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Filipe Anjo e sua arte Conheça Natal - Para inspirar / Sentir / Ouvir ... Caderno Cirandar - Conheça nossos poetas! Nos agros transes da vida’’ . ‘’Só teu amor me conforta Lourival Açucena Saiba quem foi o Lpotiguar ourival Açucenapor Maiara Juliana Gonçalves e mais literariaano 1 - edição 1

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publicação do GIRO Selo Editoral Artístico

Machado e

Sartief

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executiva:

Rita Machado e

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Machado

Machado

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Jean Sartief

literária - poética - visual
@sartief @ritamachadoart Rita
www ritamachadoart
CIRANDAR
dançar a ciranda
roda): segurar forte a mão de
ao
bailado de ondas do mar cadenciar coração com coração
em
roda: o tempo. Uma
Editores e pesquisadores: Rita
Jean
Coordenação de pesquisa: Jean
Produção
Jean Sartief Produção:
Jean
Assistente de produção: Jonhkat Diagramação, arte e capa: Rita
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Carta para Lourival Açucena

Capitão Lourival, escrevemos-te esta carta com um misto de sentimentos. Aqui estamos a conhecê-lo um pouco mais e tentamos honrar e resgatar o seu pioneirismo e o teu olhar para o mundo. Inevitavelmente pegamos nos pensando qual seria a tua reação se hoje estivesses aqui. Está tudo mudado e ao mesmo tempo parece que nada mudou! Ninguém tem mais tempo para nada. As pessoas já não sentam nas calçadas e vamos seguindo em nossa cidade do Natal esquecida de guerras... E, tantas guerras vivemos por todos esses anos de sua partida... Acredita, Lourival? Os violões ainda são instrumentos potentes e certamente nos dias de hoje você poderia impor e atirar seus versos livremente! Se bem que na realidade já não é tão fácil assim, mestre. Passamos por momentos de ignorância. Mas, isso te escreveremos em outras cartas. O Teatro Carlos Gomes agora chama-se Teatro Alberto Maranhão e após um período abandonado, recentemente foi restaurado! Quem reergueu foi uma mulher, obra de um governo feminino, acredita Lourival? Uma mulher governadora o trouxe de volta! Pensar que no seu tempo elas não poderiam nem entrar em um ambiente artístico, muito menos atuar e vivenciar os seus papéis. Certamente capitão, em nosso teatro, seria a estrela que fostes em nossas ruas e calçadas. As serenatas que fazias a luz do luar hoje é palco praticamente esquecido. Mas, podemos te dizer que ainda existem espetáculos nas ruas, realizados com muito esforço dos artistas.

Lembra daquela poesia sua? A Política...

“Nas vesperas da eleição Vão á casa do compadre Dão beijos no afilhado, Rompem sêdas à comadre...’’

É meu amigo, isso nada mudou... É mesmo assustador o quanto tudo na política parece como em seus versos. És atual, nobre bardo!

Precisamos te dizer que tornamo-nos uma cidade de poetas. Você gostaria muito de ver como esse teu fulgor artístico espalhou se pela cidade. Há até um versinho imortalizado que diz que aqui em Natal existe “Em cada rua um poeta e em cada esquina um jornal!” Alguns de seus filhos também seguiram por esse caminho, casaram-se e espalharam-se pelo Brasil. Dois deles ficaram muito conhecidos no país: Uriel e Junquilho foram grandes poetas, compositores e músicos no Rio de Janeiro.

l NataRN Brasil

Uriel chegou a cantar e escrever grandes sucessos regravados por cantores famosos como Orlando Silva, Silvio Caldas, Vicente Celestino entre outros. Junquilho além de poeta e músico, tornou-se jornalista. O pequeno Joaquim Lourival cresceu e tornou se um professor de história muito respeitado na cidade, o professor Panqueca, grande amigo de Câmara Cascudo. Aliás, eles dois foram responsáveis por perpetuar a tua história. Porém, tudo isso não é tarefa fácil... Como é difícil te achar em nossos registros tão surrados e esquecidos. Mas, não desanime! Existe pessoas como Maiara, Cláudio, Luís, Vicente, Tarcísio, Cassiano e nós aqui que te escrevemos, que relembram, pesquisam e propagam seus versos. Conhecemos também uma de suas tetranetas, Lucia Eneida, uma linda poeta. Carinhosa com seus escritos. Inclusive o pai dela Nilo Lourival (seu trineto) escreveu sobre sua vida e obra e publicou um livro com a ajuda de Abimael do Sebo Vermelho.

E temos uma novidade de dois séculos para te contar!

Em breve vamos publicar um novo livro contando sua história com muitas novidades. É uma homenagem a você. Já recebemos o respaldo e o carinho de seus familiares e estamos debruçados em sua trajetória artística. E te digo mais, nada acaba por aqui. Estamos trabalhando em um documentário sobre os seus feitos. Entrevistamos esses mesmos artistas poetas e pesquisadores que te estudaram. Perdão, não expliquei o que consiste um documentário... É uma nova forma de escrever ou contar a história de alguém ou algo. Não mais só por canetas, e sim, por fotografias que falam... lembra do surgimento da fotografia e que infelizmente não conseguimos ter uma sua. Hoje podemos gravar imagens e falas e depois mostrar a todos como em um espelho mágico. Não vamos mais estender, capitão, essa nau das novidades que navegam por tempos que estouram ampulhetas e marés.

Ficamos pensando em fixar esta carta na parede como você fez no Forte do Reis Magos em 1888, fato tão inusitado e que hoje é tão comum. Agora chamados de mural, lambe ou cartaz... mas não! Não faremos isso. Vamos colocar aqui na nossa primeira revista literária-poética-visual que chamamos de CIRANDAR. Você abrirá nossos trabalhos nesse caminhar de nossas publicações. É uma homenagem também ao Recreio, A Tribuna, A República e tantos outros jornais e revistas literárias que o publicaram. Obrigada Lourival por vim antes e segurar o mastro da nossa tão linda e gigantesca arte potiguar, desbravadora e precursora de tantos feitos históricos. Um forte abraço, Rita Machado e Jean Sartief NOVEMBRO de 2022 véspera da eleição no Brasil.

Saiba mais sobre o Edital de Economia Criativa do SEBRAE-RN

Os negócios culturais movimentam recursos, geram empregos e possibilitam o descobrimento de novos talentos no Rio Grande do Norte. Em todo o mundo, a economia criativa só cresce e milhares de micro e pequenas empresas estão inseridas dentro dessa cadeia produtiva, criando conteúdos críticos, reflexivos e que emocionam.

O Edital de Economia Criativa, criado desde 2015 , é um edital de apoio que tem o objetivo de democratizar o acesso a serviços com ênfase no empreendedorismo e na promoção de bens tangíveis e intangíveis, resultantes de uma atividade criativa com valor econômico reconhecido, fomentando a indústria da economia criativa no Rio Grande do Norte.

Ao longo dos anos foram sendo inseridos novas categorias e em 2022 o edital foi publicado para dez categorias, são elas: Artesanato, artes cênicas, artes visuais, audiovisual, bandas filarmônicas, dança, literatura, música, patrimônio material e patrimônio imaterial.

Em 2022 foram selecionados até 100 projetos que receberam até R$ 10 mil cada com o objetivo de os recursos serem destinados a ajudar no custo de execução dos projetos.

Atenciosamente, Coordenação do Edital de Economia Criativa

conheça o portal do SEBRAE / RN e fique atento as novas chamadas:

CONHECER

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Poesia potiguar nas aulas de História

Tenho feito experiências bastante proveitosas no que diz respeito ao uso da Literatura em sala de aula. Em particular, nas aulas da Licenciatura em História da UFRN, em Caicó, onde atuo na docência desde o ano de 2013. Ao ministrar a disciplina Introdução ao Estudo da História, componente curricular de base para todo o curso, promovo uma breve discussão sobre os contextos aos quais estavam ligados autores e autoras que escreveram obras no âmbito da ciência histórica, na tentativa de que os educandos captem as conexões entre o que estava acontecendo na época da publicação dos livros e o seu conteúdo. No intervalo entre uma unidade e outra dessa disciplina, decidi realizar um pequeno sarau, com a turma, para potencializar mais ainda essa busca pela personagem do autor ou autora, sua vida, influências, forma de escrita. Entretanto, para esse exercício, não trabalhei com livros de ciência e, sim, de poesia – e do Rio Grande do Norte.

O aprendizado, com esses saraus, tem sido significativo para todas as pessoas envolvidas no processo. Costumamos ler e declamar obras de poetas potiguares e, logo após isso, discutir em que ponto um verso ou um poema tocaram a vida de quem teve contato com esse texto naquele breve momento. Em algumas das vezes, motivados pelo impacto da poesia na vida dos discentes, a turma produziu, em duplas, novos poemas, a partir dos primeiros, conectando-os com suas experiências de vida. Em cada um desses saraus, de quebra, faço discussões elementares sobre poesia, poema, estrofe, verso, e a importância da declamação de textos poéticos no Ensino de História. Trata-se, assim, de uma atividade que potencializa competências a serem incorporadas pelos licenciandos, ao exercitar a sensibilidade, que deve ser elemento constante no diaa-dia de um professor ou professora de História.

Nos saraus realizados no semestre 2022.1, momento de retorno presencial após os tempos pandêmicos do ensino remoto, selecionei livros e zines de autores e autoras norte-rio-grandenses para leitura e declamação em sala de aula, dentre eles, os Maria Maria Gomes, Jeanne Araújo, Camilly Silveira, Iara Carvalho, Jean Sartief, Eveline Sin, Regina Azevedo, Auri Vulpine, Gonzaga Neto, Jaíne Chianca, Mara Macêdo, Adélia Danielli, Rodrigo Sérvulo, Alda Medeiros, Suerda Medeiros, Denise Medeiros, Marianne Galvão, Thiago Medeiros, Prentice Costa, Victor Azevedo, Humberto Hermenegildo, Adriano de Sousa, Ana de Santana, Cristina Moura, João Chapeiro, Vinícius Dantas e Marize Castro. A experiência foi incrível! Um momento de respiração entre as – muitas vezes – enfadonhas discussões acadêmicas e que nos leva a pensar questões como: De que forma promover ações de fruição, com a literatura potiguar, nas aulas de História? Como despertar talentos latentes para as letras a partir do contato com a poesia potiguar? Dentre as principais avaliações feitas pelos discentes, sobre essas ocasiões de vivência poética, está aquela que coloca o reconhecimento de si nos versos de autores e autoras que vivem desde um recanto do seu próprio bairro até a capital do estado, em Natal. Momentos de muito aprendizado e, principalmente, de emoção, na experiência de formação de professores em História.

Helder Macedo Historiador e professor de História
PARA INSPIRAR PARA INSPIRAR PARA INSPIRAR PARA IN

Uma pausa no dia

Um respiro Na mão esquerda uma baqueta arqueada se solta e toca a pele do tambor escutas? é a marcação da ciranda

É o convite a CIRANDAR

Aqui. nesse caderno que se abre um poeta indica outro poeta que indica outro e assim a música segue sem parar...

a cidade me olha nos olhose eu tremo temo esse olhar engarrafado de quem sabe que é preciso de quem chora mais pela ausência do que pelo excesso

como quem sabe que faltará tempo abraço e ar.

@preuparardemedoer
Ciranda Poética
Thiago Medeiros ...

Minha mãe nunca viu Stela usando uma calça comprida eu nunca vi Stela usando uma calça comprida seu guarda-roupa era feio de saias e vestidos à altura dos joelhos assim orientaram seus antepassados femininos a história que vem das bisavós das avós das mães e chegam até nós entrelaçadas com tantos ensinamentos de como ser e como não ser as velhas etiquetas o peso do patriarcado que ainda se carrega com tantas mulheres mas cada vez mais há um ressoar de vozes unidas eu e você nossos corpos os tempos são outros e o futuro é nosso.

Sobre a página 21 do livro "Stela e outros poemas de amor’’ de Marina Rabelo

O ponto vivo entre duas mulheres acometidas pela cegueira de suas existências, as partes de seus corpos acomodadas em panos proibidos, no esconderijo imaginado de suas formas diárias, seus papéis. Uma não consegue ver a outra, como um molde próximo demais. São mais de duas, são muitas. Ajoelhadas estamos, porém não mais sós. E o ponto vivo é a poesia de Marina Rabelo.

Letícia Torres

@mardelirios
Marina Rabelo
@leticiatorres___

falta foto

FilipeAnjo - Ilustrador, Designer Gráfico e Artista Plástico de Natal/RN. Atua desde 2009 e já criou ilustrações para diversas bandas, como Plutão já foi Planeta, Far From Alaska, WEKS e Kevin O Cris, e festivais como a Virada Cultural de Natal, SIM São Paulo, Braga Music Week (POR) e Soundville(POR). Ilustrou/diagramou 10 livros entre eles “Pensamento Inverso” e “O Anel de Giges”, do rapper e poeta Fábio Brazza. Pinta desde 2013 e já desenvolveu exposições sobre universo rockabilly e rock'nroll, filmes exploitation, no Experiência Grindhouse(ao lado dos irmãos Casquín), outras duas sobre dois filmes do John Carpenter (They Live e Big Troubles In Little China), David Bowie, Zé do Caixão, e última, denominada XiloHorror, em homenagem ao cinema de terror com pinturas e ilustrações com referência as xilogravuras nordestinas.

arte em homenagem ao soneto:

Filipe Marcus @filipeanjo https://www.fb.com/AKAFilipeAnjo/ http://www.flickr.com/photos/filipeanjo/ SONETO À D. Maria Emília de Melo Azevedo (Sinhazinha) no dia dos seus anos. Se é belo na manhã fresca e serena Ver a rosa ostentar realeza, E altivando o primor d’alta beleza Sobre o galho embalar-se tão amena.

Se é belo ver a cândida açucena Vergonhosa brincar com a doce aragem, E tomando de Flora a linda imagem, Da donzela imitar a mão pequena.

Se é belo, no pomar delicioso, Ver com brandos queixumes a rolinha Extremosa a chamar o terno esposo. Mais belo é ver-te leda e tão azinha, Em teu aniversário venturoso, Conquistar mil aplausos, Sinhazinha. 27 – 1 – 1876. Nota de Câmara Cascudo: “Segundo o Prof. Joaquim Lourival, este soneto é uma paródia de M. M. B. du Bocage.”

LOURIVAL AÇUCENA: UM POETA INAUGURAL DO RN

Maiara Juliana Gonçalves da Silva

Nas palavras do escritor Tarcísio Gurgel, Lourival Açucena é o “poeta inaugural” do Rio Grande do Norte. Nascido na cidade de Natal no dia 17 de outubro de 1827, alguns anos mais tarde, Joaquim Eduvirges de Melo autodenominou-se Lourival Açucena. O apelido ficou conhecido depois de representar o capitão Lourival na peça O desertor francês (1853) encenada em Natal. Ao que parece, a peça foi uma adaptação de Le Desérteur, um drama escrito pelo francês Louis Sèbastien Mercier. A sua interpretação deve ter sido tão marcante ao ponto de ser lembrado sempre pelo nome da personagem. Mas Lourival Açucena marcou outros espaços também. Dentro do cotidiano pacato e lento da província potiguar, Lourival é lembrado como pioneiro e ilustre colaborador da literatura norte rio-grandense.

De origem popular, filho de Maria Pacífica de Melo, o poeta teria legado o gosto pela leitura dos clássicos literários. Mesmo que o escritor não tenha publicado nenhum livro, a maior expressividade de Lourival Açucena foi nas letras. Foi pioneiro no desbravamento do cenário das letras natalense. Seu nome estava lá no periódico O Recreio, aquele que viria a ser o jornalzinho pioneiro no universo das letras potiguares. Fundado em 1861, o jornal O Recreio, muito embora só tenha sobrevivido por dez meses, circulou as primeiras manifestações literárias em Natal na imprensa periódica. Estamos falando da segunda metade do século XIX, época em que publicar livros era uma tarefa onerosa. Sendo assim, os homens de letras norte-riograndenses conquistavam visibilidade por meio de textos publicados naquela que era considerada a maior vitrine social da escrita: os jornais e as revistas. Na imprensa periódica literária, Lourival Açucena atuou na colaboração dos jornais O Recreio (1861), A Parasita (1872), Eco Miguelino (1873), O Crepúsculo (1875) e O Pândego (1885). Era admirador de escritores como Luís de Camões, Bernardo Guimarães, Joaquim Manuel de Macedo, Eugênio Sue e Manuel Maria Barbosa du Bocage, contudo, a produção do poeta Lourival Açucena era de versos únicos, pois não seguia nenhuma escola ou tendência literária brasileira difundida em sua época.

capa

Aos vinte e dois anos, o poeta trabalhou como porteiro do Correio e, posteriormente, escriturário da Tesouraria, 1º oficial da Secretaria do Governo, aposentando-se como chefe da mesma seção. Foi mais eleitor da paróquia, juiz de paz, delegado de polícia e membro fundador de três lojas maçônicas. Além dos cargos burocráticos, Lourival Açucena ainda se alimentou de pretensões políticas. Na administração de Amaro Bezerra, o presidente da província prometeu a Lourival o cargo de deputado provincial. No entanto, a promessa não foi cumprida.

Segundo o conjunto de crônicas intituladas Lourival e seu tempo, escritas por Henrique Castriciano e publicadas no jornal A Republica em 1907, o poeta não foi nomeado deputado provincial por causa de seu comportamento boêmio atribuído por causa de suas cantorias, uma vez que o cargo na Assembleia só seria ofertado “mediante a condição do Sr. (Lourival) não cantar no coro, pois, como se expressou não tem feito outra coisa senão cantar e tocar nas igrejas, nas ruas, em toda parte”. Apesar desse atrito entre o presidente da província e o poeta, Lourival Açucena ocupou diversos cargos políticos nas administrações dos presidentes Gustavo Adolfo de Sá (1867-1868) e de José Nicolau Tolentino de Carvalho (1877-1878).

‘‘Amor é brando, é zangadoÉ faceiro e vive nu,Tem vistas de cururu, E vive sempre vendado:É sincero, é refolhado,Causa prazer, causa dor,Tem carinhos, tem rigor, Amor... pinte-o quem quiser,Retrate o amor quem souber,Eu não sei pintar amor.’’ AçucenaLourival

De seu pai, Manoel Joaquim Açucena, Lourival herdou o exímio gosto pelo violão e pelas noites enluaradas. Aos doze anos de idade, quando já era aluno do Colégio secundarista Atheneu Norte-rio-grandense, Lourival já cantava modinhas e lundus ao violão. Nas palavras de João Amorim Guimarães, Lourival Açucena foi um “festejador da vida”, adjetivo utilizado para fazer referência aos seresteiros da cidade do século XIX. Nesse período, as serenatas tiveram a sua grande época na cidade do Natal. O hábito era sair pelas ruas tranquilas da cidade noturna, em grupo, entoando versos acompanhados pelo som de um violão. A prática de serenatas foi possível devido ao desenvolvimento das modinhas no estado, isto é, obras compostas de melodias e de poesia. Lourival Açucena deixou oito poemas musicados.

Segundo Cascudo, o repertório do Lourival era composto de: chulas, lundus, modinhas langorosas, rondós em oitava, fados portugueses, cantilenas doces em ritmo acalentador. Foi o primeiro a popularizar Fagundes Varella, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e Castro Alves, “pondo-lhes solfa nos versos e entoando-os a plenos pulmões”. Cantou e encantou pelas ruas potiguares com viola na mão e entoou poemas em noites de luar. No ano de 1907, desencantou. Morreu em uma situação de pobreza e de anonimato. Apesar do fim ignoto, o poeta foi homenageado com a publicação de Poliantéia de Lourival Açucena (1907) produzida pelo grêmio literário Oficina Literária e, vinte anos mais tarde, Luís da Câmara Cascudo reuniu suas poesias no livro póstumo intitulado Versos, publicado em 1927. Nas primeiras páginas do livro, Cascudo, tecendo breves palavras, nos deixou a memória significante do escritor que, além de poeta inaugural do estado e festejador da vida, “Lourival era a alma alegre da cidade”.

Nos agros transes da vida’’ . ‘’Só teu amor me conforta Lourival Açucena

Referências bibliográficas:

CASCUDO, Luís da Câmara. AÇUCENA, Lourival (Joaquim Eduvirgens de Mello Açucena). Versos. Natal, RN. Typographia D' A Imprensa. 1927.

CASTRICIANO, Henrique. Lourival e seu tempo III. A Republica. Natal, 05 de julho de 1907.

CASTRICIANO, Henrique. Lourival e seu tempo V A Republica. Natal, 16 de julho de 1907.

GURGEL, Tarcísio. Informação da Literatura Potiguar. Natal: Argos, 2001.

LOURIVAL DE AÇUCENA – O GRANDE ARTISTA DE NATAL. Disponível em: https://tokdehistoria.com.br/2017/09/09/louriv al-acucena-ogrande-artista-de-natal/ Acessado em: 09 de agosto de 2022.

MELO, Manoel Rodrigues de Melo. Dicionário da imprensa do Rio Grande do Norte (1909-1987). Natal: Fundação José Augusto, 1987.

O RECREIO - crítico, poético e noticioso. Natal, 1861.

SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal: a vida intelectual natalense (1889-1930). 2014. 399f. Dissertação (Mestrado em História) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

Maiara Juliana

da Silva é uma mulher preta, mãe e professora de História na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, lecionando no campus Escola Agrícola de Jundiaí. Possui formação de bacharelado e de licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É mestra pelo Programa de Pós graduação em História e Espaço pela mesma instituição, que resultou na publicação da obra de sua autoria "Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal: a vida intelectual natalense (1889-1930)". Atualmente, Maiara J. Gonçalves é aluna do doutorado em História na UFRN e também é aluna da Especialização em História e Cultura Indígena e Afrobrasileira na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

CAPA: LOURIVAL AÇUCENA: UM POETA INAUGURAL DO RN
Gonçalves

para conhecer

Mulherio das Letras - coletivo literário feminista que reúne mais de sete mil escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, além de mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, com o intuito de visibilizar, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário artístico literário mundial. siga: https://www.facebook.com/mulheriodasletras/ e também:

@mulheriodasletrasindigenas

@mulheriozila

@mulheriodasletrasportugal

Insurgências Poéticas - é Sarau, Coletivo & Selo literário de bastante expressividade em nosso Estado. Vale muito a pena seguir e conhecer os saraus artísticos organizados por esses importantes artistas. Sempre regado por poesia, dança e música você será conduzido a um espetáculo único e participativo. Um coletivo forte e de luta que ocupa espaços, reinventado olhares e a força das palavras. siga:

@insurgenciaspoeticas

para ouvir

Podcast - UM POETA EM CADA ESQUINA - um encontro divertido e importante com personalidades literárias do nosso Estado. Um convite a um mergulho nas palavras de artistas necessários. Idealizado pela @anzoisprodutora, com captação de áudio e vídeo pela @nobirprodutora e identidade visual por @filipeanjo.

O álbum musical Leve da cantora, pesquisadora, compositora e percussionista Aiyra é som vibrante carregado de uma poética militante e uma fluidez percussiva. De movimentos e potencias ecléticas o álbum quica e milita seus pensamentos. É um convite do tempo para o corpo vibrar. Confira em todas as plataformas musicas. Leve - Aiyra

para visitar

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - Fundado no dia 29 de março de 1902. Abriga uma coleção museológica, documental e bibliográfica referente à história e cultura do Rio Grande do Norte. Tem horário especifico de visitação - de segunda a sexta das 8 as 11 da manhã. contato@ihgrn.org.br Rua da Conceição, N.° 622, Cidade Alta, Natal-RN

seburubu espaço de compra, venda e troca de livros e discos da cidade. Super bem freqüentado por poetas e pesquisadores conta com uma ampla e organizada biblioteca potiguar Certamente você sairá de lá com livros devidamente encontrados. O Espaço ainda conta com sala de exposições e atende a diversas experiências artísticas. siga e visite: @seburubu Av. Mal. Deodoro da Fonseca 307, Natal-RN

sebo vermelho - se você ainda não conhece está perdendo uma significativa parte da história do nosso Estado. Lá que também é editora, maestrata pelo atencioso Abimael, é capaz de você sair com um livro publicado. Uma raiz certa para o desabrochar de suas pesquisas. siga e visite: @sebovermelho Av. Rio Branco 705, Natal-RN

para ver

Após o lançamento do seu primeiro EP "Ventre e Voz", a cantora e compositora Ana Tomaz, compartilha um registro audiovisual único e poético. Com roteiro da própria artista a Websérie Ventre e Voz é dividida em 4 episódios: Lua Nova, Cheia, Crescente e Minguante. O documento visual é um mergulho em suas canções e as particularidades do seu fazer artistico/musical.

para comer

Goodala Burger - Vegan • Cultura • Arte Alimentação livre e revolucionaria! Espaço acolhedor e artístico. Rua Arabaiana 3100, Ponta Negra. De Quarta a Domingo, das 17:30h às 22:30h

Todos os dias quando os ponteiros gastos do relógio fraco da sala se encontravam próximo às dezoito horas, sabíamos que encentraríamos aquele sujeito descendo a ladeira nas proximidades da Ribeira. Terno surrado e casto pela luz do dia que já não o tocava com tanta firmeza, reluzia a luz das estrelas. Do alto do Rosário era possível avistar os ultimos fachos de luzes que pintavam o Potengi e ele despontando em passos firmes e cadenciados que tracejavam musicalmente cada melodia do nascer da noite. Lembro-me que da fresta da porta tentava ver seu rosto.

Doce ilusão.

Sentia em algum sentido que transpassava a visão, apenas um brilho tímido que parecia rasgar um sorriso branco de cando de boca. Será que via isso?

Será que ele me via?

Brando, derretia pelas ladeiras numa objetividade matemática.

Para onde ia o homem vestido de branco em noite de lua clara?

Onde será que reluzia suas palavras. Um homem sem rosto.

Não podia ver seu rosto. O que é que ele dizia?

Pesadelos diários de uma criança que sonhava a liberdade que parecia morar na precisão de seus passos.

Um dia quase sem querer, como quem finge não perceber a força que emana o olhar de minhas observações, mostrou o que levava em sua mão esquerda.

Não consegui enxergar ao certo o que era aquilo que ele segura mas, parecia algo tão forte. Próprio de uma força capaz de entoar cânticos responsáveis pelo nascer do dia. Parecia emanava palavras melodiosas. Era o que pude entender no meu misto do inconstante assombrar da curiosidade e do despertar de um acontecimento. Seria ele o responsável pela música? Aquelas músicas...? Será que era aquele instrumento tão julgado pelos meus tios e que gerava um certo encantamento mágico em minha mãe?

Lembro de sua agonia nesse mesmo despertar da noite. Lembro do quanto se apontava o indicador alto para falarem de algo que de algum jeito aquele homem também carregava com ele.

continua na próxima edição da revista...
crônica escritores completam a história a cada edição
APOIO: @giroseloartistico @ritamachadoart @sartief

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