Revista Minas Saúde #03

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Publicação anual da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais A n o

Minas Saúde A n o 3 l n ú M E r o 3 l D E z E M b r o D E 2 0 1 0 Publicação anual da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais

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n ú M E r o 3 l

CONTAMOS COM VOCÊ. JUNTOS, VAMOS IMPEDIR QUE A DENGUE ENTRE NA SUA CASA.

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• Retire os pratinhos de vasos de plantas. • Não deixe acumular água em garrafas vazias ou pneus. • Tampe tambores, tonéis, barris, cisternas e caixas-d’água. • Feche bem o saco plástico dos lixos e mantenha as lixeiras sempre tampadas.

D E

Veja como ajudar:

D E z E M b r o

O número de casos de dengue em Minas está aumentando a cada ano. A ameaça de epidemia no estado é gravíssima. Por isso, estamos em guerra contra a dengue. E precisamos que você também faça a sua parte.

Laboratório Intermunicipal

Eficiência na realização de exames


Sumário 3 | Editorial 5 | Atendimento de qualidade com gestão participativa 8 | As águas de Minas 12 | Agora é guerra 16 | Redes sociais no combate à dengue 22 | Casas oferecem acolhimento às mães 26 | Qualidade, eficiência e agilidade 32 | Educação técnica a serviço da saúde 36 | Mais vida para os idosos mineiros 40 | Qualificação da gestão melhora o atendimento 44 | SUS em rede 48 | Educação sem fronteiras 52 | Plantas do Cerrado revelam poder medicinal 55 | HTLV é identificado pelo teste do pezinho 60 | Estado e município constroem Hospital Inteligente 66 | Um novo olhar para a saúde 71 | Mais qualidade no atendimento 76 | SES aposta nas crianças 82 | Rede de Urgência Norte completa dois anos


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EDITORIAL

Universalização das redes

Revista Minas Saúde

Publicação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Governador

Antonio Augusto Junho Anastasia

Presidente da Assembleia Legislativa Alberto Pinto Coelho

Secretário de Estado de Saúde Antônio Jorge de Souza Marques

Secretário-Adjunto de Estado de Saúde

Wagner Eduardo Ferreira Subsecretário de Inovação e Logística em Saúde Jorge Luiz Vieira

Subsecretária de Políticas e Ações de Saúde

Helidéa de Oliveira Lima Subsecretária de Vigilância em Saúde

Gisele Onete Marani Bahia Chefe de Gabinete

Marta de Sousa Lima Assessora de Comunicação Social Gisele Maria Bicalho Resende Editora

Vívian Campos

Registro Profissional Nº 11592 JP Diagramação e Projeto Gráfico Ubiratã Teixeira

Acompanhamento Gráfico Autêntica Editora

Antônio Jorge de Souza Marques Secretário de Estado de Saúde

esde 2002, o Governo de Minas tem implementado importantes mudanças em diversas áreas e desenvolvido ações e programas utilizados como referência no Brasil. O esforço empreendido na área da saúde, nos últimos oito anos, fez com que o estado alcançasse resultados expressivos, tais como a redução em 22,7% da mortalidade infantil. Nesse período, diversos programas foram desenvolvidos e implantados com o objetivo de assegurar aos mineiros o acesso a serviços de saúde efetivos e de qualidade. Seguindo as orientações das políticas propostas pelo governo de Minas, demos importância às parcerias com as prefeituras e outras entidades e fizemos crescer a Rede de Atenção à Urgência e Emergência. Atualmente, são 11 microrregiões de saúde oferecendo serviços de atendimento à urgência e emergência, com implantação e custeio do Samu Macrorregional. Isso significa unir os municípios, com o apoio do estado, em prol de um atendimento rápido e eficiente aos casos emergenciais. Com o mesmo objetivo, foram investidos mais de R$ 500 milhões, aplicados em 128 hospitais, por meio do Pro-Hosp. O número de leitos de UTI no estado também teve um aumento significativo. Além do avanço na urgência e emergência, é importante destacar a nossa preocupação com os cuidados básicos. Como meta para a promoção da saúde básica, trabalhamos pela ampliação de projetos de atenção à gestante, como o programa Viva Vida. Já foram entre-

gues 20 Centros Viva Vida de atendimento especializado as mulheres, gestantes e recém-nascidos. Nos demais municípios, as mineiras e os mineiros contam com mais de 4.000 equipes do Programa Saúde da Família, número que representa o maior efetivo no país. E a motivação desses dois projetos é a mesma: assumir e reiterar a responsabilidade do estado de Minas Gerias no cuidado básico da saúde da família mineira. No total, são 14 milhões de mineiros assistidos pelo programa, o que representa a cobertura de 70,2% da população, em 835 municípios. Contudo, alguns pontos continuam sendo parte importante da agenda da saúde para os próximos anos. Agora, sob a liderança do governador Anastasia, uma de nossas prioridades é o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde e a permanente qualificação dos profissionais envolvidos no atendimento aos pacientes. Em Minas Gerais, a carência de preparo dos profissionais de saúde tem sido sanada pelo Programa de Educação Permanente em Saúde. Um de nossos objetivos para 2010 é expandir o programa para incluir 55 microrregiões, 612 municípios, 3188 médicos, 330 grupos, 12 escolas de medicina e 145 salas de educação permanente até o mês de dezembro; ou seja, em menos de dois anos, teremos o dobro de investimento em educação para a saúde. Para isso, serão aplicados recursos da ordem de R$ 11,5 milhões. Temos certeza de que esse salto, aliado à ampliação de projetos, como o Viva Vida e o Pro-Hosp, trarão melhorias sensíveis no alcance e na qualidade do serviço público de saúde.


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Atendimento de qualidade com gestão participativa Hospital Sofia Feldman, referência em partos normais, envolve a população, os trabalhadores e os gestores na administração da instituição

Texto: Leandro Heringer Fotos: Ramon Jader

oi um parto muito bom, pela primeira vez tive um filho aqui, minha terceira filha. Foi muito emocionante, ela nasceu de parto totalmente natural, enquanto os outros partos precisei fazer um pequeno corte. Foi uma sensação muito boa, ainda mais sendo no Dia das Crianças. Sou de Pedra Azul e as pessoas sempre elogiavam o Sofia. É bom demais, foi muito emocionante, consegui ver o parto todo e cortei o cordão umbilical”. Essas são palavras de Vanusa Santos Souza e Daniel Marques Alves, pais de Carolaine. A bela criança nasceu em 12 de outubro, Dia das Crianças, assim como Ana Clara, filha de Andreza Luciene e Fernando Torim. “Quando chegamos e vimos o hospital – porque viemos de outro –, ficamos muito felizes em estar aqui. Para mim, a maternidade daqui é a melhor que já vi. Os profissionais são 4

Minas Saúde

Fernando Torim diz que foi uma experiência maravilhosa assistir ao parto de sua criança


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Mães, pais e bebês recebem atendimento humanizado no hospital muito capacitados, tratam a gente super bem. No próximo filho, tentarei conseguir ver o parto todo. Acabei tonteando um pouco”, relata Fernando, segurando o riso, ao lado de sua esposa Andreza, que conta com grande felicidade a sensação de ser mãe pela primeira vez. “Foi uma experiência maravilhosa! Não tem nem explicação. Nem precisou de corte.” Esses casais talvez não desconfiem que por trás da qualidade do atendimento estão, além da estrutura hospitalar e da competência e do acolhimento dos profissionais, um controle social diferenciado. Fundado em 1976, no bairro Tupi, na região norte de Belo Horizonte, o Hospital Sofia Feldman tem forte ligação com a comunidade local. O relacionamento vem desde seu

início, com doações e o firmamento de um compromisso: ser um hospital com participação efetiva da comunidade e com atendimento totalmente público. “O hospital nasceu na comunidade, a partir do acordo que fiz com o fundador de que nunca tiraria o hospital da comunidade. Essa participação é de profunda importância no nosso trabalho. A atuação da comunidade no Sistema Único de Saúde (SUS) é um direito constitucional. É a favor de todos”, declara o diretor administrativo Ivo de Oliveira Lopes. Nesse contexto, o controle social funciona em duas vertentes, como explica Gislene Oliveira Nogueira, a referência técnica em serviço social e 1ª secretária da Fundação de Assistência Integral à Saúde:

“chamamos de controle social o Conselho composto por uma divisão paritária, sendo de 50% dos usuários, 25% dos trabalhadores e 25% dos gestores do SUS, com uma gestão participativa por meio da Associação Comunitária. O controle social tem que estar inserido nas instituições, pois ninguém controla o que não conhece. Assim, algumas ferramentas em busca da excelência são estabelecidas. “Utilizamos vários instrumentos para satisfação do usuário. Percebemos onde tem insatisfação e conversamos”, destaca a conselheira. O tratamento especial, humanizado e o carinho à gestante são perceptíveis, prova disso é que aproximadamente um terço dos partos em Belo Minas Saúde

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Horizonte ocorrerem no Sofia. “Cerca de 800 partos acontecem aqui. Temos uma rede ampliada. 40% dos usuários vêm de outros municípios. Temos casas para mulheres que têm parto de risco”, aponta Gislene.

Respeito e transparência A participação efetiva do cidadão no hospital antecede a existência do Conselho, estabelecido em 2006, como narra Jorge Nolasco, presidente da Associação Comunitária de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman (ACAU/HSF): “A Associação foi fundada em 1994, e fazemos controle social todos os dias, de segunda à segunda. Nossa formação foi feita dentro do Sofia, estamos aqui há 20 anos.

Criamos a Associação junto com o diretor administrativo e a comunidade.” Para Nolasco, a maior conquista nesse processo foi mostrar às pessoas que “defendemos o usuário e o lema de 100% Sistema Único de Saúde (SUS). Muitos projetos que conhecemos, como o médico da família, por exemplo, já executamos há muito tempo. A comunidade não aceita plano de saúde”, reforça. A construção e a consolidação do controle social têm nos trabalhadores parte reconhecidamente importante. Funcionária do hospital há nove anos e voluntária no Conselho, representando os trabalhadores, Marília Oliveira Santos fala sobre a mudança de percepção dos trabalhadores em relação ao controle social. “Quando foi criado o Conselho, a visão do trabalhador era de que o controle social iria con-

trolar o serviço sob uma ótica ruim. Com o passar do tempo, vimos que não foi assim. Nossa visão mudou. O controle social envolve vários lados.” Sobre as implicações práticas, Marília destaca que, quando a parceria foi estabelecida, o próprio trabalhador começou a procurar o Conselho. “Foi muito interessante. As relações interpessoais mudaram, melhoraram muito. Agora, todos participam, é a gestão participativa. O funcionário ficou mais motivado, se sentiu parte do sistema. Além disso, os trabalhadores também são usuários.” A coordenadora técnica da Ouvidoria da ACAU, Elen de Fátima Maria Santana, concorda com a representante dos trabalhadores sobre o trabalho parceiro feito na instituição. Ela define a ouvidoria como um canal de comunicação entre o trabalhador, o gestor e o usuário. “Como a comunidade está aqui dentro, quem melhor que ela para avaliar o hospital? Temos que escutar o usuário, senão fazemos ações pelo que achamos certo, e não pelo usuário. Também encaminhamos

Sofia Feldman é hospital ami da criança


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Sofia Feldman é hospital amigo da criança

elogios aos trabalhadores. É uma forma de o trabalhador saber que é elogiado.” A necessidade de capacitação do ouvidor é salientada por Santana. “Ouvidor é defensor do usuário e do SUS. Então, é preciso conhecer criticamente o SUS.” Gestão participativa e controle social são vistos, realmente, como formas complementares e interrelacionadas, conforme comenta o presidente do Conselho do HSF, Romeu de Araújo Pires: “Atuamos de forma muito parceira, quando formamos o Conselho, já existia a Associação e cada um tem sua responsabilidade e seu trabalho. Nós, conselheiros, fomos muito bem recebidos e temos toda liberdade de atuar, acesso a todo o hospital e o visitamos semanalmente, além de termos reuniões mensais. Entrevistamos os usuários para saber do atendimento; a relação do trabalhador com o usuário é excelente.” “É fundamental a participação de todos os envolvidos, gestores, trabalhadores e cidadãos. O Sofia Feldman está de parabéns e é um exemplo para outras instituições”, declara o diretor da Gerência Regional de Saúde de Belo Horizonte, Anthero Drummond Júnior. Respeito e transparência entre as partes são princípios estruturadores, como ressalta Gislene Nogueira. “Questionou-se se o controle social deveria escutar tudo na gestão. Claro que sim. Não adianta só falar em termos técnicos, tem que ser aprendizado mútuo. O usuário é que deve ser beneficiado com a qualidade da assistência.” Se há outra forma de gerir sem ser participativamente? Para o diretor administrativo Ivo Lopes, seria complicado, um grande desafio. “Hoje temos, depois de todos esses anos, uma gestão colegiada, e é praticamente impossível trabalhar sem eles. Não tem que esconder nada, tomamos juntos às decisões necessárias. O SUS é do povo. Apesar das dificuldades financeiras, ele é baseado em direitos.” Minas Saúde

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As águas de Minas

Vigilância para garantir qualidade e controle da água consumida no estado

Texto: Keila Maia Fotos: Ramon Jader

anhã de quinta-feira, em Governador Valadares, região Leste de Minas. As técnicas que atuam na Vigilância Ambiental do município se preparam para

Depois da coleta, a equipe de Governador Valadares leva as amostras para o laboratório municipal

mais um dia de trabalho. Pegam máscaras, luvas, frascos de vidro, totalmente esterilizados, e seguem para uma visita ao Serviço Autônomo de


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Análises físico-químicas e bacteriológicas são feitas nos laboratórios

Água e Esgoto (SAAE) da cidade, onde vão coletar amostras de água tratada, verificando a qualidade do líquido que chega diariamente às milhares de residência da cidade. A atividade faz parte das ações rotineiras determinadas pelo Vigiágua, programa do Ministério da Saúde que visa ao controle de qualidade da água para o consumo humano. Em Minas, o programa está em funcionamento desde 2006 e vem proporcionando muitas melhorias em relação à água distribuída nos 853 municípios do estado. “O Vigiágua envolve uma série de atividades que são realizadas por meio de parceria entre o estado e os municípios. Tudo começa com o cadastramento de todos os sistemas de abastecimento e soluções alternativas existentes em cada cidade. Isso é feito para que todos os serviços de distribuição possam ser monitorados. A ideia central do programa é verificar a qualidade da água tratada, já que aquela que não recebe tratamento é considerada imprópria para o consumo humano”, explica Maurício de Faria Soares, técnico da Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerias (SES-MG). Em Governador Valadares, por exemplo, são 24 pontos que, mensalmente, recebem a visita das técnicas. Além desses locais, também é feito um mapeamento da cidade, determinando outros lugares em que há maior concentração de pessoas, como hospitais, Unidades Básicas de Saúde, escolas, creches, entre outros, onde também é feita coleta das amostras de água. “Aqui em nossa cidade, além das estações do SAAE, visitamos os pontos de Soluções Alternativas, que são, por exemplo, empresas e condomínios que dispõem de seu próprio sistema de abastecimento. Além disso, coletamos a água em espaços de maior circulação de público, colhendo amostras que vêm direto da rua e também que passam por caixa d’água”, explica Maria Célia Alves Ferreira, responsável pelo Vigiágua de Governador Valadares. Dessa maneira, caso seja detectado algum problema, é possível saber onde se deu o comprometimento da qualidade MINAS SAÚDE

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da água. Essa coleta acontece em várias localidades da cidade, nos chamados pontos de interesse epidemiológico, e é feita em todos os municípios, uma vez que se trata de uma determinação do Vigiágua.

Vigiágua

São colhidas amostras que vêm direto da rua e também que passam por caixa d’água

Colhidas as amostras, partese para a análise delas. É justamente nessa fase que se pode constatar a existência de problemas. Em Minas, a maioria dos municípios não dispõe de laboratório próprio, devido ao alto custo para implementá-los e também por falta de estrutura técnica, e, por isso, o exame é feito pela SES, nos laboratórios implantados nas 28 Gerências Regionais de saúde (GRS). A Portaria nº. 518/2004, do Ministério da Saúde, que regulamenta o Programa Vigiágua, determina que a realização de análises físico-químicas (verificando cor, turbidez, (pH), flúor e cloro residual livre) e bacteriológicas (avaliando a presença/ausência de coliformes), seja realizada por cada Secretaria Municipal de Saúde, que deve encaminhar suas amostras para a GRS à qual pertence. “Temos um laboratório em cada Gerência Regional de Saúde. Assim, qualquer município tem condições de saber como está a qualidade da água distribuída à população num prazo de dois dias”, afirma Maurício. Algumas cidades, como Governador Valadares, não enviam as amostras para serem analisadas nas GRSs, pois contam com seus próprios laboratórios. É também o caso do município de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, que há dois anos realiza os exames solicitados para a Vigilância. “Aqui, realizamos o processo


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DOENÇAS RELACIONADAS COM O ABASTECIMENTO DE ÁGUA Transmissão

Doenças

Medidas para evitar

Pela água

Cólera, febre tifoide, leptospirose, giardíase, amebíase, hepatite infecciosa, diarreia aguda

Implantar sistema de abastecimento e tratamento da água, com fornecimento em quantidade e qualidade para consumo, uso doméstico e coletivo. Proteção de contaminação dos mananciais e fontes de água.

Pela falta de limpeza, higienização com água

Escabiose, pediculose (piolho), tracoma, conjuntivite bacteriana aguda, salmonela, trienríase, enterobiose, ancilostomíase, ascaridíase

Implantar sistema adequado de esgotamento sanitário. Instalar abastecimento de água preferencialmente com canalização no domicílio.

Relacionada com a água

Malária, dengue, febre amarela, filariose

Instalar melhorias sanitárias domiciliares e coletivas. Dar destinação final adequada aos resíduos sólidos.

Associada à água

Esquistossomose

Controle de vetores e hospedeiros intermediários.

Contagem é um dos municípios que realiza as análises em laboratório próprio completo: cadastramos as fontes de abastecimento, coletamos as amostras, fazemos as análises em nosso laboratório e, depois, registramos os resultados no sistema de dados do Ministério da Saúde, o Siságua”, conta Maria Tereza Zanatta Coutinho, gerente de Vigilância em Saúde Ambiental de Contagem. Além de lançar os dados no Siságua e encaminhar para a Secretaria de Estado de Saúde, os municípios também informam os resultados das amostras para as empresas responsáveis pelo abastecimento de água, bem como para aqueles estabelecimentos que dispõem de soluções alternativas. Se forem detectados problemas com a qualidade da água, é enviado ainda um ofício solicitando que sejam tomadas as devidas medidas para solucionar as falhas. “Quando é a GRS que faz a análise, o resultado é encaminhado para a Secretaria Municipal de Saúde para terem ciência da qualidade da água

consumida e ainda para que elas possam cobrar as providências dos seus fornecedores de água no caso de alguma irregularidade”, esclarece Maurício. O foco do Vigiágua é verificar a qualidade da água distribuída à população. Entretanto, em algumas situações, também pode haver uma análise em residências. Os municípios trabalham em parceria com as equipes de saúde da família, que informam à Vigilância Ambiental sempre que há casos de surto de diarreia ou de outras doenças que possam ter sido ocasionadas pela água. Nessas situações, a comunidade afetada é visitada, para que se verifique de onde vem a água consumida. “Em Contagem, muitas famílias ainda utilizam água proveniente de cisterna ou de outras fontes não adequadas, sem saberem que aquele líquido pode estar contaminado. Nesses casos, oferecemos informação de como devem usar cloro para tratamento imediato da fonte e orientamos as pessoas

sobre os perigos de consumir água não tratada”, explica a técnica do município, Maria Tereza. Atendendo ao Vigiágua, estado e municípios também promovem ações de educação ambiental, com o intuito de conscientizar a população sobre a importância da qualidade da água para a saúde hoje e também das futuras gerações. “Em um Estado como o nosso, com 853 municípios e uma extensão territorial do tamanho da França, instalar uma rede de laboratórios não foi tarefa fácil. Hoje podemos dizer que a rede está implantada e em operação, ganhando, com isso, uma resposta rápida para desencadear ações corretivas no estado. Sabemos que muita coisa ainda deve se feita, mas os avanços conseguidos até aqui foram significativos. Minas Gerais, hoje, pode se orgulhar de uma Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano definitivamente implantada”, destaca Maurício Soares. Minas Saúde 11


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Agora é guerra “Agora é guerra. Todos contra dengue”. Esse é o slogan da nova campanha do Governo de Minas de combate à dengue Texto: Silvane Vieira

objetivo do governo é, na verdade, promover um chamado à população para que o estado não tenha que enfrentar uma epidemia de dengue. Em 2010 houve um aumento de mais de 300% no número de notificações, em comparação a 2009, podendo chegar a mais de 500 mil novos casos em 2011, caso as ações de prevenção e combate à doença não sejam reforçadas. 12

Minas Saúde

De acordo com levantamentos da SES-MG, 80% dos focos se encontram dentro das residências, por isso, ações de mobilização social são ferramentas estratégicas para combater a dengue, que só será vencida se cada indivíduo tomar para si a responsabilidade pela eliminação dos focos do mosquito. Reunindo esforços do Governo de Minas, Exército, Aeronáutica,

Ministério da Saúde, prefeituras, instituições privadas e sociedade civil, foi lançado no dia 17 de novembro pelo Governador Antonio Anastasia, o Programa Estadual de Controle Permanente da Dengue, que conta com ações de mobilização social e propõe medidas de combate aos focos do Aedes aegypti em órgãos públicos, indústrias, comércio e canteiros de obras.


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blema ganhou contornos de um Programa Estruturador. Vamos alocar recursos de forma a melhorar a gestão desse grave problema de saúde pública”, declara. O governo de Minas destinou para o primeiro semestre de 2011, cerca de R$60 milhões para o combate à dengue.

Força Tarefa Como parte do Programa Estadual de Controle Permanente da Dengue também foi criada a Força Tarefa. Atuando nas áreas da Assistência, Comunicação e Epidemiologia, a Força Tarefa vai desenvolver atividades de eliminação MARCELLA MARQUES

DÉBORA OZÓRIO

Para o governador, Minas está dando um passo adiante. “Partindo do pressuposto de que a pessoas já têm informações sobre a doença, estamos agora focando numa mobilização maior. A palavra-chave dessa guerra talvez seja exatamente essa: a mobilização. Estamos mostrando que não basta a ação do governo, os anúncios na televisão, porque as pessoas sabem o que devem fazer e muitas vezes não fazem. Então, temos de mostrar a elas que é fundamental fazer”, afirma Anastasia. De acordo com o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Antônio Jorge de Souza Marques, dessa vez, o combate à dengue não será tratado de forma sazonal, como vinha acontecendo, de certa forma, nos anos anteriores. O combate aos focos do Aedes aegypti será realizado durante todo o ano e no verão, período de temperaturas mais altas e clima chuvoso, o trabalho será intensificado, visto que a circulação do mosquito é maior nessa época. A intenção é que as ações se estendam até 2014, sem interrupções. “A gestão do pro-

Criança em Juiz de Fora aprende sobre a dengue no almanaque infantil Edi e Gita

dos focos do mosquito, a princípio, em 21 municípios mineiros, com elevado índice de infestação e de notificação de casos. Belo Horizonte, Betim, Caetanópolis, Contagem, Coronel Fabriciano, Divinópolis, Governador Valadares, Ibirité, Ipatinga, Ituiutaba, Juiz de Fora, Montes Claros, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, Sete Lagoas, Teófilo Otoni, Timóteo, Uberaba, Uberlândia e Vespasiano receberão todo apoio e infra-estrutura, por 15 dias, para eliminar os possíveis focos de proliferação do vetor da dengue. A Força Tarefa é formada por 432 pessoas, sendo 200 soldados do Exército, 40 da Aeronáutica e 192


OMAR FREIRE

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agentes de saúde. Essas pessoas farão uma varredura nas áreas consideradas de risco, visitando casas, percorrendo lojas comerciais e lotes baldios para eliminar os possíveis focos do mosquito. Além disso, a Força Tarefa conta com dez ônibus para dar suporte às equipes de trabalho; 70 carros fumacê; 600 bombas costais; nove caminhões (Dengue móvel) e 20 Dengômetros. As grandes inovações apresentadas pela Força Tarefa são: o Dengue móvel e o Dengômetro. O Dengômetro é um espaço de convivência e acesso às informações sobre a dengue. Ele é instalado nos pontos de maior circulação de pessoas e em áreas de convívio social. Nos dengômetros, pessoas treinadas pela SES-MG alertam sobre a importância da participação de todos na prevenção e controle da doença. O Dengue Móvel, por sua vez, é um caminhão que percorre os bairros trocando entulhos recicláveis por material escolar. Latas, garrafas pets e pneus serão trocados por cadernos, borrachas e lápis, para estimular

Ônibus da força tarefa

a população a retirar de casa os objetos que possam acumular água e virar possíveis criadouros do mosquito. Um bom exemplo de ação concreta contra a dengue pode ser encontrado em Ribeirão das Neves. A dona de casa Marcelina da Silva Veiga Santana e o aposentado Afonso Xavier Santana, moradores da cidade há 20 anos, afirmam que a dengue é uma preocupação constante na casa deles. Marcelina garante que sempre faz o possível para manter a dengue bem longe. “Além de manter o ambiente sempre limpo não deixo nenhum objeto acumulando água. Até estou jogando fora os pratinhos das minhas plantas, pois não quero trazer a dengue para dentro da minha casa”, conta. O marido de dona Marcelina, Afonso Xavier, se considera um verdadeiro fiscal no combate à dengue, ajudando a esposa a eliminar qualquer possível foco de proliferação do mosquito. “Procuro ter precaução com tudo, inclusive com as vasilhas de água dos meus cachorros. E se tem chuva, assim que ela para, vou olhando cantinho por cantinho para que não permaneça nenhuma água parada”, explica. Para o governador Antônio Anastasia, se todo mundo agir como dona Marcelina e seu Afonso, venceremos a guerra contra a dengue. “As pessoas já sabem o que devem fazer para evitar a dengue, agora precisam transformar

esse conhecimento em ação, partir para a prática no combate ao mosquito”, afirma o governador.

Ações lúdicas Outro destaque da guerra travada contra a dengue é a peça “Um por todos e todos contra a dengue”, do grupo teatral Saúde em Cena, formado por servidores da SES. O enredo é uma livre adaptação do clássico “Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, que narra uma aventura um pouco diferente. Dessa vez, Athos, Porthos e Aramis têm um novo desafio: acabar com a mosquita Milady Gaga Dengue, da espécie Aedes aegypti, que deseja contaminar as pessoas com a doença e se tornar uma cantora lírica. E para ter sucesso na nova empreitada, os três “mosquiteiros” vão precisar da ajuda de toda a comunidade. O coordenador do Núcleo de Mobilização Social da SES-MG , ator e diretor do grupo de teatro Saúde em Cena, Joney Fonseca, espera que o teatro consiga envolver as pessoas a ponto de fazê-las mudar os hábitos. “Ações de conscientização só, não bastam. O que precisa ser feito para combater a dengue todo mundo já sabe. O que falta agora é que as pessoas tomem para si a responsabilidade pela prevenção”, afirma.


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A apresentação integra as ações da Força Tarefa de Combate à Dengue, que rodará cidades do interior do estado nos próximos meses integrando as ações de mobilização do Programa Estadual Permanente de Controle à Dengue, lançado em novembro. Outras estratégias que despertam para a importância de se prevenir a dengue todos os dias são o manual do combatente e o almanaque infantil Edi e Gita. Voltado para lideranças comunitárias, o manual do combatente traz informações valiosas para a prevenção e controle da dengue – como verdades e mentiras a respeito da doença e dicas de como eliminar os focos do mosquito. Já o almanaque Edi e Gita ensina às crianças, com uma linguagem simples e divertida, todo o ciclo da dengue e o que elas podem fazer para ajudar a manter a casa livre do problema. Essas estratégias promovem a descontração ao mesmo tempo em que disseminam conhecimento para as pessoas, que passam a entender a doença como um assunto sério que, independente da idade ou classe social. “Ações de mobilização social, como essas, são estimuladas com o intuito de conquistar o apoio do cidadão, principal aliado nessa luta, e despertar em cada um o envolvimento na causa”, comenta o Superintendente de Epidemiologia da SES-MG, Francisco Lemos. O secretário Estadual de Saúde, Antônio Jorge, reforça a atitude militante e a necessidade de mobilização dos moradores para eliminar a dengue. “A dengue é uma questão de saúde pública, que envolve os cidadãos e o governo. Esta guerra será permanente e para alcançarmos a vitória será necessário que todos colaborem”, afirma.

Dengue entra em campo A “Guerra contra a Dengue” ganhou grandes aliados com a entrada dos principais clubes de futebol de Minas na jogada. Antes das partidas em solo mineiro, são realizadas

ações educativas, com a participação dos mascotes dos clubes – Coelhão, Galo Doido e Raposão , para alertar aos torcedores para os perigos da dengue e mobilizá-los a fim de se evitar que a doença se transforme numa epidemia no Estado. As ações dos clubes em conjunto com a SES, no entanto, não ficarão restritas aos estádios. Jogadores do América, Atlético Mineiro e Cruzeiro gravaram pequenas chamadas, para serem veiculadas na TV, com apelos e informações acerca da doença. O América, durante a temporada última temporada (2009) do Campeonato Brasileiro da Série B, teve que jogar sem um dos principais atacantes do time. Fábio Júnior teve dengue e ficou longe dos gramados por um bom tempo. “Eu já tive a doença e sei muito bem como ela nos debilita. Por isso é importante que todos tenham um cuidado maior e combata a dengue”, conta o jogador.

Wellington Paulista, atacante do Cruzeiro, passou por uma situação semelhante há um tempo. “Quando morei no Rio de Janeiro, houve uma epidemia forte. Todo mundo passou a se cuidar, fazer a sua parte. Tomara que aqui aconteça igual para que a doença não se alastre mais”, lembra. O goleiro do Atlético, Renan Ribeiro, concorda com os colegas e considera fundamental somar forças nessa guerra. “O combate à Dengue não pode ser de um ou dois, tem que ser uma ação de várias pessoas, pois combater esse mal é tarefa de todos”. Com as ações envolvendo o futebol, a SES-MG espera alcançar um número maior de pessoas de modo que cada um tome para si a responsabilidade pela prevenção e transforme em rotina a limpeza de tudo que possa ser foco de proliferação dos mosquitos, afinal a “Guerra contra a dengue” deve ser uma batalha de todos. ANDRÉ BRANT

Apresentação do grupo de teatro Saúde em Cena


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Eliza Braz C 9 anos, é estu do 4º ano e a jogar Dengue

Redes sociais no combate à dengue

Orkut, blog, Twitter são alguns dos recursos digitais que entraram na luta

Texto: Ricarda Caiafa Fotos: Pedro Cisalpino

Brasil é o quinto país no mundo que mais utiliza as redes sociais, com 35,221 milhões de usuários, conforme dados de agosto de 2010, da

empresa de análise de mercado digital comScore. Acima do Brasil estão apenas os Estados Unidos, em primeiro lugar, com 174,429 milhões de usuários, depois a China, com 97,151 milhões, Alemanha, com 37,9 milhões e a Rússia em quarto lugar, com 35,3 milhões. Em todo mundo, o número de adeptos às redes sociais subiu 23%, totalizando 945,040 milhões em julho deste ano, no ano anterior eram 770,092 milhões de pessoas conectadas às redes sociais. Atenta a essa nova realidade, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) lançou mão das ferramentas digitais na luta contra a dengue. Perfis no Twitter, criação do jogo virtual Dengue Ville, utilização do blog Minas Contra a Dengue, criação de um hotsite específico com informações

O Dengue Ville atraiu milhares de usuários do Orkut


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Eliza Braz Cota, de 9 anos, é estudante do 4º ano e adora jogar Dengue Ville


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sobre a dengue e comunidades no Orkut foram alguns exemplos. Além de informar sobre as ações da SES, o uso dessa nova estratégia estabeleceu uma maneira peculiar de interagir com o cidadão, que agora, além de ser beneficiado pelas ações produzidas pela Secretaria, pode, em tempo real, comentar, participar e divulgar as informações e esclarecer dúvidas. Para atingir os jovens, público que reserva grande boa parte do dia para a internet, estabelecendo relações e adquirindo conhecimentos por este meio, é necessário muita criatividade, e as mídias sociais têm essa característica. Para tanto não faltou inventividade à SES, que criou perfis no Twitter (@saudemg, @mgcontradengue), onde a informação é divulgada em, no máximo 140 caracteres, de maneira dinâmica, imediata, mantendo, assim, o público fica permanentemente informado. Outra ferramenta digital utilizada foi o blog sobre a dengue (dengue.saude.mg.gov.br), que oferece ao cidadão a oportunidade e os instrumentos para que ele seja também um mobilizador, já que pode divulgar ações contra a doença da cidade onde mora, com textos e fotos e também acompanhar e comentar outras ações que estejam acontecendo em saúde. Para Kátia Báo, integrante do grupo de teatro Saúde em Cena da SES, as redes sociais contribuem para a mobilização social por serem um meio que possibilita a aproximação de milhões de pessoas. Além disso, as redes funcionam como uma fonte de informação para muitos desses usuários. “Grande parte dos consumidores utiliza as redes sociais como meio de busca de informações, e a parceria com essas redes sociais é um ponto-chave para nós, mobilizadores, desenvolvermos questões sobre a dengue e tornarmos as ações mais efetivas devido à participação dos formadores de opinião. É o meio que tem o 18

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poder de influenciar pessoas, e isso é um ponto forte para a mobilização social”, explicou ela.

Dengue Ville O principal projeto de inserção da saúde nas mídias sociais, foi o Dengue Ville, aplicativo instalado no Orkut. Implantado no dia 16 de março de 2010, o social game recebeu, somente nas duas primeiras horas de existência, mais de 600 acessos. O motivo da grande utilização dessa ferramenta é que os usuários de internet brasileiros são os que mais navegam em sites de relacionamentos, conforme dados do Ibope Netratings e Nielsen Company Global Faces and Networked Places. Resultados de uma pesquisa da instituição citada divulgados em agosto de 2010 traçam um perfil sobre esses usuários. Das pessoas que acessam as redes sociais, 98% utilizam a internet do próprio domicílio e 54% acessam a rede mais de uma vez ao dia. Já em relação às faixas etárias, o público de 12 a 24 anos representa 24% desses usuários, o mesmo do social game produzido pela SES-MG. Uma outra pesquisa, da mesma instituição, indica que campanhas on-line, partindo de blogs ou redes sociais, têm um impacto 500 vezes maior do que se a campanha partisse do site da própria entidade. O Dengue Ville funciona de maneira bem simples e dinâmica. Para começar, o usuário escolhe, dentre quatro avatares, qual será o seu personagem. O game é composto de oito cenários (casa, quintal, interior da casa, rua, lote vago, praça, prédio comercial, parque), além do posto médico, nos quais o jogador tem a missão de combater os focos de dengue. Ao clicar em objetos como pneus, vasos de plantas, garrafas pet, vasilhames de comida de animais e calhas d’água, entre outros, o jogador vai eliminando os focos e pontuando.


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Para a mobilizadora Kátia Báo as redes sociais ajudam a aproximar idéias e pessoas

Também é possível ajudar outros amigos que também participam do jogo e assim, ir aumentando a pontuação. Para cada tarefa realizada o usuário recebe uma mensagem educativa sobre prevenção da dengue, o que estimula e conscientiza o usuário sobre o verdadeiro sentido do social game, que é combater a dengue em casa, na vizinhança, na escola e no círculo de convivência. Para Kátia Báo, esse aspecto, além de educar o jogador, alerta sobre focos desconhecidos do Aedes, “porque, você passa a identificar, além dos focos mais comuns, como vasos de plantas, pneu e piscina, outros que são desconhecidos para muitas pessoas, como vaso sanitário, bromélias e bandeja externa de geladeiras”, completou. À medida que o internauta elimina os focos de Aedes aegypti, e executa as tarefas daquela etapa, ele sobe de nível: iniciante, recruta da saúde, caçador de focos, herói do bairro, até o décimo: o "exterminador da dengue". Outra característica estimulante do joguinho é que, caso o usuário fique alguns dias sem jogar, ao retornar, deverá se dirigir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), já que seu avatar fica com dengue, pois ele não combateu a doença todos os dias. Ao chegar ao posto de saúde, o usuário lê uma mensagem sobre o que fazer para se cuidar e melhorar. Depois de 15 minutos, o avatar retoma a aparência saudável e então é possível continuar caçando os focos de dengue. Eliza Braz Cota, de 9 anos, é estudante do 4º ano e juntamente com a mãe e a irmã mais nova, jogam Dengue Ville todos os dias. “Fiquei sabendo do jogo por minha mãe e desde então jogo sempre. Já estou no 6° nível. Quando não posso jogar, minha mãe joga pra mim, pois não quero pegar dengue”, entusiasma-se a estudante. Eliza conta, ainda, que antes do jogo ela não sabia direito como se prevenir da dengue, mas que depois aprendeu a evitar a doença. “Desde

que comecei a jogar, estou mais esperta. Agora não deixo água parada em casa e sempre lembro minha mãe sobre isso. Falo com meus colegas sobre a dengue e também já comentei com meus amigos e com meu primo, que já teve dengue, sobre o jogo. Temos que nos prevenir, porque a dengue mata, então temos que ficar espertos”, relatou a consciente menina. Somente nos meses de abril e maio deste ano o Blog Minas Contra a Dengue teve 12.831 acessos, número um pouco superior ao HotSite Influenza, com 12.508 acessos. Já o Twitter Saúde MG, contava, até maio de 2010, com 1.047 seguidores e, até abril do mesmo ano, foi atualizado 1.133 vezes. Com relação ao Dengue Ville, os números são ainda mais impressionantes, pois desde o dia 16 de março até o fim de julho, cerca de um milhão de usuários participavam do social game.

Comunidade Escolar Maria Suely Rocha é professora de História para 6ª e 7ª série na Escola Estadual Dr. Simão Tamm Bias Fortes, no Bairro Havaí, em Belo Horizonte. Antenada às novas tecnologias, ela acredita no caráter informativo e instrutivo das redes sociais e ajudou a divulgar o social game para seus alunos. Segundo ela, o resultado foi imediato. “Logo após ter contado para meus alunos sobre o Dengue Ville, eles começaram a interagir com o jogo, a identificar os possíveis focos de dengue na escola, na casa deles e nos vizinhos.” Ela afirmou que a escola já vinha realizando um trabalho de conscientização sobre a dengue, mas que pelo jogo o combate se tornou mais concreto e efetivo junto à comunidade escolar. “A ideia do Dengue Ville foi uma ótima iniciativa. Aqui na escola, por exemplo, em um trabalho sobre a Dengue, um aluno criou uma maquete inspirada no jogo, que ficou perfeita”, disse. Minas Saúde 19


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ARTIGO

Mobilização nas redes sociais Frederico Vieira Relações públicas e jornalista - Consultor em Mobilização Social da Secretaria de Estado de Saúde

Facebook completou em março de 2010 seis anos de existência; em pouco tempo se tornou o segundo site mais popular da internet, perdendo apenas para o Google. Considerada a maior rede social on-line do mundo, ao Facebook estão conectadas mais de 350 milhões de pessoas. Para se ter uma ideia, apenas a China e a Índia têm população maior que isso. Além do Facebook, inúmeras outras comunidades se multiplicam no espaço virtual, cuja lógica se torna cada vez mais colaborativa. Exemplo disso é o crescimento do uso de ferramentas wiki. Disponíveis para livre postagem de conteúdos, elas permitem consolidar informações de múltiplas fontes, numa espécie de obra escrita coletivamente, em grande parte por anônimos. Sob esse ponto de vista, a internet produz uma modificação radical na forma de registro da passagem do homem pela Terra; quem conta a história são indivíduos, comunidades, tribos e grupos. E o armazenamento dos dados – a memória – está disponível a qualquer tempo, basta clicar. Sem discutir o mérito dessa mudança, é fato inegável: o acesso às informações de interesse público, antes restritas ao domínio das elites intelectuais, políticas e econômicas, ampliou-se. O ciberespaço é uma arena democrática. Por traz das postagens em blogs e twitters existem sujeitos que compartilham, sejam informações qualificadas ou banais; opiniões embasadas em reflexões teóricas ou manifestações do livre pensar. Entre os limites do exibicionismo e das mais inovadoras pesquisas científicas, há um espectro de vocalizações. São vozes que se encon20 MINAS SAÚDE

tram, intercruzam, tecem discursos ou nem isso: apenas acompanham como voyeurs “a trajetória do mundo”, por meio de interfaces digitais. Como se diz: “na internet, dá de tudo”, sobre o que conjugaria “na internet, dão de tudo”, pois as relações virtuais inexistem sem pessoas para praticá-las. O que se quer “dar a ver” na rede, tornar publicamente visível, nasce de um atributo constituinte do sujeito: a vontade. Movidos pelo livre arbítrio, desnudamos a vontade em posts, scraps, troca de-mails; estabelecemos conexões. Sendo a mobilização social um processo gregário, que visa coletivizar problemas de interesse público e vincular pessoas num movimento que se dirija para uma causa comum, naturalmente as redes sociais se tornam ferramentas estratégicas de comunicação. Existe uma definição importante que Bernardo Toro e Nísia Werneck, estudiosos da mobilização social, oferecem ao conceito: “mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados”.1 Percebemos a centralidade do termo “vontade” neste contexto, elemento que move o sujeito para a ação transformadora da realidade que o cerca. Considerando que toda mudança de realidade desejada é, em si, uma virtualidade, um vir a ser, se torna evidente a aproximação entre a vida internauta e a mobilização social in loco, presencial. Reunindo sujeitos para além das fronteiras geográficas; tornando as trocas mais rápidas e constituindo relações colaborativas, o

uso das redes sociais pode influenciar, e muito, o fortalecimento da perspectiva transversal da mudança. Há exemplos de processos de mobilização que tiveram início no meio virtual e que desembocaram em uma mobilização face a face, conduzida por lideranças que ocuparam o espaço da internet. O Projeto Ficha Limpa, que se tornou Lei Complementar 135, é uma experiência recente: dois milhões de cidadãos subscreveram o abaixo-assinado online favorável ao Projeto de Lei de iniciativa popular 2, sem contar as inúmeras comunidades “Ficha Limpa já, eu apoio!!” ou “Ficha Limpa neles”. Destacam-se também organizações como o MCCE, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, e a Transparência Brasil, centralidades de produção de conteúdo e de ações mobilizadoras que ganharam a cena nacional não exatamente pelos tradicionais meios de comunicação de massa, mas pela mensagens dirigidas aos públicos internautas. A causa do movimento nas redes sociais está clara: o combate à corrupção. Nesse sentido, quando se pensa em Saúde Coletiva, não se pode desconhecer a potencialidade dessas ferramentas. Sabemos que o campo de trabalho na promoção, prevenção e assistência da Saúde Coletiva é vasto, como é também vasto o universo das redes sociais. Há questões importantes a serem enfrentadas, como a da mortalidade materna e infantil, a das doenças endêmicas tais como a dengue, além da melhoria das condições de saneamento básico. E isso não se faz apenas com instrumentos técnicos adequados, equipamentos e profissionais qualifica-


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dos. É preciso mobilizar os cidadãos nos espaços de interação presenciais e virtuais, já que, em geral, a causa dos projetos e programas com foco em Saúde Coletiva é a defesa da vida, direito maior de todo ser humano. Aqui destacamos o diálogo face a face como uma ferramenta essencial ao trabalho dos profissionais da Saúde. Panfletos, cartilhas, folderes, cartazes, sites, blogs, Twitter, Facebook, Orkut, Messenger, entre outros, podem ajudar a mobilização a acontecer. Mas uma boa conversa, olhos nos olhos, além de convencer, é também capaz de mover para a ação. Por isso, os agentes da saúde podem promover ações de mobilização social nas escolas, clubes, associações e igrejas de sua área de abrangência. O que significa operar em rede, onde a colaboração é a tônica do que se faz. Finalmente, cabe destacar a necessidade das parcerias. Parceria significa criar vínculos de continuidade na relação entre os atores sociais e o projeto ou programa de mobilização, numa visão de longo prazo. A interação que rende benefícios mútuos para as partes envolvidas tem maior chance de atingir o nível de corresponsabilidade das pessoas com a causa do movimento. Identificamos a atuação corresponsável quando o trabalho dos agentes e seus parceiros gera um sentimento de solidariedade que passa a envolver reuniões, encontros, mutirões, visitas e outros espaços da experiência social cotidiana, incluindo o ciberespaço. É pela corresponsabilidade que o discurso se torna prática permanente, e as relações entre os sujeitos mais amplas e democráticas.

1 TORO A., Jose Bernardo & WERNECK, Nísia

Maria Duarte. Mobilização Social: Um modo de construir a democracia e a participação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal, Secretaria de Recursos Hídricos, Associação Brasileira de Ensino Agrícola Superior - ABES, UNICEF, 1996, 104 p.

2 A iniciativa foi subscrita por 1,3 milhão de eleitores, número que subiu para 1,7 milhão no momento em que o Projeto estava sendo aprovado pela Câmara dos Deputados, aos quais se agregaram dois milhões de assinaturas on-line.

Star Plic – jogo didático que simboliza a mobilização e a união das diferenças


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Casas oferecem acolhimento às mães

Gestantes e bebês recebem acolhimento e carinho em casas implantadas pela rede FHEMIG

Texto: Michèlle de Toledo Guirlanda Fotos: Andrei Gomez

iminuição da mortalidade maternoinfantil e atendimento ainda mais qualificado e humanizado são alguns dos resultados já alcançados com a criação das Casas de Apoio à Gestante na Rede Fhemig, há cerca de dois anos. Atualmente, elas funcionam em quatro unidades: no Hospital Júlia Kubitschek e na Maternidade Ode te Valadares (Belo Horizonte), no Hospital Regional Antônio Dias (em Patos de Minas) e no Hospital Regional João Penido (em Juiz de Fora). As Casas da Gestante oferecem às mulheres que passam por uma gravidez de risco e às mães de bebês internados na UTI Neonatal uma estrutura domiciliar, bem diferente do ambiente hospitalar. São

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dez acomodações mobiliadas, com quarto, cozinha, sala e banheiro. Outro diferencial é a assistência integral às mães e aos bebês, feita por uma equipe multidisciplinar – composta por médicos, enfermeiros, técnicos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. Enquanto está na Casa, a mãe também recebe todas as orientações necessárias para cuidar de seu filho, desde a amamentação até os cuidados necessários e próprios de cada recém-nascido. Essas orientações ainda abrangem a gestação, o trabalho de parto, o parto e o puerpério. Para isso, são formados grupos educativos e terapêuticos com a participação de toda a equipe. Além disso, as


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Janete Godoi e o filho Vítor na UTI Neonatal do HJK. Hoje, ele está em casa, e é uma criança tranquila e saudável

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Casas oferecem uma programação de atividades de entretenimento, como oficinas de artesanato.

Vantagens da Casa da Gestante O maior benefício das Casas da Gestante foi o estreitamento do vínculo entre mãe e filho, o que proporciona melhorias clínicas perceptíveis ao longo do tratamento. “A média de internação dos bebês prematuros tem diminuído desde a implantação da Casa, facilitando a participação ativa da mãe no atendimento ao seu filho. Ela recebe todas as orientações necessárias de como cuidar do bebê, trazendo uma maior tranquilidade para ambos”, explica a gerente assistencial Terezinha Finamore, da Maternidade Odete Valadares (MOV).

A psicóloga Elaine Cândido Pinheiro, da MOV, acrescenta que a Casa é fundamental para fortalecer o vínculo materno: “A Casa facilitou muito o vínculo dessas mães com os filhos, diminuiu o cansaço e a ansiedade delas. Sem falar que a criança, quando já está amamentando, se recupera mais rápido com as mamadas regulares”. Cerca de 300 mulheres já se beneficiaram da Casa da Gestante no Hospital Júlia Kubitschek (HJK). A maternidade desse hospital é referência estadual em gestações de alto risco, atendendo não só à região do Barreiro, que faz parte de BH, mas também aos municípios de seu entorno. O HJK tem se destacado no atendimento às adolescentes grávidas, já que também conta com a Casa da Criança e do Adolescente.

“Fico mais tranquila ao lado de meu filho, sei que estou ajudando na recuperação dele, que nasceu com apenas 27 semanas, com pouco mais de um quilo. Moro a cerca de 100 km daqui, não teria como vê-lo com tanta frequência”, confirma a mãe de Francisco, Telma Baeta Lacerda, de Conselheiro Lafaiete. Ela está na Casa da Gestante do Hospital Júlia Kubitschek, onde nasceu seu filho, no dia 15 de agosto.

Aumento da demanda Por ser um serviço relativamente novo na Rede, a demanda tem crescido muito nos últimos meses, vinda de várias regiões do estado. No Hospital Regional João Penido, é comum receberem

Janete e Edna contam com a companhia da técnica de Enfermagem Rosineide Cristina Teixeira, uma das plantonistas das Casas que acompanham diariamente as mães


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Enquanto aguardam a chegada dos filhos, as gestantes compartilham um espaço de tranquilidade e segurança

gestantes e mães da zona rural próxima a Juiz de Fora. “Às vezes, onde elas estão, não tem um atendimento próprio para cada caso, e o acesso às unidades de saúde é difícil em situações de emergência. Aqui, elas são monitoradas 24 horas por dia por uma equipe especializada, o que garante sucesso na maioria dos casos”, conta a assistente social Daisy Aguiar de Castro. A primeira Casa inaugurada foi a do Hospital Regional Antônio Dias, em Patos de Minas, em 2008. “As mães afirmam que o atendimento é ótimo. Os funcionários se interessam e compartilham o sofrimento delas, fazendo com que a apreensão – comum nesses casos – seja amenizada e elas fiquem mais seguras para viver esse momento”, revela a coordenadora da Casa, Katiúscia Celestino. A mãe de Heitor, Jaqueline Abadia, veio de Patrocínio quando o bebê estava para nascer, com apenas 27 semanas. Ele veio ao

mundo com inacreditáveis 675 gramas e precisou ficar um bom tempo no hospital até ser liberado. Enquanto Jaqueline está na Casa da Gestante, acompanhando a recuperação de seu filho, Daliana Ruas Pereira saiu de Santiago, (distrito de Patos de Minas) para dar à luz Rafaela, que nasceu com 26 semanas e já passou por duas cirurgias. “Me sinto bem ao lado de outras mães que dividem comigo esta experiência. Não sei o que seria de nós sem este acolhimento”, conta.

Carinho de mãe Vítor é o exemplo de como carinho e assistência podem ser grandes aliados numa difícil batalha. Ele nasceu com 27 semanas, 1.030 gramas e 32 centímetros, no dia 10 de novembro de 2009. Começava ali para a mãe, Janete Oliveira Soares Godoi, uma “temporada” de mais de quatro meses acompanhando,

dia a dia, todas as pelejas pelas quais Vítor passou. Foram quatro cirurgias, várias infecções e pneumonias. A primeira operação aconteceu quando ele tinha apenas cinco dias, com 900g. “Não tinha como vir todos os dias e, ao mesmo tempo, queria ficar ao lado dele. Sei que isso foi importante, a melhora foi rápida, tendo em vista tantos problemas. A Casa da Gestante foi uma das melhores coisas que criaram. A gente participa, se ajuda, se sente útil no tratamento do próprio filho”, diz Janete. Vítor não teve nenhuma sequela dos dias difíceis. Hoje pesa quase sete quilos e é um menino tranquilo e alegre, que cativa a todos por onde passa. “Só não gosta de ficar sozinho”, revela a mãe. Afinal, ele nun ca ficou sozinho desde que nasceu.

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Qualidade, eficiência e agilidade

Estes fatores são marcantes no trabalho do Laboratório Intermunicipal de Análises Clínicas da Acispes

Texto e Fotos: Marcella Marques

tualmente, dos 853 municípios mineiros, cerca de 700 possuem menos de 20 mil habitantes. Por isso, para que se alcance a eficiência e a racionalização na área de análises clínicas, é necessário que exista cooperação entre gestores públicos, de modo a viabilizar a implantação de laboratórios com abrangência microrregional que concentrem a produção de exames de vários municípios, alcançando a escala necessária para a automação e o ganho em eficiência e economia. Visando então a otimização de recursos e a eficiência na atenção prestada aos usuários do Sistema Único de Saúde em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) desenvolveu o projeto da Rede de Apoio Diagnóstico em Análises Clínicas, que se fundamenta nos princípios de escala, escopo, qualidade e acesso. 26

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Aceitando o desafio de integrar o projeto piloto da Rede de Apoio Diagnóstico em Análises Clínicas da SES, a Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes) inaugurou, em 2007, o Laboratório Intermunicipal de Análises Clínicas Acispes, que em 2010 atendeu mais de 42 mil pacientes e realizou mais de 286 mil exames. O Laboratório, que tem uma produção mensal de 35 a 40 mil exames, veio sanar uma necessidade dos municípios associados à Acispes, que é proporcionar à população exames laboratoriais com qualidade, rapidez e baixo custo, evitando a subutilização de equipamentos e melhorando o atendimento ao usuário, que já não precisa se deslocar para cidades maiores para ser atendido. Com o sistema do Laboratório da Acispes, as amostras são coletadas nos municípios e encaminhadas para a sede, localizada em Juiz de Fora, pelos veículos que fazem parte do Sistema Estadual de Transporte em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de

No Laboratório Intermunicipal de Análises Clínicas Acispes são realizados, em média, 35 a 40 mil exames por mês


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No Laboratório são realizados testes hematológicos, bioquímicos, hormonais, imunológicos e sorológicos, microbiológicos, parasitológicos e urinálises Minas Gerais. No laboratório são realizados testes hematológicos, bioquímicos, hormonais, imunológicos e sorológicos, microbiológicos, parasitológicos e urinálises. Segundo Leandro Gonçalves Martins, supervisor do laboratório, desde a fundação da instituição, o desafio de promover uma assistência cada vez melhor sempre fez parte do dia a dia do laboratório. “Graças ao esforço e à determinação de toda a equipe, conseguimos implementar neste ano sistemas de gestão da qualidade, programas de capacitação na área de análises clínicas e adquirimos equipamentos de última geração, aumentando a capacidade de assistência e principalmente a qualidade dos diagnósticos”, enfatizou. O Laboratório Intermunicipal de Análises Clínicas Acispes, atende atualmente 18 municípios e quatro serviços de saúde; em 2009 eram atendidos 10 municípios e quatro serviços de saúde. 28

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Para Paulo Mendes Soares, atual presidente da Acispes e prefeito de Ewbank da Câmara, falar do Laboratório Intermunicipal é um privilégio e uma grande alegria. “Além do aspecto da economia, já que na maioria das vezes realizamos exames abaixo da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), um dos principais benefícios de nossa instituição é a agilidade de resposta. Posso dizer que, se não for o mais importante, o Laboratório é um dos serviços oferecidos pela Acispes que mais benefícios proporciona aos usuários. A economia, a qualidade e a eficiência no atendimento são fatores que consideramos primordiais”, assegurou. De acordo com Paulo, não são apenas os municípios consorciados à Acispes que podem usufruir dos serviços ofertados pelo Laboratório Intermunicipal. “Municípios que não fazem parte da Acispes também podem realizar análises no laboratório, com o mesmo custo que para os consorciados. Temos capacidade para realizar os atendimentos e assim evitamos ociosidade”, salientou.

QUADRO 1 – MUNICÍPIOS E UNIDADES ATENDIDAS Unidades Atendidas - 1º Semestre 2009 Municípios e outros Atendimentos

Unidades Atendidas - 1º Semestre 2010 Municípios e outros Atendimentos

. Aracitaba . Belmiro Braga . Chácara . Coronel Pacheco . Ewbank da Câmara . Goiana . Matias Barbosa . Oliveira Fortes . Piau . Rio Novo . Centro CTA . Hospital HMTJ . PAM Marechal . Programa Mais Vida

. Andrelândia . Aracitaba . Arantina . Belmiro Braga . Bias Fortes . Chácara . Coronel Pacheco . Ewbank da Câmara . Goiana . Levy Gasparian - RJ . Matias Barbosa . Oliveira Fortes . Piau . Rio Novo . Rio Preto . Santana do Deserto . Sapucaia – RJ . Senador Cortes . Hospital HMTJ . PAM Marechal . Programa Mais Vida . UPA 24h Santa Luzia


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Atendimento de primeira

O Laboratório surgiu da necessidade dos municípios associados à Acispes de proporcionarem à sua população exames laboratoriais com qualidade, rapidez e baixo custo

Aos 80 anos, Otávio Alves Cabral, morador de Campestre, zona rural de Oliveira Fortes, é um dos pacientes do Mais Vida, programa atendido pelo Laboratório da Acispes. Com essa parceria, o senhor, que, devido à idade, já apresenta alguns problemas de saúde que dificultam sua locomoção, tem todo conforto e facilidade para a realização de exames laboratoriais. As amostras são colhidas no Centro Mais Vida, que funciona na sede da Acispes em Juiz de Fora, por técnicos do laboratório. Para chegar ao local, Otávio é transportado no microônibus do SETS, com todo conforto e segurança. "Já estou mais velho e, por causa das dores, não conseguiria mais andar a pé até o posto de saúde do município em que moro para fazer um exame de sangue, já que minha casa fica longe, na roça. Aqui eu venho em um ônibus, muito bem acomodado, e ainda posso trazer uma pessoa para me acompanhar. E o pessoal que tira o nosso sangue também é muito bom, nem dói", contou Otávio Cabral. Após as amostras serem analisadas, os resultados dos exames dele serão disponibilizados na internet e, dentro de 24 horas, podem ser retirados na Unidade Básica de Saúde de Oliveira Fortes. Trabalhando com um sistema laboratorial informatizado, o Laboratório Intermunicipal de Análises Clínicas Acispes permite que a solicitação do atendimento, a identificação do paciente e da amostra com código de barras, o acompanhamento do status da análise e a impressão dos resultados na própria Unidade ou município solicitante sejam realizados via internet, por meio de uma senha, evitando assim deslocamentos desnecessários. A proposta do Laboratório é entregar o resultado dos exames em até 24 horas, a não ser que estes demandem tempo maior ou tenham que ser realizados no laboratório de apoio, localizado em São Paulo. “Atualmente 98% Minas Saúde 29


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dos exames enviados ao nosso laboratório são realizados aqui, porém, aqueles que não possuem uma demanda suficiente que justifique sua realização são enviados para outro laboratório, evitando gastos desnecessários” afirmou Marcos Brigatto, bioquímico e responsável técnico do laboratório. Em 2009 os gastos com o laboratório de apoio chegavam a aproximadamente R$ 40 em um mês, já em 2010 esse valor atingiu o máximo de R$ 4 mil mensais.

equipe que trabalha na instituição é extremamente competente e atenciosa; quando algum exame realizado apresenta algum valor muito alterado; o técnico do laboratório entra em contato, imediatamente, com o município, evitando possíveis complicações”, complementou. Uma das instituições atendidas pelo Laboratório Intermunicipal é o Hospital Maternidade Terezinha de Jesus (HMTJ). Desde o final de 2008, o laboratório funciona em um

Aprimoramento constante Buscando melhorar continuamente os procedimentos pré-analíticos, proporcionando, assim, um melhor desempenho técnico, maior otimização dos recursos e menos desperdício, o Laboratório Acispes, junto com seus parceiros, idealizou um Programa de Treinamento Continuado. Segundo Leandro Martins, já foram realizadas três capacitações que tiveram por objetivo: educar os profis-

QUADRO 2 - RELATÓRIO DE PRODUÇÃO 1º SEMESTRE 2009 X 1º SEMESTRE 2010 - PRODUÇÃO 1º Semestre 2009 Mês

Produção

Fevereiro Abril

Janeiro Março Maio

Junho Total

Crescimento

Mês

17.133 exames

48,88%

Fevereiro

21.196 exames

78,63%

17.063 exames 25.421 exames 26.236 exames 31.997 exames

139.046 exames

65,82% 62,78% 56,04% 15,82%

51,78%

Cristiana Costa Bellei, enfermeira responsável pela coleta e pelo envio de amostras biológicas dos moradores de Goianá conta que, antes da criação do Laboratório Intermunicipal, muitas vezes o paciente tinha que se deslocar para outro município para realizar exames e que quando o material era coletado na própria cidade e enviado para outro laboratório o resultado demorava de 15 a 20 dias. “Trabalhar com o laboratório da Acispes foi um enorme ganho para a saúde de nossos munícipes. Agora, os resultados das análises dos nossos pacientes são liberados dentro de um ou dois dias, com no máximo sete dias, sendo que exames de urgência têm o resultado liberado no mesmo dia. Isso agiliza o diagnóstico do paciente evitando, inclusive, que o quadro de doenças oportunistas se agrave”, disse. Outro fator destacado por Cristina é a humanização do atendimento prestado no Laboratório. “A 30

Minas Saúde

1º Semestre 2010

%

Janeiro Março Abril

Maio

Junho Total

Produção

28.295 exames 25.509 exames 41.382 exames 37.863 exames 40.939 exames 37.059 exames

211.047 exames

prédio anexo ao HMTJ, sendo, também, um importante polo formador de profissionais, já que o Laboratório tem um convênio firmado com a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (Suprema), recebendo acadêmicos de Bioquímica e Farmácia para a realização de estágio curricular. “Esta parceria com Laboratório da Acispes, que é referência para a região, foi um grande ganho para o nosso hospital. Aqui temos 24 horas de atendimento eficaz e de qualidade, com garantia de resultados seguros para os usuários de nossa instituição. Tenho que ressaltar também a importância do Laboratório na formação de profissionais éticos, com conhecimentos técnico-científicos e humanos, que veem agregar ainda mais dignidade aos serviços de saúde prestados à população de nossa região e de todo o Estado”, destacou Jorge Montessi, diretor financeiro do HMTJ e professor adjunto-doutor da Suprema.

sionais quanto à importância de se realizar corretamente um procedimento de coleta, proporcionando, assim, a obtenção de amostras de qualidade; abordar a importância de um atendimento humanizado, oferecendo conforto aos paciente; e falar sobre a importância da redução de gastos de materiais, segurança no procedimento de coleta e atualização científica. “Participaram destes treinamentos os funcionários do laboratório; os profissionais dos municípios, do HMTJ e da UPA Santa Luzia que são responsáveis pela coleta dos materiais, além de acadêmicos da Suprema. Esses treinamentos são muito importantes já que colaboram para que seja evitada a repetição de exames por erros de coleta e evitam, até mesmo, erros de diagnóstico”, expôs Leandro. Trabalhando como bioquímica no Laboratório Intermunicipal desde 2008, Gilmara Benevenuto de Paula afirma que trabalhar na instituição é muito bom. “Aqui temos equipamentos


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modernos à nossa disposição, e a supervisão preocupa-se constantemente com o nosso aprimoramento, oferecendo capacitações. Tudo isso, somado ao bom relacionamento existente entre a equipe, possibilita que exerçamos um trabalho de qualidade, com a garantia de resultados seguros para o paciente”, observou.

Acispes

Otávio Alves Cabral, 80 anos, morador de Campestre, zona rural de Oliveira Fortes, é um dos pacientes atendidos pelo Laboratório da Acispes

A Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes), criada em 1996, é um consórcio de municípios que tem como foco a promoção da saúde, com a realização de consultas e exames de média complexidade. Atualmente, a Acispes conta com 23 municípios consorciados, que utilizam a infraestrutura de procedimentos oferecidos pelo consórcio e/ou o transporte de pacientes. Fazem parte da Acispes: Andrelândia, Aracitaba, Arantina, Belmiro Braga, Bias Fortes, Bom Jardim de Minas, Chácara, Comendador Levy Gasparian, Coronel Pacheco, Ewbank da Câmara, Goianá, Lima Duarte, Matias Barbosa, Oliveira Fortes, Pedro Teixeira, Piau, Rio Novo, Rio Preto, Sapucaia, Santana do Deserto, Santa Rita do Jacutinga, Santos Dumont e Simão Pereira. Em Minas Gerais, os Consórcios Intermunicipais de Saúde (CIS) se tornaram um dos pilares da política estadual de saúde. Os CIS são um dos instrumentos mais eficazes para ampliar a atuação dos municípios no campo da saúde, sendo capazes de solucionar demandas que não poderiam ser resolvidas, de forma isolada, por cada município. Ao mesmo tempo, os consórcios racionalizam o uso de recursos financeiros, humanos, de maquinário e de instalações físicas, assim como viabilizam a criação de centros de especialização, que seriam dispendiosos para atender a apenas um município de pequeno porte. Minas Saúde 31


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Educação técnica a serviço da saúde

Alunos do curso de Agentes Comunitários de Saúde apresentam mapa de abrangência para identificação de problemas na comunidade

A Escola de Saúde Pública de Minas Gerias capacita técnicos, ajudando a qualificar os profissiomnais de saúde do estado

Texto: Daniela Venâncio e Letícia Orlandi Fotos: Ernane Lopes

á 13 anos na Prefeitura de Pirapora, Adriana Santos Silva integra a equipe de saúde do município, atuando com a saúde bucal. Em 2010, a servidora realizou um sonho antigo: fazer um curso técnico de Saúde Bucal. Adriana, assim como outros profissionais da saúde, engorda as estatísticas que apontam que cerca de 60% desses profissionais têm formação de nível médio. “Eu já trabalhava na área, mas faltava uma formação específica. E o curso que está sendo oferecido no município de Várzea da Palma é de ótima qualidade, muito dinâmico, com reflexões sobre a mudança na forma de atuar e de ensinar. As aulas abrem uma grande janela, cheia de novas perspectivas.” 32

Minas Saúde

Segundo a profissional, já foi possível colocar em prática os conhecimentos adquiridos no primeiro módulo, e a mudança de postura é nítida. “Os trabalhos de dispersão, que envolvem as equipes multidisciplinares, promovem uma mudança em todos os profissionais de saúde da família, que passam a voltar os olhos também para a saúde bucal”, destaca Adriana. Esse tipo de formação – a educação técnica – faz parte da construção de uma política de Recursos Humanos na Saúde, definida pela Constituição de 1988, abrindo a possibilidade de formar trabalhadores com perfil pertinente às necessidades técnicas e sociais emergentes das

Unidade Geraldo Campos Valadão acolhe alunos do curso Técnico em Saúde Bucal


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demandas locais e regionais, tendo em vista a garantia da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). A Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) é uma instituição importante nesse contexto e oferece, desde seus primeiros anos de funcionamento, ainda na década de 1950, cursos voltados para a formação técnica dos profissionais que atuam no sistema de saúde mineiro. Durante a década de 1990, reforçou-se, no âmbito nacional, a necessidade da titulação para fins de legitimação profissional, o que evidenciou a formação técnica de nível médio. Na ESP-MG, desde o primeiro curso técnico oferecido, em 1953, de Dietista, até as atividades desenvolvidas hoje, como o curso de Técnico em Saúde Bucal, os conceitos de formação envolvidos nessa política caracterizam a necessidade de elevação da escolaridade e os perfis de desempenho profissional, de

modo a possibilitar o aumento da autonomia intelectual dos trabalhadores, do domínio do conhecimento técnico-científico, da capacidade de gerenciar tempo e espaço de trabalho, do exercício da criatividade, da interação com os usuários dos serviços, da consciência da qualidade e das implicações éticas de seu trabalho. (Veja quadro com os cursos oferecidos pela EJP-MG no final da matéria.) A diretora-geral da ESP-MG, Tammy Claret Monteiro, defende a importância da formação dos trabalhadores, por meio dos cursos oferecidos pelas Escolas de Saúde. “A educação profissional tem papel importante no processo de humanização do homem e de transformação social, criando a perspectiva de que o trabalho no SUS tem caráter formativo, possibilitando reflexões críticas sobre as práticas de atenção, gestão e educação”, explica. Integração

A formação de nível técnico em saúde tem algumas características específicas, como o desenvolvimento do currículo integrado, a descentralização dos cursos, a articulação escola-serviço-comunidade, os espaços e contextos de trabalho como loci privilegiados da formação e o ensino em serviço. O curso de Técnico em Saúde Bucal (TSB), realizado desde 2009 pela ESP-MG, em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde e com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), é um exemplo disso. São nove turmas em execução, abrangendo 131 municípios e 356 alunos. Da primeira etapa participaram grupos formados em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Divinópolis, Lavras, Manhumirim, Teófilo Otoni e Várzea da Palma. O segundo módulo começou em agosto de 2010, e já existe demanda para a realização do curso em outros municípios.

A iniciativa atende a uma necessidade das equipes de saúde da família. Em mais de 3.600 equipes do PSF em Minas, apenas 350 trabalham com saúde bucal na modalidade dois, ou seja, com a equipe completa, formada por cirurgião-dentista, auxiliar e técnico em saúde bucal. O objetivo é habilitar, em todo o estado, 1.043 técnicos, além de capacitar pedagogicamente 994 cirurgiões-dentistas para assumirem a docência nos períodos de dispersão e concentração do curso. A estrutura do curso tem como princípio a articulação entre teoria e prática, ensino e serviço. A organização está sustentada na interdisciplinaridade, e a carga horária total de 1.300 horas está distribuída em 560 horas de concentração (em sala de aula) e 740 horas de atividades de dispersão (no local de trabalho). São três módulos, compostos por unidades de estudo progressivas e integradas. O primeiro é comum para todos os alunos que realizam cursos técnicos na ESP-MG. Ele abrange o contexto do trabalho em saúde no SUS e isso dá ao aluno a oportunidade de ficar mais apto e fortalecido no local em que trabalha. Já o segundo e o terceiro correspondem às competências do profissional. Segundo Clarice Castilho Figueiredo, coordenadora de educação técnica da ESP-MG, a atividade caracteriza-se pelo uso do currículo integrado, desenvolvendo o processo de ensino-aprendizagem em momentos teóricos, em salas de aula, e práticos, no próprio serviço em que atua o aluno. “O caminho metodológico é considerado o mais apropriado para promover a interação com o cirurgião-dentista na construção do conhecimento, possibilitando a articulação da prática cotidiana e focando a formação profissional. A comunidade é beneficiada por um profissional habilitado e, acima de tudo, um cidadão mais envolvido, comprometido com o processo de trabalho e com a transformação da realidade”, conclui Clarice. Minas Saúde

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Tecnologia

Fachada da Unidade Geraldo Campos Valadão que acolhe os cursos técnicos centralizados

Profissionais da saúde participam de qualificação pedagógica para se tornarem docentes do curso técnicos em saúde bucal 34

Minas Saúde

O curso de Técnico em Saúde Bucal da ESP-MG conta com outra característica que define a estratégia de descentralização de atividades adotada pela instituição mineira: lançada pela ESP-MG no segundo semestre de 2009, a Educação a Distância (EaD) atende a aproximadamente 900 profissionais no Curso de Qualificação Pedagógica em Educação Profissional em Saúde, destinado aos docentes do curso Técnico em Saúde Bucal. A carga horária é de 100 horas, sendo 16 presenciais e 84 a distância. A cirurgiã-dentista Vânia Lopes Lemos Figueiredo, docente na cidade de Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha, avalia o curso como imprescindível. “O formato semipresencial é desafiador e muito construtivo. A qualificação forneceu uma base muito boa de conhecimentos para que nós, que ficamos a maior parte do tempo no consultório, possamos passar nossa experiência da melhor forma possível”, afirma. Segundo a docente, o trabalho desenvolvido na EaD abriu um mundo novo, e os tutores apresentaram questões pertinentes do contexto de trabalho e da educação permanente. “Os profissionais que buscam a formação como técnico já chegam com uma bagagem. As aulas são uma troca e promovem grande crescimento entre os alunos, que mudam sua postura profissional. Eles passam a se apoderar da nova situação, integrando efetivamente uma equipe de atenção à saúde de forma global, que inclui o conceito de qualidade de vida, de odontologia-cidadã e de prevenção”, comemora Vânia. Para a cirurgiã-dentista, esse tipo de iniciativa renova a crença na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). “Recebo sempre recadinhos – pessoalmente, por telefone ou por e-mail – de agradecimento e de retorno sobre a mudança que o curso técnico provocou na vida dos profissionais e da comunidade na qual eles estão inseridos, que


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também passa a conhecer mais a importância da saúde bucal”, relata. Perspectivas

Por meio do Programa de Formação de Profissionais de Nível Médio para a Saúde (Profaps), a ESPMG tem previsão de inaugurar, no próximo ano, ações de educação para atender a agenda de cursos técnicos propostos pelo Ministério da Saúde. O Profaps foi criado graças ao bem-sucedido Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área da Enfermagem (Profae), desenvolvido a partir de 2002, que resultou na qualificação de auxiliares de enfermagem em técnicos pelo país. O objetivo do Profaps é qualificar e habilitar trabalhadores em cursos de educação profissional e de qualificação para o setor saúde, já inseridos ou a serem inseridos no SUS. Segundo o superintendente de educação da ESP-MG, Thiago Campos Horta, a instituição, por pertencer à Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS), aderiu ao Profaps visando à execução técnica-pedagógica dos cursos de formação e qualificação de trabalhadores em Minas Gerais, prioritariamente em áreas onde a demanda por qualificação de recursos humanos são maiores. “Neste cenário, foi projetada para 2011, entre outras formações, a qualificação profissional de 823 agentes comunitários de saúde, distribuídos em todo o território mineiro”, conta. O superintendente diz, ainda, que desde 2006 a ESP-MG vem formando esses agentes, totalizando cerca de 13.000 ACS qualificados como atores de transformação e mudança. Essa formação se reflete nas práticas de trabalho da agente comunitária de saúde Maria Luiza de Oliveira, que atua no bairro Cabana, região Oeste de BH. Ela elaborou um mural apresentando, em números, dados importantes sobre a comunidade. O quadro reúne informações tais como a quanti-

dade de idosos, homens, mulheres, crianças e recém-nascidos. “Antes, ninguém tinha acesso a essas informações. Falar em porcentagem é uma coisa, agora apresentar os números reais aproxima muito mais os usuários e gestores das reais necessidades da população”, relata a agente. Técnico em hemoterapia

Com o intuito de atender à demanda de profissionais da área de hemoterapia, a ESP-MG, por meio do Profaps, está em processo de criação de uma turma piloto do curso de Técnico em Hemoterapia. A iniciativa, que visa a formar 20 profissionais da Fundação Hemominas, tem objetivo de apoiar o desenvolvimento de estratégias para a organização e implementação de cursos para formação de técnicos em hemoterapia. Para a criação do curso, foram necessárias oficinas de trabalho que contaram com a colaboração de profissionais da ESP-MG e da Hemominas. “As oficinas foram realizadas para que pudessem ser definidos os mapas de competências dos profissionais que participariam da turma piloto e, em um segundo momento, possibilitar a construção do marco de orientação curricular”, explica a supervisora da Diretoria Técnico-Científica da Hemominas, Kátia Bretz.

O campo da hemoterapia refere-se aos procedimentos e ações que visam à recuperação de pacientes pela infusão de sangue e derivados. O profissional de nível médio com essa formação sabe identificar os objetivos e protocolos da doação de sangue, identificar e avaliar os requisitos fisiopatológicos do candidato à doação, executar e analisar testes da triagem hematológica, caracterizar os diversos tipos de anticoagulantes e conservantes e reconhecer as técnicas de coleta. Técnico em enfermagem

Outra iniciativa prevista para 2011 é o curso de Técnico em Enfermagem, que se desenvolverá em duas etapas: a primeira será a formação técnica de 60 auxiliares do Hospital das Clínicas. Essa iniciativa contará com a parceria da Escola de Enfermagem da UFMG. Já na segunda fase, serão formados mais 500 técnicos que já atuam como auxiliares no estado. Os profissionais técnicos em enfermagem com exercício regulamentado por lei integram uma equipe que desenvolve, sob a supervisão de um enfermeiro, ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação referenciadas nas necessidades de saúde individuais e coletivas, determinadas pelo processo gerador de saúde e doença.

CONFIRA OS CURSOS DE FORMAÇÃO TÉCNICA JÁ OFERECIDOS PELA ESP-MG Educação Técnica Período

Curso

Nº de alunos

1969–1979

Gestão Hospitalar

187

1953-1954

1972–1998

1998–2010 2003-2005 2007-2009 2008

Formação inicial 2006-2009

Dietista

Radiologia

Técnico em Saúde Bucal

Técnico em Vigilância Sanitária e Saúde Ambiental Enfermagem

14

119

894

202

535

Técnico em Gestão da Saúde

21

Formação Inicial Agente

12.898

TOTAL

14.870

Comunitário de Saúde – Módulo I

Minas Saúde 35


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Mais vida para os idosos mineiros

No estado, mais de 11% da população já chegou à terceira idade

Texto: Vívian Campos Fotos: André Brant

em visita o Centro Mais Vida da Macrorregião Norte, construído em Montes Claros, no Norte de Minas, constata que ali o idoso é tratado com zelo e prioridade. Isso é notado inclusive na arquitetura, que leva em conta as necessidades desses cidadãos. O acesso à recepção é facilitado por meio de rampas espaçosas, com corrimãos firmes e seguros. As portas são largas e de fácil abertura. Lá dentro, as pessoas encon-

No Centro Mais Vida o atendimento é humanizado e as pessoas aguardam pouco tempo para serem atendidas

tram cadeiras confortáveis, bemdistribuídas e em número suficiente para a quantidade de usuários. Os corredores são amplos, arejados e bem-iluminados, e o piso é antiderrapante. Já os banheiros e os bebedouros são adaptados para os usuários que são portadores de necessidades especiais. Tereza Cordeiro Alves, 68 anos, moradora de Montes Claros, aguarda na recepção o momento de ser chamada para sua primeira consulta no Centro Mais Vida. Ela foi encaminhada pela Unidade Básica de Saúde do bairro Jardim Palmares, onde reside. Dona Tereza é diabética, tem artrose e reclama de dores no corpo e dificuldades de audição. A consulta foi iniciada pela enfermeira Cláudia Rodrigues, que fez o acolhimento da paciente. A profissional realizou uma avaliação preliminar e, em seguida, a

encaminhou para o médico. Tereza retornou à recepção, recebeu um lanche, aguardou alguns minutos e, em seguida, seu nome foi anunciado para a próxima etapa do atendimento. Dessa vez quem a atendeu foi a médica Noely Soares Veloso. Tereza, assim como todos os idosos atendidos pela rede Mais Vida, recebeu atenção exclusiva e particularizada dos profissionais de saúde. Durante a consulta, que durou cerca de uma hora, a médica teve a possibilidade de avaliar a paciente de forma minuciosa e pôde enumerar quais eram os agravos de saúde. A médica recomendou a realização de alguns exames clínicos e indicou a consulta com outros profissionais da equipe, como nutricionista, fonoaudiólogo e o fisioterapeuta. A aposentada terminou a consulta com um sorriso no rosto e a certeza de que estava nas mãos de bons profissionais. “Estou sendo muito bem tratada aqui. As pessoas são muito educadas e atenciosas; além disso, vou poder fazer todos os exames e conseguir cuidar melhor da minha saúde agora”, comemorou. De acordo com a médica, “durante a consulta é possível conhecer melhor o paciente e identificar quais são as reais necessidades dele”. Ela também ressalta que todos os procedimentos e consultas necessários para avaliação global e para a complementação do plano


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A médica Noely Veloso dá atenção exclusiva à Tereza

de cuidado para os pacientes são realizados no próprio centro, sem necessidade de deslocamentos. “Assim que a Dona Tereza sair desta consulta, ela irá até a recepção para verificar se tem horário com algum dos especialistas. Se não tiver, ela irá agendar ali mesmo e já sairá sabendo quais serão os dias e horários de suas próximas consultas”, esclarece Noely. A profissional de saúde também explica que, quando Tereza retornar com todos os procedimentos realizados, será possível estabelecer um plano de cuidados para ela. “Neste plano de cuidados, informamos quais são os problemas de saúde do idoso, sugerimos aos profissionais da atenção primária os tratamentos mais adequados para aquele paciente e prescrevemos a utilização de medicamentos, entre outras recomendações”, comenta. Como relata a coordenadora

administrativa do Centro Mais Vida Eleneuza Luiz César, “aqui, o idoso é respeitado e visto de modo individualizado”. Segundo ela, a rede Mais Vida disponibiliza toda a logística necessária para que o cidadão tenha tranquilidade para continuar o tratamento em todos os pontos de atenção. “Os idosos que vêm do interior já chegam com a consulta previamente agendada no Centro Mais Vida e são transportados pelos ônibus do Sistema Estadual de Transporte em Saúde (SETS). Recebem lanche e almoço e, se for necessário que o paciente realize outros procedimentos mais demorados, hospedagem na cidade. Acabamos de finalizar uma licitação na rede hoteleira de Montes Claros e, em pouco tempo, os pacientes poderão ficar em um hotel durante o tratamento. Tudo pago pela Secretaria do estadual de Saúde”, relata a coordenadora.

Plano de Cuidados A geriatra Ariane Maria Gonzaga Durante, coordenadora técnica do Centro Mais Vida da macro Norte, explica como funciona os atendimentos. “Todos passam por avaliação com profissionais de enfermagem e de medicina que realizam exames multidimensionais, em que são observados vários aspectos, como a parte física, psíquica, social, a do humor e dos hábitos alimentares, entre outros. Em seguida, são encaminhados aos demais profissionais conforme necessidades. O profissíonal consegue estabelecer uma lista de problemas desse paciente, e a partir dela é que será elaborado, em parceria com os profissionais das UBS, o plano de cuidados do idoso”, descreve. A coordenadora esclarece, ainda, que será dada prioridade aos Minas Saúde

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idosos frágeis. “Mas os pacientes não poderão chegar diretamente ao Centro, ou seja, não será atendida a demanda espontânea. Antes, eles deverão passar pelas unidades básicas, centros de saúde ou pelas equipes do Programa de Saúde da Família (PSF). O médico deverá preencher um formulário, quando se tratar de idoso frágil, que será entregue à Central de Regulação de Leitos (da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros), cabendo a esta o agendamento, através do sistema eletrônico”, informa Ariane Gonzaga. A especialista lista alguns dos critérios para um idoso ser considerado frágil: ter 80 anos ou mais, ou estar acima dos 60 anos e fazer uso de cinco medicamentos diferentes por dia ou ter cinco diagnósticos que indiquem problemas de saúde comuns na terceira idade, como osteoporose, hipertensão, diabetes e depressão. Também são classificados como frágeis os idosos com internações hospitalares frequentes, com imobilidade total ou parcial, com dificuldades na marcha, com incapacidade cognitiva (delirium, depressão ou demência), além daqueles que sofrem de doenças neurodegenerativas (doença de Parkison ou Alzheimer). Ariane Maria Gonzaga conta que o Centro do Idoso também exerce o papel de qualificação dos profissionais: “Além de oferecer um

atendimento de qualidade, o Centro de Assistência à Saúde do Idoso desempenha o papel de monitoria para os profissionais que atuam nas unidades básicas”. Sobre isso, a também coordenadora técnica do Centro Mais Vida, a geriatra Natália Valadares Santos Lopes, esclarece que os profissionais do Centro são também consultores para os profissionais da atenção primária, pois disponibilizam suporte técnico para a implantação do plano de cuidados. “Nosso papel é indicar e sugerir tratamentos e isso é possível porque avaliamos o idoso de forma multidimensional, com uma equipe interdimensional. O principal ganho para o idoso é sua independência”, defende. João Soares, 69 anos, morador de Montes Claros, teve um infarto há duas semanas. “Cheguei quase morto na Santa Casa, mas os médicos conseguiram me ajudar e agora estou aqui para cuidar melhor da minha saúde”. O pedreiro aposentado relata que, quando tinha sete anos e morava em Coração de Jesus, no Norte de Minas, contraiu a doença de Chagas e, desde então, precisa ter cuidado especial com a saúde. A esposa dele, Elisabeth Silva Soares, também comenta que, agora que o senhor João foi encaminhado para o Centro Mais Vida, sente-se mais tranquila. “Agora vou ficar ainda

Após o atendimento, Tereza agenda a próxima consulta

mais atenta e acompanhar todo o tratamento dele”, conta. O Centro Mais Vida da Macro Norte conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), composta por 20 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, fonoaudiólogo, nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social e 12 profissionais administrativos e de manutenção, que atuam na Unimontes, seguindo as normalizações do protocolo e das linhas-guias de atenção à saúde do idoso da SES. Em 2009, a secretaria destinou mais de R$ 1.7 milhões em investimentos e, até o final de 2010, serão destinados mais R$ 2.6 milhões.

Envelhecimento populacional Conforme dados do IBGE, mais de 10% da população brasileira é formada por idosos. Em Minas Gerais, a proporção é ainda maior: mais de 11% dos mineiros são pessoas que já chegaram à terceira


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também modificações nas características epidemiológicas do país. Ou seja, hoje, as doenças mais comuns são aquelas ligadas ao envelhecimento, como as crônico-degenerativas. Diante desse novo desafio na saúde pública, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) lançou, em 2008, a rede Mais Vida, que tem como objetivo garantir que o idoso tenha condições de recuperar sua capacidade funcional, mantendo-se capaz de realizar as atividades da vida diária, as tarefas simples do cotidiano. Para isso, a o Mais Vida foca a estruturação de uma rede macrorregional de atenção à saúde da população idosa, por meio de um sistema articulado e integrado de ações em saúde que seja capaz de proporcionar aumento nos anos de vida dos idosos do estado, mas mantendo a capacidade funcional e a autonomia. A coordenadora da saúde do idoso da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Eliana Bandeira, afirma que os Centros Mais Vida funcionam como referências para uma macrorregião (na saúde, o estado está dividido em

João Soares se sente mais seguro com um Centro Mais Vida na região

idade. Para 2025, a estimativa é que quase 16% dos brasileiros estarão nesta faixa etária. Esse rápido envelhecimento da população, além de ter provocado uma mudança no perfil demográfico, gerou

ATENDIMENTOS DO CENTRO MAIS VIDA DA MACRO NORTE/2009 PROCEDIMENTOS – MAIO-DEZ

Total

Fisioterapia Psicologia Nutrição

408 232 327

Consultas médicas Enfermagem

Fonoaudiologia Terapia Ocupacional Serviço Social TOTAL

1.839 512

133 161

EXAMES

Total

Eletrocardiograma Tomografia Computadorizada de Crânio Ressonância Magnética de Crânio

238 155 02

Exames Laboratoriais Densitometria Óssea

90 3.702

5.811 465

6.671

13 macrorregiões sanitárias). Esses centros estão inseridos dentro do nível secundário (média complexidade) de atenção à saúde e executam um trabalho articulado com a atenção primária (centros de saúde) e com a terciária (hospitais). Porém, a coordenadora esclarece que “o centro mais vida não é um ponto isolado, mas representa uma conquista da rede de assistência ao idoso, que começa com as ações das equipes da Atenção Primária à Saúde", reforça. Eliana Bandeira destaca ainda que o foco do programa é a funcionalidade, e não a doença. O idoso pode ser portador de várias doenças, mas independente para as tarefas do cotidiano. “Nosso principal foco é garantir a independência funcional do idoso, proporcionando uma melhor qualidade de vida a essa pessoa”, explica. O processo de implantação das redes macrorregionais de atenção à saúde do idoso começou com o Centro Mais Vida da Macrorregião Sudeste, inaugurado em Juiz de Fora, em dezembro de 2008. Já em abril de 2009, foi implantado o Centro Mais Vida, da Macrorregião Norte de Minas, sediado em Montes Claros. Em julho de 2010 foi inaugurado o Centro Mais Vida da microrregião Centro 1, com sede em Belo Horizonte. Até 2014, todas as macrorregiões de Minas possuirão um Centro Mais Vida, atendendo a 100% da população idosa do estado. Na macro Norte, vivem cerca de 1,6 milhão de habitantes; destes, cerca de 160 mil são idosos.

ATENDIMENTOS DO CENTRO MAIS VIDA DA MACRO NORTE/2010 PROCEDIMENTOS – JAN-JUL Consultas médicas

Enfermagem Fisioterapia

930 515

EXAMES – JAN-JUL Exames Laboratoriais

Densitometria Óssea Eletrocardiograma

TOTAL 9.555

936 106

Psicologia Nutrição Fonoaudiologia

376 493 179

Tomografia Computadorizada de Crânio Ressonância Magnética de Crânio

299 22

TOTAL

5.275

TOTAL

10.918

Terapia Ocupacional Serviço Social

Fonte: Administração CMV/MOC

Total 2.445

254 83

Minas Saúde 39


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Qualificação da gestão melhora o atendimento O Hospital Regional de Patos de Minas é hoje uma referência na região, graças à gestão eficiente do estado e aos recursos do Pro-Hosp

ARQUIVO HRAD

Hospital Regional Antônio Dias na década de 1930, quando foi inaugurado

Texto: Lílian Cunha Fotos: André Brant

Hospital Regional Antônio Dias (HRAD) de Patos de Minas, cidade localizada a 400 km de Belo Horizonte, foi inaugurado na década de 1930. Na época, a instituição tinha um caráter assistencial e funcionava também como clausura para as irmãs de caridade que atendiam crianças órfãs, pessoas carentes e doentes mentais. Já na década de 1960 o hospital passou a ser a 40

Minas Saúde

administrado exclusivamente pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG). De 1975 até outubro de 1977, quem o gerenciou foi a Fundação Ezequiel Dias, órgão ligado à SES. Depois, o hospital tornouse uma unidade da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, ligada à SES-MG. Os pavilhões de psiquiatria e de isolamento e o Pronto Atendimento

foram construídos nos anos 1980 pela Associação de Amigos do Hospital, formada pelos Produtores Rurais de Patos de Minas. Somente depois de 2004 o HRAD passou por grandes reformas físicas e assistenciais, financiadas pelo Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG (Pro-Hosp), da SES-MG. Antes desse investimento, o HRAD


o o

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estava com o seu espaço limitado, os equipamentos não eram adequados para atender à demanda e a pintura do prédio estava deteriorada. Hoje é possível notar a diferença nas instalações, nos equipamentos modernos e no conforto e acolhimento que são oferecidos aos pacientes. A instituição atualmente conta com cerca de 670 funcionários e atende toda a Macrorregião Noroeste de Minas Gerais, composta por mais de 600 mil pessoas. No hospital a população tem acesso a procedimentos ambulatoriais eletivos em ortopedia, cirurgia geral, otorrinolaringologia, cirurgia plástica reparadora, cirurgia buco-maxilo facial e odontologia para pacientes portadores de necessidades especiais. A unidade tem convênios com instituições de ensino técnico e superior na formação de profissionais

Fachada em 2006, após pintura

na área de saúde e residência médica em clínica geral.

Maternidade de alto risco Com a implantação da maternidade de alto risco há quatro anos, foram adquiridos equipamentos, materiais permanentes e instrumentos destinados ao complexo da UTI Neonatal, Alojamento Conjunto e Cuidados Intermediários. Por mês são realizados aproximadamente 120 partos, além das internações clínicas e atendimentos. Ivani Cristina Soares dos Santos, que já tem duas filhas de 17 e 19 anos, está na 36ª semana de gestação e fez os últimos exames na triagem para aguardar a chegada da sua caçula, Sarah Isabella. “Estou muito tranquila, fui atendida de forma rápida e carinhosa

pela equipe e confio que tudo vai dar vai dar certo”, relata a futura mamãe. Enquanto isso, Patrícia de Morais Gomes, mãe de primeira viagem, diz, emocionada como foi a experiência: “o dia do nascimento do meu filho Maycon foi o dia mais feliz da minha vida”. Escutei aquele chorinho e chorei. Agora estamos sendo superpaparicados pelas enfermeiras, e o pai está sempre presente, inclusive até ajudou a dar o primeiro banho. Tenho a pretensão de ter outro filho, e, se possível, o parto também será no HRAD”. Luís Rafael, filho de Eva Cristina Pereira da Silva, está na UTI Neonatal, pois nasceu prematuro. A mãe, que mora em Lagoa Grande, visita o filho todos os dias. “Com o meu apoio e de toda a equipe, ele em breve irá para o CTI Intermediário e depois para casa”, diz Eva.


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CONHEÇA O PRO-HOSP

Setor de Nutrição e Dietética, última obra do Pro-Hosp, terminada em setembro de 2010

Ivani faz os últimos exames antes da chegada da sua terceira filha

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Minas Saúde

O Pro-Hosp (Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG) ajudou a melhorar a qualidade do atendimento, porque desafogou os hospitais da capital e das grandes cidades, garantindo que o usuário tenha atendimento especializado e eficiente perto de onde mora, sem a necessidade de se deslocar para os grandes centros urbanos. Atualmente, 128 hospitais, entre públicos e filantrópicos, integram o programa. Destes, 36 são macrorregionais e 92 são microrregionais. Desde 2003, mais de meio bilhão de reais foram investidos pelo programa nesses hospitais, o que melhorou significativamente a infraestrutura hospitalar e ampliou a oferta de serviços prioritários. O Pro-Hosp promove, também, cursos de especialização em Gestão Hospitalar, pelos quais já passaram 560 gestores de todos os hospitais atendidos pelo programa. Até o fim de 2010, serão realizados diagnósticos da Organização Nacional de Acreditação (ONA) em 50% dos hospitais do Pro-Hosp. Além disso, já foram realizadas duas edições do Prêmio Célio de Castro, que premia as experiências bem-sucedidas. Os hospitais da Macroeste receberam, por meio do ProHosp, cerca de R$ 18 milhões para melhoria da estrutura física, da gestão e para a compra de equipamentos de alta tecnologia e na implantação de novos serviços nos hospitais. Desse montante, o HRAD já recebeu, nos últimos seis anos, mais de R$ 10,5 milhões em investimentos.


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Eva, após da à luz no HRAD, acompanha diariamente o seu filho na UTI Neonatal

Parque Tecnológico O Parque Tecnológico foi o maior investimento do Pro-Hosp Noroeste, sendo que o hospital adquiriu e substituiu equipamentos modernos para todas as áreas administrativas e assistenciais, como UTI Adulto, Bloco Obstétrico, Pronto Atendimento e para os leitos de Cuidados Intermediários Adulto para Paciente Semicrítico, proporcionando um atendimento de forma integral para diagnose, internações e procedimentos cirúrgicos, principalmente de ortopedia e traumatologia. Além do Parque Tecnológico, a construção do ambulatório de retorno, que atende especialidades como cirurgia, ortopedia e ginecologia, também foi outro grande avanço, pois houve a separação das entradas de pacientes de retorno dos pacientes da urgência/emergência, proporcionando serviços de qualidade e segurança. Também foi construído um prédio exclusivo para a Farmácia Hospitalar Central, uma das melhores do interior mineiro, que visa a atender aos pacientes de forma humanizada e direcionada. “Utilizamos o sistema de dispensa-

ção por dose unitária, no qual os medicamentos são ensacados na quantidade correta e por horário, para cada paciente”, explica Luiz Henrique dos Santos, gerente assistencial do HRAD. O espaço é amplo e comporta um possível aumento na demanda, funciona 24 horas por dia e atende a todas as boas práticas de armazenamento e dispensação. Determinada ao apoio, há a Farmácia Satélite para receber rapidamente os pacientes que chegam na urgência e emergência. O Setor de Nutrição e Dietética (SND) foi a última obra entregue com recursos do Pro-Hosp. Antes, o refeitório tinha um espaço físico específico, mas funcionava em condições precárias. Depois da reforma, há lugares separados para fogões, freezers, açougue, sala de nutrição especial, sala de sobremesas, armazenamento de utensílios, estoque de mantimentos, câmara resfriada para armazenar o lixo e entradas separadas para funcionários, estoque e eliminação de resíduos. Agora, os funcionários fazem as refeições de forma mais confortável, pois dobrou o espaço destinado a eles. O SND melhorou também a forma de os

pacientes receberem as refeições. “A comida é servida em pratos térmicos com divisórias que são transportados em carrinhos especiais, para evitar que a refeição esfrie até chegar ao leito”, explica a nutricionista responsável, Flávia Cristina Caixeta. As oficinas do Plano Diretor de Assistência Hospital realizadas no ano de 2010 pela SES-MG tiveram como base as experiências internacionais exitosas e o objetivo é a reestruturar a atenção nos hospitais que recebem recursos do Pro-Hosp, impactando na organização, melhoria de gestão e atendimento. “O curso foi um grande avanço, pois nos possibilitou elaborar um planejamento para melhor aplicar os recursos do Pro-Hosp e direcionar as ações que fortalecerão o papel do HRAD nas redes de assistência do Viva Vida e Urgência e Emergência, cujo foco é o atendimento a patologias como acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio e trauma, principais causas de morte não só em Minas Gerais, mas no Brasil e no mundo”, completa Maria de Fátima Braz, diretora geral do HRAD. Minas Saúde 43


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em rede Pirapora dribla as dificuldades do sistema de saúde, com boa gestão e ações integradas com o Estado

Texto e fotos: Ramon Jader

pesar dos avanços em 22 anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) convive com dificuldades. No entanto Pirapora, cidade do Norte de Minas, é um exemplo de que os velhos problemas podem ser superados. Uma pesquisa realizada em junho pela prefeitura demonstra que 82% da população aprova o SUS na cidade. Um dos segredos deste olhar positivo da população é a integração em rede, que conta, inclusive, com o sistema de classificação de risco, que funciona, tanto nas unidades de atenção primária quanto na assistência mais complexa, no Hospital Dr. Moisés Magalhães Freire. A boa organização e estruturas modernizadas se traduziram em vidas salvas, como a do senhor Luiz Fernando Rodrigues Alves, mais conhecido pela vizinhança do bairro Industrial II como Landinho. Em dezembro de 2009, ele sentiu um mal-estar em casa. As fortes dores no peito eram os primeiros sintomas de um infarto, que viria a ocasionar mais de 40 paradas cardíacas durante seu atendimento no Hospital. A esposa dele, dona Joedil Linces Alves, acompanhava um neto que havia sofrido um acidente em Uberaba. Sozinho, ele pediu ajuda à irmã. “Ele não se lembra do que ocorreu no dia. Minha cunhada me 44

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Por meio do Consórcio de Saúde, Sr. Landinho faz consultas com o cardiologista que salvou sua vida

telefonou falando que ele estava passando mal e falei para levá-lo com urgência para o Hospital. Depois, fiquei sabendo que meu marido desmaiou na portaria. Já era o início das paradas cardíacas”, conta Joedil. Quem vê seu Landinho, sem sequelas, fazendo suas atividades rotineiras, dirigindo por toda a cidade, pode não acreditar que ele teve a vida por um fio. A lição que ficou desta história ele conta com orgulho: “Fumei por 54 anos, comecei aos 12. Agora, aos 67 parei de fumar. Estou aproveitando a segunda chance que tive de viver”. Além da boa estrutura para atendêlo, os profissionais que prestaram o atendimento foram fundamentais para que o telegrafista aposentado sobrevivesse. O cardiologista Robson Brandão, acompanhado do colega de especialidade Samuel Nery de Oliveira, estavam no lugar e no momento certos. “Ele chegou com dores no peito ao hospital e em minutos teve uma parada cardiorrespiratória. Eu estava na UTI dando suporte a outro paciente e nos disseram que havia um senhor já com um desmaio e uma parada. Levamos o Luiz Fernando para a sala vermelha da triagem, pedi ajuda ao Dr. Samuel e iniciamos os procedimentos de ressuscitação cardiorrespiratória, como choque com o desfibrilador, massagem cardíaca, entubação e aplicação de medicamentos”, descreve o médico. Após mais de 45 choques, com intensidade de 200 joules – unidades que também medem energia –, ele começou a reagir. “Era um quadro grave. A artéria coronária direita estava fechada. Na manhã seguinte ele estava mais estável e procedemos para que fosse transferido para a Santa Casa de Montes Claros. Nossos colegas de lá realizaram uma angioplastia, uma técnica hemodinâmica que utiliza um minúsculo balão inflado dentro da artéria obstruída com placas de gordura e sangue. Isso possibilitou sua recuperação”, conta. Uma segunda angioplastia foi feita em outra artéria que estava obstruída, com o intuito de prevenir outro infarto.

Em Pirapora o hospital não tem pessoas esperando nos corredores Robson Brandão aponta dois fatores para o sucesso de todos os procedimentos: a UTI bem equipada e o bom trabalho dos socorristas do SAMU na transferência de Pirapora para Montes Claros. Seu Landinho intervém e completa: “e teve também a persistência do Dr. Robson”, em tom de agradecimento. Atualmente, Luiz Fernando faz acompanhamento a cada três ou quatro meses com o próprio Robson Brandão, no Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio São Francisco (CISMEF), que também tem apoio do Governo de Minas. Outros atendimentos são feitos na Unidade Básica de Saúde do bairro Industrial II, dentro do Programa de Saúde da Família (PSF).

Contrariando o clichê Uma rápida visita ao Hospital Dr. Moisés Magalhães Freire é suficiente para comprovar que a instituição é diferenciada. As imensas filas, pessoas esperando nos corredores por atendimento Minas Saúde

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No hospital, todos os pacientes são encaminhados à salas de cuidado de acordo com a gravidade do caso simplesmente não existem. Os corredores vazios são um claro sinal do sucesso do SUS na cidade. O superintendente da Fundação Hospitalar Dr. Moisés Magalhães Freire, Célio César Wanderley de Almeida Júnior, considera o hospital como um dos mais modernos do estado, graças ao apoio do Governo de Minas, que investiu mais de R$ 7 milhões na sua construção e ainda aplica recursos dentro do Programa de Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG, o Pro-Hosp. “Com este apoio estamos cuidando cada vez melhor das pessoas e ainda mais agora com a nossa entrada na rede de Urgência e Emergência do Norte de Minas. Nos sentimos ainda mais responsáveis em salvar vidas”, contou. De acordo com o superintendente, houve inclusive ganho de escala, saltando de 25 para 210 cirurgias realizadas por mês. “Nos tornamos uma microrregião mais resolutiva, com menos encaminhamentos, e estamos cada vez mais sendo referência para os 46

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municípios vizinhos”, atesta. Mas essa tradução do bom atendimento hospitalar não seria possível se não houvesse ação articulada com a Atenção Primária à saúde no município, com o fortalecimento do Programa Saúde da Família (PSF). “O estado nos apóia, por meio do programa Saúde em Casa. Assim, organizamos a rede em torno da Atenção Primária. Até o protocolo de classificação de risco foi implantando nas UBS. Isso nos dá a garantia que os casos graves serão atendidos no hospital. Os outros, de menor gravidade, podem ser direcionados para a Unidade Básica de Saúde, que também serão atendidos”, avalia

o secretário Municipal de Saúde de Pirapora, Sinvaldo Alves Pereira. Com a aplicação do protocolo conhecido como “Manchester”, também os pacientes considerados mais graves são atendidos primeiro nas UBS. A ordem de chegada ao posto não é mais considerada. “Implantamos este método em julho de 2009. No início houve certa desconfiança, mas depois a população aceitou. Com isso, eliminamos as filas também nos postos, que começavam a ser formadas com pessoas dormindo na porta das unidades nas madrugadas. Resumindo, temos bons resultados, conforto para o cidadão e certeza de atendimento”, relata o secretário.


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A classificação de risco na atenção primária também prioriza casos mais graves

Braga ainda ressaltou que os programas e recursos aplicados no município fazem com que a cidade tenha ferramentas para atuar em favor do cidadão e que, no caso da saúde, essas parcerias resultaram em maior confiança das pessoas. “A população se sente mais acolhida”, garantiu. O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, foi a Pirapora em junho deste ano para conhecer o sistema de saúde da cidade, que conta com ações articuladas dos três entes federados: Governos Federal, Estadual e Municipal. “A integração entre os diversos níveis de atendimento proporciona economia de escala, aumenta a resolutividade e a qualidade do serviço prestado. Em nome do Ministério da Saúde posso dizer que o exemplo de Pirapora nos deixa orgulhosos. Os três

entes que integram o SUS estão trabalhando de forma articulada aqui, dando um exemplo de gestão compartilhada. Este é o SUS que dá certo”, comemora.

Disseminando o cuidado Esta confiança no sistema de saúde de Pirapora é demonstrada por Ivaldo Mendes Miranda, 42 anos. Impossibilitado de se locomover devido a um acidente de moto, o morador do bairro Industrial recebe atendimento em casa a cada 15 dias. “Até dá para fazer amizade com as funcionárias. Elas cuidam muito bem da minha saúde”, declara. A mãe de Ivaldo, dona Onilda Francisca Mota, 63 anos, também aprova o atendimento. “O pessoal é todo muito cuidadoso. Já conhecemos todos e somos bem atendidos”.

Articulação Baseado nesta boa experiência – o município conta no total com mais de R$ 23 milhões de investimentos do Governo de Minas, desde 2003 na área da saúde –, o município obteve uma experiência vitoriosa, com investimentos em pouco tempo, que transformaram a saúde da cidade. “O sistema de classificação de risco, que opera na Urgência e na Emergência, quanto na atenção primária, permitiu uma otimização dos fluxos de atendimento, reduzindo a demora e aumentando a satisfação das pessoas”, avalia prefeito de Pirapora, Warmillon Fonseca Braga.

Com a classificação de risco e a estruturação da saúde, o município reduziu em 70% os encaminhamentos para outras cidades Minas Saúde 47


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Educação sem fronteiras

Superação de obstáculos, como a distância, o tempo e até limitações físicas, transformam a realidade da saúde mineira

Texto: Débora Ozório Colaboradora: Nathália Freitas

educação à distância ganha cada vez mais adeptos, desde estudantes que moram em locais mais distantes, sem acesso a boas escolas, até profissionais, neste caso os de saúde, que querem se especializar ou aprimorar seus conhecimentos. E em se tratando desse tipo de aperfeiçoamento, Minas Gerais deu um passo importante, com a criação do Canal Minas Saúde, que realiza ações de educação permanente para os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) como uma rede estratégica multimídia (televisão, rádio e internet), tem a missão de implantar e desenvolver o Programa de Educação Permanente a Distância (PEPD), por meio de atividades de informação e comunicação. Em funcionamento desde outubro de 2008, mais de 40 mil alunos se envolveram com a iniciativa, sendo 48

Minas Saúde

uma das maiores redes de televisão corporativa do país, com mais de 4.500 pontos de recepção em 820 municípios, atendendo a todas as regiões do estado. As antenas são instaladas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde há equipes do Programa Saúde da Família, nas sedes das 28 Gerências Regionais de Saúde (GRS), nos Centros Viva Vida e Mais Vida e também nas Secretarias Municipais de Saúde e nos Hospitais. A previsão é que mais de 11 mil pontos de recepção sejam instalados até 2014. Atrativos não faltam para que mais profissionais da saúde busquem essa nova modalidade de ensino: combinação entre estudo e trabalho, liberdade de horário, menor custo por estudante, facilidade de comunicação a partir de qualquer lugar, ritmo de aprendizagem para todos os gostos e ampla oferta de material de pesquisa pela inter-

Carlos Leonardo optou pela educação à distância por não precisar se deslocar

net, além da comodidade, que permite ao aluno, muitas vezes, permanecer em seu ambiente familiar. Foi pensando nisso que o médico Carlos Leonardo Cabral Giffoni, 32, se rendeu ao ensino a distância e decidiu fazer o curso de Gestão da Clínica. Para ele, morador do município de Liberdade, na Zona da Mata mineira, com apenas 5.397 habitantes, essa modalidade de aperfeiçoamento possibilitou fazer um curso de qualidade, sem ter que se deslocar da pequena cidade para um centro maior. “Foi uma grande motivação a inter-


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conta com duas Unidades Básicas de Saúde, duas equipes de Saúde da Família e 11 agentes comunitários.

Educação qualificada

MARCELLA MARQUES

net como ferramenta de estudo. Esse método incentiva a educação permanente, permitindo ao profissional aprimorar seus conhecimentos e, consequentemente, oferecer à comunidade um trabalho com mais qualidade”. O profissional de saúde deve buscar atualização constante para que esteja em condições de prestar os melhores cuidados à população. No caso de Giffoni, ele lembra que a qualificação abordou temas relevantes sobre a Atenção Primária à Saúde. “As linhas-guia contribuem muito para nossa prática diária na

Estratégia de Saúde da Família no nosso município. Os fóruns permitiram a troca de conhecimentos aplicáveis no dia a dia. O processo de elaboração do projeto de pesquisa, o empenho na revisão de literatura do tema escolhido e o desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso também trouxeram uma gama de conhecimentos que já estão sendo aplicados no exercício profissional cotidiano”, comentou o médico da estratégia de saúde da família/zona rural. O município de Liberdade tem uma cobertura de 100% na Atenção Primária,

O Canal Minas Saúde permite ao espectador/aluno um aprendizado qualificado, mesmo estando a 337 km da capital, como é o caso do médico Giffoni. Para ele, o ensino a distância, além de vencer as barreiras geográficas e de tempo, propiciam mais interação, comunicação e participação na relação aluno/professor/grupo de estudo. “Isso significa democratizar o acesso à educação. E tudo isso acontece mantendo a qualidade do ensino tradicional ou até mesmo num método melhor, porque os tutores estão sempre presentes para tirar dúvidas, incentivar o aluno e avaliar como anda seu desempenho”, declarou. Primeira especialização transmitida pelo Canal Minas Saúde, o curso Gestão da Clínica esteve estruturado em torno da coleção das Linhas-Guia de Atenção à Saúde, elaboradas pela SES/MG e que têm por finalidade determinar, normatizar, padronizar e regular ações ou procedimentos relacionados à saúde em Minas Gerais. O conteúdo editorial cobre as mais diversas áreas da atenção primária e foi redigido com base nos princípios do SUS e nas melhores evidências científicas atuais. O curso gratuito foi aberto aos cerca de 40 mil profissionais que atuam nas UBS de Minas Gerais. Os participantes, aqueles que têm curso superior e que atuam no Programa de Saúde da Família (PSF) – médicos, dentistas e odontólogos, agentes comunitários de saúde, técnicos e auxiliares de enfermagem –, tiveram material didático impresso, aulas pelo Canal Minas Saúde e uma série de atividades em um portal exclusivo na internet. Para esses profissionais, o curso teve o caráter de pós-graduação, sendo conferido aos participantes o título de especialista em Gestão da Clínica. Minas Saúde

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RAMON JADER

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Mais de 40 mil profissionais já foram capacitados pelo Canal Minas Saúde Além disso, o programa de televisão Via Saúde foi especialmente criado para exibir as aulas do curso. Veiculado semanalmente, tem uma hora de duração e é exibido, ao vivo, pelo Canal Minas Saúde. Durante as aulas, especialistas e convidados tratam de todos os temas relativos à Atenção Primária e ao PSF, e esclarecem tudo o que precisa ser feito para a implantação das linhas-guia nos municípios mineiros. Os alunos telespectadores interagem com os convidados, esclarecendo suas dúvidas por telefone, fax, e-mail e via videoconferência (para quem está em uma das Gerências Regionais de Saúde). No portal, eles encontram indicações de leitura, exercícios, sugestão de sites de interesse e o material das aulas. Além disso, um fórum aberto a todos os participantes recebe as dúvidas, críticas, sugestões, relatos de boas práticas e de experiências dos alunos. 50

Minas Saúde

Rubensmidt Riani, coordenador do Canal Minas Saúde de Rádio e TV, classifica a iniciativa do governo mineiro como inovadora. “O profissional não tem que se deslocar do seu local de trabalho para fazer o curso, conforme preconiza o conceito de educação a distância. E mais, o conteúdo desse primeiro curso inova também, já que busca a transformação dos processos e práticas de trabalho. Pela Gestão da Clínica, o profissional passa a trabalhar com a concepção de saúde, e não mais de doença. É socializar experiências para fortalecer o SUS.” Riani lembrou, ainda, que mesmo ao final das aulas virtuais, os alunos continuam compartilhando informações, conhecimentos e interesses na área da saúde por meio das redes socais, como o Facebook, Orkut, Myspace, Twitter, entre outros. “Elas facilitam a interação entre os membros em diversos locais. Existem para proporcionar

meios diferentes e interessantes de interação.”

Sem limites O ensino a distância permite que não apenas profissionais graduados se qualifiquem, mas também os estudantes da área da saúde. Aluno do 6º período de Medicina na Universidade Federal de São João Del-Rei, campus Divinópolis, Alexandre Antônio G. Teixeira e Silva utiliza o computador, a internet, chats e videoconferência para aprender. As aulas veiculadas no canal Minas Saúde são frequentemente assistidas e servem como complemento para entender os conteúdos das aulas presenciais. “Quando descobri o Canal, achei a ideia fantástica. Com as aulas, aprendo e me atualizo sobre os mais variados temas de saúde pública. Foi no canal que aprendi sobre os temas das


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linhas-guia e como a saúde funciona no estado; já vi todas as aulas do Via Saúde”, elogiou. Mas o crescimento dessa modalidade e as facilidades oferecidas, como economia no tempo de deslocamento e a flexibilização do tempo para fazer as aulas na hora em que desejar e intercalar com os horários de trabalho, fazem necessário critério na hora de escolher tanto a instituição quanto o curso. “A escolha de um curso a distância tem a ver com a relevância do tema, bem como conhecer um pouco a instituição que o oferece. É preciso ainda que o aluno escolha o tipo de metodologia a que melhor se adapte, compreenda suas particularidades, tenha disciplina e se dedique muito”, acredita. Além dos programas próprios e de parceiros da área de saúde, o Canal Minas Saúde veicula, ao longo do dia, em sua grade de programação, conteúdos de interesse público voltados para o desenvolvimento pessoal e para a cidadania. Atualmente, além do curso Gestão da Clínica, iniciou-se, em junho, o curso Gestão Microrregional, com duração de aproximadamente 15 meses. Cerca de três mil técnicos serão capacitados e vão discutir, em nove módulos, a importância da gestão na esfera microrregional e a construção de um plano diretor que garanta governança e o fortalecimento das redes de atenção à saúde, com o objetivo de melhorar o eixo estruturador dos serviços de promoção à saúde. Outras capacitações oferecidas foram Protocolo de Manchester e Vigilância em Saúde, ambos com cinco mil alunos.

Além da TV, rádio Implantado em 2009, o Canal Minas Saúde de Rádio também é considerado estratégico, já que por meio dele são veiculados spots, notícias, novelinhas para carros de som e também uma radionovela, produzida e encenada pelos atores do grupo de teatro Saúde em Cena, formado por funcionários da Secretaria. Todas as produções são distribuídas para os parceiros da saúde, tais como emissoras de rádio locais, ONGs e prefeituras.

Todo o conteúdo do Canal Minas Saúde de Rádio tem caráter de educação em saúde e é voltado, principalmente, para dois focos: redução da mortalidade infantil e prevenção e controle da dengue. Trata-se de mais um instrumento estratégico criado pela SES-MG para fomentar a educação em saúde por meio da mobilização social, uma forma de transformar a realidade do cidadão a partir da parceria estabelecida com representantes da sociedade civil organizada.

ANDRÉ BRANT

Estudante de Medicina, Alexandre Silva utiliza a tecnologia para estudar e se aperfeiçoar

Mais de 4.500 pontos em 820 municípios atendidos em todas as regiões do estado: Unidades de Atenção Primária à Saúde – 3.395 pontos Secretarias Municipais de Saúde – 806 pontos Centros Viva Vida – 17 pontos Centros Mais Vida – 2 pontos

Hospitais – 154 pontos (Pro-Hosp e contratualizados) Farmácia de Minas – 43 pontos Ministério Público – 1 ponto

Faculdade de Medicina da UFMG – 1 ponto

Associação Médica de Minas Gerais – 1 ponto Outras instituições – 120 pontos

Proposta para o futuro l Novos públicos:

l Agentes comunitários, agentes de endemias, agentes de vigilância à saúde, diversos públicos nos hospitais,

conselheiros de saúde, assistência farmacêutica, consórcios; l Escolas públicas, usuários das UAPS, usuários do SETS, usuários de hospitais e hemocentros;

l Faculdades de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Farmácia, Fisioterapia, Psicologia e Nutrição.

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Plantas do Cerrado revel

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revelam poder medicinal Pesquisa aponta que substância encontrada em plantas típicas do Cerrado mineiro atua contra rotavírus e vírus da dengue

Texto: Marina de Castro Fotos: Rodrigo Cardoso e Marina de Castro

Plantas da região do Cerrado de Minas foram coletadas para a realização do estudo

studos realizados nos laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ezequiel Dias (Funed), desde 2006, revelam, agora, que uma substância encontrada em plantas típicas do Cerrado mineiro contém potenciais agentes contra a multiplicação do rotavírus (vírus causador de infecções no sistema gastrointestinal) e do dengue vírus (vírus transmissor da dengue). Na pesquisa, 20 amostras de plantas que foram coletadas na região Cerrado de Minas Gerais passaram por um processo de caracterização e fracionamento em laboratório. Durante essa etapa, a equipe de pesquisadores da Funed identificou a presença de várias substâncias em algumas das plantas coletadas. Mas um componente em especial, o flavonoide, chamou a atenção dos profissionais. Durante os testes virais, realizados em células (in vitro), essa Minas Saúde

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Alzira Batista Cecílio acredita que a descoberta do flavonoide levará à produção de um potente antiviral substância atuou diretamente contra os dois tipos de vírus (rotavírus e dengue vírus). O flavonoide foi encontrado no extrato bruto das amostras de plantas da família do jatobá (gênero Hymenaea), da gabiroba (gênero Byrsonima), da cagaita (gênero Eugenia) e da aroeira (gênero Myracrodruon). A coordenadora da pesquisa e chefe do Serviço de Virologia Molecular e Bioprodutos da Funed, Alzira Batista Cecílio, alerta a população para o fato de que a pesquisa não revela a efetividade da ação antiviral da substância simplesmente por meio do consumo de chás feitos a partir das plantas. “O preparo de chás para combater viroses não é indicado, pois não foram feitas pesquisas com a aplicação desses produtos, mas sim com o extrato bruto da planta. Foi uma importante descoberta que poderá contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas e de novos 54

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medicamentos”, esclarece. O próximo passo do estudo, segundo Alzira Batista Cecílio, é desvendar como o flavonoide age contra a multiplicação dos vírus. Na sequência, deverão ser feitos testes em animais e em humanos (exames clínicos) para, quem sabe, no futuro, serem produzidos medicamentos eficazes no combate às doenças virais. “Isso é uma novidade no Brasil, pois não temos antivirais naturais que efetivamente estejam sendo utilizados. E a inovação maior é que ele poderá vir de uma planta obtida de nossa própria biodiversidade”, informa Alzira. Atualmente, segundo a pesquisadora, não há no Brasil ou no mundo, com exceção dos medicamentos usados no tratamento da Aids, uma droga que atue diretamente no combate aos vírus. “Os medicamentos, muitas vezes, são paliativos, com efeitos temporários. Com a pesquisa, podemos

caminhar para a produção de um antiviral potente contra a infecção viral e contra a multiplicação dos vírus no organismo das pessoas”, almeja. “A pesquisa, realizada na Fundação Ezequiel Dias, contou com o apoio da Universidade Estadual de Montes Claros e da Universidade Federal de Minas Gerais e recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas (Fapemig)”.

Vinte amostras de plantas serviram como base para a pesquisa


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HTLV é identificado pelo teste do pezinho Estudo desenvolvido no estado, com a participação da Hemominas, preveniu contaminação de bebês pelo HTLV e mapeou regiões com alta incidência do vírus

Texto: Heloísa Machado Fotos: Pedro Cisalpino

raças à pesquisa “Distribuição geográfica do HTLV–1/2 em mães de recém-nascidos submetidos à triagem neonatal em Minas Gerais”, desenvolvida em 2007 pela Fundação Hemominas, agora é possível identificar os locais de prevalência do vírus linfotrófico de células T humanas, o HTL, no estado. A pessoa portadora do HTLV pode desenvolver doenças graves, como leucemia/linfoma de células T do adulto (ATL), paraparesia espástica tropical (doença neurológica) e uveíte (inflamação intraocular), entre outras. O HTLV é um retrovírus que foi descoberto em 1980, a partir do seu

isolamento em um paciente com um tipo raro de leucemia de células T. O tipo II do vírus foi identificado em 1982, os tipos 3 e 4 em 2005. Em torno de 5% a 10% dos portadores do retrovírus têm chance de desenvolver uma dessas doenças. A prevalência do vírus é maior em mulheres do que em homens (cerca de duas mulheres para cada homem). A transmissão pode ocorrer pelo contato com o sangue contaminado (transfusões de sangue, uso compartilhado de agulhas e seringas contaminadas ou acidentes de trabalho em laboratórios), durante a amamentação e por relação sexual. No Brasil, a

obrigatoriedade para a realização do teste no sangue para a transfusão foi aprovada em 1993, pelo Ministério da Saúde. Os testes em candidatos a doação de sangue mostram que, em Minas Gerais, 0,08% das pessoas podem estar infectados. De acordo com a coordenadora do projeto, a médica hematologista Anna Bárbara Proetti, presidente da Fundação Hemominas e coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em HTLV (GIPH), em 1993 a instituição detectou a presença do vírus HTLV em doadores de sangue em Minas Gerais. “Ele é um microorganismo que pode causar Minas Saúde 55


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Maísa Aparecida Ribeiro – médica pesquisadora da Hemominas e uma das coordenadoras da pesquisa


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várias doenças, como a leucemia, além de provocar paralisia física e cegueira”, revela. Ela ainda comenta que “o estudo realizado pela Hemominas teve como objetivo impedir a transmissão do vírus HTLV pelo aleitamento materno e permitiu mapeá-lo entre mulheres férteis em Minas Gerais. “Isso possibilitou recomendar aos gestores do SUS a inclusão de testes e acompanhamento no pré-natal em municípios com a prevalência alta do vírus”, completa. Um dos resultados da pesquisa foi a criação da Lei Estadual n. 17.344, de janeiro de 2008, que tornou obrigatória, mediante solicitação médica, a realização de testes sorológicos para o diagnóstico da infecção pelo HTLV1/2. Essa lei é a mais completa do país sobre o assunto, porque abrange diagnóstico, tratamento e prevenção do vírus. É mais um avanço na prevenção da transmissão desse vírus e na melhoria na saúde pública. O teste também será oferecido a todas as gestantes das regiões do estdado onde há grande incidência do vírus. O estado também fornece o leite para substituir a amamentação materna, semelhante ao que ocorre com os programas de apoio aos portadores do HIV.

Teste do pezinho Todos os 853 municípios de Minas participaram da pesquisa, realizada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). O trabalho envolveu várias instituições que formam o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em HTLV (GIPH), como a UFMG, por meio do Instituto de Ciências Biológicas e da Faculdade de Medicina, a FioCruz, a Faculdade Federal de Diamantina, além de outros parceiros nacionais e internacionais. Foi utilizada a estrutura do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD), órgão da Faculdade de Medicina da UFMG, que, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), coordena o Programa

Estadual de Triagem Neonatal (PETN), esse projeto realiza, de forma massiva e gratuita, a triagem de recém-nascidos para detecção precoce de fenilcetonúria, hipotireoidismo, hemoglobinopatias e fibrose cística. Essa foi a primeira vez que um programa de triagem neonatal foi utilizado para detectar mães positivas para o HTLV-1/2 e que medidas foram adotadas para bloquear a transmissão do vírus ao recém-nascido (interrupção da amamentação, com substituição por um composto alimentar). A proposta da pesquisa era detectar o vírus por meio da triagem neonatal em mães de recém-nascidos submetidos ao teste do pezinho. Esse método foi utilizado porque evita a transmissão do vírus para as crianças pelo leite materno das mães portadoras. Foram analisadas 55.293 amostras, com confirmação de infecção em 42 mães. Duas foram identificadas como portadoras do HTVL-2, e as demais do HTVL-1. Com a aplicação da intervenção proposta pelo estudo, que era impedir a amamentação com leite materno, apenas um dos recémnascidos (2%) foi infectado, conseguindo-se evitar a infecção de cinco a nove

crianças, já que a taxa de transmissão via aleitamento é de 15 a 25%. Por meio do estudo foi possível verificar correlação dos casos positivos com determinantes de posição socioeconômica, tendo como base de análise as 12 mesorregiões geográficas do Estado. As maiores taxas de casos coincidiram com aquelas que, em média, apresentam os piores indicadores econômicos, como os Vales do Mucuri e Jequitinhonha. O trabalho mostrou que a distribuição geográfica do HTLV-1/2 foi heterogênea, mas com tendência de concentração nas regiões Norte e Nordeste de Minas. Já as menores taxas foram registradas nas regiões Sul/Sudoeste de Minas e Zona da Mata, e nenhum caso foi encontrado nas regiões Central Mineira e Campo das Vertentes. Com o estudo concluiu-se que o conhecimento da prevalência da infecção pelo HTLV-1/2 na população feminina de gestantes propicia o planejamento de ações de saúde pública de controle de disseminação, com prioridades nas áreas com maiores prevalências. A detecção das portadoras do vírus, por meio de triagem no pré-natal ou neonatal, associada às medidas de


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intervenção, como fornecimento de fórmulas lácteas aos recém-nascidos de soropositivas, pode reduzir o risco de transmissão vertical do vírus. Este estudo ajudou no planejamento e na adoção de ações de saúde pública que visem à identificação de mães portadoras do vírus, no intuito de reduzir a transmissão viral pelo aleitamento materno.

Todo o estado Todas as crianças encaminhadas para o PETN no período estudado, de setembro a novembro de 2007, tiveram a permissão dos pais ou responsáveis para que na mesma amostra usada para a triagem das doenças de rotina fosse também realizada a pesquisa de anticorpos maternos IgG antiHTLV. Para cada amostra positiva ou indeterminada para o HTLV1/2, foram solicitados, através de contato com a Unidade de Saúde de origem da criança, novos exa-

mes das mães, que foram orientadas sobre a doença e a pesquisa e, se estivessem de acordo, submetidas a testes sorológicos e confirmatórios. Tanto as mães quanto as crianças tiveram seus nomes preservados. As mães com sorologia positiva para o HTLV-1/2 foram orientadas a interromper a amamentação, para evitar a transmissão para a criança. Formulações lácteas infantis foram fornecidas por no mínimo seis meses para substituição do aleitamento materno. As mães que tiveram a infecção confirmada foram encaminhadas para acompanhamento médico. A médica infectologista Maísa Aparecida Ribeiro, da Fundação Hemominas, uma das executoras do estudo, explica que o HTLV pode levar a doenças graves, de difícil tratamento, e que por isso foi essencial a implantação de medidas que procurassem o con-

trole da disseminação do vírus. Segundo ela, o conhecimento das re giões com maior prevalência dessa infecção na população de gestantes propiciou o planejamento de ações de saúde pública necessárias, como triagem no prénatal ou neonatal. “Essas ações, associadas às medidas de intervenção, como fornecimento de fórmulas lácteas aos recém-nascidos de mães positivas, podem apresentar um grande impacto na redução da transmissão do vírus”, afirmou. A médica disse que o controle da disseminação do HTLV-1/2 envolve medidas que visam a diminuir os fatores de risco, relacionados à transmissão sexual, uso compartilhado de seringas e agulhas e transmissão vertical. Nesse último caso, o aleitamento materno constitui uma importante via de transmissão do vírus. Ela conta, ainda, que, segundo a literatura médica, medidas têm

Distribuição da proporção de mães de nascidos vivos soropositivas para o HTLV-1/2 de acordo com a mesorregião geográfica de residência - Minas Gerais, setembro a novembro de 2007

NUPAD/UFMG

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sido adotadas com sucesso no Japão por meio da identificação de gestantes soropositivas e recomendação de substituição da amamentação por fórmulas lácteas infantis. No entanto, no Brasil, esse tipo de medida é adotada em poucos estados, como Minas Gerais. Segundo a pesquisa, considerando as doenças triadas pelo PETN, a prevalência de casos de infecção pelo HTLV-1/2 encontra-

da em gestantes foi semelhante à incidência de casos de doença falciforme e maior que a incidência das demais doenças triadas. Ao analisar essas informações pode-se concluir que a prevalência encontrada da infecção pelo HTLV1/2 em Minas Gerais, apesar de considerada baixa, justifica a elaboração de estratégias diagnósticas de portadores do vírus. Trata-se de uma infecção crônica com mecanismos de trans-

missão conhecidos e passíveis de intervenção e controle, além de apresentar risco de desenvolvimento de doenças de alta morbidade e de prognóstico ruim. É importante ressaltar a comprovação de que a infecção precoce, ou seja, transmitida da mãe para o filho, pode predispor o desenvolvimento de doenças associadas ao HTLV-1, principalmente a leucemia/linfoma de células T do adulto (ATL).

Importância das pesquisas na Hemominas Presidente da Fundação Hemominas e coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em HTLV (GIPH), a médica hematologista Anna Bárbara Proietti enfatizou a importância da realização das pesquisas na Fundação. “Temos resultados significativos, com número alto em publicações nacionais e internacionais de projetos aprovados por instituições de fomento brasileiras, como Fapemig, e de instituições de fomento estrangeiras, com destaque para a pesquisa REDS (Retrovírus Epidemiology Donor Study), que tem um impacto enorme. Trabalhamos para estreitar relações de pesquisa com a maior agência de fomento americana, o NIH (National Institute of Health), para a área de sangue”, destacou, citando como exemplos as parcerias nas áreas da doença falciforme e medicina transfusional.

Desde 1992, a Hemominas mantém o Serviço de Ensino e Pesquisa como incentivo à produção de conhecimento e sua aplicação prática, melhorando a assistência oferecida aos pacientes e doadores voluntários. O setor é responsável por cadastrar e acompanhar todas as pesquisas realizadas pela Fundação e ainda estabelecer e promover parcerias com outras instituições de ensino e pesquisa. O resultado é um grande acervo de teses e dissertações em diversas áreas, bem como artigos científicos e monografias técnicas, intercâmbio e estágios qualificados oferecidos pela Hemominas a estudantes de nível médio e superior. A Fundação mantém também parcerias e convênios com universidades e instituições de pesquisa no país e no exterior, e conta com o financiamento de agências de fomento, entre elas a Fapemig, para a realização das produções científicas. No último edital PPSUS, a Hemominas foi contemplada com quatro projetos, já com recursos liberados em 2010. Desde 1997, com a implantação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), todos os projetos de pesquisa da Fundação Hemominas

que envolvem seres humanos são rigorosamente avaliados sob seus aspectos éticos. O comitê é formado por funcionários de diversos setores da Fundação, um doador e um representante dos pacientes. Segundo o Serviço de Pesquisa da Hemominas, existem atualmente 45 pesquisas em andamento, da Fundação e parcerias, nas áreas de hematologia, hemoterapia, hemoglobinoparias, coagulopatias, doação de sangue e imunohematologia.


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Estado e município constroem Hospital Inteligente

Primeira instituição pública ecologicamente correta está em Uberlândia

Nos corredores, para evitar insolação toda instenção superior é revestida por grades chamadas Brise Soleils, que atuam como quebra-sol

Texto: Priscilla Fujiwara Fotos: André Brant

berlândia, Triângulo Mineiro. São quatro horas da tarde e, apesar de as luzes estarem todas apagadas, o corredor ainda está claro. Essa é uma cena real no Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro (HMM). Sem mágicas, estado e município conseguiram desenvolver soluções simples e criativas para o projeto arquitetônico, de modo a garantir uma iluminação natural e a economia de energia elétrica, reduzindo os custos de manutenção do hospital, além de cooperarem com o meio ambiente. Racionalização de energia, dos recursos naturais hídricos, economia operacional, humanização, controle de infecção, segurança e flexibilidade são as principais características do projeto que o tornam, além de ecológico e ambientalmente correto, uma obra inteligente e econômica. Em parceria com o Governo de Minas, a 60

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Corredores sem iluminação graças às clarabóias


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Prefeitura de Uberlândia vai inaugurar em novembro deste ano o primeiro hospital público inteligente do país e o primeiro municipal da cidade. Foram investidos na obra e nos equipamentos R$ 45 milhões pelo Estado e R$ 19 milhões pelo município. O hospital conta com 258 leitos, sendo 50 para Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) e destes dez são neonatais. Antes mesmo de inaugurar, o hospital já é um dos orgulhos da cidade e referência para a saúde. O prefeito de Uberlândia, Oldemo Leão, acompanha as obras diariamente e explicou que sua intenção é construir um dos melhores hospitais públicos do Brasil. “Quando nós determinamos a elaboração deste projeto, eu disse que queria fazer o melhor hospital público do Brasil, em parceria com o governo do Estado. E, para que isso pudesse acontecer, teríamos que ter acesso às últimas tecnologias que existem no sistema de saúde”, contou. A parceria entre o Governo de Minas e Uberlândia faz parte da expansão do Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG. Além de Uberlândia, os municípios de Belo Horizonte, Divinópolis, Juiz de Fora, Uberaba e Sete Lagoas terão até 2012 um novo hospital regional. No total, serão investidos, aproximadamente R$ 400 milhões, pelo estado, agrupados com mais recursos municipais. Em Belo Horizonte será investido R$ 190 milhões no Hospital Regional do Barreiro; em Juiz de Fora serão R$ 42 milhões no Hospital Regional de Urgência e Emergência; em Divinópolis são R$ 36 milhões. Em Sete Lagoas serão R$ 37 milhões no Hospital Regional de Sete Lagoas e em Uberaba, R$ 20 milhões. Até 2010, em Minas já foram beneficiados 127 hospitais pela parceria entre estado e município na assistência hospitalar.

Economia de energia e água O ar-condicionado e a luz artificial são os principais fatores que aumen-

tam o gasto de energia de qualquer lugar. Para melhorar a circulação de ar e o aproveitamento máximo da luminosidade natural, algumas soluções foram adotadas na obra: corredores largos e abertos, janelas amplas em locais estratégicos, claraboias em ambientes fechados e pés-direitos altos ou rebaixados. As salas de espera, as enfermarias e os corredores não precisam de iluminação artificial durante o dia. Ar-condicionado somente nas unidades de tratamento intensivo (UTI), nos berçários e centros cirúrgicos, por ser obrigatório. Todo o calor produzido pelos aparelhos desses ambientes é reaproveitado, transformado em energia, por meio de um sistema de bomba de ar, e utilizado como nova fonte de energia. “O ar-condicionado é inteligente”, explicou o assessor técnico da Secretaria de Obras, Cláudio Paes de Almeida. “De um lado ele resfria o ambiente, e do outro produz água quente, o que permite ao hospital ter água a sessenta graus durante 24 horas por dia”. Outra fonte de energia natural são as telhas térmicas, que transformam a energia solar em calor e mantêm a água quente. Ainda segundo o técnico, todo o hospital será abastecido com essa água a custo zero. Os ambientes terão uma temperatura agradável, porque toda a sua área foi coberta por “telhas sanduíches” que funcionam como isolantes térmicos e acústicos e evitam o uso de ar-condicionado. “É uma espécie de espuma forte e dura, duas chapas metálicas recheadas de poliuretano”, explicou o assessor técnico. Já nos corredores abertos, para evitar a insolação, toda a sua extensão superior é revestida por grades, chamadas de brise-soleils, que atuam como quebra- sol e evitam a chuva, sol e vento nas áreas abertas. Além da economia com a luz elétrica, de racionalizar o uso do ar-condicionado e toda a água ser aquecida de graça, ainda há grupos de geradores que são ligados em momentos de picos, que é quando a energia é mais cara e desliga-se a da rede pública, o Minas Saúde

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Pés-direiros altos e janelas largas para racionalizar enregia que reduz em 75% o custo de energia. O prefeito Odelmo Leão também enfatizou que todos os equipamentos estão sendo adquiridos considerando os custos que podem gerar, como é o caso dos computadores que têm selo verde por consumirem um terço de energia elétrica. Além da energia, haverá uma economia de 50% de água, porque o hospital tem dois sistemas hidráulicos – um para água potável e outro para as bacias sanitárias. O encanamento que recebe fezes e dejetos irá para a rede pública, já o que é alimentado pela água de chuveiros, lavatórios, bebedouros e pias irá para um esgoto reciclado no hospital, onde ficará armazenado em um reservatório à parte para receber tratamento e ser novamente utilizado nos vasos sanitários. O sistema é cha-

mado de reuso de água e é uma das grandes contribuições para o meio ambiente, como ressaltou o assessor técnico Almeida, “no momento em que você economiza 50% do volume de água para abastecer o hospital, você está economizando 50% do volume de água que vai para o tratamento de esgoto, então você alivia o tratamento de esgoto e racionaliza o que é lançando no final”.

Humanização para os usuários Quem conhece o Hospital, mesmo em obras, tem a impressão que está entrando em um hotel ou um shopping, em razão da arquitetura moderna e dos materiais de qualidade que podem ser observados mesmo por quem não é um especialista. A estrutura do hospital

valoriza a população e pontua a importância da qualidade estética e operacional nas obras públicas. O prefeito Odelmo afirmou que ao pensar o hospital queria oferecer as melhores condições de trabalho para os profissionais e um ambiente onde as pessoas pudessem “sentir-se dignas e respeitadas”. Todo o projeto arquitetônico proporciona humanização para o usuário, o acompanhante e os trabalhadores: locais agradáveis, onde as pessoas se sintam bem com condições térmicas adequadas, e estrutura que respeite o paciente. A entrada principal é ampla, toda envidraçada, e com o pé-direito alto. As portarias são descentralizadas e as pessoas circulam no hospital de forma livre e sem barreiras físicas. Além da entrada principal, o hospital ainda tem a da maternidade, do centro obstétrico e de imagem. Até nas UTIs, mesmo com ar-condicionado, há entrada de luz natural para que o paciente perceba se é dia ou noite, para não atrapalhar o metabolismo. Imagine ainda na sala de espera ter notícias de um familiar que está sendo operado e poder vê-lo por meio de um vidro no exato momento que ele vai para a recuperação pós-anestésica? Essa será uma realidade no Hospital e

No Hospital de Uberlândia, soluções simples e criativas garantem redução dos custos de manutenção e cooperam com meio ambiente


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Maternidade Municipal em Uberlândia. Ao lado do Centro Cirúrgico, uma Sala de Espera permite aos familiares acompanharem o paciente durante a cirurgia, a partir de um funcionário, por meio de um interfone. Quando termina a operação e ele for encaminhado para a sala para recuperação pós-anestésica, os acompanhantes, na sala de espera poderão acompanhar o estado do paciente através de um vidro que separa os dois ambientes. Todo o mobiliário é padronizado e planejado pensando no conforto do usuário. As camas são eletrônicas, e em cada apartamento há um armário para ser guardada a medicação do paciente e um computador em que poderá ser consultado o seu prontuário. O motorista José Wilson Batista já participou de uma das visitas guiadas e ficou impressionado com a estrutura e os equipamentos. “É um hospital de primeira classe. Eu vi as camas eletrônicas, vira de um lado, vira para o outro, não é de levantar na munheca não, é muito sofisticado”, contou. A poluição sonora foi uma outra preocupação. O equipamento de arcondicionado está instalado fora do hospital, para evitar que os ruídos incomodem os pacientes. Além disso, para não atrapalhar a vizinhança, ele está em desnível e tem o formato cônico para evitar que o barulho disperse.

Manutenção de baixo custo Além da economia de água e energia elétrica, a obra já prevê redução de custos de manutenção. Toda a canalização hidrelétrica e hidráulica como cabos, fios e aquecedores fica em um porão técnico. A estrutura do ar-condicionado e de informática fica em uma área técnica superior. “Se acontecer alguma coisa não precisa quebrar parede”, pontuou o arquiteto. Toda a manutenção pode ser executada nessas áreas (superior e inferior), o que diminui as obras dentro do hospital e os riscos de infecção. “É uma arquitetura que reduz o custo operacional e de manutenção”, disse o assessor téc-

nico, “pois em hospitais similares essa estrutura fica enterrada”. O Hospital não é somente ecológico, é uma obra inteligente que minimiza os recursos operacionais também. Responsável pelo projeto, o médico e arquiteto Domingos Fiorentini disse que os seus hospitais não são “baratos, mas sim econômicos”. O arquiteto também enfatizou a importância da qualidade da obra, ao afirmar que “estamos quebrando um paradigma de que os hospitais públicos são ruins, pelo contrário, tem que ter qualidade, porque é dinheiro da comunidade. Dinheiro de construção se gasta uma vez, mas o custo de manutenção é para a vida inteira. A economia de água é para a vida toda, agora imagina o que isso gera para população? Este hospital vai fazer economia o resto da vida”. Com um custo de R$ 50 milhões em 20 mil metros quadrados, a média por metro quadrado é de R$ 2,5 mil. Segundo o assessor técnico Claúdio Paes de Almeida, essa é a média de custo de uma casa sofisticada, o que “para uma obra hospitalar é uma grande vitória”, salientou. A planta do projeto já prevê a expansão do hospital para dobrar o número de leitos. Construído em um único piso, a estrutura tem espaço para a ampliação em áreas ajardinadas e as fundações já foram construídas para receberem mais um pavimento e, na área de internação, pelo menos mais dois pavimentos. Qualquer expansão futura já foi planejada, o que evitará construções desordenadas.

Redução de riscos de infecção A arquitetura contribui também para redução de infecção. O hospital foi projetado com três eixos: circulação pública, industrial e interno. Os corredores para a circulação pública não têm obstáculos a e sempre termina na sala de espera ou secretaria, o que aumenta a segurança e a humanização. O industrial se destina ao transporte da comida, roupa, lixo e até cadá-

veres. E o interno, para a circulação de médicos, pacientes e funcionários. Os departamentos que têm interação serão ligados a curtas distâncias, o que otimiza os recursos humanos e materiais, agrupando diversas funções no mesmo local e reduzindo os espaços entre as partes que compõem uma atividade. Segundo o arquiteto Domingos Fiorentini, este planejamento da circulação reduz infecções, pois a circulação industrial não se mistura com a médica nem com a técnica. Como os ambientes são bem iluminados e ventilados, não são propícios para fungos e bactérias. Em todos os apartamentos foram instalados sistemas de persianas embutidas nas janelas para evitar as cortinas de tecidos que acumulam bactérias. Essas persianas regulam a entrada de luz, podendo aumentar ou diminuir a luminosidade no quarto.

Impactos do Hospital na Região O Hospital e Maternidade Municipal terá o acesso regulado. Quando necessária a internação, o usuário será encaminhado pelo Pronto Atendimento. Apesar de ser municipal e atender os 600 mil habitantes de Uberlândia, ele irá impactar indiretamente na região, porque irá desafogar o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, referência de média a alta complexidade, aumentando a oferta de leitos para a região. Investir em Uberlândia é uma das ações do Plano de Regionalização da Saúde do Governo de Minas. Segundo o diretor da Gerência Regional de Saúde de Uberlândia, Daltro Catani Filho, é importante e necessário aumentar o número de leitos na cidade, principalmente os de UTIs, por isso o Estado vem investindo na região. “A defasagem é grande pelo número de habitantes e também por ser uma cidade geograficamente bem localizada e funcionar como referência de outros municípios para procedimentos que demandem alta complexidade. Nunca o Governo de Minas inMinas Saúde 63


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vestiu tanto na região do Triângulo Mineiro”, destacou. Após a construção e a experiência bem-sucedida do projeto, o prefeito de Uberlândia pretende construir a primeira Unidade Básica de Atenção

Primária ecologicamente correta do país. De acordo com ele, já foi elaborado um projeto arquitetônico arrojado nos mesmo moldes do hospital para a construção da Unidade da Família do bairro Canaã.

Telha sanduíche funcionam como insolante térmico e acústico, reduzindo o uso do ar condicionado HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL DR. ODELMO LEÃO CARNEIRO Início das obras:

janeiro de 2008

Previsão de trabalhadores:

1300

Previsão de inauguração:

CAPACIDADE DO HOSPITAL

novembro de 2010

UTI adultos:

40 leitos

Berçário de cuidados intermediários:

16 berços

UTI neonatal: Maternidade: Pediatria:

Internação:

Total de leitos:

Centro obstétrico: Centro cirúrgico: Estacionamento:

Especialidades:

10 leitos

17 quartos (51 leitos) 15 quartos (45 leitos) 32 quartos (96 leitos) 258 leitos 4 salas 6 salas 745 vagas de automóveis 35 vagas de motos

Urologia, Otorrinolaringologia, Ortopedia, Saúde Bucal,

Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Obstetrícia,

além dos exames de tomografia, ressonância e ultrassom.

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Minas Saúde

Domingos Fiorentini Médico e arquiteto, Domingos Fiorenti projetou o Hospital Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro levando em conta a racionalização dos recursos naturais, financeiros, humanização, segurança e redução de infecções. Há 44 anos na área hospitalar e mais de 500 projetos no Brasil e no exterior, o arquiteto nunca se conformou com a arquitetura na saúde. Além do projeto do hospital em Uberlândia, ele também é responsável pelo Hospital Municipal de Divinópolis, pelo Metropolitano de Belo Horizonte, além dos particulares Albert Einsten e Madrecor. “Não sei se poderíamos chamar esses hospitais de verdes, ecológicos ou sustentáveis. Tenho 44 anos de experiência, e os meus projetos são anteriores a essa onda. São mais que ecológicos, são inteligentes”, ressaltou o arquiteto. Segundo o arquiteto, o custo de uma obra inteligente não é a mais barata. Fica em torno de 20 a 30% mais cara, “é claro que fica mais cara, uma tubulação com água potável e outra reciclada fica mais cara que uma normal. Os meus projetos não são os mais baratos, são os mais econômico”. O projeto prevê a redução de 50% no uso da água, além da economia e energia e redução de custos de manutenção. “Será uma economia para o resto da vida”, finalizou.


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Tire um dia para se cuidar, antes que o câncer tire muito mais de você. Câncer de pele. Você pode prevenir.


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Um novo olhar para a saúde

Em Betim, unidades de saúde adotam medicamentos fitoterápicos no tratamento dos pacientes


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Práticas integrativas e complementares no SUS

Texto: Juliana Gutierrez Fotos: Pedro Cisalpino

oi com barbatimão que Gabriel de Santos, 7 anos, cicatrizou uma ferida na laringofaringe. Ele chegou ao consultório do cirurgião-dentista Ricardo Murta, na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Angola, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, muito assustado. “Foi uma travessura. Ele estava brincando de equilibrar uma vara de bambu no dedo. Desequilibrou e caiu. Na queda perfurou o céu da boca”, contou Ângela Santos, mãe de Gabriel. O barbatimão é uma espécie da flora original do cerrado, usada com frequência no consultório odontológico da UBS. “A ação cicatrizante desta planta é incrível! A ferida se cicatriza em quatro dias. Além disso, eu a uso como substituta do antihemorrágico e do anti-inflamatório”, explicou o cirurgião-dentista. Grande parte dos tratamentos realizados no consultório é feita à base de medicamentos fitoterápicos. Em alguns casos, Murta administra uma composição destes com os alopáticos (medicamentos comuns), dificilmente faz uso exclusivo dos últimos. “Trabalho desta maneira porque, ao valorizarmos a cultura popular e a prática da medicina integrativa e complementar, favorecemos a adesão do

Construção de farmácias homeopáticas e fitoterápicas é uma das propostas do estado para fortalecer as PICs municipais


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paciente e atraímos as pessoas para o consultório. Com isso, o usuário confia nos benefícios da planta e na sua capacidade de cura, já que ele a utiliza no dia a dia”, explicou. A oferta, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), de terapêuticas que utilizam os mecanismos naturais de prevenção de agravos e para a recuperação da saúde torna-se, cada dia mais, uma realidade em vários municípios mineiros. Em 2007, a Superintendência de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais reuniu um grupo de trabalho formado por profissionais e entidades atuantes e elaboraram a Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares (PEPIC). Fundamentada nas diretrizes da política nacional, formulada pelo Ministério da Saúde em 2006, a política estadual foi aprovada em maio de 2009. Com ela, a SES busca normatizar as várias experiências e valorizar as práticas já vivenciadas na cultura popular dos mineiros. A partir dessa iniciativa, os municípios

As PICs são terapêuticas que utilizam mecanismos não naturais de prevenção e recuperação da saúde


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passaram a contar também com os investimentos estaduais. Isso porque, além de definir as diretrizes técnicas adequadas, os insumos apropriados e as ações de acompanhamento e avaliação, a Secretaria Estadual de Saúde também previu orçamento para os serviços de saúde em Práticas Integrativas e Complementares (PIC).

Investimentos em Farmácia Viva De acordo com Thaís Corrêa de Novaes, a técnica da CPIC, o Estado busca desenvolver um trabalho em parceria com os municípios, de modo que possibilite a ampliação do acesso às práticas e ofereça os serviços por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), com qualidade e racionalização. “Com a política tornamos as práticas integrativas e complementares uma realidade em Minas. Estamos definindo os protocolos técnicos e os recursos orçamentários necessários para fortalecer as ações municipais e passamos a atuar ao lado dos municípios para que eles possam oferecer um serviço melhor e mais amplo”, expli-

cou a coordenadora. Uma das principais propostas da política estadual é a construção de farmácias públicas de manipulação de medicamentos homeopáticos, fitoterápicos e antroposóficos. Para viabilizar a iniciativa, o estado financia a farmácia para os municípios. Em Betim, por exemplo, o Estado já destinou R$ 288 mil para a construção de uma unidade. A manipulação dos fitoterápicos para os tratamentos disponibilizados pelo SUS é realizada hoje no Hospital Regional de Betim, onde são atendidas, em média, 300 receitas por dia. Com a nova unidade, a expectativa é ampliar o acesso a esses medicamentos para os usuários do SUS no município, elevando o número de beneficiados. “A procura por medicamentos fitoterápicos tem crescido muito. O espaço que temos no Hospital não é mais suficiente para nossa demanda. O Estado vai contribuir para ampliar e fortalecer o serviço, garantindo ainda mais qualidade e eficiência”, avaliou Lorayne Caroline Resende, farmacêutica da UBS Angola.

Valorizando experiências Nova Lima, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi outra cidade beneficiada pelo Estado, com R$ 168 mil para a construção de uma unidade de farmácia pública de manipulação. O recurso irá fortalecer as iniciativas do Centro Municipal de Atenção Integral à Saúde (CEMAIS). O CEMAIS começou a funcionar há mais de dez anos no município, por meio de uma iniciativa do setor privado. Há dois anos, percebendo a importância que ele tinha na construção e manutenção da saúde das pessoas, a prefeitura integrou o Centro e, assim, ele passou a ofertar os serviços gratuitamente pelo SUS. Isso possibilitou uma oferta mais sistemática e ampla aos moradores. Além disto, o CEMAIS passou a ser supervisionado e incentivado pelo poder público. Nele são oferecidos serviços de acupuntura, medicina homeopática, aulas de relaxamento, ioga, tai chi chuan. O Centro também faz atendimentos em domicílio para pessoas com dificuldade de locomoção.

Práticas corporais coletivas beneficiam pacientes do SUS em Nova Lima


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Mais de seis profissionais estão envolvidos no projeto. Um médico homeopata, um médico acupunturista e quatro profissionais trabalham em práticas corporais coletivas. Semanalmente são realizados 500 procedimentos no CEMAIS, o que perfaz uma média mensal de 2000 atendimentos. A partir de agora, medicamentos fitoterápicos e homeopáticos também serão disponibilizados aos usuários do CEMAIS. “É só isso o que faltava para o município completar a oferta de serviços Integrativos e Complementares. No Centro, médicos homeopatas atendem aos usuários, mas ainda não disponibilizávamos os medicamentos. Foi para superar esse vazio que solicitamos a construção da Unidade de Farmácia”, comentou Márcio Flávio Barbosa, Secretário Municipal de Saúde. Segundo Ângela de Souza Lopes, pedagoga e coordenadora do CEMAIS, o Centro atende demandas espontâneas e também referenciadas por médicos e psicólogos da rede públi-

ca de saúde do município. “O sucesso do projeto entre os moradores ocorre porque procuramos uma nova forma de encarar os mesmos problemas. Buscar em nós mesmos a cura, o esforço pessoal de cada um para a cura”, comenta Ângela. Marta Ferreira Souza, 64 anos, e o marido Waldir José da Silva, 67 anos, participam da aula de relaxamento do Centro. Marta assegura que não teria conseguido superar uma forte depressão após a morte do pai se não fossem as aulas. “Eu estava no fundo do poço e me reergui. Mas o mais incrível foi a melhoria da saúde do meu marido. Acredita que ele teve AVC? Ficou sem falar e sem andar. As aulas estão o ajudando a voltar à vida normal: ele até recuperou o movimento e a fala”, conta.

Situação em Minas Em 2008 a SES realizou um diagnóstico nos municípios mineiros e identificou mais de 70 deles com iniciativas de medicina integrativa e comple-

Usuários do CEMAIS recuperam a saúde com aulas corporais coletivas

mentar, como a medicina tradicional chinesa, acupuntura, práticas corporais, meditação, orientação alimentar, medicina antroposófica. O objetivo das ações estaduais é garantir a gratuidade das atividades que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção e recuperação da saúde, por meio de tecnologias eficazes e seguras que contribuem para a integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade e o desenvolvimento do vínculo terapêutico. Dessa forma é possível compar tilhar uma visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado. “Os municípios estão encontrando novas maneiras de oferecer saúde aos moradores e alcançar bons resultados. As práticas integrativas e complementares de saúde são capazes de manter e recuperar a saúde de forma eficaz e natural”, finaliza Thaís Novaes. Colaboração: Layon Araújo

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Mais qualidade no atendimento Novas UTIs garantem maior cobertura e representam mais acesso de qualidade para a população

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Texto: Guilherme Torres Fotos: André Brant

ovos modelos de saúde, participação social, logística e, principalmente, investimento na infraestrutura e em profissionais qualificados podem melhorar o quadro e a abrangência do atendimento rumo a um maior controle e assistência aos pacientes que precisam de leitos de terapia intensiva (UTI). Em Minas, a atenção ao paciente crítico toma outro rumo, a começar pela capacitação dos profissionais. Criada em fevereiro deste ano, a especialização em Assistência Hospitalar ao Neonato, oferecida pelo Governo do estado, tem como objetivo o processo de formação de uma rede mineira de qualificação da assistência perinatal. Além disso, no Estado, que possui 853 municípios e uma população de aproximadamente 20 milhões de pessoas, estão disponíveis pelo SUS 32.583 leitos hospitalares. Destes,

Depois de um infarto e de ser operado às pressas e ser internado na UTI de Lavras, Nilton José Arruda, ao lado da esposa, diz estar vivendo uma vida nova Minas Saúde

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2.087 são de UTI, sendo 1.433 leitos adultos, 203 leitos pediátricos, 428 leitos neonatal e 23 leitos especiais. Se comparado com a média nacional, Minas desponta com saldo positivo quando o assunto são os leitos destinados para Terapia Intensiva, com 6,4% leitos para cada mil habitantes, quase o dobro da média nacional. Segundo o Ministério da Saúde, a proporção ideal é que existam de 2,5 a 3% leitos hospitalares a cada mil habitantes. Desse total, de 4% a 10% devem ser de UTI. Hoje, o Brasil possui 17.608 leitos de UTI para um total de 500.878 hospitalares, ou seja, 3,5% leitos para cada mil habitantes. Segundo análises da área assistencial da SES, a necessidade de leitos de UTI neonatal é encontrada pela seguinte fórmula: para cada mil nascidos vivos por ano, há necessidade de 1,5 leitos. A fonte utilizada para se obter o número de nascidos vivos é o Sistema de Informação de nascidos Vivos (SINASC-MG). Hoje a situação no estado é bem positiva em relação aos leitos de neonatal, com superávit de leitos de UTI neonatal no estado, quando avaliados isoladamente. Já análise dos dados para leitos de UTI adulto, apresenta um déficit de 421 leitos de UTI no estado. Entre as medidas para reverter esse quadro e seguir de forma crescente no credenciamento de novos leitos adultos, o estado prepara um estudo para saber o número de leitos necessários, em vez de seguir estatísticas nacionais. “Entretanto, os estudos de necessidades de leitos de UTI estão sendo reanalisados pela SES, além de avaliarmos a necessidade de credenciamento de leitos de Cuidado Intermediário, fato que influencia diretamente na taxa de ocupação dos leitos de UTI”, conta a coordenadora estadual de Terapia Intensiva, Renata Melgaço. Ela destada, ainda, que o credenciamento de leitos de UTI/UCI é feito pelo Ministério da Saúde, não dependendo somente da proatividade do estado. 72

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UTI neonatal chega à Santa Casa de Lavras, com ajuda do Pro-Hosp. “Com estes novos leitos, a necessidade de deslocar pacientes cairá muito”, Célio de Oliveira


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O estado de Minas foi beneficiado em abril de 2010 com o credenciamento de mais 184 leitos de UTI, sendo 142 leitos adultos, 12 pediátricos e 30 neonatal. Esses novos credenciamentos têm hoje um importante significado em relação à cobertura ao paciente do SUS que necessita de atenção imediata. “Essa cobertura representa mais acesso de qualidade para a população, principalmente a adulta, visto que é a parcela da população que atualmente possui maior déficit de leitos de UTI”, ressalta Renata. Medidas para minimizar o uso e, consequentemente, os gastos com as UTI, para, assim, investir em outros setores primários da saúde, são iniciativas importantes para um melhor equilíbrio e distribuição no atendimen-

to. Existem estudos que apontam que o gasto diário com esses leitos é de cerca de R$ 1 mil/dia. Para frear essa situação, é necessário investir na melhoria da estruturação da atenção primária, além de garantir atenção especial para as gestantes (melhoria do pré-natal) e programas para conscientização, visando a redução de acidentes automobilísticos e violência urbana (trauma grave), fatores que influenciam na taxa de ocupação da UTI.

Novos leitos de UTI “A Coordenação Estadual de Terapia Intensiva, juntamente com a Gerência de Programação Assistencial (responsável pela Programação Pactuada e Integrada – PPI/SES),

desenvolve há um ano, estudos de taxa de ocupação dos leitos de UTI no estado. O objetivo é a percepção dos leitos ofertados aos pacientes do SUS, além de identificar os principais problemas enfrentados pelos municípios em relação à UTI, melhorando o acesso e a qualidade dos serviços prestados aos usuários”, explica a coordenadora de UTI. Lavras, no Sul do estado, com população estimada em cerca de 100 mil habitantes, vem suprindo de forma positiva a necessidade regional de leitos de terapia intensiva e acaba de inaugurar um novo UTI neonatal, na Santa Casa de Misericórdia. Antes, mães com gestação de risco ou complicações eram encaminhadas para cidades vizinhas, como Alfenas, Três Corações e

Equipe da Santa Casa de Lavras que atua na UTI

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Em novo espaço, maior e mais moderno e com quatro novos leitos credenciados, UTI da Santa Casa de Misericórdia de Lavras é referência e recebe pacientes de outros municípios São João Del-Rei. Agora, é mais tranquilo para as mães darem a luz, pois contam com conforto e, principalmente, segurança. Com 10 leitos, a UTI neonatal foi construída com recursos do hospital e do Estado, por meio do Programa de Melhoria e Fortalecimento dos Hospitais de Minas Gerais (ProHosp), que destinou R$ 190 mil para a aquisição de 10 respiradores. “A Santa Casa de Lavras realiza, em média, 150 partos por mês. Agora, com os novos leitos, não será mais necessário deslocar pacientes que necessitavam de cuidados especiais. Esta nova estrutura vai garantir mais segurança e uma assistência em saúde com qualidade aos recém nascidos”, explica o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Lavras, Célio de Oliveira. A estrutura 74

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da nova UTI dispõe de mais de 50 profissionais, entre intensivistas, fisioterapeutas, nutricionista, médicos, enfermeiros e pessoal de limpeza. A UTI adulto que já operava com seis leitos credenciados foi totalmente reformada com recursos do Pro-Hosp e da própria Santa Casa de Misericórdia e mudou de andar. Em termos de equipamento, o hospital está com saldo positivo. Conforme a portaria ministerial que regulamenta o credenciamento desses leitos de UTI, é necessário um respirador para cada dois leitos, mas a Santa Casa de Lavras dispõe de um respirador para cada leito. Para 2011, o hospital tem planos de implantar uma UTI somente de cardiologia, devido à demanda crescente de cirurgia cardíaca. A vida de Nilton José Arruda, 66

anos, foi salva graças à UTI da Santa Casa de Lavras. O aposentado teve um infarto e precisou ser operado às pressas e ser internado em uma UTI. Ele fez angioplastia, cateterismo e trocou o stent (endoprórises). “Fui muito bem assistido e bem tratado, o atendimento foi imediato, se não fosse essa estrutura que temos na cidade e os profissionais competentes, poderia ter morrido, mas hoje me sinto muito bem”, relembra Nilson. Ele conta: “Esta UTI já salvou outras vidas, como da minha irmã, que estava com câncer, e também meu cunhado, que puderam desfrutar deste serviço sem precisar sair da cidade e ter o apoio e acompanhamento de toda a família, o que ajuda muito no tratamento”. A esposa de Nilton, Maria Aparecida, de 59 anos, também se


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sente tranquila com a ampliação do serviço de saúde. “Senti uma segurança total com meu marido aqui, a aparelhagem é muito boa, assim como a equipe especial, que fez esse trabalho na área de cardiologia. Está excelente. Penso que em termos de UTI estamos seguros com o serviço oferecido aqui em Lavras.” Para o secretário municipal de Saúde, José Mourão Lasmar, a demanda da cidade por leitos de UTI é grande, porém ele destaca excelência do atendimento oferecido pela Santa Casa de Lavras. “Vejo os bons avanços que tivemos, mas percebo a necessidade de ampliarmos o serviço e estamos caminhando nesse sentido. Estamos com um projeto de ampliar o atendimento de UTI para nosso pronto atendimento com uma espécie de

“semi-UTI”, oferecendo, assim, chances de vida para pessoas que esperam por uma vaga”, disse. A licitação para a implantação desse projeto já está sendo desenvolvida, com planos de incluir um médico intensivista e um enfermeiro; o investimento deve ser em torno de R$ 150 mil. Quanto à demanda de leitos de UTI neonatal, o secretário acredita que, com a ampliação dos leitos, os problemas dos partos mais delicados serão sanados.

Acreditação O hospital busca a certificação pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), procedimento que visa a garantir a qualidade e a segurança da assistência oferecida nas organizações de saúde. O proces-

so é contínuo e assegura que a instituição estará comprometida com os procedimentos que executa, com a ética profissional, com a garantia dos serviços, com o seu público interno e externo, com o equilíbrio no mercado e, principalmente, com a excelência do trabalho que desenvolve a favor do ser humano. A vontade de integrar a Acreditação em nível I, que é estar em conformidade com os padrões da ONA nos quesitos estrutura e segurança, surgiu depois da ampliação bem-sucedida de toda a UTI adulto e da criação da neonatal. Nessas unidades, os casos mais comuns são os cardiológicos, neurológicos e, principalmente, de acidentes trânsito, considerando que o município está próximo a duas grandes rodovias de risco, a Fernão Dias e a BR 265.

PEDRO CISALPINO

Estudos de necessidades de leitos de UTI estão sendo reanalisados pela SES, além de avaliarmos a necessidade de credenciamento de leitos de Cuidado Intermediário

Conta a coordenadora estadual de Terapia Intensiva, Renata Melgaço

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SES aposta nas crianças

Mobilização Social comemora os resultados da parceria de sucesso com as escolas

Texto e fotos: Ana Rita Fernandes

ovida pelo retorno imediato e irrestrito das crianças, a equipe de Mobilização Social que integra a Assessoria de Comunicação Social da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) tem buscado identificar e conhecer as ações de combate à dengue promovidas pelas escolas e executadas por seus alunos, incansáveis parceiros dessa causa. Apresentado pelas secretarias municipais de saúde, em parceria com as secretarias de educação, vários municípios mineiros lançaram um desafio a fim de que suas escolas capacitem os alunos para se transformarem em propagadores de bons hábitos na prevenção da dengue na comunidade de cada um. Na rede municipal de ensino de Lagoa Santa, as secretarias de Educação e Saúde lançaram a Campanha “Combatendo a dengue”, para vigorar durante todo o ano de 76

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2010, uma vez que a doença é um problema recorrente. A cidade foi dividida em quatro regionais para execução do projeto – Norte, Sul, Leste e Oeste. A primeira etapa do concurso foi realizada pela Regional Norte, selecionada por registrar o maior número de casos de dengue confirmados no município. Alunos, corpo docente, direção e equipe administrativa de sete escolas da localidade desenvolveram diversas atividades para a consolidação da proposta de combate e prevenção à doença. Foram ministradas palestras sobre a biologia do mosquito Aedes Aegypti, criadouros, formas de combate e como se comportar diante de um provável caso da doença. Pesquisas e trabalhos de campo com os alunos foram efetuados com o objetivo de identificar e contribuir para eliminar os comprovados e os prováveis focos do mosquito trans-


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Grupo mobilizador em Passos

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Alunos da Escola Mércia Margarida, em Lagoa Santa,vencedores do concurso “Combatendo a Dengue” com as peças premiadas: monóculos missor da dengue. Também foram desenvolvidas produções textuais para fixação do conteúdo abordado. Aluno do 5º ano do ensino fundamental, Lucas Alves Cruz, 10 anos, expressou a aprendizagem que absorveu, ao dizer que “não pode ser só quando tem epidemia, tem que combater todo dia”. No concurso finalizado na Escola Municipal Mércia Margarida para concorrer à premiação de troféus e medalhas pelas melhores colocações em diferentes categorias, os alunos produziram diversos trabalhos artesanais – maquetes comparando ambientes limpos com os propícios à proliferação do mosquito Aedes aegypti, cartazes, monóculos, jogos, composições musicais e outros, demonstrando que internalizaram o aprendizado. “Hoje as crianças se tornaram responsáveis pela difusão dos mecanismos de combate à dengue”, diz a coordenadora pedagógica, Sônia Tertuliana, que, junto com a diretora Lúcia Gonçalves, desenvolveu o projeto de mobilização contra a dengue. Mais que participação no evento, os alunos da educação infantil, ensi78

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no fundamental e educação de jovens e adultos (EJA) demonstraram envolvimento e mobilização pela causa. “Antes, onde eu moro era sujo e eu nem ligava. Agora, sempre que vejo algum entulho, pego uma sacola plástica e já começo a limpar e a alertar os vizinhos do perigo da dengue”, conta Guilherme Augusto Rosa Siqueira, 8 anos, aluno do 3º ano do ensino fundamental.

Nova Era em ação O município de Nova Era também foi tomado pela mobilização da rede escolar no combate à dengue. Os alunos receberam informações sobre a doença, por intermédio de palestras aplicadas por agentes de saúde e os educadores das escolas promoveram atividades eficientes, com resultados imediatos. Foi o caso do professor de Ciências André Alves Ferreira, da Escola Novaerense, que propôs uma atividade com “ares” de entretenimento: os alunos formaram grupos de acordo com os bairros em que residiam, cada grupo deveria entregar

cinco fotos de problemas que favoreciam a proliferação da dengue, produzidas naquele bairro. O professor então reuniu as fotografias e as encaminhou para a prefeitura de Nova Era, solicitando providências. Outra proposta realizada foi o desafio textual num concurso de redações e slogans. As vencedoras foram a Escola Novaerense, com três premiados em redação: (para as alunas Catarina Duarte Carvalho e Lívia Silva Araújo do 6º e Gustavo Silva Araújo do 7º ano do ensino fundamental) e a Escola, Municipal Desembargador Drumond, que além de garantir o terceiro lugar com o slogan de Maria Júlia Alves Faustino Laureano, “Dengue, tô fora! Quero saúde toda hora”, também venceu a gincana com o maior número de garrafas pets recolhidas para reciclagem, num total de 12.800, que resultaram em enfeites natalinos para toda a cidade. A mudança de atitude e o envolvimento de todos traduzem a força da mobilização com os alunos da rede de ensino. Lívia, 13 anos, afirma que agora presta mais atenção naquilo que pode funcionar como um criadouro do mosquito da dengue e que antes parecia não ter muito valor. Catarina, 13 anos, expressa que saber a semelhança dos sintomas da dengue com os de outras doenças foi muito importante, principalmente no que diz respeito ao uso de remédios inadequados e à necessidade de procurar assistência médica imediata. Gustavo, 14 anos, lembra que não adianta prevenir por um tempo e depois deixar de lado. “Deveria haver mais divulgação nas ruas, com mais frequência e de uma forma mais dinâmica, exigindo das pessoas menos leitura e mais participação no combate à doença, como atividades circenses e teatrais, na feira de todo sábado, por exemplo", declarou. Já a aluna Maria Júlia, 10 anos, garante que, depois do que aprendeu, seu comportamento ficou muito diferente. “Hoje, eu me preocupo em não jogar lixo no chão e em lembrar as pessoas de que a única solução para a dengue é a prevenção”, relatou.


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Mobilizadores Mirins de Passos Isso foi o que resultou da proposta inicial da professora Neiva Mizael da Escola Estadual Abrahão Lincoln. Diante de inúmeros casos da doença no município de Passos e seu entorno, ela determinou que os alunos criassem frases de alerta para serem distribuídas dentro do ambiente escolar, com o objetivo de expor a situação, levá-los a refletir e, principalmente, a agir no combate e prevenção da dengue. Por intermédio do conhecimento sobre a doença, após essa primeira experiência, um grupo de oito alunos do 9º ano fundamental da escola, com idade média de 14 anos, foi bem além dos slogans. Por iniciativa própria, eles procuraram o departamento de zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de Passos, se muniram de conteúdo e desenvolveram uma apresentação em slides para orientá-los em palestras que realizam sistematicamente, tanto

na escola em que estudam, como em várias outras para as quais são convidados. Além disso, organizam panfletagem nas ruas que circundam a escola e bairros próximos, principalmente em datas festivas que a instituição de ensino celebra. Giovanni, Hítalo, Carla, Túlio, Marcus, Júlia, Christian e Laudicena – esse é nome os membros do grupo mencionado, formado por oito alunos que trilham o status de oito bons e atuantes cidadãos. Eles têm uma linguagem própria para o tema de prevenção da dengue, arregimentam inúmeros seguidores pelo Twitter, recebem total apoio da diretoria e coordenadoria da Escola em questão, são reconhecidos no município e já ensaiam uma certa liderança no seu meio para assuntos extracurriculares. “Esse é um projeto que começou na sala de aula e se expandiu pela escola inteira, mudando o jeito de pensar e agir das pessoas sobre a dengue”, con-

ceitua o aluno Hítalo Bolzani. Com a concordância de todos, Túlio Bolzani manifesta que “a população é desinteressada e displicente, por isso precisamos de mais apoio e da adesão de quem quiser participar”. Além de demonstrarem compromisso, socialização, responsabilidade e inúmeras outras qualidades, os jovens em ação aqui mapeados se sentem parte da sociedade, como ditam as velhas e boas normas sobre a cidadania.

Escola sem dengue Com a participação de mais de dois mil alunos da rede pública de ensino de Belo Horizonte que tiveram a oportunidade de aprender, de maneira lúdica, como combater a dengue, o Escola sem Dengue, que ocorreu no dia 19 de maio no Parque Ecológico da Pampulha, em Belo Horizonte, provou que investir na parceria com crianças é muito proveitoso. Numa iniciativa da SES-MG, em

Trabalho sobre dengue e educação no trânsito/ Escola Mércia Margarida/ Lagoa Santa


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parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e Educação, o evento de mobilização ocorreu simultaneamente em outros 21 municípios de Minas. Com a epidemia se propagando, mesmo com a chegada de climas mais frios, a ação reforçou o papel da prevenção como meio mais eficaz no combate à dengue e convocou crianças e escolas para assumirem a tarefa mobilizadora. Por meio de peças teatrais, atividades práticas, exposições e oficinas, os alunos tiveram a oportunidade de aprender como cada um pode agir para prevenir e mobilizar sua comunidade contra o Aedes aegypti. Pelo Dengue Ville, o jogo social do Orkut que simula ações de combate à dengue por uma interface virtual, os alunos puderam entender como a mobilização social acontece. “Enquanto eu jogava, uma colega minha apareceu no jogo pedindo ajuda pra limpar a caixa d’água dela. Achei muito legal!”, conta Camila Alves, aluna da 4a série da Escola Estadual Francisco Menezes Filho. O professor de informática Fábio Peixoto, da Escola Municipal Dom Orione, também aprovou o jogo: “É interessante ver que, além de se divertirem, essas crianças estão realmente aprendendo algo através do jogo. Acho que isso também os ajuda a perceber a importância que têm nesse combate”, afirmou. Como assinala a coordenadora de Mobilização Social da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS/PBH), Ione Costa, é preciso tirar proveito da energia e disposição das crianças para se engajarem na luta contra a doença. “Nós estamos precisando de ações, de gente empenhada a agir. As crianças têm esse potencial, só precisamos mobilizá-las, porque elas é que vão repassar o conhecimento que estão tendo aqui para suas famílias”, disse. Assim como Ione, o coordenador de Mobilização Social da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) Joney Fonseca Vieira também percebe nas crianças uma grande aliança no combate à dengue. “Por serem mobilizadoras natas, as crianças agem como ver80

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dadeiras multiplicadoras do conhecimento que retiram daqui. Elas absorvem rapidamente as informações novas e se responsabilizam por passálas adiante”, explica coordenadoro. “Ver esses alunos introjetando o que aprendem é a legitimação de nossos esforços”, completa. Além de coordenar a mobilização social na SES-MG, Joney também é diretor e integrante do Grupo de Teatro Saúde em Cena, que apresentou a peça “Deu a Louca no Mundo da Fantasia” no Escola sem Dengue. Durante a apresentação, as crianças se juntaram à “Branca de Névoa” e ao grupo do bem para deter os planos do Aedes aegypti de dominar o mundo com a ajuda dos personagens maus das fábulas. “O que eu mais gostei de ver foi o mosquito sendo derrotado pela Branca de Névoa. Eu também posso ajudar a fazer isso!”, entusiasmou-se, na ocasião, Marilda Isadora,

aluna da 3a série da Escola Municipal Santa Terezinha. A professora Lívia Duarte, da Escola Municipal Amílcar Martins, também aprovou a iniciativa: “Nas escolas nós já realizamos tantos trabalhos para conscientizar os alunos da importância dessa luta, então porque não apresentar isso mais amplamente? Acho que o Escola sem Dengue serve de inspiração”, elogiou. Colaboração: Alexandre Ribeiro Grupo dos Mobilizadores Mirins de Passos Giovanni Belmiro Maia

Carla Beatriz Faria d Moura Marcus Vinícius Pereira

Laudicena Alves de Souza Júlia de Oliveira Hítalo Bolzani Túlio Bolzani

Christian Faria Santos

Catarina, Gustavo e Lívia – da Escola Novaerense de Nova Era, premiados em redação

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Da vida a gente não leva nada. Mas pode deixar. Seja um doador de órgãos e avise sua família.


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Rede de Urgência Norte completa dois anos A organização da Rede de Urgência Norte garante à população do Norte de Minas acesso aos serviços de urgência

Texto e fotos: Jerúsia Arruda

uase dois anos depois do início da regionalização do atendimento às urgências e emergências, a Rede de Urgências Norte vive um novo desafio: consolidar as redes de atenção de forma que o paciente seja sempre encaminhado para o local adequado, onde irá receber assistência eficaz e no menor tempo possível. Esse desafio vem sendo vencido gradativamente, à medida que novas etapas são cumpridas. Uma delas foi a criação de um protocolo unificado de transferências e transporte inter-hospitalar, com base na Portaria Ministerial n.º 2048/GM, que regulamenta o serviço pré-hospitalar. “O 82

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A enfermeira Priscila Leite e o paciente Djalma Fernandes no hospital Clemente Faria


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SAMU é o elemento ordenador da urgência e emergência na Macro Norte, e para garantir a segurança ao usuário que espera receber uma assistência com qualidade e humanizada é importante adotar protocolos que possibilitem a organização e padronização das atividades do setor”, explica Enius Freire Versiani, coordenador médico do SAMU e médico do serviço de urgências do Hospital Universitário Clemente Faria, de Montes Claros. De acordo com o coordenador, os atendimentos às urgências acontecem em situações de pressão tanto sobre as estruturas hospitalares quanto sobre os profissionais que atuam diretamente nas portas de entrada das unidades de pronto-atendimento. “Para auxiliar na dinâmica desse serviço, a equipe técnica do SAMU elaborou protocolos de atendimento clínico e trauma baseados em referências científicas nacionais e internacionais. Eles nivelam os atendimentos prestados aos mais elevados padrões de qualidade assistencial dos serviços de urgência e emergência pré-hospitalar”, enfatiza. Enius explica que a grande extensão territorial da região, a baixa densidade demográfica e a distância entre os municípios se configuraram como obstáculos no início da implantação da Rede. Porém, ele destaca que, com o envolvimento dos gestores, da coordenação técnica, dos representantes de hospitais, dos conselhos municipais de saúde, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal, através do Comitê Gestor, foi possível discutir, de maneira técnica, os aspectos relacionados a urgência e emergência e superar essas dificuldades. “A importância da integração de todos esses atores faz com que a Rede cresça de forma sólida, pois se alicerça nos pilares da discussão democrática, com embasamento técnico-científico, respeitando os direitos dos cidadãos, motivados pela solidariedade e corresponsabilidade nos sucessos e fracassos do processo”, salienta. Outra etapa importante que vem sendo cumprida é a implantação da Minas Saúde

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Central de Regulação da Macro Norte

classificação de risco nas unidades de saúde, pelo Protocolo de Manchester. “A triagem já está sendo feita em praticamente todos os pontos de atenção. Nos municípios de Pirapora, Brasília de Minas e outros próximos deles, por exemplo, houve uma redução na procura pelos serviços de urgência por pacientes classificados como pouco urgentes e não urgentes. Isso significa um melhor atendimento na Atenção Primária e, consequentemente, uma melhoria do fluxo da Rede”, pontua o coordenador regional de urgências, Manoel Silvério Neto.

Integração Enquanto aguarda para entrar no bloco cirúrgico do Hospital Universitário Clemente Faria, o comerciante Djalma Luis Fernandes Filho, de Montes Claros, conta uma história que evidencia como a integração dos pontos de atenção está facilitando o acesso aos serviços de saúde. Ele diz que, no início de setembro, apresentou os sintomas da dengue e, ao ser examinado pelo médico do Centro de Saúde do Cintra e depois de fazer os exames prescritos, além da confirmação de dengue, descobriu que também tinha pedra na vesícula. “Quando procurei o centro de saúde, não tinha o cartão SUS, que imediatamente foi providenciado pelos aten84

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dentes. Depois dos exames, ao constatar que eu tinha pedra na vesícula, o médico me encaminhou para o Hospital Municipal Alpheu de Quadros, onde fiz os exames necessários. De de lá, seria encaminhado para o Hospital Universitário para a cirurgia, mas como tive uma crise com fortes dores no estômago, procurei o pronto-socorro do hospital antes. Agora estou aqui, aguardando ser chamado para a cirurgia”, conta. Aos 50 anos, Djalma Fernandes diz que foi a primeira vez que teve um problema de saúde mais sério. “Nesses 25 dias, desde que procurei pelo primeiro atendimento no centro de saúde, perdi uns 15 quilos, me alimentei mal e fiquei sem trabalhar. Mas como era preciso fazer todos os exames para que o médico comprovasse se realmente precisava da cirurgia, fui acompanhado pela equipe do Programa Saúde da Família e tive toda a assistência necessária. O que mais me surpreendeu foi chegar ao hospital, a enfermeira colocar uma pulseira no meu braço, dizer que seria chamado em 10 minutos e ver isso se confirmar no prazo prometido, mesmo sem ela ver os papéis com o resultado dos exames que havia feito”, relata Djalma. Priscilla Martins Leite, enfermeira do setor de triagem do Hospital Universitário Clemente Faria, explica que, ao passar pela classificação, o caso de Djalma Fernandes foi caracte-

rizado como muito urgente, devido aos sintomas apresentados. “O objetivo da triagem não é fazer diagnóstico, mas avaliar o grau de urgência das queixas do paciente, colocando-o em ordem de prioridade para o atendimento. No caso de Djalma, só no momento em que foi atendido pelo médico é que ele teve a oportunidade de fazer o relato de sua história”, esclarece. Apesar das dores, Djalma diz que tem muito mais para comemorar que lamentar. “Com tanta dificuldade que vivemos hoje, é bom ver que a saúde pública está melhorando e que podemos contar com a assistência médica quando precisamos”, avalia.

Investimento nas microrregiões Para fortalecer a integração dos pontos da Rede, os hospitais também vêm recebendo uma atenção especial do governo de Minas. Todos foram equipados para realizar a classificação de risco, e os hospitais microrregionais de Brasília de Minas, Pirapora e Taiobeiras foram ampliados, recebendo, cada um, 10 leitos de UTI. Somente na construção e na aquisição de equipamentos para o hospital de Pirapora foram investidos R$ 15,5 milhões. Na construção do Centro de Tratamento Intensivo de Taiobeiras e de Brasília de Minas foram investidos R$ 2.840 milhões do Tesouro Estadual. Os três hospitais também recebem, mensalmente, custeio de R$ 130 mil reais, cada, por meio do Pro-Hosp. A criação dos novos leitos de UTI permitiu a ampliação do número de procedimentos de média e alta complexidade, reduzindo sensivelmente as transferências inter-hospitalares e o tempo-resposta do atendimento. Atualmente, os 39 hospitais da Macro Norte estão cadastrados no sistema SUSFácil, e 22 deles estão integrados à Rede de Urgências Norte, dispondo de 2.169 leitos, sendo 116 deles de UTI. Dezenove hospitais da região também participam do Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais (Pro-Hosp), por meio do


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qual já receberam, desde a criação do programa, em 2003, até 2010, recursos no valor de quase R$ 76 milhões.

Resultados O diretor administrativo do Hospital Municipal Senhora Santana, de Brasília de Minas, Antônio Luiz Alves Cardoso, diz que a instalação da UTI adulto tipo II promoveu para a microrregião de Brasília de Minas/São Francisco e para os dez municípios da microrregião de Januária um avanço enorme na qualidade do atendimento prestado aos pacientes da média e alta complexidade. “Antes da instalação da UTI, muitos pacientes perdiam a vida devido à dificuldade de conseguir uma vaga em uma UTI de Montes Claros, única cidade a dispor do serviço na

Classificação de risco

região. Hoje isso não ocorre mais, o que reflete benefício não só para a microrregião, mas para toda a macro”, avalia o diretor. Além da instalação da UTI, o Senhora Santana também recebeu, através do Pro-Hosp, desde 2003, recursos no valor de mais de R$ 4.2 milhões. Luiz Cardoso conta que, recentemente, o Senhora Santana vivenciou uma situação que revela como o fortalecimento dos hospitais microrregionais tem contribuído para a melhoria do fluxo de atendimento na região. “Em 15 de junho de 2010, um grave acidente no distrito de Serra das Araras, município de Chapada Gaúcha, a 150 km de Brasília de Minas, envolvendo 18 pessoas, resultou em três óbitos no local, seis vítimas em estado grave e três encaminhadas para procedimentos clínicos e cirúrgicos.

O Senhora Santana recebeu as nove vítimas, seis delas com tratamento na UTI. Há pouco mais de seis meses isso era impensável”, lembra Luiz. Luiz conta que mais recentemente ainda, em 05/08/2010, Luiz conta que o hospital atendeu uma senhora que foi vítima de uma chacina ocorrida em Japonvar, município vizinho, em estado extremamente grave. “A paciente foi submetida a um procedimento cirúrgico e, logo em seguida, foi transferida para a UTI, onde permaneceu por 10 dias. Era um caso em que havia muita expectativa, considerando a gravidade. Foi enorme a sensação de realização da equipe técnica do hospital ao dar alta à paciente com a saúde estável, sem risco de morrer”, descreve o diretor, ainda comovido. Desde que foi inaugurada, em


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UTI do Hospital Senhora Santana, de Brasília de Minas NENEN LELIS

novembro de 2009, a UTI de Brasília de Minas já atendeu aproximadamente 200 pacientes, aliviando os hospitais de Montes Claros, que sempre foram referência na região para este tipo de assistência. “Com a Rede, estamos registrando uma redução dos óbitos e sequelas em pacientes graves, devido à agilidade e à melhoria do acesso ao atendimento”, conclui Luiz. Os dados respaldam a conclusão de Luiz. Nos dois anos de operação da Rede de Urgências Norte, de 2009 até julho 2010, no Norte de Minas, o número de óbitos caiu de 6.194 para 2.753, o que representa uma melhora sensível no acesso do cidadão aos serviços de saúde. Os óbitos por causas externas caíram de 624 para 286, e por causas mal definidas caíram de 1.449 para 530. Já as mortes por doenças cardiovasculares tiveram uma redução de 1.410 para 616. Os resultados são tão expressivos que chamaram a atenção do Internacional Manchester Triage Group e do Grupo Brasileiro de Classificação de Risco e levaram o governo de Minas a assinar, em maio, um termo de cooperação entre o Hospital Universitário de Rouen (França) e o SAMU Macro 86

Minas Saúde

Norte para troca de experiências. Minas Gerais vai contribuir com o conhecimento na urgência e emergência em formato de rede, e os franceses vão qualificar os mineiros no enfrentamento de catástrofes.

Avanços Iniciada em janeiro de 2009, na Macro Norte, a Rede de Urgências Norte integra 86 municípios do Norte de Minas, beneficiando cerca de 1,6 milhão de pessoas. Da forma como foi organizada, os municípios trabalham integrados, sob um só comando, com indicadores e linguagem única, de modo que toda a estrutura gire em torno do paciente, não o contrário. A diretora da Gerência Regional de Saúde de Montes Claros, Olívia Pereira Loiola, explica que com o amadurecimento da Rede alguns conceitos ficaram mais claros, foram feitas correções úteis e necessárias. “Nesse tempo de funcionamento da Rede, o principal avanço foi: garantir os direitos de universalidade, equidade e integralidade preconizados pelo SUS. Ao pensarmos em universalidade, por exemplo, a melhoria dos serviços de saúde, a regio-

nalização do SAMU e os investimentos na qualificação profissional garantem atendimento à população do Norte de Minas nos diversos pontos de atenção da Rede”, argumenta. No que se refere à equidade, de acordo com a diretora, os projetos técnicos redimensionaram os investimentos financeiros e logísticos, reestruturando uma realidade, antes fragmentada e fragilizada, em uma Rede sólida com melhoria dos serviços municipais e microrregionais. “Assim percebemos que as regiões mais necessitadas foram incluídas”, arremata. Por fim, a integralidade, segundo a diretora, foi então garantida, por meio do atendimento ao usuário não no serviço mais próximo mas sim, no serviço mais adequado a sua estabilização e seu restabelecimento, de acordo com a gravidade e a necessidade de recursos terapêuticos e logísticos. “São inúmeros os casos bem-sucedidos de atendimentos, dentro e fora de Montes Claros, em função da organização da Rede de Urgências Norte. O próprio comportamento das pessoas já é notadamente diferente. Muito tem que ser feito, críticas existem, mas ninguém fala ou propõe retorno ao que era anteriormente”, conclui Olívia.


Sumário 3 | Editorial 5 | Atendimento de qualidade com gestão participativa 8 | As águas de Minas 12 | Agora é guerra 16 | Redes sociais no combate à dengue 22 | Casas oferecem acolhimento às mães 26 | Qualidade, eficiência e agilidade 32 | Educação técnica a serviço da saúde 36 | Mais vida para os idosos mineiros 40 | Qualificação da gestão melhora o atendimento 44 | SUS em rede 48 | Educação sem fronteiras 52 | Plantas do Cerrado revelam poder medicinal 55 | HTLV é identificado pelo teste do pezinho 60 | Estado e município constroem Hospital Inteligente 66 | Um novo olhar para a saúde 71 | Mais qualidade no atendimento 76 | SES aposta nas crianças 82 | Rede de Urgência Norte completa dois anos


Publicação anual da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais A n o

Minas Saúde A n o 3 l n ú M E r o 3 l D E z E M b r o D E 2 0 1 0 Publicação anual da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais

3 l

n ú M E r o 3 l

CONTAMOS COM VOCÊ. JUNTOS, VAMOS IMPEDIR QUE A DENGUE ENTRE NA SUA CASA.

2 0 1 0

• Retire os pratinhos de vasos de plantas. • Não deixe acumular água em garrafas vazias ou pneus. • Tampe tambores, tonéis, barris, cisternas e caixas-d’água. • Feche bem o saco plástico dos lixos e mantenha as lixeiras sempre tampadas.

D E

Veja como ajudar:

D E z E M b r o

O número de casos de dengue em Minas está aumentando a cada ano. A ameaça de epidemia no estado é gravíssima. Por isso, estamos em guerra contra a dengue. E precisamos que você também faça a sua parte.

Laboratório Intermunicipal

Eficiência na realização de exames


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