Livro

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Um convite à loucura

UM CONVITE À LOUCURA

Primeira edição 2022 Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total ou parcial sem a permissão escrita dos editores

As citações bíblicas fora extraídas da edição NVT – Nova Versão Transformadora

Diagramação: Suelen Gnatta

Capa: Richele Cardoso

Preparação e revisão: Giedre Ane

Fermiano, Joaber

Um Convite à loucura / Joaber Fermiano

ISBN: 978-65-00-58042-6

Edição: Amor em Páginas

Agradecimentos

A toda nossa equipe do escritório, também aos nossos pastores, coordenadores, líderes e membros/filhos do ministério Amor e Graça Church. Vocês acreditaram na loucura do que Deus poderia fazer em nossa cidade e região. Por meio de suas orações, sacrifícios e serviços, criaram uma cultura na qual Deus fez de sonhos loucos, loucuras reais. Vocês são os meus heróis da fé. Juntos, temos alcançado muitíssimas pessoas com o evangelho de Jesus Cristo, pela graça de Deus. Isso não poderia ser feito sem a fé, os talentos, a entrega total e o trabalho duro de todos vocês. Minha esposa Lise e eu os honramos, amamos trabalhar com vocês e ansiamos pelo dia em que Jesus irá recompensá-los eternamente por esse serviço leal. “Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que nos alegramos na presença de nosso Senhor Jesus em sua vinda? Não sois vós? Sim, vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria!” (1 Tessalonicenses 2:19-20).

Dedico essa obra não aos normais, mas aos loucos que são frequentemente estranhos no ninho social. Pois normal é chafurdar na lama do óbvio. Dedico essa obra aos loucos que acreditam que foram salvos através da própria loucura. Deus escondeu mesmo dos sábios o mistério da salvação, com isso salvando o mundo através da própria loucura.

Dedico essa obra aos loucos que andam longe da razão, porém, andam perto da verdade. Porque toda loucura está mais perto da verdade do que da razão. Aos loucos que no caminho para Deus mais do que nunca se oferecem à loucura. Dedico essa obra aos loucos cuja loucura é caracterizada pelo rompimento com a realidade. Aos loucos que trocaram a sanidade pela loucura da morte da cruz. Aos loucos que medem suas vidas pelas perdas, e não pelos ganhos. Ao encerrar, dedico essa obra àqueles que deixaram de seguir os juizados racionais para seguir o louco Jesus. “Os familiares de Jesus disseram: ele está louco. Perdeu o juízo!” (Mc 3:21.KJA).

Não temos nenhum motivo ou direito de fazer outro convite diferente do convite que Deus fez a Jesus Cristo; “um convite à loucura!”

Apresentação

Essa é a segunda obra que escrevo, nosso segundo livro. E acredito que assim como o primeiro, este também não será fácil de ler. Bem mais difícil, porém, é deixá-lo depois de iniciar a leitura, que cativa na mesma proporção que mobiliza; que atrai tanto quanto perturba e que encanta assim como insufla. Não vou segurar você até o final desses riscos para então revelar o ponto central da obra: Já irei revelar aqui na apresentação; é o amor. Não, não. Não o amor que veio à sua mente agora, referenciado nas nossas experiências e escorado na aceitação de outro ser humano. Mas o amor de uma divindade, melhor, da única divindade: o Criador. Tentando rascunhar sobre esse tema, porém, vindo de um poço bem mais profundo, um certo sábio do mundo antigo conhecido pelo nome de Salomão escreveu certa vez:

O amor é mais forte do que a morte. (Cânticos 8:5-14)

Aprendi que, para quem conhece o amor de Cristo, nada mais no mundo é tão belo e desejável. Brennan Manning

Introdução

Louco é a condição de quem está mentalmente fora da realidade. Do conceito louco: 1. De atitudes alteradas, próprias de quem sofre de insanidade mental; doido, maluco, vesano. 2. Excessivamente extravagante no comportamento 3. Desprovido de juízo 4. Contrário ao bom senso 5. Fora da normalidade. (Michaelis Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa Existe algo mais insano do que o amor? E o que dizer do amor de Deus? O esforço de minerar ou cunhar uma expressão grandiosa para articular algum conceito indizível afinal, Deus é o próprio amor que dEle emana levou Lutero a se referir a ele como “fogo ardente”. Para Teresa de Ávila, era a “suprema perfeição”. Francisco de Assis o considerava “galé de livres”, alusão aos antigos navios impulsionados pelo trabalho escravo dos remadores. Mas tem uma expressão que aproxima-se do impossível relatar, vem de Agostinho, ele, por

sua vez, compreendendo a insuficiência dos adjetivos, preferiu valer-se de uma constatação: "Deus ama tanto a cada um como se não existisse ninguém mais a quem pudesse dedicar seu amor”. Essa inspiração agostiniana perpassa o texto de “Um convite à loucura”. Nem um pensamento o pode conter; nem um vocábulo o pode imprimir. Ele está além de tudo o que possamos racionalizar ou imaginar. Desfrute deste livro!

Sumário 1. Deus não é homem......................................................................15 2. Um ambiente propício.................................................................31 3. Saindo de casa.............................................................................43 4. Criaturas, fruto do amor..............................................................49 5. Gratidão, ato de compreensão ....................................................55 6. Um convite à loucura..................................................................61 7 Amor que constrange..................................................................69 8. Ágape..........................................................................................79 9.Amor é a resposta seja qual for a pergunta...................................99 10. Selando a palavra....................................................................109

Capítulo 1

Deus não é homem

Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. 1João 4:8

Imagine comigo, seria um grande convite à loucura se alguém chegasse para você e dissesse: “Largue tudo o que você está fazendo agora, não pegue nenhuma bagagem e vá para um lugar distante, onde lá você terá uma missão que o levará à morte!” Com certeza, a dúvida tomaria conta da expressão de seu rosto antes que você perguntasse por mais detalhes, e não tendo tempo para colocar em palavras, essa pessoa continuaria… “Não será uma morte comum, mas uma morte que resultará em uma multidão de vidas salvas, mas para isso você terá que diminuir e se tornar um tanto parecido com elas…”

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De fato, não seria assim tão fácil tomar tal decisão repentina, pois ela exigiria que você não se apegasse a nada. Nem mesmo à sua própria condição e benefícios de vida. Largar tudo seria uma grande ousadia. Qual seria este, o fator determinante, que o levaria a tomar tamanha decisão sem pestanejar? Somente o amor incondicional! Só o verdadeiro amor faria alguém ter tamanha coragem e bravura para fazer uma escolha assim, subitamente. Então, voltamos à cena anterior. Você estava confortável, sentado no seu sofá, com as contas pagas, comida na despensa e bem remunerado, tudo estava mais que perfeito, quando essa pessoa apareceu de repente. Uma proposta como essa não surgiria do nada. O motivo pelo qual essa pessoa propôs tal façanha deve ser no mínimo muito intrigante. Acredito que, se tivéssemos a oportunidade de perguntar algo naquele momento decisivo seria: Quem são essas pessoas por quem eu terei de morrer? Pois talvez primeiro eu gostasse de avaliar o nível de merecimento delas. Ou se, antes de lançar a pergunta ela nos contasse uma história comovente e nos levasse a gerar algum sentimento afetuoso, seria mais fácil aceitar?

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E se, em outra hipótese, a proposta viesse acompanhada de algo em troca? Afinal nós estamos sempre ganhando ou perdendo, então melhor seria ter algum tipo de vantagem diante de tão grande sacrifício. Uma espécie de bonificação ou de recompensa? Nada mais justo!

Ainda avaliando a situação, se não temos tempo para pensar se essas pessoas merecem, se nos comovemos sentimentalmente ou não, ou se iremos receber alguma bonificação, porque motivos nós ainda abriríamos mão de uma posição consideravelmente boa para sermos reduzidos a uma posição inferior?

Que homem seria este que esmagaria as próprias glórias e vontades para aceitar esse convite? Apenas um homem que fosse ao mesmo tempo Deus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhouse e foi obediente até a morte, e morte de cruz.

Filipenses 2:6-8

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A primeira revelação que devemos ter é que Deus não é homem. Nós somos homens, Deus é amor.

A maioria dos nossos apegos emocionais são por necessidades. Temos muitas necessidades e nos apegamos emocionalmente a coisas que as atendam. Como humanos, recorremos à necessidade do sentir. Movemo-nos por sentimentos, instintos, e ambições. Diferentemente de Deus que em Sua essência, é Amor.

“A partir dos outros atributos conhecidos de Deus é possível aprender bastante sobre o seu amor. Podemos saber, por exemplo, que como Deus é auto existente, seu amor jamais teve começo; e porque ele é eterno, seu amor jamais terá fim. Sabemos que, porque ele é infinito, seu amor não tem limites; e porque ele é santo, seu amor é quintessência da pureza imaculada.”1

As palavras de A.W. Tozer nos dão um pequeno vislumbre do tamanho do amor que Deus nos ama, um amor sem condições.

1- TOZER, A.W., O Conhecimento do Santo. 2018.

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Eu não mereço, nem você.

…Ela foi agarrada pelo braço e jogada em meio àquela multidão de olhares que a condenavam. Em lágrimas se sentia mais do que ofendida: se sentia machucada, ela não queria estar ali e muito menos, ela quis estar lá. Não conseguia enxergar outra opção, seus olhos além de cegos para a vida que levava, agora estavam encharcados. Ali no meio daqueles condenadores, cheia de mágoas, cabisbaixa, um homem erguendo sutilmente a voz a defende. Isso nunca havia acontecido, talvez nem em sua infância, se tivesse acontecido antes, ela nem lembrava mais, mas naquele momento alguém a defende de uma maneira diferente. Enquanto ela tentava se recompor, tentando abafar as vozes que a repudiavam, este homem fez com que seus acusadores fossem embora, e ele ficando ali, ainda com um olhar que nunca recebera, disse: “vai, eu não te condeno. Abandone a sua vida de pecado.” Ele sequer perguntou se ela estava sentindo o peso da culpa. Não lhe exigiu um firme propósito de mudar de vida. Nem parecia muito preocupado com o fato de que ela poderia correr apressada para os braços de seu amante. Ela simplesmente

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permaneceu ali e foi absolvida antes mesmo que pedisse… (João 8:3-11)

Essa passagem foi um escândalo tão grande na igreja primitiva que, embora certamente faça parte de uma antiga tradução do evangelho, ficou de fora da história do evangelho atual por quase cem anos. Muitos estudiosos das escrituras afirmam que a passagem não pertence ao evangelho de João. O estilo é completamente diferente. Trata-se de uma tradução muito antiga, e assim por diante… Mas só foi incorporada ao evangelho de João após sua morte, por ser considerada um escândalo. Os primeiros moralistas cristãos tinham uma ideia muito mais rigorosa do bem e do mal do que Jesus, por isso tentaram abafar o caso, pelo fato de a passagem fazer com que Jesus parecesse muito tolerante.

Essa é a ideia do amor de Deus por nós, um amor que é categoricamente um escândalo. Um amor que nos constrange pelo imerecimento. O amor de Deus é o amor verdadeiro, em essência. Não se baseia no desempenho, tampouco em retribuição. É um amor que dá, mesmo quando rejeitado. Geralmente, este não é o tipo de amor ao qual estamos acostumados. Andamos em um amor egoísta que se

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decepciona com facilidade quando nossas expectativas não são atendidas.

Observe as rosas. É possível para elas dizer: vou oferecer minha fragrância às pessoas boas e negá-la às más? Ou dá para imaginar uma lâmpada que retém seus raios luminosos para o ímpio que busca andar em sua luz? Só poderia fazer isso se deixasse de ser lâmpada. E observe o modo inevitável e indiscriminado pelo qual a árvore fornece sombra a todos: bons e ruins, jovens e velhos, orgulhosos e humildes, aos animais, aos humanos e a toda criatura, mesmo aquele que procura cortá-la. Essa é a principal característica da compaixão: seu caráter indiscriminado. Deus não é homem, Ele é compaixão. Ele pode sentir o que nós sentimos, assim como em Lucas (7:11-15) quando Jesus se comove, e se coloca no lugar da viúva que havia perdido seu único filho.

Ortlund, em seu livro Manso e Humilde2, fala sobre a compaixão de Jesus: Compadecer para Jesus faz parte de uma profunda solidariedade: a nossa dor também dói em Jesus; no nosso sofrimento Ele sente o nosso sofrer como sendo dEle mesmo.

2 ORTLUND, Dane C., Manso e Humilde, 2021

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A ordem de Jesus para amarmos uns aos outros não se limita à nacionalidade, ao status, à etnia, preferência sexual ou à amabilidade inerente ao outro. Não se aplica ao merecimento. Não podemos esperar das pessoas aquilo que elas não podem dar: perfeição. É do ser humano a imperfeição, é seu grande defeito natural.

Nas escrituras, em Mateus (5:48) encontramos este conselho: “Sede vós perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste”. E também no evangelho de Lucas (6:36) o mesmo versículo está traduzido por “sede misericordiosos como também é misericordioso vosso Pai”. Perfeito aqui se refere a um “amor perfeito”, não a uma referência perfeita como pessoa. O amor de nosso Deus é simplesmente nobre e, ao que tudo indica, é como Ele espera que seja o nosso.

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Coração enganoso

Não dê muito crédito às suas emoções, elas mentem pra você! Somos instintivamente levados pelo nosso sentir: Sentir pena, se sentir amado, se sentir necessário, útil, feliz, satisfeito, completo, etc… Mas seriam as nossas emoções a balança medidora das nossas atitudes?

Na balança da vida, viver bem se deve muito mais à arte de saber perder do que saber ganhar. Se você está clamando por honra, está pedindo bajulação. Toda vez que você faz algo para se sentir alguém, você está lidando com a rejeição em si mesmo. As emoções querem nos dominar. Elas precisam disso para existir. Elas têm sede de controle.

Pense comigo: Analise o fim de pessoas que tomam decisões com base na raiva. Como se saem? E quem toma decisões a respeito de seu futuro com base no medo? E quem promete coisas sob efeito da alegria? Cumprem? E quem desiste por estar triste? Nunca se arrependerá?

Não podemos permitir que as emoções tomem o controle da nossa vida e façam escolhas em nosso lugar. Emoções são passageiras; decisões são permanentes. Somos seres

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emocionais e, se não recebermos treinamento de excelência, as emoções nos conduzirão a viver de forma primitiva, à base de reações e instintos. Se eu bloqueio minhas emoções, bloqueio satanás. Ele não controla nada mais em mim.

Outro ponto é a dependência emocional. Se tornarmos uma terceira pessoa responsável por nossas emoções, estaremos transferindo o nosso senso de responsabilidade, depositando no outro nossa expectativa. Ainda vivemos reféns de ações dos outros, em que migalhas de ligações, mensagens de texto, likes e visualizações nas redes sociais são suficientes para tornar nosso dia melhor. “Quando ela sai eu perco o ar”, imagine meu amigo, se ela é o ar que você respira quando outra pessoa sair com ela, vai levar seu oxigênio. Ouça! O verdadeiro amor declara independência da pessoa amada. Qual é a pessoa que você deve amar? Aquela que vive sem você. O melhor casamento é o casamento entre duas pessoas independentes. Deus não é homem; Ele é amor! E ninguém é obrigado a amá-Lo. Por quê?

O verdadeiro amor declara independência da pessoa amada

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Sirva às pessoas e se entregue por completo a Deus. Por que você espera em quem você se entrega. Não tema a difamação exterior, a rejeição ou a solidão, tema antes seus próprios pensamentos, pois só eles podem penetrar em sua essência e destruí-la. Seja um dependente emocional do amor de Deus e não do amor das pessoas. Examine sua vida e veja como preencheu seus vazios com pessoas.

A sobrevivência do dependente emocional gera o desejo compulsivo de apresentar uma imagem de perfeição diante das pessoas, de maneira que todos o admirem e ninguém o rejeite. A vida do dependente emocional torna-se uma montanha russa de excitação e depressão, onde sinônimo de sucesso é ser aprovado por todo o mundo, e o sinônimo de fracasso é ser rejeitado.

Brennan Manning escreveu sobre relacionamentos baseados nas expectativas em pessoas: quando lentamente consentimos com o mistério de nossa condição de amados e aceitamos nossa identidade essencial como filhos do Abba, lentamente nos tornamos independentes de relacionamentos controladores.3

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MANNING, Brennan, O obstinado amor de Deus, 2018

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Sabe quando não vamos mais nos frustrar nessa vida? Quando não buscarmos nada mais, apenas Jesus.

Barganha e ego

Se eu me destacar poderei ser notado, evidenciado. Ganharia fama, dinheiro, apreço, quão bom seria ser bajulado por todos, ser visto, ser grande? Por trás da busca pela evidência está a necessidade de ser aceito. Barganha e ego caminham juntos, pois quem faz algo muito bem, ou que é muito destacado, poderá receber glória em vida, inflando e massageando o deus ‘eu sou’. Isso separa o orgulhoso (quem eu sou é importante) do que tem necessidade de ser socialmente aceito (sou útil), mas os dois têm em comum uma coisa: em troca recebem glórias.

A ironia de tudo isso é que as opiniões que mais tememos não são as de pessoas que de fato respeitamos, mas, ainda sem nossa consideração, essas pessoas influenciam nossa vida mais do que somos capazes de admitir. Nossas áreas de

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orgulho estão apoiadas em nossas áreas de rejeição. Quanto mais lutamos pela aceitação, mais somos vencidos pela rejeição. Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo. Gálatas 1:10

Timothy Keller, em seu livro Ego Transformado4 nos lembra que o julgamento alheio, tal qual o nosso, pode ser muito enganoso: Da mesma forma que Paulo (1Coríntios 4) , podemos afirmar “Não me importo com o que vocês pensam, tampouco com o que eu mesmo penso. Só me interessa o que o Senhor pensa”.

Reconheça a sua insignificância e perdoe-se. Um dia morri para o Joaber Fermiano, para minhas opiniões e preferências, gostos e vontades; morri para o mundo, sua aprovação ou censura; morri para aprovação ou acusação até mesmo de meus amigos/irmãos; e desde então tenho procurado apenas apresentar-me aprovado diante de Deus.

4 KELLER, Timothy, Ego Transformado, 2014

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Se o Senhor Jesus lavou você com o próprio sangue e perdoou todos os seus pecados, como você se recusa a perdoar a si mesmo? Quando descubro que sou amado por Deus e que Ele é o próprio amor em pessoa, sou o primeiro a assumir minhas fraquezas. Não preciso viver criando um personagem, sou o que sou como disse o apóstolo Paulo em 1Coríntios 15. Sou o primeiro a rir de mim mesmo. Se for falar mal de mim me chame. Sei coisas terríveis a meu respeito.

Cada não que eu dou para as minhas vontades, é um eu te amo para Deus!

Por fim, como disse Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.” Arrisco complementar: O Amor (Deus) tem razões para amar que a própria razão desconhece.

Se eu, mero humano, não exercitar o amor, ele não será aprimorado em mim. Seria igual quando começamos a exercitar o corpo, de início, 20kg é um peso terrível, mas

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depois de um tempo torna-se leve. A pergunta é: foi o peso que diminuiu ou os músculos que desenvolveram? O peso é o mesmo para todos. A diferença está em que alguns praticam o amor e outros não. Quem muito exercita o amor muito ama; não por aquilo que os outros são, mas por aquilo que está se tornando.

Deus não é homem Ele é amor. Ele não precisa de nada. Ele é perfeitamente feliz em Si mesmo, e não precisa de nós. Então, como Ele pode se apegar a nós? A única resposta possível é que um ser divino infinito, onipotente autossuficiente ama apenas e tão somente de forma voluntária. Como Deus pode Se afeiçoar a nós? Como Ele pode dizer: “o que aconteceu com Nínive Me comove. Isso Me toca e Me entristece’’? (Jonas 4). Tudo isso significa que Deus voluntariamente envolve seu coração. Em outras passagens, vemos Deus olhando para Israel, que se afunda no mal e no pecado, e falando que o coração dEle literalmente se comove. “Como posso desistir de você, Efraim? Como posso te entregar nas mãos de outros, Israel? Meu coração se comove dentro de mim; a Minha compaixão se torna cálida e suave” (Oséias 11:8). O amor não é um sentimento afetuoso, mas um desejo constante do bem supremo da outra pessoa. Isso se aproxima

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de um ângulo da face de Deus. O amor é forte como a morte. (Cânticos 8:6).

Saber que Deus sabe tudo sobre mim e, ainda assim me ama é, de fato, meu consolo definitivo.

R.C Sproul.

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Capítulo 2

Um ambiente propício

O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cultivá-lo e tomar conta dele… Gênesis 2:15

…Parecia um sonho. O ar ficou denso, palpável. Meu rosto não encontrava outro lugar a não ser o chão. Anestesiado. Eu não sabia que poderia ser tão amado a ponto de, com tamanha ousadia, exigir dEle que nos acompanhasse. Sem Ele nós não poderíamos ir a lugar algum. Eu não duvidava, eu o amava. Sem Ele não iria. Pedi “deixe-me ver tua face”, eu precisava conhecê-lo, não porque não confiava, mas porque o amava tanto que queria morar nas suas entranhas. Ele me disse “ninguém pode ver minha face e continuar vivo, te mostrarei a minha bondade e misericórdia". Colocou-me em uma fenda, um lugar especial para que eu o pudesse ver passar, me escondeu de si com sua mão deixando

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que suas costas eu pudesse ver. Imediatamente caí com rosto em terra e o adorei, supliquei, “perdoe-nos, somos maus, mas se me amas não nos deixe. Nos tome como sua propriedade". Ele nos amou!… (Êxodo 33-34)

Nunca entendi como Moisés escreveu o livro de Gênesis se não estava lá. Cita nomes, idade de pessoas, detalhes com tanta precisão. Como Moisés sabia? Porque percebo que quando Deus passou e Se deixou ver as costas, Moisés viu por onde Deus já havia passado. Ele viu o que Deus havia feito anteriormente. E assim começa a escrever: “No princípio…” Eu o imagino pensando consigo mesmo: “Eu estou vendo o que a minha mente não alcança, tudo o que o Senhor já fez… Passe devagar… Não quero só ver, quero contemplar; passe devagar...” Pois chega um tempo na vida em que queremos dizer para Ele: “passa devagar Deus, pois esse ambiente é onde eu quero estar!” Ei, não tenha pressa em sair da presença de Deus. Ao longo de toda a história bíblica vemos Deus primeiro criando um ambiente para depois se manifestar: criou o jardim, a arca, o tabernáculo, isso nos mostra que Ele precisa de um ambiente adequado para revelar-Se. Nosso Deus é Deus de ambiente. O Ap. Luiz Hermínio nos ensina que “precisamos

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entender que Deus é nossa origem, por isso não podemos andar longe dEle, porque se andarmos longe dEle acontece conosco o que acontece com a árvore arrancada do solo, ou com o peixe retirado do mar”5

O ambiente preparado gera a ideia de intimidade. A origem do jardim do Éden, ali Deus fez um local para ter intimidade com o homem. O que Deus tinha em mente não era um monte de orações repetitivas hora após hora. Mas, o desfrutar de um lugar contemplativo, ser impressionado pela observação dos detalhes do jardim da intimidade e também cultivar o jardim, que nada mais é do que cuidar (em todos os aspectos) do lugar secreto, do lugar da intimidade. Adão recebeu uma ordem de Deus: “cultive o jardim e domine sobre ele” (Gênesis 1:26), ou seja, cuidar do meu lugar secreto é recebido por Deus como tempo de intimidade. Você sabe quando é íntimo de alguém quando momentos de silêncio não incomodam. Quando mesmo em silêncio estamos tranquilos e seguros no amor do outro. Nós sabemos que quando somos íntimos, nos sentimos em casa, tranquilos. Sua segurança e tranquilidade em Deus, mesmo no silêncio dEle, revela seu nível de intimidade com Ele. Deus gosta de ficar com você,

5 HERMÍNIO, Luiz, Paternidade para as Nações, 2017

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principalmente quando é você que escolhe isso. Agora se você alega, “não tenho tempo para Deus”, mesmo ainda estando aqui na terra, como quer passar a eternidade com Deus no céu? Essa é a incoerência da nossa geração. Eis aí, o contraste entre o jardim da comunhão da intimidade e de apenas ter horas de orações automáticas.

A única coisa que peço ao Senhor, o meu maior desejo, é morar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar em seu templo. (Salmos 27:4)

Tem tempo que é Ele quem diz: “Filho, passa devagar. Fique aqui. Está muito ocupado”. Assim como Marta que Jesus disse: “Uma coisa só é necessária, e Maria escolheu a melhor parte que nunca lhe será tirada” (Lucas 10). Isso é intimidade. Quando estamos na intimidade não queremos que acabe rápido. Sabe quando queremos que acabe logo? Quando a intimidade é por interesse. Mas a intimidade sincera nos motiva a desfrutar a comunhão com o objetivo do nosso amor, o Senhor. E esse amor só pode ser manifestado em um ambiente propício, criado para Ele.

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Estando nesse lugar espiritual, a prioridade é estar com Ele, desfrutar dEle, e ser como Ele. Não subestime, isso realmente basta. Quando você volta a viver o propósito original, só aí encontra plena satisfação.6

O quanto Ele tem de mim

A figueira já deu seus figos. Sabe o que isso significa? Acabou, você nunca mais vai precisar de folhas; não tem mais nudes para ser coberta. Quando naquela passagem em que Jesus secou a figueira porque ela só tinha folhas, eu entendo que quando chegou perto da figueira, o Senhor se lembrou de Adão que recorreu à figueira buscando suas folhas para se cobrir. Adão queria esconder alguma coisa, ele queria cobrir seu pecado. Entretanto, agora não temos mais nada para esconder. Queremos figos. Observe, no Monte Sinai, o homem disse: “mostra a sua face”, em Cantares, Deus está dizendo para igreja: “Noiva minha, mostra-Me tua face”. Não é mais

6 VILLAS BOAS, Alessandro, Quem é Jesus, 2020

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você que está pedindo para vê-lo, mas é Ele que está querendo ver você. Aquilo foi para um tempo. Se nós ficarmos na fenda da Penha só vendo o que Deus já fez, não estaremos preparados para ver o que Deus está por fazer daqui em diante.

Quer saber o que vai acontecer? Passe tempo com o Senhor, pois Ele vai soprar em seu coração o que vai acontecer. O problema é que estamos parados na fenda da Penha, quando deveríamos estar vendo o que Ele ainda tem para fazer. O meu recado para você é: saia daí. Isso foi há um tempo. Não é mais o tempo de ver as costas de Deus; é hora de ver a face dEle. Nós temos pressa, Deus tem tempo. Preferimos ver o mapa do que visitar o lugar? Não! Quando passo tempo com Deus, Ele me afasta das coisas dessa vida. Mas quando eu passo tempo ocupado demais com as coisas dessa vida elas me afastam de Deus. Então, a matemática aqui não é o quanto você tem de Deus, mas o quanto Ele tem de você!

Quando eu me disponho a entrar no secreto, além de conhecer mais a Deus, eu começo a me conhecer, começo a ver meus pecados. A pessoa que só vê os pecados dos outros é porque nunca ficou sozinho com Deus de portas fechadas.

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O lugar de intimidade, este lugar secreto, esta casa, nos muda. Quando eu entro nele, é a presença de Deus que eu acesso, neste lugar ficamos vulneráveis e não poderosos. Por isso que na hora da intimidade eu me sinto inútil, por que eu não estou acessando o poder, mas a presença dEle. Neste momento, o terror de parar revela a profundidade do meu vazio e todo vazio esconde uma falta, qual seria a sua falta quando fica sozinho? Estar em casa, neste lugar secreto, um ambiente seguro, não parece convidativo? Por que fugimos deste lugar? Alguns têm medo de ter intimidade porque a intimidade trará responsabilidade.

As exigências de Deus são para os íntimos.

Mas, depois que você descobrir que a fonte é inesgotável, com toda certeza se tornará insaciável. O que recebemos na intimidade proclamamos publicamente. Assim como a nossa vida no secreto alimenta a intimidade com Deus; nosso pecado no oculto alimenta o inimigo. O que me leva a concluir que: o inimigo se alimenta do oculto, eu me alimento

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do secreto. Onde o diabo vive? Nas sombras, no submundo, onde há sujeira e lixo. Quer deixar o diabo alegre, é dar um monte de lixo pra ele. Ele gosta de chafurdar no lixo. Que o nosso coração venha a clamar, assim como disse Brennan Manning: “Eu estou morrendo de vontade de estar com você. Eu estou literalmente morrendo para estar com você”.7 Não preciso ser útil, preciso ser dEle

Intimidade vem antes do serviço. Temos que cuidar com o muito servir, porque só nos sentimos úteis quando temos coisas para fazer, sem serviços nos sentimos inúteis. Nós temos que ser dEle antes de termos utilidade. Quando a palavra diz: “Apartai-vos de mim”… É porque pecou? Não. É porque “não vos conheço”. Talvez fizemos de tudo, servimos, fomos úteis, porém o mais importante esquecemos: tudo isso sem intimidade. A Intimidade não anula o serviço. Precisamos ter

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MANNING, Brennan, Convite à Solitude, 2012.

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cuidado nesse ponto. Por que intimidade sem serviço é como a fé sem obras. A intimidade não nos deixa livre do serviço, uma coisa não anula a outra. O que estamos fazendo aqui é colocar na ordem correta: primeiro a intimidade, depois o serviço. Quase sempre vivemos os serviços como substitutos da intimidade.

Há um Deus inteiro para você. Mas isso virá ao custo de um pouco de desentendimento de pessoas que vocês não esperam.

Leonardo

Talvez a priorização da intimidade vá te custar alguns serviços e muitas vezes, algumas pessoas que você menos espera, se tornam parte dos seus obstáculos, pode parecer que você está fazendo a escolha errada, trocando o muito servir. Sabemos onde está o nosso lugar, mas estamos sempre sendo arrastados para muitas direções como se fôssemos desabrigados. Nós temos casa, os afazeres estão sempre

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exigindo a nossa atenção. Levam-nos tão longe de casa que no fim nos esquecemos do nosso verdadeiro endereço, isto é, do lugar onde podemos ser encontrados por Ele.

Jesus reage a essa condição de estarmos cheios, porém insatisfeitos. Estamos atarefados e desligados. Em todo lugar e nunca em casa. Ele quer nos levar ao lugar ao qual nós pertencemos. Só então, o desejo de nosso verdadeiro lar pode ser desenvolvido. É a respeito deste desejo que Jesus fala quando diz: “não vos preocupeis [...] buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino [...] e todas essas coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus 6:33)

Se você criar um ambiente de oração e adoração, o rio de Deus irá fluir sobre esse lugar, é uma consequência da intimidade. Se você estiver neste lugar, encontrado em casa, você estará no rio de Deus naturalmente enquanto trabalha, conversa, estuda, serve, cozinha, medita nas Escrituras, louva e ora. E assim, como uma pessoa deixa um rio e sai encharcada de água, quando você sair da presença de Deus, estará encharcado da Sua essência para transformar tudo e todos à sua volta.

O mundo nos odiará se simplesmente não dermos atenção às suas prioridades. O mundo nos odiará por não

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darmos atenção ao que ele pensa de nós. Há uma incompatibilidade radical entre a vida que o mundo quer que você viva e a vida que Cristo deseja que você viva. Você sabe que o mesmo acesso que Paulo teve a Cristo nós temos também? Estamos dispostos a abrir mão de uma agenda de compromisso para conhecer mais a Jesus? Abrir mão de liberdades e prazeres? Era isso que Paulo fazia. Não fique tentando fazer para se tornar, procure se tornar para fazer. Ou você aprende a dizer “não” ou o seu “sim” vai levar a perdê-lo. Independente das dificuldades lembre-se, Cristo vale muito mais do que todo sacrifício. Em Cristo não há limite para a nossa loucura. Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo… (Filipenses 3:8)

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Capítulo 3

Saindo de casa

…o filho mais jovem arrumou suas coisas e se mudou para uma terra distante… Lucas 15:13

A candeia estava acesa sobre a mesa, o jantar estava servido. Pão, cordeiro assado com cebolas e vinho novo no odre. Cansados, depois de um longo dia de trabalho no campo, sentados à mesa, estavam o pai no seu lugar à ponta, os dois filhos, um de frente para o outro ao lado do pai, e a mãe que ainda não terminara de servir antes de se juntar a eles. Como de costume aquele momento era um dos mais reconfortantes do dia, os pés estavam lavados, as roupas trocadas e limpas, e uma boa refeição, que satisfazia o corpo e alma, estava posta. Mas naquele dia algo diferente estava para acontecer. Quando finalmente, a mãe se senta à mesa, para a ação de graças, o jantar começa. Como sempre a

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comida estava deliciosa, e com carinho, enquanto comiam, trocavam olhares entre eles. Um desses olhares estava um tanto petrificado durante o jantar. Já fazia algum tempo que o Pai estava notando que o seu filho mais novo parecia, de certo modo, insatisfeito com algo. Foi quando então, logo após terminarem a refeição, o pai chama ao filho mais novo e pergunta se algo o está incomodando…

“Um homem tinha dois filhos”. O filho mais jovem disse ao pai: ‘Quero a minha parte da herança’, e o pai dividiu seus bens entre os filhos. Alguns dias depois, o filho mais jovem arrumou suas coisas e se mudou para uma terra distante, onde desperdiçou tudo que tinha por viver de forma desregrada”.Lucas 15:11-13

Jesus conta essa parábola e, com esse primeiro versículo e a introdução, a gente lembra dessa estória, que é uma parábola, não é uma história com H, é um conto que Jesus usou para expressar um pensamento, onde Ele queria dar um exemplo.

E nesse ponto, quero me ater não ao filho, o personagem principal aqui é o Pai. Toda a estória gira em

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torno do Pai, não dos coadjuvantes, os dois filhos, ou o filho pródigo caçula. Jesus então, queria falar do amor do Pai. De um Pai que ama sem explicação, de um amor sem medida. Um amor que não cabe em um raciocínio lógico. Um amor que não se compreende, apenas se recebe.

O Pai representa a figura de Deus na vida de um filho

E nessa parábola, Ele conta que havia um pai com dois filhos e um deles reivindica parte da sua herança, e o texto segue dizendo que o pai deu a herança aos dois (aqui é uma informação muito importante, porque a maioria de nós pregadores às vezes, omitimos este fato e damos o foco no filho pródigo, mas todos os dois receberam a herança). Distintamente, um usou da sua liberdade e seguiu o seu caminho e o outro não usou da sua liberdade e não usufruiu da herança que também recebeu.

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A bíblia diz que o filho mais novo pegou a parte que lhe cabia e saiu, e você já deve ter ouvido esta ministração, (se você não ouviu, você leu na Bíblia, porque você lê a Bíblia!) O Evangelho de Lucas conta ainda que o filho mais novo pegou a sua herança e saiu, e nós sabemos que ele gastou rapidamente tudo que havia ganhado com os prazeres da vida, desperdiçou tudo de forma muito não-linear que pode ser comparado às realidades muito pertinentes de casos como nós que, às vezes também pegamos as nossas heranças e principalmente, a liberdade, e saímos por aí e desperdiçamos rapidamente. “Quando seu dinheiro acabou, uma grande fome se espalhou pela terra, e ele começou a passar necessidade. Convenceu um fazendeiro da região a empregá-lo, e esse homem o mandou a seus campos para cuidar dos porcos.”

Lucas 15:14-15

Depois que esse menino gasta tudo, ele se depara com uma situação onde não lhe restava mais nada; o único recurso que sobrou foi arrumar um emprego numa fazenda de porcos, o que era algo completamente contrário às leis judaicas, pois

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para os judeus, até os dias de hoje, é repugnante trabalhar, possuir ou se alimentar de um animal de pata rachada. Então, olhando para esse acontecimento, uma fenda se abriu na lei: O comportamento do filho mostra como um filho pode ofender o coração do pai; e como se já não tivesse ofendido o pai o suficiente pedindo parte da herança, ele ainda o ofende mais outras vezes: Ele sai de casa, segunda ofensa. Vamos à terceira ofensa: gasta tudo que o pai, com amor, tinha lhe dado. Quarta ofensa: Ele vai trabalhar para os inimigos do pai, um inimigo da cultura paterna. Nesse ponto começamos a compreender os níveis altíssimos de insultos do filho em detrimento ao pai. E se quiséssemos, poderíamos dissecar ainda mais e encontraríamos enormes ofensas relacionadas a essa casa de paternidade. Pois bem, primeiro ponto que gostaria de analisar é qual foi a mola propulsora? Qual foi o palito de fósforo que riscou incêndios no coração desse menino? De onde que partiu essa vontade? Qual foi a iniciativa que levou ele até esse desejo? Uma possibilidade do que pode ter gerado o desejo de sair da casa de seu pai foi pela lei da comparação.

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Capítulo 4

Criaturas, fruto do Amor

…Pois ele nos chama de filhos, o que de fato somos!... 1 João 3:1

Você já parou para pensar que Deus criou o sol, terra e mar por sua causa? Sim, para nós. Pois somos fruto de Sua criação. E cada fruto é único em suas diferenças, mesmo que a semelhança e o sabor seja o da árvore. Porque então nós teríamos qualquer necessidade de nos comparar?

Um velho ditado popular diz “a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa”. Aí está a primeira lei da comparação. E lá no interior, de onde eu vim, existe um ditado que dizia: “a formiga quando quer se perder, cria asa”. É fácil de identificar, que quando alguém começa a declarar que nada mais presta para ele em casa, em tudo vê defeito, cuidado! Talvez o próximo passo seja se perder. E quando inicia o sentimento de autocrítica, ou que não se consegue mais desenvolver um olhar que enxerga o valor das coisas, talvez, o próximo passo, é jogar tudo fora. Sempre que começamos a

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nos comparar, inicia-se uma divisão em nosso coração. Se você que está aqui, dedicando sua atenção a este livro, começar a comparar o que você está recebendo aqui com o que tem lá fora, logo, temos um efeito: você dividido!

Theodore Roosevelt nos ensina que “a comparação é o ladrão da alegria”. Lisa Bevere8 colabora falando sobre comparação: A comparação tem um pouco disso. Se permitida, ela irá afastá-lo do seu do seu verdadeiro centro. A comparação irá tentar inchá-lo através do veículo traiçoeiro do orgulho, ou irá puxá-lo para baixo através da tirania do orgulho. Seja de uma forma ou de outra, não irá demorar muito até que você se sinta desajustado, como se estivesse do lado de fora olhando para dentro.

Coisa terrível é quando participamos de muitas mesas distintas, porque gera um mal estar muito grande no organismo. E aqui eu deixo o primeiro conselho para nós:

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BEVERE, Lisa, Sem rivais, 2012

Nada que você receber lá fora substitui aquilo que um pai pode dar!

O primeiro ponto que percebo na vida desse menino é quando ele começa a comparar o que ele tem em casa com o que se encontra lá fora; o tipo de alegria que ele tem na casa do pai com as ‘alegrias’ de fora; o coração dele se divide.

“Respondam: Se seu filho lhe pedir pão, você lhe dará uma pedra? Ou, se pedir um peixe, você lhe dará uma cobra? Portanto, se vocês, que são maus, sabem dar bons presentes a seus filhos, quanto mais seu Pai, que está no céu, dará bons presentes aos que lhe pedirem!” Mateus 7:9-11

Então, porque trocar o alimento espiritual de um pai como esse por um alimento lá fora? Ou alegrias lá fora? Que tem mais a ver com uma arte, uma figura, uma ilusão do que com uma realidade. Por que trocar isso?

Gostaria de fechar esse primeiro ponto dizendo que se há em seu coração qualquer lei de comparação, que você possa a

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partir dessa leitura limpar da sua mente. Você não pode ter um plano B. Não pode haver uma segunda opção. Deus tem que ser suficiente para você. Não há nada comparado ao amor dEle, a alegria dEle, a paz dEle, ao alimento que Ele dá para você! Nada é comparado a isso! Ninguém vai tratar você como Ele trata! Ninguém vai abraçar você como Ele abraça! Ninguém vai consolar você como Ele consola, ninguém vai cuidar de você como Ele cuida!

Falsa felicidade

Não existe alegria de festas comparada à alegria da festa da casa do Pai. Quando o reino está em festa, as nossas festinhas particulares acabam em nada. Se o Reino de Deus está em festa, e você está no Reino (a Bíblia diz em Romanos 14:17 que o Reino do Senhor é paz, justiça e alegria) automaticamente você vive isso. Mas, se o reino que você está vivendo é um reino de tristeza, avalie! Seu foco está desajustado, porque o Reino de Cristo é um Reino de alegria. É bem possível você encontrar uma pessoa andando em um

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veículo no valor de 500 mil reais, cheio de caixas de remédios no console do seu carro, e você encontrar talvez, uma pessoa empurrando uma carroça e juntando papelão assobiando e cantando. Como a alegria não estaria lá, mas estaria aqui? Porque o Reino de Deus não é comida e nem bebida. Não é um reino material, mas de dentro para fora, é essencial. Amigo, nem tudo que reluz é ouro, então não compare o que “parece que os outros têm”, com aquilo que você tem. Ou melhor, não compare a falsa felicidade que você enxerga nos outros que talvez têm muita coisa, com o mais importante que é ser amado por um Pai. Tenho certeza de que depois que você entender o seu lugar nEle, o “muito ter” nunca irá se comparar com o pertencer ao reino de Deus.

O pertencimento não é palpável, não se mede, e não se consegue pesar. Conte-me como você explicaria Deus? Conseguiria medi-Lo? Como você descreveria um estonteante pôr do sol a um homem cego? Como você explicaria uma sonata clássica para uma pessoa totalmente surda? Uma tarefa quase, se não impossível, pelo simples fato de serem impalpáveis. São essenciais. A alegria de estar com o Pai é genuína, por mais que venham dores e lutas. O erro é que tem muita gente procurando em pessoas e em coisas o que só vai

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encontrar em Deus. Então, quando vierem as dores e quando os olhos começam a chorar, a convicção da alegria que temos no Pai faz com que as nossas lágrimas morram em um sorriso. Por isso nós precisamos das referências das dores, para valorizar quando as coisas boas chegarem em nossa vida. As lutas vêm para exceder nossos limites, então não chore suas feridas, comemore essa dor. Não reclame das suas lágrimas, entenda que elas são o reflexo do que está por vir. Esteja convicto de que a verdadeira felicidade é pertencer ao Seu Reino de alegria, justiça e paz.

Seu conceito de Deus será refletido em você. As percepções de quem o seu Deus é irão se refletir na sua vida e nas suas escolhas.

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Capítulo 5

Gratidão, ato de compreensão

Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos! Salmos 103:2

…O jantar estava ótimo como sempre. Após um dia tão cansativo de trabalho, o que mais me preocupava naquela noite era meu filho mais novo. Durante o dia todo ele não falou muito e o pouco que falava era mais ríspido que o normal. Havia um tempo que ele não sorria. Parecia insatisfeito, parecia distante, isso entristecia meu coração. Nada havia mudado na rotina, nada havia sido retirado dele, tudo que estava ao nosso alcance nós o proporcionamos, ele tinha tudo assim como o outro. Resolvi questioná-lo. O que estava acontecendo? Ele me desejou a morte. Não podia crer que a sua parte da herança estava sendo reivindicada. Como, em vida, eu teria essa obrigação? Foi pior do que desejar a minha morte, foi como apunhalar-me o coração. Quão

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ingrato. Ele tinha toda liberdade em casa. Não entendo o que o fez ficar assim…

Talvez, outra mola propulsora que jogou esse menino para fora da casa de seu pai foi a insatisfação. Coisa terrível é, quando dentro das suas limitações, você procura dar a melhor vida para o seu filho, dentro do que você pode, dentro do seu ajuste financeiro, você faz o que pode. Mas o filho sempre fica insatisfeito. Sabe, às vezes eu tenho medo de sentir o que o coração de Deus sente!

Porque se nós já temos prova de que o ser humano que está insatisfeito se torna reclamão, imagina quanta insatisfação podemos demonstrar, e quanta hipocrisia às vezes temos diante de Deus.

Deus dá o sol, Deus dá chuva, Deus dá alegria, Deus dá comida, Ele abre portas, Deus dá casamento, filhos, Deus dá bens e faz tantas outras coisas. Deus dá o maior milagre que é o perdão dos nossos pecados e nos garante vida eterna, nos dá a salvação em Seu filho Jesus Cristo e parece que nós temos a

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sensação de que ainda Deus está devendo alguma coisa para nós. Parece que ainda não está completo, que nós precisamos de algo mais. Existe sempre uma sangria desatada que nada consegue estancar! Você é feliz com o que você tem? Você é Grato ao Senhor com a vida que você vive?

Se você só agradece a Deus quando Ele faz o que você pediu, então você não está agradecendo porque você ama a Deus, você está agradecendo porque você ama você!

Insatisfeitos sempre

Assim como quando o povo hebreu estava no deserto e Deus mandava carne, e o povo reclamava, mandava pão e o povo reclamava, fez a água sair da rocha e o povo reclamava, mandava a nuvem durante o dia, o povo reclamava… A insatisfação é terrível porque se você tem um funcionário insatisfeito parece que você está sempre devendo para ele.

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Você que é casado com uma pessoa insatisfeita e faz de tudo, e ele sempre dá um jeito de reclamar da comida que você coloca na mesa, um dia tá muito salgado, outro dia tá sem sal, nunca tem satisfação, nunca tem gratidão, e talvez o próximo passo seja largar tudo. Nunca estar satisfeito revela a distância que eu vivo de Deus!

É verdadeiro que nunca estar satisfeito revela a distância que eu vivo de Deus, e a busca pelos prazeres daqui revela o nosso vazio. E o que esse menino foi buscar fora revela que o coração dele não recebia o que o pai dava, revela que ele estava vazio e, mesmo quando dentro da casa do pai, no entanto, o pai não estava dentro dele.

Quando você conhece alguém que você dá a mão e ela quer o braço talvez isso esteja revelando o quão longe ela está de Deus. Porque uma vez que eu encontrei o amor do Abba, que eu encontrei o amor de Pai, e que eu tive uma revelação desse amor, nada me satisfaz mais que isso. E as coisas daqui, neste plano terrestre, são muito importantes, mas nenhuma

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delas supera estar neste amor, me surpreende como Ele consegue me surpreender!

Grande exemplo de gratidão foi Davi, que mesmo passando por tantas provações, tantas situações extremas, tantos erros e acertos, ainda sim deixou como herança para nós seus cânticos e salmos sendo grato ao Senhor. Muitos deles escritos em meio às circunstâncias mais difíceis da sua vida. Muito se prova que Davi entendeu o amor de Deus. “Então a minha alma exultará no Senhor e se regozijará na sua salvação”. (Salmos 35:9)“

Ao entendermos o amor de Deus somos gratos por tudo que Ele faz

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Capítulo 6

Um convite à loucura

…uma grande fome se espalhou pela terra, e ele começou a passar necessidade. Lucas 15:14

Viver no mundo é viver em necessidade constante porque nada nos satisfaz verdadeiramente. Aquele menino que deixou a sua casa, deixou o chuveiro quente do pai, a roupinha, a cama, as três refeições diárias, deixou um ombro amigo, deixou um colo, deixou uma identidade. E é bem possível que quando ele saía na rua as pessoas diziam: lá vai o filho do "Zé''. Porque um filho carrega o nome do pai. Principalmente quando o pai é bom. Se seu pai é bom, todas as pessoas que o conhecem, vão vender fiado para você, porque sabem de quem você é filho!

Talvez eles dissessem: eu o conheço, ele tem identidade, ele tem história, ele tem fundamento, ele é filho de um Deus verdadeiro; sabemos a quem ele serve, sabemos onde a fé dele

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está firmada, sabemos quem ele confessou, ele não está perdido, ele tem um Pai.

Isso pode se aplicar a você que talvez saiu um pouco fora do propósito, porém, a identidade do Pai continua respondendo pelos seus atos. As pessoas olham para você e sabem de quem você é filho. Você pode ter se perdido, mas Ele não perdeu você de vista.

Depois de vender todas as coisas, foi-se tudo, e chegou um dia que ele amanheceu na rua. Mas ainda restou o orgulho, e pensando consigo, ele resolve não ceder, não voltar. “Vou mostrar que eu consigo” é a primeira iniciativa dele, racional. Não foi cair em si. Ele caiu em si lá na frente, mas a primeira busca dele foi tentar se levantar sozinho. É assim que a gente faz. Nós temos um brilho, um orgulho próprio que diz: não, eu vou mostrar que eu consigo, eu vou provar que eu vou me levantar, eu vou estudar, eu vou arrumar um emprego, eu vou ser alguém, vou provar paro o papai e para a mamãe! Ei, nada contra essas coisas, pelo contrário, todas elas são necessárias, mas estamos falando do orgulho.

…O sol já estava alto, quando olhando ao seu redor, aquele filho mais novo não enxergava mais nada, nenhum

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dinheiro, nenhum amigo, nenhuma dignidade. Estava encostado na entrada de uma cidade perto do local onde a sua última farra, da noite passada, tinha acontecido. Resolvendo ele ir atrás de algo para comer, percebeu que teria de trabalhar, e as opções não eram assim tão atrativas. Batendo na porta de um certo fazendeiro, ele se prontifica: “olá, eu sou filho do Zé, meu pai é um dos maiores fazendeiros da região, eu nasci mexendo com gado, com ovelhas, o que o senhor pedir pra mim fazer, eu faço. Pode me entregar 100 vacas que no final do ano eu vou entregar 500 terneiros, porque eu sei fazer o negócio acontecer, eu tenho experiência, eu tenho currículo.” O homem o aceitou…

Nós sabemos que esse momento da história não era o melhor momento deste moço, ele estava desesperado. E sabe o que nós aprendemos aqui? É que a nossa experiência, nosso currículo, longe do Pai não serve para nada! E os nossos talentos, os nossos prestígios, os nossos valores, longe do Pai não têm serventia.

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Os meus talentos e os meus pontos fortes, longe do Espírito Santo, tornam-se as minhas maiores fraquezas.

Aquilo que na mão de Deus é troféu, na minha mão é desgraça. Eu acabo com a minha própria vida através dos meus talentos se tirá-los da mão do Senhor. A minha vida é aquilo que produzo na mão dEle e se voltar para a minha mão eu destruo tudo à minha volta. Então a nossa experiência, os nossos talentos, longe do Pai, não servem para nada!

Talvez ele tenha batido em uma porta, até em duas, três, mas a que ele menos imaginaria que um dia iria ver, acabou sendo aberta para ele. E o que esse menino nunca imaginaria era que um dia se submeteria a trabalhar para os inimigos do seu pai e da sua cultura! Terrível a decadência, falência social, falência moral. Falência total!

Esse menino não conseguiu funcionar na mão de um empresário, não conseguiu funcionar na mão de ninguém. Porém aquilo que não funciona na mão do mundo,

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aquilo que não funciona nos nossos nichos, aquilo que não funciona na sua força, na mão do Pai se torna benção!

No decorrer da estória, sabemos que ninguém lhe dava o que comer. E sabe o que eu achei interessante? As mesmas pessoas que antes ocupavam espaços na sua mesa, o deixaram passar fome. Ninguém dava nada para ele comer e isso não é diferente dos dias atuais, porque quando você tem muito, não falta gente à sua volta, mas, quando você precisa, aqueles que você tinha perto não são capazes de ajudar.

Caindo em si

Precisava passar por tantas coisas? Não poderia ter caído em si lá no começo? Precisava perder tudo? Poderia ser na metade do caminho. "Eu já gastei mais da metade da herança, eu não vou ser bobo de gastar o resto e agora vou voltar para casa do pai. Já que sobrou alguma coisinha, lá no pai tem casa, tem abrigo.” Mas não, teve que comer do “pão que o diabo amassou”, teve que ser humilhado, ser pisado. Porque não tinha serviço mais humilhante na época. Quantas vezes nós

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já passamos por humilhação? Perdemos tudo? Agora é hora de cair em si antes que você perca tudo, antes que não sobre nada, antes que você comece a ser humilhado, pisado pelas pessoas. Há uma porta aberta e essa porta se chama Jesus! Ele nos faz um convite à loucura que é deixar de lado o orgulho e experimentar viver em Seu amor!

“Eu amei você com amor eterno, com amor leal a atraí para mim.” Jeremias 31:3

Quando finalmente caiu em si, disse: ‘Até os empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui, morrendo de fome.” Ele estava desejando a comida dos porcos, então tomando a decisão de voltar, começa a ensaiar um discurso. "Eu irei ter com meu pai e direi: pai, pequei contra o céu e contra ti, não sou digno de ser chamado teu filho, faça-me um dos teus jornaleiros trabalhadores.” Mesmo tendo atingido a camada de miséria mais terrível, ele conseguia guardar na consciência, no paladar, o gostinho que tinha o tempero da comidinha da casa do papai.

Quantas vezes nós estivemos num atoleiro de lama, como diz o Salmos 40: Tirou-me de um poço de desespero, de

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um atoleiro de lama. Pôs meus pés sobre uma rocha e firmou meus passos. Quantas vezes nos alimentamos de coisas erradas e porcarias, e de repente vem uma crise de consciência e temos saudade da comidinha do pai! Temos saudade da casa do papai. Nas entrelinhas dessa parábola, eu consigo perceber que o filho pródigo tinha saudade da culinária do papai. Tem gente que às vezes tem prazer na culinária do satanás, vive só comendo o pão que o diabo amassou. Quem gosta da padaria do cão tem prazer em comer lixo. Gosta mais de comer o pão que o diabo amassa do que o pãozinho fresquinho da casa do pai. Sabe por que? Porque na casa do pai, não dá pra fazer como quer; na casa do pai tem horário, tem que andar na linha, tem princípios, tem que aprender a ser homem e mulher de verdade. Quantos trabalhadores de meu pai tem alimento com fartura do bom e eu aqui comendo na culinária do capeta? Do que você tem fome? O que instiga nosso apetite? O que desejamos? Do que temos nos alimentado?

Que o Espírito Santo nos conduza, e que a nossa mente seja expandida. E quem sabe hoje não é o dia de cair em si?

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Cada um naquilo que está vivendo, porque todos temos áreas na vida que precisam de maior atenção. Essa palavra não é para quem não leu este livro, mas a palavra é pra você! Qual tem sido a nossa fome? Será que nós temos na nossa consciência a saudade que nos remete às coisas do Pai? Ou será que estamos na casa do pai e temos saudade das coisas lá de fora?

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Capítulo 7

Amor que constrange

De qualquer forma, o amor de Cristo nos impulsiona… 2 Coríntios 5:14

A dor no estômago estava insuportável, a um nível que o fez desejar aquilo que os porcos estavam comendo. Ninguém havia lhe dado nada para comer, o trabalho era cansativo e a certo ponto humilhante. A noite estava se aproximando mais uma vez. Em pensamento ele se arrependia, apesar de ainda, de fato, não ter tomado a decisão de voltar atrás. Mas naquela noite, caindo em si, o jovem lembrou-se que mesmo os empregados na casa de seu pai estavam desfrutando de uma vida melhor do que ele estava fadado no momento. Então, para melhorar de vida ele decidiu: Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, quem sabe ele me dá um emprego. Mesmo que

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eu não seja aceito mais como filho, eu posso ser aceito como empregado. Um empregado pode ter dignidade, olhe só para mim! Poderia eu, ter dignidade novamente?...

Poderíamos nós também, com intenções equivocadas, às vezes, procurar a igreja só para mudar de vida? Pense comigo, Jesus não quer mudar a sua vida, Ele quer transformar você. Ele não está disponível apenas para melhorar a sua vida, para arrumar um emprego para você, ou para trazer benefícios, não, não apenas isso. Ele quer te transformar porque o Evangelho é poder de Deus. Ele quer trazer transformação de dentro para fora! Se antes mentia, depois dEle, não mente mais.

O Senhor tem uma caçamba de amor para despejar através disso aqui, tem pérolas preciosas sendo derramadas! Preste atenção nisso: O seu lugar na mesa ainda está vazio, você faz falta!

Filho Pródigo ouça isso! Esse é o amor de Deus! Esse amor não cabe no nosso peito, nem na nossa mente, não procure entender esse Pai. Só quem precisou de um pai e não teve, depois que encontrou Deus, sabe o que é ter Deus como o Pai.

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E o filho voltou, mas voltou com uma mente operária, para ele o máximo, o lugar mais alto, que ele poderia encontrar novamente na casa do pai seria de empregado. No entanto,

Um pai de verdade é aquele que ajuda a remover os limites que você mesmo estabeleceu!

Talvez você chegou até aqui, e neste ponto da leitura, levanta tais pensamentos: “Eu não sei mais o que falar, eu só quero um cantinho para ficar quieto porque meus talentos se foram, minha moral se foi, eu não tenho mais coragem, não tenho mais forças para mais nada nessa vida.” Mas eu te digo, a sua mente pode estar limitada, mas o trabalho de um pai verdadeiro é expandir o limite dos filhos, e o Pai está dizendo mais uma vez para você: “Dê mais uma chance para você mesmo e Me dê a oportunidade de expandir você?! Vem comigo, deixa eu expandir seus limites, pois você pode vir com uma mente de operário mas Eu vou com uma mente de pai! De amor exagerado!

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…Os dias não eram mais os mesmos na fazenda, uma cadeira ficava sempre vazia, ao lado do pai. Na hora do jantar, o semblante da mãe se tornara carregado de tristeza. O filho mais velho andava mais quieto que de costume e um tanto mais irritado (não achava justo com ele toda aquela comoção sendo que o errado era o irmão). Certa manhã, o pai não foi para os campos pois estava aos arredores da casa cuidando de alguns reparos, quando se percebia, estava olhando em direção à estrada longa e fina que se perdia nas montanhas, era como se algo dentro dele o impulsionava a fazer aquilo, uma esperança de que avistaria seu filho regressando para o lar arrebatava seus olhares. A hora sexta já se aproximava. O pai trabalhando de cabeça baixa foi alarmado por um servo que gritou: “Senhor, alguém vem se aproximando!”. Ao erguer os olhos, mesmo que distante, o pai reconheceu: Era seu filho! O filho pródigo que havia abandonado a sua casa! Ele estava voltando! O coração pulsava acelerado. Sem demora, segurando suas vestes, o pai cheio de compaixão correu ao encontro do filho, com os olhos inundados em lágrimas. Não se conteve em esperar até que ele chegasse mais perto. Quando se aproximou, seu coração ainda palpitante foi arrasado pela aparência decadente de seu filho,

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e segurando o seu rosto magro entre as mãos o beijou e o abraçou… O filho disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra o senhor, e não sou mais digno de ser chamado seu filho’. "O pai, no entanto, disse aos servos: ‘Depressa! Tragam a melhor roupa da casa e vistam nele. Coloquem-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Matem um novilho gordo. Faremos um banquete e celebraremos, pois este meu filho estava morto e voltou à vida. Estava perdido e foi achado!’. E começaram a festejar. Lucas 15:21-24

O filho tenta se explicar, mas o pai não exige explicações. Ele voltou para os braços do pai. Para quantos abraços você já correu? Quantos abraços que eram inseguros? Quantos abraços que lhe traíram? Quantas pessoas que lhe machucaram? Quem sabe hoje você pode levantar e correr na direção dos braços do Pai. Quando o seu pai o viu caminhando distante, ele correu. A cultura diz que era ridículo um pai correr, e eles usavam aquelas roupas de estola e era feio, era ridículo, era de se

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menosprezar ver um velho segurando o vestido e correndo. Porém naquele dia isso não importava.

O pai nos dá a impressão de que todo dia ele olhava para o caminho que aquele filho saiu, esperando um dia ele voltar pelo mesmo. Talvez ele pensasse “quem sabe hoje ele vai voltar” e esse tipo de amor não cabe na mente ninguém, porque nós, às vezes chegamos a alguns estados que ninguém mais confia, alguns estados que ninguém é capaz de investir dez reais em nossa vida, ninguém é capaz de nos pagar um café, podemos chegar a um momento da nossa vida que ninguém mais quer andar conosco, porque é passar vergonha, e talvez você não, mas eu já me encontrei nesse lugar de desonra.

Ah! mas esse Pai… Aqui ele não tem problema em passar ridículo para se aproximar de você. Esse Pai, ele não se preocupa com o que vão falar, Ele só quer o filhinho volta. Podem falar meu querido! Você e Deus são maioria!

Quanto

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mais você corre para o Pai, mais longe de você fica, e mais perto fica da identidade que Ele gerou para você.

Como diz, em uma de suas músicas, Alessandro Villas Boas, “quanto mais eu corro para Ti, mais eu me deixo para trás.” O filho preparou muitos argumentos, ele veio durante o caminho decorando um texto para dizer, “Eu vou chegar lá, eu vou dizer assim, assim, assim…”.

Mas preste atenção, enquanto o filho vem preparando os argumentos, o Pai tá preparando uma festa! E os seus argumentos para Ele não importam! Tanto é que quando eles se abraçam, o filho ameaça começar a falar e o pai interrompe o discurso para dar uma ordem aos servos: “tragam a roupa limpa, tragam o anel, tragam calçado, podem matar o bezerro cevado porque hoje tem festa porque esse filho estava perdido mas ele foi encontrado!”

Deixe-me dizer uma coisa para você: há uma festa esperando o seu regresso, há uma festa preparada e uma mesa posta: Uma toalha limpa, talheres limpos, o alimento está sendo preparado. Então meu filho, volte logo, porque nós queremos fazer uma festa pela sua volta! Estamos só esperando você. Enquanto você não chegar o bezerro não vai ser morto, nós vamos sentar, mas não vamos comer porque o Pai só libera o banquete quando todos os filhos estiverem juntos e na mesa.

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Querido leitor, o pecado não coloca ninguém no inferno, e você pode me perguntar: como, Pastor? Não, o pecado não coloca ninguém no inferno, o que coloca pessoas no inferno é a falta de arrependimento. São pecadores que não se arrependem que vão para lá, porque os pecadores arrependidos aos pés do Pai recebem misericórdia. Ele está sempre com seu olhar procurando um pecador arrependido e no próximo capítulo falaremos mais sobre esse amor particular. Esse tipo de amor só Deus conhece! Deem graças ao Senhor , porque Ele é bom. Seu amor dura para sempre! (Salmos 136:1)

Por fim, o irmão mais velho que não gostou desse negócio todo, começou a brigar, criar problemas, por causa de toda a história ocorrida. Não briguemos por causas tolas! Se for para morrer, vamos morrer por algo que realmente seja grande. Não discuta por coisas insignificantes. Às vezes os irmãos mais velhos ficam na porta atrapalhando a entrada dos que estão querendo se achegar ao pai. Deixe o aleijado entrar, deixe o pecador entrar, deixe o arrebentando entrar, não fique criando caso, problemas, discussões que não levam a nada, a

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lugar algum, isso só atrapalha um filho arrebentando que está à procura de um colo do Pai.

Se você quiser gastar sua vida, se quiser defender uma causa, faça por uma causa que vai custar sua vida, não sua língua! Por que ao invés de você ofertar a sua língua, não oferta a sua vida por uma causa?

E, nunca esqueça: quem te irrita, te domina, meu amigo! Entende? Se alguém consegue me irritar, essa pessoa passa a me dominar. Não deixe ninguém te irritar não! Deixa passar! Infelizmente o espaço que o diabo ocupa é o espaço que a igreja rejeita. Porque se a gente não ocupar alguns espaços vazios, o inimigo faz. E se nós ocupássemos todos os vazios, não haveria espaço para ele! O problema é que nós deixamos muitas lacunas em nossa vida. Então se sente à mesa e celebre junto com a família.

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Capítulo 8 Ágape

Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro… Lucas 22:61

…Ele tinha sido capturado, eu não sabia o que fazer. Eu sempre sabia o que fazer. Naquele momento não. Alguns guardas acenderam uma fogueira e tentando me disfarçar sentei-me junto a eles. O meu corpo mesmo que gélido por dentro, aos poucos, se aquecia com o fogo. O Mestre foi levado até a casa do sumo sacerdote e eu o segui de longe. Tentei não ser visto. Até que fui confrontado por uma mulher que me perguntou se eu era galileu, e prontamente neguei. A primeira vez. Depois de escapar do primeiro questionamento, mais uma vez fui indagado, agora por um homem que afirmava que eu era um dos discípulos, é claro, eu lembrava do rosto dele mas fingi não vê-lo. Neguei pela segunda vez.

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Minhas mãos começaram a suar, estava ficando encurralado, não sabia se levantava e saia dali ou se esperava ver o que aconteceria ao meu Mestre. Já estava confuso em meus pensamentos. De repente apareceu um outro homem que me olhando afirmava aos outros sentados ali o quanto eu me parecia com um galileu. Inevitavelmente disse a ele que não sabia do que ele estava falando. Neguei pela terceira vez. Quando neste exato momento, o galo cantou. E quando o galo cantou, tudo ao meu redor pareceu desaparecer, em meus ouvidos ressoava o som que me condenava, eu o traí. Atônito, olhando ao meu redor vi alguém, era Jesus. Ao longe Ele se virou na minha direção e olhos dEle encontraram os meus e lembrei-me do que me disse pouco tempo antes, durante o jantar… (Lucas 22:55-61)

Mesmo calado ou sem fazer qualquer expressão, somente com um olhar, Jesus marcava as pessoas. Esse texto chama atenção pelas palavras que indicam a visão, como as expressões, “vendo-o olhou diretamente nos olhos”, por isso, neste momento, vamos falar um pouco mais sobre o olhar do que os fatos em si. Um olhar pode dizer muito mais do que palavras, concorda?

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Imaginamos que, anteriormente, o olhar do pai para a estrada esperando a volta do seu filho, não era um simples olhar. Era um olhar carregado de sentimentos e talvez palavras que nunca foram ditas. Um olhar que clamava. Jesus, naquela ocasião, liberou uma palavra para Pedro, afirmando que antes que o galo cantasse ele iria negar a Jesus três vezes. Então aqui temos três olhares (nós estamos dentro de um texto onde Jesus estava no pretório): O olhar de Jesus, o olhar de Pedro e o olhar das pessoas. Pedro tinha prometido que morreria por Jesus e, no entanto, acabara de negá-lo. Engana-se quem pensa que apenas Judas traiu Jesus, Pedro também cometeu um tipo de traição: Ele também virou as costas para o Messias. A diferença é que o arrependimento de Judas fez uma curva contrária e o arrependimento de Pedro fez uma curva exata. Judas se arrependeu, mas se arrependeu perante os homens tentando se redimir, jogou as moedas que recebeu pela sua ação de volta ao templo, mas se Judas viesse ao encontro de Jesus e tivesse se arrependido verdadeiramente, talvez hoje, nós estaríamos pregando sobre Judas, que tinha um nome tão lindo, que significa louvor, mas que ninguém mais ousou colocar o em seu filho, pois ele enlameou este nome.

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Judas poderia ter voltado atrás, se arrependido, e sua história poderia ter outro fim, assim como o filho pródigo que voltou para casa e teve uma nova oportunidade de experimentar um amor incompreensível do Pai, escrevendo uma nova história. Arrepender-se é um grande passo. Pedro que também enganou, também traiu a confiança do seu Cristo, se arrependeu e seguindo o texto bíblico no verso 62 diz que ele chorou amargamente. Quando você chora, provavelmente já aconteceu de escorrer uma lágrima que desceu ao canto do lábio. Qual sabor tem a lágrima? Não é salobra? Hoje se pegar qualquer tradução bíblica deste trecho, você não encontrará outra palavra a não ser amargo. E Pedro chorou amargamente. O que eu entendo é que mesmo no momento de traição, mesmo no momento de condenação, mesmo Pedro sentindo-se longe do seu Cristo, Jesus arrumou um meio de tirar todo amargor que existia dentro de Pedro. Sabemos que Pedro era um homem bom, mas nós temos muitos exemplos dos seus rompantes durante a história dos apóstolos.

O dia que você chorar e sentir o gosto das suas lágrimas com sabor amargo, não murmure, talvez é uma maneira que

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Deus arrumou de espremer toda amargura que tem dentro de você.

Pedro O negou e o galo cantou9: Um pastor da nossa igreja, uma vez me contou que no passado, quando ele usava crack, por volta das cinco da manhã, quando o galo começava a cantar, ele se abatia em choro, porque lembrava que estava virando as costas para o seu Cristo. Mas, nos dias de hoje, quando um galo canta ele dá glória a Deus porque foi liberto de toda aquela condenação.

Tem pessoas que até hoje não podem ouvir um galo cantar, pois se lembram de toda traição que já cometeram contra Jesus, e todos os abandonos.

Quando Pedro negou as três vezes e o galo cantou (é apenas o evangelho de Lucas que relata que Jesus estava dentro do pretório) a bíblia diz que Jesus voltou-se para Pedro e olhou-o diretamente nos olhos. Você sabe o que é isso? Você imagina o que é Jesus estar dentro de outro ambiente e talvez por uma janela, ou talvez por entre as colunas romanas daquela casa sacerdotal, ou talvez do lado de dentro daquela obra

9 Nota do autor: "o cantar do galo" faz a representação ao tocar das trombetas que marcavam as horas das vigílias, conforme eram divididas na madrugada, fazendo alusão ao canto da ave propriamente dita.

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colossal onde ele estava Jesus encontra uma vereda, e eu não sei se ele estava a cem ou duzentos ou trezentos metros de distância de Pedro, mas o impacto foi tão grande que aquele olhar passou por todas as distâncias e encontrou o olhar de Pedro.

O evangelho de Lucas é caracterizado por uma minúcia de detalhes, e pela ética escriturística que tinha e ali diz que Jesus voltou-se para Pedro no exato momento que ele o negou e o galo cantou. Sim, Jesus voltou-se e olhou diretamente nos olhos de Pedro. Por um momento você se sentiu nesse ambiente? Por um momento você conseguiu criar a cena em sua mente? Pedro foi percebido pelas pessoas que olhavam para ele, Pedro também foi percebido pelo olhar de Jesus. Quando o Messias olhou para ele (note qual era o cenário), Jesus estava sendo açoitado pelos soldados que batiam em todo o corpo inclusive na cabeça, onde estava a coroa de espinhos, sendo assim, seus olhos deveriam estar inchados de tanto apanhar e de tanta dor. Além dos seus olhos estarem inchados de tanto apanhar, retiraram um cetro da mão de Jesus e batiam na cabeça com ele. A coisa mais humilhante para um rei era apanhar com o seu próprio centro.

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Um parêntese: Se neste momento você não quiser ler a Bíblia eu indico que você leia algumas obras de Flávio Josefo, um historiador judeu que relatou alguns fatos como estes, importantes, que encontramos na história romana.

Jesus com olhos inchados, além de ter passado a noite acordado em oração e chorando no jardim, ainda assim, se esforça para ver onde Pedro estava ao invés de olhar para um soldado e tentar fugir dos seus açoites, procurou mirar naquele que tanto amava. Talvez você seja um Pedro?

Olhar de Jesus não é condenatório. O olhar de Jesus passeia à procura de alguém que precise ser constrangido pelo seu olhar, que precise ser amado. O fato é que se você tiver que ser medido pelo seu olhar sobre você mesmo, ou se você tiver que ser medido pelo olhar das pessoas, ou pelo olhar de Jesus, negue o seu olhar, negue o olhar das pessoas, mas, por favor, abrace o olhar dEle. O olhar das pessoas nos condena e às vezes não vemos nada de bom em nós, mas existe um olhar, o olhar de Jesus sobre nós.

Os seus olhos estavam inchados e provavelmente a dor era terrível, pois Ele havia passado a noite no Getsêmani, suando sangue e amanheceu apanhando. E Ele não apanha de meros soldados, senhoras e senhores, Jesus apanhava de outra

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classe, chamada “carrascos”, não confunda soldados com carrascos, carrascos eram executores impiedosos.

Quantas vezes eu me coloquei no lugar de Pedro para poder sentir o que Pedro sentiu ao ver o olhar de Jesus procurando o dele. Jesus poderia baixar a cabeça e fechar os olhos, mas a mesma condenação que chegou aos ouvidos de Pedro chegou aos ouvidos de Jesus ainda apanhando, Ele ouviu. Quando o galo cantou, Pedro ouviu lá e Jesus ouviu aqui. Eu imagino Jesus pensando “é Pedro, eu preciso Consolá-lo! Onde Pedro está? Pedro a condenação que veio sobre você diz que você não tem mais parte comigo mas por favor Pedro, além do canto do galo, encontre o meu olhar!’’

Talvez você já tenha ouvido várias vezes o galo cantar, mas existe um olhar procurando você. Esqueça esses olhares de condenação na sua mente e, por favor, vá além das vozes que condenam. Se você for além você vai encontrar um olhar de Cristo te procurando e dizendo: "À medida que o galo te condenou Eu estou com um olhar sobre você nesta hora te dizendo que ainda há chance! A mesma voz que te condena, Eu também ouço, mas eu a bloqueio, Eu a anulo com o meu olhar de amor!”

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Há um olhar de Cristo neste momento que está procurando alguém, e eu sei que você já olhou em muitos olhos mas nunca teve a coragem de olhar nos olhos de Jesus. Ele está aqui meu amado, Ele está aqui com um olhar de esperança, não com olhar condenatório e talvez o mais perto que nós chegamos do olhar de Jesus é ao ver as gravuras de um rosto, num quadro pintado, como na música: Olhar de Jesus de Savana Faraco.

O olhar das pessoas

Pedro foi percebido pelas pessoas que olhavam para ele reconhecendo que era um dos discípulos. O olhar do mundo é carnal. O olhar do mundo é pecaminoso. Por isso que as pessoas olhavam para Pedro recriminando-o por seguir a Jesus.

“Mas o homem natural não aceita as verdades do Espírito de Deus. Elas lhe parecem loucura, e ele não consegue entendê-las, pois apenas quem é espiritual consegue avaliar corretamente o que diz o Espírito.” 1 Coríntios 2 14

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“Porque o mundo oferece apenas o desejo intenso por prazer físico, o desejo intenso por tudo que vemos e o orgulho de nossas realizações e bens. Isso não provém do Pai, mas do mundo.” 1 João 2:16

Não tente encontrar paz no olhar das pessoas. Claro que fazemos a ressalva por aqueles que são nossos amigos, pais, enfim, mas, por favor, não tente encontrar aprovação no olhar do mundo e, aliás, nós não teremos outra paz além daquela que Jesus nos deu e se você procura viver a paz que não é a paz que vem de Deus, você nunca vai alcançar paz. Nós não temos outra paz em nossa vida a não ser a paz dEle, nós não somos nada além daquilo que Ele nos fez, aliás, não temos nada além daquilo que Ele nos deu!

Sabe o porquê que você vive sem paz na vida? Porque vive correndo atrás de um travesseiro de penas rasgado ao vento, você nunca vai dar conta de juntar isso aí.

Porém, existe uma paz no olhar dEle. E quanto mais o olhar das pessoas vinha sobre Pedro, mais sem paz ele ficava, quanto mais vinham olhares de acusações contra ele mais perturbado se mostrava e nós podemos acompanhar isso no

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texto. Podemos vê-lo andando de um lado para o outro, na fogueira, sentando, levantando, tentando fugir dos olhares de condenação, e quanto mais ele tenta fugir, mais condenado ele se achava diante das pessoas e mais sem paz interior ele ficava. Entretanto, de repente ele encontrou um olhar que tem toda paz. E eu vou repetir isso, não existe outra paz a não ser a que Ele pode dar! Então não perca seu tempo procurando outro tipo de paz não. Só existe a paz dEle, a paz que excede o entendimento.

Deixe para lá os olhares de condenação e deixa pra lá se não acreditam em você, se não acreditam no seu potencial, se ridicularizam você, deixa para lá meu filho!

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“Superar os outros é para os fracos, superar a si mesmo é para os fortes.”

O olhar de Pedro

O próprio Pedro também via a si mesmo de maneira errada, negando sua identidade, e não conseguindo ver as coisas de forma correta. Os olhos de Pedro buscavam ver de longe o que acontecia com Cristo. Muitas vezes estamos exatamente assim: sendo vistos e também olhando as coisas de maneira errada, talvez porque estamos longe, assim como Pedro estava. Sem Jesus estamos cegos e não conseguimos ver o Seu propósito para as nossas vidas. Não fique com seu olhar, não fique com o olhar das pessoas, fique com olhar de Jesus. Aí você pode até me perguntar “Pastor, e quando chegar o dia difícil? O dia da prova?” Ah! Meu amigo! Aguente firme. Um dia difícil só vem para provar o que foi dito no dia bom. Pois quando o dia é bom você promete muita coisa, mas o dia difícil vem para provar tudo isso. É muito fácil falar quando tudo está bom, é muito fácil você fazer promessas quando o dia flui tranquilamente, mas quando chegar o dia difícil é que vai ser colocado à prova aquilo que você disse. Porque governar em tempos bons qualquer um governa, mas

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governar em tempos de crise somente aqueles que realmente receberam de Deus uma condição para isso.

Jesus não chamou um bando de frouxos para andar atrás dEle não! Jesus também não chamou gente perfeita! O exército de Jesus é um exército vitorioso, mas os seus soldados são imperfeitos. Se olharmos para nós mesmos, ficaremos assustados, porém quem garante a vitória é o nosso general que vai na frente. Ele nunca perdeu uma guerra. Ele nunca perde porque é por Ele, é para Ele e é através dEle.

O olhar de Jesus

Perceba alguns olhares de Jesus: Ele olhava para cima e conversava com Deus (Lucas 9:16), Jesus olhou para Zaqueu e o chamou para descer da árvore (Lucas 19:5), ele olhava as multidões e sentia amor por elas (Mateus 9:36), Jesus olhava para os enfermos e os curava (Mateus 9:2), quando Jesus estava na cruz olhou para o lado e salvou um criminoso (Lucas 23:43) e ainda na cruz olhou para baixo e ministrou amor e perdão (João 19:26) e também muitas vezes Jesus olhava e

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chorava ao mesmo tempo, como quando olhou para Jerusalém (Lucas 19:41) chorou, quando olhou para o túmulo de Lázaro e viu a sua irmã em prantos (João 11:33-36).

Entretanto Jesus olhou de uma forma diferente para Pedro porque o abandono dele não era mais doloroso do que as chicotadas e os espinhos. O amor por Pedro no coração de Jesus era mais forte do que a dor que Ele enfrentava dos maus tratos.

Quantas vezes nós fazemos o Espírito Santo chorar? A Bíblia diz que o Espírito Santo se entristece e ele tem sentimento. Ele é uma pessoa. Ele geme com gemidos inexprimíveis. Eu tenho certeza que, assim como Pedro, naquele momento, já colocamos um pouco de tristeza no coração de Jesus.

O barulho das pessoas acusando Pedro foi interrompido pelo som do galo cantando mas o momento quando os olhos de Jesus e de Pedro se encontram eu imagino muitas lembranças de palavras e sentimentos passados que fluíram entre os dois, e por isso que Pedro saindo dali chorou amargamente. As lágrimas do mestre misturadas ao sangue que lhe corriam da coroa de espinhos, Pedro podia entender que ele dizia “Eu te amo Pedro”. Pois assim como é possível ocorrer de alguém

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chorar e com lágrimas nos olhos declarar “eu te odeio”, nós encontramos alguém com lágrimas banhadas em sangue e sem palavras num olhar dizendo “Pedro Eu te amo, sabe por que estou sofrendo aqui? São seus pecados que eu estou carregando. Sabe Pedro, o Pai me tornou maldito para assumir a sua maldição, mas tudo isso é por amor! Então não vire as costas para mim, filho.”. Pedro saiu, e chorou amargamente e depois, mais adiante na história Pedro disse para os seus amigos que iria voltar a pescar, a pescaria era a antiga vida de Pedro, ele deveria estar tão decepcionado consigo mesmo por ter ferido o seu Cristo, por ter falhado, que não tinha mais coragem de encarar Ele novamente, e assim decidiu voltar para a velha vida. E a Bíblia diz que Pedro voltou a pescar e alguns outros voltaram com ele. Sabe como Jesus aparece pra curar Pedro? Jesus aparece na beira da praia. Ele cozinha alguns peixes nas pedras, coloca uma mesa e faz sinal dizendo “vem que o peixe está pronto” e quando Pedro vê isso ele se joga nas águas, e eu imagino Pedro pensando “isso não é possível! Depois de tudo que eu fiz, Ele ainda me procurou com seu olhar? Eu o abandonei e voltei para minha velha vida, e Ele ainda vem atrás de mim?” E nós não estamos vendo uma fita métrica na

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mão de Jesus, e não vemos uma calculadora somando os erros e acertos, mas vemos uma refeição. Ele não veio cobrar nenhuma conta. Que amor é esse? Sabe como Jesus se apresenta para você que o abandonou? Sabe como Ele se apresenta para nós que às vezes voltamos às nossas velhas práticas e aos nossos velhos hábitos? Ele não se apresenta com uma lista dos seus erros dizendo “você errou aqui, você errou nisso!” Ele se apresenta com uma mesa e chama você para sentar dizendo “vem meu filho, volta que tem um lugar vazio na mesa, vem para a mesa porque o que você está precisando é do meu alimento!”. Quer saber algo que eu acho muito interessante na mesa? É que se você manca, isso fica escondido embaixo da mesa, a mesa de Cristo esconde os nossos defeitos. Da mesa para cima nós somos todos iguais. E no final da refeição temos o diálogo de Jesus e Pedro:

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οὖν ὅτε ἀριστάω λέγω Ἰησοῦς Σίμων Πέτρος Σίμων Ἰωνᾶς ἀγαπάω μέ (ágape) πλείων τούτων λέγω αὐτός ναί κύριος σύ εἴδω ὅτι σέ φιλέω (philéo) λέγω αὐτός βόσκω μοῦ ἀρνίον10 10 Texto em Grego (BGB) - Bíblia Grega Bereana

Depois da refeição, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama mais do que estes?". "Sim, Senhor", respondeu Pedro. "O senhor sabe que eu o amo". "Então alimente meus cordeiros", disse Jesus. João 21:15

No original Grego, que é uma língua muito ampla, o verbo amar tem mais variações para cada significado e em nosso português é reduzido se comparado ao grego. Neste caso Jesus estava falando em um tipo de amor e Pedro respondia com outro tipo de amor. Jesus falava com o amor Ágape agapáō (ag-ap-ah'-o)

1. com respeito às pessoas, receber com alegria, acolher, gostar muito de, amar ternamente, estar satisfeito, estar contente sobre ou com as coisas 2. com respeito às coisas11

E Pedro respondia com amor de amigo, sendo sincero.

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11

philéō (fil-eh'-o)

1. amar, aceitar, gostar, sancionar, beijar 2. tratar carinhosamente ou cuidadosamente, dar as boas-vindas, favorecer 3. mostrar sinais de amor 4. gostar de fazer, estar acostumado, habituado a fazer.12

Lá atrás, ele queria morrer por Jesus (Lucas 22:33) e eu imagino ele dizendo “ninguém vai tocar em você, Mestre” mas Jesus disse a Pedro “você me negará três vezes antes que o galo cante”. E depois que ele passou pelos dias maus e toda a amargura saiu de dentro dele, Pedro volta a assumir um lugar de sinceridade e assume que na verdade, ele não consegue morrer por Jesus, não consegue amar com esse amor, mas com o amor humano.

E então Jesus diz para ele: “agora você está pronto. Porque quando você vendia uma imagem de que era perfeito você não poderia pastorear minha igreja, porque eu não

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12 Dicionário
Strong

seleciono perfeitos, eu seleciono os saudáveis.” Existe uma grande diferença entre ser perfeito e saudável e a ideia de Jesus para mim e para você não é que sejamos perfeitos. Jesus disse para Pedro “agora você está saudável. Apascenta as minhas ovelhas porque eu estarei contigo todos os momentos.”.

Hoje podemos ouvir essa voz perguntando, “filho, me amas?”, e nós temos que ser verdadeiros e responder que amamos sim, mas com amor humano, porque talvez nós não consigamos amá-Lo tanto a ponto de morrer por Ele. Pois há alguns dias em que estamos morrendo de amor pelo Senhor, e outros em que estamos com sentimentos de abandoná-Lo.

O olhar de Jesus é como chama de fogo, em Apocalipse; encontramos isso, mas esse fogo não é fogo de condenação é um fogo de amor que queima por nós, ele queima de amor e nunca se apaga. Você pode fazer o que quiser da sua vida, nada diminuirá o amor dEle por você. Ninguém consegue vencer Jesus no Seu amor. Ele é capaz de amar você independente de você, porque Ele ama através do amor dEle, por isso você nunca vai vencer Ele no cansaço, porque Ele já venceu na cruz do calvário. Então, apenas se renda a esse amor. Deixe-O tirar toda amargura com o Seu olhar, curar os seus traumas. Não

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tenha medo de chegar perto dEle. Ele não é como eu, que posso condenar você, Ele te salva!

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Capítulo 9

O amor é a melhor resposta seja qual for a pergunta

Uma árvore boa não produz frutos ruins… Lucas 6:43

Resposta de amor ou resposta de amargura? Se a flor exala uma fragrância característica dela, nós exalamos a fragrância que nós carregamos, então teríamos nós cheiro de amor ou de amargura? Geralmente, a amargura tende a ser semeada em nós pelo diabo no momento em que vivemos uma experiência de grande injustiça ou frustração. Ela é resultado de feridas não tratadas, geradas por ofensas e traições que nos deparamos ao longo da vida. Quando essas coisas acontecem, é natural sentir amargura, mas depois que passam, temos que

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escolher se vamos perdoar ou deixar que essa raiz cresça e nos perturbe. Esforcem-se para viver em paz com todos e procurem ter uma vida santa, sem a qual ninguém verá o Senhor. Cuidem uns dos outros para que nenhum de vocês deixe de experimentar a graça de Deus. Fiquem atentos para que não brote nenhuma raiz venenosa de amargura que cause perturbação, contaminando muitos. (Hebreus 12:14,15)

A palavra “perturbação” usada neste versículo tem sua origem no termo grego “enochléō” (en-okh-leh'-o), que a ponto de especulação, em português, temos a palavra “inocular” que deriva do latim, cuja fonética soa muito parecida com o termo em grego. Procurando no dicionário, encontramos a seguinte definição que diz: Inocular

Origem ⊙ ETIM lat. inocŭlo,as,āvi,ātum,āre 'enxertar, fig. gravar no espírito, inculcar' 1. fazer entrar ou entrar; introduzir(-se).

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2. inserir (microrganismos) em (meio de cultura).

3. introduzir (o agente de uma doença) em (organismo), com finalidade preventiva, curativa ou experimental.

4. transmitir (uma doença) através da transferência do seu vírus.

5. transmitir, difundir ou penetrar insensivelmente, criando raízes (ideias, sentimentos) em ambiente ou situação favorável ao seu crescimento.13

Ou seja, a amargura pode ser disseminada, espalhada e contagiosa. Em outras palavras, permitir que satanás e seus demônios nos perturbem com pensamentos de amargura nos momentos em que nos sentimos tristes, frustrados e injustiçados é muito perigoso, porque é o mesmo que deixar que um estranho injete veneno em nosso coração, contaminando nossas vidas. E uma vez contaminados, colocamos em risco não apenas a nós mesmos, mas também a todos que fazem parte do nosso convívio, pois é como se estivéssemos carregando uma doença contagiosa. 13 Oxford Languages (Google)

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A respeito disso, a Bíblia diz que todo fruto será diretamente influenciado pelo lugar onde se está arraigado. Se as suas raízes estão firmadas em graça, misericórdia e pureza, então isso é o que irá se manifestar, agora, se existe uma raiz de amargura trabalhando em sua vida, você irá transparecer os frutos dela. No livro de Lucas, capítulo 6, encontramos a seguinte passagem:

"Uma árvore boa não produz frutos ruins, e uma árvore ruim não produz frutos bons. Uma árvore é identificada por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de arbustos espinhosos. A pessoa boa tira coisas boas do tesouro de um coração bom, e a pessoa má tira coisas más do tesouro de um coração mau. Pois a boca fala do que o coração está cheio.”

É nítido que aquilo que nos tornamos, aquilo que temos carregado, os sentimentos que temos alimentado, são exalados por nossas ações, assim como uma flor.

Como responder com amor? Como lidar quando alguém nos faz mal? A vitória não está em você mudar a mente de seus críticos. A vitória está em você completar a tarefa. Se sua resposta for com muito amor e trabalho, seus inimigos não terão defesa. Se você não parar de amar, você vence!

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Quem te faz o bem te abençoa. Quem te faz mal te aperfeiçoa. Precisamos ser livres das opiniões das pessoas. Se você soubesse o quão rápido vão te esquecer quando você morrer, não deixaria de fazer tantas coisas por medo do que vão pensar. As pessoas que se sentem ofendidas com as críticas valorizam demais mais o que os outros pensam. Valorizam demais a opinião alheia. Não seja alimentado por elogios e muito menos por críticas. Toda pessoa forte tem um passado de dor. Vence (dor)... O medo que temos de ofender as pessoas, nos leva a ofender a Deus. Se não há árvore boa que dê mau fruto e nem árvore má que dê bom fruto, a raiz da amargura que cresce em você, ao invés de ser nutrida com a vida e a benção de Deus, está sendo alimentada por pensamentos e sentimentos de ressentimento, rejeição, feridas e dor. Então, como é possível identificar se uma raiz de amargura brotou em mim? Como vimos anteriormente: “a boca fala do que o coração está cheio”. Quer saber se esse veneno contagioso está em você? Fácil! O que você tem falado? Pelas palavras que saem da sua boca você terá completa noção do seu estado. Você aprenderá muito sobre si mesmo se prestar atenção naquilo que tem falado.

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Palavras suaves são árvore de vida, mas a língua enganosa esmaga o espírito. (Provérbios 15:4)

Então, quando palavras corrompidas começarem a jorrar, coloque um freio imediatamente em sua boca! Você não pode continuar alimentando aquilo que um dia irá matá-lo. A Palavra de Deus é clara quanto a não darmos espaço ao diabo e não entristecer o Espírito Santo de Deus (Efésios 4:27-30). Quando damos voz à amargura, o Espírito Santo é entristecido, porque sabe que alguém, em breve, será ferido por alguma palavra ou atitude movida por essa raiz.

Amigo, você concorda comigo quando digo que, se existe uma pessoa que não devemos entristecer, é o Espírito Santo. Ele é quem Jesus enviou para nos guiar a toda verdade e nos capacitar para viver a realidade do Céu na terra. Portanto, o Senhor quer nos libertar de qualquer raiz de amargura que nos aprisiona a uma vida de medo, ansiedade, angústia, tristeza, dor e ressentimento. Ele está pronto para remover a inoculação desse veneno e tudo que possa ter nos afastado das pessoas e de Jesus. Basta pedirmos, e o Espírito Santo nos dará o antídoto para remover toda amargura.

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Mas, se uma pessoa tem um comportamento todo errado que me afeta? Amar não é aprovar conduta. O fato de eu amar não significa que eu aprovo a conduta. Ame as pessoas. Jesus te ama; e você não presta também. Quando o seu semáforo facial encontrar-se vermelho está na hora de parar, pois sua saúde social e mental está ameaçada.

Quanto mais você elogia uma pessoa, mais fácil de amála será. O contrário também é verdadeiro. Se você, constantemente, fala mal de uma pessoa, por mais que tente, não conseguirá amá-la. Quem é imaturo, fica falando mal de alguém e depois fica abismado, porque não consegue amar essa pessoa. Claro! Você está usando seu leme na direção da amargura. Perco na paz, mas não ganho na guerra.

O Evangelho é isso: somos muito piores do que imaginamos, e muito mais amados do que poderíamos sonhar. Tudo o que você sempre terá você já tem agora, Jesus. Não tem como você ser mais amado do que você já é agora. O amor é a única forma de aperfeiçoar o imperfeito.

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Vigie seus pensamentos, pois eles se tornarão palavras.

Vigie suas palavras, pois elas se tornarão ações.

Vigie suas ações, pois elas se tornarão hábitos.

Vigie seus hábitos, pois eles formarão seu caráter.

Vigie seu caráter, pois ele se tornará o seu destino.

Autor desconhecido.

Como diz Alessandro Vilas Boas: “O amor não se compra, nem se merece, o amor se ganha, de graça o recebe…” Como poderia eu sentir falta de amor quando o amor habita dentro de mim? Está em Cânticos (8:7):

"As muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios podem afogá-lo. Se algum homem tentasse usar todas as suas riquezas para comprar o amor, sua oferta seria por completo desprezada.”

O amor não tem preço, e não tem merecimento, por isso que ele é tão constrangedor. No ato de discussão o que

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constrange é o amor. O amor é a melhor resposta seja qual for a pergunta.

Você lembra de que lá no início deste livro eu sugeri uma cena onde alguém chegava para você e fazia uma proposta completamente insana? “Largue tudo o que você está fazendo agora, não pegue nenhuma bagagem e vá para um lugar distante, onde lá você terá uma missão que o levará à morte!” Lembrou? A pergunta era: por que alguém faria isso? Agora você já tem a resposta, é por AMOR. E como você já está convencido de tamanha façanha que é o amor de Deus, eu venho com uma nova proposta. Um novo convite.

O quão próximo dEle você consegue chegar? Quanto você conseguiria se arrepender para alcançar o olhar dEle? O Senhor vem a você, onde você vive, e o ama como você é. Busque-o em oração, a oração é a arte do possível. Comece com alguns minutos por dia orando as Escrituras, na melhor hora do dia, pedindo um conhecimento íntimo e sincero de Jesus. Aos poucos observará algo tomando forma em você. Fogo! O Espírito Santo levando os seus pés a dançar, sua mente a se agitar e seu coração a arder. Do lado de fora as pessoas irão notar que o perfume sendo exalado é outro. As atitudes não são as mesmas, a mansidão é assustadora, as

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respostas mudaram. Então prepare-se para o melhor elogio: “Você enlouqueceu!”

Sim, você aceitou o convite à insanidade. Bem vindo à loucura!

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Capítulo 10

Selando a palavra

Não encontrei uma forma melhor de encerrar esse livro do que com uma oração para selar essas palavras em seu coração, para que o Espírito Santo encontre espaço para fazer a obra dEle na sua vida. Convido você a preparar um ambiente e orar comigo, e logo após, no espaço que disponibilizamos, escreva aquilo que você deseja para esse novo tempo.

Ore comigo… Obrigado Pai por me encontrar com Teu olhar. Obrigado por este amor constrangedor. Oro por uma nova perspectiva de vida. Senhor eis-me aqui, estou voltando papai, hoje eu faço uma nova aliança Contigo, eu quero reatar de onde parei pela porta que eu saí eu quero entrar hoje!

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Então, eis-me aqui! Isso é o que sobrou de mim desde quando saí. Eu sai mais inteiro, mas o que sobrou é isso aqui, eis-me aqui Senhor. Eu me despeço do meu passado e aos seus pés coloco os meus erros! Estou arrependido!

Para sua paz, o Papai te aceita, agora tem que saber se o filho aceita o Papai. Que você possa aceitar o Pai no seu coração em nome de Jesus! Agora eu oro por você…

Oro para que as algemas que prenderam você no passado, caiam! Que todo peso de condenação, toda vergonha, caia por terra em nome de Jesus e você seja liberto!

A partir de hoje você está alimentado espiritualmente. Libero força no seu espírito! Você tem casa! Você tem Pai!

Você não é órfão. O Senhor falou com você e está contigo!

Se você que agora deseja confessar Jesus como seu Salvador, eu libero a salvação e perdão dos seus pecados!

Se você está retornando para sua casa original hoje, para o seu lar no senhor, se está fazendo um novo propósito de reatar com o Pai, em nome de Jesus, seja reatado com o Pai.

Pegue de volta o seu anel, retorne à sua vida, uma vida

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abundante no espírito! Que vá embora a miséria, vá embora a depressão! Que vá embora todo sofrimento!

Que essa família em nome de Jesus seja abençoada, que ao terminar essa leitura haja sorrisos nesse lar! Que dentro da sua casa haja um ambiente de paz. Não haverá mais escravos, não haverá mais peso, não haverá mais brigas!

Oro por entendimento, compreensão, portas abertas do trabalho e de realizações. Abençoo os seus sonhos e frutos, porque o filho está na casa do Pai e agora tudo que é do Pai passa a ser do filho novamente.

Em nome de Jesus, eu abençoo você por aquilo que me foi outorgado como Ministro do Evangelho, eu libero essas bênçãos sobre a sua vida! Repreendo todo espírito de orfandade, toda mentira, tudo aquilo que vem de encontro a essa palavra eu repreendo em nome de Jesus!

Seja livre, em paz, em nome do PAI, do FILHO e do ESPÍRITO SANTO, amém.

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Esse espaço é seu!

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Essa foi a sabedoria humana tentando explicar o insano, louco, inexplicável amor de Deus… Joaber Fermiano

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