SENSO INCOMUM - 52 - MAIO 2023

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52 peculiaridades

Uma edição que se destaca na sua maneira própria de existir

Peculiar é algo que constitui a natureza característica de alguém, é específico e próprio. É peculiar uma reportagem que destaca a mudança de um tradicional bar universitário que traz boas memórias ao seu público. É peculiar uma coluna que mostre meios para cuidar da saúde mental e uma entrevista que ressalte o crescimento de um novo esporte, tudo em uma mesma cidade no interior do Brasil. Além disso, é peculiar uma reportagem que revele os problemas de softwares privados em instituições públicas.

Essa é a edição 52 do jornal laboratorial do curso de Jornalismo da UFU. Uma edição que amplifica os olhares dos alunos abordando diferentes temas que não se limitam à universidade, mas se acentuam nela. Pois, qual o interesse em conhecer mais sobre a cultura de rua quando mal a percebemos ao nosso redor? Por que a exposição de casos de assédio trariam alguma resolução e qual o sentido de saber sobre dermocosméticos?

As respostas estão nas peculiaridades das histórias contadas e nas experiências compartilhadas por personagens reais, atravessadas por dificuldades previstas e imprevistas. A 52ª edição é o retrato de um momento peculiar. 

Acesse o nosso site:

“É esse projetinho de sociedade que

queremos?”

Mesmo com o desdém social, a cultura de rua ganha forças e luta para uma sociedade equitativa

Fazer arte nas ruas foi a forma que a população periférica encontrou para se expressar e ganhar seu espaço na sociedade. Essa cultura age como um organismo vivo, ferindo os padrões impostos pelo sistema elitista. A arte urbana exprime a objeção e repulsa dos jovens pela sociedade atual. Com isso, diversos estilos de arte foram manifestados, como rap, pixo, break dance, lambe-lambe, skate e muitos outros.

Esses movimentos são repreendidos e vistos como marginais. Por isso, resistir às opressões é o escopo desses grupos culturais, além do intuito de dar visibilidade às expressões artísticas que surgem fora dos espaços formais. A ideia de comunidade se faz importante, porque individualizar as ações as dificultaria.

Em uma conversa com Vaine, um rapper e artista de rua, ele levanta o questionamento: “é esse projetinho da sociedade que queremos?”, se referindo ao modelo de sociedade atual que é apresentada, uma vez que ela é imposta pela classe média-alta. Afinal, as pessoas pertencentes a estes grupos evitam pisar no mesmo lugar que pobre, priorizando ambientes nos quais apenas eles frequentam. Sobre isto, Vaine afirma que “o ideal de cidade para certas pessoas, seria esterilizar tudo. Esconde tudo de ruim, pobres, pretos e diferenças sociais. Deixa tudo Branco”.

O deslocamento social que os movimentos de rua sofrem se reflete na sua desvalorização. Além das barreiras a serem rompidas, o Estado corrobora com a elite para que a cultura de rua continue a ser empurrada para a subalternização. Um exemplo de tal ato é o caso do Galpão de Skate udi diy, localizado em Uberlândia. Ele foi ocupado pelos skatistas durante 20 anos, mas foi demolido. Esse era um espaço de importância cultural que alcançou relevância internacional, se tornando a maior pista de skate diy do Brasil. Mesmo com todos esses atributos, a prefeitura se

abstraiu das reivindicações do local e do dever de ter informado e comprado o espaço do antigo dono. Também não ajudou os administradores do Galpão, possibilitando que o novo comprador do local ganhasse o aval para realizar as demolições. Ou seja, o Estado, mais uma vez, deixou de valorizar a população frequentadora e ficou do lado da pequena elite.

Já que cultura é um ponto base para se manter uma sociedade, a prefeitura como instituição primordial da cidade deveria oferecer apoio às pessoas que fazem arte nas galerias abertas (ruas), para que assim pudéssemos dizer que, o que está nas ruas também é arte. A sociedade maquia o seu desdém quando tira das ruas o grafite, o rap, a poesia, a dança e coloca o que for possível em um museu para ali poder apreciar a arte. Isso tudo é uma maquiagem social para dizer que existe a possibilidade de sair das ruas. Melhor, o que a elite faz é dar visibilidade a quem eles inviabilizam.

No fim, a cultura de rua é uma forma de luta contra a opressão, sendo responsável por trazer à tona os problemas sociais. Através dela podemos encontrar possibilidades para uma sociedade mais justa e igualitária. A cultura de rua sempre gritou as desigualdades sociais, agora nós devemos fazer a nossa parte: ouvi-los. 

Reitor: Valder Steffen Jr. - Diretora da Faced: Maria Simone Ferraz Pereira. - Coordenadora do Curso de Jornalismo: Christiane Pitanga. -

Professores: Gerson de Sousa, João Damasio, Nicoli Tassis e Nuno Manna. - Jornalista Responsável: João Damasio (MTb 3727/GO) - Editoras-

Chefes: Thuanne Santos e Vitória Marcelino. - Editores: Flávio Lombardi e Izadora Faria (Ciência e Tecnologia), Ingrid Gomes e Lucas Samuel Reis (Cultura), Matheus Mazon e Samira Batalha (Esporte), e Pedro Krüger e Vitória Pereira (Política). - Opinativos: Carolina Rosa, Danielle Leite e Vinícius Rodrigues. - Foto e Arte: Camilla Pimentel, Gabriela Couto, Karynna Luz, Suianne Gonçalves. - Redes e Site: Felipe Ponzio, Giovana Sallum, Julia Teresa Silva e Sankey Gabriel. - Checagem: Amanda Passeado, Ana Clara Thommen, Arthur Martins e Luiz Henrique Costa. - Revisão: Ana Carolina Silva, Ana Clara Souza, Blaranis Gomes, Mateus Batista, Thaís Nadai e Victória Monteiro. - Divulgação: Anna Victoria Franco, Arthur de Vitto, Leonardo Piau, Duda Ferreira. - Diagramadores: Camila Grilli, Gabriela Amado e Marcus Purcino.

Finalização: Danielle Buiatti e Ricardo Ferreira de Carvalho. www.sensoincomumufu.wixsite.com/jornal

IN 2 Senso nº 52 Maio / 2023 DA REDAÇÃO
POR LUIZ MARQUÊZ E GABRIELA DINIZ
EDITORIAL// OPINIÃO//
GALPÃO "IDEAL". FOTO: LUIZ MARQUÊZ

Já usou seu pacote Office hoje?

Coordenador do projeto Educação Vigiada aponta os impactos do uso de softwares privados nas instituições de ensino

A utilização de plataformas digitais como apoio para o processo educativo cresceu significativamente em um período de poucos anos. Um estudo publicado em 2021 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), apontou que entre 2016 e 2020 houve um aumento de 44% no uso dessas plataformas para atividades de ensino e aprendizagem nas escolas urbanas do Brasil.

Consequentemente, a oferta de tecnologias educacionais destinadas às instituições de ensino também aumentou. A UFU, por exemplo, firmou um acordo de parceria com a Microsoft em 2018, e a partir de 2021 os alunos puderam ter acesso às ferramentas disponibilizadas. O contrato vigente estipulado no valor de R$2.670.624,00 conta com as ferramentas do Pacote Office 365 (Microsoft Teams, Word, Excel, PowerPoint, Outlook e OneDrive) e visa possibilitar o aumento da eficiência na realização de atividades no âmbito da universidade.

Com a necessidade de utilização dessas plataformas, uma questão foi levantada: qual a responsabilidade das instituições que utilizam softwares privados, como o Pacote Office, na proteção dos dados de seus usuários?

Para entender mais sobre o assunto, o Senso (in)Comum conversou com Leonardo Ribeiro da Cruz, professor na Universidade Federal do Pará e um dos coordenadores do projeto Educação Vigiada. A iniciativa coleta e divulga informações sobre a plataformização da educação pública na América do Sul. O projeto desenvolveu um software com o objetivo de obter informações sobre servidores de email de universidades brasileiras devido à falta de dados disponíveis. Na entrevista, Leonardo comenta sobre os impactos sociais e

educacionais do uso de tecnologias privadas nas universidades públicas.

Senso (in)Comum: Empresas de tecnologia GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) exigem permissões de uso, como o acesso a algumas informações dos usuários. Quais dados, especificamente, essas plataformas coletam?

Leonardo Cruz: Ninguém sabe muito bem. Essas empresas deixam isso no escuro, propositalmente. O que sabemos é que possuem acesso aos metadados, aqueles gerados a partir do acesso a outros dados. Por exemplo, a hora que você entra e sai do site, com quem você se relaciona dentro dele, links visitados e tempo de uso. Elas também possuem acesso à coisas relacionadas ao seu aparelho, como navegador, sistema operacional, histórico e localização. Alémdisso,apartir de estudos, constatamos que, principalmente, o Google e a Microsoft têm acesso aos dados do e-mail.

universidade e ser obrigado a usar Google ou Microsoft. Isso é compulsório e um grande problema, pois gera uma confusão entre a fronteira público-privada. Se o indivíduo quer gozar de um serviço público como a universidade federal, necessariamente ele vai ter que entrar no mercado privado de dados, porque a própria universidade vai colocá-lo lá. É uma questão estrutural. No fim você é obrigado a usar o Google ou a Microsoft em algum momento.

Senso (in)Comum: Quais as consequências do uso de tecnologias privadas, como a parceria da UFU com a Microsoft, na formação educativa e acadêmica dos estudantes?

Leonardo Cruz: O que está acontecendo é a privatização de uma área que antes era organizada pela própria instituição. Essa é uma área de atuação que foi e ainda poderia ser um espaço de emprego para os estudantes, mas hoje o funcionário que trabalha nesse domínio é da Microsoft. Outra coisa é em relação à possibilidade de criação de tecnologias alternativas. Isso é muito cruel, porque a universidade deveria ser espaço de criação de novas tecnologias que não tenham a vigilância como pressuposto.

Senso (in)Comum: Na sua opinião, o que levou as universidades públicas a procurarem a iniciativa de tecnologia privada e quais preocupações os usuários desses softwares devem ter?

Senso (in)Comum: A falta de informações sobre como as grandes empresas de tecnologia atuam na oferta de tecnologias educacionais prejudica as pesquisas e discussões sobre seu uso no ensino?

Leonardo Cruz: Sim. Quanto menos sabemos como essas empresas funcionam, mais difícil é tomar decisões informadas. Nosso projeto criou um software para coletar esses dados, porque a Google e a Microsoft não os forneciam. Essa falta de transparência é uma estratégia, bem como os contratos entre as instituições públicas de ensino e as "big techs", que não passam por todas as instâncias contratuais da Universidade.

Senso (in)Comum: Qual é o papel da Universidade em relação aos termos de privacidade e aos dados coletados pela empresa parceira?

Leonardo Cruz: É importante discutir isso. As ações individuais não são mais suficientes. Não adianta ter um aluno que entende sobre vigilância de dados, mas vai se matricular na

Leonardo Cruz: Justamente o corte de gastos nessas instituições. Elas tinham que possuir uma estrutura pública, mas não havia dinheiro para gerenciar um parque tecnológico com armazenamento suficiente. A solução apresentada é a privada, e as universidades usam esses servidores por não possuírem um próprio. Além disso, acredito que não adianta os usuários se preocuparem. Quem tem que se responsabilizar é a empresa e a universidade. 

IN 3 Senso nº 52 Maio / 2023
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
POR AMANDA PASSEADO E ANA CLARA SOUZA A MICROSOFT É MAIS DO QUE APENAS PARTE DO DIA A DIA DOS UNIVERSITÁRIOS. FOTO: ANA CLARA SOUZA O USO DAS TECNOLOGIAS PRIVADAS É CONSTANTE NO PROCESSO DE APRENDIZADO DOS UNIVERSITÁRIOS. FOTO: AMANDA PASSEADO LEONARDO RIBEIRO DA CRUZ: DOUTOR EM SOCIOLOGIA, PROFESSOR NA UFPA E COORDENADOR DO PROJETO EDUCAÇÃO VIGIADA. FOTO: ACERVO PESSOAL

"Dermocosméticos" são uma invenção da indústria

Anvisa revela inconsistência técnica em nomenclatura do nicho de cosméticos

NOTORIEDADE NA MÍDIA

Recentemente, dois casos ganharam notoriedade na mídia e acentuaram o debate sobre a problemática de se utilizar a palavra "dermocosmético". Um deles foi a base da We Pink, marca da influenciadora digital Virgínia Fonseca, que anuncia conter em sua fórmula “ativos que irão proteger e revigorar a pele”. O outro foi o óleo corporal Rosa Selvagem, que promete “hidratar e ajudar no clareamento de manchas escuras causadas por atritos e ressecamento” sem a necessidade de fazer procedimentos estéticos. Os dois produtos foram divulgados em várias redes sociais como fonte de tratamento medicamentoso para problemas de pele, porém não oferecem nenhuma comprovação científica a respeito de sua eficácia. Isso levantou questionamentos sobre a veracidade da existência do termo e também em relação à transparência das marcas para com seus consumidores ao prometerem algo que não podem entregar.

INVENÇÕES DA INDÚSTRIA

O termo “dermocosmético”, criado pela indústria de cosméticos como estratégia de marketing para alavancar as vendas de certos produtos de beleza, não possui embasamento científico e nem registro de eficácia comprovada, de acordo com as classificações e especificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, ele passou a ser muito utilizado por marcas de cosméticos para gerar engajamento nas redes sociais. Trata-se de um tipo de produto que promete agir de maneira profunda, como um tratamento que proporciona saúde à pele do consumidor. Na prática, ele é incapaz de entregar o prometido, pois não está de acordo com as determinações da Anvisa para esse tipo de mercadoria. Segundo o órgão nacional, todos os itens de beleza fazem parte de uma mesma categoria: cosméticos.

CLASSIFICAÇÃO DA ANVISA

A Resolução da Diretoria da Anvisa, publicada em 19 de setembro de 2022, determi-

nou a regularização dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Nela, está descrito que o registro para classificação de um produto é dividido em dois graus: o primeiro se refere àqueles cosméticos que possuem propriedades básicas e que não exigem testes de eficiência em tratamentos de pele para serem inseridos no mercado, como perfumes, esmaltes e maquiagens. Enquanto os registrados em um segundo grau são caracterizados por possuírem indicações específicas que necessitam de comprovação de segurança ou eficácia, como maquiagens com fotoproteção e produtos para acne.

UTILIZAÇÃO DE “DERMOCOSMÉTICOS”

A doutora Fernanda Braga, dermatologista especializada em estética e cuidados de pele, afirma que “não é válido nomear esses produtos como ‘dermocosméticos’ porque sabemos que eles não serão capazes de cumprir o que prometem. São produtos que, ao lavar, vão sair da pele e sem efeito prolongado. Seu uso recorrente, inclusive, não é o recomendado”. A doutora também alerta que é preciso consumir conteúdos relacionados à beleza com cautela, já que, nas redes sociais, é possível que influencers utilizem filtros ou façam procedimentos prévios que não são mostrados ao público.

ITENS DE BELEZA X FÁRMACOS

Gisele Alvarenga, farmacêutica especializada em manipulação de cosméticos, explica que “para colocar um produto medicamentoso no mercado, por exemplo, leva em torno de 15 anos até que sejam realizados e comprovados todos os testes de qualidade necessários”. Ela também conta que, quando um produto é alterado de grau 1 para grau 2, é preciso fazer testes para comprovar a sua eficácia e toxicidade. Não é necessário nenhum tipo de registro diferente, mas uma autorização da Anvisa para que ele possa circular no mercado como fármaco ao invés de item de beleza. Contudo, esse processo costuma ser demorado. 

IN 4 Senso nº 52 Maio / 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
POR DUDA FERREIRA E
THAÍS NADAI
O CONSUMIDOR PRECISA ESTAR ATENTO A TODO TIPO DE PRODUTO QUE ENTRA DIRETAMENTE EM CONTATO COM A PELE. FOTO: DUDA FERREIRA
Para colocar um produto medicamentoso no mercado, leva em torno de 15 anos até que sejam realizados e comprovados todos os testes de qualidade necessários.
GISELE ALVARENGA DERMATOLOGISTA FERNANDA BRAGA RESSALTA IMPORTÂNCIA DO USO DIÁRIO DO PROTETOR SOLAR. FOTO: ACERVO PESSOAL

Identidade em debate

Clube do livro "Leia Mulheres" terá obra de Nella Larsen no mês de maio

EMMANUELLY BIANCA E GABRIELA COUTO

No dia 27 de maio, às 16 horas, a Sala Geralda Guimarães, localizada na Oficina Cultural, bairro Fundinho, vai sediar mais um evento de valorização da escrita feminina. A discussão será mediada pela graduanda em história e professora de inglês, Samita Barbosa, juntamente com a historiadora e professora, Geane Cristina. Com participação aberta ao público, os encontros acontecem mensalmente. Desde a sua chegada na cidade, já foram lidos 62 livros.

"A iniciativa de trazer o Leia Mulheres para Uberlândia veio de uma inquietação minha ao perceber que eu estudava e lia só autores homens", afirma Samita. Essa observação aponta para a desigualdade de gênero no mercado editorial brasileiro. De

acordo com a pesquisa realizada pela escritora Regina Dalcastagnè, no ano de 2019, dentre os 20 autores mais vendidos do Brasil, havia apenas uma mulher.

O livro discutido na edição de maio narra a vida de duas mulheres negras, que se conheceram na infância, mas acabaram

perdendo o contato com o passar do tempo. Já adultas, coincidentemente, se reencontram em uma cafeteria, porém, em diferentes circunstâncias de vida. Uma delas se passava por branca, escondendo a ancestralidade, pois precisou sair da vizinhança negra em que vivia após a morte de seu pai. Publicada em 1928, a obra foi escrita por Nella Larsen, uma mulher estadunidense de herança afrocaribenha.

ANA LOPES, PROFESSORA DE INGLÊS LENDO UMA DE SUAS OBRAS PREFERIDAS, ESCRITA POR UMA MULHER. FOTO: GABRIELA COUTO

O “Leia Mulheres" é uma iniciativa nacional que acontece há oito anos. O primeiro encontro foi realizado em São Paulo e hoje está presente em muitas cidades pelo Brasil. A fundadora do clube, Juliana Gomes, se inspirou no projeto “#readwomen2014”, em que a jornalista

inglesa Joanna Walsh passou um ano lendo apenas escritoras mulheres.

Em março de 2023, o clube do livro completou seis anos de atuação em Uberlândia. A obra escolhida para a data comemorativa foi “A falência” (1901) de Júlia Lopes Almeida, a primeira mulher a participar da Academia Brasileira de Letras. A programação é divulgada semestralmente, e procura ser ampla nas temáticas. “Gostamos sempre de diversificar as leituras em questões étnico-raciais, localização geográfica, período histórico, além de variar os gêneros literários também”, afirma o participante Kássio Alexandre, que está no clube há 5 anos e também é museólogo no Museu do Índio da UFU. 

Lona Cultural é inaugurada no Santa Mônica

POR GIOVANA SALLUM E VITÓRIA MARCELINO

O nome "Olívia Calábria" foi dado ao Complexo em uma homenagem à artista modernista, militante dos direitos das mulheres e vinculada ao Partido Comunista de Uberlândia. “Foi um nome que encaixou com a ideia do complexo", afirma o diretor de cultura, Alexandre Molina. O intuito do espaço é possibilitar apresentações de cunho cultural.

O complexo visa impulsionar a cultura na UFU e fora dela

de abril. O novo espaço é vinculado à Diretoria de Cultura (Dicult) e à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFU (Proexc). O Complexo de Extensão e Cultura Olívia Calábria é composto, além da Lona, pela Rede de Extensão, Centro de Incubação de Empreendimentos Populares e Solidários (Cieps) e a praça recém intitulada de “Olívia Calábria”. A estrutura se localiza entre os blocos 3E e 1S do campus Santa Mônica.

ção de alunos da UFU, como a grafiteira Laura Bianca, conhecida artisticamente como “Nada”. Ela explica que os grafites nos murais da Praça foram pensados em conjunto com outros grafiteiros. “Foram os próprios organizadores que queriam que a gente trouxesse, por exemplo, a cultura do campo e a matriz africana”. Para Laura, o mural tem como propósito “mesclar os elementos da cultura brasileira”.

como artesanato, pintura, desenho e culinária.

REPRESENTAÇÃO DO RETRATO DE OLÍVIA

A inauguração da Lona Cultural da UFU ocorreu no dia 30 de março e se estendeu até o dia 01

A construção do ambiente contou também com a participa-

A Lona tem o objetivo de promover a conexão entre a universidade e a comunidade externa por meio das artes. “Nada” explica que “esse espaço é importante, pois, como ele pode ser visto da rua, as pessoas olham para dentro, veem a tenda de circo e os grafites de modo que tais elementos evocam uma sensação de identificação, incentivando jovens a quererem fazer parte do ambiente universitário”. Portanto, o espaço exibe e incentiva a participação de trabalhos artísticos,

Durante os dias de abertura, ocorreram cerca de 30 apresentações. A Lona Cultural é um espaço versátil para eventos artísticos, que podem ser abertos ou fechados, de acordo com a necessidade da apresentação. O objetivo é divulgar esses eventos para a comunidade externa e trazer apresentações de fora para a UFU, com um calendário trimestral de programação disponível para solicitações, que podem ser feitas por meio de um formulário encontrado no site da Proexc ou pelo QR Code disponibilizado na praça. 

IN 5 Senso nº 52 Maio / 2023
POR
CULTURA
NOVO
CALÁBRIA PRÓXIMO À LONA CULTURAL. FOTO: VITÓRIA MARCELINO DE CARVALHO
ESPAÇO PARA EVENTOS CULTURAIS É INSPIRADO NA ARTE MILENAR DO CIRCO. FOTO: VITÓRIA MARCELINO DE CARVALHO
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Bar da Dona Antônia tem até junho para deixar Avenida Belarmino

Proprietária do terreno pretende demolir o estabelecimento para construção de prédios no local

Famoso entre as conversas dos universitários do bairro Santa Mônica pela porção de torresmo com mandioca e o litrão de cerveja a R$9,50, o Bar da Dona Antônia está em busca de um novo endereço. 90 dias antes de vencer o contrato de aluguel, a proprietária do bar, Antônia Gonçalves Guimarães, mais conhecida como Dona Antônia, foi notificada de que não haverá renovação. O espaço, ocupado pelo estabelecimento comercial há mais de 22 anos, dará lugar a edifícios residenciais. A expectativa é de que o bar feche as portas em junho, mas reabra em breve em novo endereço, na Avenida Segismundo Pereira.

Inaugurado em dezembro de 2000, o estabelecimento começou sem a pretensão de ser um bar. Dona Antônia e seu ex-marido vendiam frango assado quando perceberam que os fregueses gostavam de consumir os produtos ali mesmo. “Um grupo da UFU começou a frequentar todo dia para comer frango assado e tomar uma cerveja, trazendo sempre mais pessoas e, quando vi, já tínhamos trocado tudo e transformado em bar", relembra.

Frequentador assíduo do bar, o estudante de Economia, Pedro Henrique Romão Parreira, conta que ao chamar seu colega para “ir na Tonha tomar uma cerveja e comer um torresmo", chegou a ignorar que faria uma prova de Cálculo na manhã seguinte. O que era para ser uma “saída rápida” se estendeu para além das 4 horas da manhã. Com tanto carinho pelo local, o universitário garante que é lá que celebrará sua festa de aniversário no mês de maio.

Com o bar enraizado no local há mais de duas décadas, a trajetória de muitos universitários foi profundamente marcada pelas histórias que ali foram vividas. O estabelecimento foi palco de primeiros encontros amorosos, casamentos, carnavais organizados por estudantes, transmissão de seis Copas do Mundo e marcou a vida de seus frequentadores de tal modo que o torresmo da Dona Antônia tornou-se uma das marcas registradas do bairro e tatuagem no peito de um fre-

guês. “Minha maior alegria é ver os clientes que já se formaram voltarem com a família. Eles falam sobre o bar e os familiares têm curiosidade de conhecer”, relata.

MUDANÇA DE ENDEREÇO

No início de 2022, Dona Antônia foi informada sobre o interesse de venda, contudo, não teve condições financeiras de adquirir o terreno. “A pandemia prejudicou muito os estabelecimentos comerciais e, mesmo tendo a preferência na compra, eu não tinha o dinheiro necessário. Então, a proprietária acabou vendendo para a construtora ATP”, explica.

Em entrevista ao Senso (in)Comum, Almir Garcia Fernandes, professor de Direito Civil, afirmou: “todos os procedimentos ocorreram dentro da lei. Tanto a antiga proprietária, como a construtora ATP agiram dentro de limites legais. Nenhum direito da inquilina foi infringido”. Esta também foi a percepção da Dona Antônia, que declarou não ter se sentido lesada em nenhum momento do processo. “Fechar a gente não vai. Encontrei na (avenida) Segismundo Pereiraumacasaquepodevirarcomércio”.

Inclusive, ela alega sempre ter mantido uma relação cordial com a proprietária. Durante a pandemia, quando todos os bares tiveram de fechar temporariamente devido à questões sanitárias, muitos não conseguiram arcar com o acúmulo de aluguéis e foram à falência. “Na verdade, a maioria teve problemas, fechou e tudo. Eu não fechei aqui porque a dona foi muito legal comigo, fiquei devendo um monte de alugueis, 4 meses, e ela nem me cobrou. Aí o resto eu fui pagando aos pouquinhos”, afirmou.

COMPETIÇÃO GASTRONÔMICA

A reabertura do estabelecimento após o período da pandemia, entre os anos de 2020 e 2021, não significou regresso da antiga freguesia. Entretanto, o movimento voltou à normalidade em 2022. O motivo? Dona Antônia o atribuiu à participação no concurso Comida di Buteco. “Ano passado foi o que me salvou, tantas pessoas que vieram, pessoas que já tinham saído daqui ou que nem frequentavam mais, e ainda assim vieram prestigiar. Foi muito legal, movimentou bem o bar.”

O concurso gastronômico premia o melhor petisco preparado por cozinhas de boteco em diferentes cidades. Ele acontece todos os anos no decorrer do mês de abril, em 25 municípios brasileiros. “São mais de 20 bares em Uberlândia que participam e eles escolhem depois quem tem o melhor petisco. Em 2022, partici-

pei com o torresmo”, afirmou Dona Antônia. Quando indagada sobre a possibilidade de ganhar o concurso, replicou: “ah, pra isso, eu nem ligo, o importante é participar, ajuda muito na divulgação."

Para a edição de 2023, que aconteceu entre os dias 7 e 30 de abril, o petisco escolhido como carro chefe foi o “Delícia da Tonha”, bolinhos de queijo acompanhados de molho barbecue de goiabada. Além dele, o cardápio especial para o evento incluiu outras três porções: a Tortilha Frontera com cheddar e carne moída, o Chicken Supreme com molho de cebola e a Batata Pops.

VERTICALIZAÇÃO URBANA: DA FICÇÃO PARA A REALIDADE

Um viúvo, já idoso, é constantemente assediado por uma construtora que pretende comprar a sua velha residência para erguer edifícios comerciais modernos. Mesmo depois que todos os seus vizinhos cederem às investidas insistentes, Carl Fredricksen se recusa a renunciar ao seu lar, o único elo físico que ainda o liga a sua falecida esposa e companheira de toda uma vida, Ellie. Por fim, ele resolve “levantar voo” com a própria casa para um destino paradisíaco na América do Sul. O relato faz parte da animação Up – Altas Aventuras (2009, Disney/Pixar) e traduz de forma lúdica o fenômeno da verticalização de bairros, outrora pequenos e residenciais.

Verticalização urbana é o termo usado para referenciar o crescimento vertical pelo qual passam as grandes cidades através do aumento do número de prédios. No caso de Uberlândia, essa verticalização começou a ser notada com maior destaque a partir do ano de 2005, tendo no bairro Santa Mônica seu maior expoente. De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos (SEPLAN), entre os anos de 2005 e 2013 foram aprovados cerca de 922 edifícios com até quatro andares no município. Destes, aproximadamente 47% estão localizados no Santa Mônica, mesmo a população do bairro correspondendo a apenas 5,7% do município.

A razão dessa verticalização ter ocorrido de forma mais acentuada no Santa Mônica, segundo o professor Almir, reside no fato de que até os anos de 1990, esta parte da cidade não era tão valorizada, quadro que se alterou ao longo da década de 2000, por conta da construção do Centro Administrativo da Prefeitura, do Pátio do Sabiá e da revitalização da área do Parque Sabiá. A verticalização acompanhou a valorização do bairro. 

ESPECIAL
Senso nº 52 Maio / 2023 7

“Não acreditei no que eu mesma tinha visto.”

Relatos de assédios recentes assustam universitárias

falta de monitoramento ao redor do ambiente universitário ocorre pela falta de registro de boletins de ocorrência. Mas, para atender ao apelo das instituições, a polícia começou a realizar um movimento no sentido de aumentar a patrulha nos campus da UFU em Uberlândia, principalmente no Santa Mônica, bairro com mais relatos.

No ano passado, foi aprovado o projeto “Dossiê Mulher”, que tem como intuito divulgar estatísticas sobre a violência contra as mulheres e pressiona a prefeitura na coleta e tratamento desses dados. Porém, todas as informações acerca do assunto ainda são escassas.

O início de mais um semestre na UFU é marcado por uma nova onda de assédios contra mulheres, principalmente ao redor dos campi da universidade. Neste ano, o grupo de comunicação de segurança do WhatsApp “Moradoras do Santa Mônica”, no qual estão presentes alunas da UFU, recebeu inúmeras histórias de assédio e agressão.

Lara Barbosa, estudante do curso de História da UFU, foi vítima de assédio e relatou sua história no grupo, contribuindo para a coleção de casos recentes que assustam as estudantes. Lara passeava com seu cachorro e sua namorada em um domingo por volta das 19h30 e, quando passou em uma rua com pouco movimento, avistou um homem com um comportamento estranho.

“Vi um homem parado sentado numa moto. Ele estava mexendo nas mãos e fiquei desconfiada, mas achei que ele estava usando o celular. Quando vi, percebi que ele estava se masturbando”, relata a estudante.

Desacreditada da situação, a vítima se dirigiu imediatamente para a sua casa, mas demorou alguns dias para assimilar a cena. “Nesse dia, eu me questionei muito se eu não estava errada. Mas quando eu vi que várias meninas relataram o mesmo, concluí que aquilo realmente aconteceu”, conta.

POSICIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES

Diante desse contexto, não houve nota oficial da Universidade. No entanto, Elaine Saraiva Calderari, pró-reitora da assistência estudantil, afirma: “Hoje temos parceria com os projetos ‘Acolhidas’ e ‘Todas por Elas’, para apoio jurídico das mulheres que denunciam”. Ela aponta ainda que “quando acontece uma violência, temos o ‘Nua Vidas’, o núcleo da FAMED que fica dentro do HC, em que todas as estudantes, servidoras ou qualquer cidadã recebe não só tratamento jurídico ou psicológico, mas também o tratamento médico”.

Amanda de Castro, coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), conta que percebeu um aumento significativo dos casos de assédio na UFU e nos arredores, mas acredita que isso esteja ligado com o período de volta às aulas, em que há uma maior concentração de calouras. Amanda, como corpo da representação dos estudantes, afirma que o DCE mantém um papel de promoção do debate e cobrança de um posicionamento da Universidade.

Além disso, todas as entrevistadas afirmaram que, ao entrar em contato com a Polícia Civil para cobrar uma maior segurança em torno da faculdade, ouviram que a justificativa de que a

Em contraponto, a entrevistada Lara, que foi vítima recentemente, afirma que não realizou o boletim de ocorrência, pois não vê da Polícia ou da Universidade posicionamentos contundentes, e considera que a denúncia não mudaria nada. “Não pensei em ir à polícia, pois eu ia falar o quê? Que vimos um homem se masturbando no meio da rua, ficamos assustadas, mas que ele logo foi embora? Que e a gente não viu placa, rosto ou roupas? Ia ser o mesmo que nada”, relatou.

SITUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Cerca de 63% das universitárias do país já foram vítimas de assédio sexual dentro dos campi. Sendo que 22% afirmaram ter sofrido essa violência mais de uma vez.

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM UBERLÂNDIA

Amanda Gondim, parlamentar que milita em prol da luta LGBTQIA+ e das mulheres, explica que a situação de assédio é complicada pois para a implantação de políticas públicas eficientes faltam dados e informações mais concisas.

Essa situação de insegurança envolvendo as mulheres nos bairros ao redor da UFU não é algo exclusivo do município de Uberlândia, nem dos bairros universitários em geral. Na realidade, ela se estende até mesmo para dentro dos muros dos campi, um ambiente que, em tese, deveria ser seguro. De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Avon e Data Popular, cerca de 63% das universitárias do país já foram vítimas de assédio sexual dentro dos campi. Sendo que 22% afirmaram ter sofrido essa violência mais de uma vez, evidenciando que não se trata de um problema isolado, mas sim algo recorrente e distribuído entre as várias instituições de ensino do país, criando um ambiente acadêmico hostil e intimidador para as estudantes, podendo afetar sua segurança,bem-estaredesempenho. As violências sofridas pelas mulheres podem se apresentar das mais variadas formas. Segundo o livro “Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas”, organizado por pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB) e publicado em 2022, há 31 tipos de violência sexual que uma pessoa pode sofrer, sendo 16 delas mais recorrentes contra mulheres, 7 contra homens e 8 comuns aos 2 gêneros. Nota-se que as violências que assolam majoritariamente as mulheres são mais abundantes. 

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POLÍTICAS
POR INGRID GOMES E VICTÓRIA MONTEIRO A CORAGEM DE DENUNCIAR O ASSÉDIO: UM LEMBRETE DE QUE É PRECISO CRIAR UM AMBIENTE SEGURO E ACOLHEDOR. FOTO: VICTÓRIA MONTEIRO AMANDA GONDIM, VEREADORA DE UBERLÂNDIA E ATIVISTA EM DIREITOS HUMANOS. FOTO: INGRID GOMES INSTITUTO AVON E DATA POPULAR

Projeto da UFU fornece acompanhamento psicossocial

Proteger-se tem ampliado assistência em atendimento psicológico à distância

CAMINHO TRILHADO A MUITOS PÉS

Em pouco mais de três anos de funcionamento, são mais de oito mil horas de atendimentos realizados pelo Proteger-se, serviço de atendimento psicossocial multiprofissional on-line da UFU. Desse total, 77% foram solicitados por estudantes da UFU, contabilizando mais de 7 mil atendimentos realizados em 683 dias de atividade. O projeto, que hoje conta com 70 profissionais entre bolsistas, estagiários e voluntários, já capacitou cerca de 200 colaboradores desde a sua criação. Segundo Karine Zago, coordenadora e uma das fundadoras, a iniciativa segue sendo a única da universidade que conta com o envolvimento de todas as pró-reitorias e que foi pensada especificamente para articular projetos isolados de acolhimento estudantil ou saúde mental, reunindo-os em rede virtual.

tos psicológicos online ganharam espaço durante e após o período de isolamento social. Alex Barbosa, psicólogo que atua na área de saúde mental há 11 anos, relata o que viveu durante esse período de sua carreira: “O número máximo de atendimentos a serem realizados por dia por cada profissional sempre era alcançado”. Ele conta ainda ter percebido que, mesmo ao término dessa época, permaneceram os resquícios de atendimento.

O QUE FAZ O PROJETO

O formato do Proteger-se segue as mesmas regras éticas e profissionais dos atendimentos presenciais, portanto, está de acordo com as regulamentações estabelecidas pelos órgãos responsáveis por regulamentar a profissão. O projeto surge com a proposta de acompanhamento estendido

os. O acompanhamento existe a partir da junção a outros projetos pré-existentes na UFU, transformando-os em uma rede de apoio e acolhimento à saúde mental.

Ao estabelecer contato com outros setores, coordenações e pró-reitorias, a equipe do Proteger-se revisou os estudos sobre o atendimento online que, na época, carecia até mesmo de perspectiva legal para a efetivação das ações. No entanto, ainda que realizem atendimentos esporádicos alheios à Universidade, o atual corpo de profissionais não conseguiria atender todas as demandas externas. Por isso, o projeto está sempre em busca de profissionais que se disponibilizam a realizar trabalho voluntário.

OUTRAS OPÇÕES?

Na UFU, estudantes também podem buscar apoio psicossocial na Divisão de Saúde (DISAU) e no Centro de Psicologia (Cenps). Outros locais em Uberlândia que oferecem esse tipo de atendimento gratuito são a Clínica Escola de Psicologia (Clip), na Fatra, o CAPS I e III Oeste e o CAPS Leste.

Para mais informações sobre o Protegerse, basta acessar o site pelo QR Code. 

OS DADOS NÃO MENTEM

Segundo a OMS, quase um bilhão de pessoas viviam com algum tipo de transtorno psíquico já em 2019. Os dados da World Health Organization (WHO) indicam que, com a pandemia, a depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano de emergência sanitária. Os atendimen-

online que vem se mostrando uma alternativa eficaz para quem busca ajuda emocional e psicológica, contribuindo para a democratização do acesso à saúde mental. Pedro Augusto, estudante do curso de Enfermagem e integrante do Proteger-se há um ano, declara que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela iniciativa é a de manter a continuidade de atendimentos pelos usuári-

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ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS SÃO MEDICAMENTOS UTILIZADOS PARA TRATAR ANSIEDADE E DEPRESSÃO. FOTO: KARYNNA LUZ ALUNO DEITADO NO SAGUÃO DA BIBLIOTECA DO CAMPUS UMUARAMA. FOTO: THUANNE SANTOS

Lei de Incentivo ao Esporte é prorrogada

Em vigor até 2027, medida empolga profissionais do ramo

A Lei de Incentivo ao Esporte (LIE), que permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam destinados a projetos esportivos, estava prevista para ter seus benefícios válidos apenas até o final de 2022, de acordo com a Lei nº 11.438, de 2006. No entanto, com o apoio do Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou a Lei nº 14.439, que atualiza o texto anterior e prorroga a legislação até 2027. O novo regulamento traz alterações nos percentuais que as empresas poderão deduzir do Imposto de Renda (IR).

Pessoas jurídicas poderão destinar até 2% do IR devido, para incentivar projetos esportivos, e o percentual pode chegar a 4%, se o valor for destinado a iniciativas que visem à inclusão social por meio do esporte em comunidades vulneráveis. Pessoas físicas também tiveram aumento no limite das doações para 7%.

A prática esportiva oferece benefícios nos aspectos biológico, psicológico e social. A prática do esporte é importante instrumento na formação cidadã, podendo desenvolver a formação humana e princípios éticos. É o que reforça o economista e professor da UFU Benito Salomão ao dar exemplos dos jovens da periferia. Benito afirma que eles “são mais expostos à violência, e a

uma série de problemas sociais”, e políticas públicas como os investimentos no esporte ajudam a protegê-los de problemas estruturais da sociedade.

EMPREGABILIDADE PELO ESPORTE

O esporte pode ser uma porta para um emprego despretensioso, como conta a atleta de vôlei, Isabely Boaventura. A camisa quatro do time de vôlei da cidade de Vinhedo São Paulo, relata que começou a jogar aos oito anos por gostar do ambiente e das pessoas envolvidas, mas aos poucos foi se interessando pela modalidade, o que resultou em sua federação (sendo o atleta federado aquele que se filiou a organização federal do esporte que pratica).

Isabely hoje joga como ponteira, atuando na defesa e no ataque do time, mas relata que não recebeu nenhum incentivo governamental em sua jornada esportiva. No entanto, reafirma a importância deles, principalmente, para as áreas periféricas. “Acredito que esses pequenos projetos que vão nascendo em algumas regiões são muito importantes para crianças de bairro, que às vezes não tem o que comer, a família quer tirar da rua e colocar em alguma coisa para além do estudo”.

Atleta há 13 anos, Isabely descreve as dificuldades dos desportistas que não recebem auxílio do governo, tal como o bolsa-atleta, e encontram instabilidade em seu trabalho devido aos contratos. “O atleta tem um salário na temporada, mas se você não arrumar algo para a próxima temporada, fica sem”. Alguns desportistas precisam procurar ‘bicos’ nas férias, em academias, por exemplo, para sobreviverem. Para a jogadora, uma solução seria auxiliar financeiramente essas pessoas por alguns meses, visando incentivar aqueles que acabam desistindo nesse período.

Isabely diz que se não tivesse seguido a carreira de jogadora, ainda assim teria escolhido uma profissão ligada ao esporte, como Fisioterapia ou Educação Física. Foi dessa forma com Alessandra Oliveira, técnica dos times de vôlei masculino e feminino da UFU. A educadora física foi atleta por 20 anos. Em seguida, formou-se na área na qual atua como treinadora há 15 anos.

Alessandra comenta sobre as várias possibilidades para a profissão: “Se você é um atleta, tem um leque. Se gosta de academia, pode ir, se gosta de escola, você vai se direcionar para lá. Hoje, tem um curso de Gestão da Educação Física que

é só nos bastidores, na parte de administração”.

A técnica diz ter exemplos da geração de empregos pelo esporte, como sua própria filha, Marcela Oliveira, de 14 anos, que joga profissionalmente na equipe de Barueri. Alessandra, então, reforça o valor de ações como a LIE: “Quem depende do esporte nem sempre tem um apoio, às vezes precisa tirar do próprio bolso, tem que depender de pai e mãe. Esse projeto do governo é muito bom por isso.”

UFU RECEBE PROGRAMA SEGUNDO TEMPO

O projeto criado em 2003 pelo Ministério do Esporte tem o objetivo de facilitar o acesso à atividade física e estimular o desenvolvimento da cidadania, além de promover uma melhor qualidade de vida para os praticantes. As modalidades escolhidas foram judô,nataçãoeatletismo.

Desde o início do programa na UFMG em 2022, 500 estudantes já foram impactados e tiveram suas vidas transformadas. Lá, ele passou por algumas mudanças nas diretrizes bases. “Ao invés de definir modalidades fixas, criamos um combo de atividades para serem trabalhadas ao longo do ano”, conta o professor Gibson Moreira, coordenador geral

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ESPORTES
POR SANKEY GABRIEL, LUCAS SAMUEL, IZA FARIA E ANA CAROLINA PARA ALESSANDRA, "O ESPORTE TEM UMA IMPORTÂNCIA MUITO GRANDE EM RELAÇÃO À DISCIPLINA". FOTO: SANKEY GABRIEL ATLETAS UNVIERSITÁRIOS VIVENCIAM O BENEFÍCIO DO ESPORTE. FOTO: SANKEY GABRIEL

do PST na UFMG, unidade de referência da implementação do projeto.

Por ser um projeto de iniciação à prática esportiva, ele se torna atrativo para a comunidade, já que não é necessária experiência para participar. “O PST é uma ótima oportunidade para quem quer praticar esporte mas tem receio porque acha que não é bom. Temos que lembrar que é uma iniciação, então é pra quem quer aprender”, comenta Gustavo Henrique Scarmigliat, estudante de Educação Física da UFMG e aluno do PST. Ele ainda afirma que, além do desenvolvimento físico, o convívio e a troca de experiências entre pessoas diferentes também são uns dos benefícios agregados pelo projeto. “O intuito era a prática es-

portiva, mas acabei aprendendo para vida pessoal e profissional”, complementa.

bosa, diretor da Diretoria de Qualidade de Vida do Estudante (DIVRE) comenta: “As modalida-

um profissional capacitado para orientá-los e acabavam treinando por conta própria”.

Claudio ainda afirma que haverá a contratação de um novo professor e estagiários da Educação Física para acompanhar os estudantes. Esportes que fizeram sucesso anteriormente em outros projetos da UFU também foram selecionados, como o futebol de campo e o rugby, que tiveram alta procura entre 2016 e 2020. “Quando oferecemos esses esportes a procura foi alta. Desde então, temos uma demanda crescente da comunidade para retornarmos com eles”, afirma Claudio. De acordo com o plano de trabalho apresentado pela UFU, a expectativa é de que pelo menos 70% das vagas sejam preenchidas. 

Quem torce pelo Cheerleading?

Treinador e atleta da modalidade discute sobre visibilidade na cidade e dificuldades enfrentadas

POR ANA THOMMEN, MARIANNE KAZUE E SUIANNE SOUZA

Reconhecido como esporte desde 2016 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o cheerleading tem ganhado cada vez mais espaço e visibilidade. Um exemplo é a participação da modalidade no “JUMs” (Jogos Universitários Mineiros). Neste ano, o evento teve o time da UFU como medalhista de ouro, resultado do incentivo ao esporte na cidade.

O esporte é marca na trajetória de muitos na região do Tri-

ângulo Mineiro. É o caso do Lucas Gabriel, que iniciou a sua carreira em 2012, pela Sexy Lions. Além de técnico das equipes Panthers (Humanas) e Furious (Educação física), atualmente é atleta da equipe profissional All Star de Uberlândia, a Bravo. Em entrevista ao Senso (in)comum, fala sobre a visibilidade da modalidade na cidade de Uberlândia e as dificuldades de treinar uma equipe próximo às competições.

Senso (in)comum: Como foi participar da transição da chegada do cheer no Brasil e a consolidação dele como esporte no país?

Lucas: O começo foi realmente o estereótipo de fazer apresentação para abertura de outras modalidades. Essa transição aconteceu aqui em Uberlândia, passando a ser um esporte reconhecido, com regras. Cada vez mais, a galera está lutando para ser reconhecido como esporte. Nessa próxima Olimpíada Universitária da UFU, o cheer já conta como modalidade. Além disso, já é um esporte cotado para ser uma modalidade olímpica.

Senso (in)comum: Há incentivo à modalidade em Uberlândia?

Lucas: Estamos em uma das universidades que mais apoiam esse esporte no Brasil desde que surgiram as primeiras equipes. A primeira competição que aconteceu foi uma organização totalmente dos atletas. Nela, o reitor viu a energia do esporte e determinou que o Cheers seria uma modalidade oficial da UFU. Em questão de incentivo, então, o Cheers, a Universidade está bem à frente de várias outras do Brasil.

Senso (in)comum: Os atletas recebem algum tipo de bolsa ou incentivo para competir?

Lucas: Como ainda não é uma modalidade olímpica, os atletas do Cheer não recebem bolsa. Para cobrir os gastos, geralmente, cada um paga uma mensalidade, além de arcarem com os custos de uniforme, pompom e placa. As equipes estão sempre tentando arrecadar dinheiro para tirar o menos possível do próprio bolso, fazendo eventos como festas para engajar a comunidade.

Senso (in)comum: Como é a relação e preparação das equipes para as competições? Como elas ajudam na visibilidade e difusão do esporte?

Lucas: Tentamos ir ao máximo de competições possíveis pela questão da visibilidade. Primeiro, porque a gente gosta de competir. Segundo, porque os times tentam se consagrar como os melhores do ginásio, os melhores do Brasil. Nas competições, podemos expandir mais ainda o esporte, o que é muito importante para atrair atletas, já que participando de competições fora de nossas cidades, trazemos reconhecimento para a região. 

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ESPORTES
EQUIPE DE CHEERLEADING DA ATLÉTICA HUMANAS DA UFU. FOTO: ANA THOMMEN PADRÃO, NO PERÍODO VESPERTINO. FOTO: IZADORA FARIA

A desumanização nas áreas urbanas de Uberlândia

Os prédios que cercam a UFU exibem a desigualdade da cidade

A cidade universitária de Uberlândia conta com muitos prédios e condomínios de alto padrão. O mercado imobiliário é uma das maiores fontes de renda para a economia da cidade. Entretanto, com a alta urbanização e elitização, vivem à margem da sociedade moradores de rua e pessoas carentes, morando em barracões ou casas em situação de insalubridade. Esses sujeitos nem sempre são vistos ou ouvidos pela sociedade, que os escondem atrás de grandes prédios ou embaixo de viadutos.

O foco desse ensaio é esse contraste entre barracões e prédios de luxo, ambos presentes no centro da cidade, coabitando. A segunda maior cidade de Minas Gerais não esconde a desigualdade social presente em suas ruas. 

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COMERCIAL EMERGE ENTRE BARRACÕES DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA MORADIA DA CLASSE MÉDIA DO PASSADO E DO PRESENTE DIVIDEM ESPAÇO
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PRÉDIO
"AQUI MORA FAMÍLIA", DIZ PICHAÇÃO DE TERRENO ABANDONADO
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