Roteiro 279

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PÃO&VINHO

ALEXANDRE FRANCO

Portugas chiques Portugal, em minha opinião, historicamente sempre teve a vantagem de produzir vinhos com uma média de qualidade bastante boa, de modo que mesmo os vinhos mais simples costumavam ser corretos e bem se prestavam ao consumo do dia a dia. Por outro lado, eram muito raros e dignos de nota os vinhos de alta gama que por lá se produziam. Essa realidade, porém, vem se modificando concretamente neste novo milênio no que tange à produção de vinhos de alta qualidade e grande elegância. Aliás, diga-se, sem perder aquela velha e boa condição de não apresentar vinhos mal feitos. Com isso em vista, decidi trazer para esta coluna a crítica de quatro vinhos portugueses de grande qualidade, dois da “velha guarda” e dois da “nova guarda”. Quando se fala de vinhos portugueses de grande qualidade e elegância não há como fugir da Casa Ferreirinha e seu principal rótulo, o eterno Barca Velha, e seu primeiro reserva, o Casa Ferreirinha Reserva Especial. Interessante notar que esse reserva especial é, na verdade, o próprio Barca Velha, assim rotulado nas safras em que o enólogo entende que o vinho não está no nível ideal, suficiente para receber o rótulo superior da vinícola. Iniciemos, pois, com o Barca Velha 2004, vinho que degustei juntamente com uma seleção de grandes rótulos europeus e que empatou em primeiro lugar com uma garrafa de Veja Sicília único. O vinho ainda estava completamente vivo. De cor rubi brilhante, trouxe aromas de frutas maduras vermelhas e negras, com notas de especiarias e leve tostado da madeira corretamente utilizada, finalizando com toque de violetas. No palato, com álcool agradável de 13,5%, é sedoso, aveludado, macio, com ótima acidez e taninos bem estruturados, mas ao mesmo tempo bem domados, com final longo. Grande vinho, como sempre. O Reserva Especial 2007 estava excelente. Deve ter faltado pouco para ser rotulado como Barca Velha. Apresentou-se com uma cor rubi intensa e francos

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aromas de frutas negras, especialmente ameixas, além de especiarias e notas de cedro e tabaco. No palato, é bem estruturado, elegante, com taninos poderosos e equilibrados com ótima acidez. Um excelente vinho com preço bem mais fácil do que o de seu irmão mais velho. Grande opção de vinho de alta gama. Das novas estrelas, e ainda no norte de Portugal, no Douro, um dos nomes mais badalados do momento é o vinho Abandonado, neste caso da safra de 2013. O interessante nome se deve ao fato de ser produzido a partir de um vinhedo no alto das encostas da propriedade da família Alves de Souza, com vinhas misturadas de diversas castas autóctones, que por muito ficou esquecido para só recentemente voltar a ser explorado na produção desse ótimo vinho. Apresentou-se em cor rubi profunda, com aromas de frutas negras maduras, algum café e chocolate e um agradável toque de alcatrão. No palato, tem grande estrutura e taninos bem estruturados, com álcool de 14,5% bem equilibrados por uma acidez correta. Um ótimo vinho, mas que pede mais tempo em garrafa para chegar ao seu melhor. Por fim, e para mim a melhor descoberta que fiz, um vinho do Alentejo, o Pêra Velha Grande Reserva 2012, produzido pela Pêra Grave Sociedade Agrícola em terras vizinhas àquelas em que a Fundação Eugênio de Almeida produz seu famoso Pêra Manca. Aliás, a vinícola travou disputa judicial com a Fundação Eugênio de Almeida pelo uso do nome Pêra Manca. Derrotada, adotou em definitivo o nome Pêra Velha. Esse grande reserva é, obviamente, seu top, e muito me surpreendeu pela extrema elegância e equilíbrio que apresentou. Seus 14,5% de álcool nem são percebidos, tamanho o equilíbrio com os ótimos taninos e a corretíssima acidez do vinho. De cor rubi escura, traz muita fruta madura, especialmente ameixas, além de toques de groselha. Na boca, é muito elegante, complexo, sedoso e acima de tudo gostoso. Já está excelente e vai melhorar ainda mais.

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