Phylochip ou Sobre a realidade - Ju Ataide

P hyloChip ou Sobre a realidade Ju Ataide

Natal/RN 2 0 1 8

Phylochip Autora: Ju Ataíde Escrito em: dezembro de 2012 em Santa Rita No dia em que eles me levaram me procuraram durante horas, até palmadas levei: O que ninguém entendia é que eu estava me comunicando com marcianos. Nesse dia eles implantaram em mim o chip da genialidade, por isso que minhas antenas estão sempre ligadas, captando, sentindo, abstraindo e sendo. Sou mortal, não ganhei poderes de imortalidade, ainda bem! Ganhei com a implantação do chip muitas tarefas humanitárias que muitas vezes me deixam cansada, mas a tarefa mais difícil é ler almas, codica-las e buscar outros humanos para receber o chip. No início eu não entendi bem, uma luz bem forte me puxou para cima. O imperial marinheiro cou todo iluminado e num minutinho eu já olhava o Bairro Nordeste de cima, eu voei, mas não me lembro muito além de botões luminosos, vozes robóticas e um cheirinho de ferro. Eu sentia uma leseira, uma fome, mas tava achando bom, coisas diferentes e eu voltei transformada e losóca, isso me aconteceu no ano de 1992, quando eu tinha nove anos. Depois disso passei um tempo debilitada,o Phylochip me sugava, pois a lentes humanitárias foram ativadas em mim e os questionamentos invadiram de vez a minha alma. Dentre as genialidades a carnavalesca é a que mais me caiu bem, eles cá também gostam de carnaval, a diferença é que no planeta que brevemente conheci a festa é constante. Quando se está triste, faz festa para alegrar, quando está pouco criativo, se faz festa, são tantas luzes, a vida lá é uma festa hawe (rave). Todos com seus Phylochips tem em si todas as sensações que quiserem e se drogam deles mesmos, isso foi o que mais gostei lá. Comi, não bebi, não vi muitas coisas mas senti, fortemente senti.

Tive doenças sérias quando voltei e quase enlouqueci minha família, coisas que surgiam e sumiam, doenças contagiosas, alergias, tristezas, eu sabia que tudo ia passar, mas eles não, coitadinhos dos meus parentes, se eu dissesse iriam me chamar de louca, já era uma mania minha dizer que voava e ninguém acreditar. A vida foi seguindo e o Phylochip me guiava, questionei Deus, não me comunguei, achava bobo, tinha visto que ele não estava onde eu fui, então certamente ele não existia, isso ofenderia muito a minha vozinha, preferi dizer que não fui, pois meu pai não alugou o vestido branco de rendas. Comecei a sentir coisas estranhas e boas, vontade de ser livre, de sempre ter tempo para sentir o tempo. O cheiro de cada coisinha que a vida aproxima de nós. O cheiro dos outros e de mim mesma. Viver lentamente, olhar os formatos das nuvens, as janelas alheias, as coisas mais simples, uma folha, uma or, um gesto de alguém no acaso, olhar, gostar de ver e estar viva. Foi o chip, ele me fez desapegar de certas necessidades, passei a gostar de comer bem mais e a cozinhar também, aos 10 já sabia. Olhava poeticamente minhas tias e minha vó fazerem comidas especiais, cheirosas, fartas, sempre éramos muitos e muita alegria, minhas antenas me faziam ver tudo lindo naquele mundo aparentemente feliz, eu era.

Com o chip, veio a poesia, a música, a modelagem, o teatro, o violão, a dança, eu sou participativa, me mostro.

Veio o pandeiro, o violino, o ganzá, a alfaia, o cd, as músicas novas que as antenas me zeram ouvir, som do Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais, Papete deve ter o Phyloship, bem como Tom Zé e Arnaldo Antunes, como eles ampliam meus poderes!

A poesia é o componente químico principal que ca no corpo de quem vai onde eu fui. O que vocês não entendem é que a minha abdusão é um retorno. Para o árido de mim. Selo de mim, para na volta reencontrar um labirinto de coisas que deixei há um tempo presas dentro de mim. É como um salto na cama elástica que retorna em velocidade aceleradamente antigravitacional e retorna cinco vezes mais rápido que a claridade. O meu dom me trouxe de volta diferente, capaz de aprender tudo, na hora que desejar, inclusive amar. As antenas só querem sentir os toques mais leves e suaves das ondas dos pensamentos e sentimentos dos outros normais e cheios de paixões sem aparente sentido. As comidas tinham outro gosto, potencializadas de poesia, cada saborzinho tinha lembrança de festas. Minhas tias cozinhavam e eu vibrava de alegria infantil. O chip revolucionou minha vida, ganhei sensibilidade para não discriminar nem excluir pessoas e a sabedoria de nunca perder a chance de amar sem medo.

Projeto Gráco / Diagramação:

Rita Machado @ritamachadoart

Ju Ataide

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