Retrospectiva & Perspectiva

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A Revista Retrospectiva & Perspectiva é uma publicação especial lançada no XV Seminário Regional do Educador, realizado de 14 a 18 de março de 2010, como parte das comemorações dos 50 anos do curso de Pedagogia, 10 anos da Faculdade de Educação (FACED) e 1 ano do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Universidade Federal de Uberlândia Reitor Alfredo Júlio Fernandes Neto Vice-Reitor Darizon Alves de Andrade Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alcimar Barbosa Soares Pró-Reitor de Graduação Waldenor Barros de Moraes Filho Pró-Reitor de Desenvolvimento e Social Sinésio Gomide Junior Pró-Reitor de Planejamento Valder Steffen Júnior Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis Alberto Martins da Costa Diretora da Faculdade de Educação Mara Rúbia Alves Marques Coordenadora do Curso de Pedagogia Maria Irene Miranda Coordenadora do Curso de Comunicação Social – Jornalismo Adriana Cristina Omena dos Santos Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Carlos Henrique de Carvalho Secretária Geral Rosane Cristina Oliveira Santos Editores Gerson de Sousa Sônia Maria Santos Redação Diélen dos Reis Borges Almeida, Fausiene Pereira Resende Victor, Francklin Vinicius de B. Tannús, Gabriela Mendonça Martins, Gabrielle Carolina Silva, Gustavo Oliveira Silva, Lucas Felipe Jeronimo, Maria Clara Souza Parreira, profa. Mirna Tonus, Paula Arantes Martins, Paula Graziela, Stella Vieira, Talita Martins dos Reis, Tassiana Nascimento Tavares. Revisão Mirna Tonus Foto Capa Ricardo Ferreira de Carvalho Foto Contra-capa Maria Clara Souza Parreira Projeto Gráfico Ricardo Ferreira de Carvalho Tiragem 1.500 exemplares Impressão Imprensa Universitária da Universidade Federal de Uberlândia Uberlândia, março de 2010 Faculdade de Educação Avenida João Naves de Ávila, 2121 – Campus Santa Monica – Sala 1G 156 CEP 38400-902 – Uberlândia (MG) Site: www.faced.ufu.br

CARTA DO EDITOR A proposta de lançar uma revista comemorativa aos 50 anos do curso de pedagogia, 10 anos da Faculdade de Educação (FACED) e 1 ano do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo se fez como desafio para os estudantes dos cursos de pedagogia e de jornalismo. O objetivo era ir além do mero registro histórico. Cada tema definido na pauta para a entrevista deveria valorizar o testemunho de vida de homens e mulheres envolvidos na história da fundação e desenvolvimento da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O trabalho certamente exigiu aplicação e esforço dos estudantes. E o resultado não poderia ser diferente. A principal experiência de todo o processo para os jovens jornalistas e educadores em início de formação intelectual está no seguinte diagnóstico: não se pode levar alguém ao testemunho sobre o passado sem evitar o mergulho dele na emoção. Recordar é trazer o sentimento de volta para o coração, no sentido etimológico da palavra. Engana-se quem afirma ser a entrevista somente um aspecto técnico no trabalho jornalístico. Ela se constitui no diálogo e na troca de sentimentos entre as pessoas que se propõem a exercitar a comunicação em todo o processo. No momento em que alguém é levado a exteriorizar parte da sua vida para o outro, ele deposita a confiança de que o testemunho será compartilhado de forma íntegra com a sociedade. A prova está nos textos distribuídos nas 64 páginas desta revista. É a história da UFU sendo desvelada em narrativas mergulhadas ora em sorrisos, ora em lágrimas, ora em conflitos, ora na esperança de futuro melhor. A principal mudança para esses homens e mulheres é o significado da história vivida. Os entrevistados elucidam como construíram os fatos no passado, sempre empenhados e com toda a existência mergulhada na luta travada nas décadas finais do século XX. As mudanças sócio-econômicas em Uberlândia seguiam consoantes as alterações na história do Brasil. A leitura, no novo contexto, exige nova análise no limiar da primeira década do século XXI. A mediação dessa leitura, como contraponto aos valores do passado e do presente, é contextualizada pela experiência de vida e subsidiada pela memória. E a luta travada para construir uma educação de melhor qualidade pública ressurge no testemunho como indagações para avaliar o estado presente da própria universidade. Será que os novos homens e mulheres conseguem compreender o esforço e sacrifício realizados por muitos para a federalização da então Universidade de Uberlândia? Quais são os atuais desafios para a formação do pedagogo? Como traçar os desafios da Faculdade de Educação com a implantação do curso de Jornalismo? As perguntas vão sendo encadeadas na mesma velocidade em que as problemáticas desafiam novos olhares para os campos de comunicação e educação. No movimento contínuo e circular da história, a Revista Retrospectiva & Perspectiva apresenta as faces da realidade da formação da UFU. Se o leitor conseguir reviver a luta desses sujeitos no decorrer da leitura dos textos nas páginas seguintes, o valor histórico dos testemunhos já terá sido alcançado. Gerson de Sousa


Revista

Retrospectiva & Perspectiva Um Traço Histórico pelo Olhar Pedagógico Década de 60 idealizava figura do “mestre” como reserva de conhecimento e modelo de moral.

Carlos e FACED: uma mesma trajetória na UFU “Faço Artes na rua, Economia em casa e Filosofia nos butecos”, brinca um dos funcionários mais antigos da Pedagogia.

Gabrielle Carolina Silva Tassiana Nascimento Tavares

Pág. 4-7

Pág. 20-21

A experiência de lidar com o ensino na escola Maria Beatriz Vilela: a mudança, hoje, está na qualificação acadêmica: muitos doutores sem pé no ensino

De aluna a coordenadora Maria do Rosário atuou em várias áreas na Faculdade em que nasceu a Pedagogia.

Diélen dos Reis Borges Almeida

Pág. 8-9 Gabriela Mendonça Martins

A idealização da FAFI Ir. Ilar Garotti explica os acontecimentos que nortearam a autorização da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Uberlândia.

Gustavo Oliveira Silva

Pág. 10-12

A Pedagogia como realização

Pág. 22-23

A complexidade de ser cordial Desafio de Robson França era suprir ausência de envolvimento efetivo entre docentes e discentes.

Paula Graziela

Pág. 24-25

Lucia Helena Borges conta a experiência e dificuldades de estudar nos anos 60 a 70.

Gustavo Oliveira Silva

Pág. 13-14

Compromisso com a Educação

Viver com simplicidade e realizar sonhos Depoimento de Cândida Rosa revela momentos de alma: quando o coração está no leme.

Marly Bernardes Araújo testemunha desafios vivenciados nos anos 80.

Fausiene Pereira Resende Victor

Paula Graziela

Pág 15-17

Pág. 26-27

As mudanças no perfil do aluno Guilherme Saramago: As alterações nas formas de ingresso exigem novas práticas pedagógicas.

‘Ser pessimista em Educação é um absurdo’ Historiador José Carlos Araújo fisgado pela Educação analisa a Pedagogia.

Francklin Vinicius Tannus

Pág. 18-19

Maria Clara Parreira

Pág. 28-29


A necessidade de formar educadores Olga Damis: “consegui vivenciar no curso a relação teoria e prática”.

Talita Martins dos Reis

Pág. 30-31

Faces da UFU: ontem e hoje

Primeira Diretora eleita da FACED Sônia Maria dos Santos: Um mandato de quatro anos exigiu dos diretores eleitos uma nova concepção de gestão

Maria Clara Souza Parreira

Pág. 48-50

Pág. 32-33

Os caminhos da Pós-graduação

Educação em debate Entrevista da Profª. Dra. Mara Rúbia Alves Marques – Diretora da FACED para o Prof. Dr. Geraldo Inacio Filho – Primeiro Diretor da FACED.

Coordenador Carlos Henrique Carvalho analisa como potencializar o programa para colocar a produção em debate. Lucas Felipe Jerônimo Pág. 51-52

Pág. 34-37

Destino ou acaso? Além do conteúdo: uma visão de mundo Professora Flaviane Reis se torna canal de educação, quebra de preconceitos e paradigmas.

Talita Martins dos Reis

A publicitária Adriana Omena que se entregou à docência por paixão às salas de aula e à comunicação.

Paula Arantes Martins

Pág. 53-54

Pág. 38-39

Jornalismo e a Educação: encontro Diálogo contribui para formação do indivíduo e permite a interdisciplinaridade, analisa Mirna Tonus.

Reconstruindo a educação Primeiro diretor Geraldo Filho analisa os avanços obtidos com a criação da FACED.

Stella Vieira

Lucas Felipe Jerônimo

Pág. 55-56

Pág. 40-41

Um inovador Coerência para reestruturar Maior desafio de Maria Irene: quatro anos para mudar uma cultura de cinquenta.

Fausiene Pereira Resende Victor

Professor Marcelo Soares Silva analisa o gestor público e sua gestão na FACED.

Francklin Vinicius Tannús

Pág. 57-58

Pág. 42-43

Sucesso acadêmico na maturidade Empreendedorismo e educação Ex-diretora da Faculdade de Educação, Conceição Maria conta o segredo de suas gestões na UFU.

Gabrielle Carolina Silva

Pág. 44-45

O norte da educação da UFU está na Faced Reitor Alfredo Julio Neto atribui à unidade a responsabilidade de oferecer à instituição os métodos para enfrentar os desafios pedagógicos contemporâneos.

Mirna Tonus

Aos 52 anos, a aluna Geracilda Silva se destaca na Pedagogia não pela idade, mas pela capacidade.

Pág. 46-47

Diélen dos Reis Borges Almeida

Pág. 59-60

Quatro anos e um desafio Mara Rúbia conta como a FACED procura garantir a formação de professores.

Paula Arantes Martins

Pág. 61-62


PEDAGOGIA 50 ANOS

FACED 10 ANOS

JORNALISMO 1 ANO

Um traço histórico pelo olhar pedagógico Década de 60 idealizava figura do “mestre” como reserva de conhecimento e modelo de moral Tassiana Nascimento Tavares

A Arqu ivo UFU

marcada por acelerado desenvolvimento História do curso de Pedagoprodutivo e intensa industrialização. Com gia no Brasil passa a existir sua expansão, cresce a necessidade e a formalmente com a organizavontade da criação de uma escola de ensição da Faculdade Nacional de Filosofia da no superior. O comércio, o transporte e a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, pecuária foram em 1939. Sua trafatores que dejetória, até exterminaram pandir as particularipara dades da ciMinas dade. Gerais e, mais A Uniespeciversidade ficade Ubermente, lândia Uberlân(UNU) dia, é retem seu sultado de s a tr e início seL iência uma sucesso fia C o il F de de na música, com o culd a são de prou a Fa o n io func Conservatório Musical de Uberlândia, o nd e P réd io cessos ecocriado em 1957. Na década de 1960, vêm nômicos e políticos. outras faculdades para completar: FilosoUberlândia, na década de 1950, era

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PEDAGOGIA 50 ANOS

A Faculdade de Filosofia (FAFI) tem início com os intelectuais da época. Preocupados com os destinos culturais da cidade, eles pensaram em fundar uma faculdade na área de Humanas. Uma comissão composta por padres procurou as irmãs do Colégio Nossa Senhora para que elas assumissem a responsabilidade da faculdade. E a ideia foi acolhida pela diretora e pelas irmãs. O ensino superior da cidade, então com o Conservatório de Música e a Faculdade de Direito, se expande com a FAFI. E assim, na década de 1960, o ensino superior cresce e se torna essencial para o desenvolvimento de Uberlândia. Com a Faculdade de Filosofia vem o curso de Pedagogia, no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas; desde 1960, com a

JORNALISMO 1 ANO

supervisão das madres. É, somente em 1965, que o curso se transfere para a UNU. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia, em 1965, contava com os cursos de Letras e Pedagogia. A década de 1960 contava com grandes dificuldades para o curso de Pedagogia. Dentre elas: a falta de aluno. Em 1963, já em seu quarto ano, havia 39 alunos matriculados, embora a capacidade fosse 150. Em 1964, houve uma redução de vagas oferecidas. A dificuldade financeira também era grande obstáculo ao curso. Cinco anos depois, seria necessário suspender as atividades (27 de março de 1969) por tempo indeterminado. Após acordos com o governo, as aulas voltam em 24 de abril de 1969, com o aumento necessário para a sustentação da Faculdade.

Arqu ivo UFU

fia, Ciências e Letras (1960); Direito (1960); Economia (1962); Engenharia (1965). E, ao longo da década de 1970, vêm outras: Odontologia; Medicina Veterinária; Educação Física; e a Escola de Medicina e Cirurgia. Em 1978, era criada a Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Com todo esse progresso no ensino superior, vários cursos são transferidos para o campus Santa Mônica. Aí se fundamenta o verdadeiro sentido da Universidade (uni = um + versus = voltado), todos os cursos voltados para o mesmo objetivo: aprender, trocar experiências e adquirir melhores condições intelectuais. Esta convergência, em busca da verdade, é que resulta da multiplicidade de saberes.

FACED 10 ANOS

Irs. Maria Lázara, Ilar Garotti e Odelcia Leão: três diretoras da Faculdade

Cultura religiosa e familiar E os aspectos históricos, curriculares? Ou a questão docente e discente do curso de Pedagogia? Será que podem estar relacionados com a formação do curso tal

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FACED 10 ANOS

JORNALISMO 1 ANO

vestibular – na época chamado de “Curso de Habilitação” – de dez candidatos inscritos, apenas um homem. Os exames, escritos e orais, são de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Latim, Inglês ou Francês), Historia Geral, Psicologia e Lógica. Exigem-se do aluno médias acima de cinco em cada um dos exames para ser apto a frequentar o curso superior. Arqu ivo UFU

como conhecemos hoje? O curso durava quatro anos, assim como atualmente. As primeiras disciplinas eram mais gerais e as mais específicas da educação, deixadas para segundo e terceiro anos. No último ano, eram concentrados os esforços para o estágio. E, de acordo com a filosofia cristã que o orientava, o currículo tinha a disci-

1963: Dr. João Goular, Presidente da República em sessão solene (centro)

plina de Cultura Religiosa Superior nos três anos e Pedagogia Catequética para o último. É preciso considerar que não era tratada a diversidade de crenças e sim o ensino do catolicismo. O currículo do curso, em seu início, tem o foco no aspecto religioso e na formação das alunas para atuar na sociedade. Sua posição é baseada na educação doméstica e na educação familiar. São estruturas com enfoque no papel da mulher, enquanto base da família. Uma educação que visa à mulher “senhora do lar”. A maioria das estudantes é feminina e de famílias tradicionais da cidade. No primeiro

6 - XV Seminário Regional do Educador

As alunas, muitas vezes, deixavam de sair de sua cidade e optavam por estudar Pedagogia e/ou vinham do curso Normal oferecido pelo Colégio Nossa Senhora. Logo no primeiro ano, as alunas eram incentivadas a formar o Diretório Acadêmico. Para os participantes, o período era de muito debate e contato com o movimento estudantil estadual e nacional. Há a criação do jornal Alvorada, fundado em 7 de junho de 1960, utilizado como meio de comunicação da faculdade com a comunidade. Arqu ivo UFU

PEDAGOGIA 50 ANOS

Formandos primeira turma Pedagogia e Letras (Neo-latinas)

A mulher da década de 1960 é por si só alvo de discussão. A pílula anticoncepcional e a possibilidade de trabalhar fora de casa mudam a visão e a rotina feminina. A


PEDAGOGIA 50 ANOS

JORNALISMO 1 ANO

No currículo do curso sempre houve contradições - e ainda possui: anuidade versus semestralidade; relação do aluno com a prática; carência de algumas matérias e/ou optativas que preencham as lacunas da formação Pedagógica. A certeza é que não há previsão de resolver todas essas questões em curto prazo.

Dezembro 1963 - Colação de grau da primeira turma Letras

O curso de Pedagogia completa cinco décadas. São anos de caminhada em busca do aprimoramento do ensino superior. Olhar para trás é permitir visualizar toda a construção de um sonho em busca do

A visão dos alunos em relação aos professores é de respeito e estima. Há a idealização de “mestre”, como reserva de conhecimento e modelo de moral. Os alunos veem os professores como exemplo de cidadãos e competência profissional. E recorrem ao mestre por motivos extracurriculares como problemas particulares e orientação pessoal. Acima de tudo, há a confiança.

A formação do corpo docente, nos primeiros anos do curso, prioriza aqueles com orientação confessional e/ou próximos da Igreja, devido à dificuldade de encontrar diploma e capacitação para ministrar aulas no ensino superior. Na primeide Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em cerimônia de colação ra turma de Pedagogia, dos sete Professores de grau professores, três eram membros da aperfeiçoamento da educação. É preciso Igreja, dois católicos e os outros cargos buscar nos detalhes as respostas, para cheeram ocupados por pessoas com seus tragar o dia em que a educação seja a solução balhos acompanhados e/ou reconhecidos sofisticada para um mundo de melhores pelos diretores. A educação laica no curso condições.

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Arquivo UFU

de Pedagogia tem espaço com a inclusão da FAFI na UNU. Em 1974, já não possui disciplina no currículo para tratar especificamente de assuntos religiosos.

Arqu ivo UFU

“vocação natural” de ser mãe e professora é posta à prova. E o que hoje existe de liberdade feminina provém dessa época.

FACED 10 ANOS


De aluna a coordenadora Maria do Rosário atuou em várias áreas na Faculdade em que nasceu a Pedagogia Diélen Borges

Faculdade de Filosofia, em 1971. Ela lamenta o fato de não ter na época, a possibilidade de se engajar em pesquisas: a única opção no universo acadêmico era dar aula. Afinal, as décadas de 60 e 70 marcaram o surgimento das universidades no Brasil, ao passo que os anos 80 e 90 consolidaram as graduações e só então surgiram as pós-graduações.

Dié le n Borge s

A

luna, professora, coordenadora e técnica-administrativa. Muitos foram os papéis desempenhados por Maria do Rosário Curado, 74, na história da Faculdade de Filosofia, na qual foi criado o cinquentenário curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Em 1975, Maria do Rosário já havia se tornado coordenadora dos cursos fora da sede, oferecidos em Monte Carmelo, onde fica até 1981. Essa expansão ocorre a pedido do prefeito da cidade: ele queria evitar que alunos mudassem para Uberlândia para estudar. Lá foram oferecidos os seguintes cursos: Pedagogia, Letras, Estudos Sociais e Ciências, voltados para os professores carmelitanos que ainda não tinham o diploma de Ensino Superior. Maria do Rosário também ministrou algumas aulas nesses cursos durante o período em que foi coordenadora.

Aposentada volta às salas de aula para trabalhar com idosos

A professora fez o curso Normal no Colégio Nossa Senhora e Licenciatura em Geografia na recém-criada graduação da

Ela trabalhou ainda no Colégio Nossa Senhora, durante oito anos, como professora

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de Geografia. Já nos últimos anos antes de se aposentar, estava na secretaria do curso de Geografia da UFU. E por que deixou as salas de aula? “Opção pessoal”, responde.

muito mais interessados pela pesquisa na Geografia”, comenta. A professora conta que escolheu a profissão por vocação, mas preferiria ter trabalhado mais com crianças. Ela compara a época em que trabalhou com os dias de hoje, considerando que houve uma evolução, pois antigamente, a educação infantil se restringia ao ambiente da sala de aula, enquanto que, agora, há mais possibilidades com o uso da tecnologia.

Dié le n Borge s

Atualmente, Maria do Rosário realiza trabalhos com a terceira idade e vive num residencial no bairro Mansões Aeroporto, onde convive com idosos. “Eu já idosa convivendo com os mais idosos”, conta ela, entre risos. Em 2009, a professora foi convidada pela Prefeitura Municipal de Uberlândia para trabalhar “EspiritualidaE por falar em tecnologia, Maria do Rode” com os sário revela idosos do que gosta Centro Edumuito de cacional de computador e Assistência internet. Ela Integrada utiliza a web (CEAI). No para mandar segundo see receber emestre do mail e, prinmesmo ano, cipalmente, ela trabalhou para fazer com esses pesquisas, inalunos o croclusive, utilichê de gramzadas em seu Irmã Ilar e Maria do Rosário mantêm a amizade dos tempos de graduação po. trabalho com Depois da aposentadoria O professor esquece as salas de aula depois que se aposenta? Com Maria do Rosário, isso não aconteceu. Além de ser convidada para trabalhos especiais, como o que realiza no CEAI, a eterna professora continua debatendo com ex-colegas questões referentes à educação. “Eu sinto, através do que eu escuto, principalmente da Vera Salazar, como os alunos hoje são

idosos. “Muita coisa que eu vejo na internet eu passo pra eles”. Dos tempos da academia, ficaram as memórias e as boas amizades, como a que mantém com a Irmã Ilar Garotti, 76. Aliás, nossa entrevista com Maria do Rosário foi feita no apartamento da amiga. Décadas depois de terem trabalhado juntas, as duas mantêm o vínculo e se encontram periodicamente para colocar o assunto em dia.

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A idealização da FAFI Ir. Ilar Garotti explica os acontecimentos que nortearam a autorização da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Uberlândia Gustavo Oliveira Silva

dade nasceu do desejo de um grupo de intelectuais de

Uberlândia: preocupados com o destino cultural da cidade, eles idealizaram a cria-

Gustavo Silva

A

ideia da fundação da Facul-

ção da Faculdade. A comissão era composta por Padre Mário Forestan, André Fonseca, Moacir Lopes de Carvalho e Saint-Clair Netto. Eles procuraram as Irmãs do Colegio Nossa Senhora para que elas assumissem a responsabilidade da fundação. Esta comissão foi ouvida pela superior da Casa, Madre Emilia Ribeiro e pela Irmã Maria Lázara Fioroni, diretora do Colégio. A ideia foi acolhida com grande entusiasmo e interesse por todas as Irmãs do Colégio que acompanhavam o desenvolvimento sócio-cultural da cidade de Uberlândia. Era preciso obter a licença de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, Bispo

Ir. Ilar Garotti: nomeada diretora da Faculdade pela Me. Maria Vilac

Diocesano de Uberaba. Assim, o Padre

Madre Emilia Ribeiro e Irmã Lázara Fio-

Mario Forestan, superior dos salesianos,

roni, em audiência previamente marcada,

10 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010


expõem a Dom Alexandre o desejo de

do esplendida vitória. Os processos de ob-

abrir uma faculdade de Filosofia, anexa ao

tenção e autorização de funcionamento

Colégio Nossa Senhora. Com agradável

haviam sido unanimemente aprovados

surpresa, responde-lhes o Sr. Bispo “Não

pelo Conselho Nacional de Educação. A

só aprovo, mas ordeno que se abra esta

primeira aula inaugural é realizada em 11

Faculdade. Ela já estava no meu pensa-

de março de 1960, proferida pelo Prof.

mento há muitos anos. Esta é a hora de

Francisco Ribeiro Sampaio, da cadeira de

realizar os desígnios de Deus bem patente

Língua Portuguesa da PUC de Campinas.

nos acontecimentos em Uberlândia”.

O tema abordado é “Santa Tereza de ÁviArqu ivo pe ssoal

la- Sua mística- Seu estilo”. Transferida de Campinas, interior de São Paulo, chega Ir. Ilar Garotti, nomeada Diretora da Faculdade pela Fundadora da Congregação das Irmãs Missionarias, Me Maria Vilac Ilar vem em substituição à Ir. Maria Lazára Fioroni. O paraninfo da primeira turma foi o Prof. Osvaldo Vieira Gonçalves, que, mais uma vez, destacou os benefícios da fundação da Faculdade. Suas palavras finais foram as seguintes: “Segui, meus amigos, vosso destino. Ao vosso lado, tendes vossa juventude e vossa fé. De nossa vida fazei um exemplo de trabalho construtivo. Reparti com vossos semelhantes, o que levais desta escola. E, certamente, amando Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos, estarei pondo em prática os mais sábios ensinamentos da Sagrada Escritura e Um novo olhar para a educação: fraternidade como prática pedagógica

No dia 11 de dezembro de 1959 chega a magnífica notícia transmitida pelo Dr. Jacy de Assis, através de telefonema do Rio de Janeiro: as Faculdades de Direito e Filosofia de Uberlândia haviam alcança-

que

refletem

simplesmente,

normais

oriundos de uma sabedoria que transcende os homens e o tempos”. O ano de 1964 foi marcado pelo reconhecimento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uber-

XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 11


lândia e de seus cursos de Letras: Neo-La-

trabalho sem amor, te faz escravo; a autori-

tinas e Pedagogia, pelo Decreto nº 53.477,

dade sem amor, te faz tirano; a lei sem amor,

de 12 de janeiro assinado pelo Presidente

te escraviza; a politica sem amor, te deixa

João Goulart.

egoísta; a fé sem amor te deixa fanático; en-

Alem dos dois cursos já existentes: Le-

fim a vida sem amor não”. E Ilar finaliza:

tras e Pedagogia foram criados os cursos de

“Tudo isso sempre constituiu a tônica dos

História, Matemática, Ciências, Geografia,

trabalhos realizados na Faculdade de Filoso-

Estudos Sociais, Ciências Biológicas, Quí-

fia, Ciências e Letras da Universidade Fede-

mica e Psicologia. E também cursos fora

ral de Uberlândia”.

coordenadas

Arqu ivo pe ssoal

lo-MG,

pela Profª Maria do Rosário Curado: Pedagogia, Letras PortuguêsInglês, Estudos Sociais, Ciências. Ir. Ilar explica que a fraternidade como prática pedagógica possibilita a incorporação de valores como: diálogo, solidariedade recíproca que constituem o fundamento do novo olhar sobre a educação. “O espírito mútuo, a aceitação do outro, enfim, o desenvolvimento do amor-doação, constroem o alicerce de todo trabalho de equipe, porque: a inteligência sem amor, te faz perverso; o êxito sem amor, te faz arrogante; a beleza sem amor, te faz fútil; o

"O espírito mutuo e a aceitação do outro constroem o alicerce do trabalho em equipe

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Arquivo pe ssoal

da sede: Monte Carme-


A pedagogia como realização Lucia Helena Borges conta a experiência e dificuldades de estudar nos anos 60 a 70. Gustavo Oliveira Silva

L

ucia Helena Borges é uma das primeiras alunas do curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Uberlândia. Ela ingressou no curso em 1960 e, quatro anos depois, era parte da primeira formatura do curso de Pedagogia. Lucia diz que alguns professores eram religiosos, outros leigos. E inclusive tiveram um curso intenso de matemática: “muitos conteúdos não eram necessários naquele momento como a grande carga de matemática, aritmética e estatística”. Ela analisa que os professores tinham certa dificuldade para incentivarem os alunos a buscarem informação. Nesse período ainda era pouco os lugares com acesso a informação: as bibliotecas da cidade eram pequenas e não eram voltadas para o conhecimento acadêmico; e a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Uberlândia tinha uma pequena biblioteca. Os professores da época, considera Lúcia, eram bem qualificados e cultos e nutriam entu-

siasmo pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. “Eles empenhavam ao máximo para que o curso fosse de qualidade”. O curso de Pedagogia acontecia dentro da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Uberlândia. Entre as disciplinas que Lúcia Helena cita como as mais marcantes da grade curricular se destaca Psicologia com uma carga bem grande de aulas, História da educação, Didática, Sociologia, Filosofia. Lúcia Helena conta “caminhamos até chegar na didática que naquela época menos organizada que hoje, a gente estuda o que era didática mais não tivemos uma pratica efetiva durante o curso, tivemos aulas que a gente lecionava e que os professores avaliaram na própria escola do Colégio Nossa Senhora onde funcionava Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Uberlândia ”. O curso de Pedagogia oferecia bastantes subsídios para as futuras professoras e pedagogas interessadas em autuar no campo escolar. A entrevistada conta que a relação entre

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aluno e professor pode ser considerada de forma excelente. Com professores cultos e instruídos para ministrar as disciplinas, muitos deles nem eram especialistas de certas áreas, e no entanto detinham conhecimento. “Conversávamos muito com os professores naquela época tínhamos liberdades com eles e também um grande respeito com o professor”.

A Faculdade de Filosofia Ciências e Letras sempre teve como fim o aluno. E quando se fala de aluno, duas vertentes são importantes: o interesse e a necessidade. O aluno tem interesse e a instituição tem de satisfazer-lhes as necessidades. Se o fim de todo processo de ensino da Faculdade é o aluno, ele deve ser o centro das atenções: a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras fez isso o tempo todo na busca do conhecimento acadêmico. Arqu ivo pe ssoal

Como era estudar na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras? “Foi uma experiência diferente. Tinha acabado de chegar em Uberlândia, eu sempre tinha estudado em colégio de freiras, sinto que era como um aluno que entra na faculdade hoje. Pois, ao entrar, se depara com uma liberdade escolar não vista antes. Tínhamos atividades culturais, palestras e eventos de lazer dentro da Faculdade”. Para ingressar na Faculdade era necessário passar por uma prova escrita oral com um vestibular. Só poderia fazer o teste quem acabasse o curso normal.

Qual era o caminho percorrido pelas alunas do curso ao deixar a Faculdade. A ex-aluna esclarece: “Nós íamos sair com o diploma basicamente para dar aulas, inclusive lecionar no ensino superior, tanto que eu entrei na Faculdade Federal de Uberlândia com o diploma da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras”. No curso de Pedagogia as alunas poderiam aprofundar em certas disciplinas, o que se nomina hoje como especialização. Outro caminho era entrar no campo da pesquisa.

Colação de Grau da primeira turma de Letras: Neo-latinas. Lucia Helena Borges - segunda da esquerda para a direita

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Compromisso com a Educação Marly Bernardes Araújo testemunha desafios vivenciados nos anos 80 Paula Graziela

C

Pau la Graz ie la

omo compreender a Universi“Para mim, o principal trabalho realizadade Federal de Uberlândia – do foi no magistério. Sempre gostei muito UFU nos anos 80? A resposta também da parte administrativa, mas, mesa esta questão pôde ser compreendida com mo ocupando cargos administrativos, nunalguns minutos de conversa com a profesca deixei a sala de aula.” Essa é uma das sora, aposentaafirmativas feida da UFU, tas por Marly Marly Bernarpara traduzir os des de Araújo. 22 anos dedicaO testemunho dos ao ensino. dela revela os Em 1969, a desafios vivenex-docente se ciados por alforma em Pedaguns professogogia pela Fares daquela culdade de Filoépoca. O mosofia, Ciências mento era reale Letras - FAFI, mente especial: uma das faculMarly Bernardes: oradora da turma por mérito e escolha dos colegas Marly convive dades que se no período em que a UFU ainda não era uniram para constituir a UFU. Por mérito e federalizada e descreve a importância de escolha de seus colegas Marly se torna a muitas pessoas que se empenharam para oradora da turma. Naquela época, assim esta conquista pública. como hoje, o curso de Pedagogia prezava

XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 15


Paula Graz ie la

por formar alunos fundamentados na questão humana ao oferecer disciplinas tais como: Filosofia, Sociologia, História da Educação, Filosofia da Educação e Psicologia da Educação. O objetivo do curso de Pedagogia era formar professores para atuarem no curso Normal, como também nas series iniciais do ensino fundamental. Marly afirma que naquele período “Nós tivemos uma formação básica, muito profunda”.

Marly: "federalização é uma conquista pública pelo empenho de muitas pessoas"

Antes da federalização, os professores

eram convidados a serem docentes no ensino superior, não havia concurso. No caso da FAFI, o convite era feito, prioritariamente, aos ex-alunos que mais se destacavam no curso. Cabia a indicação aos docentes e a própria administração da faculdade. É o que ocorre com a professora Marly que em 1970 é convidada pela Diretora da Faculdade, Ilar Garotti, a integrar o corpo docente. Ela assume naquele período a disciplina de Estrutura e Funcionamento do Ensino, no Curso de Pedagogia e nas demais licenciaturas. Para suprir a falta de professores em determinadas disciplinas, a diretora da FAFI trouxe, de Campinas, as professoras Mafalda Januzzi Cunha e Marilena Said. Elas deram grande suporte ao curso, por vários anos, tendo a professora Mafalda ocupado também o cargo de chefe do Departamento de Pedagogia. O currículo do curso de pedagogia sofre modificação em 1970. As turmas desse período fizeram com as adaptações aprovadas por Resolução do então Conselho

Centros da UFU Centros da UFU (década de 80) (década de 80) Ciências Exatas e Tecnologia Engenharia Civil Engenharia Elétrica Engenharia Mecânica Engenharia Química Matemática Física Química Ciências Biomédicas Medicina Medicina Veterinária Ciências Biológicas Educação Física Odontologia

Ciências Humanas e Artes Administração Ciências Contábeis Ciências Econômicas Decoração Direito Educação Artística (Artes Plásticas e Música) Geografia História Letras Português – Francês Letras Português – Inglês Música – Bacharelado - Instrumento Pedagogia Psicologia

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dicando-me incansavelmente ao trabalho, era feliz e sabia. Amei a experiência vivida, de modo pleno”, declara emocionada. Em 2000, os Centros são extintos e o Curso de Pedagogia passa a integrar a Faculdade de Educação, cujo primeiro Diretor foi o professor Geraldo Inácio Filho. Pau la Graz ie la

federal de Educação, em 1969. Os profissionais escolhiam, no máximo, duas habilitações por vez. Entre as quais estão Orientação Educacional, Supervisão Escolar, Administração Escolar, Inspeção Escolar, Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino de 2º grau e Exercício do Magistério nas Séries Iniciais do Ensino de 1º grau (nomenclaturas dadas à época). Posteriormente, a universidade cria a habilitação especifica em Educação para a PréEscola, que também foi extinta. A federalização da universidade ocorre em 1978, tendo como reitor o professor Gladstone Rodrigues da Cunha Filho. Assim, deixa de existir as faculdades e são criados os Centros (ler texto abaixo) que passaram a congregar os diversos cursos da Universidade: Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Centro de Ciências Biomédicas e Centro de Ciências Humanas e Artes, no qual era inserido o curso de pedagogia. “Muitos não têm idéia do que foi constituir a Universidade Federal de Uberlândia (UFU): foi uma questão de trabalho, de abnegação, de doação”. A professora exerce o cargo de Diretora do Centro de Ciências Humanas e Artes no período de 1984 a 1988, sendo também, neste momento, reitor da universidade, o Prof. Ataulfo Marques Martins da Costa. Ela também atua em outros cargos administrativos como: vice-chefe, chefe de departamento de Pedagogia e coordenadora do mesmo curso. “Excelente”. É assim que Marly considera a experiência de fazer parte da história do Curso de Pedagogia da UFU. “De-

Marly é enfática: "Curso de Pedagogia é hoje uma referência nacional"

A professora Marly se aposenta em 1992, e, na entrevista, percebe-se o quanto o amor e a dedicação são importantes para a realização de um bom trabalho fazendo-o frutificar. “O curso de Pedagogia da UFU é hoje uma referência nacional, graças àqueles que participaram das primeiras horas”, como a professora e aos que continuam, hoje, se dedicando a ele.

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“Ser pessimista em Educação é um absurdo” Historiador fisgado pela Educação analisa a Pedagogia Francklin Vinicius Tannús

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Arquivo pe ssoal

curso de Direito é convidado para minism 1978, a Universidade Fedetrar a disciplina Filosofia da Educação, no ral de Uberlândia (UFU) preentão Departamento de Pedagogia. Um parava-se para a federalizadesafio enfrentado sem susto. ção. Todos os patrimônios que pertenciam ao setor privado estavam sendo reunidos. Araújo já convivia em suas leituras e reO campus Santa flexões com autoMônica tinha res ligados à área poucos prédios e da Educação, em praticamente toda especial Paulo a estrutura se Freire. “Quando concentrava no eu cheguei aqui Umuarama. A na UFU já mexia institucionalizabem com Freire. ção jurídica estaTinha feito curso va por vir e a esem Campinas truturação concom freirianos no creta, com a fim dos anos 60.”, José Carlos Araújo: proposta de levar alunos a uma reflexão profunda construção de relembra. prédios e a contratação de docentes, já Realmente, essa foi uma mudança bem acontecia. sucedida aos longos dos 25 anos no curso Nesse ínterim chega a Uberlândia, José Carlos Souza Araújo. Historiador por formação, após uma breve passagem pelo

de Pedagogia. Nesse período doutora-se na área de Filosofia e História da Educação e torna-se professor também da pós-gradua-

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ção sem conteúdo torna-se apenas uma conversa corriqueira.” O professor acrescenta: “O problema do ensino reside na relação professor-aluno, o restante é mediação. Conteúdo, avaliação, método, técnica, espaço, tecnologia, tudo isso é mediação.” E conclui. “As tecnologias não têm ética. Ela está na utilização que você faz das tecnologias. E por isso elas têm que estar a serviço do conhecimento que é elaborado na relação.”

ção, com a disciplina Epistemologia e Educação.

O graduando em Pedagogia, o imediatismo e as TIC’s Não há dúvida alguma de que, na contemporaneidade, vivemos a cultura do imediatismo. As noções de tempo tem-se modificado. Paira no senso-comum a sensação de que o único tempo possível é o agora. Lidar com processos e procedimentos que exijam qualquer mediação tornase cada vez mais oneroso. O pedagogo em formação não está imune a essa realidade, como constata Araújo. “A preocupação é com o mercado de trabalho e não com o estudo e com a pesquisa em si.”. E acrescenta. “Há uma fluidez. Para eles tudo tem que ser novo. Como diria Marx. ‘Tudo que é sólido parece desmanchar no ar.’” Essa também é a “Era da Informação”, caracterizada, dentre outros fatores, pela presença extensiva das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) – chat, e-mail, CD’s, bancos de dados, sites – no cotidiano das pessoas. Elas têm sido apontadas por muitos especialistas e vistas por muitos alunos como a solução para os problemas contemporâneos no processo de ensino-aprendizagem. Mas não para José Carlos, que enxerga uma supervalorização das TIC’s. “Nelas só tem comunicação, não tem conhecimento. A comunica-

Arqu ivo pe ssoal

Araújo sempre busca “levar seus alunos a uma reflexão profunda sobre a Pedagogia, a Educação e a Didática”. E reflete sobre o que diferencia aqueles que buscam o curso de Pedagogia nos dias atuais daqueles que o buscavam na década de 80.

"O problema do ensino reside na relação professor aluno"

“Educação é acreditar no futuro” Muitas são as críticas feitas aos profissionais e ao sistema educacional brasileiro. Porém, quando perguntado sobre o futuro da Educação, José Carlos Araújo se mostra um eterno otimismo. “Quem trabalha com Educação não investe no passado nem no presente. Educação é acreditar no futuro, ainda que seja difícil de realizar as aspirações, de superar os desafios ou de ficar construindo ideais.”, diz. “Ser pessimista em Educação é um contra senso. É um absurdo.” E finaliza “A única opção é ser sempre otimista.”

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Carlos e FACED: uma mesma trajetória na UFU “Faço Artes na rua, Economia em casa e Filosofia nos butecos”, brinca um dos funcionários mais antigos da Pedagogia Gabrielle Carolina Silva

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história de formação da FACED, tal como ela é hoje, ele deixa claros os entrelaces dessa formação com sua própria vida.

Pai de quatro filhos e casado há 33 anos, Carlão constantemente é respeitosamente considerado pelos colegas a memória viva da instituição. Ao contar parte da

A maior realização de Carlos Bizinoto foi ter entrado na UFU

Gabrie lle C arolin a S ilva

alvez, para os colegas de profissão, o mais peculiar em sua personalidade seja o costume de chegar ao trabalho às cinco horas da manhã. Para os alunos e para aqueles outros que, não tão esporadicamente, solicitam algum serviço ou informação, a sua aparente postura severa e o caráter intransigente são impressões que se dissipam nos primeiros dez minutos de quase uma hora de conversa. Mineiro, de Conquista, e descendente de uma família tradicionalista e puramente italiana, Carlos Antônio Bizinoto, 61, relata com certa dificuldade uma humilde parte dos tortuosos caminhos que levaram a sua chegada ao cargo de técnico administrativo da Faculdade de Educação há quase três décadas. Na época, “era o Departamento de Pedagogia”.

Carlos chegou a Uberlândia aos 18, quando seus pais arrendaram parte de suas terras a uma usina de cana. O quinto filho

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de sete irmãos da família Bizinoto – em suas palavras, “uma família pirracenta” – perdeu seu apoio ao desafiar as tradições e se casar com uma moça filha ilegítima de uma família não-italiana. Viu-se obrigado a enfrentar o emprego de fiscal de linha de ônibus, em que, muitas vezes, encarava 15 horas de viagem sentado ao capô do motor: “passei o que o diabo amassou com o rabo, mas, graças a Deus, eu venci”.

“Tem muitas coisas que a gente não lembra” No período do Departamento de Pedagogia, eram apenas três funcionários na secretaria e quase 80 professores. Hoje, “sai gente, entra gente, gente que você não conhece, não sabe quem é, e, às vezes, fico até com vergonha”. No entanto, afirma que, apesar de tudo, hoje é melhor do que antes: “não tenho nada para reclamar dos meus amigos”.

A história do Sr. Carlos é um perfeito Sem hesitar, a maior realização de sua exemplo da edificação de uma vida junto à vida foi “ter entrado na UFU”. Começou construção da história do curso de Pedagocom uma vaga na xerox, mas, como o Degia e da FACED. Tendo em casa nada mepartamento de Pedagogia demandava um nos que 14 gatos, entre tantos outros cachorfuncionário, coube a ele ocupar a função. ros e pássaros, ele cuida hoje com satisfação Com modéstia, Bizinoto, grato, lembra dado famoso gato da Faculdade, Fred. Fala asqueles que o ajudaram a conseguir o cargo sim, contente, ao vêem 1981. “Quando lo saudável: “hoje eu era Departamento de “Passei o que o diabo amassou estou aqui, cuido do Pedagogia, trabalhava com o rabo, mas graças a Deus Fred, que ‘tá’ gordidemais. Meu horário eu venci”. nho, todo mundo feera de manhã e noite, liz”. mas, como era muito serviço, eu fazia hora extra. Às vezes, saía Apesar de abrir os dedos da mão, e nede casa às cinco e meia da manhã e chegava les contar três cursos de “formação”, brinmeia-noite todos os dias. Os filhos todos peca: “faço Artes na rua, Economia em casa quenos, chuva que Deus mandava, barrão, e e Filosofia nos butecos”. Depois de tanto quando não era barro, era poeira”, explica. chão, prevê dois anos para a aposentadoE ressalta: “era só mato, tinha que pular as ria, mas acrescenta: “se sair, saiu, eu não pedras para passar para cá”. ‘tô’ com pressa não”. Dá ainda a receita de Apesar de se mostrar inabalável frente aos acontecimentos, o Sr. Carlos conta que as mudanças ocorridas na instituição – como o aumento de funcionários –, nas coordenações e até mesmo com a chegada da informatização foram as mais desafiadoras em sua carreira. E, antes de relatar muitas delas, reforça, modestamente:

vida, orgulhoso de nunca ter adoecido. E com a pouca modéstia, que é clara e lhe é gratamente concedida, enche o peito, olha para o passado, como se estivesse vendo o curso crescer de novo; junto a isso, a sua vida ser modificada. E brinca mais uma vez: “um funcionário exemplar”. Ri e suspira satisfatoriamente.

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A experiência de lidar com o ensino na escola A mudança, hoje, está na qualificação acadêmica: muitos doutores sem pé no ensino Gabriela Mendonça Martins

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Gabrie la Martin s

ual a principal diferença entre o curso de Pedagogia de hoje e o de há 30 anos? A resposta de Maria Beatriz tem como base a experiência dos professores. Na década de 1980, o cur-

"Quem trabalha com Educação vive a Educação"

so podia ser menos aprofundado teoricamente, mas instrumentalizava melhor os alunos. Isso porque os professores vieram da escola básica e do ensino médio. “Todo mundo tinha experiência longa de lidar no

dia a dia com o ensino na escola”, explica. A mudança no ensino, hoje, está na qualificação acadêmica: “são doutores, mas muitos deles não têm esse pé no ensino. Então, eu acho que é como um médico que vai dar aula na faculdade e não tem experiência em consultório e hospital”. Maria Beatriz acredita que os pedagogos, atualmente, não querem atuar como professores: “o pessoal que faz Pedagogia hoje quer é uma salinha na supervisão”. A educação é desafiadora, porque nunca o educador tem o conhecimento completo e sempre há necessidade de ter diferentes saberes. “Quem trabalha com educação vive a educação”, argumenta. A professora leciona na Universidade Federal de Uberlândia, durante 13 anos, as disciplinas de Metodologia da Língua Portuguesa e MTP (Métodos e Técnicas de Pesquisa). Nesse período participa de diversas atividades: conselheira e revisora de revistas; coordenadora de congressos e seminários; além de fazer parte de inúmeras equipes de estudo

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Maria Beatriz se aposenta em 1993. Em 1996, monta, com Stela Carrijo, uma escola em que acompanha de perto a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e até mesmo o Ensino Médio. A proposta era aplicar tudo que ambas haviam aprendido na vida profissional. Antes, nos anos 1980, as duas já trabalharam juntas na alfabetização no Projeto Maravilha – também participaram Marluce Martins de Oliveira Scher e Carmelita Vieira, essa última como coordenadora. Ali, implantaram uma forma de ciclo básico e conseguiram alfabetizar todas as crianças em dois anos. Nasceu em Belo Horizonte e, desde a infância, reside em Uberlândia. Graduou-se em Letras (Português-Inglês), na UFMG. Sempre ligada à educação, Maria Beatriz leciona na rede pública estadual: primeiramente em Tupaciguara, onde morou quando se casou. E, a partir de 1970, na E. E. José Ignácio de Souza – na época, considerada referência –, tendo aí ingressado por um concurso interno que havia nas escolas. Posteriormente, ocupa a então existente cátedra de Língua Portuguesa, cargo a que ascende por concurso público em Belo Horizonte. No José Ignácio Beatriz, atua como professora de Português, diretora de turno, coordenadora da área de Português. Ela explica que os professores eram muito dedicados e competentes. E acrescenta: “Naquele tem-

po, nos éramos construtivistas sem saber o nome”. Carmelita Vieira, então coordenadora do curso de Pedagogia da UFU, a convida para ser professora de Metodologia da Língua

Gabrie la Martin s

de vários assuntos relacionados à educação. A revista Ensino em Re-vista foi criada pela equipe de metodologia do Departamento de Pedagogia. No princípio, o interesse era publicar artigos dos professores da UFU e dos graduandos. O objetivo era melhorar a qualidade da educação e propiciar aos educandos possibilidades de, ao publicar seus trabalhos, aprender mais. E, com isso, se tornarem profissionais mais competentes.

"Naquele tempo, nós éramos construtivistas sem saber o nome"

Portuguesa nessa instituição. O convite é recebido com algumas incertezas por Maria Beatriz, pois era concursada no estado e o salário era o mesmo. Contudo, o desafio de superar barreiras foi o fator que a leva a dar aula no curso superior. Aceito o desafio, veio a necessidade de suprir as lacunas de sua formação. A superação das diferenças entre o conteúdo estudado duas décadas antes e o que era necessário saber então para formar pedagogos exige esforço e estudo, com grande dificuldade para encontrar fontes bibliográficas ou ter acesso a pessoas teoricamente mais atualizadas. Ao falar sobre a educação em geral e os desafios dos processos de ensino e de aprendizagem, a professora Maria Beatriz alerta: “Você encontra situações inesperadas com muita frequência e, se for seguir as linhas pedagógicas mais modernas, dentro do que é necessário para que o aluno aprenda, então, a coisa fica bem mais complexa”.

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A complexidade de ser cordial Desafio era suprir ausência de envolvimento efetivo entre docentes e discentes Paula Oliveira

O

Pau la O live ira

professor Robson Luiz de França, doutor em Educação, exerceu a difícil tarefa de ser coordenador do curso de Pedagogia

gia é fundamental para a formação do professor e de outros profissionais que atuam na escola. “A superação das contradições no exercício da profissão, bem como do reconhecimento social desse profissional, deve ser meta constante da luta do pedagogo. Por outro lado, o reconhecimento social perpassa também pela organização da classe e da valorização pelos professores, que pode se dar pelo exercício profissional pautado na ética e na garantia da atuação com um campo definido. E, por outro lado, pela organização social e política desse trabalhador”, afirma Robson.

em 2003. Docente na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 1996, teve a oportunidade de ocupar o complicado e importante cargo administrativo dentro da instituição.

Há dois pontos mais marcantes destacados por Robson no período de coordenação. Primeiro, a participação nos debates para reformular os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura. E, segundo, perceber a reação de outros institutos ou faculdades que possuíam a licenciatura e resistiam à formação de professores nos seus cursos.

Robson defende que o curso de Pedago-

Entre as medidas implantadas como co-

O reconhecimento social perpassa pela valorização dos professores

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docente e discente para pensar alternativas de mudança e construir uma proposta para a melhora do curso”. No entanto, a maior dificuldade encontrada por Robson estava na ausência de envolvimento efetivo entre docentes e discentes nas discussões e debates relacionados a essa melhora. Atuar como coordenador não está, apenas, em ser mediador entre corpo docente e discente. Coordenar é perceber as necessidades do curso, obedecer às exigências legais, avaliar professores, atender alunos, resolver problemas e ainda pensar em soluções visando a melhorias no curso. Robson Desafio reconhece a Coordenar importância do um curso no cargo e acredita Ensino Supeser essa uma rior requer resexperiência que ponsabilidades todos os procomplexas e deMaior dificuldade era a ausência de envolvimento efetivo entre docentes e discentes fessores devepende do auxílio de outros. Para realizar riam vivenciar em algum momento da carum bom trabalho, é necessário manter boa reira acadêmica. “Diria que ser coordenarelação com os seus coordenados. Objetidor é, acima de tudo, ser um organizador vidade e cordialidade. Assim define Robdo trabalho acadêmico de um curso, tendo son seu relacionamento com os funcionáem vista a característica de apoio e suporrios administrativos, professores e alunos. te ao desenvolvimento das atividades de “Cabe ao coordenador mobilizar o corpo ensino e de aprendizagem”, enfatiza. Pau la O live ira

ordenador, pode-se destacar: organização de um seminário do Curso de Pedagogia; continuação do debate com o objetivo de reformular o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia; análise das diretrizes curriculares do curso de Pedagogia no congresso realizado na Universidade Federal de São João Del Rey; representação do curso e da FACED no CONSUN (Conselho Universitário) – durante o CONSUN, Robson foi indicado como relator da resolução que implementou a reforma dos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura da UFU.

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Viver com simplicidade e realizar sonhos Depoimento revela momentos de alma: quando o coração está no leme Fausiene Pereira Resende Victor

S

Fausie n e Victor

e for observada pela estatura, ela E se fez uma pausa. No emaranhado de não chama atenção. Se o quesito vivências de trinta anos, Cândida sente sua for sorriso, Cândida Rosa Neta história “bem próxima e semelhante” com esbanja. Arisca! Como se esquivou da realia história da Universidade. “O ser humano zação da entrevista! O que dá trabalho é que se faz pelas suas relações sociais, entre tem valor. A palavra é esta, valor. Melhor dielas, a do trabalho. E tudo é uma construzer: VALORES. Éticos, morais, relacionais. ção permanente... sempre buscando um hoConceitos que tempo e espaço consolidam. rizonte maior, mais pleno e mais bonito”. A coragem de Desde que veio dar a entrevista se de Sacramento, fez em quatro moMG, em busca de mentos, ao mesuma vida melhor mo tempo das para ajudar a fapausas. Pausa: que mília, encontrou efeito tem essa inna UFU um porto terrupção temposeguro, onde corária do som! É nheceu o mundo quando o silêncio do trabalho e fala mais alto; dita pôde vivenciar reregras; substitui lações mais ampalavras. Em cada Trinta anos de trabalho: história de vida próxima da Universidade plas entre as pesuma, um dique que se rompe... Comoção! soas. De lá para cá, a Universidade, como Que mais dizer? Trinta anos de trabalho. espaço acadêmico, afinal é a “Federal de Tempo suficiente para forjar no cadinho do Uberlândia”, cresceu e ampliou os horizoncoração belas recordações! tes. Como antes era “orgulho pra quem já

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E outra pausa. Desafios. A palavra em si a provoca. Sensação que deixa escapar na respiração é que sempre está em duelo com eles. O que faz “é tentar desempenhar melhor cada tarefa, cada função”. A entrevista? Desafiadora! Diante dos problemas que incitam à luta, sua resposta é: enfrentá-los. A maioria foi relacionada às mudanças de currículo, que acarretaram dificuldades: adaptação de turmas, horários, muita documentação e providências diversas. E mais uma pausa. Emoção é acontecimento que escapa do tempo das horas. Chamada para discorrer sobre um momento especial, as lágrimas antecipam a resposta... “Na minha vida pessoal, um momento especial foi a chegada da minha filha...”. Neste instante, alegrias do passado se fazem presentes entre o silêncio e as lágrimas, para depois concluir. “... que representou um sonho realizado”. Na vida profissional: reconhecimento do trabalho pelos alunos, confiança dos coordenadores, carinho dos colegas e apoio nos momentos difíceis. Lembranças que insistem em não desaparecer. Quanto à realização pessoal, ela esclarece que ser secretária não fazia parte dos planos, foi oportunidade que surgiu... Com dedicação e responsabilidade, buscou aprender mais e através do tempo foi gostando do que fazia. Hoje, sente-se realizada. E, depois de dois minutos, a pausa se faz. Revela simplicidade e sabedoria, ao falar de suas expectativas de vida. “Uai, con-

tinuar vivendo em paz, sempre me relacionando bem com todos. Procurando desempenhar da melhor forma os papéis que a vida nos impõe, ou que a gente escolhe”. Perante esta resposta, senti que exemplos de vida nos ensinam a ser mais alma! Fau sie n e Victor

estava, e um sonho para quem queria entrar... continua tendo o respeito e a admiração de todos, sendo referência pelo trabalho que realiza, pelos produtos que apresenta à comunidade”.

Candinha e sua filha Joana Carla: momento especial da vida

Enquanto aguardo, as lágrimas tornam explícito o que não poderia ser outra resposta no decorrer da entrevista. Momento culminante se dá ao ser indagada sobre algo que eternizou na memória. Posso perceber como o temor da perda amedronta. Talvez seja por isso que ao, falar em sua filha, Cândida se comove tanto! “É... não é tão longe, mas, alguns anos atrás, quando eu estava grávida... (grande pausa – lágrimas – emoção) eu rodei da escada do bloco... (outra pausa) e o professor Marcelo me socorreu com todo o carinho... (pausa) e me atendeu com todo o carinho (e mais uma pausa). Graças a Deus ocorreu tudo bem... E hoje ela está aí, rindo com a gente.” Certos acontecimentos criam fios invisíveis... Urdidos através do carinho e tecidos na gratidão! E assim foi a noite de conversa com Cândida Rosa Neta, secretária do Curso de Pedagogia. Cognome, Candinha. Casualidade? Talvez...

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As mudanças no perfil do aluno As alterações nas formas de ingresso exigem novas práticas pedagógicas

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uando entra na Universidade Federal de Uberlândia em 1992, o professor Guilherme Saramago de Oliveira encontra uma realidade bem diferente do retrato de hoje. Os alunos, que já eram, em sua maioria, profissionais da rede de ensino, buscavam na Universidade aperfeiçoamento, qualificação e habilitação. Saramago comenta que era um pessoal, do ponto de vista prático, mais preparado. Com a experiência deles, o professor expandia o conhecimento a partir do processo de ensino aprendizagem. O quadro é diferente na atualidade. Saramago explica que mais de 90% dos alunos não têm experiência profissional. Esse fator exige do professor o desenvolvimento de uma prática pedagógica que vincule uma realidade educacional com fundamentação teórica efetiva. E não foi só o perfil do aluno que mudou nesses 18 anos. A forma de ingresso, que até então era só por meio do vestibu-

Maria C lara Parre ira

Maria Clara Parreira

Saramago:mais de 90% dos alunos sem experiência profissional

lar, passou a ser também pelo PAIES (Programa Alternativo de Ingresso ao Ensino Superior). “A nova forma de ingresso mudou um pouco a clientela do curso, no PAIES ingressam pessoas mais jovens, e isso acaba beneficiando aqueles que já estão no sistema, e no processo de ensino regular constante”, explica Saramago.

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Guilherme Saramago de Oliveira entra na Universidade Federal de Uberlândia, por concurso publico de provas e títulos. Ingressou como auxiliar. Ao concluir o mestrado torna-se professor assistente e após o doutorado, em julho de 2009, passa a ser professor adjunto I. Entra por concurso público e ministra a disciplina, Princípios e Métodos da Prática Pedagógica. Com a aposentadoria da professora que

Arqu ivo pe ssoal

ministrava a disciplina de Metodologia do Metodologia usada na sala de aula Ensino da Matemática, o professor assume Saramago ressalta que no caso específia cadeira e se transfere para a área do ensico da metodologia do ensino da matemátino da matemática. ca, o professor procura trabalhar de maPerspectivas de “Trabalhamos com a perspectiva ensino neira envolvente com de que o aluno é ativo, capaz e A tecnologia e os o objetivo de aumeios de se adquirir tem interesse” mentar a participação informação são oudo aluno. A proposta tros desafios que acabam impactando soé que o estudante assuma responsabilidabre o acesso ao saberes. Saramago destades no processo ensino aprendizagem e teca que atualmente, há mecanismos que nha um papel ativo. disponibilizam informação. Com isso, a O estudante recebe orientações para a universidade e a sala de aula se tornam lodisciplina, e com isso são estabelecidas dicais próprios para a troca de ideias e para retrizes, metas a serem cumpridas e atividiscutir detalhes, temas e conteúdos. Tradades a serem realizadas. O professor exta-se de saberes essenciais para a formaplica que é necessário o envolvimento e ção do indivíduo na sociedade. “Dessa participação dos alunos das aulas no dia a forma, o aluno tem acesso a inúmeras india. Só assim, o estudante alcançará forformações e com o auxílio do professor, mação mais sólida. O principio norteador ele as esquematiza, transformando em codessa proposta é que o ser humano aprennhecimento através de debates e discusde quando se envolve, tem desejo de sões”, analisa Saramago. E finaliza: “Mas aprender e valoriza a aprendizagem. “Ené fundamental entender que a questão das tão nós trabalhamos com essa perspectiva mudanças vem desde que muito bem estade que o aluno é ativo, é capaz, tem intebelecidas, direcionadas e orientadas para resse e para tal, devemos possibilitar seu melhorar, cada vez mais, o processo ensienvolvimento em diretrizes que foram no aprendizagem”. brevemente estabelecidas e combinadas, inclusive com eles.”

“O ser humano aprende quando tem desejo de aprender”

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A necessidade de formar educadores Olga Damis: “consegui vivenciar no curso a relação teoria e prática” Talita Martins Reis

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e, até hoje, mesmo após se aposentar, parti-

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Dié le n Borge s

cipa ativamente das dismaior decussões e pesquisas sosafio da bre a educação e a foreducação mação de educadores é fazer com que a teoria no país. Durante sua cose incorpore à prática. ordenação, sempre teve Formar profissionais o objetivo de reformar o capazes de assimilar o currículo do curso para conteúdo programático integrar as várias forcom o dia a dia da carmações antes oferecidas reira sempre foi o objepela Faculdade. O novo tivo de toda a Universifoco era formar um dade, e não é diferente educador, não um especom a Faculdade de cialista em educação Educação. Com 35 anos apenas. “Nós reformude atuação na UFU, lamos por conta própria Olga Teixeira Damis – a Universidade tinha acredita que a união dessas duas frentes é a Coordenadora reformulou o currículo do curso nos anos 90 autonomia para isso –, porque, do ponto de vista da legislação, a melhor forma de crescimento e amadurecimudança só ocorreu em 2005. Nós ficamos mento do ensino. de 1986 até 2005 trabalhando e experimenNa década de 1990, Olga Damis atuou tando nova formação”, declara. como coordenadora do curso de Pedagogia, Com a determinação de transformar o


Busca pelo melhor

Dié leDié n Borge le n Borge s s

curso de Pedagogia em referência de ensino, Olga e todos os que a apoiavam tiveram de vencer muitos desafios. Era necessário superar o pensamento anterior e focar na nova forma de ensino. Infelizmente, não se pode fazer tudo o que se deseja. Nesta situação, é difícil “conseguir vivenciar, no curso, a relação teoria e prática”, relata. E isto não é característico apenas do curso de Pedagogia, pode ser considerado como uma defasagem geral do ensino superior.

A escola do futuro da tecnologia é outro modelo do conhecimento

As mudanças estruturais que correspondem à formação pela Universidade Federal de Uberlândia estão acontecendo. Seus reflexos podem ser vistos nos resultados do curso. Em âmbito nacional, para que o ensino possa contribuir com a transformação social, Olga acredita que “é preciso que os professores se envolvam mais, que tenham compromisso com a educação”. As pesquisas e investimentos nessa área também são fundamentais. Deste modo, é possível obter maiores soluções para as deficiências de ensino. “Os projetos que existem para a educação são bons, apesar de distantes da realidade particular de cada escola ou núcleo de ensino”. Esta situação de distanciamento entre teoria e prática foi o objetivo de mudança durante os anos de coordenação de Olga. É consenso que a situação é complexa. Por isso, a Universidade reformulase em busca de melhores condições e formações para os futuros profissionais.

As transformações ocorridas no curso de Pedagogia foram muitas... as conquistas também. E, mesmo assim, “a gente nunca está satisfeita. Sempre depois que faz, a gente acha que podia ter sido diferente, mas eu acho assim, que, com isso, nós conseguimos avançar”, comemora. A sociedade está em modificação constante, transformando os referenciais de educação, agregando mais conhecimentos e tecnologias. “Nós não estamos prontos para esta escola do futuro, da tecnologia, que é outro modelo de conhecimento”, completa Olga. Mesmo em constante transformação e com algumas limitações naturais, o curso de Pedagogia possui os melhores conceitos em nível nacional. Olga Damis, que se formou na UFU na década de 1960, com toda sua experiência na área de educação, classifica o curso como um dos melhores do país. E declara: “o curso atual é o que tem de mais completo em termos de formação. Agora, eu sou suspeita pra falar”.

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Prédio onde funcionou a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras

Arquivo UFU


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Vista aérea da entrada do Campus Santa Mônica - UFU

Arqu ivo UFU


Ge rson S ousa Ge rson Sou sa Profa. Dra. Mara Rúbia Alves Marques – Diretora atual da FACED

Prof. Dr Geraldo Inacio Filho – Primeiro Diretor da FACED

Educação em debate Geraldo Inácio Filho - Mara, como você via a existência de dois departamentos de Educação (Dpopp e Depfe) e o Programa de Pós-Graduação ser criado e mantido no âmbito da Direção do Cehar? Mara Rubia Alves Marques - A princípio, ambas as características me parecem muito peculiares à forma como se organizou o trabalho e as relações político-acadêmicas, ou seja, à dinâmica de constituição dos grupos que poderia ser melhor explicada pelos colegas que vivenciaram o processo à época – vale ressalvar que entrei na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 1992, como docente da equipe de Metodologia de Ensino do Departamento de Princípios e Organização da Prática Pedagógica (DEPOPP), e como mestranda do Programa

de Pós Graduação em Educação. De todo modo, a identidade do Departamento de Fundamentos da Educação (DEPFE), do DEPOPP e de suas respectivas equipes era muito significativa. Num sentido amplo, entretanto, penso se tratar de um modelo justificável dos pontos de vista histórico, epistemológico e pedagógico, de vez que era dominante nas instituições de ensino superior tanto a estrutura de departamentos como a clássica separação entre os fundamentos e as práticas da educação (entre a teoria e a prática, digamos), expressa mais amplamente na separação entre alta cultura e cultura de massas, entre universidade e escola básica, entre bacharelado e licenciatura etc. – oposições hoje amplamente questionadas. Especificamente quanto à ligação entre o Progra-

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ma de Pós-Graduação em Educação/Curso de Mestrado e a Direção do Centro de Ciências Humanas e Artes (CEHAR) – o que, tenho que admitir, até agora ignorava, penso que pode ser explicada não só pelas peculiaridades das relações entre os departamentos de educação, mas também pelo fato de que os mesmos não poderiam arcar por si mesmos com a criação, manutenção e desenvolvimento inicial do Programa, há vista não haver então um corpo docente suficientemente titulado; o que exigiu, como aliás é ainda comum por outras razões, a colaboração de professores de outros departamentos do CEHAR da UFU. G.I.F. - Como você via o envolvimento dos professores naquele tempo de “vacasmagras”, quando não havia recursos sequer para manutenção das unidades, e hoje quando isso não é problema? M.R.A.M. - É uma questão complexa porque envolve o estilo da gestão do ensino superior em geral, inaugurado nos anos 1990, no que tange a variáveis como o relacionamento do Estado com as instituições, o financiamento, a profissão e o trabalho docentes, entre outras. Entendo que a tendência das “vacas magras” de Fernando Henrique Cardoso perdura inalterada pelo menos até meados da metade da década de 2000, já que no primeiro mandato da gestão Lula da Silva a preocupação foi com a afirmação da governabilidade do partido do Presidente – comprometida pela crise de 2005 e 2006. Somente a partir deste ponto, a meu ver, iniciase a fase propriamente lulista, marcada pelo autoproclamado planejamento estratégico, integrado e sistêmico, por meio da instituição do Programa de Aceleração do Crescimento/PAC e da criação do então Ministério de Assuntos Estratégicos. No ensino superior, mediante o lançamento em 2007 do Plano de Desenvolvi-

mento da Educação/PDE ou “PAC da Educação”, relacionado à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996), e às metas de ampliação da oferta de educação superior indicadas no Plano Nacional de Educação/PNE (Lei n. 10.172/2001). A despeito das fortíssimas continuidades entre os estilos de gestão de FHC e Lula, há evidentes rupturas no sentido de alterações do comportamento governamental com o setor das universidades públicas, sobretudo pela instituição do Banco de Professores-Equivalente, do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), e da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Há expansão de instituições, reposição e ampliação de vagas docentes e discentes, bem como aumento de recursos obviamente condicionados – um período de relativas “vacas gordas”. Na UFU e na Faculdade de Educação (FACED), em decorrência, temos um processo de expansão de cursos/vagas e de um corpo docente altamente qualificado; mas também a tendência, há muito verificada, de diversificação e aprofundamento do trabalho – não é um dado menor o fato de que fomos adquirindo crescente protagonismo inclusive na captação de recursos orçamentários via atividades acadêmicas (e aqui não me atenho ao argumento do mercado ou do “quase-mercado”, mas às demandas próprias do clássico âmbito público). Entendo então que, relativamente ao início desta década, teria mudado não tanto o grau, mas a natureza do envolvimento dos professores. Se antes a ênfase recaía sobre as atividades de ensino e extensão, por exemplo, a tendência atual seria a recorrência de atividades de ensino, pesquisa e prestação de serviços. Sem contar o fato de que o financiamento, a profissão e o trabalho dos professores estão intimamente cindidos pela ar-

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gamassa da avaliação institucional e pessoalprofissional. Trata-se, como percebo, de uma nova subjetividade forjada sob diferentes campos de disputa. G.I.F. - Antes do ano 2000 havia três unidades na UFU: Cehar, Cebim e Cetec. Diziase naquele tempo que os conselhos superiores seriam pouco representativos e que só haveria democracia na Base, isto é, nos departamentos. Comente isso e compare com a situação dos conselhos nos dias que correm. Temos mais democracia hoje? Como você vê a democracia na universidade? Comente em relação a cada segmento (docente, discente e técnico) e em relação à comunidade externa (inclusive a nação brasileira). M.R.A.M. - Tive pouquíssima experiência no interior dos conselhos superiores da UFU à época, mas não creio que qualitativamente possamos hoje falar em mais democracia, embora do ponto de vista acadêmico, as relações para o desenvolvimento de projetos entre os departamentos das três grandes áreas fossem mais intensas. Posteriormente, a situação mudou bastante. A organização em 28 unidades acadêmicas fragmentou a estrutura e o trabalho interno, levando a uma competição por recursos, bem como a uma diferenciação crescente entre as unidades, de modo que a organicidade, a meu ver, ficou mais difícil. Do ponto de vista quantitativo os conselhos superiores ficaram como que “inchados”, dificultando, por vezes, a agilidade nas decisões e nos encaminhamentos administrativos. Mas os processos democráticos, a despeito, permanecem por força das representações devidamente proporcionais entre docentes, técnicos, estudantes e comunidade externa. A importância dos conselhos das unidades acadêmicas, à semelhança dos antigos conselhos departamentais, continua inquestionável mesmo com a di-

nâmica de representações, sendo esta cada vez mais necessária mediante a ampliação do número de professores. Em geral, penso que estamos a assistir um significativo esgotamento dos mecanismos da moderna democracia representativa em grande parte do mundo, mesmo sob regimes parlamentaristas, entre outros fatores – manipulação, corrupção etc., pelo surgimento de novos protagonistas políticos e modos de participação. Mas penso ser ainda o que temos de melhor em termos de ação política formal no âmbito do Estado de Direito. G.I.F. - O Plano de Desenvolvimento da Unidade, de seis anos, foi cumprido há quatro anos e precisamos elaborar outro plano. Como vê a capacidade de coesão do atual corpo docente e técnico da FACED e as possibilidades de elaborar e executar um plano com sucesso? M.R.A.M. - Paradoxalmente, após a instituição dos novos Estatuto e Regimento da UFU no final da década de 1990 algumas unidades acadêmicas, inclusive a FACED, elaboram seus planos de desenvolvimento sem que a própria Universidade tivesse elaborado seu plano institucional. O atual Plano Institucional de Desenvolvimento da UFU (PIDE), iniciado na gestão anterior e no momento em processo de aprovação nos conselhos superiores, vem cobrir esta lacuna de mais de dez anos. Entendo que com o planejamento da UFU as unidades acadêmicas terão mais condições de se planejarem internamente. Atualmente, a FACED não só tem contribuído para a conclusão do PIDE, como tem uma comissão interna trabalhando efetivamente na elaboração de seu plano de desenvolvimento por meio dos professores organizados nos Núcleos Temáticos da Faculdade. Ressalvo, entretanto, como pesquisadora e por evidências empíricas viven-

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ciadas na gestão, que o sentido do planejamento institucional tem mudado radicalmente nos últimos dez anos. As ações de política pública tem sido definidas e condicionadas pela metodologia de Editais/Projetos e Programas datados, por adesão coletiva, das instituições, ou individual, dos servidores, mediante financiamentos focalizados e direcionados conforme determinações muito variadas de setores oficiais com vistas a resultados mensuráveis. O REUNI pode ser interpretado como expressão deste processo diferenciado de gestão e financiamento das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) pelo MEC, com significativo impacto no planejamento interno das universidades, pautada em programas focalizados e com exiquibilidade financeira condicionada pela relação metas/cronograma/ desempenho/avaliação; o que se expressou, já de início, na possibilidade de opção de adesão ou não ao Programa pelas instituições ou por suas unidades acadêmicas. Em síntese, em lugar de políticas universais minimante previsíveis, na administração pública tem havido uma hipertrofia de propostas que tornam o ato de planejar por vezes confuso – o que, contraditoriamente, indica maior necessidade de planejamento ágil, responsável e, resistentemente, autônomo. O proselitismo político e ideológico perde terreno neste âmbito e o ritmo da mudança tende a ceder cada vez mais ao ritmo dos decretos. G.I.F. - Compare as dificuldades da época de instalação da FACED com os dias de sua gestão. A que atribui o esgotamento dos pontos propostos naquele tempo mesmo com a dificuldade de recursos? Quais são os pontos de estrangulamento nos dias de hoje? Quais são os pontos promissores na sua gestão? M.R.A.M. - Minha limitação em apontar

as dificuldades de origem da FACED passa por dois aspectos. Primeiro, porque de 1997 a 2000 estive liberada para o doutoramento, o que me impediu de acompanhar o processo mais imediato de instalação da Faculdade, embora tenha integrado a primeira comissão estatuinte. Segundo, porque se estabelece um distanciamento entre duas posições de sujeito, ou seja, perspectivas diferentes que se tem como professor e como professor gestor – daí que não costumamos atentar para os colegas que estão à frente da administração. Em momentos de confluência, porém, pude sentir dinâmicas de gestão próprias aos que me antecederam na Direção da FACED e as respeito porque quero crer que fizeram o melhor a seu tempo. Mas me arrisco a indicar possíveis “pontos de estrangulamento” caso não se atente para a necessidade de forte ética pessoal, honesta visão institucional, espírito público não demagógico, responsabilidade fiscal e ampla noção das relações intra e interinstitucionais. Neste aspecto uso ainda o REUNI como exemplo, de vez que este pode ser interpretado também como um processo de mudança político-cultural no interior das IFES, pelo desafio colocado em termos de transparência de debates e decisões quanto à alocação de vagas de servidores docentes e técnicos, de recursos orçamentários, e quanto à racionalização da estrutura física no âmbito de tensões como quantidade e qualidade, particular e coletivo, demandas históricas e demandas projetadas etc. Percebo, portanto, que no paradigma de gestão atual não há espaço para narcisismos, voluntarismos, autoritarismos e quaisquer privilégios. Quanto à minha gestão, caso eu seja fisiológica e psicologicamente resistente em perseguir os princípios acima indicados, penso ser promissora.

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Além do conteúdo: uma visão de mundo Professora se torna canal de educação, quebra de preconceitos e paradigmas

A

educação é sempre questio-

nada em nosso país. Qual a melhor forma de educar? De

Talita Re is

Talita Martins Reis

ensinar? Qual a maneira de alcançarmos os objetivos da educação? Seria praticamente impossível querer responder a esses questionamentos. Quando se fala de dedicação ao ensino, há um primoroso exemplo. Flaviane Reis possuía um sonho, e conquistou. “Sempre quis lecionar e faço isso desde os 19 anos”, diz a mestre em Educação. A professora de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) da UFU conta um pouco de sua história e de sua relação com a educação. Em nosso país, existem, em média, 5 milhões de surdos, e apenas 300 profes-

Flaviane Reis: exemplo de superação e determinação

sores surdos. Quando se pensa em mestres

bras, e sim de uma cultura surda. Cultura

e doutores, os números caem drasticamen-

da qual é nítido seu orgulho e satisfação. A

te. E é nesse contexto que Flaviane dedica

professora se tornou um canal de educa-

sua vida à educação. Não apenas de Li-

ção, quebra de preconceitos e paradigmas.

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A educação vai além do ensino do con-

o nosso pedido, pelas escolas bilíngues,

teúdo curricular. É a forma de ver o mun-

com espaços específicos para os surdos”,

do e a troca de experiências que cons-

diz Flaviane. A inclusão nos contextos so-

troem o processo educacional. O ensino

cial e educacional é importante para o de-

no Brasil é um desafio constante. É neces-

ficiente auditivo. O ideal é uma escola que

sário empenho como o de Flaviane. Sua

ensine e preserve a cultura surda. Algumas

forma de instrução concentra-se na ex-

tecnologias podem apoiar os surdos, mas

pressão e contextualização do conteúdo.

nada substitui a construção da identidade

Para a maioria dos alunos, aprender com

da cultura surda. Esse é o desafio da edu-

uma professora surda é novidade, é uma

cação. “Eu acredito que vai mudar a vi-

quebra de paradigmas. O necessário é mu-

são”, completa a professora. Talita Re is

dar alguns conceitos de metodologia em sala de aula para que o ensino seja completo.

Caminhos da capacitação Flaviane, sem dúvidas, é uma guerreira. Enfrentar as barreiras do preconceito em busca de um desejo e de realização é uma conquista diária. É nítida a paixão desta professora por sua profissão, exercida desde os 19 anos, e conquistada com empenho. “No curso de Pedagogia, eu tive muita dificuldade. No início foi muita luta para conseguir

Prof. Flaviane e Prof. Keli Maria, intérprete

um intérprete durante dois anos. Acredito que perdi muita coisa nesse período”, co-

O objetivo de todo professor é a forma-

menta. Flaviane, porém, não parou por aí.

ção de profissionais da educação consci-

Após sua formação, queria mais, e conse-

entes e capazes de lidar com os desafios

guiu. Fez mestrado na Universidade Federal

diários da profissão. E não é diferente com

de Santa Catarina, agora com melhores con-

Flaviane. Seus objetivos são alcançados a

dições, professores bilíngues e surdos.

cada novo aluno inscrito na disciplina de Libras, tornando realidade um sonho de

Desafios do ensino O sistema de ensino é formado para alunos ouvintes, que são maioria. Assim, o surdo, nesse contexto, é excluído. “É esse

sua juventude. Muitas coisas, na educação em geral, precisam de mudanças... mas alguns passos importantes já foram dados.

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Reconstruindo a educação Primeiro diretor analisa os avanços obtidos com a criação da FACED Stella Vieira

A

Arqu ivo pe ssoal

criação da Faculdade de Geraldo ingressou na Universidade Educação (FACED), há uma Federal de Uberlândia (UFU), em 1979, década, possibilitou inúmeras e atualmente é docente e membro do Númelhorias em relação aos cursos regidos cleo de Pesquisa de por ela, à administraHistória e Historioção da unidade e ao grafia da Educação. sistema burocrático. Há mais de 30 anos, Esta é a avaliação do participa de atividaprimeiro diretor da FAdes relacionadas à adCED Geraldo Inácio ministração e organiFilho, 58. Ele explica zação nas áreas de que, na antiga organiHistória e Educação. zação, existiam várias No processo de criareclamações das condição e idealização da ções de trabalho e da FACED, coube a ele burocracia, que atrapao posto de primeiro lhavam principalmente diretor. a publicação de trabaA instalação lhos e artigos. “Quando “Sete anos para criar a revista Educação e Filosofia” A FACED foi fundada a partir da união nós chegamos aqui, levamos sete anos para dos antigos departamentos de Fundamencriar uma revista chamada Educação e Fitos da Educação e Princípios e Organizalosofia. Nós conseguimos. A revista se firção da Prática Pedagógica. O processo mou e hoje é respeitada no mundo inteiro”, trouxe dificuldades. Geraldo explica que o comenta.

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maior problema era conciliar os interesses diversos, principalmente devido ao fato de que os departamentos se encontravam em diferentes blocos.

sadores em Educação do Centro-Oeste (Epeco), atualmente denominado Anpedinha, que terá sua segunda edição em 2010.

Realizando projetos Uma das principais atividades da Faculdade no momento é o Programa de Pós-Graduação, que possui três linhas para mestrado e duas linhas para doutorado. O programa, que pretende atingir nota seis na avaliação da CAPES, precisa da participação de mais doutores da área. Apesar disso, o programa funciona e os primeiros mestrandos e doutorandos defenderam suas teses ainda no ano de 2009. A Faculdade oferecerá também um Dinter, que é um Doutorado Interinstitucional e que estará vinculado com a Universidade Federal do Amapá. Somado às melhorias possibilitadas pela criação da FACED, vários congressos importantes foram e serão realizados na unidade. Entre eles, o famoso Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação – a sexta edição foi realizada em Uberlândia, em 2006 – e o antigo Encontro dos Pesqui-

Arqu ivo pe ssoal

Após as instalações, Geraldo assumiu a direção da FACED e, durante um ano, ocorreram modificações. Entre elas, a criação de um novo regimento, do plano de seis anos, e a implementação do programa de doutorado na área de Educação. Outra realização foi o Caderno de História da Educação, em 2002, que, então com periodicidade anual, passou a ser publicado por semestre.

Diretor implementou programa de doutorado na área de Educação

No futuro Existem outros projetos previstos: a reforma do bloco, no qual se encontra a FACED, e a mudança das salas de aula para um novo bloco. Geraldo afirma também que, na atual unidade, as condições de trabalho nunca foram melhores e que não existe mais impedimento na realização de projetos e publicações de artigos. “Eu penso que nós já demos um grande passo nesses nove anos e foi um crescimento muito importante. Foi um crescimento que possibilitou todas essas conquistas a que já me referi”, comenta. A mudança das salas de aula para outro bloco aumentou as expectativas de melhores condições de trabalho e haverá mais espaço para abrigar os professores e os dois cursos regidos pela FACED.

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Coerência para reestruturar Maior desafio: quatro anos para mudar uma cultura de cinquenta Fausiene Pereira Resende Victor

S

Fau sie n e Victor

ção, especialização, ua fala é mestrado, doutorado, sincronifamília, amigos... Na zada com corrida da vida, largada segurança e tranquilie chegada convergem. dade. É do tom mel “Minha família é mide seus olhos que deinha referência”. Assim, xa escapar a visão a união impõe-se sobre perspicaz de futuro. a carência material que As mãos inquietas transmuta em superadenotam energia e deções e realizações. terminação. No tom de voz, sanciona a É imprescindível sinceridade. Dedicaadquirir conhecimenção e sabedoria são to profundo para fazer atributos que se injus ao cargo ocupado. corporam à sua perA implementação de "Na corrida da vida minha família é minha referência" sonalidade para fluir novo projeto do curso e revelar seu papel de Coordenadora do gera transtornos administrativos: vivenciar, Curso de Pedagogia. Assim é Maria Irene por quatro anos, dois currículos ao mesmo Miranda. Desafios? Aí estão. Experiência? tempo. Muda o projeto e altera a grade curO que, a seu tempo, ainda não conquistou... ricular: aumento da carga horária do curso e “corre atrás do prejuízo”. É assim que, em inserção de componentes curriculares obri2006, um ano após sua volta do doutorado gatórios. Forma-se uma comissão avaliativa (São Paulo), assume a coordenação. do projeto que não consegue um envolviAs raízes, Ribeirão Preto; as amarras, Uberlândia. Trinta anos para abarcar gradua-

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mento efetivo: há resistência, indisposição e falta de entrosamento de boa parte dos pro-


Arrebatamento. É assim que a coordenadora se sente ao enumerar a privilegiada posição ocupada pelo Curso. ENADE: nota A- sempre. Avaliações da Abril: cinco es-

trelas. No âmbito da Universidade, a FACED toma a dianteira em publicações e pesquisas. Há ex-alunos ocupando cargos importantes, como a diretora do CEMEP; o professor Marcelo Soares Pereira da Silva está cedido ao MEC; os eventos abrangem esfera internacional.

Fausie n e Victor

fessores ao projeto. É preciso romper com a dicotomia das disciplinas teóricas com as práticas e, para isto, o maior desafio é: mudar em quatro anos uma cultura de 50 anos de curso! Hoje: professores e alunos mais receptivos e dispostos à discussão. Irene exerce atividades multíplices: docência nas áreas da graduação e pós, nos programas de mestrado e doutorado; alunos bolsistas e produção de artigos e livros. Quando um aluno fala que não quer ser professor... Irene não titubeia na resposta: “Pô, então tá no curso errado! ... A base do curso é a docência!”. Ela é categórica ao falar que Pedagogia “não é um curso fácil, não é uma função que exige menos do profissional depois, só porque ele vai trabalhar meio período”. Maria Irene é paulista que incorporou o jeito mineiro de ser! Ao observar, sabe captar as nuances do que não está explícito. Isto se faz nítido ao levantar a questão da EAD (Educação a Distância). Cautela: denota o compromisso com a excelência; consciência: nova frente que se abre e não foge dos avanços que o mundo passa... Mas nem por isso deve-se mergulhar sem reservas. A minúcia ao examinar permite formular questionamentos: será que os alunos acostumarão com a cultura da autodisciplina? Os professores saberão conciliar aula nãopresencial sem detrimento da aula presencial? Um suspiro escapa de Irene para declarar: “Ai! Eu tenho medo do que a gente pode viver aí nesses próximos anos. Vamos aguardar para ver!”.

Meta deste ano é reestruturar projeto pedagógico para 2011

A meta deste ano é a reestruturação de um projeto pedagógico para 2011, com proposta coerente com o que os professores acreditam e os alunos merecem. Celebrar 50 anos de curso é de grande responsabilidade: “A gente mostra a cara do curso todo dia, mas acho que esse é o momento especial” e “estar à frente não significa a gente estar levando tudo sozinha”. Ao dar sua contribuição na história do curso, sente que muito mais recebeu. Talvez seja justamente por mesclar seriedade e simplicidade, comprometimento e companheirismo, determinismo e dinamismo que o buril do tempo e das experiências moldaram a marcante personalidade. Aceitaria novamente a coordenação? O rosto se abre em um sorriso: “Sim”. Um dos enigmas do sucesso? Fazer o que gosta!

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Empreendedorismo e educação Ex-diretora da Faculdade de Educação, Conceição Maria conta o segredo de suas gestões na UFU Gabrielle Carolina Silva

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Dan ie l de C e rque ira

Moralidade, coerência, inteA professora reafirma que o retorno da gração e responsabilidade”. vida em sala de aula não tem preço. No enEssa é a cartilha seguida e afirmada por tanto, há outros fatores que ditaram a sua Conceição Maria Cuvida profissional. O nha em sua trajetória tato, talvez, para identiprofissional. Durante a ficar os problemas exisconversa, Conceição tentes em uma gestão. jamais perde o foco E, a destreza e a habiliempreendedor que, dedade em corresponder e finitivamente, mantém equilibrar as demandas intrínseco. Com 20 da vida profissional. É anos de UFU, a diretofácil perceber o gosto ra da FACED, em 2001 da professora por desae 2002, demonstra clafios. Por isso ela se intireza em suas conceptula como uma “nômações administrativas: de” e afirma não ter Conceição já foi gecerteza do futuro: “Eu rente da Divisão de sempre mantenho uma Orientação Psico-pedaresidência fixa, mas do gógica, coordenadora restante, eu estou no do curso de Pedagogia mundo”. e vice-diretora do Cen- Trajetória profissional seguida com moralidade e coerência Conceição inicia sua tro de Ciências Humacarreira na UFU em nas e Artes, no período em que a universi1982. De origem mineira, nascida em dade era dividida em Centros. Belo Horizonte, ela teve experiência de


que estava à frente, mas sempre contei com o apoio de vários professores... A gente tinha uma equipe que acreditava que aquilo era possível”. Como esperado de alguém compromissado com o retorno social, Conceição explica que todas suas conquistas, calcadas na transparência, a persistência na eficácia, e a responsabilidade com seus cargos, estão baseadas em uma responsabilidade ainda maior com a sala de aula e o aluno. Arqu ivo pe ssoal

quatro anos em São Carlos ao ser aprovada na única vaga do concurso do MEC para consultoria educacional. A aposentadoria, acontece dez anos depois de ingressar na UFU. Conceição consegue ficar afastada da vida acadêmica por apenas três meses e retorna à Universidade como professora e posteriormente como coordenadora do curso de Pedagogia. Com extrema tranquilidade e clareza, a ex-diretora explica que a fórmula para gerir é a mesma: “é necessário estar na ‘ponta’ para compreender as necessidades”.

Foi com essa coerência com a verdade que Conceição Maria consegue, em sua gestão como diretora, aprovar o Projeto Veredas e ainConceição lembra com da em seu tempo de profesorgulho das melhorias consora, com muita dificuldade, quistadas em todos os seus UFU: “os anos áureos de minha vida” implantar a pós de Pedagocargos. E, a respeito das digia Empresarial. “Quando eu falei nisso ficuldades, calma, afirma: “eu não vejo eles queriam me comer viva, foi um Deus com tanta confusão não. Acho que o maior nos acuda”. Para manter a moralidade, que problema da gestão, de um modo geral, é lhe é tão fundamental, ela corta ponto de você ter uma direção nítida sobre aquilo professores que faltavam sem avisar; mas que pretende fazer”. Ao valorizar os projese orgulha: “e não deixei de ser eleita para tos que atingiam os alunos no Centro de cargo nenhum não ‘hein’”. Ciências Humanas e Artes, ela reavalia a distribuição orçamentária e aumenta o núComo definir a sua experiência aqui na mero de projetos aprovados - assim como UFU? “Foram os anos áureos da minha fez em seus dois mandatos de coordenavida, principalmente a partir de 92, em ção do curso de Pedagogia. Apoia a intematéria de ensino superior e por tudo”. E gração entre professores; reestrutura a gracom tudo isso, ficou claro o porquê de de do curso que mantinha os dois primeitantos abraços que deveriam ser enviados ros anos em ensinamentos teóricos; e entre à professora em nossa breve entrevista por outras conquistas, de três alunos fazendo telefone. Seu espírito de integração deixa pesquisa, com apenas três anos de gestão, saudades na FACED. Orgulhosa então, ela Conceição aumenta esse número para 27. pôde lembrar: “Graças a Deus, é por isso Porém, ela lembra: “eu digo “eu” por-

que o pessoal ainda lembra de mim”.

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O norte da educação da UFU está na FACED Reitor atribui à unidade a responsabilidade de oferecer à instituição os métodos para enfrentar os desafios pedagógicos contemporâneos Mirna Tonus

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Arqu ivo Re itoria

convicção do desenvolvimento da universiNada mais significativo para a dade pela educação”, atribuindo à unidade UFU que a criação da Facula responsabilidade de formar didática e pedade de Educação”. A frase do reitor Alfredagogicamente os prodo Júlio Fernandes fessores. “Quando me Neto, dita ao retomar a formei cirurgião denhistória da criação do tista, para a clínica, fui curso de Pedagogia, convidado e me tornei justifica-se: “Somos professor. Aprendi com uma instituição de ensium grande orientador e no, de educação”. Desguru, que dizia: ‘Nós, ses 50 anos, ele destaca dentistas, engenheiros, muitos fatos marcantes. advogados, médicos, “Houve reformas admique nos dizemos pronistrativas e do estatuto, fessores, estamos em criando-se as unidades exercício ilegal da proacadêmicas”, sintetiza, fissão, porque nenhum enfatizando a atividade teve uma formação peda Faced, tanto na gradagógica, uma licenduação, quanto em sua ciatura. Nós nos formapós-graduação, por ser mos profissionais de “referência, o melhor Pós graduação precisa ter viés didático-pedagógico mercado e, de repente, conceito Capes da viramos professores, mas qual é o método UFU”. de ensino?’. No mestrado, fizemos especiaEle, que participa frequentemente dos lização; no doutorado, viramos pesquisadoeventos da unidade – contabiliza “quase res, mas, em momento nenhum, viramos um por semana” –, deposita na Faced “a


Para o reitor, é preciso que, no mestrado, quem não teve licenciatura seja formado professor, com orientações e métodos. “Nossos programas de pós-graduação precisam ter esse viés de formação didático-pedagógica. Tenho cobrado isso da Faced. Se não temos oportunidade para isso, quando vamos transformar esses profissionais em professores? Tenho certeza de que a qualidade do ensino melhorará muito em todas as áreas, mas esse profissional precisa ter capacitação. Sozinho, é difícil aprender a ser professor”. Desafios O reitor destaca que a educação tem enfrentado diversos desafios desde a década de 1960: “A pedagogia evoluiu muito, não só no conteúdo, mas em métodos científicos, trabalhos, experimentos. Nesse meio, apareceu um grande brasileiro chamado Paulo Freire, que mudou o modo de pensar, propondo uma educação cidadã, problematizadora. Nossos professores tiveram que se capacitar, e só professor mesmo é capaz, com a abnegação que tem, de mudar toda uma concepção, uma convicção, para atuar de forma diferente”. O desafio atual, na visão de Fernandes Neto, é lidar com as ferramentas, como a internet. “Isso está nos levando a pensar em outro momento da educação, outra prática pedagógica. Hoje, o professor é mais um orientador, sinaliza, oferece oportunidade. Não tem mais tanto aquela presença física, pelos instrumentos que temos, mas o instrumento não fala nem executa sozinho. Precisa de um professor pensador para elaborar o projeto”, valoriza. Nesse momento de expansão da educação a distância, fundamental, em sua opinião, ele

considera importante a atualização: “Houve uma evolução no pensamento, no método e, agora, nas ferramentas. Nossos alunos estão cada dia melhores, mais críticos, cobram mais. A vida do professor é uma inquietação, ele tem que estar em formação constante”.

Arqu ivo Re itoria

professores”, explica.

Desafio atual é saber lidar com as ferramentas como a internet

Ainda em termos de transformações, uma novidade foi a instalação do curso de Jornalismo na Faced, o que, segundo o reitor, preencheu uma lacuna que havia na UFU e merece solidariedade na questão do diploma. “Sabemos da abrangência da profissão. Ser jornalista não é só escrever página de jornal. É mídia, e precisamos capacitar jovens para que a sociedade tenha notícias claras, com responsabilidade, dos acontecimentos que fazem o dia a dia do nosso planeta. Para isso, precisamos de profissionais formados com competência técnica, científica e ética”, reforça. Neste sentido, de uma formação competente, a Faced precisa, como diz Fernandes Neto, ser “o carro-chefe da universidade, dar o norte da educação, pois educação é sua especialidade”.

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Primeira diretora eleita da FACED Um mandato de quatro anos exigiu dos diretores eleitos uma nova concepção de gestão

Arqu ivo pe ssoal

Maria Clara Souza Parreira

Desejo de construir uma faculdade de Educação forte

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C

om a criação da FACED-Faculdade da Educação a Universidade Federal de Uberlândia trouxe para o curso de Pedagogia e para o mestrado em Educação possibilidades de crescer no ensino, pesquisa e extensão. A criação da FACED proporcionou também outras melhorias, aproximou docentes, projetos e trabalhos dos antigos departamentos o DPOPP denominado de Princípios e Organização da Prática Pedagógica e o DEPFE conhecido como departamento de Fundamentos da Educação, ou seja, a articulação entre as questões teóricas e práticas. A professora Sônia Maria dos Santos, a primeira diretoria eleita da FACED, acompanhou de perto esta e tantas outras transformações. Antes da criação da FACED o curso de Pedagogia era mantido por dois Departamentos: Fundamentos da Educação em que eram lotados os professores das áreas de Filosofia, História da Educação, Psico-


que tem projetos semelhantes aos meus e logia e Estrutura e Funcionamento do Enacreditaram assim como eu na possibilidasino; o outro departamento era conhecido de de construir uma unidade acadêmica como Prática Pedagógica cabia a ele cuimais humana. Uma das marcas deixadas dar e manter as áreas das metodologias e do período que eu administrei foi a de não da didática. “Quando a FACED foi criada ter privilégios, o grupo tinha poder e tinha entendemos já na sua concepção que nesta voz. Era assim que eu acreditava, era asunidade acadêmica, não caberia mais as sim que eu via, perante o individual. Proantigas divisões, assim entendíamos nafissionalmente foi muito importante coquela época que deveríamos acabar com nhecer como a Universidade se organiza, os Departamentos, pois nosso desejo era como os recursos públicos chegam na construir uma Faculdade de Educação forUFU e como eles são administrados. A te e conhecida nacionalmente” explica a grande contribuição que eu acredito que professora Sônia Maria dos Santos. Para deixei, que alguns professores até hoje coela, essa junção foi muito importante para mentam, e que é uma característica muito o curso, antes, os trabalhos eram muito inpessoal minha, e é o dividuais nos depar“A grande contribuição que deixei exercício que me tamentos, fragmentaao longo dos anos de docência está acompanha cotidiados, e essa união na no exercício cotidiano de namente, acreditar na estrutura administrarecomeçar, sacudir a poeira, capacidade do ser tiva auxiliou no senacreditar no grupo enfim no homem” humano e nos trabatido de dar visibilidalhos em grupo”. de ao grupo de professores e a seus projetos. Antes de a professora Sônia assumir como Diretora, a FACED teve dois Diretores pró-tempores, Geraldo Inácio Silva e Conceição Maria da Cunha. Nesta época, o Conselho se reunia para organizar o regimento da Faculdade que previa eleições com quatro anos de mandato. Sônia Maria concorreu com uma professora conceituada, conhecida e com muitos anos de trabalho, lembra que o processo foi rico, inovador e democrático o qual participaram alunos, professores e técnicos-administrativos. “Minha decisão por candidatar foi respalda por um grupo

FACED faz opção por ter um Conselho Pleno Mesmo com a possibilidade que a FACED tinha de funcionar administrativamente com um conselho por representação, optou-se pela continuação do Conselho Pleno. Os professores da FACED participam de todas as reuniões convocadas pela direção. “Nós entendemos que a representação não era uma forma democrática e assim decidimos funcionar com o conselho pleno em todas as reuniões. Na FACED todos os professores são convocados, para participar de todas as reuniões”.

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rum Nacional de Diretores da Faculdade de Educação do Brasil), FORUM que reúne todos os diretores de Faculdade de Educação das universidades publicas do Brasil, realizou duas importantes reuniões na FACED durante sua gestão. Para a professora Sônia Santos “O profissional que ela é resulta da soma dos lugares que estudou, dos professores que conheceu, de sua família e de sua religião apesar das pedras que encontrou no caminho, construiu concepções, é formadora de professores, por isso defende firmemente o coletivo. Ela acredita que sua gestão, auxiliou vários professores, alunos e técnicos a repensarem tanto a vida pessoal quanto a vida profissional no que diz respeito a solidariedade e respeito ao homem essencialmente humano portadores de defeitos e qualidades. Nos dias atuais a professora coordena vários projetos importantes, com financiamento do MEC e da própria UFU. Arqu ivo pe ssoal

Pontos importantes da época que foi diretora Da época que foi diretora, a professora Sônia destaca diversos pontos positivos, para ela, pessoalmente e para a faculdade. Para ela, a possibilidade de dirigir a faculdade fez com que ampliasse seu olhar e sua compreensão para o que entendia como gestão pública e trabalho coletivo. Foi um período de muito trabalho para todos os docentes uma vez que todos foram envolvidos em diferentes equipes afim de estabelecer metas para que a faculdade pudesse crescer e ter visibilidade dentro e fora dos muros da UFU.

Gestão auxiliou professores e alunos a repensarem vida pessoal e profissional

No período em que foi diretora criou um setor de eventos, atualmente assumido pela secretária do Laped (Laboratório Pedagógico) esse setor organizou as propostas dos docentes e a formação continuada passou a ser prioridade na FACED. O Forumdir (Fó-

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A Faculdade da Educação da época em que a professora Sônia foi Diretora, aos dias de hoje, cresceu muito tanto em termos quantitativos como qualitativos é uma Faculdade em processo de crescimento e consolidação de suas metas. Antes havia apenas o curso de Pedagogia e o mestrado. Atualmente tem o doutorado, pós-doutorado e o curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, com possibilidades de crescer mais.


Os caminhos da Pós-Graduação Coordenador analisa como potencializar o programa para colocar a produção em debate Lucas Felipe Jerônimo

Para a Pós-Graduação, é fundamental que os projetos sejam aprovados junto às agências de fomento. Carlos considera importante direcionar os trabalhos para periódicos mais bem-avaliados e para editoras mais conceituadas em termos de corpo

editorial. “A construção teórica do programa é variada devido à pluralidade teórica. Essa construção depende de cada grupo e núcleo de pesquisa”.

Lu cas Je rônim o

U

ma das maiores necessidades da pós-graduação da Faculdade de Educação (FACED) atualmente é o intercâmbio internacional. Como potencializar o programa nesta área? Carlos Henrique Carvalho, 48, que coordena a Pós-Graduação atualmente, sugere: “Precisamos ampliar os contatos na América Latina, América do Norte e reafirmar alguns contatos que já existem na Europa”. Uma alternativa é que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) disponibilize o valor de uma bolsa para motivar os alunos na participação de um intercâmbio. “É essencial que haja uma política de valorização de programas no exterior”, reforça.

Precisamos ampliar os contatos na América Latina e América do Norte

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Paula Graz ie la

A FACED conta com as seguintes linhas de pesquisa: no Mestrado, História e Historiografia da Educação; Saberes e Práticas Escolares; Política e Gestão da Educação; no Doutorado, História e Historiografia da Educação; Políticas e Saberes Escolares. Uma importante linha de pesquisa, que integra, atualmente, 16 docentes, é Saberes e Práticas Educativas. Essa linha pode ser definida como um campo de investigação científica com o objetivo de produzir novos conhecimentos e envol-

Grande desafio da pós-graduação é colocar nossa produção para debate

ver estudos sobre, entre outros tópicos, currículo, culturas, saberes e práticas escolares, formação docente, ensino superior, metodologias de ensino, cotidiano escolar, aspectos psicológicos do processo de ensino e aprendizagem e da relação professor-aluno. Comunicação Social Carlos espera que o curso de Comunicação Social possa direcionar algumas pesquisas para o campo educacional. “Na medida em que as pesquisas do curso de

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Jornalismo estejam relacionadas com a questão educacional, é possível firmar uma boa parceria com o curso, inclusive abrindo linhas de frente que possam viabilizar uma integração maior do curso no âmbito da pós-graduação”, afirma o coordenador. Sobre a relação das atuais linhas de pesquisa e o curso de Jornalismo, Carlos reforça: “As pesquisas focam seus estudos em Educação brasileira, dessa forma, o curso de Jornalismo terá que se adequar, o contrário seria mais difícil no que tange à competência, visto que o Jornalismo é uma área bem específica”. Divulgação científica O coordenador analisa como razoável a divulgação científica e aponta que o programa ainda tem desafios de colocar em evidência aquilo que produz. “Há trabalhos diferentes que poderiam ser mais bem-aproveitados”, destaca, salientando que talvez falte maior divulgação pela universidade, evidenciando para os outros programas e para a comunidade científica. Carlos ressalta que é importante destacar a produção volumosa, qualificada e que, às vezes, não é ponto de discussão no meio acadêmico brasileiro. “Um grande desafio da pós-graduação é colocar a nossa produção para debate”, reforça. Carlos Henrique Carvalho faz parte da Coordenação do Programa de Pós-graduação em Educação, mestrado e doutorado da Faculdade de Educação (FACED). Com formação voltada para a educação, Carlos é graduado em Direito; em História, possui graduação, mestrado e doutorado; e, em Educação, mestrado, doutorado e pós-doutorado.


Destino ou acaso? A publicitária que se entregou à docência por paixão às salas de aula e à comunicação Paula Arantes Martins

Adriana trabalhou com pesquisa e conseguiu estágio em uma agência de publicidade durante a graduação em Publicidade e Propaganda na Universidade Metodista de Piracicaba. Ao vivenciar a rotina de uma agência, a coordenadora brinca: “é

Arqu ivo pe ssoal

Eu acho que a única alternativa que o mundo tem de mudança é pela educação”. São essas as palavras que Adriana Omena, coordenadora do curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo da UFU, encontra para traduzir o diferencial da graduação oferecida pela universidade: uma preocupação com a sociedade. Publicitária por vocação e professora por paixão, a doutora em comunicação se entregou à publicidade por querer o jornalismo. Foi na sala de aula, porém, que Adriana se encontrou. Depois de experimentar a vida de uma agência de propaganda e presenciar o crescimento dos alunos na faculdade, ela não teve dúvidas: continuou a estudar, fez mestrado e doutorado e, há dez anos, lida com estudantes de comunicação.

Ensino superior deve ter foco em uma formação teórico-humanística

insana, publicitário não tem vida”. O gosto pela pesquisa e a dificuldade em conciliar a família com o trabalho foram fundamentais na decisão pelo mestrado. E foi aí que surgiu o convite para lecionar. Destino? Não, somente o caminho certo: a união entre ser graduada em Publicidade e a possibilidade de trabalhar com as outras habilitações da Comunicação Social. A chegada à UFU veio pela redistribuição da Universidade Federal do Tocantins.

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Adriana ainda trabalhou por um ano no curso de Artes da UFU, ministrando a disciplina de Metodologia de Pesquisa, enquanto trabalhava na proposta de criação do curso de Jornalismo. A publicitária conta que o maior desafio de ser coordenadora é intermediar as relações entre professores, alunos, instituição, e que sua principal função é fazer o curso acontecer. A proposta de criar um curso de graduação nasce com a proposição de uma unidade acadêmica. Entretanto, com o curso de Jornalismo, aconteceu o contrário: a proposta veio da reitoria, na época, sob o comando do professor Arquimedes Ciloni – ele tinha o curso como um sonho. Enquanto, na maioria das universidades, cria-se o curso para depois montar a estrutura, na UFU, todo o aparato para a Comunicação Social já existia. Arquimedes viu o sonho virar realidade em 2009: ano de ingresso da primeira turma de Jornalismo. O curso está implantado na Faculdade de Educação. A proposta se destaca em relação à de outras faculdades, pois tem o olhar dos profissionais da educação. Adriana esclarece que a intenção não é formar jornalistas educadores. O objetivo é formar jornalistas atentos a essa causa. Ao vincular comunicação e educação, o desafio, no ensino superior é trabalhar a interdisciplinaridade com foco em uma formação teórico-humanística. Mesmo em trabalho com reportagens, notícias e matérias. Em última instância, o jornalismo é uma profissão que lida com as pessoas. É neste segmento, de formar bons pro-

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fissionais, que Adriana se apresenta como defensora intransigente da monografia e do projeto experimental, processos pelos quais os alunos da UFU passarão para concluírem o curso. A coordenadora ressalva que, em um curso de bacharelado em uma universidade federal, bancada pelo dinheiro da sociedade, os alunos não podem sair para o mercado de trabalho sem produzir uma monografia. “Essa etapa é fundamental para compreender o que é fazer ciência e apresentar projeto experimental”. Por isso, ela está estudando, juntamente com os outros professores, a possibilidade de os alunos apresentarem um mix de três produtos: “um jornal, uma revista e um documentário ou um minidocumentário, um site e um jornal de bandeja. “Às vezes, você quer fazer um projeto de educomunicação, às vezes você quer fazer um website, um blog jornalístico, a gente não vai prender”. A maior gratificação ou realização da coordenadora é ver os alunos, depois dos quatro anos, com seus caminhos delineados e escolhas feitas. O crescimento observado em sala de aula é absurdamente maior do que em uma agência. Adriana revela ainda que a Faced recebeu bem o curso e o resultado obtido em um ano por professores e alunos é surpreendente: projetos aprovados, alunos bolsistas, artigos publicados e alguns fatores que já apresentaram necessidade de mudanças. O saldo tem sido positivo, devido à feliz junção entre o empreendedorismo dos professores e a animação dos alunos. As expectativas, agora, aumentam com a chegada dos calouros.


Jornalismo e a Educação: Encontro Diálogo contribui para formação do indivíduo e permite a interdisciplinaridade Lucas Felipe Jerônimo

A comunicação em um curso de educação promove abertura

para a interdisciplinaridade. Na prática, há professores que trabalham com os meios de comunicação, mas é um uso desprovido do debate da interdisciplinaridade. No curso de Comunicação, no caso de efetiva união com a educação, professores e alunos – ao trabalhar o Jornalismo nessa perspectiva – tendem a valorizar a função educativa dos meios.

Trabalho com meios de comunicação deve-se ater à interdisciplinaridade

Lu cas Je rônim o

U

m grande desafio dos tempos atuais surge do ambiente comum criado na interação da área da comunicação com a educação. O diálogo entre essas duas áreas trabalha contextos importantes na formação do indivíduo, na educação formal e informal. Para efetivar a participação dos meios de comunicação na formação do indivíduo, é importante a sua implantação nas escolas para o fomento do debate.

“No contexto das tecnologias digitais, a Web tem aberto espaços para a concretização dessa interdisciplinaridade, com as funcionalidades de uma nuvem

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Lucas Je rôn imo

de comunicação que abrange a internet e dispositivos como celular, TV e rádio digital, computador e até mesmo relógio”, afirma Mirna Tonus, professora especializada em tecnologias digitais.

Pesquisa deve verificar implicações tecnológicas no ensino-aprendizagem

Professora adjunta da Faculdade de Educação no curso de Jornalismo, Mirna Tonus possui 22 anos de experiência profissional em mercado, tendo atuado em assessoria de imprensa e jornalismo especializado na área agropecuária. É mestra em educação com estudos dos processos de ensino-aprendizagem. Em seus estudos de mestrado –Educação – e doutorado – Multimeios –, consegue promover um diálogo entre as duas áreas: comunicação e educação. Como foco de pesquisa, Mirna dedica-se às tecnologias da comunicação e da informação, sobretudo às digitais. O trabalho acadêmico no Jornalismo se inicia em 2000, ao ministrar disciplinas para cursos de Comunicação Social: Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas. Pesquisa e docência Mirna desenvolve atualmente pesquisa

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sobre as implicações das tecnologias na formação, no perfil e na atividade profissional do jornalista. A proposta inclui verificar as implicações tecnológicas no ensino-aprendizagem. “Sua importância verifica-se na atual exigência de uma formação mais complexa devido às modificações nas técnicas jornalísticas”, resume a professora. No âmbito da sala de aula, Mirna ministra, para o curso de Pedagogia, a disciplina optativa Introdução à Educação a Distância, na qual desenvolve diversas atividades com os alunos. Ao usar ferramentas de interação, ela promove encontros via chat, aula em conferência e a produção de mídias que podem vir a ser usadas em cursos à distância. No curso de Jornalismo, leciona Comunicação e Educação, Projeto Interdisciplinar em Comunicação e Técnicas de Reportagem, Entrevista e Redação Jornalística. Ensino-aprendizagem Mirna possui uma visão interacionista e construcionista para a área da educação, e acredita que o ensino-aprendizagem tem desafios frente às tecnologias. Um deles é ser compreendido como um processo no qual a interação é fundamental; outro, usar ferramentas e dispositivos de interação para potencializar o ensino e a aprendizagem. Entretanto, à medida que a tecnologia se aprimora, demanda reflexões sobre novas metodologias. “É preciso usar métodos e procedimentos diferentes ao se ingressar em outro ambiente tecnológico”, afirma a professora. Nesse sentido, o debate se torna questão fundamental para a promoção de uma avaliação crítica das metodologias usadas.


Um inovador Professor analisa o gestor público e sua gestão na FACED Francklin Vinicius Tannús

Marcelo Soares Pereira da Silva esteve à frente da Faculdade de Educação (FACED) no período de 2004 a 2008. Conhecedor dessa realidade e, com a autoridade de quem a viveu, aponta as principais características que devem nortear o trabalho do gestor. “Ele deve se pautar pelos princípios da transparência, da gestão democrática e participativa, do fortalecimento do trabalho coletivo e das instâncias colegiadas.” E continua. “Ao ocupar qualquer cargo, o gestor deve fazê-lo com a consciência e o compromisso de fazer com que sua atuação se desenvolva no sentido de tornar os bens e serviços públicos cada vez mais acessíveis a todos.” Para Marcelo, a gestão pública é, acima de um grande desafio, uma grande oportunidade de contribuir para o

fortalecimento do espaço público. Arqu ivo pe ssoal

A

gestão pública é feita de desafios. Burocráticos, financeiros, administrativos,... eles são incontáveis. Lidar com o espaço público e com o público que utiliza esse espaço constitui-se numa tarefa verdadeiramente complexa.

Gestor deve se pautar pelos princípios da transparência

Uma Faculdade de Educação, um curso de Comunicação. Vivia-se na UFU um longo processo marcado por várias dificuldades. A criação e implantação do curso de Comunicação Social: habilitação Jornalismo, um sonho de muitos dentro e fora da comunidade acadêmica, não saía do papel. Problemas estruturais e internos impediram outras Unidades Acadêmicas de assumirem o projeto.

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Arqu ivo pe ssoal “Toda comunicação é, em sua essência, processo educativo”

O então reitor, Arquimedes Diógenes Ciloni, numa reunião do Conselho Diretor, expôs o problema em toda sua amplitude. Marcelo Soares sinalizou informalmente, naquela ocasião, o desejo de levar o projeto para a FACED. “A UFU possuía condições muito favoráveis para que esse curso fosse criado e implantado.”, defende. E explica. “A Universidade possuía uma infra-estrutura básica de TV, rádio e mesmo jornal. Muitos campos de saberes e disciplinas ligadas ao campo da Comunicação Social já estavam consolidados em diferentes Unidades Acadêmicas da UFU. A ampliação de espaço físico para salas de aula já era uma realidade.” Mas o que justificaria um curso de Comunicação em uma Faculdade de Educa-

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ção? Era essa a pergunta que deveria ser respondida. O Conselho da Faculdade de Educação (CONFACED) precisaria ser convencido. E foi. Ao olhar para trás Marcelo relembra. “Eu entendia que uma articulação entre a área da Comunicação Social e a área da Educação poderia ser algo muito rico e inovador para a UFU, para a FACED e para uma área nova que se constituiria na instituição.” E afirma. “Educação é antes de tudo comunicação. E toda comunicação é em sua essência processo educativo.” O curso de Comunicação Social foi contemplado no aporte de recursos financeiros e de pessoal que a UFU obteve por meio do Plano de Expansão e Reestruturação Acadêmica. Esse plano foi submetido ao Ministério da Educação (MEC) no âmbito do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). “Orgulho-me de ter tido a iniciativa, e mesmo a ousadia, de levar essa ideia adiante em uma Faculdade de Educação.”, diz o professor Soares, sem desdenhar dos desafios que se colocam. “Certamente deve faltar muita coisa, muitos laboratórios, infra-estrutura, pessoal. Mas para mim esse é o tipo do bom problema para o gestor público, pois agora se trata de melhorar o que já existe.” Por fim, propõe. “Quem sabe, até, já não está na hora de ao invés de falarmos em Faculdade de Educação começarmos em Faculdade de Comunicação Social e Educação (nem precisa mudar a sigla FACED), ou em Faculdade de Educação e Comunicação Social.”


Sucesso acadêmico na maturidade Aos 52 anos, a aluna se destaca na Pedagogia não pela idade, mas pela capacidade

G

eracilda, ainda criança, fez uma promessa à mãe: formar-se no Ensino Médio, na época, o colegial. Parecia que a jura não tinha sido verdadeira, pois ela evadiu da escola por dificuldades de acesso e necessidade de trabalhar. Aí vieram casamento e três filhos. Até aqui, a história de Geracilda Maria da Silva, 52, se assemelha à de muitos brasileiros. A diferença é que, passados 30 anos sem estudar, ela resolveu cumprir a promessa de concluir o Ensino Médio. E acabou indo muito além. Geracilda terminou seus estudos no CESU (Centro de Exames Supletivos) e, incentivada pelos professores, decidiu que não pararia por aí: faria o curso superior de Administração – pois já trabalhava nesta área – e, para isso, começou a se preparar para o vestibular no cursinho alternativo Futuro. “Era uma meninada e eu lá no meio daquele povo”, relembra, entre risos. Onde entra a Pedagogia nesta história?

Talita Martin s

Dielen dos Reis Borges Almeida

Geralcina participa de diversas atividades na Universidade

Sincera, a aluna revela que acreditava que sua nota no vestibular não seria suficiente para passar em Administração. Um professor do cursinho sugeriu o curso de Pedagogia e recomendou a especialização em Pedagogia Empresarial. No vestibular, uma surpresa: Geracilda se saiu tão bem que sua nota teria sido suficiente para passar em

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Talita Martins

Administração. É... mas a escolha estava feita e ela ingressou no curso de Pedagogia entre os alunos mais bem-colocados.

Ao lado da foto de Paulo Freire, ela brinca que muitas são apaixonadas por ele

Vida acadêmica Na Universidade, Geracilda continuou chamando a atenção. “No começo, acho que eles [alunos e professores] se assustaram. Primeiro, por causa da propaganda: ‘a aluna mais experiente’, estava ali um rótulo”, conta. Ela faz questão de lembrar que foi a única aluna a ser cumprimentada pelo reitor na ocasião. A aluna teve alguns obstáculos a serem superados. “No começo, as pessoas achavam que por causa da minha idade eu poderia ter muita dificuldade para aprender”, conta. “Teve alguns professores que falaram assim: ‘você poderia, como mãe dessa turma...’. E eu respondia: ‘não quero esse papel de jeito nenhum’. Eu quero ter com eles uma relação de colegas de turma”, revela. O tempo passou e alunos e professores puderam enxergar Geracilda para além dos estereótipos, pois ela se revelou aluna brilhante. Victoria Cheruli, 30, aluna do

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curso de Pedagogia, não economiza elogios à colega: “Ela passa uma sabedoria de vida, é muito participativa em sala de aula. Não ‘caxias’, mas ela é presente, ela discute”, conta. Geracilda aproveita ao máximo o que a Universidade tem a oferecer. Fez disciplinas optativas na Psicologia, Artes e Teatro e planeja matricular-se em mais algumas na Filosofia. Faz parte do grupo de estudos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da formação continuada, no eixo Gênero, Raça e Etnia, e estuda sobre Educação à Distância. No currículo, participações em eventos e publicações. Agora ela está envolvida com a monografia, cujo tema é “como os adultos aprendem e como ensiná-los”. Fica fácil perceber que os planos da aluna para o futuro já não incluem mais a Administração – como ela mesma diz, foi “seduzida” pela Pedagogia –, mas sim, a carreira acadêmica. “Preparando-me para isso eu estou. Eu não acredito na sorte, eu acredito na preparação”, afirma. A conversa não poderia se encerrar sem falar da educação no Brasil. Geracilda opina: “eu posso estar ainda muito contaminada pelos professores de política, mas o que acontece é que as leis são muito bonitas; na hora de implementar essas leis, porém, há interesses eleitoreiros”. Ela defende a necessidade de haver um planejamento sólido para a educação, mantido nas alternâncias de governo. E quanto a ser professor? Para Geracilda, é imprescindível “gostar de gente e respeitar a diversidade humana”.


Quatro anos e um desafio Mara Rúbia conta como a FACED procura garantir a formação de professores Paula Arantes Martins

à frente da direção da FACED – metade de com orgulho que a professora e seu mandato. Sua função representa um deDiretora da Faculdade de Edusafio múltiplo: manter boas relações com cação (FACED) da UFU, Mara as outras unidaRúbia Alves des acadêmicas Marques, se ree com os consefere à consolilhos superiores, dação do curso além de ter uma de Pedagogia, participação que completa muito ativa nos 50 anos, e à noprocessos acavidade que o dêmicos e polícurso de Coticos da UFU. municação SoIsso permite cial representa compreender os para a universiprocessos de dade e a comuMara Rúbia: disposição para assumir diferentes compromissos mudança e exnidade externa. pansão pelos quais a universidade passa. “Agora, nós formamos profissionais da educação e profissionais da comunicação. Doutora em educação, a diretora trabaOs dois têm uma dimensão pedagógica lha com questões relacionadas ao corpo imensa. O grande desafio, hoje, na faculdocente, aos técnicos administrativos, aos dade é isso... é um processo de construção cursos de Pedagogia – presencial e à dismuito desafiador”, revela. tância – e Comunicação Social e ao MesGe rson S ou sa

É

Mara, com quase 30 anos de docência e 18 de UFU, completa, em 2010, dois anos

trado e Doutorado. Ao descrever seu cargo como desafiador, a professora se desdobra

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para conciliar suas múltiplas funções, alternar atividades, sejam as de pesquisa, ensino, extensão, prestação de serviços, sejam as administrativas.

Ge rson S ou sa

Para assumir essas funções, é preciso estar preparado e ter disposição para assumir diferentes compromissos. Em determinados momentos, é preciso priorizar algumas atividades; em outros, assumir novas responsabilidades. Diante de um trabalho complicado, porém enriquecedor, Mara se desafia quando declara: “Esperamos que estejamos fazendo um bom trabalho à altura do que a faculdade merece”.

Mara Rúbia: “foi muito arrojo da faculdade assumir o Jornalismo”

Campo de disputa A Faculdade de Educação tem participação fundamental na formação de professores. Vários docentes da FACED estão presentes em outros cursos de licenciatura, ministrando disciplinas pedagógicas como História da Educação, Política e Gestão em Educação, Didática Geral e Práticas de Ensino. Essa participação pode mudar de acordo com os projetos pedagógicos dos cursos. A principal preocupação é garantir a presen-

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ça dos professores de Pedagogia em cursos que formarão futuros professores. A diferença de valores entre bacharelado e licenciatura e a concepção que se tem da formação de professores representam um campo de disputa. A FACED tenta preservar, ao máximo, sua presença nessa formação. A diretora acredita que “essa questão, hoje, é um calcanhar de Aquiles em termos de política educacional no Brasil”. O curso de Pedagogia forma professores para a educação básica e a superior, o que amplia o perfil de atuação no mercado de trabalho. O alcance às escolas, organizações não-governamentais e empresas é uma relação muito intensa, sempre havendo uma ligação entre os profissionais e os órgãos de educação. Comunicação Social Mara descreve Uberlândia como amplo parque midiático, pois além de ser um polo de geo-educação, a cidade é um polo de geo-comunicação. A forma como a faculdade passa a se relacionar com esse nicho da comunicação mediado pelo curso de Comunicação Social amplia o contato da universidade com a comunidade. Ter este curso dentro da Faculdade de Educação é motivo de orgulho para a diretora: “Eu acho que foi muito arrojo da faculdade assumir o Jornalismo”, e ela acredita que, em um ano, “as expectativas quanto a um curso que está no início serão superadas”. Em 2010, a ordem é dar sequência aos trabalhos já desenvolvidos pela FACED com o curso de Pedagogia e observar o crescimento e os caminhos que o Jornalismo trilhará.



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