Livro desenvolvimento humano

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CAPÍTULO 1

reger e tocar, mesmo depois de ter ficado completamente surdo. Stephen Hawking, um dos maiores físicos teóricos da atualidade, possui esclerose amiotrófica, rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo, sem prejudicar suas funções cerebrais. No entanto, continua a dar suas aulas e foi nomeado pelo papa como membro da Pontifícia Academia de Ciências. O desafio para a sociedade brasileira contemporânea consiste em romper com as consequências da pobreza que estrangulam o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Apesar dos dados de alfabetização alcançarem, no Brasil, índices superiores a 98%, sabemos que muitas crianças abandonam a escola ou não se dedicam adequadamente aos estudos porque precisam trabalhar, informalmente, de forma a aumentar o rendimento familiar, sendo na agricultura, no campo ou vendendo bugigangas nas ruas das cidades. Níveis baixos de escolarização perpetuam condições de exclusão social, daí os esforços em que as crianças permaneçam na escola e que a educação seja aprimorada. Vários estudos correlacionam pobreza com baixo desempenho educacional e problemas de saúde, o que conduzem a restrição de futuras oportunidades de trabalho. Mantém-se assim uma cadeia perversa de exclusão. No cotidiano do mundo rico e minoritário, muitos dos bens que são consumidos diariamente, como alimentos, flores e roupas, dependem, para a sua produção, do trabalho infantil barato dos países pobres. O acesso ao atendimento nas áreas de educação e saúde é limitado, especialmente, para meninas de países asiáticos pobres. Outra forma de engenderar mecanismo de exclusão relacionados à infância consiste nos maus cuidados, negligência e abuso em diferentes níveis, que se iniciam dentro de casa. Estatísticas revelam que autores de abuso são com mais frequência pessoas conhecidas, os próprios pais ou parentes próximos. Muitas crianças fogem de casa devido aos maus-tratos a si próprio, aos irmãos ou à mãe, tendo como uma das causas o alcoolismo de seus pais ou padrastos. A evasão do lar leva à delinquência ou à institucionalização, fortalecendo mecanismos de exclusão. Um estudo realizado na Inglaterra revela que as crianças sob cuidados institucionais têm dez vezes mais chances de serem excluídas e seis vezes mais chances de terem declaração de necessidades educacionais especiais1 do que as crianças que vivem em casa com suas famílias (MITTLER, 2003, p. 87). Quase todas as cidades têm populações crescentes de crianças de rua. Observa-se o ressurgimento de doenças endêmicas que já estavam controladas, como a tuberculose, além da incapacidade de se lidar com doenças novas como a Aids. Estima-se que uma em cada quatro crianças na África subsaariana sofre de Aids, uma proporção realmente chocante. Além disso, milhões de crianças vivem na condição de refugiadas devido a guerras e desastres naturais (UNDP, 1999). Nos últimos trinta anos, também se verifica um aumento da pobreza infantil sempre que se passa de uma estrutura de família nuclear para uma situação de família extensiva, composta por múltiplos familiares, como avós e tios morando na mesma casa, ou para uma família monoparental ou ainda para uma família desestruturada.

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Mais adiante você encontrará uma discussão mais apurada sobre as necessidades educacionais especiais.

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