INTERCULTURALIDADE

Foto de Aaron Burden - @aaronburden

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O que significa fazer escola hoje?

Escola, para os gregos “σχολή”, indicava o espaço vital em que se praticava o ócio, a discussão livre, o aprendizado como experiência intensa. Era o lugar onde se debatia com o próprio mestre temas de seu in teresse e questões filosóficas variadas. Na Idade Média a “escola” ganhou um local definido, com regras específicas. Alí se transmitiam conhecimentos e saberes e também se permitia a aqui sição de conhecimentos técnicos.

Os Estados Nacionais e a Igreja tiveram um papel importante na criação e difusão de escolas pelos territórios neste período. Tal espaço era dividido entre aqueles que detinham o saber e aqueles que precisavam ser educados. A educação nesse período era um instrumento de classe e recebia crianças e jovens prioritariamente abastados. O foco era na memorização de conteúdos e na sua respectiva exibição pública. A escola se transformou num espaço privilegiado onde se aprendia tudo o que era considerado digno de ser ensinado. Naturalmente, Estado e Igreja tinham objetivos diferenciados tanto em relação ao aprender quanto ao conteúdo a ser ensinado.

O conhecimento estava fundamentado nos mestres e nos livros. Aliás, os livros foram o instrumento privilegia do do conhecimento durante um longo período de tempo. A própria estrutura do espaço (que ainda permanece de alguma forma) sugeria isso: em cima de uma plataforma estava a mesa do professor e voltadas para ele todas as carteiras dos estudantes, prontos para receber os conhecimentos do docente. A disciplina era rigorosíssima e casti gos físicos eram naturais.

Hoje em dia as crianças e os adolescentes não são mais considerados como tábula rasa, mas como indiví duos que possuem e constroem conhecimento.Percebeu-sequea aprendizagem e o saber estão em todos os espaços e não apenas na sala de aula. O conhecimento não está apenas na figura do professor e nem nos livros. Nem no Google. O conhecimento é a construção do que o sujeito realiza por meio de suas leituras, percep ções e vivências.

Foto de Annie Spratt - @anniespratt

Tudo isso faz com que o indivíduo reconstrua e reinterprete sua visão de mundo, suas convicções, seus conhecimentos e sua cultura. Portanto, o saber está em todos os lugares e pode ser alcançado de incontáveis formas. Hoje temos à disposição uma série de tecnologias complexas e impressionantes se considerarmos a história da humanidade: a Internet, o computador e o mundo digital. Os alunos hoje não são passageiros da máquina de construção do saber, mas motoristas e, como diz o filósofo francês Michel Serres (1930-2019), não podem suportar a poltrona do passageiro passivo. A escola não é mais o lugar do conhecimento e das informações por excelência, mas é o lugar privilegiado para dar significado ao conhecimento.

O professor não é mais o único que detém o saber, mas é um mediador que ajuda a organizar informações e saberes, desenvolver competências e, sobretudo, auxiliar os alunos a construir significados e sentidos para o mundo. Neste novo espaço, as novas tecnologias, assim como ocorreu com os livros, nos trazem instrumentos e lentes de aumento para apreender a realidade de formas jamais imaginadas. Portanto, são grandes aliados e importantes fontes para a construção do saber. Esse infinito mundo que se abre pode ser porém muito árido e pobre caso não se consiga dar sentido

nem mediar a construção de significados. Aliás, é por isso que hoje se considera que a Internet contém muitas informações, mas não conhecimento.

Apesar de todos esses instrumentos, a escola continua sendo o lugar privilegiado da construção do co nhecimento, do estabelecimento das relações humanas (socialização) e do diálogo (troca), por meio dos quais se constroem o saber, a cultura e o cida dão consciente. É um direito inalienável do indivíduo frequentar a escola, tanto na atualidade quanto no futuro. Mas nem sempre os pobres, os escravos e as mulheres puderam frequentar as escolas. Aliás, é por isso que Malala, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2014, afirma: «Embora amássemos estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o talibã tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres de casa não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro».

Por fim, lembramos que fazer escola hoje significa diálogo, tolerância, liberdade, flexibilidade, comprometimento e desejo de mudar o mundo.

Paola Capraro e Pedro Ramos

Diretora Didática Italiana e Diretor Geral

Nesse novo espaço, as novas tecnologias, como ocorreu com os livros, nos trazem instrumentos e lentes de aumento para apreender a realidade de formas jamais imaginadas

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