Livro desenvolvimento humano

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CAPÍTULO 1

Mas a diversidade não é reduzida a uma característica exclusivamente individual. Diversidade refere-se também a fenômenos e grupamentos humanos e sociais, pois existe um substrato social das diferenças. Na história da humanidade, algumas diferenças eram motivo de sentimentos como medo, repúdio ou do seu oposto, como admiração e respeito. Na Grécia antiga, o termo estigma foi criado para se referir a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar algo de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. O corpo da pessoa que infringia uma regra era marcado propositalmente com cortes ou ferro em brasa e os membros da sociedade deveriam se afastar desta pessoa. Na Idade Média, o termo estigma é utilizado como referência a sinais que alguém possuía e que eram interpretados como sinal de graça divina. Atualmente, o termo é amplamente usado de uma maneira um tanto quanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria “desgraça” do que à sua evidência corporal. Ou seja, estigma hoje é entendido como um rótulo, uma mancha social que alguém coloca sobre outrem, em função de um preconceito que pode se referir a uma reação negativa a aspectos relacionados à deficiência, à raça, religião ou mesmo ao sexo. Existem culturas em que a mulher é considerada como um ser inferior e impedida de estudar e trabalhar. Em resumo, atribui-se inferioridade social a quem é estigmatizado. A história de heróis de guerra, marcados em seu corpo com profundas cicatrizes ou mutilações, pode ser um bom exemplo de estigmatização. No período da guerra, são heróis, aclamados por seus pares como defensores do bem estar político, social ou religioso daquela comunidade. Ao término da mesma são esquecidos e passam a ser considerados como aleijados, perdendo seus privilégios sociais e ainda podendo se tornar passíveis de sofrimento por segregação e exclusão.

Na atualidade estigma se refere a uma condição de desgraça e descrédito e não mais a uma condição de inferioridade moral.

A função do estigma é, segundo Omote (2004, p. 295), a de “controle social”, no sentido de se exercer um controle sobre os integrantes de determinado grupo social. Assim, o enaltecimento de condutas filantrópicas e até de renúncias a bens e desejos pessoais pode ser motivado aparentemente por causas humanitárias, mas também pode ser interpretado como um mecanismo de satisfação de desejos pessoais, para uma promoção com fins políticos ou até mesmo como uma busca velada de controle social. A construção e manipulação do estigma criam tensões que, segundo Omote, geram conflitos de direitos e interesses. Os conflitos parecem desempenhar um papel importante na luta pela superação das dificuldades que aguçam estes conflitos. Os estigmas hoje são vistos como uma força reacionária, na medida em que, quem os detém, não avança na aceitação de uma sociedade plural e democrática, onde há espaço para todos poderem se desenvolver. Estigmatizadores 26


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