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Fofo e maduro
from O Regional PG
Um documentário falso animado sobre uma concha habitando um AirBnb parece uma ideia esdrúxula, mas “Marcel the Shell with Shoes On” se prova um filme cheio de alma, fofura e até mesmo convida à introspecções filosóficas.
Baseado em curtas com o mesmo nome do início da década de 2010, o filme foca na concha Marcel, que mora em uma casa transformada em um AirBnb alugado por Dean, o próprio diretor e roteirista do projeto. Quando o homem descobre a pequena criatura, ele decide sair documentando suas experiências e produz vídeos para o YouTube, onde Marcel rapidamente viraliza e precisa lidar com a inesperada fama, ao mesmo tempo em que conta com seu novo parceiro para tentar encontrar sua família.
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Cada cena pode até parecer desconjuntada, mas fica a sensação real de se estar vendo uma playlist de vídeos no YouTube, o que ajuda na imersão. Assim, acompanhma-se momentos íntimos e absolutamente fofos na história de Marcel. Um slice of life de primeira, o longa retrata a alma ingênua e pura da concha enquanto mostra as estratégias que criou para sobreviver e cuidar da avó já bastante idosa, e é aí que o filme agarra o espectador de uma forma inesperada. Toda a doçura apresentada é, de re- pente, revelada como a camada doce de uma rotina agridoce, onde são mostradas, por exemplo, as dificuldades com a doença da avó e a solidão de alguém que perdeu praticamente toda a família da noite para o dia.
Assim, esse aparentemente leve conto sobre a vida de uma concha monocular que usa sapatos e tem um visual absurdamente adorável começa a fazer o espectador ponderar sobre a própria vida; sobre suas lutas, problemas, dores, saudades e esperanças. O que parecia uma obra alegre para toda a família se torna uma análise sobre a importância do senso de comunidade, de se sentir perten- cente a um grupo, no caso, a família de Marcel.
Mas a doçura nunca é perdida, a começar pelo design do próprio Marcel. Maravilhosamente animado, a animação por CGI chega a parecer stop motion, fazendo com que a concha pareça real e palpável, vivendo naquele mundo.
Acrescente-se a isso a voz de Jenny Slate (também corroteirista) no protagonista, com a atriz usando e abusando de seu talento para fazer a voz fofa de um personagem que se mara- vilha com novidades do mundo ter camadas feridas de alguém que passou por enorme perda.
Ainda que seja um filme o qual crianças podem acompanhar sem dificuldade, são os adultos que sairão das sessões inesperadamente introspectivos. Mas é impossível não ser cativado por um personagem tão amável. “Marcel the Shell with Shoes On” é um banho de inocência, humanidade e esperança, debatendo questões rotineiras e profundas de forma madura e honesta.