INSTRUÇÕES VISUALIZAÇÃODE
Para uma melhor experiência com este trabalho, sugerimos que não acione o modo
“fullscreen” e, quando visualizado no celular, mantenha-o na horizontal.
O que falta são pausas, silêncios, vazios.
Falta um pouco de “nadas”, tempos e espaços não preenchidos.
O que falta é a falta.






















Frente à vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória, reagimos com a hiperatividade da produção. A sociedade do desempenho não é uma sociedade livre.



















Jamais se é tão ativo como quando visto do exterior, aparentemente nada se faz. Jamais se está menos só do que quando se está só na solidão consigo mesmo.






















Sufocante, permanente continuidade












O oscilante, o inaparente ou o fugidio só se abrem à uma atenção contemplativa.profunda, Só o demorar-se contemplativo tem acesso ao longo fôlego, ao lento.





repouso onde
Numa sociedade que nos impõe a todo tempo produzir, construir um futuro (que está sempre além), que nos obriga a estar hiperconectados; um mundo em que tudo é espetacularizável - mesmo que o espetáculo não dure mais que os segundos de uma postagem no Instagram - o excesso de passado e de futuro provoca a falta de presente.
O excesso - seja ele de passado, de futuro, de pressa, de notícias, de tarefas, de conhecimentos…é a fonte do esgotamento do indivíduo neste mundo. Para o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, o excesso de estímulos, informações e impulsos culmina no excesso de positividade, ou seja, somos seres construídos para estar sempre em um movimento de produção. E isso modifica radicalmente a estrutura da
nossa atenção, que se fragmenta e se destrói.
Esse processo resulta na autoexploração - o explorador é ao mesmo tempo explorado. O progresso civilizatório pós-moderno e a sensação de que nada é impossível embaralham necessidade, demanda e desejo - a “tríade” de conceitos lacanianos - causando no indivíduo pós-moderno a depressão em ser ele mesmo. Na
crença de que nada é impossível, tudo é realizável pelo trabalho, pelo esforço, só nos resta desejar o desejo.
É como se existir fosse sempre transitório, sempre estar em nunca ser; sempre o movimento e nunca a permanência.
Fui ensinada a não parar, a produzir constantemente. Cresci
inserida nessa era de desenvolvimento tecnocientífico e digi-
tal, que entende a contemplação como uma ameaça ao sistema produtivo - nesse contexto que Byung-Chul Han chama de “sociedade do desempenho” - e, por isso, cada vez mais questiono sobre a necessidade da pausa, da contemplação, do repouso, da presença em mim, de ser.
Os vídeos desta publicação partiram de um mesmo ponto, de um momento-gatilho, da per-
cepção de que quanto menos informação eu recebo de fora, mais eu percebo o dentro; do entendimento de que não preciso chegar a lugar algum, sem culpa e sem peso, e de me permitir contemplar, afastando a cortina do que construí anteriormente, eliminando o constante e ininterrupto movimento fora, podendo, assim, estar totalmente no agora.
“Nunca um homem está mais ativo do que quando nada faz, nun-
ca está menos só do que quando a sós consigo mesmo”, disse Catão, poeta romano. Cézanne, propõe que “aprender a ver significa habituar o olho ao descanso, à paciência, ao deixar-aproximar-se-de-si, isto é, capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento”. Por fim, cito Walter Benjamin, quando considera que o estado de inquietação não produz nada novo, só repete a histó-
ria, enquanto o tédio profundo, ou seja, a contemplação é “pássaro onírico, que choca o ovo da experiência”.
A partir desses pensamentos, de me permitir pausar e da contemplação da natureza, compreendi que é possível encontrar um repouso, um espaço de clareza mental. No entanto, alcançar esse ponto de recolhimento requer muita atenção, afinal, não fomos criados para pausar. E, por mais
controverso que possa parecer, há um movimento na pausa, uma espécie de fluir,l de abandonar o ritmo ininterrupto e a pressa do mundo e voltar-se para si, para um tempo regido pelas batidas do coração, em que o único movimento é o do peito se enchendo e esvaziando a cada inspiração e expiração, e o do sangue correndo pelas veias e artérias. O único movimento é o do ser.
Vídeos / Fotografias
Ruchita / Ruchita & R. Scott Macleay páginas 18 e 62
Texto Ruchita
Gravação / mixagem de som
Creative Process
Composição musical / Sound Designer
R. Scott MacLeay
Design Gráfico / Diagramação
Kamilla Nunes