Crianças precisam brincar. Por que? É brincando, agindo no espaço físico e em interação com o outro que a criança aprende. Aprende a se locomover e se relacionar, a interpretar seu mundo e livrar-se de suas angústias. KÁTIA MELLO GENÚNCIO PSICÓLOGA CRP: 26302-05/RJ • Graduada em PsicologiaUniversidade Federal do Rio de Janeiro. UFRJ • Pós -Graduada em Neuropsicologia - UNIARA/SP • Especialização em Neuropsicologia- CEPSICHOSPITAL DAS CLÍNICAS- SP • Pós -Graduada em PsicomotricidadeFACULDADE UNYLEYA- RJ • Especialização em Psicomotricidade- ESPAÇO NÉCTAR- RJ • Pós-Graduada em Psicopedagogia. UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO- RJ • Graduada em Educação FísicaUNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO- UERJ
As brincadeiras no passado ocorriam nos quintais de casa ou nos espaços públicos das ruas ou vilas. Através delas as crianças experimentavam seus corpos e suas potencialidades em diferentes atividades: subiam em árvores, nadavam nos rios, jogavam bola, brincavam de amarelinha, bolas de gude, polícia e ladrão, rodas cantadas e versos, entre tantas outras. Assim, brincando, iam adquirindo competências motoras e mentais que as preparavam para o momento de entrada na escola. Ao brincar de forma prazerosa desenvolvia sua coordenação, equilíbrio, consciência corporal, ritmo e adquiria noções de lateralidade, tempo e espaço. Desenvolvia, desta forma, uma postura de atenção e prontidão adequadas à aprendizagem. Brincando entendia as regras sociais e tolerava melhor a frustração. Diferentemente da realidade acima descrita, nossa configuração social e familiar é bem diferente na atualidade. Os pais, trabalhando fora, estão mais ausentes. As casas viraram apartamentos, as crianças não brincam mais nas ruas, seus brinquedos e interesses mudaram. Mas as crianças ainda necessitam se movimentar, agir e interagir no espaço para compreenderem seu mundo e se desenvolverem enquanto crescem e amadurecem. Entretanto, o que assistimos são as crianças passando grande parte do seu
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Revista Saúde | Dezembro . 2018 | rsaude.com.br
tempo na frente da televisão, do celular ou do tablete, até mesmo quando se alimentam, indo para cama tarde, muitas vezes acompanhando o ritmo de seus próprios pais. Os celulares os distraem de suas necessidades afetivas, seus medos e angústias. E também estimulam seus cérebros no momento em que deveriam estar relaxando para dormir. Assim, o ritmo biológico e prontidão para atenção tão necessários ao bom desempenho do filho para a aula no dia seguinte estão comprometidos. Esses desajustes são percebidos por alterações no comportamento da criança, na alimentação, no sono, no humor e consequente aprendizagem escolar. Isto acaba por afetar sua autoestima e autoconfiança. Cedo são levados aos consultórios por apresentarem dificuldades de aprendizagem, dislexia, TDAH, ansiedade e depressão infantil. O que fazer? Modificar padrões e rotina doméstica é importantíssimo mas, acima de tudo, estimule seu filho a brincar e aproveite para brincar com ele. Se uma criança não está brincando possivelmente algo está errado com ela. Observe-a para ver o que pode estar acontecendo e, se for preciso, busque ajuda profissional. A intervenção precoce ainda é o modo mais eficaz de evitar problemas no futuro.