Roteiro 294

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Ano XVIII โ ข nยบ 294 Outubro de 2019

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Quando o teatro encontra você, sua história ganha emoção Central de Relacionamento BB SAC Deficiente Auditivo ou de Fala Ouvidoria BB ou acesse 4004 0001 ou 0800 729 0001 0800 729 0722 0800 729 0088 0800 729 5678 bb.com.br

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EMPOUCASPALAVRAS Sérgio Amaral

Quando era criança, o escritor norte-americano Stephen King e seu irmão encontraram no sótão da casa uma caixa cheia de livros pertencentes ao pai, um marinheiro que, àquela altura, já tinha abandonado a família. O título de um deles, A tumba, de H. P. Lovecraft, chamou a atenção de King: “Isso é bem assustador, mas é exatamente isso o que eu quero fazer”. E realmente fez, como revelou recentemente ao também escritor George Martin. Autor de best-sellers de terror, suspense e fantasia, o escritor de 72 anos teve 50 de seus livros transportados para o cinema, apenas três a menos do que a marca obtida por Shakespeare, de 53 livros adaptados para a sétima arte. Ótima oportunidade, portanto, de conferirmos a mostra Stephen King – O medo é seu melhor companheiro, em cartaz até 10 de novembro no CCBB. Na programação de 41 filmes está O iluminado, de Stanley Kubrick, terror psicológico de 1981 que tem como protagonista o grande Jack Nicholson, escolhido para ilustrar a capa desta edição. Se filmes sobrenaturais não são muito a sua praia, o convite, então, é para ficar ligado na nossa programação musical, com destaque para o tradicionalíssimo Porão do Rock, desta vez com pegada eclética, começando entre o pop e o classic rock, com Mariana Camelo, Jambalaia, Surf Sessions e a carioca Canto Cego (página 20). Na agenda de Heitor Menezes, o cardápio também é variado, com shows de Milton Nascimento, em seu tributo ao Clube da Esquina, e com Led Zeppelin in Concert, uma das atrações vindas diretamente do Rock in Rio (página 18). Shows mais intimistas, contudo, têm palco garantido no Feitiço Mineiro, que este mês está comemorando três décadas de perfeita harmonia entre a boa música brasileira e a boa gastronomia mineira. Fundado em 1989 pelo saudoso Jorge Ferreira, o Feitiço, como é carinhosamente chamado, está agora sob comando do empresário Marcos Bezerra, que garante manter a casa como parte da história cultural e gastronômica de Brasília (página 4). Em nossa seção Água na boca, apresentamos duas casas com inspiração nas gastronomias da França e da Índia. A primeira, no Sudoeste, chama-se Merci Bakehouse e tem no comando uma jovem de 28 anos que estudou na escola francesa Le Cordon Bleu e estagiou no luxuoso Hotel Ritz de Paris. Ainda pequena, a nova boulangerie está começando a cativar a vizinhança (página 6). A segunda, batizada de Mumbai, está localizada em Águas Claras e tem cozinha inspirada no oeste indiano. A proprietária, Daniella Kanno, convidou o chef indiano Padam Singh para criar cardápio típico, mas com pratos que não assustem muito o paladar brasileiro, pouco ligado em comida muito apimentada (página 7). Boa leitura e até novembro. Maria Teresa Fernandes

4 águanaboca O cartunista Jaguar continua dando boas-vindas aos frequentadores do velho Feitiço Mineiro, que completa 30 anos sob nova direção, mas mantém a pegada original.

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SQSW 104 – Bloco E – 501 – Setor Sudoeste – Brasília-DF – CEP 70.670-405 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, com foto de divulgação | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Evelin Campos, Heitor Menezes, Junio Silva, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle, Walquene Sousa | Fotografia Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral | Para anunciar 98275.0990 Impressão Foxy Editora Gráfica | Tiragem: 20.000 exemplares.

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ÁGUANABOCA

Trinta anos de Feitiço POR VICENTE SÁ FOTOS SÉRGIO AMARAL

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esde 1989, quando foi criado por Jorge Ferreira, o Feitiço Mineiro é tema de conversas carinhosas na Capital Federal. No começo, pela riqueza de seu self-serviçe de comida tradicional mineira e pela feijoada dos finais de semana. Logo em seguida, como casa de shows que trazia a Brasília músicos de renome nacional e apresentava ao ávido público brasiliense as estrelas da canção candanga. Essa adorável e árdua tarefa de alimentar o corpo com a boa culinária e o espírito com a boa arte vem sendo executada com maestria pela equipe do Feitiço, modo carinhoso como os frequentadores se referem à casa. Já se vão 30 anos de shows quase diários, pois somente aos domingos a casa fecha no final da tarde e não há apresentação artística. O restaurante, que se assemelha, de longe, a uma casa do interior de Minas, com suas janelas pintadas de azul, é um abrigo tanto para os mineiros saudosos de sua culiná-

ria quanto para os apreciadores de uma alimentação simples e brasileira. Pelo pequeno palco da casa já passaram Baden Powell, Lucinha Lins, Guinga, Lucina, Paulinho Tapajós, Mônica Salmaso, João Bosco e, é claro, os mineiros do Clube da Esquina: Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Lô Borges, Fernando Brant, Tavinho Moura e Wagner Tiso. Só faltou, mesmo, Milton Nascimento. Os músicos brasilienses também têm no Feitiço um porto seguro para suas apresentações. E nos últimos dez anos, com a chegada do produtor Gerson Alvim, a casa está de braços ainda mais abertos para eles. Gerson foi um dos criadores e diretor artístico da famosa casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro. Com ele se apresentaram no Feitiço nomes importantes da música do Distrito Federal, como Flávio Faria, Aloísio Brandão, Eduardo Rangel, Clara Telles, Sthel Nogueira, Joana Duah, Renato Matos e Paulo André, entre muitos outros. “É nossa política valorizar o artista da cidade, dar todas as condições para que

ele mostre seu trabalho e siga em frente. Para isso existem as casas de espetáculos como o Feitiço e produtores como eu”, afirma Gerson Alvim, do alto de seus mais de 50 anos de produção cultural.


A casa ganhou recentemente um novo comando, que é quase uma volta. Marcos Bezerra, afinal, trabalhou com Jorge Ferreira no Feitiço e em outras casas de sua rede. De lá pra cá, passou por vários restaurantes, dentro e fora do Distrito Federal, tornou-se proprietário e chefia as cozinhas das duas unidades do italiano Pecorino. Sua mulher, Selma, também foi colaboradora do Feitiço por vários anos. Ou seja, de Feitiço eles entendem. Marcos avisa que pretende manter as características do restaurante e inserir novos serviços e produtos no vasto leque de opções já existente, tanto na área cultural quanto na culinária: “O Feitiço já faz parte da história cultural e gastronômica de Brasília e nós não podemos mudar isso. O que vamos fazer é melhorar e acrescer, trazer novidades que casem com o projeto da casa”, explica. As comemorações dos 30 anos começaram com um show que uniu o Quinteto Violado e Clodo Ferreira nos dias 4 e 5 de outubro. A procura por ingressos foi tanta que obrigou a casa a utilizar o espaço externo e colocar um telão para que os fãs do músico piauiense e do grupo pernambucano pudessem assistir, se emocionar e cantar junto numa bela festa de aniversário.A celebração continua até o final do mês com o projeto Música e Poesia Para Todos, entre outras atrações.

Gerson Alvim é o responsável pela programação musical do Feitiço, agora sob o comando de Marcos Bezerra.

Feitiço Mineiro

306 Norte, Bloco B (3340.8868). De 2ª a sábado das 12 às 2h; domingo das 12 às 17h. Programação em www.feiticomineiro.com.br.

Jorge Ferreira Mineiro de Cruzília, Jorjão, como era mais conhecido, foi homem de muitos talentos: sociólogo, professor, poeta e sindicalista, começou sua vida de empreendedor justamente com o Feitiço Mineiro, um projeto antigo com o qual ele buscava criar um lugar onde coubesse tudo que esperava encontrar em um restaurante: culinária brasileira simples, ambiente com decoração criativa, ótimo atendimento. E que também comportasse literatura, poesia e música. Durante 25 anos, Jorjão chegou a ter participação em 12 bares e restaurantes na cidade, sendo sempre o Feitiço o seu filho mais querido. E o Feitiço virou uma referência gastronômica e cultural de Brasília, com lançamentos de livros, shows e performances, tornando-se um ponto de encontro dos amantes da boa mesa e da boa música. De onde estiver, Jorge Ferreira pode sorrir tranquilo com a consciência de que seu Feitiço Mineiro continua vivo e mantendo as características e qualidades que foram colocadas quando da sua criação.

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ÁGUANABOCA

Requinte francês POR TERESA MELLO

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esde 9 de agosto a Primeira Avenida do Sudoeste ganhou discretos ares parisienses, com a inauguração da Merci Bakehouse, padaria mimosa instalada nos fundos do Bloco A da quadra 102. As paredes são ornadas com boiseries (tipo de moldura), as oito mesas lembram a Torre Eiffel, a iluminação é confortavelmente amarela e os quadros retratam cenas francesas, como o Rio Sena, o Jardim de Versalhes e a Rua do Croissant. A ambientação, na

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qual você pode ouvir uma bossa nova cantada em francês, faz parte da trajetória da brasiliense Cássia Prado, 28 anos. Em 2017, ela estudou panificação na Le Cordon Bleu e fez estágio no luxuoso Hotel Ritz, na praça Vendôme. Isso, depois de se formar em Relações Internacionais no UniCEUB e fazer uma pósgradução em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas. A jovem acreditava ter a linha do destino traçada. Filha de funcionários públicos, pensava em honrar a carreira dos pais até ser confrontada com a realidade

de um estágio em diplomacia. Foi o bastante para Cássia promover a própria guinada. Abandonou o estágio, refugiou a alma no colo da avó paterna Hilda, sentiu o perfume dos pães que a matriarca mineira ainda faz em Brasília. Com o apoio da mãe, Germana, embarcou para Paris em dezembro de 2016. Um ano depois, voltou com diploma, experiências, brincos de pérolas e coque nos cabelos. Viveu 2018 dedicada ao projeto da loja. O pai, falecido, abençoou. “Pensei em batizar de Merci porque sou grata aos meus professores da Le Cordon Bleu, em especial ao Olivier Boudot, e aos chefs do Ritz, Stephane Olivier, na panificação, e François Perret, na confeitaria”, conta. E poderia até ser Merci Beaucoup, se incluirmos a participação das mulheres da família. Germana ajudou na infraestrutura, no maquinário de última geração para a cozinha industrial e climatizada. Vó Hilda, de 81 anos, cedeu a funcionária Gisele Soares para trabalhar ao lado da neta, que começa a jornada às 7h30. “No Ritz, eu tinha de chegar às 4 horas”, lembra. No Sudoeste, não é necessário. A máquina conhecida como padeiro noturno é programada na véspera para fermentar e deixar os pães no ponto para serem assados logo de manhã. Os ingredientes da padaria são tratados com o mesmo requinte: a farinha or-


gânica francesa, a 100% integral da Fazenda Vargem, em Vianópolis (GO), a manteiga extra-seca adquirida em importadora paulista. “Nossos pães são todos feitos com levain, o fermento natural”, diz. Há o de aveia e mel, o brioche, o de grãos (350g a R$ 14,70, com linhaça dourada, linhaça marrom, semente de girassol e gergelim): “O que faz mais sucesso na loja é o croissant, o tradicional e o de Nutella”. Cássia informa que esse pãozinho na França pesa, geralmente, 70g. Ela prefere apresentar um modelo mais robusto, com 90g (a R$ 7,50), em produção que leva de dois a três dias. O pequeno menu foi orquestrado à perfeição para o público tomar um café, fazer um lanche e ainda levar algo pra casa. Há combos, como espresso, fatia de brioche ou de pão de aveia e mel com geleia, manteiga ou requeijão, a R$ 10,40; cinnamon roll (rosquinha de canela) e cappuccino ou suco a R$ 11,50; croissant tradicional e espresso a R$ 11,90. A confeitaria exibe tarteletes (de frutas vermelhas, de limão siciliano e de chocolate, a R$ 14), muffins, macarons, madeleines. Os sanduíches vêm com queijo Brie e presunto Parma (R$ 18,50), além dos clássicos Croque Monsieur (brioche, queijo gruyère, presunto cozido, molho bechamel) e Croque Madame (idem, mas coberto com ovo frito). “O nosso chocolate quente cremoso é feito com 50% do produto belga”, avisa Cássia, que planeja fazer panetones especiais para o fim do ano. Enquanto isso, na cozinha, ela vai completando a lista de novas atrações que aguardam a vez de passar por testes e subir para as prateleiras: baguete, mil-folhas, focaccia, waffle, tuiles ...

Prato do chef

Pedacinho da Índia C

Merci Bakehouse Pães Artesanais

Fotos: Divulgação

102 Sudoeste, Bloco A (3264.4100). De 3ª a sábado, das 9 às 19h.

erca de 13,8 mil quilômetros e dois oceanos separam Águas Claras de Mumbai. Contudo, há um ano, a distância entre a cidade brasileira e aquela que sustenta o título de maior metrópole da Índia foi encurtada por um pequeno e aconchegante espaço na Rua 25 Sul: o Mumbai Restaurante. O ambiente com 50m² e capacidade para 25 pessoas pode até não remeter à grandeza da capital de Maharashtran, que reúne milhões de habitantes. Mas, se existem contrastes, há também semelhanças. Inaugurado em 23 de outubro de 2018, o estabelecimento traz o colorido das paisagens e templos de Mumbai em uma surpreendente harmonia entre paredes pintadas de rosa e plantas tropicais e elefantes impressos nos papéis de parede. Já os sofás alaranjados e as cadeiras vermelhas posicionadas sob luminárias rústicas dão um toque alegre e intimista. A cozinha, por sua vez, é inspirada no oeste indiano, onde fica a cidade. Para completar, todas as especiarias usadas no preparo dos pratos são trazidas direto da Índia.

A saudade do sabor de casa foi o que deu origem ao restaurante. A proprietária, a brasileira Daniella Kanno, morou por alguns anos em Dubai e casou-se com o paquistanês Tahir Saeed, hoje sócio e ex-marido. Durante as visitas ao Brasil, Tahir sentia falta da culinária do Paquistão, que é semelhante à indiana. Foi então que Daniella abraçou a ideia de oferecer uma comida diferente e ter um negócio. A sugestão inicial para o noFotos: Divulgação

POR EVELIN CAMPOS

Curry com alecrim

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ÁGUANABOCA em drinque alcoólico. Além de saborosa, a comida indiana é conhecida por fazer bem para a saúde. O curry, por exemplo, previne câncer e crises asmáticas, enquanto o gengibre colabora para a circulação e o iogurte regula o intestino. Recentemente, a marca lançou o Prato do Chef, com entrada, principal e sobremesa a R$ 69,90. Além disso, há pratos individuais e para dois, opções vegetarianas e veganas e sobremesas que surpreendem até os clientes mais céticos: o refrescante e artesanal sorvete de alecrim com curry e a tradicional Gulab Jamun (macia bolinha de leite ninho assada em cama de caramelo de água de rosas). “Já conquistamos uma cliente que veio com amigos e se recusou a experimentar os pratos, e um outro que não gosta de doce e se apaixonou por nossas sobremesas”, relembra uma feliz Daniella. Para celebrar o primeiro aniversário, o Mumbai Restaurante promove, em 23 de outubro (quarta-feira), às 20h30, um jantar especial com show de Bharatanatyam, uma dança clássica da Índia, e bufê com entradas, saladas, pratos e sobremesas típicas. Valor: R$ 105 com bebidas alcoólicas e R$ 80 sem bebidas alcoólicas.

Samosas

Para o futuro, a expectativa de Daniella é conquistar ainda mais o público de Águas Claras e região, já que muitos moradores e vizinhos ainda não conhecem o restaurante. E com novidades, pois o menu será atualizado em breve, com a vinda de um novo chef direto da Índia. “Acredito muito no potencial do Mumbai. Nós servimos algo diferente, uma verdadeira experiência gastronômica. O brasiliense não precisa ir à Índia para saborear uma comida indiana de qualidade, basta nos fazer uma visita”, convida. Mumbai Restaurante

Rua 25 Sul, Lote 30, Ed. Park Style, Bloco A, Águas Claras (3970.2867). De 3ª a sábado, das 12 às 14h30 e das 18 às 23h; domingos e feriados, das 12 às 16h30. Fotos Divulgação

me era Naan, em referência ao famoso pão indiano. Mumbai veio dos sonhos da empresária: “Dormi pensando no assunto e acordei com a ideia. Eu amo esse nome”. Mas a originalidade não parou aí. Daniella convidou para a cozinha o chef indiano Padam Singh, que veio do Japão. Assim, as influências do “modo japonês” de apreciar a comida indiana tornaram o cardápio ideal ao paladar do brasiliense, que, como os nipônicos, não são muito fãs de pimenta. “A comida indiana assusta muito. Por isso, nosso chef assumiu essa pegada de não colocar pimenta. Sempre consultamos o cliente antes, para saber se ele deseja pimenta e em qual quantidade. Recebemos mães que dão pão e massala a bebês bem pequenos, sem problema algum”, conta a proprietária. Entre os destaques do menu estão os currys de frango e de camarão, Tandoori Chicken, Camarão Massala e Palak Camarão. O principal acompanhamento é o pão Naan, que se diferencia pelo preparo na própria casa, em uma máquina trazida da Índia. Para beber, a dica é o Lassi, suco indiano feito à base de iogurte e fruta, que também pode ser transformado

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ÁGUANABOCA

Rodízio a preços imbatíveis POR LÚCIA LEÃO FOTOS SÉRGIO AMARAL

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oi quase num golpe de sorte que a churrascaria Fogo Campeiro chegou a Brasília, onde, em pouco mais de três meses de funcionamento às margens da movimentada EPNB, já é referência como opção de boa alimentação de uma cidade pulsante que se expande fora dos Eixos. De segunda a segunda, os espetos percorrem o salão de 360 lugares – quase sempre lotados – na melhor tradição gaúcha. Ninguém diz que é a filial de um grupo fixado no Nordeste, onde tem quatro casas em Fortaleza, Teresina e Juazeiro e que, por necessidade de se expandir, chegou até aqui, como poderia ter ido para Goiânia ou para Manaus. “Os proprietários estavam prospectando o mercado para abrir uma filial no Norte ou no Centro-Oeste quando chegou uma pessoa procurando trabalho, em Fortaleza. Contou que vinha de uma churrascaria que funcionava aqui onde estamos e que o dono queria vender. Passou o contato, os sócios ligaram e coincidiu de ele estar justamente em Fortaleza. Fecharam o negócio praticamente no mesmo dia” – relata o gerente Renato Loureiro, que está na rede Fogo Campeiro desde sua criação, há cinco anos, e res-

ponde hoje pela unidade de Brasília. O grupo é nordestino, sim, mas o donos são gaúchos. Luiz Vargas, Marcos Meyer e Luiz Ongaratto partiram de diferentes pontos do Rio Grande do Sul para cumprir suas trajetórias, buscando a sorte em São Paulo e, de lá, seguindo para o Nordeste. Acabaram se encontrando, os três como empregados, na churrascaria Sal e Brasa, na qual chegaram à condição de sócios e posteriormente saíram para montar a Fogo Campeiro.

Distante do Plano Piloto e de sua clientela mais tradicionalmente ligada às atividades administrativas e políticas da capital, a Fogo Campeiro está num ponto de conexão entre o Núcleo Bandeirantes, o Riacho Fundo e Águas Claras, onde a expansão das atividades econômicas e de núcleos habitacionais não era correspondida por uma boa oferta de restaurantes. É uma casa ampla e confortável, decorada com bom gosto, mas sem ostentação, com o indefectível piano fa-


zendo o som ambiente, manobrista, parquinho para as crianças e, principalmente, um batalhão de funcionários bem treinados na arte de servir e manipular espetos. São 55 trabalhadores, a maioria lotada no salão. “Aqui no nosso entorno existe uma enorme quantidade de negócios, de pequenas e médias empresas, de empreendedores e funcionários que simplesmente não tinham onde fazer uma boa refeição, receber clientes ou se reunir em um ambiente mais descontraído. Eles são o grosso do nosso público durante a semana. Nos fins de semana são majoritariamente as famílias que moram na região. Mas já começamos a atender uma clientela que vem de longe, atraída especialmente pelo nosso bom custo-benefício”, conta Renato. De fato, os preços da Fogo Campeiro são bem atraentes. O rodizio de carnes nobres e alguns cortes especiais de black angus – como o saborosíssimo shoulder e a costela premium – custa R$ 39,90 de segunda a quinta-feira. Sexta-feira e sábado o preço é de R$ 44,90 tanto no almoço quanto no jantar e aos domingos

R$ 54,90 no almoço e R$ 39,90 no jantar. O valor inclui bufê de frios e saladas com sushis e sashimis e um balcão de pratos quentes. Tudo no padrão das boas casas do ramo, que já existem até em quantidade espalhadas por Brasília. Marcos Meyer ensina o velho pulo do gato: “A proposta da rede Fogo Campeiro é servir o legítimo churrasco gaúcho a preço imbatível. Se oferecemos boas carnes, bons produtos e um serviço de qualidade a um preço acessível, vamos ter a casa cheia. Com a casa cheia, ganhamos em

volume, conseguimos boa negociação com os fornecedores e viabilizamos o negócio. É assim, desde sempre, nas nossas casas no Nordeste, e assim é agora em Brasília”. Enfim, uma carne bem assada, bom atendimento e bom preço. Nada de novo, mas tudo de bom! Churrascaria Fogo Campeiro

ADE s/n, Lote 48, Águas Claras (3399. 2800) Domingos e feriados e de 2ª a 5ª feira, das 11h30 às 15h e das 18h30 às 23h30; 6ª e sábado, das 11h30 às 23h30.

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PICADINHO

TERESA MELLO

picadinho.roteiro@gmail.com

Delivery de sorvetes muito especiais Rômulo Juraci

Ela já faz testes com paletas mais frutadas para lançar no verão, como manga e frutas vermelhas. A chef glacier brasiliense Camila Amaral, 31 anos, sócia-proprietária da La Bamba Sorvetes Especiais, é craque na profissão e muito requisitada a criar sabores sob encomenda para restaurantes da cidade. É o caso do sorvete de parmesão e o de tomate, para o Olivae (405 Sul), por exemplo, e o de cupuaçu à base de água para o Café 365º (Noroeste). Formada em Direito, ela trocou a carreira jurídica pelo curso de um ano na Escola Sorvete, em São Paulo, do mestre sorveteiro Francisco Sant’Anna, e não para mais de pesquisar: “Acho que já criei uns 80 sabores”, calcula Camila, que fundou a fábrica em 2015 e, hoje, produz 300 litros por hora de sorvete e três mil picolés/hora. São 24 tipos de paletas recheadas e picolés, além dos deliciosos sorvetes da linha Artesanal +, entre eles os de frutas vermelhas com creme de leite, caramelo com biscoitos amanteigados, chocolate suíço trufado e leite e cookies. Os potes de 500ml têm preço médio de R$ 22 e são encontrados em 250 pontos de venda (DF, Goiás e Bahia). Em novembro, os produtos poderão ser pedidos pelo aplicativo iFood.

Carambola e alecrim Divulgação

Patas de caranguejo, vieiras, polvo, anchova negra e 25 tipos de saquê fazem parte do cardápio do Kawa, japonês que completou um ano em agosto na 213 Sul. Para marcar a data e arejar o menu, a casa trouxe o chef e consultor Carlos Watanabe, do paulistano Sushi Kiyo. De terça a domingo, os clientes podem se deliciar com um festival de pratos, que inclui carpaccio de polvo com tempero cítrico (R$ 48), cogumelos shiitake puxados na wok e finalizados na chapa (R$ 33), camarões empanados (seis unidades a R$ 47) e trio de peixes (salmão, atum e peixe branco, a R$ 62). Vale provar o sashimi de patas de caranguejo gigante (king crab, a R$ 86) e, entre as robatas (espetinhos de legumes ou carnes grelhadas), as de picanha, filé mignon e salmão. O risoto de lagosta sai a R$ 58 e o arroz com legumes pode vir com frango, pernil ou carne de boi, finalizados na wok com óleo de gergelim torrado. A My Cake Factory criou algumas sobremesas para a casa, como a Tamago: doce de coco com esfera de maracujá.

Carnes e baladinhas

Gui Teixeira

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A pista de skate profissional do LayBack Park, às margens do Lago Paranoá, é rodeada por uma praça de alimentação na qual são servidos petiscos e bebidinhas. Com cardápio de saladas e omeletes, a Casa Mandala, inaugurada em 11 de outubro, é a mais nova integrante do complexo. O que comprova que a paisagem e o ambiente praiano com deques de madeira são um convite a curtir um coquetel ao pôr do sol. Ou quem sabe uma pizza com vinho, um sanduíche com cerveja, um peixe empanado com fritas? Há dez torneiras de cervejas artesanais, e alguns drinques sugeridos são o Rosemary GT (gim, tônica, kiwi, carambola e alecrim, a R$ 25), a Michelada (suco de tomate temperado, cerveja LayBack e limão (R$ 25), o Blood and Sand (uísque, licor de cereja, vermute e suco de laranja, a R$ 30) e o Black Russian (vodca, licor de café e cereja, a R$ 20). O LayBack Park (SHTN, Trecho 1, ao lado do Lake Side) abre de terça a domingo, a partir das 11h.

O corte de carne com osso longo de 30cm conhecido como tomahawk deu nome à casa inaugurada em 4 de outubro em Águas Claras (Rua das Figueiras). A Hawk Steak Bar & Lounge tem o chef Fábio Marques, de 34 anos, no comando das parrillas: “A proposta é trazer a essência do churrasco para a balada”, resume. No cardápio, a carne angus confere qualidade ao T-bone, ao prime rib (mais macio), ao baby beef (magro, sem gordura), ao assado de tira (costelas). A atração, o Tomahawk, chega à mesa com 1,3kg e serve até quatro pessoas. Custa R$ 247 e inclui acompanhamentos. Há sanduíches, pratos para crianças, shakes clássicos e alcoólicos. O salão para 100 pessoas transmite jogos nos cinco telões de TV. “O lounge é no mezanino e vamos ter baladinhas de quinta a sábado”, antecipa o consultor de imagem Alexandre Queiroz, de 20 anos. Os drinques do mixologista Rinaldo Honorato celebram datas especiais. “Até o fim de outubro, temos a Bruxa, uma bebida que vem à mesa literalmente pegando foto”, conta Alexandre.

Fernando Pires

Óleo de gergelim torrado


Na beira do lago tem uma oca

Limonadas coloridas como ipês

Divulgação

Com cinco pontos no Distrito Federal, a brasiliense Fast Nature estimula a consciência alimentar na linha fast food e oferece opções de crepes, sucos e açaí. A novidade da temporada são as três limonadas que prestam homenagem aos ipês da capital. Ideal para o calor de outubro, a bebida refrescante é vendida em copos de 400ml nas versões limão, cúrcuma e maçã peruana, limão, coco e gengibre e limão, beterraba e amora. Custam R$ 9,90. Para acompanhar, há sanduíches de atum (R$ 16,50), de peito de peru e de filé de frango; crepes de rúcula com tomate-seco e ricota, de frango com Catupiry e tomate (R$ 12) e de chocolate com morango. O açaí vem nos tamanhos P (200ml a R$ 8), M (300ml a R$ 12,90) e G (500ml a R$ 17,90). As lojas ficam na 405 Sul, 313 Norte, Park Mall e Av. Jequitibá (Águas Claras) e Serra Shopping (Sobradinho). Funcionam das 12 às 22h.

Churrasco no shopping Chega a Brasília no fim do mês a primeira Mania de Churrasco, empresa nascida no shopping Ibirapuera, na capital paulista, em 2001, e replicada em 73 unidades em São Paulo, Minas, Rio, Paraná, Goiás e Santa Catarina. As características da franquia são: carnes de primeira, preços camaradas e lojas em shopping centers. No Boulevard Shopping (fim da W3 Norte), o espaço de 385 m2 vai acomodar 154 pessoas. Cortes selecionados integram o cardápio: picanha, bife ancho e chorizo, por exemplo, temperados apenas com sal grosso e preparados em fogo forte. Há acompanhamentos, como arroz, anéis de cebola e batata rústica, e a linha Churrasco Burger apresenta seis tipos de hambúrgueres com 150g de corte de gado Aberdeen Angus, de fornecedores do Brasil, da Argentina e do Uruguai. A franquia foi premiada, em 2017 e em 2018, com o Selo de Excelência em Franchising, pela Associação Brasileira de Franchising. “Esperamos fechar o ano com 80 restaurantes”, informa o diretor de expansão da rede, Marcelo Cordovil.

Quando o café está no prato O Café do Sítio nasceu há 53 anos no Núcleo Bandeirante e, hoje, em galpão em Taguatinga, soma 250 funcionários. Produz 50 mil kg de café embalados por dia e, ainda, farinha, farofa, polvilho doce e feijão. Até 10 de novembro, a empresa promove o 2º Festival Momento Speciale: 14 restaurantes da cidade preparam menus com grãos premium colhidos no Sul de Minas e no Triângulo Mineiro. É a linha Speciale Espresso, composta por três blends nos quais a bebida adquire tons frutados ou achocolatados. Os chefs criaram entrada, prato principal e sobremesa (de R$ 49 a R$ 82,90). No Dom Francisco (Asbac e 402 Sul), o cardápio oferece polenta, queijo de cabra e cebola caramelizada com café, risoto de acém de panela com café e brownie com sorvete de café. Por R$ 69. No Santé 13 (413 Norte), há tartar de charque, gergelins ao molho de café, medalhão de mignon com bacon ao molho madeira com melaço e café e risoto de queijo e torta italiana gelada, com biscoito, chocolate, morango e café. Por R$ 79. Veja o cardápio dos 14 restaurantes em www.momentospeciale.com.br.

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Depois de ancorar por dois meses no agito do evento Na Praia, o empresário Vitor Pontes, 72 anos, decidiu movimentar a Oca da Tribo (perto da Concha Acústica): a filha Ana Cristal, 23 anos, deixa a cozinha para dividir a gestão da Padaria Portuguesa (708/709 Norte), herança dos avós, com a irmã Ritamel, 31. O chef William de Oliveira e o maître Hilton Teixeira integram a nova equipe: “Nos erros, você aprende”, filosofa Vitor. “Fiz uma revisão nos preços de pratos para duas pessoas”. William adiciona toques autorais ao menu anterior, como o atum com gergelim, purê de banana-marmelo e redução de tamarindo (R$ 83), o fettuccine negro com lagostim (R$ 78) e a posta de bacalhau com esparregado. De origem portuguesa, o esparregado é feito com espinafre ou couve e foi sugestão do dono, nascido em Angola. “Está uma sintonia boa”, aprova o chef. No bar, o filho mais novo, Nitay Pontes, de 20 anos, sugere um drinque como o Bosque: “Leva espuma de cidreira, bourbon, licor 43, suco de abacaxi, de laranja e xarope de amêndoas”.

Na agenda pra você 21 e 31 de outubro: aulas de gastronomia. Panificação para iniciantes, dia 21, das 19 às 21h30, com o chef Cizu Torres, por R$ 45. Massas frescas, dia 31, das 19h30 às 21h30, com o chef Kiko Avelar, por R$ 50. Na Cesco Gastronomia (Vitrinni Shopping, Águas Claras). Inscrições pelo zap 98535.4240. 26 de outubro: Varanda BSB no Los Baristas. 20ª edição da feirinha de designers e artesãos brasilienses. No Los Baristas Casa de Cafés (404 Norte, Bloco C). Das 10 às 19h, com entrada franca. 26 de outubro: The Brunch. Menu de três etapas, vinhos, drinques e DJs. No Noah Garden Bar (408 Sul, Bloco C). Das 12 às 23h30. Ingressos e informações: 99802.7899 (zap).

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GARFADAS&GOLES

A maturidade dos bares Seria a maturidade atributo dos bares? Tema distante. Tirando os intensos gregos que sempre chegaram primeiro, registro uma discussão inicial a respeito em Brillat-Savarin e seu monumental A fisiologia do gosto, que pelas generosas mãos de Mingo Petti chegou à minha mesa com cavilações gastronômicas e etílicas, sempre pródigas, fartas, mas não necessariamente nessa ordem. Era a França pós-revolucionária e muitos tinham como maior preocupação salvar o gasnete da peixeira francesa conhecida como “Guilhotine”, do que discutir sobre o melhor local e o sabor de uma sopa reanimadora. Os tempos são velozes nas revoluções, na ordem inversa das durações dos pescoços ou do tamanho do prato... e Savarin voltou. Tinha tocado violino da Suíça, perambulado pelos Estados Unidos, e estava de volta aos pagos com a fome decuplicada e a curiosidade estudiosa idem. O livro que deixou pode ser pequeno, mas enciclopédico, ao abordar tudo sobre restôs. Devia essa crônica ao Savarin, com quem não bebi; ao Mingo, com quem garfadas e goles e boas conversas são incontáveis; e a outros que me provocaram sobre o tema. Devia algo ao Claude Cap. A junção da lua cheia neste outubro veio a calhar: trouxe a espuma e o colarinho de 21 anos da Toca do Chope. O pobre colunista, que em outros tempos media a sede em hectolitro, e na mesma medida a mitigava – não: afogava-a sem dó –, obedece agora ao castigo do Sete Quedas: apenas o aroma do lúpulo, da cor do colarinho. Savarin não me abandonou. Nem Mingo. Punições fortes foram aceitas para salvar meu pouco vinho. Entregamos as tulipas para não perder o terroir... HÁ 21 ANOS O NOVO SÉCULO era um “bug”. No quiosque da Quituart era um colarinho de três dedos, cremoso, em tulipa de vidro tão fino que um bagual do Rio Grande certa vez mordeu e pendurou o caco no canto do bigode. Do Sul ou do Norte? Sem pressa. Respostas muitas vezes duram mais do que 21 anos. Só resta a certeza, anotada em ata e lançada na comanda, de que que o chope desceu e o bigode “de vrido”, foi mostrado em camaradas praças públicas. Vivos estão quase todos dessa “pajelança”. Melhor.

BEBIA-SE CRUZADO NA TOCA, ou nas Tocas que vieram depois, tipo vagalume: acendiam, festejavam e depois iam embora. O cruzado era o destilado. Das Gerais e suas cachaças aos carvalhos alemães da Floresta Negra, Steinhager ou Jurgermeister, passando por vodcas simplesmente russas. Autênticas, límpidas, cristalinas, fartas, russas, russas! CERTA FEITA UM TOVARICH queria encontrar outro tovarich, igual a ele. Camaradas russos, os dois queriam homenagear dois brasileiros. Camaradas, claro. Tudo falado, combinado, apareceram os representantes da extinta União Soviética. Com eles o caviar pretinho, de esturjão russo, o pão preto, o pepino azedo e... a vodca!. Manter a tradição: não era só uma. Melhor que mães de anedota: tinha bem mais do que uma. “Porróvsky total!”... Com juras de que nunca, nunca outra vez sorveríamos aquele líquido translúcido. Mentirinha piedosa de velhos ateus treinados pela igreja. FINALMENTE, PARA discutir a maioridade do(a) Toca, o primeiro boteco com diversidade explícita no nome, comando e operações, é sempre preciso lembrar: além do chope cremoso, tira-gostos até hoje por aí espalhados (plagiados?), imitados, nunca igualados. Quem sabe registra. E a história se faz e continua. Carta de Gonzaga, Pastel de Feijoada, Borracha Padrão, Empadas da Musa (Laninha) e tantos outros, que ficarão nessa busca de maturidade. VELHOS BOLCHEVIQUES EM MOSCOU ainda cantam: Slava Brazília (Salve o Brasil); Slava Braziliá( o acento indica a capital); Slava KPCC (extinto partido comunista); Slava CCCP ( União Soviética, que traduzíamos: Camaradas Cuidado Com Pelé). MATURIDADE DE BAR não tem tradução. Rima com coração e aperitivos que junto vierem. Nova discussão em data redonda, 25 ou 30 anos. Tarefa para os donos da Toca e seus quase santificados, dulcificados fiéis de mesa ou balcão. Feliz aniversário. Saúde!

AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 14

LUIZ RECENA

lrecena@hotmail.com

Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.

Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras


PÃO&VINHO

Novos e ótimos argentinos No final do ano passado relatei aqui as visitas que fiz a bodegas argentinas produtoras de vinhos de alta qualidade que apontei à Winemania para importação. Agora chegaram e já estão disponíveis oito rótulos excelentes que valem muito a pena – um branco, um rosé e seis tintos. O primeiro deles é o Pisces Blanco, um Chardonnay de alta qualidade e muita tipicidade, realizado a partir de vinhas selecionadas da região de Agrelo, em Lujan de Cuyo, Mendoza. Com breve passagem em madeira, traz aromas muito típicos, com frutas tropicais, toques de coco e baunilha e uma boa acidez envolta em muita maciez. Vinho perfeito para a gastronomia das festas de fim de ano, principalmente para as carnes brancas. Depois o Pisces Rosé, um varietal de Pinot Noir com aromas de morango e cereja, uma ótima acidez e um bom toque mineral. Clarinho, bem ao estilo da Provence, é espetacular para o nosso clima de mar e piscina. Iniciando os tintos, o Very Malbec. O nome já diz tudo: um verdadeiro Malbec, porém jovial, moderno. Sem passagem em madeira, expressa muito bem a varietal, com fruta vermelha madura, muito frescor e boa acidez. Vinho tinto agradável para o período do verão. Depois o Malbec 4000, um reserva com passagem em madeira, que já traz uma boa complexidade, com fruta vermelha e negra, alguma compota e um palato firme mas macio, de taninos presentes mas muito elegantes. Ótimo para acompanhar os grelhados. Na mesma pegada vem o Cabernet Sauvignon 4000. Esse é um verdadeiro achado. Um Cabernet com extrema elegância e muita complexidade. Frutas vermelhas e negras se misturam com um agradável floral, toques de especiarias como canela e pimenta, e criam um palato persistente e muito, muito gostoso. Grande custo x beneficio.

ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

A partir daí damos um salto na qualidade para o Tinto Argentino 4000, um corte de Malbec e Cabernet Sauvignon, realizado a partir de vinhas selecionadas dentre as mais antigas dos melhores vinhedos. O resultado é excepcional. De tons violáceos e muita intensidade, traz aromas impactantes de frutas vermelhas bem maduras, com toque de chocolate e um agradável mentolado. Vinho elegante, de taninos perfeitos, com palato fresco e amável. Grande vinho, seja para meditação ou para acompanhar carnes vermelhas. E, por fim, dois vinhos super premium: o Black Blend 4000 e o Pisces Rojo. O Black Blend reúne a produção das melhores vinhas da Bodega Buldeguer das castas Malbec, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, com passagem de 18 meses em barricas de carvalho francês, sendo 70% de primeiro uso e 30% de segundo. De cor violeta intensa e brilhante, apresenta aromas de frutas vermelhas e negras em geleia, com um palato potente, quase mastigável. Vinho de grande expressão, para beber agora ou guardar por muitos e muitos anos. Finalmente, aquele que considero um vinho no “estado da arte” da vinicultura argentina. O Pisces Rojo é um varietal de Cabernet Franc, que, como eu já tive oportunidade de escrever em coluna recente, é sem duvida a casta que produz hoje os melhores vinhos da Argentina. Para mim, esse exemplar está entre os 20 melhores vinhos argentinos da atualidade. Vinho de parcela única, com 12 meses de barrica francesa de primeiro uso. Vinho de exceção, com nariz complexo a frutas em geleia e toques de violeta. Palato sedoso e pleno, de encher a boca. Muito equilibrado, com acidez vibrante e taninos suaves. Inesquecível!

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Marcos Malafaia

DIA&NOITE

literaturafantástica Cinema e teatro num espetáculo que ainda se utiliza de bonecos, música, dança e artes plásticas. Tudo isso para compor O pirotécnico Zacarias, baseado em contos do escritor mineiro Murilo Rubião (1947/1971), um dos pioneiros da literatura fantástica no Brasil. Até 27 de outubro, o Grupo Giramundo estará no CCBB para apresentar o resultado da nova vertente de seu trabalho, mais de 30 anos depois de atuar somente como grupo de teatro: o núcleo multimídia experimental, que mistura bonecos reais e suas versões digitais. A dramaturgia nasceu da mistura dos contos O pirotécnico Zacarias, O ex-mágico da taberna minhota, Teleco, o coelhinho, O bloqueio e Os comensais, todos interligados pela figura central de Zacarias. Trata-se de uma fábula sobre o homem contemporâneo, um herói Muriliano que, mesmo sendo mágico, é incapaz de mudar a realidade, ou mesmo de compreender sua posição nela. De acordo com o diretor, Marcos Malafaia, “os contos de Murilo Rubião são surpreendentemente contemporâneos e importantíssimos para a cultura brasileira”. Murilo era admirador de Machado de Assis, apreciava contos de fadas e fábulas, além de estudioso da literatura fantástica europeia, da mitologia grega e da Bíblia. De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h30. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Informações: 3108.7600.

comoomundodeveriaser

avoltadossaltimbancos

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Ainda dá tempo de assistir ao musical que há mais de quatro décadas encanta crianças e adultos. A montagem recriada pelo diretor Hugo Rodas tem fórmula que mescla elementos de teatro, dança, circo e música ao vivo para contar a história de um jumento, um cachorro, uma galinha e uma gata que decidem fugir de suas casas e do trabalho rural para formar uma banda musical. Encenada pela Agrupação Teatral Amacaca, será apresentada dia 24 de outubro no Teatro Plínio Marcos, da Funarte, com sessão às 19h30. A montagem destaca sentimentos como união, fraternidade, empatia, sonhos e perseverança. Tudo isso guiado por um fio condutor: o desejo de um mundo melhor e mais justo! Fazem parte do elenco Abaetê Queiroz, André Araújo, Camila Guerra, Dani Neri, Diana Porangas, Flávio Café, Gabriela Correa, Iano Fazio, Juliana Drummond, Luiz Felipe Ferreira, Nobu Kahi, Pedro Tupã e Rosanna Viegas. Entrada franca.

pluralidadeemcena

mpb,uai! A cantora Myriam Greco e o violinista Régis Torres foram escalados para embalar o almoço das sextas-feiras no Uai Comida Brasileira, restaurante do Complexo Brasil 21. No repertório da dupla, os clássicos Chovendo na roseira e Águas de março (Tom Jobim), Feitiço da Vila (Noel Rosa), A linha e o linho (Gilberto Gil), Apesar de você (Chico Buarque) e Jogo de cintura (Joyce). Como a novidade tem dado muito certo, o empresário Mauro Calichman já pensa em expandir o projeto musical para a happy hour. Como o próprio nome sugere, o Uai é especializado em comida brasileira com sotaque mineiro, servida pelo chef Ville Della Penna em sistema de bufê fechado para almoço (R$ 36). Todas as sextas-feiras, das 12 às 15h, com direito a estacionamento gratuito por três horas.

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Tradicional evento de artes cênicas criado em 2009 em Manaus, o festival Breves Cenas de Teatro está em sua 9ª edição e pela primeira vez é realizado fora da capital amazonense. Em Brasília, o Breves ocupa o teatro da Caixa Cultural entre 22 e 24 de outubro, a partir das 19h, com entrada gratuita. Idealizado pelo ator e diretor Dyego Monnzaho, o projeto consiste em apresentações entre cinco e 15 minutos. Ao final de cada sessão, o público vota naquela de que mais gostou. Para a temporada brasiliense, além de artistas do Distrito Federal, foram selecionados grupos de Pernambuco, São Paulo, Amazonas, Rio de Janeiro e Colômbia. Ao todo, serão 12 cenas, quatro por noite, em criações cênicas que vão do drama à palhaçaria.

Diego Bresani

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Autor de textos humorísticos que alcançaram grande sucesso na internet, como Mônica e Eduardo e Como me F... no show do Los Hermanos, o misterioso Adolar Gangorra, cuja verdadeira identidade permanece um mistério (afinal, em suas fotos sempre aparece com um balde na cabeça), prepara uma rara aparição pública para 5 de novembro, a partir das 19h, no Carpe Diem (104 Sul). É lá que será lançado seu primeiro livro, intitulado Como tenho certeza absoluta de como o mundo deveria ser, pela Tagore Editora e com o apoio do FAC – Fundo de Apoio à Cultura. A publicação apresenta textos antigos e inéditos nos quais o autor se revela um iconoclasta cômico, um afiado crítico social e até mesmo um pensador incomum que, a partir de assuntos supostamente prosaicos, cria um humor questionador a respeito do ser humano, do mundo e de suas contradições. O livro tem 216 páginas e custa R$ 50.


Sonia Fattori

criançasemrisco

Elas tanto podem estar numa comunidade quilombola do Brasil como numa comunidade também esquecida em Burkina Faso, no Mali, na Índia ou na Itália. Suas imagens, contudo, foram captadas pela sensibilidade das lentes das fotógrafas Franca Vilarinho e Sonia Fattori e fazem parte da mostra Identidades ameaçadas, em cartaz na Câmara dos Deputados até 30 de outubro. Maranhense radicada em Brasília, Franca Vilarinho revela os olhares de meninos e meninas do Quilombo Kalunga, do norte de Goiás, assim como dos índios e ciganos. Já a italiana Sonia Fattori apresenta registros sobre a vida em Burkina Faso, no Mali e na Índia, e ainda o sofrimento dos que são obrigados a fugir do próprio país, chegando em Lampedusa, na Itália, porta de entrada da Europa, cheios de esperanças e sonhos. São, em resumo, retratos de infâncias deslocadas: algumas se perdem no mar, nos desertos, nas periferias; outras, em sertões áridos, sem água e sem pátria, à margem da sociedade. No Espaço do Servidor, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, com entrada franca.

renda-se Divulgação

condomínioshúngaros Entre 2015 e 2018, o fotógrafo Bruno Veiga fez seis viagens a Budapeste, capital da Hungria, e visitou condomínios populares construídos em meados do Século 20. Tinha como foco captar as delicadezas do cotidiano das famílias que lá habitam. O resultado de seu trabalho está na exposição Teoria dos conjuntos, em cartaz na Caixa Cultural até 15 de dezembro. Com curadoria de Eder Chiodetto, apresenta 32 fotos que revelam como países da Europa Oriental enfrentaram o problema de moradia gerado pela grande migração para os centros urbanos no processo de industrialização. A ideia do fotógrafo foi encontrar a singularidade dos moradores nos imensos condomínios populares padronizados, registrar de que forma ela se manifesta, como os indivíduos conseguem se expressar e romper a repetição. Segundo o artista, o sistema modular cria moradias que não dão espaço para a expressão da individualidade. O curador Eder Chiodetto diz que “é curioso perceber, no percurso das imagens expostas, a natureza surgindo de forma recorrente para tornar um ambiente mais personalizado, seja em jardins ou num vaso sobre a mesa; quando o homem se volta para a natureza é como se estivesse voltando aos seus instintos naturais em contraposição ao excesso de racionalidade”. Bruno Veiga começou sua carreira em 1984, tendo trabalhado nos jornais como O Globo e Jornal do Brasil. A partir de 1990, passou a atuar como freelancer, abrindo espaço para um olhar artístico sobre a fotografia. De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.

Cem expositores do Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte estarão na sexta edição da Renda-se – Feira de Artesanato, Bordados e Rendas, entre 24 e 27 de outubro, no Pontão do Lago Sul, das 10 às 22 h. Em área de 2.500 m², com projeto arquitetônico e cenográfico de Marcelo Moita, a feira apresenta produtos artesanais que mostram a diversidade da nossa rica cultura, entre eles utensílios, cama e mesa, móveis, moda. Além de divulgar o talento dos artesãos brasileiros, o Renda-se tem como foco fortalecer a produção associada ao turismo, promovendo Brasília como Cidade Criativa do Design, título que a capital do país recebeu da Unesco em 2017. Entrada franca.

Bruno Veiga

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cinemanachapada O povoado de São Jorge recebe, de 24 a 27 de outubro, a terceira edição do CineFest São Jorge, com programação que inclui, além dos filmes, oficinas, homenagens e workshops. Com curadoria de João Paulo Procópio e Ludielma Laurentino, a mostra tem como foco as produções regionais recentes que se destacaram em outros festivais. Na Oficina do Olhar, os participantes vão produzir filmes curtíssimos sob Duas Irenes, de Fábio Meira (85 min) orientação da cineasta Madê Picchi, fundadora do coletivo audiovisual Hubbers.alive e criadora de conteúdos de empoderamento feminino em várias plataformas digitais. O melhor curta realizado na oficina será exibido no último dia do festival e receberá o prêmio Dizo Dal Moro, uma homenagem ao cineasta falecido em 2017 e que participou da primeira edição. O CineFest São Jorge é realizado de forma independente com apoio de comerciantes e moradores da vila de São Jorge e patrocinadores que foram se juntando ao projeto ao longo dessa trajetória. Atualmente está em busca de novos patrocinadores e apoiadores. Os interessados devem entrar em contato pelo e-mail cinefestsaojorge@gmail.com ou pelo telefone 61- 99984.0558. Entrada franca.

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GRAVES&AGUDOS

Led Zeppelin in Concert

Cardápio variado POR HEITOR MENEZES

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ue a música tem sido, ao longo do ano, o carro-chefe das atrações culturais de Brasília parece ser ponto pacífico. Tirando o cinema com seus blockbusters, fica a pergunta: cadê o teatro, as artes plásticas e a literatura, capazes de mobilizar as massas e atiçar o interesse do público consumidor de cultura? Devem estar naquele esquema cada um por si e Deus contra todos. Dizem os precavidos: na ordem das prioridades de consumo, os produtos culturais ocupam lugar não tão necessário assim. Isso é mentira, mas ok, ok, ok, lembra Gilberto Gil, um dia as coisas mudam. Dito isso, as atrações musicais seguem (como podem) girando a roda da economia. Mesmo sem estudos que quantifiquem ou qualifiquem retrato preciso dessa valiosa contribuição, o mercado de shows segue animado. Oxalá continue e vejamos o que tem no cardápio. Começando com batucada, logo agora no dia 22. Incrível como tem gente que curte uma bateria. No caso, o instrumento musical. Naquela data, aficionados deverão comparecer em massa ao Espaço Conexão Jovem, na Igreja do Nazareno – Central de Brasília (603 Norte),

para prestigiar o Day Drums Festival. A atração é o norte-americano Mike Terrana, extravagante baterista de hard rock e heavy metal, provavelmente descendo a lenha em concorrido workshop. Quanto aos shows propriamente ditos, a Cervejaria Criolina (SOF Sul) é o ponto de partida, pois naquele ambiente, dia 23, a cantora Clara Telles divide palco com o Tuia (SP), no que parece ser uma dissecação do folk, rock rural até as raízes mais profundas de tudo relacionado. Flávio Faria e banda abrem os trabalhos de perícia musical dessa noite.

Indiana Nomma

Dia 25, o palco da Criolina será ocupado pelo projeto Jazz no Porão – Dolls and Dames – Power Women. Em ação, a hondurenha-brasiliense-carioca Indiana Nomma e a norte-americana Alma Thomas entregam canto carregado de emoção, interpretando advinha o quê? Billie Holiday, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald e Nina Simone, só biscoito fino e por quem entende profundamente do assunto. Let there be rock! (faça-se o rock!), dizia o AC/DC. Legal, mas, na verdade, o lance aqui é o Led Zeppelin. Pois não é que somente agora, passados 39 anos da dissolução da grande banda britânica, teremos Led para ver e ouvir em cores orquestrais? A Nova Orquestra, sob regência de Eder Paolozzi, comemora os 50 anos dos primeiros discos zeppelianos com o show Led Zeppelin in Concert, que foi, aliás, uma das atrações do recém finado Rock In Rio. São 35 músicos mandando ver os clássicos. Na guitarra, Eduardo Ardanuy. Detalhe: não tem cantor. Quem canta é a plateia. Onde? No Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Quando? Dia 26. De volta à Cervejaria Criolina, quem bate ponto na casa dia 31 é a Nomade Orquestra. Muito prazer, o agrupamento paulista, chamado de big band do ABC,


tinue mundo afora. Pouco importa. O Nazareth lançou ótimos discos e tem repertório para horas de alegria. Som para os amantes do clássico hard rock. Ainda no Toinha, dia 6, quem volta à cidade é a misteriosa banda britânica Sisters of Mercy. Liderada pelo não menos misterioso cantor e compositor Andrew Eldritch, os Sisters estiveram em Brasília, em 1990, tocando em um espaço improvisado ao lado do Parkshopping. Aliás, o grupo não lança material novo desde essa época. Mas e daí? O que importa é estar fazendo turnês, oportunidades em que novas canções são apresentadas aos fãs. Eldritch e a bateria eletrônica Doktor Avalanche são os únicos membros constantes. Aqui é onde os termos gótico, dark e minimal fazem sentido. Um tanto lúgubre, mas muito bacana de ver e ouvir. Atenção: esse show estava marcado para o dia 7, mas foi antecipado em um dia pela produção. Passada a tempestade, vem a bonança. E ela vem na voz de Milton Nascimento. O fenomenal Bituca retorna com certas canções em seu tributo ao Clube da Esquina, dia 7, no Ulysses Guimarães. Nesse mesmo espaço, em 13 de abril, Milton arrasou corações e mentes e foi até capa da Roteiro. Digamos que a segunda sessão foi adiada para esse 7 de novembro. Ganhamos nós que teremos agora a presença de Lô Borges, outro sócio-fundador do clube, abrilhantando o negócio. Em termos de música soft (mellow, como dizem os americanos), baladas fofas, quem comanda bem o lance é a banda Rosa Neon, atração do mesmo dia 7 na Cervejaria Criolina. Pela primeira vez em Brasília, o grupo de Belo Horizonte tem aquele estilo despojado, cheio de frescor, como se estivesse tocando na sa-

Fotos: Divulgação

produz um groove endiabrado, resultado dos experimentos com porções (ou seriam poções?) de jazz, funk, rock, reggae e otras cositas mas. São dez músicos e um VJ prometendo uma sonoridade que não pertence a lugar nenhum e ao mesmo tempo está em todos os lugares. Eita! Rock é rock mesmo! Eis como foi batizado no Brasil aquele filme do Led, anos 70 (The song remains the same). Sim, é ridículo, mas é verdade, pois o período rock’n’rollístico segue desembestado. Em 1° de novembro, 24 horas após o famoso Dia das Bruxas (Halloween é o cacete, afirma certo colunista), lá no Toinha Brasil Show (SOF Sul) tem a Psycho Circus Halloween Party, festa à fantasia, com o som de Savannah (hard rock), tributo a Marylin Mason, banda Women In Rock, e a Kiss My Ass, tributo ao Kiss, que não podia faltar. Detalhe: o dia 1° fica entre o Dia das Bruxas e o Dia dos Mortos. Captaram? Os “zovidos” e os bolsos que se preparem, pois dia 2, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, tem rock em dose tripla. A banda Noturnall recebe como convidados especiais o baterista norte-americano Mike Portnoy (ex-Dream Theater e atualmente em vários projetos) e o cantor e multi-instrumentista Edu Falaschi (Angra). O lance aqui é heavy metal, power metal, com alta técnica musical. Nesse mesmo dia 2, quem dá as caras no Toinha Brasil Show é a lendária banda escocesa Nazareth, que muitos devem lembrar por causa do hit Love hurts (anos 70), que, em verdade, nem é de autoria do grupo. Dos membros originais, resta apenas o baixista Pete Agnew. Lembrando que o vocalista original Dan McCafferty, doente, caiu fora em 2013, mas mandou a bênção para que o grupo con-

la de casa ou em um luau. Isso é coisa de gente jovem reunida, diria Belchior. Ainda bem, pois aqui a música tem beleza e sentido. Dia 8 de novembro, anote aí, tem um dos últimos festivais do ano. O Fyah – Cultura Black ocupa a arena de eventos do Estádio Mané Garrincha com três grandes atrações musicais: Negra Li, grande batalhadora do rap nacional, os reggaeiros do Mato Seco e, fechando a conta, os norte-americanos Groundation, de volta à cidade com mais uma tonelada de reggae-raiz, desta vez pagando tributo aos gigantes do gênero. Por último, mas não menos importante, quem aparece em Brasília, dia 9, é Preta Gil. A cantora é a cereja do bolo do Station Festival, na mesma arena que recebeu na noite anterior o Fyah – Cultura Black. O lance aqui é cair na balada, um sábado. Esqueça as preocupações, só não dirija depois de beber. Adriana Samartini, banda Rock Beats e Festa Funfarra animam o lance até o sol raiar.

Prêmio Profissionais da Música A quinta edição do Prêmio Profissionais da Música acontece nos dias 1, 2, e 3 de novembro. Este ano, a celebração, que reconhece o trabalho dos batalhadores da música, fica por conta do mote “Do clássico ao popular – 100 anos de música brasileira”. Tem painéis e workshops dissecando o estado de coisas por que passam o mercado musical e a cultura. Em destaque, homenagens ao maestro amazonense-brasiliense Cláudio Santoro (1919-1989), ao produtor Genildo Fonseca e ao compositor e letrista Ronaldo Bastos. Na área de apresentações, o 5° PPM tem shows agendados em diferentes espaços da cidade. Na praça principal do Pier 21, as

atrações estão assim organizadas, em pocket-shows: dia 1°, Ellefante (DF) e Rhaíssa Bittar (SP); dia 2, Ilessi (RJ) e Totonho e os Cabra (PB); e dia 3, Tchella (SP). No Teatro Plínio Marcos da Funarte, dia 1°, DJ Raffa Santoro comemorando 35 anos de carreira com vários convidados; dia 2, Delia Fischer, Livia Nestrovski e Fred Ferreira; Bia Goes e Ricardo Valverde; e fechando a noite, o jazz da pianista Iara Gomes. Dia 3, Nomade Orquestra (SP). No Clube do Choro, dia 2, a atração é Jacques Morelenbaum Cello Sam3aTrio. Todos os detalhes e como participar em www.ppm.art.br. 19


GRAVES&AGUDOS Wander Willian

Ratos do Porão

Divulgação

Raimundos

Porão eclético POR PEDRO BRANDT

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o longo de sua trajetória, o Porão do Rock praticamente mapeou o que de mais relevante acontece nesse gênero musical no Brasil. E não apenas: ainda que o rock seja, sim, o prato principal do festival brasiliense, ele sempre teve inclinação plural. E para sua 22ª edição, programada para 25 e 26 de outubro, não será diferente. O Porão de 2019 vai ter muito rock – de diferentes influências, temperos, quilometragens e pesos –, mas também vai ter rap e até um tantinho assim de música eletrônica. A escalação deste ano aposta em nomes conhecidos, muitos deles figurinhas carimbadas em outras edições do festival. Repetições à parte, são atrações tarimbadas, capazes de arrastar multidões até o Espaço Arena Lounge do Estádio Mané Garrincha. Aliás, o novo endereço, local coberto, é motivo para comemoração: afinal, não foram poucas as vezes em que o público do Porão foi surpreendido pela chuva. Por ali, em dois palcos, os presentes poderão conferir, sem se molhar, 11 shows na sexta e 15 no sábado. O dia 25, sexta-feira, será dedicado ao som pesado, com punk rock, hardcore e metal em diversas vertentes. Dois shows celebram discos emblemáticos. O vocalista Edu Falaschi, ex-Angra, rememora o

repertório do álbum Temple of shadows, que em 2019 completa 15 anos e mantém lugar cativo no coração dos fãs de sua antiga banda. O quarteto Ratos de Porão, por sua vez, traz o show de três décadas de Brasil, um de seus melhores registros. Por conta da saúde do vocalista João Gordo, que esteve recentemente internado na UTI, existe a possibilidade de o Ratos se apresentar como trio, com o guitarrista Jão assumindo o microfone. Já a capixaba Dead Fish chega com novo álbum debaixo do braço, o elogiado Ponto cego. Atração internacional da sexta-feira, a banda americana Escape the Fate traz para Brasília um metalcore intenso. Na estrada desde 2008, o Project 46 volta ao Porão para mostrar porque é um dos melhores grupos brasileiros de metal em atividade. As brasilienses Raimundos e Dona Cislene, em contraponto ao restante da escalação do primeiro dia do Porão, oferecem um som mais radiofônico, ainda que dosado em punk rock e hardcore. Completam a programação as locais Imortal Joe, Never Look Back, Moretools e a imperdível Galinha Preta. O dia 26, sábado, tem cardápio eclético, começando entre o pop e o classic rock, com Mariana Camelo, Jambalaia, Surf Sessions e a carioca Canto Cego. Trampa adiciona peso ao sábado, seguida pela psicodelia de Joe Silhueta, destaque da atual cena autoral candanga.

Jimmy London, ex-vocalista da carioca Matanza, chega com seu novo projeto, Jimmy & Rats. Os pernambucanos da Academia da Berlinda apresentam repertório malemolente e divertido. A desativada Rumbora volta aos palcos em show que relembra o disco 71, lançado há 20 anos. Com milhares de visualizações em seus vídeos no internet, o grupo Supercombo, original do Espírito Santo, volta ao Porão depois da participação na edição de 2013. O rap comparece no sábado com o paulistano Rincon Sapiência, reaparece misturado com rock no som dos paranaenses do Machete Bomb e, embrulhado com rock, reggae e música brasileira, na voz do carioca Falcão, ex-O Rappa. Depois disso tudo, ainda tem rap, desta vez com o consagradíssimo Criolo. Quem encerra o Porão do Rock 2019 é o músico brasiliense Juliano Corrêa, à frente do projeto Baghda, no qual, a partir de programações e batidas eletrônicas, constrói músicas ao vivo. Porão do Rock

25 e 26/10, partir das 16h, no Espaço Arena Lounge do Estádio Mané Garrincha. Ingressos (valores sujeitos a alterações): R$ 35 por dia (pista, meia-entrada mediante doação de 1kg de alimento); ou R$ 60 para os dois dias (pista, meia-entrada mediante doação de 1kg de alimento). Vendas: www.poraodorock.com.br. Classificação indicativa: 16 anos (menores de 16 deverão estar acompanhados de um responsável).


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Artur Dias

Diego Bresani

GRAVES&AGUDOS

Túlio Borges

Rodrigo Bezerra

Os cantautores POR LÚCIA LEÃO

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s músicos Tulio Borges e Rodrigo Bezerra ocupam o Teatro Cena nos meses de outubro, novembro e dezembro com o projeto Cena Cantautores, que promete dar ao repertório autoral, deles e de convidados, todo o peso de verdade e essencialidade das canções através da simplicidade única das interpretações. No palco, apenas o músico com seu instrumento e sua voz, como corpo e alma de artistas solitários que narram infinitas histórias, atualizam mitologias urbanas e esboçam os valores de uma sociedade. Assim são os “cantautores”, um neologismo de uso corrente no português europeu (o falado em Portugal e demais países lusófonos) que só agora começa a ser reconhecido no nosso vocabulário musical para designar o compositor e cantor de suas próprias canções. Talvez pela falta de um nome, os cantautores

brasileiros não tenham sido reconhecidos em todo valor dessa condição ímpar como são, por exemplo, Bob Dylan e Joan Baez, quando, acompanhados dos seus próprios instrumentos, interpretam como ninguém suas canções. “Há algo de especial quando o próprio compositor entoa suas músicas da maneira que as criou, algo que, por sua sinceridade e essencialidade, ao mesmo tempo provoca, revela e imprime marcas na alma dos ouvintes”, acredita Tulio Borges. Cena Contrautores, que começou em outubro, prossegue até dezembro com espetáculos intimistas em que Tulio e Rodrigo receberão Adriah e Júnior Ferreira, criadores da canção contemporânea que “vão apresentar sua música em formato bruto, acompanhados apenas de seus instrumentos”, descreve Rodrigo Bezerra. E com o mesmo nome – Cena Cantautores – Tulio Borges e Rodrigo Bezerra lançam ainda este mês, nas principais

plataformas digitais, um podcast com entrevistas e depoimentos de cantautores brasilienses que falarão sobre suas músicas e seu processo de criação, ilustrando as informações com trechos de suas canções. Além de Adriah e Junior, já estão confirmadas as participações de Letícia Fialho, Clodo Ferreira, Sérgio Duboc e Renato Matos. Adriah, Tulio e Rodrigo se apresentarão no Espaço Cena acompanhados de seus violões. Já Júnior Ferreira é um caso incomum de cantautor: encerra o projeto, em dezembro, acompanhado de sua sanfona. A simples qualidade desses músicos, de suas músicas e de seus instrumentos promete fazer do Cena Cantautores uma série de concertos memoráveis. Túlio e Rodrigo convidam Adriah

16/11, às 20h, 17/11, às 19h, no Espaço Cena (205 Norte, Bloco C).

Túlio e Rodrigo convidam Junior Ferreira 14/12, às 20h, e 15/12, às 19h, no mesmo local. Ingressos: R$ 40 e R$ 20, à venda em https://sympla.com.br/cenacantautores.


GALERIADEARTE

Trajetória do traço Caixa Cultural apresenta cinco décadas de desenhos de Fernando Lopes.

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preparação para a exposição Fernando Lopes – 50 anos de desenho, em cartaz nas galerias Piccola I e II da Caixa Cultural até 15 de dezembro – configurou-se num processo de arqueologia afetiva. E como poderia ser diferente? Afinal, trata-se da primeira exposição retrospectiva da trajetória do artista carioca de 62 anos, mais da metade deles vividos em Brasília. Durante vários dias, Fernando e o curador Oto Reifschneider empenharam-se em vasculhar caixas e mais caixas, na busca do que seria colocado em exposição. “Não foram dezenas, sequer centenas, mas literalmente milhares de desenhos encontrados”, afirma Oto sobre o resultado da “escavação” nos armários e gavetas do apartamento do artista. Desse bolo foram garimpadas as mais de 250 ilustrações que compõem a exposição, feitas nas técnicas guache, nanquim, aquarela, aerógrafo e lápis de cor. Entre elas estão estudos, capas de livros, de CDs, originais para selos dos Correios e bilhetes de loteria, desenhos anatômicos e técnicos elaborados para o Hospital

Sarah, dentre muitas outras peças para diversas instituições e periódicos, em especial para o Jornal de Brasília e o Correio Braziliense, onde Fernando atuou por duas décadas. “Encontrei ali um espaço ideal para ‘carregar nas tintas’ e desenvolver uma linguagem direta, forte, apropriada à leitura do jornal”, comenta o artista sobre sua ida para o Correio, a convite do designer Chico Amaral. Com inspiração no surrealismo, no expressionismo e no cubismo, a arte de Fernando Lopes é carregada de sensibilidade e mistério. E por conta do poder de síntese de suas ilustrações, elas foram encomendadas para acompanhar textos cujos assuntos vão dos temas mais complexas aos mais prosaicos, de justiça e economia, até ecologia e literatura, entre muitos outros. O talento de Fernando Lopes não passou despercebido, tanto que, dentre as diversas láureas que ele recebeu, matérias com suas ilustrações foram, em cinco ocasiões, ganhadoras do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Entretanto, mais do que apresentar a trajetória do traço do artista, a exposição

oferece ao visitante a oportunidade de perceber como essas ilustrações têm vida própria e podem oferecer uma gama de interpretações, independente do conteúdo do texto para qual foram criadas originalmente. Oto Reifschneider

POR PEDRO BRANDT

Fernando Lopes – 50 anos de desenho Até 15/12, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, nas galerias Piccola I e II da Caixa Cultural (SBS, Quadra 4), com entrada gratuita. Classificação indicativa: livre.

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ECONOMIACRIATIVA

Cinco anos de moda atemporal Produção artesanal de peças versáteis e duráveis, além do reaproveitamento de materiais, fazem a marca de roupas brasiliense Quero Melancia ir na contramão da indústria. POR EVELIN CAMPOS FOTOS DIEGO BRESANI

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uando a Quero Melancia foi lançada, em 2014, logo chamou a atenção pelo processo produtivo 100% feito à mão e pelas estampas desenhadas e impressas em carimbos pela estilista e designer Thaís Madureira. De lá para cá, foram cinco anos e quatro coleções com estética bem tropical e inspirada no Cerrado e em Brasília, além de lançamentos, parcerias e participações em eventos como o Picnik. Mas a marca, que já possui público fiel e crescente, não parou de evoluir. Abraçou o conceito “use até gastar” e a causa genderless (moda sem gênero), com a realização, recentemente, de um ensaio fotográfico estrelado pela modelo travesti Pietra Zhura e clicado pelo fotógrafo Diego Bresani. As peças usadas – entre inéditas e clássicas – fizeram sucesso no evento de aniversário da QM, realizado no final de setembro, na cafeteria Objeto Encontrado, onde funcionam a loja e o ateliê da grife.

Agora, a Quero Melancia se prepara para inaugurar um novo espaço na Asa Sul, em novembro. Será uma loja na plataforma fixa do Picnik, que também contará com outras lojas, comidinhas, bares e música ao vivo. Lá, o público poderá conferir todas as peças da coleção continuada da marca, que incluem modelos como o macacão Operária e o vestido Asa Branca, além de clássicos como os vestidos Costas Nuas, Triângulo e Trapézio. “Não produzimos mais coleções fechadas. Incorporamos peças e reinventamos cores e padrões. As roupas são democráticas, atemporais e duráveis. Você usa numa festa ou na feira, de salto ou de tênis, não importa a sua idade”, orgulhase Thaís. O foco também saiu das estampas. Os modelos são mais lisos, fabricados em tecidos naturais, como linho, viscose e algodão, que dão mais conforto no clima de Brasília. Além de serem sem gênero e respeitarem a diversidade de corpos, com tamanhos que vão do PP ao GGG, as roupas não seguem o padrão da indústria da moda, que muitas vezes trabalha

com mão de obra em condições análogas ao trabalho escravo, gasta volumes absurdos de água e gera lixo em excesso, com o descarte de peças simplesmente porque a estação mudou. “Fico feliz por não enquadrar a QM nos padrões sociais estabelecidos, contar com profissionais locais e sem exploração, oferecer modelos clássicos feitos para durar e também por repassar a sobra dos tecidos para pequenos trabalhadores artesanais daqui, evitando o desperdício.


Sempre repensamos nossos valores, nossa responsabilidade social como marca”, conta a estilista. A Quero Melancia foi criada em 2013 por Thaís, que costura desde pe-

quena, e pelo músico e produtor musical Gustavo Halfeld. O projeto estreou em 2014, com uma escala de produção de peças únicas e feitas para durar. Em 2017, Gustavo deixou a sociedade. Após

um curto período parada, a QM retornou em 2018 e Thaís retomou os trabalhos seguindo novos caminhos estéticos e de produção. Em dezembro de 2018, após atender sob encomenda em ateliês nos endereços em que Thaís morava ou em eventos como o Picnik, a Quero Melancia ganhou um espaço fixo no subsolo da Objeto Encontrado, onde a designer cria novas peças e o cliente pode experimentá-las. “A marca nasceu em um evento na Objeto e, desde então, sempre participou de feirinhas como o Picnik, e isso foi muito importante para o crescimento e o alcance da marca. Brasília é uma cidade linda que nasceu para ser um grande parque aberto; então, apesar das lojas, queremos continuar ocupando esses espaços que são nossos”, afirma Thaís. As roupas da Quero Melancia custam entre R$ 75 e R$ 260. Quero Melancia

102 Norte, Bloco B, Loja 56, subsolo da cafeteria Objeto Encontrado (98582.0741). De 2ª a sábado, das 12 às 23h.

FERNANDO LOPES

50 ANOS DE DESENHO

16.10.2019 A 1 5.1 2 . 2 0 1 9 C A I X A C U LT U R A L B R A S Í L I A S e to r B a n c á r i o S u l Q. 4 L ot e s 3 /4 - A s a S u l , B r a s í l i a - D F

acesse www.caixacultural.gov.br Siga @caixaculturalbrasilia no Instagram Curta facebook.com/CaixaCulturalBrasilia 25


ESCOLACRIATIVA

Sob a supervisão da professora Betsey Neal (à esquerda, de blusa estampada), os próprios alunos preparam as panquecas que serão servidas durante a aula-degustação.

Aprendizado prazeroso POR VICTOR CRUZEIRO

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prender um idioma novo é algo necessário, mas que muitas vezes torna-se uma dura obrigação, com muito pouco prazer. E a razão é muito simples: o método. Se já chovem críticas ao modelo convencional de educação das escolas tradicionais, sobram outras tantas para os métodos de ensino de idiomas. Não é de hoje que é facílimo encontrar escolas de línguas com diferentes promessas como “fale inglês fluente em quatro meses” ou “intensivo de inglês em doze semanas”. E, mais ainda, pululam métodos, que vão dos mais renomados, elaborados pelas grandes editoras de publicações de idiomas, até aqueles elaborados pela própria escola, com pouca ou nenhuma fundamentação pedagógica. E todos sempre focados em gramática e exercícios de repetição. E há, ainda, a diferença das idades e

panos de fundo. Afinal, todos os alunos de uma série em uma escola de ensino médio, por exemplo, costumam estar na mesma faixa etária e compartilhar o objetivo de aprender aquele conteúdo para, quase sempre, passar no vestibular. Contudo, os estudantes de uma turma de inglês podem variar consideravelmente suas idades e, mais ainda, os motivos pelos quais estão ali. Portanto, aprender um idioma novo deveria ser algo necessário, mas também prazeroso. E nem sempre é. Novas experiências

Há contudo, esperança, e é sempre possível encontrar, aqui e ali, propostas metodológicas que desafiam esse establishment de ensino padronizado, focado na gramática, na repetição e na fixação. E, dentre eles, há um curso voltado para a construção de uma relação diferente com a língua, em que o vocabulário não é só apreendido, mas reforçado em ativi-

dades cotidianas, vinculadas a uma conexão afetiva. Essa é a premissa do curso Thomas Experience, da Casa Thomas Jefferson, aqui de Brasília. Através de módulos curtos, que abordam temas distintos, os alunos são incentivados a se apropriarem – ou recuperarem – o vocabulário que já têm, durante a realização de diversas atividades. A cada módulo, os alunos realizam desde um pequeno curta-metragem em stop motion, utilizando softwares específicos, a viagens de realidade virtual por obras de arte, passando por oficinas de fotografia e receitas culinárias. Em todos esses momentos os alunos não estão submetidos a nenhum método específico, mas estão sendo incentivados, pelo professor ou professora, a atuarem de forma a utilizarem o que foi apreendido, geralmente a duras penas, nos cursos convencionais. Assim, torna-se um pré-requisito para a realização do Thomas Experience que


Fotos: Divulgação

Na experiência proposta pela Casa Thomas Jefferson, não há provas nem livros, mas unicamente o chamado para que os alunos mergulhem no tema da aula.

o aluno já tenha um nível intermediário, com uma certa independência no uso da língua. Mas esta é a única exigência que se coloca. Não há provas nem livros, mas unicamente o chamado para que o aluno mergulhe e se conduza no tema que aquela aula traz. Comfort food

Tive o prazer de acompanhar uma das aulas do módulo de gastronomia, em que os alunos juntaram-se num completo espaço culinário, na unidade da Asa Sul, para fazerem panquecas ao estilo norte americano. Supervisionados pela professora Betsey Neal, os alunos tinham à disposição um pequeno manual impresso com uma receita de panquecas, trazendo ingredientes, modo de preparo, imagens e uma breve história, disponível em um QR Code acessado pelo celular, levando a um site totalmente em inglês. É importante enfatizar a autonomia

que é dada aos alunos nessas atividades. A professora Betsey Neal conta que, no módulo em que realizam um curta-metragem em stop motion, os alunos são responsáveis por tudo, desde a ideia inicial, o roteiro e a própria filmagem, além de aprenderem a dominar um software novo, acessível em seus celulares, para quando estiverem fora da classe. A professora funciona muito mais como a seta de uma bússola ou, quando muito, um ponteiro de relógio, que os ajuda a não se perderem no curto espaço de 90 minutos de cada encontro (usualmente, cada módulo tem três encontros). O mesmo acontece no módulo de culinária. Os alunos leem a receita juntos e, tão logo as dúvidas mais urgentes de vocabulário são resolvidas, eles partem para a divisão das tarefas, decidindo o que cada um irá fazer. Enquanto se movimentam pela cozinha, trocando instruções, os alunos conversam entre si – sempre em inglês – lembrando palavras

esquecidas e recuperando a independência de falar um novo idioma. Ao ser perguntada sobre o porquê da escolha por panquecas, a professora Neal informou que não apenas se tratava de uma receita rápida, que eles conseguiriam fazer durante o reduzido tempo de uma aula, mas também por ser uma receita que eles poderiam reproduzir em casa, com sua família, além de ser uma comida fortemente ligada ao imaginário que se tem dos Estados Unidos. Além das panquecas, também há brownies, muffins, cookies – a boa e velha comfort food, a comida que evoca afeto e boas sensações, reforçando o vínculo com a língua. O Thomas Experience propõe uma experiência nova com a língua, cuidadosamente elaborada para encorajar e entusiasmar um público específico. Oxalá existam, cada vez mais, ideias assim, não restritas a uma só escola, e que possam reavivar o prazer que há no ato de aprender um novo idioma.

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RESPONSABILIDADESOCIAL

Escola de violeiros POR JUNIO SILVA FOTOS LUIZ FERNANDES

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em uma boa raiz é impossível que uma árvore gere bons frutos. A sensação ao entrar na sede do clube, em meio às violas, livros, mais de seis mil LPs e CDs, fotos, pôsteres e objetos, é de volta ao passado. Um pedacinho, em meio à cidade grande, das tradições populares do interior do país. O lugar escolhido não poderia ser melhor. Candangolândia, a cidade que

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nasceu com a chegada dos primeiros operários que pisaram no Planalto Central, vindos em sua maioria de regiões interioranas do país, para a construção de Brasília. É ali que, há pouco mais de 27 anos, funciona o Clube do Violeiro Caipira de Brasília, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que luta pelo resgate da cultura caipira, através das folias, danças e música. Por meio de encontros de violeiros, rodas de prosa, Folia de Reis e outros eventos tradicionais do interior, o clube

vem exercendo suas atividades, focado na manutenção e divulgação da cultura caipira. Apesar da discriminação e esquecimento que vem tendo, ela está enraizada até mesmo nas cidades grandes. As populações rurais, que um dia migraram para os centros urbanos, trouxeram consigo essa cultura, que sobrevive. Há cerca de um ano essa missão ganhou reforço. Nascia o Núcleo de Ensinamento da Viola, projeto que está na ponta do lápis desde 2013, mas que, por questões burocráticas, só foi lançado em 2018.


As atividades tiveram inicio em março deste ano, com o apoio de emendas parlamentares, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e da Secretaria de Cultura. Hoje, a música caipira não é tão conhecida entre os mais jovens, mas a aceitação do projeto vem sendo grande por parte dos adolescentes, público-alvo do curso. Cerca de 70 alunos de escolas públicas do Distrito Federal, com idades entre 10 e 16 anos, participam das primeiras turmas que funcionam nos quatro núcleos do projeto, instalados no CAUB (Conglomerados Agrourbanos de Brasília, uma região do Riacho Fundo), Planaltina, Ceilândia e Candangolândia. A estudante Carolina de Oliveira Lustosa, 17 anos, integrante do núcleo localizado no CAUB, faz parte das primeiras turmas do Núcleo de Ensinamento da Viola e acha o projeto muito importante, pois, “a música nos dá a chance de expressar tudo o que quisermos. Aqui é através da viola, um instrumento que faz parte da história do Brasil”. Volmi Batista, idealizador do projeto, frisa que, ao contrário do que se imagina, “a viola caipira não é um instrumento necessariamente rural. Hoje a viola já vem sendo explorada de diversas formas, em diversas linguagens da música”. Isso ajuda os adolescentes a explorar outros caminhos, além da música caipira. O curso oferece aos participantes aulas sobre a origem da música e da viola caipira, teoria musical e prática com o instrumento. Todos os alunos receberam os

materiais necessários, como apostilas e violas, disponibilizadas pelo projeto. E os bons frutos desse trabalho já vêm sendo colhidos. Além de apresentações em eventos de escolas da rede de ensino distrital, os alunos também já se apresentaram no plenário do Senado Federal, em evento de comemoração dos 90 anos da música caipira, e no Encontro de Violeiros e Violeiras do DF. Com o encerramento do projeto, que tem duração de seis meses, as turmas de cada núcleo formarão uma orquestra de viola para um show, em local ainda a definir. A intenção parece ser fomentar a cultura caipira e, se possível, formar novos violeiros que mantenham essa tradição.

Mas, para Volmi, isso será apenas o resultado de um objetivo maior. “Às vezes vemos histórias de artistas que começaram, por exemplo, fazendo cerâmica e viraram atores; ou estudaram música e viraram artistas plásticos. A arte é elemento de transformação. Esperamos que esse curso contribua nesse sentido. Se conseguirmos a adesão ao instrumento, será muito bom para nós. Mas se despertarmos outros artistas neles, será tão satisfatório quanto se fossem violeiros”. E assim tocam o projeto. Buscando meios, como parcerias e programas, que ajudem essas raízes a se espalharem, através da criação de novos núcleos e da manutenção dos já existentes.

Carolina: "a música nos dá a chance de expressar tudo o que quisermos".

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DIÁRIODEVIAGEM

Ruínas de Pachacamac, santuário construído no ano 200 a.C.

Seculares tesouros peruanos POR SÚSAN FARIA

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umultuada, misteriosa e vigorosa, localizada à beira do Pacífico, junto ao deserto da Costa e cercada pelos vales dos rios Chillón, Rímac e Lurín, a antiga Ciudad de Los Reyes, fundada em 18 de janeiro de 1535, tem quase dez milhões de habitantes, ou 30% da população do Peru. É a terceira maior cidade da América Latina, atrás apenas de São Paulo e da Cidade do México. Pela segunda vez pisei no solo de Lima. Desta vez, para ficar apenas na capital e conhecer melhor essa grande metrópole, onde ainda se buzina muito e o trânsito é caótico, principalmente nos horários de pico. A hora é de conhecer o Peru, visto que se prevê a ida e volta de Brasília a Lima em três voos semanais diretos, a partir de novembro. Na capital, surpreendime com os vários quarteirões do Mercado Inka, no bairro de Miraflores, e suas centenas de tendas oferecendo brincos, pulseiras, colares e anéis de prata, dos mais variados pesos, designs e preços; assim como blusas, mantas, ponches, xales e pashminas coloridos de lã ou alpaca.

Tendas tranquilas, limpas e boas para compras, nesse espaçoso mercado, próximo ao Parque Kennedy. Conheci tesouros do antigo Peru no Museu Larco, em Pueblo Livre, de propriedade particular. São 45 mil peças arqueológicas em uma casa do Século 18 onde estão joias, adornos, tecidos e vasilhames de mais de 5.000 anos, encontrados em tumbas de sociedades pré-colombianas, anteriores à civilização Inca. Os objetos foram coletados, entre 1933 e 1941, pelo engenheiro Rafael Larco Hoyle, em viagens e escavações em várias regiões do Peru, e inicialmente guardados em uma fazenda da família. Hoje, o moderno museu oferta água aromatizada para beber, gratuitamente, e possui extensões como um luxuoso café-restaurante, com excelente cardápio de comida peruana, loja de souvenirs e uma sala erótica. Nessa sala ou “museu erótico” estão centenas de cerâmicas mostrando casais ou pessoas em poses nada discretas, exalando desejo em rituais de união sexual, alusões à procriação ou em diferentes tipos de acasalamento. Arte mochica, da costa norte do Peru, produzida entre os

séculos 1 e 8. O preço da entrada no Larco varia entre 15 a 30 Nuevo Soles, a moeda peruana (entre R$ 22,50 e R$ 45, aproximadamente). Pachacamac

O santuário, a 35 km de Lima, junto do mar e do Rio Lurín, foi construído em 200 a.C. pelos povos Wari, Lima, Ichma e depois pelos Incas. De Miraflores passamos pelos bairros do Barranco, Surco e Chorrillos até chegar a Lurín e aos 465 hectares de Pachacamac. Lá estão ruínas de edifícios, feitos de tijolo


Convento Santo Domingo, de arquitetura árabe.

santas e muros de mosaicos, imitando obras de Antoni Gaudí em Barcelona. Fui até a Praça do Amor, onde está a escultura O beijo, do artista peruano Vitor Delfin, com 12x3 metros, e ao Shopping Larcomar, moderno e amplo, com grandes vãos ao ar livre, lojas de grifes famosas, discotecas e bons restaurantes. O Parque Keneddy é lugar de referência, com sua feirinha artesanal, jardins bem cuidados e seus mais de 100 gatos. Interessante passar pelo Café de La Paz, em frente ao parque, comer um crepe caprese ou uma refeição peruana.

Fotos: Súsan Faria

com adobe, como o Templo do Sol, O Templo da Lua, a casa das mulheres, a pirâmide, a escola para governantes e ruas por onde peregrinos levavam oferendas aos deuses, entre 1470 e 1533. Durante mais de três horas percorremos de carro e a pé o museu e o santuário. Vimos as cadeiras em pedras onde os grandes chefes observavam o sol, o mar e o sacrifício de mulheres, cujos corpos, amarrados e mutilados (cerca de 200), foram encontrados por arqueólogos. Pachacamac foi o primeiro grande centro de cerimônias e riquezas saqueado pelos espanhóis na América Latina. Hernando Pizarro, irmão do conquistador Francisco Pizarro, exigiu dos líderes locais que lhe entregassem todo o ouro do lugar. Na volta do santuário, administrado pelo Ministério da Cultura do Peru, paramos no bairro boêmio Barranco, bem colorido, cheio de bares, restaurantes e discotecas. Na pracinha, próxima à Ponte dos Suspiros, assistimos a TV Peru gravar um especial em homenagem à compositora peruana Chabuca Granda, autora das famosas canções Fina estampa e Flor de la canela. Hospedei-me sete noites, em setembro, com muito frio, em Miraflores, bairro seguro, onde se pode caminhar pelo Malecón de la Reserva (calçadão e orla da praia), apreciar a brisa do mar, as praças coloridas, os jardins com imagens de

Ainda em Miraflores é possível ver a exposição Britânica, los anos 60, que permanece em cartaz até 8 de dezembro, no Museu Britânico, com entrada gratuita e visita orientada. No centro histórico de Lima, a beleza das igrejas encanta os turistas, como a de Santo Domingo (de arquitetura árabe e azulejos sevilhanos), a Catedral e a La Merced (barroca). No bairro de Surco almoçamos na Hacienda Dpaso, farta comida peruana, seguida de bailes típicos e show com cavalos que dançam, os caballos peruanos de paso, a 95 Nuevos Soles (cerca de R$ 150), sem bebida. Vale muito a pena ir ao Circuito Mágico de Las Águas, no Parque de La Reserva, de oito hectares e estilo neoclássico, onde as fontes de águas bailam coloridas e iluminadas, no compasso de músicas românticas. Saindo de Miraflores, há ônibus direto que segue meia-hora em linha reta até o Circuito. Paguei cerca de R$ 10 (cálculo do câmbio com a moeda local) pela ida e volta mais ingresso, à noite. Contudo, o preço desse passeio nas agências de turismo custa em média US$ 30 para uma pessoa. Em Lima, há que se negociar antes de comprar ou mesmo pegar um táxi, pois quase tudo é caro e dolarizado. No hotel, pedidos no cardápio e uma taxa de administração de 10% do valor da estadia – “aprobada por la municipalidad”, segundo a atendente – são pagos somente em dólar. Compras, claro, são cotadas e podem ser pagas na moeda americana, mas os trocos, bem, muitas vezes lhe dão em Nuevo Sol, a moeda local. Ojos!

Circuito Mágico de Las Águas, em Lima.

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LUZCÂMERAAÇÃO

It - Uma obra-prima do medo, de Tommy Lee Wallace (1990)

Algo espreita lá fora Mostra de filmes baseados na obra do escritor Stephen King exibe no CCBB, até 10 de novembro, nada menos que 41 produções, entre filmes, telefilmes e minisséries. POR SÉRGIO MORICONI

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estre de todos os gêneros que navegam entre o terror, o suspense, o sci-fi e a fantasia, Stephen King é o que ele próprio pode chamar de um fenômeno sobrenatural. Não existe exemplo conhecido, em toda a história da cinematografia mundial, de alguém que tenha tido nada menos que 50 de seus livros transpostos para a grande tela e ainda outras duas dezenas adaptados para a TV. Quem poderia rivalizar com King? Se você pensou em Shakespeare, foi uma boa aposta. O bardo tem hoje 53 de suas peças transformadas em filme. Fazemos aqui uma comparação apenas quantitativa (e um tanto quanto esdrúxula), já que a grandeza literária entre esses dois autores não pode ser comparada. Literariamente, um oceano (real e metafórico) separa Stephen King de Shakespeare. De todo modo, justiça seja feita, não se

pode desconsiderar o enorme impacto que o escritor norte-americano, nascido na cidade de Portland, no Maine, autor de Carrie, a estranha, vem produzindo no cinema popular de entretenimento. Mas, quanto a essa questão que envolve as contraditórias relações entre arte culta e popularesca, o caso King merece algumas considerações. Durante a mostra Stephen King – O medo é seu melhor companheiro, em cartaz no CCBB, os curadores Breno Lira Gomes e Rita Ribeiro decerto vão mexer nessa cumbuca e por isso programaram debates e a masterclass “O horror que nos rodeia: da literatura para o cinema”, ministrada pela própria Rita nos dias 6 e 7 de novembro. Embora seja consensual que o escritor faz literatura de gênero de fácil assimilação, não deixa de ser curioso que cineastas de grande prestígio intelectual fizeram uso de livros de King para criar obras cinematográficas que transcendem

em muito o mero entretenimento. O caso mais emblemático é o de Stanley Kubrick, com O iluminado, ou ainda David Cronemberg, com Na hora da zona morta,

Carrie, a estranha, de Brian de Palma (1976)


Fotos: Divulgação

e, num plano um pouco inferior, Lawrence Kasdan, com O apanhador de sonhos, e Bob Reiner, com Louca obsessão e Conta comigo. Também Brian De Palma, um dos diretores do movimento de renovação de Hollywood nos anos 60/70 do século passado, com certeza tem direito a reivindicar um lugarzinho nessa lista. Mais adiante vamos tratar dos realizadores especializados em cinema de gênero, sejam eles clássicos, cult ou trash. Antes vale mencionar a importância de De Palma. O seu Carrie, a estranha foi que abriu a porteira para as dezenas de adaptações de King que vieram a seguir. O texto que deu origem ao filme foi um marco para o escritor. Vejam só como são as coisas: em 1973, o romance Carrie finalmente havia sido aceito por uma editora. Era o quarto livro que Stephen King havia escrito – os outros três não tinham sido publicados. Ninguém queria saber dele até que a editora Doubleday resolveu apostar naquele até então ilustre desconhecido. Há episódios prosaicos na história. King começou a escrever o que viria a ser Carrie numa máquina portátil que pertencia à esposa, Tabitha King. Ele achava que aquele conto encomendado pela revista Cavalier não ía dar em nada. Zero de pretensão, a ponto de King jogar fora as três primeiras páginas escritas. Foi Tabitha quem as resgatou da lata de lixo e o encorajou a terminar a história, convencendo-o de que ela o ajudaria a dar à história uma perspectiva feminina. O conto então se transforma num romance, o que proporcionaria um adiantamento financeiro da editora. Com o dinheiro, ele adorava dizer, compraria “um Ford Pinto novinho em folha”. Muitos dos relizadores que estão na mostra – os clássicos, cult e trash – nadam como peixes nas águas inspiradoras de King. John Carpenter, com Christine, o carro assassino, George Romero, com A metade negra e Creepshow – Arrepio do medo, Tobe Hooper, com Os vampiros de Salem, são mestres do terror cult. Outros são também dignos de serem vistos pelos amantes do cinema de gênero, estilo Stephen King, inclusive o próprio autor, que resolveu arriscar a se transformar em vidraça ao dirigir (e atuar) em Comboio do terror. Não foi a única vez que saiu da sua zona de conforto. No início dos anos 80, publicou Different seasons, uma coleção de quatro novelas dramáticas que não tinham nada a ver com terror. Três delas

Louca obsessão, de Rob Reiner (1990)

Christine, o carro assassino, de John Carpenter (1983)

foram transformadas em filme. O já mencionado Conta comigo, de 1986 (também na programação da mostra), foi adaptado da novela The body. Nessa mesma década, em 1985, King escreveria seu primeiro trabalho para quadrinhos: X-Men: heroes for hope. Todos os lucros do livro foram doados para ajudar a minimizar a fome em distintos países da África. Ele contaria com a colaboração de vários autores diferentes do campo dos quadrinhos, entre eles Chris Claremont, Stan Lee e Alan Moore. Não foi a única ação altruísta dele. Stephen King é um dos norte-americanos ricos que reivindicam maiores impostos para aqueles que se encontram em posição social e finaceira privilegiada. Acha isso “uma necessidade prática e um imperati-

vo moral. Aqueles que recebem muito devem ser obrigados a pagar na mesma proporção”. Em 2008, manifestou seu apoio à candidatura de Barack Obama e, além de criticar duramente o ultraconservador Tea Party, fez coisas do arco da velha como, por exemplo, chamar um comentarista de TV conservador de “desequilibrado com problemas mentais, o irmão mais novo de Satanás”. Para Stephen King, muitas das vezes o verdadeiro horror está do lado de fora das salas de cinema. Stephen King – O medo é seu melhor companheiro

Até 10/11 no CCBB (SCES, Trecho 2), com ingressos a R$ 5. Programação em http://culturabancodobrasil.com.br/portal/ distrito-federal.

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Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

O que o balcão me ensinou

A

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ntes de eu ficar atrás de um balcão de comércio, considerava a atividade comercial uma das facetas mais deploráveis do capitalismo. Comerciante era um mero atravessador que queria se dar bem sem produzir nada. Não me considero exatamente maleducada, mas sempre que entrava em uma loja, qualquer que fosse ela, da farmácia à joalheria, me sentia pondo os pés num ambiente irremediavelmente contaminado pelas artimanhas insidiosas do capitalismo selvagem. Isso acontecia mesmo no tempo em que era consumidora compulsiva – e como fui, quando tinha um salário gordo na conta bancária e um vazio obeso dentro de mim. De quantas contradições somos feitos? Um dia, um amigo-cliente-comerciante me disse: “A esquerda não dá valor ao comerciante. Os comunistas, então, acham todos uns ladrões da maisvalia do proletariado. Mal sabem o quanto a gente humaniza as cidades, encadeia relações, cultiva amizades, fortalece a vizinhança”. Ainda neófita no comércio, pensei que talvez houvesse certo exagero na defesa febril que o amigo fez dos comerciantes. O tempo... sempre ele...

me fez perceber que ele sabia de tudo. Naqueles mesmos dias, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad dizia numa entrevista que ele tinha tido duas escolas, a Universidade de São Paulo e o balcão da loja de tecidos do pai na 25 de Março. O balcão de uma loja é um lugar privilegiado para se conhecer a alma humana. O balcão é quase um divã. As lojas são ancoradouros de solidões, de desesperos, de dúvidas e não poucas vezes um abrigo onde o cliente pode desaguar todas as suas amarguras e suas veleidades. Com o tempo, quem está atrás do balcão consegue perceber quem é o cliente só de ele entrar na loja. Não é a roupa, a bolsa, o relógio ou a carteira que revelam a alma do suposto comprador. É o jeito de olhar, se dá bom dia ou não, as perguntas que eventualmente faz e, mais do que tudo, o modo como abre a carteira, pega o cartão, se relaciona com a máquina e com o (a) balconista. Logo que cheguei à 308 Sul, quatro anos atrás, meus ajudantes me contavam episódios inacreditáveis. Certo dia, uma cliente parou o carro do outro lado da pista e esperou que a vendedo-

ra fosse lá saber quais eram seus desejos. A garota foi, do jeito dela, calmo e devagar. Quando se aproximou da janela do carro, a motorista saiu-se: “Bom, pelo menos você tirou a bunda da cadeira”. Sem contar as grosserias por telefone ou a cliente que queria que a moça descrevesse pra ela, via fone, todos os componentes de cada um dos chocolates. Ou a outra que queria que eu dissesse se o picolé zero calorias era adoçado com sucralose, aspartame ou stevia, e eu lá procurando a resposta nas letrinhas miúdas da embalagem. Ou a turista francesa que me tratou como se eu fosse uma brasileira corrupta travestida de balconista. O contato entre dois desconhecidos, um deles sabendo que tem o domínio sobre o outro, um objeto de desejo sendo oferecido e a intermediação do dinheiro (esse oráculo da alma humana), tudo junto resulta num contato muito complexo e delicado, embora fugaz. Atrás do balcão fiz mais amigos do que jamais imaginei que faria já nesta terceira fase da vida, e aprendi sobre o humano mais do que os muitos anos de jornalismo. E me livrei de um preconceito.


O GDF está reformando todos os hospitais públicos.

Vinícius de Melo/Agência Brasília

R$ 43 milhões para recuperar os 18 hospitais do DF.

Os hospitais públicos e outras unidades de saúde do DF estão recebendo investimento de peso. O GDF está revisando as instalações elétricas e hidráulicas, trocando e consertando equipamentos, pisos e forros, recuperando leitos e fazendo inúmeros reparos. Ao todo, estão sendo investidos mais de R$ 43 milhões. E todos os hospitais do DF serão atendidos. Tem muito ainda para fazer, mas, pouco a pouco, a Saúde do DF está começando a melhorar.

Com mais espaço e mais conforto, nossos pacientes se sentem muito melhor. Marli Vieira Nunes

Auxiliar de enfermagem - HMIB

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99532-1873

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