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Ano: 2010 . nr 02 . Mês: Março . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço: 0,01 €

www.jornalosul.com

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No ano em que se comemora o centenário da proclamação do dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher, é com alegria e justificado orgulho que escrevemos este editorial. Conscientes de que «este século de luzes e de sombras» não contemplou ainda as mulheres de todo o planeta, não podemos deixar de o valorizar como o século das mulheres que conquistaram direitos, se emanciparam e demonstraram as suas capacidades em todas as áreas da actividade humana. Escrever num jornal foi uma luta travada pelas mulheres, luta dura como todas as que foram travando e de que foram saindo sempre vitoriosas. Em Portugal, no início do século XIX, era uma raridade a mulher jornalista, escondendo-se quase sempre no anonimato. É necessário recordar que escrever, reflectir e pensar em público eram consideradas actividades masculinas. De resto, a virtude estava associada à ignorância. Contudo, a partir dos meados do mesmo século, a mulher instruída percebeu que teria de usar a imprensa para fazer ouvir a sua voz, os seus anseios e fazer dela a tribuna de luta debatendo problemas, expondo ideias e propondo soluções. Em 1849, surge A Assembleia Literária,o primeiro jornal fundado e dirigido por uma mulher, Antónia Pusich, e que se dedicou à instrução do sexo feminino. Outros surgiram, dos quais referimos A Voz Feminina, em 1868 e O Progresso em 1869, fundados por Francisca Wood, O Almanaque das Senhoras em

ASTROLÁBIO

1870, fundado e dirigido por Guiomar Torrezão; Elisa que Curado dirige A Mulher, surgido em 1883; Beatriz dizer Pinheiro funda e dirige A Ave Azul em 1898. dos direitos Excepto o jornal A Ave Azul que se localizava em relativos à materViseu, todos os outros eram editados em Lisboa. nidade? As alterações O direito à educação foi o que surgiu nestes priao Código do Trabalho, meiros jornais. Em 1844, havia 44 escolas que afectando todos os trabalhaeram frequentadas por 1835 meninas. Compredores, atingem de forma mais ende-se, pois, porque as taxas de analfabetismo grave as mulheres que detêm ainda feminino eram elevadíssimas, 85%, num país muita da responsabilidade familiar, rural, pobre e esmagadoramente analfabeto (a senão mesmo toda a restaxa de analfabetismo masculina era de ponsabilidade em casos de 75%). Só as mulheres das classes altas Teatro: esta famílias monoparentais. tinham acesso à instrução. arte jovem As mulheres idosas vivem em siMais tarde, surge o direito ao trabalho tão antiga como reivindicação da emancipação tuação verdadeiramente chocanfeminina e depois o direito ao voto como te, com reformas por velhice cujo direito político elementar numa socievalor médio mensal é de 286,11€; dade que se acreditava democrática e liberal. também aqui as discriminações persistem, pois, o valor médio da reforma por velhice do homem Em Setúbal, A Bandeira, o primeiro jornal fundado é de 472,72€ (valor baixo, certamente, para uma e dirigido por mulheres, surgiu só vida inteira de trabalho e descontos). em 4 de Dezembro de 1910 e apenas foram publicados 4 números, porque Temos razões para celebrar as luzes, para fesNô Kume a sanha masculina foi tão grande que tejar com alegria as vitórias, mas as sombras só Sabi: a foi editado um jornal, dirigido por se esfumarão pelo reforço da luta das mulheres chegada à homens, tendo como único objectivo contra os retrocessos dos seus direitos. Guiné combater A Bandeira e fê-lo de forma, Celebremos o centenário do Dia Internacional da de resto, bem soez e grosseira. O obMulher, porque apesar da existência de inúmeras jectivo foi conseguido, porque duas das redactoras se desigualdades e injustiças, temos de valorizar afastaram (possivelmente por pressões familiares), as conquistas sociais, cívicas e políticas que inviabilizando a continuidade do jornal. O nosso se devem às lutas das mulheres e manter viva preito a Pátria Ramos, a Ária Ramos, a Marta Lebre a actualidade da intervenção das mulheres e Ernestina Abreu, as quatro corajosas mulheres em defesa dos seus direitos, conscientes que se atreveram a publicar A Bandeira. de que a sua participação contribui para uma sociedade mais equilibrada, mais Um século de luzes, mas também de sombras, justa e com mais cidadania. sombras para todas aquelas mulheres que ainda não puderam alcançar o que nós, mulheres do primeiro mundo, conquistámos, mas também Anita Vilar, de sombras, porque pesam nuvens carregadas Maria Madalena Fialho sobre o que se alcançou. Patrícia Trindade Coelho O capitalismo sob a forma de neoliberalismo trouxee Rita Olveira Martins nos ameaças bem sentidas já no quotidiano dos povos e das mulheres, em particular. Em Portugal, as mulheres estão longe de verem concretizadas todas as condições, todos os direitos que no plano nacional e internacional lhe são reconhecidos; pelo contrário, nos últimos anos de políticas neoliberais, assistimos a enormes regressões sociais, à perda de direitos laborais, a discriminações salariais que só dão lucros às empresas, ao desemprego e à precariedade, à pobreza instituída, mesmo de mulheres que trabalham, com reflexos profundamente negativos na qualidade de vida e na situação de milhares de famílias, nomeadamente, das crianças. E

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