Trauma BoleTEAM SBAIT - ed 28

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Editorial

Adeus 2020. E que 2021 nos traga a Esperança!

Expediente

Além disso, houve progresso no que se refere ao Registro de Trauma, projeto liderado pelo Dr. José Gustavo Parreira, com o início da utilização de uma ferramenta para alimentar os dados de Trauma dos principais centros do país. Outro ponto importante desenvolvido foi relacionado ao CoBraLT, que reúne estudantes de medicina em Ligas de Trauma, e que serão o futuro dos Cirurgiões de Trauma do país. O CoBraLT ficará oficialmente dentro da SBAIT neste próximo ano, Dr. Tércio de Campos, presidente da SBAIT com vários benefícios para todos. Outra frente importante criada foi relacionada ao aumento do tempo de treinamento do Cirurgião de Trauma. A SBAIT defende que com dois anos, treina-se melhor um cirurgião de trauma do que com um ano. Difícil a contestação disto. Entretanto, enfrentamos barreiras para que este projeto fosse encaminhado à Comissão Nacional de Residencia Médica pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões. A causa é nobre e não desistiremos dela! Em 2021, teremos nosso Congresso. Este Congresso teve que ser adiado por um ano, o que levou à prorrogação de mais um ano do mandato da diretoria atual. E este Congresso deverá ser um marco como o maior evento cientifico de Trauma pós-pandemia, que unirá 5 Sociedades de grande importância no Trauma: além da SBAIT, com seu Congresso tradicional, teremos o também aguardado Congresso da Sociedade Pan-americana de Trauma, o CoBraLT, com o Congresso das Ligas de Trauma, a ALTEC, trazendo nossos irmãos portugueses para o primeiro Congresso conjunto entre as Sociedades, e a ABRAMEDE, sociedade que cresceu muito nos últimos anos e que é uma nova aliada da SBAIT na batalha a um atendimento melhor às vitimas de Trauma. Faremos um evento marcante para mostrar que a SBAIT continua crescendo e que está cada vez mais forte. Só com a sociedade forte conseguiremos cumprir integralmente nossa missão, que é “Liderar, Inspirar e Capacitar as Pessoas na Prevenção e Cuidado às Vítimas de Trauma no Brasil”. Se você cuida de vítimas de Trauma, sua sociedade é a SBAIT. Ajude a deixá-la mais forte. Precisamos de você!!! E contamos com todos neste grande evento de 2021

Arquivo SBAIT

Terminamos 2020, um dos anos que mais desafiaram a humanidade. Um vírus que assombrou a todos, modificou hábitos e mudou para sempre nosso mundo. Por alguns meses, às custas disto, houve redução do número de vítimas de Trauma, porque as pessoas não saíam de casa. E com isto, novas formas de comunicação foram desenvolvidas. A SBAIT tomou a frente deste processo e criou suas reuniões através da Plataforma Zoom. A primeira reunião aconteceu no dia 19 de março de 2020 com o nosso amigo e convidado Internacional Dr. Antonio Marttos Jr., na semana em que o Brasil teve sua primeira morte por COVID-19. Hoje, em janeiro de 2021, são mais de 200.000 mortes relacionadas a esta doença. A SBAIT organizou campanhas sobre a doação de sangue, incentivou o uso de máscaras logo no início da Pandemia e participou do desenvolvimento das normas técnicas da ANVISA. Infelizmente, perdemos vários colegas, e inúmeros ficaram internados em situações graves. A união de todos na tentativa de aprender sobre esta doença foi fundamental. Muitos colegas da SBAIT se destacaram com publicações de impacto sobre a COVID-19, e a SBAIT foi pioneira em dar recomendações para o cirurgião exposto a esta doença. Ao todo, foram 30 reuniões sobre a COVID-19, duas vezes por semana. Além do conhecimento transmitido pelos colegas de todo o país, surgiu a certeza de que a SBAIT poderia se reunir desta forma regularmente. A ferramenta havia se difundido entre os sócios da SBAIT e passamos a fazer reuniões semanais e com a possibilidade de trazer amigos de grande destaque no mundo para nos presentear com uma aula Magna sobre um tema de Trauma. Dentre eles, Sandro Rizoli, do Qatar, Antonio Marttos Jr., dos Estados Unidos, e, finalizando o ano, Carlos Ordoñez, da Colômbia, e Carlos Mesquita, de Portugal, sendo esta última a reunião que celebrou uma década de união entre brasileiros e portugueses na batalha contínua de ensinar as pessoas a cuidarem melhor de doentes traumatizados. Deste modo, estabelecemos as reuniões da SBAIT todas às quintas-feiras, às 18:00, como um local de encontro de todos que estão envolvidos na linha de cuidado ao Traumatizado. Temas relevantes foram desenvolvidos durante este ano, que são os pilares para a evolução da SBAIT como sociedade. O planejamento estratégico da SBAIT foi desenvolvido e, baseado nas discussões do grupo de trabalho, os principais objetivos da sociedade foram definidos. Dentre eles, citamos: a criação e acreditação de Centros de Trauma, com um projeto inicial liderado pelo Dr. Milton Steinman e pelo Dr. Danilo Stanzani, com o desenvolvimento deste trabalho em São José dos Campos, junto à Secretaria Municipal de Saúde, e que está detalhado nesta edição.

Dr Tércio de Campos, presidente da SBAIT

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATENDIMENTO INTEGRADO AO TRAUMATIZADO Presidente: Tércio de Campos (SP) 1º Vice-Presidente: Amauri Clemente da Rocha (SP) 2º Vice-Presidente: Rogério Fett Schneider (RS) Secretário Geral: Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro (SP) 1º Secretário: Fábio Henrique de Carvalho (PR) 2º Secretário: Hélio Machado Vieira Jr (RJ) 1º Tesoureiro: Bruno Monteiro Tavares Pereira (SP) 2º Tesoureiro: Lívio José Suretti Pires (MG) Comitê Pré-Hospitalar: Daniel Souza Lima (CE)

Secretária: Nancy Job (secretaria@sbait.org.br) Comunicação Digital: CRM Media (cristiane@crmmedia.com.br) Assessoria de Imprensa: Capovilla Comunicação (imprensa@sbait.org.br) Contabilidade: Consuport Redação TRAUMA BoleTEAM: Cristiane Regina da Silva Manzotti e Patrícia

Comitê Ligas do Trauma: Thiago Rodrigues A. Calderan (SP) Comitê de Educação: Roberta Dalcin (RS) Comitê de Desastres: André Gusmão (BA) Comitê de Qualidade e Registro de Trauma: José Gustavo Parreira (SP) Comitê de Prevenção: Danilo Stanzani (SP) Comitê de Acreditação: Edivaldo Massaro Utiyama (SP) Conselho Consultivo e Fiscal: André Gusmão (BA), Carlos Alberto Fagundes (ES), Sizenando Starling (MG), Sandro Scarpelini (SP) e Carlos Otávio Corso (RS).

Capovilla Jornalista Responsável: Patrícia Capovilla (MTb 31.445) Edição de Arte: Karina Brito – Proteção Publicações Ltda Capa: Freepik

Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado - www.sbait.org.br - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278, 6º andar - Bela Vista - São Paulo - SP CEP 01318-901 - Fone/Fax (11) 3188 4558 - Horário de funcionamento: de segunda a sexta feira, das 12h00 às 18h00. Tiragem: 800 exemplares


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Wine Meeting

Encontro virtual celebra década de parceria entre SBAIT e ALTEC Arquivo SBAIT

O membro honorário Dr Carlos Mesquita conduziu a última reunião do ano, realizada em 17 de dezembro

Encontro virtual contou com a participação de diversos cirurgiões do trauma

Brasil é o 5º país que mais realiza cursos de DSTC

década valiosa para nós, com um encontro entre as duas sociedades “, destacou o presidente da SBAIT, Dr. Tercio de Campos. Durante sua explanação, Mesquita relembrou toda a sua trajetória e o início da parceira com o Brasil. Apresentou fotos de suas visitas ao nosso país e também de visitas que membros da SBAIT fizeram a Portugal. Ele destacou o primeiro curso de DSTC (Cuidados Definitivos na Cirurgia do Trauma) no Brasil, que foi realizado em maio de 2010 na cidade de Ribeirão Preto (SP) e praticamente deu início a essa parceria entre os dois países. “Este curso de Ribeirão Preto foi muito interessante, não só sob os aspectos científicos, mas teve também os aspectos culturais e lúdicos”, avaliou. “Além do mais, este curso tinha de fato a nata dos cirurgiões brasileiros, das pessoas do trauma. Digamos que as pessoas foram muito bem selecionadas para o curso”, destacou. Isso, em sua opinião, ajudou muito a disseminar o DSTC no Brasil, já que os participantes tinham posições estratégicas. O Brasil é o 5º país que mais realizou cursos DSTC no mundo, com 46 edições. Durante toda a sua apresentação, Mesquita deixou claro seu carinho pelo Brasil e pelos cirurgiões brasileiros. Lembrou dos congressos da SBAIT em que esteve presente e reforçou a importância da parceira entre os dois países, que está cada vez mais fortalecida. Um exemplo é que, em

2021, acontecerá o I Congresso Luso-Brasileiro de Trauma, que acontecerá dentro do Trauma 2021, em São Paulo, entre os dias 14 e 16 de outubro. Dr. Tercio finalizou a reunião agradecendo à apresentação e reforçando que Mesquita é um mestre e um mentor. Também agradeceu a todos os participantes, que, segundo ele, contribuíram de maneira muito importante para essa década de parceria entre os dois países. “Cada uma das pessoas que estão aqui hoje tem parte nisso. Agradeço a todos pela presença nesse evento festivo, marcante e importante”, disse. O Wine Meeting foi a 54ª reunião virtual da SBAIT. Os encontros iniciaram-se em março, com duas edições semanais, em razão da pandemia da Covid-19, com o objetivo de discutir o tema e oferecer suporte e troca de informações acerca do coronavírus, tratamentos, prevenções e condutas. O sucesso foi tão grande que a atual diretoria decidiu manter a programação, a partir de julho, com uma reunião por semana e temas diversificados, que vão desde as estratégias e serviços desenvolvidos pela SBAIT até discussão de casos clínicos. As reuniões acontecem todas as quintas-feiras, das 18h às 19h30, sempre pelo Zoom. A programação pode ser conferida pelas redes sociais da SBAIT. Arquivo SBAIT

Arquivo SBAIT

As reuniões semanais da SBAIT de 2020 foram encerradas no dia 17 de dezembro, com o Wine Meeting, que além da confraternização, também promoveu uma homenagem à década de parceria entre a ALTEC (Associação Lusitana de Trauma e Emergências Cirúrgicas) e a SBAIT. O encontro virtual, comandado pelo convidado especial Dr. Carlos Mesquita, foi realizado pelo Zoom e transmitido ao vivo pela fanpage da SBAIT. Participaram cirurgiões brasileiros e portugueses. Mesquita é membro honorário da SBAIT e presidente da ALTEC. “A amizade com a ALTEC e os colegas portugueses abriu novas fronteiras para a SBAIT, possibilitando que a SBAIT ingressasse no continente europeu. O apoio dos amigos de Portugal, liderados pelo nosso mentor Dr. Carlos Mesquita nos cursos realizados no Brasil, a partir de 2010, gera conhecimento para um grande número de pessoas e, por isso, celebramos o encerramento dessa

Dr Mesquita falou sobre a parceria entre Brasil e Portugal


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Relato

Dr. Valdir Zamboni conta como conseguiu vencer a COVID-19 Médico cirurgião da Divisão 3 de Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas de São Paulo, cirurgião do Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo) e cirurgião geral do Hospital de Vila Alpina (HEVA), Dr. Valdir Zamboni é um sobrevivente da COVID-19. Aos 62 anos, foi contaminado pelo vírus SARS-COV-2 e desenvolveu uma forma grave da doença, que o deixou quatro meses internado, entre UTI, enfermaria e reabilitação. Foram 135 dias entre o início dos sintomas e a volta para casa. Nesse período, chegou a ter 92% do pulmão comprometido, foi pronado, intubado, reintubado, traqueostomizado, teve edema pulmonar agudo, pneumonia bacteriana associada, pneumotórax, fraqueza generalizada, confusão mental, dependência prolongada de oxigênio. Perdeu 26 quilos e lutou muito contra sua improvável recuperação. Mas o amor pela família e a dedicação e competências das equipes de saúde que cuidaram dele reverteram o quadro. Hoje, já em casa, mas ainda em reabilitação, ele conta um pouco de sua história e fala qual é o seu maior sonho. Confira nesse relato emocionante:

Arquivo pessoal

“No ano passado, eu tive uma experiência muito difícil na vida, que foi passar pela COVID-19, uma forma grave da doença. Quando o Serviço de Cirurgia do Hospital das Clínicas (São Paulo) dividiu os assistentes mais jovens, com menos fator de risco, e os assistentes mais velhos, acima de 60 anos, com comorbidades, entre o

Dr. Zamboni ficou quatro meses internado

Arquivo pessoal

Cirurgião ficou quatro meses internado e enfrentou diversas complicações

Equipe de reabilitação do Hospital Lucy Montoro

HC, que virava um covidário, e o INCOR, para continuar o atendimento de pacientes não COVID, de trauma e não trauma, eu fui para o INCOR. Muitas vezes, de plantão, eu olhava o Hospital das Clínicas, o instituto central, e mirava o 11º andar, onde ficavam os pacientes mais graves com COVID-19, que eram as UTI’s. Eu jamais imaginaria que pouquíssimo tempo depois, eu estaria ali. Essas coisas a gente não imagina que podem acontecer com a gente, mas acontecem. Por isso, todas as medidas de precaução, que, inclusive, eu tomei naquela fase, infelizmente não evitaram que eu tivesse uma forma grave da doença. Eu, então, estava com 62 anos, era hipertenso, não era diabético, tomava Enalapril e me cuidava. Tinha um sobrepeso, estava com IMC de 28, 29. Eu comecei com sintomas mais ou menos uma semana antes de ser internado, no dia 2 de maio. Sintomas inespecíficos, de uma virose. Não perdi olfato, não perdi gosto. Eu só não tinha apetite, uma anorexia grande, só tinha vontade de ficar deitado, não tive dor de garganta. Fui até o hospital para colher um RTPCR para ver se não era COVID. Fiz o teste, aguardei 48/72 horas. O teste deu duvidoso, mas uma tomografia já mostrava sinais de que tratava-se do vírus SARS-COV-2. Já havia um pouquinho de lesão em vidro fosco e o meu pulmão tinha um pouquinho de enfisema lobar, no lóbulo superior. Eu fui

orientado a ficar em casa, com medidas de suporte de ordem geral, não tomei nenhuma medicação por orientação médica, apenas sintomáticos, e aguardei a evolução da doença. Cinco dias depois, em casa, eu comecei a sentir falta de ar, dessaturei, voltei para o hospital. No hospital, refiz uma tomografia e já tinha 50% dos pulmões comprometidos pela doença. Fui transferido para o Hospital das Clínicas. No dia 2 de maio, era um sábado, entrei e fui internado diretamente na UTI. Permaneci na UTI, nos primeiros dias, com ventilação por máscara não invasiva, em prona e cateter de oxigênio de alto fluxo. Meu estado clínico foi piorando e aí eu recebi a notícia que precisaria ser intubado. Quando te dão essa notícia, é muito dramático porque passa na cabeça da gente que tudo pode terminar ali. Eu pensei que eu precisava do procedimento e aí minha consciência foi tirada e começou o meu calvário. Tudo que aconteceu na UTI, durante muito tempo, eu estava absolutamente inconsciente. E mesmo os períodos de agitação que eu tive, de arrancar a traqueostomia, arrancar dreno de tórax, ficar numa situação crítica, com infecção secundária pulmonar, com 92% dos pulmões comprometidos pela doença, tendo uma sobrevivência absolutamente improvável, eu não senti nada. Eu não vivenciei, do ponto de vista consciente, essas experiências, porque eu estava sedado.


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Arquivo pessoal

Por um milagre, eu acabei sobrevivendo a essa fase. Quando eu voltei à consciência, eu não tinha, primeiro, ideia de quanto tempo tinha se passado. Eu só sei que quando eu acordei, eu estava traqueostomizado, ligado a um ventilador mecânico, com cuff insuflado na traqueia. E essa é uma sensação, eu posso garantir, horrível... porque a sensação que você tem é que estão com as duas mãos apertando a sua traqueia. Essa é a sensação de você ter um cuff insuflado na traqueia, estando consciente. Eu não conseguia abrir a mão, tamanha era a minha miopatia difusa, meu grau de perda de força muscular. Eu tremia, eu tinha perdido 26 quilos, eu mal conseguia me mover na cama. Mas o mais terrível era a sensação de sufocamento pela ventilação mecânica e os exames, as gasometrias. A gasometria, quando eles vinham colher na artéria radial, era muito sofrimento. Eu tinha vontade de gritar de dor. Era muito ruim. Nessa altura do campeonato, eu já estava sem cateter central, sem sonda vesical, para evitar novos focos de infecção, porque tudo que eu não podia era pegar uma infecção de novo. Eu estava tomando muito corticoide, estava tomando Clexane, que eram medicações absolutamente necessárias, e, graças a Deus, eu não tinha tido nenhum fenômeno tromboembólico cerebral ou cardíaco, tanto que eu estava vivo, e eu estava, do ponto de vista cognitivo, bem. Isso foi uma dádiva. Quando eu acordei e me tornei consciente na UTI, a sensação de sede era terrível. Tudo que eu queria era um pedaço de gelo, de água na minha boca, só que eu não podia pingar uma gota de água na boca porque eu estava proibido de ingerir líquidos, eu tinha uma sonda nasoenteral, por onde estava sendo administrada dieta enteral, mas eu não podia deglutir nada. Não se sabia se eu tinha algum distúrbio de deglutição ou não. Então eu tive de fazer testes de deglutição, testes para ver se eu não aspirava, para serem liberadas

Família foi fundamental no processo de recuperação

água e dieta. Mas durante essa fase, em que esses testes não podiam ser feitos, e eu estava só com a sonda enteral, que aliás eu perdi três vezes, foi muito terrível a sensação de sede. Só que eu não podia deglutir nada até que as fonos fizessem os testes, com azul de metileno, e pudessem me liberar a dieta, ou seja, garantir que eu não estivesse aspirando, uma vez que eu não poderia ter nenhuma superinfecção pulmonar. Um ponto importante é que o atendimento na UTI do HC foi muito humanizado nessa fase. Apesar de ter vários pacientes, apesar de vários casos graves, eu fui muito bem cuidado, muito bem assistido, tanto que eu não tive escara sacral, eu não tive escara no calcâneo. Eu só tive uma sequela neurológica periférica, uma queda do hálux, paresia e parestesia no pé direito, sequela essa que ainda permanece. De uma maneira geral, a gente solicita muito a fisioterapia nessa fase. Um procedimento que foi feito comigo, que me ajudou muito, foi a estimulação elétrica do diafragma, por eletrodos. Eu fiz uma semana direto de estimulação elétrica para fortalecer a musculatura, porque estava absolutamente atrofiada, e tentar diminuir a necessidade de ventilação mecânica do aparelho e passar só a nebulizar. Eu sabia que para eu deixar de usar o aparelho, eu precisava nebulizar durante 48 horas e, a partir dessa nebulização, eu poderia decanular a traqueostomia. E assim foi feito. Num processo absolutamente tranquilo e bem sucedido, eu acabei decanulando. Quando você tira a traqueostomia, é uma dádiva. Primeiro, porque você consegue falar. Depois, porque você consegue ter contato com a família. Apesar que, mesmo com traqueostomia, as fisioterapeutas me possibilitavam contato com a minha família, porque você fica isolado da família e não recebe visitas. E isso me deu muita força, me deu uma força enorme ter contato com eles todo dia. A partir daí, eu pude receber alta da UTI e ir para a enfermaria. Eu fiquei 12 dias na enfermaria, onde já iniciei um processo de reabilitação, com fisioterapeuta, terapia ocupacional, porque a miopatia é generalizada. Eu não conseguia andar, tive de reaprender a andar. Eu comia muito, eu tinha muita fome, e recebi dos meus colegas no HC vários estímulos. Eles me traziam suco, pão de

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Reabilitação continua, com aulas de musculação diárias

queijo, croissant, um lanche diferente, mas eu procurava respeitar as dietas do HC também. Nessa fase, eu estava tentando ganhar um pouco de peso, mas eu não consegui ganhar muito peso no HC... e aí eu recebi a notícia de que eu iria para um hospital de reabilitação. Fui transferido para o Hospital Lucy Montoro, que é uma ilha de excelência nesse país, em termos de reabilitação, em termos de estrutura, e eu fiquei muito feliz quando recebi a notícia de que eu ia poder fazer minha reabilitação ali, e minha esposa iria me acompanhar o tempo todo (ela teve que se hospitalizar comigo no quarto e permanecer 38 longos dias). Eu ainda dependia de oxigênio. Fui para lá na cadeira de rodas. Com fisioterapia, condicionamento físico, fonoaudiologia, terapia ocupacional, cozinha inclusiva, eu pude iniciar e dar curso no meu processo de reabilitação. E seguramente saí bem melhor. Consegui sair de lá andando, sem tremores, consegui ganhar peso, porque existe uma orientação nutricional muito boa lá, enfim, o hospital me ajudou muito. Eu ainda estou me reabilitando. Eu estou em casa, tive alta no dia 3 de setembro, portanto, eu fiquei quatro meses internado no total, mas consegui voltar para casa melhor, muito melhor do que quando eu saí do HC. Eu continuo meu processo de reabilitação aqui em casa, graças ao meu filho, que tem me orientado na academia aqui do prédio diariamente na musculação, nos exercícios respiratórios. Estou ganhando peso e a minha meta é poder voltar a trabalhar. Tudo que eu quero é poder voltar a operar novamente, voltar ao Hospital das Clínicas, entrar pela porta da frente do 5º andar e falar: eu voltei. Eu vim trabalhar, pessoal”.


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São Paulo

TRAUMA BRASIL 2021 SERÁ O MAIOR EVENTO DE TRAUMA PRESENCIAL PÓS-PANDEMIA

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O Trauma Brasil 2021 será o maior evento de trauma presencial do mundo após a pandemia da COVID-19. Ele reunirá quatro congressos e um encontro, em São Paulo, entre os dias 14 e 16 de outubro deste ano. Inicialmente, ele seria realizado em novembro de 2020, mas a diretoria da SBAIT optou por adiar o evento em um ano e manter o formato presencial. O Trauma 2021 será formato pelo XXXIV Panamerican Congress of Trauma, Critical Care and Emergency Surgery, pelo XIV Congresso da SBAIT, pelo XXIII CoLT (Congressos das Ligas de Trauma), pelo I Congresso Luso-Brasileiro de Trauma e pelo I Encontro Brasileiro de Emergência e Trauma. “É um evento que vai reunir cinco sociedades que têm muita força quando se fala de Trauma”, destaca o presidente do Trauma Brasil 2021 e da SBAIT, Dr. Tércio de Campos, referindo-se à SPT (Sociedade Pan-americana de Trauma), à ALTEC (Associação Lusitana de Trauma e Emergência Cirúrgica), à SBAIT, ao CoBraLT (Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma) e à ABRAMEDE (Associação Brasileira de Medicina e Emergência). Dois dos congressos que fazem parte do Trauma 2021 aconteceram em 2020, mas de forma virtual. O XXII CoLT foi realizado em novembro e XXXIII Panamerican Congress of Trauma, Critical Care

Presidente do Trauma Brasil 2021, Dr Tércio afirma que será maior evento de Trauma pós-pandemia

Divulgação

Serão quatro congressos e um encontro reunidos em um único local

Espaço amplo e com estrutura diferenciada para a realização do Trauma Brasil 2021

and Emergency Surgery, em outubro. “A Sociedade Pan-americana de Trauma, presidida pelo Dr. Antonio Marttos, que é importantíssima em todas as Américas e com influência no mundo todo, não teve seu congresso anual em 2019, no Chile, por causa de manifestações violentas que estavam acontecendo por lá. Em 2020, foi virtual. Então, há uma expectativa muito grande porque, depois de três anos, a SPT estará in loco”, diz Dr. Tércio. Outro ponto importante é o Congresso da SBAIT, realizado a cada dois anos e que, tradicionalmente, reúne grandes nomes do Trauma do mundo todo. “Nosso congresso é um congresso forte, que reúne muita gente. Todos os especialistas em Trauma fazem parte desse congresso e estão convidados. Todos estarão presentes em São Paulo”, comenta. “Faz muitos anos que São Paulo não sedia um evento tão grande na área de Trauma, então estamos muito otimistas e temos certeza de que será um sucesso. As pessoas estão sedentas por um congresso e por se encontrarem”, avalia. A próxima edição do CoLT também

promete novidades. Este será o primeiro congresso em que o CoBraLT estará formalmente ligado à SBAIT. “Até agora, não existia esse vínculo formal. Existia apenas um vínculo histórico. Nós vamos deixar um espaço todo especial para os alunos, onde terão voz e oportunidade de sugerir o que querem fazer. As Ligas do Trauma são um verdadeiro exército de alunos empolgados com o trauma e motivados”, afirma Dr. Tércio. De acordo com o presidente do CoBraLT, Dr. Marcelo Regis Lima Corrêa, a próxima edição do CoLT manterá o CompetiCoLT, uma competição de perguntas e respostas formadas por Ligas do Trauma, que aconteceu pela primeira vez no congresso virtual, e também abrirá a oportunidade para membros das ligas filiadas ao CoBraLT participarem como apoiadores do CoLT, principalmente na divulgação e auxílio de atividades. Haverá, ainda, a apresentação de trabalhos científicos, que incentiva a iniciação científica e ajuda a preparar os alunos para o caminho da ciência. “A importância de estar presente no


7 Arquivo pessoal

Presidente da SPT, Dr. Marttos estará presente no evento

Dra. Cândice é a organizadora do encontro da ABRAMEDE

A ABRAMEDE, outro parceiro da SBAIT que, pela primeira vez, realizará um evento em conjunto, também está otimista. “As expectativas são as melhores possíveis. Temos de fortalecer e ampliar a divulgação da linha de cuidados ao Trauma, e esta união de esforços entre tantas entidades que estarão presentes em um único evento irá trazer foco ao tema”, afirma a Dra. Cândice Rosito Mercio e Vasconcelos, presidente da Comissão Nacional de Trauma da ABRAMEDE e organizadora do I Encontro Brasileiro de Emergência e Trauma. Ela explica que a ABRAMEDE decidiu participar do Trauma Brasil 2021 porque o trauma é uma doença complexa, com inúmeras etapas na sua linha de cuidado, iniciando no serviço pré-hospitalar e finalizando na reabilitação. Segundo Cândice, um dos momentos mais críticos dessa linha de cuidado é quando o paciente é admitido no hospital e precisa de uma avaliação inicial rápida e assertiva. “Com o reconhecimento da Medici-

na de Emergência como especialidade em 2017, o emergencista é, junto com o cirurgião do trauma, o responsável por esta abordagem. Entendemos a sinergia do trabalho desses dois profissionais”, explica. Para Dr. Tércio, essa nova parceria com a ABRAMEDE faz parte da atual visão da SBAIT, que é justamente aumentar as parcerias e alianças, para oferecer o melhor tratamento para os pacientes. “A ABRAMEDE é uma associação muito forte, que cresceu muito na última década. Vamos reservar um espaço muito especial no evento para eles, onde poderão ter uma sessão dedicada ao envolvimento dos emergencistas nas situações de Trauma”, antecipa Dr. Tércio. “Será um congresso muito encorpado, muito atraente, com várias inovações. O local é de fácil acesso e com uma estrutura completa, inclusive com um shopping. Também vamos organizar atividades sociais e eventos em comemoração ao combate ao Trauma. Até lá, a pandemia estará em uma situação muito diferente da que estamos vivendo hoje e, mesmo se houver necessidade, como o espaço é bem grande, conseguiremos manter o distanciamento social”, explica Dr. Tércio. “Não tenho dúvida de que será um evento marcante e muito especial”, finaliza.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Trauma Brasil 2021 é a de não perder a oportunidade de estar onde as coisas acontecem. O Trauma Brasil 2021 projeta ser um dos maiores eventos de trauma do mundo para este ano, então todos aqueles que têm um pingo de interesse no assunto precisam aproveitar para aprender, se atualizar e buscar o seu caminho, principalmente os acadêmicos, e o Trauma Brasil 2021 é uma excelente oportunidade para conhecer a medicina do Trauma”, comenta Corrêa. “A minha expectativa é de que façamos um dos maiores congressos de Trauma que o Brasil já viu. No ano pós-pandemia, em que todos ficaram em casa amargurando a saudade por eventos como esse, com certeza, teremos uma das maiores adesões já vistas”, comemora. O Trauma Brasil 2021 também marcará os 10 anos de parceria entre SBAIT e ALTEC, com a realização do I Congresso Luso-Brasileiro de Trauma. “São 10 anos de uma cooperação contínua. A ideia é que esse evento se perpetue”, reforça Dr. Tércio. O presidente da ALTEC, Dr. Carlos Mesquita, também acredita na continuidade do evento. “O Brasil é um parceiro natural de Portugal, pela língua e pela história. Além do mais, pela sua dimensão, 100 vezes maior que Portugal em área geográfica e 20 em população, é previsivelmente grande a garantia de continuidade de qualquer projeto, em especial nesta área do Trauma e da Cirurgia de Emergência”, comenta. Segundo Dr. Mesquita, o público pode esperar um ambiente descontraído e de grande amizade, entre dois grupos de cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e outros profissionais que já se conhecem muito, pelo fato de trabalharem juntos, aqui e em Portugal, há mais de 10 anos.

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Dr. Marcelo ressalta a importância do evento para acadêmicos

Dr. Mesquita – “Ambiente descontraído e de amizade”

Serviço: O Trauma Brasil 2021 será realizado entre os dias 14 e 16 de outubro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Em breve, as inscrições estarão disponíveis e poderão ser acessadas através das redes sociais e do site da SBAIT.


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On-Line

5º Congresso Mundial de Trauma será em fevereiro A primeira edição aconteceu em 2012, no Rio de Janeiro

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Arquivo SBAIT

A edição do 5º Congresso Mundial de Trauma, previsto inicialmente para ser realizado no mês de outubro de 2020, em Brisbane, Austrália, acontecerá de 14 a 18 de fevereiro de 2021. O evento será on-line e realizado junto à American Association for the Surgery of Trauma (AAST). A SBAIT é uma das sociedades internacionais do trauma parceiras do evento, que teve sua primeira edição aqui no Brasil, I Congresso Mundial de Trauma foi no Brasil, em 2012 no Rio de Janeiro, em 2012. O presidente do congresso, Dr. Raul CoimEste ano, criamos o que chamamos de bra, conversou com o BoleTEAM sobre o “Master Lectures”. Serão quatro palestras, evento. Confira a entrevista: uma a cada dia, apresentadas por pessoas altamente qualificadas nos tópicos em quesQuais os desafios na realização do 5º Contão. Contaremos com a presença da Dra. Teri gresso Mundial de Trauma? Reynolds, quer é a diretora do programa de O desafio do formato on-line, em função trauma e prevenção da Organização Mundial do cancelamento do congresso na Austrália, de Saúde na Suíca, do Dr. Andrew Peitzman, está relacionado ao curto tempo para precirurgião de trauma da Universidade de Pittparação do programa científico, que é bassburg, do Dr. Demitrious Demetriades, da tante complexo. Outro desafio diz respeito Universidade do Sul da Califórnia, e do Dr. à diferenca de horário em várias partes do Ronald V. Maier, cirurgião de Trauma da Unimundo, o que faz com que a discussão “liverside de Washington e Past President do ve” fique comprometida. Por isso, optamos Colégio Americano de Cirurgiões. por fazer discussão e perguntas e respostas Pela primeira vez, firmamos um acordo somente escritas e postadas no chat da placom a revista cientifica Trauma Surgery and taforma on-line Acute Care Open (TSACO), que será a revista oficial do World Trauma Congress até o ano Quais vantagens do congresso virtual? 2026. Este acordo dá a oportunidade de puA vantagem é que os participantes podem blicação dos trabalhos apresentados durante acessar os tópicos de interesse durante e o congresso (recebemos 150 trabalhos para após o congresso. Todos terão a oportuniapresentação) a todos que estiverem interesdade de assistir a todas as aulas, sem persados em publicar seus trabalhos científicos der nada, quando quiserem, pois o prograem uma revista de qualidade. ma ainda ficará disponível até o fim de maio. Para facilitar acesso ao conteúdo a todos os países de níveis socioeconômicos difeAlém do formato on-line, há alguma outra rentes, estamos usando uma taxa de registro novidade ou destaque no evento? bem acessível para um congresso mundial dessa qualidade e baseada na classificação dos países de acordo com o Banco Mundial, assim, aqueles que vivem em países de baixo poder aquisitivo pagarão menos do que os que vivem em países como os Estados Unidos, por exemplo.

Dr. Raul Coimbra: “será fantástico”

Ao todo serão quantos palestrantes? De quantos países? Este ano, o programa científico inclui 23 sessões/painéis com 110 palestrantes representando todos os continentes. Teremos, ainda, quatro sessões para apresentação dos 25 melhores trabalhos científicos enviados ao congresso, que terão destaque especial no programa. Os professores convidados como palestrantes representam 27 países: USA, Canadá, Alemanha, Quênia, Noruega, Índia, África do Sul, China, Qatar, Brasil,

Áustria, Suía, Japão, Holanda, Colômbia, Tailândia, Nova Zelândia, Austrália, Inglaterra, Singapura, Portugal, Turquia, Grécia, Finlândia, Itália, Coréia do Sul e Rússia. Quais suas expectativas para o congresso? Eu realmente acho que o congresso será fantástico. O conteúdo científico é de alto nível e os palestrantes são excelentes. A variedade de tópicos também é muito grande. Teremos duas sessões lideradas pela Sociedade de Enfermeiras de Trauma com especialistas de vários países. Qual expectativa de público? Não tenho como estimar quantas pessoas vão se registrar para o congresso. Todas as vezes que fizemos essa previsão nos congressos anteriores erramos para menos. No Brasil, em 2012, esperávamos de 1500 a 2000 participantes e tivemos 3500. Na Alemanha, em 2014, esperávamos 1200 e tivemos 1700. Na Índia, em 2016, esperávamos 700 - 800 e tivemos 1500. Nos Estados Unidos, em 2018, esperávamos 1200 e tivemos 1800. Espero que o acesso virtual e a disponibilização do programa até o final do mês de maio aumentem o número de participantes. Hoje, não há congresso no mundo que reúna a qualidade das apresentações e dos palestrantes como conseguimos organizar para o 5th WTC. Para finalizar, gostaríamos que deixasse uma mensagem a todos para participarem do evento. Eu convido a todos para participarem deste evento único, que tem por objetivo congregar todos que trabalham com o trauma, em todos os lugares do mundo, para aprenderem com um grupo de palestrantes internacionais de alto nível. A interação vai ser virtual, mas os princípios do WTC, de disseminar conhecimento e integração na área do trauma, seguramente vão superar as expectativas. O Brasil tem uma importância enorme na história da World Coalition for Trauma Care e do World Trauma Congress. Contar com o apoio e a participação dos membros da SBAIT será fundamental para o sucesso do congresso. Serviço 5º Congresso Mundial de Trauma - World Trauma Congress-WTC Data: 14 a 18 de fevereiro de 2021 Informações e Inscrições: https://www. world-coalition-trauma-care.org


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Futuro

SBAIT define Missão, Visão e Valores Tripé é uma parte importante do Planejamento Estratégico da sociedade A SBAIT acabou de definir sua Missão, Visão e Valores. Este tripé, que formaliza a identidade e o propósito da sociedade, faz parte de um projeto ainda mais amplo: o Planejamento Estratégico da SBAIT, que ajuda a consolidar os objetivos e o melhor caminho para concretizá-los. “Desde que assumi, queria fazer o Planejamento Estratégico da sociedade. Basicamente, ele é um trilho por onde a sociedade vai andar. Você traça os objetivos e, a partir daí, fica mais fácil entender o caminho”, explica o presidente da SBAIT, Dr. Tércio de Campos. Segundo ele, é um processo longo e bastante complexo, mas que ajuda a entender melhor a sociedade e onde ela quer chegar. O primeiro passo deste trabalho foi desenvolver duas pesquisas: uma com a diretoria e ex-presidentes que quiseram participar e outra, com os associados. “A partir dessa pesquisa, pegamos os pontos principais e as palavras que eram mais fortes para definir o Planejamento Estratégico”, explica Dr Tércio. De acordo com ele, a definição da Missão, Visão e Valores é uma parte muito importante

do processo porque, sempre que surge alguma dúvida de qual rumo deve ser tomado, esse tripé serve como direcionamento. “Dessa forma, traçamos os objetivos da sociedade, conseguimos detectar quais os pontos fortes, os que precisam ser melhorados, as ameaças e as oportunidades e, assim, conseguimos determinar todo o planejamento das ações, afinal, para cada item considerado importante, uma série de ações são planejadas e construídas, sempre com um responsável e um prazo”, comenta.

Outro ponto muito importante de se ter um Planejamento Estratégico é que as próximas diretorias já terão um caminho previamente determinado, que ajudará na tomada de decisões e na continuidade de algumas ações. “Obviamente que os próximos presidentes poderão fazer algumas alterações de curso, isso é natural, mas o trilho estará traçado. Eles já terão desenhado um planejamento para seguir. Isso vai fazer a sociedade ter mais estabilidade e um crescimento com mais solidez”, destaca Dr. Tércio.


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Iniciativa

Trabalho do Grupo de Centros de Trauma inclui projeto-piloto em São José dos Campos Cirurgiões se reúnem semanalmente para discutir ações que possam ajudar a melhorar o Trauma no Brasil Prefeitura São José dos Campos

“Escrita em chinês, a palavra “crise” é composta de dois caracteres. Um representa o perigo e o outro representa a oportunidade. Em uma crise, esteja consciente do perigo, mas identifique a oportunidade.” (John F. Kennedy) A Sociedade Brasileira de Atendimento Integral ao Traumatizado – SBAIT seguiu essa lição do ex-presidente americano e já caminha para colher frutos. Com a pandemia da Covid-19 instalada em nosso país, as reuniSão José dos Campos é sede de projeto-piloto ões presenciais, eventos, congressos e cursos foram suspensos e, com isso, senadores, participação no programa “Roocorreu um certo distanciamento entre os dovias que Perdoam” e criação de projetoassociados. piloto do sistema de trauma da cidade de Acertadamente, o presidente da SBAIT – São José dos Campos. Dr Tércio de Campos, iniciou um programa 1. Elaboração de manual orientador para de reuniões virtuais ocasionais que, a princriação de sistema de trauma: o grupo foi cípio, tinham por objetivo discutir protocolos dividido entre os participantes para escrede tratamento dos pacientes com Covid-19, verem partes do manual abrangendo toda a visto que, em muitos hospitais, os cirurgiões linha de cuidado do trauma. Iniciando pela foram para a linha de frente dos prontos-soprevenção, o atendimento pré-hospitalar, o corros, e depois, os temas migraram para centro de trauma, o registro de dados, proos cuidados envolvendo Covid-19 e Cirurgrama de qualidade, ensino, reabilitação gia. O número de participantes foi crescente e reinserção no mercado de trabalho e na e as discussões passaram a abordar outros sociedade. Esse documento tem por objetemas de interesse do cirurgião do trauma tivo facilitar o processo de implantação ou como, por exemplo, oportunidades para recriação de sistemas de trauma, entendendo organização e aprimoramento do sistema que o centro de trauma isoladamente não de trauma no Brasil. atingirá suas metas se não estiver particiA criação de centros de trauma com um pando de um sistema organizado. padrão de qualidade na assistência aos pa2. Baseado no conhecimento e na influcientes que pudesse ser multiplicado pelo ência relevante que o cirurgião do trauma país foi um dos temas discutidos nas reupossui em seu ambiente de trabalho, estaniões virtuais, que passaram a ser todas as mos buscando legisladores preocupados quintas-feiras. Seguindo uma estratégia de com as dezenas de milhares de mortes por criação de grupos de trabalho, o Presidentrauma que ocorrem todos os anos e paste formou mais um grupo para aprofundasam como fatalidade pela sociedade para mento no tema “Centros de Trauma”. Coormostrar-lhes que existe um maneira e pesdenado pelo Dr Milton Steinman e com os soal qualificado para mudar essa situação. membros Rogério Schneider, José Mauro Foram iniciados diálogos com senadores e Rodrigues, Sizenando Vieira Starling, Gusdeputados federais que se mostraram sentavo Fraga, Pedro Ferreira, Jorge Curi, Dasíveis à causa. nilo Stanzani e Rodrigo Caselli. 3. Através de convite realizado pelo ObHá alguns meses, o grupo se reúne às servatório Nacional de Segurança Viária, foquintas-feiras após a reunião da SBAIT com mos incluídos em “células” com a finalidade discussões alinhadas em quatro eixos de de discutir critérios de projetos de seguranatuação concomitantes: elaboração de um ça e socorro às vítimas nas futuras rodovias manual de criação de um sistema de traufederais que serão concessionadas nos próma, ações políticas junto a deputados e ximos leilões pelo Ministério da Infraestru-

tura. Com apoio da Universidade de Santa Maria e a Universidade Federal do Paraná, o formato de discussão foi muito produtivo e em breve receberemos os resultados. 4. Criação de projeto-piloto em São José dos Campos foi sugerido pelo grupo pois o Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence é o centro de referência para traumas na região e já possui um bom arranjo de processos entre o pré-hospitalar e a reabilitação. Outro fator importante é que o secretário de saúde do município é cirurgião do trauma e membro da SBAIT. Para que seja um projeto a ser replicado, foi elaborado um convênio técnico-científico entre a Sociedade e a Secretaria de Saúde, onde a SBAIT será uma espécie de consultora do município na elaboração e implantação do sistema de trauma regional. Os trabalhos já foram iniciados antes mesmo da assinatura do convênio e, como braço operacional local, foi criado o comitê de trauma municipal, ligado ao Departamento Hospitalar e de Emergências da Secretaria de Saúde. O grupo da SBAIT e do comitê municipal se reúne quinzenalmente quando são discutidos processos e protocolos locais bem como oportunidades de melhorias. O decreto municipal de criação do comitê já foi publicado e o grupo local está discutindo os planos de ação para atingir as metas para os próximos anos. Outro tema em discussão tem sido a acreditação dos Centros de Trauma e do Sistema de Trauma de São José dos Campos, que deverá ser o primeiro sistema a ser acreditado no país. Os trabalhos do grupo continuam e os frutos virão em breve. Para São José dos Campos, isto já está ocorrendo, originado pelo intercâmbio com profissionais muito qualificados e experientes. Em breve, outras cidades poderão usufruir desse material e o mais importante, vidas serão salvas e sofrimentos reduzidos, atingindo o objetivo maior de nossa sociedade. Dr Milton Steinman, Dr Rogério Schneider, Dr José Mauro Rodrigues, Dr Sizenando Vieira Starling, Dr Gustavo Fraga, Dr Pedro Ferreira, Dr Jorge Curi, Dr Danilo Stanzani e Dr Rodrigo Caselli


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CoLT

Edição on-line contou com 3,5 mil inscritos de todo o País Evento foi realizado entre os dias 12 e 14 de novembro e teve a participação de 43 convidados

Imagens: CoBraLT

O XXII CoLT (Congresso Brasileiro das Ligas de Trauma) recebeu 3,5 mil inscritos em sua primeira edição virtual e gratuita, realizada entre os dias 12 e 14 de novembro. O evento, que contou com a participação de 43 convidados, entre palestrantes, moderadores e debatedores, ganhou esse novo formato por causa da pandemia da COVID-19, que impossibilitou a realização de maneira presencial. De forma geral, o formato virtual facilitou a participação de Ligas do Trauma, acadêmicos e profissionais de todo o país. A maioria dos inscritos (1906) era formada por acadêmicos de Medicina, mas também houve a participação de muitos estudantes de outros cursos (526 de Enfermagem, 54 de Fisioterapia e 100 acadêmicos de outras áreas). O congresso, que acontece anualmente, contou, ainda, com a inscrição de 347 médicos, 305 enfermeiros, 82 socorristas ou bombeiros, 26 fisioterapeutas e 128 auxiliares ou técnicos de enfermagem, além de 61 profissionais de nível médio ou superior de outras áreas. A organização recebeu 130 trabalhos, dos quais 80 foram aprovados. Nesta edição, também foi realizado, pela primeira vez, o CompetiCoLT, que con-

tou com a participação de 16 times. O CompetiCoLT foi a primeira competição interligas, formada por perguntas e respostas sobre Trauma. Ganhava a equipe com maior número de acertos e com maior rapidez nas respostas. Para isso, foi usada uma plataforma on-line de interação. A disputa foi no esquema de mata a mata em fases. As semifinais e a final aconteceram ao vivo no último dia do congresso. A Liga vencedora foi de Salvador (BA) e ganhou um dispositivo DEA de treinamento. De acordo com o presidente do CoLT, Dr Thiago Calderan,

que também é orientador SBAIT do CoBraLT (Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma), o novo formato trouxe grandes desafios. “O maior deles foi inovar num contexto on-line, já que diversos cursos, palestras e aulas estavam sendo ministrados dessa forma e traziam uma saturação por parte dos ouvintes. Por isso, fizemos todas as sessões de debates interativos, com intensa participação de todos os membros da mesa e da plateia, através de perguntas ao vivo”, explica. Apesar de todo o

contexto mundial, em que eventos de todos os segmentos foram adiados ou adaptados para garantir a segurança dos participantes, o resultado do CoLT foi muito positivo. “Foi um sucesso. Os números mostram isso, mas, acima de tudo, houve uma interação multidisciplinar entre todas as regiões do país e, ainda, mais uma mistura boa dos grandes nomes do Trauma no país com os novos nomes, principalmente aqueles envolvidos com Ligas de Emergência e Trauma”, destaca Calderan. O XXII Congresso Brasileiro das Ligas de Trauma foi organizado pelo CoBraLT e teve o apoio da SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), IBEPEM (Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa) e ABRAMEDE (Associação Brasileira de Medicina de Emergência). A 23ª edição voltará ao formato presencial e acontecerá dentro do Trauma 2021, em São Paulo, entre os dias 14 e 16 de outubro.


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Agenda  Reuniões Online SBAIT - Todas as quintas-feiras, das 18h às 19h30, pela plataforma Zoom. O acesso é divulgado nas redes sociais da SBAIT semanalmente. https://www.facebook.com/sbaitbrasil/ ou https://www.instagram.com/sbaitbrasil/  5º Congresso Mundial de Trauma

- De 14 a 18 de fevereiro de 2021. O Congresso será realizado de forma virtual. Informações : https://www.world-coalitiontrauma-care.org.  Trauma Brasil 2021 - XXXIV Panamerican Congress of Trauma, Critical Care and Emergency Surgery |

XIV Congresso da SBAIT | XXIII CoLT ( Congresso Brasileiro das Ligas de Trauma) | I Congresso Luso-Brasileiro de Trauma | I Encontro Brasileiro de Emergência e Trauma - De 14 a 16 de outubro de 2021. Local: Centro de Convenções Frei Caneca - São Paulo/SP. Em breve, mais informações.


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