Revista Saúde Foz do Iguaçu/PR - Edição 2 - 06/2011

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CIRURGIA RADIOGUIADA

Parceria de sucesso entre cirurgia e medicina nuclear A cirurgia radioguiada é uma recente contribuição da Medicina Nuclear na conduta de pacientes cirúrgicos. Disponível em nossa cidade há apenas dois anos, representa uma evolução técnica formidável, por abordar de forma mais conservadora e precisa os órgãos e estruturas. Já bastante difundida mundialmente em cirurgias de câncer de mama e melanoma, a cirurgia radioguiada apresenta inúmeras perspectivas, tanto no diagnóstico, quanto no tratamento de diversos tipos de tumores sólidos. O procedimento radioguiado é realizado a partir da interação entre as especialidades de Cirurgia e Medicina Nuclear. De maneira geral, a técnica consiste em injetar pequena quantidade de material radioativo no paciente. A concentração deste material em grupos celulares específicos (tumores, nódulos e calcificações suspeitas de câncer) é mapeada por cintilografia, antes da cirúrgica. Durante a cirurgia, essas estruturas marcadas com radiação são retiradas, com auxílio de detector portátil (gama-probe). A técnica radioguiada localiza exatamente as lesões suspeitas, poupando o paciente de diversas complicações pós-operatórias. Quanto às suas aplicações, pode-se dividir a cirurgia radioguiada em basicamente dois tipos: 1- identificação de linfonodo sentinela em tumores que apresentam metástases linfáticas; 2- identificação precisa de estruturas de difícil delimitação visual, ou pela palpação, ou ainda, de tecidos ectópicos. Linfonodo Sentinela Os vasos linfáticos drenam a linfa dos órgãos, direcionando-a para os linfonodos ou gânglios linfáticos. Os linfonodos têm a função de defesa, por filtrar agentes estranhos e células cancerosas presentes na linfa. Infelizmente, o sistema linfático não consegue eliminar ou reter todas as células cancerosas, podendo servir como via de disseminação do câncer. O linfonodo sentinela é considerado o primeiro linfonodo a drenar o sítio do tumor. Portanto, caso o linfonodo sentinela não apresente infiltração por células cancerosas, a probabilidade de o restante da cadeia linfática estar comprometida é quase nula. Nesse caso, não há necessidade de realizar esvaziamento ganglionar radical, minimizando as complicações inerentes à maior complexidade do procedimento. Na situação inversa, caso o primeiro linfonodo (sentinela) esteja infiltrado por células cancerosas, a probabilidade de o restante da cadeia linfática estar acometida é significativa, devendo-se, então, proceder a uma cirurgia mais agressiva. A biópsia do linfonodo sentinela é largamente difundida em casos de câncer de mama e melanoma cutâneo. Há fortes evidências da aplicação segura da técnica em tumores de cabeça e pescoço, câncer ginecológico (vulva, colo uterino e endométrio) e tumores urológicos.

Dr. Cristiano Ferrari Siqueira CRM: 25.281 - Médico Nuclear • Especialista em Medicina Nuclear pelo Colégio Brasileiro de Radiologia • Título de Supervisor de Radioproteção pela Comissão Nacional de Energia Nuclear • Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Minas Gerais • Responsável Técnico pelo Serviço de Medicina Nuclear da Vita-Imagem

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Sonda detectora de radiação

Equipamento para realização de cintilografia

Detector de radiação portátil (gama-probe).

Localização de linfonodo sentinela em paciente com melanoma

Lesões ocultas de mama suspeitas de câncer O procedimento chamado de ROLL (Radioguided Occult Lesion Localization) integra quatro especialidades médicas – Cirurgia, Medicina Nuclear, Radiologia e Patologia. O radiologista detecta o tumor na mamografia ou ecografia. O médico nuclear injeta um líquido radioativo para marcar a lesão suspeita. O cirurgião, utilizando o detector de radiação, localiza a lesão previamente demarcada. A lesão ressecada segue para análise do patologista, para definir o diagnóstico. A localização de lesões não-palpáveis (ROLL) representa atualmente um avanço da cirurgia conservadora. As indicações para técnica são crescentes, principalmente nas lesões de difícil localização e passíveis de tratamento cirúrgico (adenoma de paratireoides, nódulos de tireoide, tumores neuroendócrinos etc.). Conclusões Dessa forma, entende-se que a cirurgia radioguiada constitui um novo conceito em cirurgia. Esta técnica possibilita ao cirurgião uma abordagem, sob medida e elegante, dos órgãos ou estruturas envolvidos. A difusão e a aplicação criteriosa desta técnica representam uma revolução na abordagem do paciente cirúrgico, com redução significativa das complicações pós-operátorias (edema, dor, infecção, perda de movimentos etc.).


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