Livro Baden Baden 30 Anos

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A TRAJETÓRIA DO

BADEN BADEN NA HISTÓRIA DE CAMPOS DO JORDÃO




A TRAJETÓRIA DO

BADEN BADEN NA HISTÓRIA DE CAMPOS DO JORDÃO


A velocidade da mudança Em 30 anos muito pode mudar. Após a inauguração da SP-123 em 1978, Campos do Jordão passou por grandes transformações. A cidade mudou completamente sua paisagem, sua cultura e seus hábitos. A famosa Vila Capivari viu a cada ano seu cotidiano ser alterado por novos empreendimentos que buscaram se estabelecer no lucrativo mercado turístico da cidade. No carnaval de 1985, o município assistiu ao surgimento de um novo cartão postal da cidade, o Boulevard Genève, onde o Baden Baden aparecia como estrela mais brilhante. A choperia tem vivenciado momentos maravilhosos desde então e experimentado visíveis mudanças que expandiram seu interior e seu exterior; mas, no fundo, a arte de atender, de servir e de compartilhar emoções únicas com seus clientes permaneceu intacta. Descobriremos, nas páginas a seguir, que a história do restaurante se confunde com a de seu criador, o empresário José Vasconcelos Rosa. Carismático e cativante, Vasco é um tipo especial de pessoa, uma figura rara, daquelas que fazem tudo ao seu redor se transformar usando apenas o amor. É por isso, caro leitor, que você está convidado a seguir viagem por uma história rica em diversão e conteúdo. Aqui você não encontrará apenas a trajetória de um restaurante, mas sim de uma cidade, de grandes homens, de conquistas e, acima de tudo, mergulhará em histórias de vida!

Wagner Rosa

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Uma história de gratidão Em 1985, estávamos morando em Campos do Jordão há apenas dois anos. Tínhamos acabado de recuperar o Restaurante Capivari, que estivera mal administrado por mais de dez anos. O esforço despendido nos mostrou que seria possível encarar novos desafios. Nesse período, o Boulevard Genève estava em construção e fomos convidados a ver um ponto para alugar. Observando os detalhes em enxaimel desta construção maravilhosa, decidimos pela instalação de uma casa alemã. No carnaval de 1985 inauguramos o Baden Baden e desde então temos vivenciado dias de muita alegria com esse empreendimento. Centenas de pessoas deram sua importante colaboração para a construção do nome Baden Baden nesses anos. Amigos e frequentadores assíduos têm desfrutado de momentos maravilhosos nesse espaço tão especial de Campos do Jordão. Em 1999, cansados de servir cerveja e chopp de qualidade abaixo de nossas expectativas, decidimos por um novo empreendimento. Assim nasceu a Cervejaria Baden Baden, a primeira mini-indústria de cerveja premium gourmet do Brasil. Vivenciamos grandes momentos com a produção de chopp e de cerveja da mais alta qualidade, com grande variedade de tipos até então inéditos no Brasil. Obtivemos o apoio de admiradores importantes do mercado cervejeiro, da imprensa especializada e de chefs gourmet, que, com sua maestria, fizeram as mais especiais combinações. Atualmente, a Cervejaria Baden Baden pertence ao Grupo Brasil Kirin, que continua investindo na qualidade e na variedade das saborosas cervejas gourmet, reconhecidas e premiadas em diversos concursos internacionais. A todos, colaboradores, fornecedores, admiradores, imprensa, clientes e amigos que fizeram e fazem o Baden Baden: Obrigado, obrigado, obrigado!!!

José Vasconcelos Rosa

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CHOPERIA BADEN BADEN, A CASA ALEMÃ DE CAMPOS DO JORDÃO JOSÉ VASCONCELOS ROSA DIEGO MOLINA www.obadenbaden.com.br Rua Djalma Forjaz, 93, loja 10 - Vila Capivari Campos do Jordão SP

www.livrarte.com EDITOR WAGNER ROSA wagner@livrarte.com COORDENAÇÃO DE PROJETOS ANA BEATRIZ TOLEDO TEXTOS MATEUS FERNANDES PROJETO E DESIGN GRÁFICO FELIPE ROSA YURI PINTO LUAN ZANCANELLA FOTOGRAFIA GIL RENNÓ ACERVO BADEN BADEN ACERVO BOULEVARD GENÈVE ACERVO LIVRARTE REVISÃO E PADRONIZAÇÃO ADRIANA HARGER COLABORARAM COM ESTA PUBLICAÇÃO EDMUNDO FERREIRA DA ROCHA, PEDRO PAULO FILHO, GLADSTONE CAMPOS, MARCO TIÊ, MARILDA MOLINA, CARLOS HAUSER, ALESSANDRA ROSA, LÉLIO GOMES, DIEGO MOLINA, MARCELO MOSS, WANIA BACHMANN, ANA MARIA HERRERA, RICARDO CASTELFRANCHI, GRUPO BRASIL KIRIN, ANNE ELISE SILVA, RODRIGO ISMAEL © LIVRARTE LIVROS ESPECIAIS, HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS, 2017

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08 Antes do Baden Baden

38 Tempo de Baden Baden

108 Futuro Baden Baden

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ANTES DO BADEN BADEN

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1703

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1982


NO ALTO DA SERRA DA MANTIQUEIRA SURGE A CIDADE DE CAMPOS

DO JORDÃO, BERÇO DO RESTAURANTE ALEMÃO

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O CAMINHO Quando se está ao pé da Serra da Mantiqueira, não se imagina que a região acompanhou, ao longo dos anos, episódios que marcaram época, como as bandeiras portuguesas, a disputa por terras entre paulistas e mineiros, a Revolução de 1932, o combate à tuberculose e a expansão do mercado turístico no país. O caminho para se tornar um dos principais destinos do Brasil foi longo para a cidade de Campos do Jordão. Em busca de ouro na região, em 1703, o sertanista Gaspar Vaz da Cunha, foi o primeiro a atravessar as terras locais, vindo do Vale do Paraíba, em direção a Minas Gerais. Encantado com a paisagem, o bandeirante abriu trilhas para que, em 1771, Inácio Caetano Vieira de Carvalho subisse a Mantiqueira, em direção ao Pico do Itapeva, vindo de Taubaté. Com a família, viveu na região durante 18 anos, fundando a Fazenda Bom Sucesso, a partir da concessão de uma sesmaria, autorizada pelo Governador da Capitania de São Paulo. Lutando pelas divisas de terra contra seu vizinho João da Costa Manso, da Fazenda São Pedro, que ficava em área de Minas Gerais, os feitos de Inácio tornaram Campos do Jordão território do Estado de São Paulo. Com a morte do fazendeiro, em 1823, seus herdeiros hipotecaram a fazenda ao Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, que passou a chamá-la de Fazenda Natal. Pela referência ao seu proprietário, logo passou a ser conhecida como “os campos do Jordão”. Ao longo do tempo, o município construiu um legado histórico que foi erguido por pessoas que depositaram nessas montanhas força, tempo e capacidade de derrubar barreiras. Outro importante nome chegou aqui em 1874 e trabalhou pela criação do vilarejo: Matheus da Costa Pinto foi um português radicado em Pindamonhangaba que decidiu adquirir terras no alto da Serra da Mantiqueira depois de ouvir falar sobre o poder curativo do clima da região. Considerado o fundador de Campos do Jordão, Matheus foi um empreendedor nato. Ergueu a Pensão São Matheus, em 1878, para receber viajantes, negociadores de gado e tuberculosos à procura de cura para os pulmões. Apenas um ano depois, ampliou a pensão, transformando-a no Hotel São Matheus do Imbiri. Mesmo vivendo em uma época de poucos recursos, o português investiu no progresso do povoado que estava começando e, no mesmo ano de 1878, construiu a primeira escola. Um ano mais tarde, decidiu que o povo também precisava de um lugar para celebrar as missas e edificou a capela Nossa Senhora da Saúde. Não satisfeito, ele desejava facilitar a chegada das pessoas ao alto da serra. À época, a dificuldade era enorme para os doentes que precisavam subir as montanhas a pé ou a cavalo. Ele, então, criou um sistema de transporte, em 1889, para que os mais debilitados de saúde subissem em macas ou cadeiras carregadas por cavalos, uma tecnologia muito útil para os muitos tuberculosos que procuravam milagres no clima jordanense. Com um espírito nobre, Matheus escreveu um importante capítulo da história de Campos do Jordão.

Matheus da Costa Pinto abriu os caminhos para o povoado de São Matheus do Imbiri e levou o progresso para aquela região tão isolada, transformando a trilha que existia em meio à mata em uma boa estrada para cavalos

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Por volta de 1891, chegou à Vila de São Matheus do Imbiri o médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho. Natural do Ceará, ele comprou as terras de Matheus da Costa Pinto e de alguns outros proprietários da região. Diferente do que o fundador havia feito pelo vilarejo, construindo obras essenciais à população, Domingos Jaguaribe foi um dos maiores divulgadores do nome de Campos do Jordão e de seus benefícios. Um político muito influente, Jaguaribe escrevia artigos para grandes jornais, como o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, proclamando as riquezas que ele havia encontrado no alto da Serra da Mantiqueira. Inclusive, foi ele quem criou o termo Suíça Brasileira, em alusão ao clima dos Alpes Suíços, propício à cura da tuberculose. O desejo de que o município prosperasse era tão grande que uma de suas iniciativas foi trazer uma comitiva de ilustres homens, entre eles Theodoro Sampaio, para desenvolver um projeto que propunha a mudança da capital do Brasil para Campos do Jordão. Eles acreditavam que a proximidade com São Paulo e Rio de Janeiro, a beleza natural, as diversas fontes de águas cristalinas e o clima eram atributos mais do que suficientes para a construção da Capital Federal no alto da serra. Jaguaribe foi um homem visionário que usou sua posição social em favor da terra que tanto amava. Aos poucos o município ganhava admiradores em todas as partes e a fama do clima frio com poderes curativos se espalhava. Campos do Jordão preparava-se para entrar em uma nova era.

A partir dos estudos do pesquisador Clemente Ferreira sobre o clima jordanense, Domingos Jaguaribe (retrato maior à esquerda) decidiu investir na capacidade curativa da Serra da Mantiqueira e contratou os trabalhos do geógrafo Theodoro Sampaio (retrato menor), para promover Campos do Jordão como um local possível de se tornar a capital do país. O trabalho de Theodoro se transformou em uma publicação, como mostra a reprodução acima, mas os planos de Jaguaribe não se concretizaram

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha

Neste retrato da Vila Jaguaribe do final dos anos 1910, observam-se os primeiros caminhos abertos no bairro. O principal deles, a Avenida Eduardo Moreira da Cruz, permanece com o mesmo trajeto atĂŠ os dias atuais

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UMA MONTANHA MILAGROSA Em busca de cura, descanso ou oportunidade, homens como Matheus da Costa Pinto e Domingos Jaguaribe fincaram raízes em Campos do Jordão, fascinados pelas montanhas e suas belezas. A cidade foi, para muitos, um paraíso, um local onde os sonhos tornavam-se realidade. Tudo começou ainda no século XIX, quando o poder curativo do clima passou a ser conhecido na região e chegou a todo o país. À época, o Brasil vivia uma epidemia de tuberculose e os doentes procuravam por uma alternativa de tratamento no clima do alto da Serra da Mantiqueira. Em 1882, pouco tempo depois da chegada do fundador Matheus da Costa Pinto, um médico recém-formado chamado Clemente Ferreira esteve na região para estudar as características terapêuticas do clima jordanense, constatando efetivamente seus benefícios. Com os resultados da pesquisa, ele escreveu uma dissertação com o título “Contribuição para o Estudo do Valor Profilático e Terapêutico do Clima de Campos do Jordão” e, assim, o tratamento da tuberculose através do clima, ou “climatoterapia”, foi ganhando popularidade e reconhecimento.

Matheus da Costa Pinto foi um dos homens que mais acreditou no futuro de Campos do Jordão. Até hoje, muitos investimentos realizados por ele para o progresso do povoado continuam de pé. Seus feitos lhe renderam uma homenagem: o monumento à memória do fundador, localizado na Vila Jaguaribe (imagem acima). Ao lado, a pintura “Capela de São Matheus do Imbiri”, da década de 1970, do artista Camargo Freire, que retrata a capela edificada por Matheus

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Foto: Acervo Edmundo Rocha Acima, a Vila Jaguaribe no início do século XX. É possível notar a Igreja de Nossa Senhora da Saúde ao fundo, próximo ao Hotel Mello e ao Hotel Imbiri. Abaixo, a Escola Domingos Jaguaribe, prédio histórico, inaugurado nos anos 1930, que até hoje mantém sua arquitetura tradicional

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha

O clima jordanense foi ganhando fama e, por isso, muitas pessoas entraram na luta para facilitar a chegada dos necessitados à cidade. O percurso do pé da serra até o alto das montanhas era longo, difícil e perigoso. Foi então em 1880 que o Governo da Província recebeu o primeiro pedido de construção de uma ferrovia até Campos do Jordão. Durante muitos anos, outras solicitações foram expedidas, até que os médicos Emílio Ribas e Victor Godinho entraram na história e conquistaram o feito inédito. Eles conseguiram, em 1908, a liberação de uma verba do Governo do Estado para a construção de sanatórios destinados ao tratamento da tuberculose e definiram que o lugar ideal para isso seria Campos do Jordão. Porém não haveria possibilidade de realizar tais obras se não houvesse um meio de transporte até a cidade. Construir os hospitais e receber os doentes que eles esperavam atender seria impossível naquelas condições. Baseados no parecer do Doutor Clemente Ferreira, os médicos Emílio Ribas e Victor Godinho continuaram a lutar e, no dia 25 de outubro de 1911, uma lei foi assinada autorizando a construção da ferrovia partindo de Pindamonhangaba. Em maio de 1912, nasceu a Sociedade Anônima Estrada de Ferro Campos do Jordão, comandada pelos dois médicos e por outros ilustres homens da sociedade, com um capital inicial de dois mil contos de réis e um empréstimo de mais quatro mil contos.

O português Sebastião de Oliveira Damas é uma das mais icônicas figuras da construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Em meio à crise financeira e aos problemas de empréstimo com o Governo Estadual, o empreiteiro da obra retornou para sua terra natal, vendeu todos os bens e bancou sozinho o final da empreitada

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Para comandar as obras, contrataram o experiente empreiteiro português Sebastião de Oliveira Damas. As obras transcorreram muito bem até o trecho de Santo Antônio do Pinhal, quando os rumores da Primeira Guerra Mundial surgiram. Uma crise econômica tomou os países da Europa e os médicos não obtiveram mais empréstimos para terminar o percurso. A Sociedade Anônima decidiu, então, pedir ao Governo do Estado a estatização da estrada para conseguir terminar as obras. Enquanto a resposta não chegava, Sebastião se tornou o herói da história. Ele não deixou que os serviços parassem: usou recursos próprios e inclusive hipotecou seus bens para terminar o trajeto e permitir a viagem dos desesperados por uma chance de vida. A Estrada de Ferro Campos do Jordão foi oficialmente inaugurada no dia 14 de novembro de 1914, quando os trilhos chegaram à Vila Nova (atual Abernéssia). O Governo veio a comprar a ferrovia somente um ano depois, pagando um valor irrisório ao empreiteiro e à Sociedade Anônima. Sebastião de Oliveira Damas não recebeu o valor que havia investido e acabou perdendo todos os seus bens, hipotecados em favor de toda a sociedade.

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Ao longo dos anos, a Estrada de Ferro Campos do Jordão se tornou uma marca registrada da cidade, transformando o meio de transporte em uma atração turística do município


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22 Baden Baden Fotos: Acervo Edmundo Rocha


Um dos principais nomes da luta contra a tuberculose na cidade foi José Vita, o Padre Vita. Seu trabalho e empenho na construção do Sanatório São Vicente de Paulo, destinado a crianças com tuberculose foi um importante feito no combate à doença

A abertura da estrada de ferro facilitou o acesso e transformou o vilarejo em cidade, passando a abrigar pensões e sanatórios destinados ao tratamento da tuberculose. No início, eram apenas algumas poucas pensões: a Pensão Azul e a Pensão Sans-souci (na Vila Abernéssia), a Pensão Báltica (na Vila Jaguaribe) e a Pensão Inglesa (na Vila Inglesa). Depois, durante a década de 20, outras tantas também abriram suas portas. Em 1929, foi inaugurado o Sanatório Santa Cruz, o primeiro hospital especializado no tratamento da doença. A partir da década de 1930, a expansão do combate à doença culminou com o surgimento de vários sanatórios como Ebenézer, Santos, Bandeira Paulista, Sírio, Mercês, Santa Clara, São Cristóvão, além do Sanatório Casa da Criança e do Sanatório São Vicente de Paulo, obras do Monsenhor José Vita, que atendiam crianças doentes. O prazo para a cura dos doentes variava de seis meses até dois anos. Nos anos 30 e 40, durante o auge da tuberculose, o tratamento consistia no regime higiênico-dietético, ou seja, repouso, higiene e boa alimentação. Paralelamente, os pacientes faziam uso de medicações sem comprovação de eficácia, como o óleo de fígado de bacalhau, que é rico em vitaminas A e D. Anos mais tarde, ficou comprovado que o clima não era o fator determinante para o tratamento da doença. Mas, por mais que a cura da tuberculose estivesse ligada somente ao repouso e a uma alimentação balanceada, sem a crença na influência do clima, milhares de doentes não teriam obtido os mesmos resultados. O clima tem o poder de mudar um povo, seus hábitos e sua cultura. A partir da luta contra a tuberculose, Campos do Jordão nunca mais foi a mesma. Com a chegada de doentes vindos de todas as partes do país, o cotidiano se modificou. Alteraram-se a arquitetura, os costumes, as vestimentas e, principalmente, a relação da cidade com seus habitantes. Campos do Jordão se tornou uma terra apaixonante, paixão essa que cativou diversos visitantes a permanecerem em terras jordanenses.

À esquerda, uma fotografia da Vila Abernéssia, na década de 1940. Ao fundo é possível identificar a Casa da Criança, local idealizado pelo Padre Vita para os cuidados às crianças enfermas. Acima, está o Preventório Santa Clara, outro importante local de recuperação de doentes e, à direita, freiras locais em tratamento contra a tuberculose

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha A Casa da Criança teve papel decisivo no tratamento de crianças com tuberculose em Campos do Jordão. Coordenado por Padre Vita, o local, inicialmente, era um pavilhão de madeira que, com muito esforço, foi transformado em um prédio de três andares com capacidade para atender até 250 crianças em 1946

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Grandes protagonistas da história jordanense, os sanatórios fizeram parte de um período de assistência social prestado por Campos do Jordão à população brasileira. Nas fotos acima, da esquerda para a direita, o Sanatório S3 e o Sanatório São Paulo. Abaixo, o Sanatório S2 e o Sanatório São Vicente de Paulo

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Com o crescimento no atendimento aos doentes de tuberculose, diversas pessoas estiveram em tratamento no município. Entre eles, grandes mestres como Nelson Rodrigues e Mário de Andrade, além de um pintor que se apaixonaria pelas belezas da Serra da Mantiqueira: Expedito Camargo Freire (1908-1991). A vida do artista certamente ganhou novos ares quando o campineiro se mudou para Campos do Jordão. Mais certo ainda é o valor cultural de suas obras inspiradas na paisagem da cidade. Em Campinas, o artista deu seus primeiros passos relacionados às artes plásticas e, pouco depois, já passou a fazer parte do grupo que fundou a Academia Campineira de Pintura. Autodidata, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda na adolescência. Em meados da década de 1930, Camargo Freire passou a compor o seleto grupo de artistas integrantes do Núcleo Bernardelli do Colégio Liceu de Artes e Ofícios, na capital carioca. Pouco depois, adoeceu com tuberculose e foi orientado a se transferir para Campos do Jordão, a fim de ter acesso a um clima mais favorável ao tratamento e à cura da doença. Camargo Freire chegou à “Suíça Brasileira” em 1941 e ficou internado no Sanatório Ebenezer. Durante algum tempo, dedicou-se à observação do ambiente e à integração com seu novo lar. Certa vez, movido pela curiosidade de saber o que se avistava por detrás de um morro próximo ao sanatório, escapou por algum tempo do resguardo e foi até o cume. Ficou impressionado com a beleza do lugar e, voltando, pintou seu primeiro quadro retratando Campos do Jordão. Depois de curado, fixou-se definitivamente na cidade e não parou mais de retratá-la. Participou de inúmeros concursos e ganhou mais de 30 prêmios com seus quadros. Algumas obras de Camargo Freire pertencem a importantes museus, como o Museu de Olinda, o Museu Nacional de Belas Artes e o MASP. Integrou a Sociedade Brasileira de Belas Artes e durante alguns anos frequentou a Escola Nacional de Belas Artes e a Académie de la Grande Chaumière de Paris, além de ter sido aluno da Aliança Francesa, onde ganhou um concurso de cartazes para alunos estrangeiros. Atuou por um longo período como professor na rede pública de ensino local. Nos últimos anos de sua vida Camargo Freire foi diagnosticado com arteriosclerose, uma doença degenerativa, e veio a falecer em 1991, aos 82 anos. 26

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Por conta do tratamento da tuberculose, diversos artistas se hospedaram no município e se apaixonaram por suas belezas. Entre eles estava o pintor Camargo Freire


Com traços bem característicos, as obras de Expedito Camargo Freire foram cultuadas em diversas partes do país. Com um estilo peculiar de retratar as cenas jordanenses, seu trabalho levou Campos do Jordão para os principais museus brasileiros

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A INFLUÊNCIA ALEMÃ Com o trabalho de combate à tuberculose, a cidade começou a se tornar não só um refúgio de doentes pulmonares, mas também uma referência turística entre as principais famílias paulistanas. Aos poucos o turismo foi se desenvolvendo, hotéis foram sendo criados e novos mercados começaram a se expandir no município. A qualidade do setor turístico e gastronômico melhorou graças à chegada de alguns imigrantes a Campos do Jordão. Uma história incrível desse período – e talvez pouco conhecida – é sobre os alemães do Windhuk. Os tripulantes do transatlântico Windhuk, em 21 de julho de 1939, saíram de Hamburgo, na Alemanha e, após escalas na África, foram alertados sobre o início da Segunda Guerra Mundial. O capitão recebeu ordens para seguir em direção ao porto de algum país neutro e aguardar o desfecho do conflito; assim, se dirigiu para a Baía Blanca, na Argentina. Infelizmente, o combustível não foi suficiente e o Windhuk teve que desembarcar na costa brasileira. Quando soube que a região do Estado da Bahia estava cheia de cruzadores ingleses, a tripulação começou a pintar o navio nas cores das embarcações japonesas - uma tentativa de despistar os inimigos, já que o Japão ainda não estava envolvido no conflito mundial. Quando o Windhuk alcançou as águas de Santos, em 7 de dezembro de 1939 e os funcionários do porto viram que a tripulação era loira e de olhos azuis, desataram a rir. Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, esses alemães não tinham destino certo. Não conseguiam voltar para sua terra natal, destruída pela guerra. Estabelecidos em campos de concentração nas cidades de Guaratinguetá e Pindamonhangaba, o endereço mais seguro para alguns foi Campos do Jordão, uma cidade, à época, carente de mão de obra para a recente rede hoteleira que se formava, representada pelo Toriba (1943) e pelo Grande Hotel (1944). Como muitos desses tripulantes tinham especializações em diversas áreas, seus empregos estavam garantidos nos hotéis da cidade. Locais como o prestigioso Grande Hotel, comparado na época ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, recebeu grande parte desses especialistas alemães. Cerca de 80% dos funcionários do hotel eram germânicos e em alguns setores, o alemão era a língua oficial. A excelência profissional dos tripulantes do navio ajudou a transformar o setor na época e Campos do Jordão passou a ter um atendimento de primeiro mundo.

Após o fim da Segunda Guerra, em 1945, um grupo de alemães encontrou destino certo na rede hoteleira de Campos do Jordão

Com 176 metros de comprimento, 22 de largura e 9,6 de calado, o navio Windhuk foi construído, em 1936, pelo estaleiro Blohn & Voss, de Hamburgo

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Com tradição em servir com qualidade, os hotéis da cidade são referência em turismo e gastronomia no país. Nesta página, uma foto do Grande Hotel, um dos mais sofisticados empreendimentos turísticos da cidade

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Com a influĂŞncia europeia, as moradias locais se adaptaram ao clima frio e criaram um novo modelo de arquitetura local, transformando-se para sempre em marca registrada da cidade

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha

Construções como o Hotel Toriba (acima) e a Igreja de São Benedito (direita) são exemplos da inovação na arquitetura local. Já as residências tradicionais estão em extinção no município, como as casas da Vila Ferraz (esquerda), que estão desaparecendo em meio a novos prédios e áreas comerciais

A partir do ciclo do turismo, com a criação de hotéis como o Toriba, a cidade ingressou em uma nova tendência, na qual a arquitetura passou também a ser protagonista. A variedade de formas e influências criaram novos cenários para o município, a partir da chegada de novos inquilinos de diversas partes do mundo. Buscando se aproximar da arquitetura dos países mais frios da Europa, inicialmente, as construções locais usavam em abundância a matéria-prima presente na cidade: os pinheiros. Com a madeira, eram feitos o assoalho, suspenso, com porão, para manter o piso longe da umidade do solo, e as paredes, com tábuas verticais, evitando que a água das chuvas entrasse pelas frestas, além das esquadrias e dos batentes das janelas. O telhado era geralmente desenhado com duas águas, feito de telhas francesas, material que era trazido com muita dificuldade para o alto da serra. Outro legado do período da tuberculose foi a introdução das venezianas, com a ideia de facilitar a circulação do ar, evitando assim a disseminação da doença. Todo o processo era completamente artesanal, oferecendo uma visão rústica, porém bela para as residências e hotéis. A cidade despontava no interior do estado com um clima único e uma arquitetura diferenciada. O ciclo do turismo se expandia e, com ele, a fama de Campos do Jordão como refúgio semelhante à Europa. A partir do desenvolvimento do povoado, a facilidade de acesso a outros tipos de materiais expandiu o mercado da construção. Aos poucos outras ideias arquitetônicas foram se tornando grandes ícones locais, como o enxaimel e os grandes chalés, o que acabaram por consolidar o título de “Suíça Brasileira”. 30 Anos de Alegria

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As tradições das escolas europeias são percebidas com facilidade na paisagem da cidade. Década a década, agregando referências de diferentes regiões, Campos do Jordão caracterizou-se por uma arquitetura de cenário que não necessariamente tem um sentido funcional, mas que busca o prazer estético da reprodução estilística

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Nos anos 1950, o trabalho do arquiteto e urbanista Oswaldo Bratke marcou a introdução do modernismo no bairro Jardim do Embaixador, em Campos do Jordão. Bratke teve um plano muito ousado para a época, pretendendo povoar a região por meio de residências simples e funcionais, com o uso dos característicos telhados em “meia água”

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A INDÚSTRIA DO FRIO A partir da inauguração de hotéis como o Toriba e o Grande Hotel, na década de 1940 e 1950, por força dos investimentos do Embaixador Macedo Soares nas terras da Vila Capivari, a cidade se transformou em um local de requinte turístico durante as férias. No começo dos anos 60, o município começou a promover eventos para atrair mais turistas, como as Temporadas Hípicas de Inverno, que reuniam as melhores expressões nacionais de hipismo. A iniciativa rendeu bons resultados e passou a fazer parte do calendário anual de Campos do Jordão com apoio da prefeitura. Era uma época em que muitos visitantes mantinham cavalos em haras da cidade, o que movimentava a economia e incentivava a vinda de turistas. Paralelamente, nos anos 1950, aproveitando o movimento dos meses mais frios do ano, nasceu a indústria da malha pelas mãos de Giovanni e Ana Zoffoli, um casal de italianos que, imigrando para o Brasil, começou a produzir malhas em Campos do Jordão. Até aquele momento só era possível encontrar malharias em grandes cidades como São Paulo. A Malharia Italiana, como era chamada a loja de fábrica do casal Zoffoli, cresceu conquistando mais e mais clientes. Com a fama do comércio de malhas, outras pequenas fábricas foram surgindo pela cidade. Durante os anos 70, a cidade viveu o auge da indústria do frio. Eram mais de 200 fábricas e lojas de malhas localizadas em vários bairros da cidade. A fama da qualidade das malhas jordanenses chegou a várias partes do país e a cidade se tornou referência no produto. Muitas marcas surgiram nessa época, inclusive a Genève, em 1973. Usar uma malha jordanense era sinal de ‘status’ na época. Entre as malharias da época estavam Alves, Magda, Zé Baú, Legal, Monte Castelo, Jordanense, Mariza, Rodrigues, Setúbal, Paloma, SEA, Jean Janine, Pinotti e Vila Inglesa. No mesmo período, com a inauguração do Palácio Boa Vista, em 1970, Campos do Jordão foi agraciada com a criação do Festival Internacional de Inverno. Um evento de música erudita, que se tornaria, ao longo dos anos, o mais

Foto: Acervo Edmundo Rocha

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Giovanni Zoffoli é um dos principais nomes da história da malharia jordanense, setor que cresceu em Campos do Jordão a partir da década de 1950. Os produtos da Malharia Italiana chegaram até as passarelas de estilistas como Dener Pamplona

Durante os anos de 1960 até 1980, Campos do Jordão foi palco de grandes eventos de hipismo, como o Campeonato Bayer de Hipismo e o II Campeonato Brasileiro do Cavalo Árabe


respeitado em toda a América Latina, perpetuando-se por anos e anos. A venda de malhas na cidade impulsionou a criação de um mercado inteiro relacionado a produtos de inverno. O chocolate, que surgiu na cidade em julho de 1979 no caminho da Vila Inglesa, com a inauguração da loja e fábrica do Chocolate Montanhês, conquistou seu espaço. O frio e o chocolate formaram um casal perfeito e outras marcas foram criadas, como o Toco Chocolate e o Chocolate Araucária em 1991, o Sabor Chocolate em 1990, entre tantos outros. O mercado não parou de crescer e de evoluir. Utilizando-se inicialmente a SP-50 como principal via de acesso, o caminho ainda era longo para se chegar ao município. Com a inauguração da Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, a SP-123, em 1978, a distância da capital paulista até o alto da serra passou a ser de apenas duas horas, o que transformou para sempre a história da cidade. O fluxo de turistas, que já era grande, aumentou consideravelmente, facilitando a visita das diversas classes sociais a Campos do Jordão. A moderna estrada de rodagem, além da segurança da viagem, trouxe para os visitantes a oportunidade de transformar ainda mais o município em um refúgio de beleza e requinte. A renovação do turismo estava apenas começando na Serra da Mantiqueira. E um novo episódio começava a ser escrito nos anos 1980, com a inauguração de um ilustre centro de compras no coração da Vila Capivari. Com ele, o destino traria a Campos do Jordão uma importante choperia alemã, a Baden Baden. 30 Anos de Alegria

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha

Idealizada nos anos 1950 pelo engenheiro agrônomo Shizuto Murayama, a Festa Nacional da Maçã foi um evento que marcou época na cidade, atraindo a atenção dos principais veículos de comunicação do país, como o jornal “O Estado de S. Paulo” e a revista “O Cruzeiro”. Era uma época de visitas ilustres, como a do presidente Getúlio Vargas e do governador paulista Adhemar de Barros

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Organizado a partir de 1970, o Festival de Inverno de Campos do Jordão é um dos eventos de maior prestígio da música erudita na América Latina

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TEMPO DE BADEN BADEN

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NO CARNAVAL DE 1985,

A CHOPERIA

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Fotos: Acervo Edmundo Rocha Em foto do final da década de 1910, a Vila Capivari, que começava a ser ocupada e seu traçado definido. Nascia uma grife na cidade

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Na fotografia da dĂŠcada de 1930, a Vila Capivari ostentava um charme diferente das movimentadas temporadas de inverno atuais

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A CHOPERIA Em meio ao crescimento do mercado turístico na cidade, Campos do Jordão se preparava para uma nova era, graças à abertura de um shopping center e de um restaurante: o Boulevard Genève e o Baden Baden. José Antônio Vasconcelos Rosa, mais conhecido como Vasco, é o homem por trás da choperia Baden Baden. Nasceu na cidade de Paraguaçu Paulista, em 1954, mas foi em Osasco, nos anos 1970, que o empresário iniciou a carreira de empreendedor. Casado com Marilda Molina, ele investia na construção de casas pré-fabricadas até que o mercado dos restaurantes chamou sua atenção. Apaixonado por Campos do Jordão, Vasco comprou um restaurante na cidade em 1983, após fechar um negócio relâmpago com um corretor local. Menos de um mês depois, no final de semana do dia das mães, o casal, após a revitalização do local, abriu o restaurante. Cheios de expectativas, eles esperaram durante todo o sábado pelo primeiro cliente, mas ninguém entrou pela porta a não ser um funcionário do posto de gasolina ao lado, para comprar duas cervejas. Foi decepcionante para todos. Vasco precisava fazer alguma coisa para reverter aquele quadro. No domingo, ele decidiu investir em uma nova maneira de chamar atenção. Comprou todas as rosas vermelhas que encontrou na cidade e correu para a avenida. “Nós ficamos parados durante toda a manhã, eu, a minha barriga de cinco meses e o Vasco. Não havia quem não parasse, comovido com a cena. Nós perguntávamos se tinha alguma mãe no carro, então entregávamos a rosa e os convidávamos para comemorar a data tão especial no nosso restaurante”, relata Marilda. Por volta de meio dia, o casal voltou para o restaurante e encontrou todas as mesas ocupadas. Um sucesso que nunca mais abandonaria a família. A cada novo fim de semana, o negócio do casal Rosa conquistava mais clientes. Para repaginar o lugar e deixar para trás a fama de fracasso dos antigos donos, Vasco mudou o nome do estabelecimento para Restaurante Capivari.

Já na década de 1970, como mostra a foto à esquerda, começava a surgir o requinte das diversas lojas e estandes que atraem centenas de visitantes à Vila Capivari

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Foi nesta mesma época que Vasco conheceu um jovem empresário chamado Lélio Gomes, que sempre almoçava com a família no restaurante. Lélio iniciou sua história com Campos na época em que vendia fios para as malharias jordanenses nos anos 60. Em 1972, enxergando uma oportunidade de crescer, mudou-se para Campos e começou a fabricar malhas em casa. Naquele período, o mercado dos produtos de frio estava vivendo o auge. Inicialmente vendendo suas mercadorias de porta em porta, Lélio conseguiu montar uma pequena malharia chamada Barbarela em 1974. Com a procura pelas famosas malhas jordanenses em expansão, o seu negócio cresceu rapidamente e, em 1975, ele comprou a Genève Malhas. Em 1980 ele investiu em outro empreendimento, adquirindo um terreno na Vila Capivari para construir um centro de compras. No local havia apenas uma pequena casa e, na época, ninguém acreditava que a Rua Djalma Forjaz pudesse vir a competir com o sucesso da movimentada Avenida Macedo Soares. Um dia, enquanto caminhava pelo terreno e pensava como poderia construir aquele centro de lojas, Lélio teve a ideia de fazer uma pequena rua, dividindo o prédio. Essa viela atravessaria o quarteirão, ligando duas ruas, e, assim, o número de lojas poderia ser bem maior. Para realizar algo bonito e surpreendente, pesquisou vários tipos de construção e de projetos. Entre as diversas alternativas, ele encontrou no estilo enxaimel o verdadeiro e encantador charme europeu que vinha ganhando adeptos na arquitetura jordanense. Uma técnica milenar, o enxaimel teve origem na Alemanha durante a Era Medieval e, ainda hoje, é um dos principais traços da influência alemã no mundo. O método compreende a montagem de uma estrutura de madeiras encaixadas e o preenchimento dos vãos com tijolos ou taipa. Depois de muitas pesquisas, Lélio contratou uma empresa especializada na técnica, a Carpintaria Loth. Sediada em Blumenau, em Santa Catarina, a firma possuía a experiência de ter construído o Parque Beto Carreiro World utilizando a famosa estética alemã.

Nestas páginas estão reproduções das plantas do Boulevard Genève. Na imagem da esquerda é possível ver a divisão do famoso corredor do prédio, que leva o visitante da Praça São Benedito até o Baden Baden. Acima, o mapa de toda a estrutura e do cruzamento entre as ruas Djalma Forjaz e Diogo José de Carvalho

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Fotos: Acervo Lélio Gomes

O projeto do Boulevard Genève tem raízes nas antigas construções germânicas, em que a simplicidade do enxaimel era a peça fundamental na montagem das residências

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Fotos: Acervo Lélio Gomes

A obra, que demorou três anos para ficar pronta, trouxe uma estrutura inovadora para a história do município. O empresário Lélio Gomes escolheu a Carpintaria Loth pela tradição em realizar construções com a técnica do enxaimel e, a partir da edificação do Boulevard, os detalhes de madeira do prédio se consolidaram com uma característica arquitetônica da cidade

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“Na primeira fase vieram duas carretas de madeiras, com todas as peças numeradas. Quando o material chegou aqui, tudo foi montado muito rápido, quase como peças de brinquedo. Então demos um toque personalizado e artesanal para que cada loja tivesse uma identidade. Aquela construção foi um marco na história do Capivari e da cidade”, descreve Lélio. A edificação do empreendimento, que se chamaria Boulevard Genève, levou quase três anos para ficar pronta. Uma das maiores curiosidades da construção é que a técnica não utiliza pregos nem parafusos, ou seja, toda estrutura é erguida apenas por encaixes entre as vigas de madeira. Durante as obras, Lélio foi até o Restaurante Capivari para conversar com Vasco sobre uma das galerias que ele queria oferecê-lo. Frequentador fiel de um restaurante germânico de São Paulo, Vasco acreditava que a gastronomia alemã e a paisagem jordanense poderiam formar um ótimo negócio. Ao aceitar o convite de Lélio para conhecer as lojas, Vasco tentou imaginar como seria seu empreendimento pronto e instalado no Boulevard. Em um primeiro momento, havia sido oferecida a loja do lado esquerdo da viela, já que os espaços restantes estavam reservados. Ao observar a estrutura e o interior do ambiente, Vasco ficou em dúvida. Não conseguia enxergar seu tão sonhado restaurante alemão ali. Passado um tempo, o locatário da loja à direita resolveu trocar de ponto e Lélio acabou por oferecê-la ao amigo do Restaurante Capivari. Era o destino. Ao analisar o espaço, conseguiu imaginar pessoas sentadas às mesas, chopp sendo servido e diversos pratos sendo preparados pelos funcionários da casa. Assim nascia o novo restaurante. Porém, antes de abrir as portas, Vasco precisava escolher um bom nome para o seu novo empreendimento. Pesquisou muitas opções relacionadas à Alemanha, inclusive de algumas cidades que lhe chamaram atenção. Entre as várias alternativas, escolheu o nome Heidelberg, uma cidade com uma deslumbrante arquitetura, banhada pelo Rio Neckar.

Dividido em três fases, a construção do Boulevard Genève consistiu na criação das lojas externas, na integração ao espaço público da Praça São Benedito e na construção do Genève Plaza, um centro de compras que conta com dois andares de lojas, corredor central coberto e elevador panorâmico

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Na reprodução à esquerda, o centro comercial da cidade de Baden Baden, na Alemanha, que deu origem ao nome do restaurante. À direita, uma foto do parque central da cidade e um luxuoso hotel ao fundo

Tudo estava praticamente definido, até contar para a amiga Ana Maria Herrera. Ela não gostou nem um pouco da escolha. Quando escutou Heidelberg, de imediato disse que não daria certo porque ninguém saberia pronunciar um nome tão complicado. Convencido da escolha, ele tentou argumentar afirmando que o lugar era lindo e que seria uma ótima referência para o restaurante, mas Ana Maria insistiu e disse que arranjaria um nome mais sonoro e bonito. Pouco tempo depois, ela havia encontrado o nome perfeito para convencer o amigo: o nome de uma cidade conhecida por suas fontes subterrâneas usadas pelos romanos como águas termais. Charmosa e cheia de atrações, Baden Baden era o nome ideal para a casa alemã. Com tom musical, era perfeito para que as pessoas se lembrassem e pronunciassem facilmente. Vasco demorou a aceitar, mas fez a melhor escolha. Ana Maria estava certíssima e o sucesso foi garantido. No começo de 1985, as obras de construção do Boulevard estavam quase no fim, mas o tempo passava rápido. Faltavam muitas coisas para resolver e o prazo estava curto. A ansiedade tomava o coração de todos aqueles envolvidos no projeto. Tanto Lélio como os seus parceiros comerciais estavam correndo contra o tempo para inaugurar seus estabelecimentos ainda no carnaval daquele ano. Não poderiam perder um feriado prolongado como aquele. Os turistas dispostos a fugir da euforia dos desfiles iriam passar os dias descansando em Campos do Jordão: isso era a oportunidade de um grande faturamento. Ver os planos saírem do papel era o desejo de todos, inclusive de um descendente de alemães que passava quase todos os dias em frente às obras do restaurante perguntando quando poderia saborear uma típica comida de sua terra e um bom chopp gelado. 52

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O PRINCÍPIO DO SUCESSO

Nesta época, a equipe de cozinheiros do futuro Baden era treinada nos restaurantes Juca Alemão, Windhuk e John Sehn, de São Paulo, onde Vasco recebeu sugestões de fornecedores, pratos, ingredientes e serviços. Antes mesmo de pesquisar sobre a culinária, ele já havia procurado referências sobre arquitetura alemã para a montagem e a decoração do lugar. Cada detalhe da parte interna foi pensado para representar a Alemanha. Em suas pesquisas, ele viajou até Blumenau para observar construções similares e comprar os móveis e a madeira para a decoração interna do ambiente. Os primeiros anos da choperia foram de muito aprendizado para a equipe: lentamente todos foram adquirindo experiência, novos uniformes foram produzidos, novos fornecedores foram localizados e o local ganhava ainda mais prestígio. A fama do Baden foi atingindo patamares mais altos. O nome do restaurante já havia corrido o Brasil e chegado ao exterior como uma referência em culinária alemã. Tudo graças aos próprios clientes que, de conversa em conversa, divulgavam entre os amigos a experiência de sentar-se a uma das mesas da choperia de Campos do Jordão e apreciar uma saborosa gastronomia. Quando Campos entrou na década de 1990, o sucesso do nome Baden Baden já havia ganhado as páginas das maiores revistas e jornais do país, principalmente de São Paulo. A cidade tinha se tornado o destino do inverno paulistano e o Baden Baden o ponto de encontro dos turistas. As reportagens sempre mostravam a fachada do Boulevard e as mesinhas lotadas da choperia. Com o passar dos anos, o movimento só aumentou e não somente as mesas ficavam lotadas, mas toda a rua. Paqueras, conversas, encontros, diversão e muita alegria. Tudo acontecia na Djalma Forjaz. 54

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No princípio, o restaurante começou com apenas 10 mesas e aos poucos foi expandindo para 14, 20, até alcançar uma lotação superior a 50 mesas, contando com toda a estrutura externa e interna do local. O movimento da Rua Djalma Forjaz se deve à clássica cena das mesinhas na porta do Baden Baden


Nestas páginas, a área externa do Baden Baden ao longo dos anos. A evolução é notória desde o final dos anos 1980 (foto menor à esquerda), até o início dos anos 1990 (foto maior à esquerda) e o auge, na metade dos anos 1990 (à direita). Quando completou 10 anos, a choperia vivia o melhor de seus momentos, sendo apontada por muitos como o principal ponto turístico do bairro

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Curiosamente, o Baden Baden é um empreendimento que já nasceu famoso. A choperia foi abraçada pelos clientes desde o primeiro dia de funcionamento. Devido à arquitetura e à divulgação, o local sempre despertou curiosidade e tornou-se “objeto de desejo” dos turistas

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Desde os primeiros anos, a choperia tornou-se um atrativo para a Vila Capivari e, principalmente, para a Rua Djalma Forjaz, que competia em público com a Avenida Macedo Soares. Com a solidificação do Baden Baden e do Boulevard Genève, a Djalma Forjaz se tornou o principal ponto de encontro da cidade

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O SABOR DOS CLÁSSICOS ALEMÃES O diferencial da choperia Baden Baden, desde seu princípio, é sua gastronomia tipicamente alemã. Introduzindo receitas até então pouco conhecidas na Serra da Mantiqueira, o local renovou o paladar do público que visita a estância, deixando um legado na arte de servir. Quando pensamos em gastronomia da Alemanha, logo nos vem à cabeça a clássica imagem do prato mais popular do país: a salsicha. Kassler (carré de suíno) é uma das mais conhecidas, porém existem mais de 1.500 tipos em todo o mundo. De acordo com os historiadores, a origem exata é incerta, mas há relatos de receitas à base de repolhos crus fermentados na época do Império Romano. Mas o que importa mesmo é que as saborosas salsichas do Baden conquistam apreciadores todos os anos. Outra grande referência da casa é o famoso joelho de porco, uma iguaria que dá água na boca. Seu nome original, Eisbein, faz referência a “perna gelada”, pois originalmente, após ser assada ou defumada, a peça era colocada no porão das casas para congelar. A receita mais tradicional é feita com o cozimento do joelho dianteiro do animal por cinco horas, com especiarias como pimenta e louro. Depois de pronto, coloca-se em um prato o chucrute como base e, por cima, é posto o joelho de porco. Podendo ser preparado cozido, frito ou assado, o prato é servido com chucrute e, normalmente, acompanha deliciosas batatas. É uma ótima pedida para quem quer se aventurar nos temperos alemães e apreciar carnes pesadas.

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Além dos pratos germânicos, como o joelho de porco, o Baden Baden produz iguarias recorrentes do paladar brasileiros, como saborosos grelhados de truta e de frango


Muito apreciado no Brasil, o joelho de porco (Eisbein, no original) ĂŠ um prato alemĂŁo, tradicionalmente, servido com chucrute (conserva de repolho) e batata, mas o acompanhamento pode variar de acordo com a regiĂŁo

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A gastronomia alemã tornou-se um atrativo de Campos do Jordão a partir da inauguração da choperia, que inovou na apresentação dos pratos e na qualidade do tempero. Essa união entre a cultura brasileira e a germânica fez do Baden Baden uma referência local

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Reconhecida pela qualidade da gastronomia, a choperia Baden Baden possui no tempero um sucesso que atravessa três décadas. A cooperação e o comprometimento do time da cozinha é a chave para o sucesso do local. Com a tradição de servir cada vez melhor, a equipe trabalha todos os dias para transformar a refeição do cliente em um momento especial

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O conceito de “família Baden Baden” sempre foi uma marca registrada de seu criador, Vasco, e de seu sucessor, Diego Molina. O trabalho em conjunto é o diferencial da equipe, que leva para o cliente, além de uma boa refeição e de um chopp gelado, um ótimo atendimento. Nesta foto está parte desse grupo, uma vez que a casa nunca para e a família só aumenta

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Ao cair da noite, a Vila Capivari revela toda sua beleza. Com as revitalizações e a criação do calçadão da Rua Djalma Forjaz, o Baden Baden e o Shopping Boulevard Genève tiveram seu acesso facilitado, promovendo uma verdadeira concentração de pessoas nos seus arredores

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Oferecendo um ambiente confortรกvel e acolhedor, o restaurante se notabilizou pela quantidade e qualidade do atendimento oferecido. Ao longo dos anos, a choperia Baden Baden passou a servir mais e melhor

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Desde o início do restaurante, o sonho de ampliar os horizontes esteve nos pensamentos de Vasco que, aos poucos, expandiu a choperia para duas lojas na entrada do Boulevard Genève. Nas fotos desta pågina, o resultado das reformas dos anos 2010, que aumentaram a capacidade de atendimento e conforto da choperia Baden Baden

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A ARTE DA GUERRA PELA MESA VINTE E QUATRO

a autobiografia não autorizada de

Roberto Lando histórias

e

lorotas,

chopes e

salsichas na

MESA

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MO DE RA Ç ã O AP RE CIE CO M

ALMANAQUE

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Um dos clientes mais importantes da história do Baden Baden foi Roberto Lando, professor universitário e visitante cativo da mesa 24. Roberto tinha tantas histórias para contar sobre a fidelidade ao Baden, que fez nascer o projeto de um livro: “A autobiografia não autorizada de Roberto Lando” (reprodução à direita). Na obra, são descritos momentos felizes e infelizes, coisas que ele ouviu ao longo de muitos anos sentado na mesa 24. Uma das passagens mais divertidas do livro, você confere na página ao lado

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Com grandes momentos para contar, o Baden Baden cativa não só visitantes, mas também apreciadores de boas histórias

Deus ajuda quem cedo madruga. Ditado verdadeiro que se aplica à mesa vinte e quatro do Baden Baden. Não pense que é só ir chegando, que seu lugar estará livre, que um tapete vermelho estendido levará você até a melhor mesa do restaurante. De jeito nenhum. Trate de ir “pulando da cama” o mais cedo que puder se quiser garantir seu lugar. No início, também tivemos problemas para conseguir a mesa vinte quatro. Tantas vezes chegávamos lá, e alguém mais esperto já tinha cravado posição! Porém, seguindo os conselhos de Sun Tzu (general chinês do século IV A.C., profundo conhecedor das manobras militares e que escreveu A ARTE DA GUERRA, ensinando estratégias de combate e táticas de guerra), estudamos a movimentação dos inimigos e desenvolvemos estratégias de ocupação. Desse modo, chegamos a um método infalível para obter sucesso. De acordo com Sun Tzu, existem cinco fatores que permitem que se preveja qual dos oponentes sairá vencedor numa contenta: aquele que sabe quando deve ou quando não deve lutar; aquele que sabe como adotar a arte militar apropriada de acordo com a superioridade ou a inferioridade de suas forças frente ao inimigo; aquele que sabe como manter seus superiores e subordinados unidos de acordo com suas propostas; aquele que está bem preparado e enfrenta um inimigo desprevenido; aquele que é um general sábio e capaz, cujo soberano não interfere. Noites em claro, longos dias de estudos e de estratégias e nosso plano de ação foi assim elaborado: em torno das dez horas, assim que começa a manhã do Baden, os cunhados Walkyria e Vicente - atletas madrugadores - ocupam a mesa vinte e quatro, garantindo a bandeira da família com dois chopps. Quando eu e Valéria chegamos ao Capivari, lá pelo meio dia, encontramos os dois, jornal em mãos, já com as notícias em dia. Imediatamente nos passam a guarda da mesa e vão bater pernas pelas lojas vizinhas. Lá pelas 14h chega a gurizada e se senta com a gente (Vicente e Walkyria já estão de volta a seus postos) para contar como foi a balada e tomar um aperitivo. Depois de saber quem pegou quem, quem beijou qual, o clamor pelo almoço acontece, pois já são 15h. Mas algo tem que ser feito, pois abandonar a mesa é ceder posição aos inimigos. Atentos, esperamos que apareça alguém conhecido – primos, vizinhos, colegas talvez – procurando lugar no Baden e convidamos para que ocupe nosso lugar. Existe uma condição: em hipótese alguma sairão da mesa vinte e quatro antes de voltarmos do almoço, sob pena de nunca mais serem recebidos na nossa gentil alcova do Baden Baden. Voltamos do almoço lá pelas 17h, retomamos nossa mesa e nos despedimos agradecidos dos fiéis amigos guardadores do santuário, onde ficamos até que a gelada noite nos expulse. Dia seguinte, teremos nova batalha, nova vitória. O amigo leitor agora deve estar se perguntando: tudo bem, mas o que tem a ver os conselhos de Sun Tzu com o método que usamos para garantir a mesa vinte e quatro pelo dia inteiro? Vou lhe dizer uma coisa: não me ocorre a menor ideia! E, também, não vou fazer esforço algum para tentar explicar. Digo mais, nem sei se o referido general chinês gostava de cerveja ou de chopp. Afirmo apenas que, se ele quiser conquistar a mesa vinte e quatro do Baden Baden, que reescreva seus livretos e manuais e pense numa arte de guerra melhor que a nossa. Afinal, o cara vai chegando assim e pensando o quê?

Com ilustrações de Carlos Justino, Ricardo Caroli e do próprio Roberto Lando, a edição especial foi lançada em 2009 e é considerado o primeiro livro de boteco da história do restaurante

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UMA EXCELÊNCIA RECONHECIDA HÁ DECADAS

Com a consolidação da marca Baden Baden, o restaurante virou capa das principais publicações do país. À esquerda, a edição de 1º de julho de 1987, da Revista ISTOÉ São Paulo, mostrando a lotação de toda a calçada do Shopping Boulevard Genève. Abaixo, a tradicional revista Veja São Paulo, em edição de junho/julho de 1994, também destacando a choperia

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RELAÇÃO COMPLETA DE PRÊMIOS DA REVISTA VEJA RECEBIDOS PELA CHOPERIA O Melhor Petisco de Truta 2013 A Melhor Caipirinha 2013 A Melhor Cozinha 2012 A Melhor Caipirinha 2012 O Melhor para Paquerar 2011 O Melhor da Cidade 2011 A Melhor Cozinha 2011 O Melhor Chopp 2010 O Melhor para Paquerar 2009 O Melhor Chopp 2009 A Melhor Choperia 2008 A Melhor Choperia 2007 A Melhor Choperia 2006 O Melhor da Montanha 2005

Ao longo dos 30 anos, o restaurante colecionou diversos prêmios de excelência gastronômica. Nesta página, você confere as numerosas premiações conquistadas pelo Baden na prestigiada revista de turismo Veja São Paulo

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CRÔNICA DE UMA RUA MOVIMENTADA Você já deve ter me visto por aí. Estou no meio daquela multidão, no meio da badalação e do glamour. Tenho certeza de que você lembra sim, não se faça de desentendido. Você já deve ter me visitado nos meses de inverno. Não se lembra do friozinho que fazia? Nem do sabor daquele petisco acompanhado de chopp? Ora, ora... Calma, que você já vai se lembrar. Sou do tipo que marca presença, que está nos melhores eventos, sempre no tapete vermelho. Dizem até que sou arroz de festa. Isso aí é inveja de médico, embaixador, ou mesmo escocês que virou nome de rua, tudo fofoca. Deixe isso quieto, venha para cá, venha conhecer o meu domicílio. Pode chegar que sempre tem espaço pra mais um. A verdade é que já nasci importante, com sobrenome e tudo. Permita que eu me apresente: Djalma. Sim, Rua Djalma Forjaz. Sobrenome bonito, né? Sou de origem mineira, mas moro em Campos do Jordão já faz muito tempo. Existo desde muito antes de você, mas, sabe como é, enquanto não vem alguém pomposo e nos batiza, esse lugar ainda não parece existir realmente. Herdei esse nome de um tal Djalma, vejam só, tinha o belo sobrenome Forjaz. Ele nasceu no dia 7 de maio de 1883, foi advogado, historiador e até autor do livro chamado “O Senador Vergueiro”. Veio para Campos, onde passou algum tempo. Infelizmente faleceu em São Paulo em 10 de agosto de 1962. Na Vila Capivari, bairro onde vivo, havia na década de 1940 uma empresa administrada por Djalma, a Companhia Melhoramentos de Campos do Jordão, que anteriormente foi presidida pelo meu colega de esquina, Macedo Soares. Os dois foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento do bairro. Foi Macedo quem adquiriu as terras em 14 de maio de 1922 e, a partir dali, eu comecei a ganhar forma.

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É na Rua Djalma Forjaz que a história ganha vida. Aqui, a magia da Vila Capivari obtém forma, corpo e aroma. Tudo acontece e tudo pode acontecer


Aqui desfilam por ano 300 mil turistas, sendo que, desse número, pelo menos 30 são atrizes globais, 54 possuem colares de pérola, 171 são políticos de Brasília, 22 são jogadores de futebol, 15 andam de BMW, nove de Ferrari, um de Rolls-Royce e 383 caminham ao lado de cachorros de raça. Sim, tudo puro sangue

Desde então fui recebendo marcações, ganhando trechos e me tornando isso que você conhece hoje. Claro, naquela época, não tão limpa quanto hoje... Sabe como é, estrada de terra é difícil de manter. Bom, aos poucos fui ganhando uma nova roupagem, cimento de última geração, feito artesanalmente, pode procurar. Mas, chega de conversa fiada. Aproxime-se, meu camarada. Tem um pouco de tudo aqui, um pouco de São Paulo, de Ipanema, do Farol da Barra, do sotaque gostoso de Minas, das roupas de frio do Rio Grande e até de um charme alemão. Ou seria suíço? Não importa, o que interessa é que aqui onde estou é o umbigo da serra, o berço do luxo, o local onde tudo acontece! Tá achando pouco? Aqui desfilam por ano 300 mil turistas, sendo que, desse número, pelo menos 30 são atrizes globais, 54 possuem colares de pérola, 171 são políticos de Brasília, 22 são jogadores de futebol, 15 andam de BMW, nove de Ferrari, um de Rolls-Royce e 383 caminham ao lado de cachorros de raça. Sim, tudo puro sangue. Quem transita hoje pela viela do Boulevard Genève nem imagina que onde está aquela torre imensa um dia já foi a casa do Dr. João Toniolo e seu genro, Dr. Élbio Camilo. Não conhece? Vou contar. Ambos eram figuras muito admiradas no final do anos 50, por atenderem a comunidade carente. O local tinha uma placa com os dizeres “Vila Amábile”. Bem diferente, né? Antes disso, na década de 1930, aquele lugarzinho era um estabelecimento do ramo da fotografia, o primeiro na cidade, de propriedade do senhor Josias, um dos primeiros fotógrafos locais. Não posso me esquecer do Bruno’s Bar. Já ouviu falar dele? Não? Como não? Aqui nas minhas dependências funcionava uma das referências em lanches e petiscos da noite jordanense, com pista de dança e tudo! O grande amigo Bruno Taioli é que mantinha todo o movimento. E mesmo depois da propriedade passar para o Martini Pelizzola, o local continuou mantendo o clima de pura azaração. 30 Anos de Alegria

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Não se assuste com a multidão. A cena acima é muito comum durante as noites das temporadas de inverno, principalmente, devido ao charme das mesas do Baden Baden, que ficam na alargada calçada da Rua Djalma Forjaz

Paqueras, conversas, encontros, diversão e muita alegria. Tudo acontece na Djalma Forjaz. A rua mais famosa da Vila Capivari possui centenas de histórias e as principais delas acontecem no Baden

Foto: Juliana Cintra

Bom, não pense que eu sou do tipo nostálgico, que vive somente de recordações: gosto muito desse monumento. Meu amigo Lélio Gomes trouxe essa belezinha para cá em 1985 e, desde então, eu me tornei a maior atração do bairro. Sim, claro, eu mesmo! Mas chega de falar de passado que eu não tenho cara de museu. Hoje em dia, sou cortejado com a presença de ilustres figuras, até mesmo fora dos meses de julho. O seu Vasco, por exemplo, adora me tratar como amuleto o ano todo. Nesses 30 anos de Baden Baden eu trouxe muita sorte para todo mundo. Meu chão é sagrado e toda vez que seu Vasco circula pelas mesas do restaurante solta uma saudação bem baixinho, quase como um sussurro: “Namastê”. E ainda tem avenida de nome pomposo que se acha a última rodovia do pacote. Francamente! Veja quanta gente vem me ver nos feriados e nos meses de inverno! É muito amor! Aqui você vai encontrar personagens incríveis, como os vendedores de loteria, que durante o dia se espremem na multidão para vender o premiado bilhete Borboleta 13; os motociclistas de todo o país, com suas jaquetas de couro, calças jeans e Harley-Davidson’s; também os ambulantes e suas cestas de vime, contendo saborosas queijadinhas; além, é claro, das minhas preferidas, as lindas promoters, habitualmente trajadas com calças legging, botas de couro normalmente pretas e jaquetas de nylon das mais variadas cores. Ai, ai, até suspiro com tanta beleza e perfume importado... Mas não se incomode de me visitar na tranquilidade da baixa temporada. Você vai encontrar companheiros fiéis, como o saudoso Roberto Lando e a sua inseparável mesa 24 da Baden Baden. Como vê, sou feliz demais pelo contato diário com meu público, meus súditos, meus personagens. Agora não me diga que veio a Campos do Jordão e não me visitou, ora bolas! Vá entrando sem cerimônia, porque aqui não tem recepcionista e muito menos campainha. Pode confiar, que comigo não tem essa de rua sem saída.

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O CHOPP E A CERVEJA QUE CONQUISTARAM O PAÍS

Uma nova era chega para a história do restaurante: o chopp de fabricação própria

Em pouco menos de 10 anos depois da inauguração, o Baden Baden havia se tornado o marco zero do turismo local. Pousadas e hotéis passaram a incluir em seus anúncios a distância até o restaurante. Um certo tipo de magnetismo atraía as pessoas até a casa alemã mais famosa de Campos do Jordão. A década de 1990 marcou a consolidação do restaurante no turismo de Campos do Jordão. Mais do que isso, a marca cresceu tornando-se uma referência gastronômica. Junto a isso, o desejo de Vasco de criar uma cerveja própria parecia cada vez mais perto e, em 1999, o projeto virou realidade. Apesar de o chopp ser a grande referência do restaurate, a relação do Baden Baden com o produto foi, desde o início, um problema. O primeiro grande dilema do empreendimento foi definir qual marca seria a fornecedora da casa. Devido à distância – já que Campos do Jordão está a 173 quilômetros de São Paulo – a maioria das empresas tinha dificuldade em abastecer a cidade. Inicialmente, o Baden optou por marcas tradicionais, servindo Kaiser, logo em seguida Brahma e mais tarde Antártica. Porém, o sabor de nenhuma agradava plenamente os clientes e Vasco começou a receber reclamações dos apreciadores da bebida. A demanda por um chopp melhor começava a bater à porta. 30 Anos de Alegria

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Com o crescente sucesso do chopp, a Baden chegou a diversas partes do país. Nas fotos, o tradicional caminhão da cerveja, que ficou famoso por “recarregar” os estoques da bebida na choperia, aos olhos de todos os clientes

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A ideia ganhou forma em uma mesa do Baden, em que quatro amigos (Alberto Ferreira, Aldo Bergamasco, Vasco e Marcelo Moss) decidiram produzir um chopp especial, encontrado apenas no exterior. Unindo conhecimentos, cada um contribuiu com uma peça para o sucesso da empreitada. Alberto e Aldo eram importadores de bebidas e tinham experiência na distribuição, Vasco acabou cedendo o nome para a fábrica e Marcelo, proprietário de uma microcervejaria em São Paulo, possuía o know-how técnico. Era a oportunidade perfeita para ganhar o mercado. Em 1999, nascia a primeira cerveja gourmet do Brasil, a Baden Baden, produzindo um chopp de referência entre os mais saborosos do país. Elaborada com a pura água de Campos do Jordão, proveniente de uma fonte a dois mil metros de altitude - localizada no fundo da fábrica - a bebida segue cuidadosamente a lei de pureza alemã e passa por um processo lento e cuidadoso de maturação que garante o delicioso sabor. Usando o modelo britânico como referência, os quatro testaram diversas receitas criadas pelo mestre cervejeiro Carlos Hauser, até chegarem ao primeiro chopp, o Red Ale, no ano 2000. Outros importantes produtos como Cristal, Boch, Celebration e Stout surgiram durante os primeiros anos e o Baden, enfim, pôde respirar aliviado. Finalmente o chopp era especial.

Formado como mestre-cervejeiro em Munique, na Alemanha, Carlos Oswaldo Hauser é o homem por trás do sabor da Baden Baden. De 1999 até 2006, ele foi o responsável por transformar o chopp da casa em uma das bebidas mais premiadas do país

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O processo Baden Baden foi baseado em estilos de cervejas pouco conhecidas no mercado nacional, com um planejamento de vendas e marketing que divulgou, inovou e reinventou os conceitos de cervejas gourmet, gastronĂ´micas, especiais, artesanais e classe A

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Foto: Acervo Rodrigo Ismael

Os ingredientes que compõem as famosas cervejas da choperia vêm de diversas partes do mundo, porém, a Baden Baden 15 anos, possui uma preciosidade. A receita leva lúpulo produzido diretamente do Viveiro Frutopia, em São Bento do Sapucaí, o primeiro colhido em terras brasileiras. Mais uma iguaria única da Serra da Mantiqueira

Em setembro de 2003, a jordanense Wania Diniz Bachmann, que cuidava das contas de Vasco no Banco Mercantil, foi convidada pela família Vasconcelos para assumir a gerência da recém-criada cervejaria. Desde então ela atua na gerência da fábrica, acumulando grandes histórias ao lado do criador do Baden Baden. Em uma delas, em 2005, a encarregada das finanças acompanhava Vasco em uma viagem de carro para São Paulo e os dois discutiam a possibilidade de criar um novo sabor para a marca. Wania o questionou sobre um rótulo pronto, de nome Golden, que andava esquecido na gaveta da empresa. Na mesma hora, ele começou a repetir as primeiras palavras que vieram à mente, em busca de uma ideia: – Golden, ouro, joias, mulheres, doçura... Já sei! Uma cerveja doce para mulheres! - bradou o empresário. – Mas Vasco, isso não vai dar certo, o homem que quiser prová-la vai ser chamado de ‘bicha’ pelos amigos. - emendou Wania. E ele continuou a repetir o mantra, até que de repente teve um insight e elaborou a mais bela síntese de um chopp que o mercado de bebidas já viu. Há quem diga que as palavras facilmente poderiam ser atribuídas ao romântico Vinícius de Moraes: – Ouro, joias, perfume, mulheres... E que tal uma cerveja com corpo, alma e aroma de mulher? Nascia ali uma das receitas mais carismáticas da casa alemã, a Baden Baden Golden. Uma bebida suave, refrescante, com aromas frutados e baixo amargor, que combinaria perfeitamente com carnes brancas e pratos com toque agridoce. 30 Anos de Alegria

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A fábrica da cerveja Baden Baden, localizada na Vila Santa Cruz, em Campos do Jordão, é uma referência na produção nacional, cujo trabalho artesanal inspirou modelos em diversas partes do país. Além de oferecer visitas agendadas, o local presenteia os apreciadores com degustações exclusivas

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Baden Baden


O recorde de quilometragem rodado para tomar um chopp no Baden Baden pertence a um grupo de motoqueiros, que saíram de Belém, no estado do Pará, em cima de suas Harley-Davidson e dirigiram mais de três mil quilômetros até chegar as mesas do restaurante

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Em diversas oportunidades o sucesso da marca chegou a terras distantes como a Inglaterra, onde venceu os prêmios International Beer Challenge e World Beer Awards; a Austrália, onde foi a vencedora do Australian Beer Awards; e até na concorrida Alemanha, onde ficou com a medalha de prata e a de bronze no European Beer Star. O destaque foi tanto que em 2007 a cerveja Baden Baden foi vendida ao Grupo Schincariol, que mais tarde foi comprada pela multinacional Brasil Kirin. Apesar das mudanças, a receita de sucesso nunca foi alterada e a sede permaneceu em Campos do Jordão, como queriam seus proprietários originais. A Baden Baden é considerada uma fábrica modelo na produção de cervejas artesanais. Foi a primeira microindústria de cervejas artesanais no Brasil e a primeira no conceito de harmonização de diferentes tipos de cervejas com gastronomia.

Com premiados rótulos em diferentes momentos, a Baden Baden se tornou um modelo de sucesso com marcas como a cerveja 1999, a Red Ale, a Celebration, a Baden 20 anos e a Christmas Beer, produtos de alta qualidade e de sabor único. À esquerda, a Baden Baden Bock e a medalha de ouro da The Great South Beer Cup IV, uma das mais respeitadas competições de cerveja da América Latina


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Baden Baden


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Lançada em 2005, a primeira edição do anuário do restaurante contou com um ensaio fotográfico exclusivo com o artista plástico Reynaldo Calles. A publicação foi finalista do Prêmio de Excelência Gráfica Fernando Pini, um dos mais respeitados do país. Editada em 2008, a segunda edição do anuário Baden Baden contou com uma homenagem ao povo jordanense e suas tradições culturais. Na foto de capa, Ambrósio Rosa organiza a colheita de pinhões do inverno

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Baden Baden

BADEN BADEN

A terra

BADEN BADEN A TERRA ANUÁRIO Ano 21 | #2 | 2006

A arte

BADEN BADEN

CAMPOS DO JORDÃO

2008

O SUCESSO DO RESTAURANTE CONTRIBUIU PARA A CRIAÇÃO DE ANUÁRIOS ESPECIAIS



A arte

DE FAZER CERVEJA

“A cerveja é a melhor prova que Deus existe e nos quer ver felizes”. Esta frase atribuída a Benjamim Franklin, patriarca da independência norte americana, pode ser considerada uma verdade absoluta para milhões de apreciadores deste líqüido amarelo POR CÉSAR ADAMES | FOTOS DE MAURO HOLANDA

A arte

DE SERVIR

Falar da choperia Baden Baden não é nada fácil, são anos de histórias e memórias, de conquistas, inovação e muito prazer em servir POR FABRICIA FURUZAVA | FOTOS DE GIL RENNÓ

Referência entre as publicações especiais do seguimento, os anuários da Choperia Baden Baden fazem sucesso até os dias atuais, principalmente, pelas fotografias e pelas matérias exclusivas. Entre a variedade de assuntos destacados, temas como arquitetura, história, gastronomia, turismo e arte se tornaram marcas registradas de cada edição

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Baden Baden


OS ALEMÃES SEMPRE SE DESTACARAM na história do mundo. Formada por um povo bravo e culto, a Alemanha nos deixou um legado de artistas, de pensadores e de atletas que contribuíram para a era moderna. Nomes como Bach, Beethoven, Schumann na música; Albert Einstein, na física; Gutenberg, revolucionando o mundo com sua prensa; Goethe, na literatura, dispensam apresentações. Na economia, empresas como a Bayer, a Volkswagen e a Mercedes Benz lideram como uma das mais importantes do mundo. Antes da Segunda Guerra Mundial, o país ocupava o segundo lugar de nação mais populosa do mundo. O que aconteceu depois, todos sabemos. E é nesse momento que Campos do Jordão entra em cena. Os alemães que chegaram ao Brasil se espalharam por diversos lugares. Apesar de concentrados no sul, o sudeste também recebeu um número considerável de imigrantes. Indo parar em Campos do Jordão por motivações diversas, eles ajudaram a transformar esse pedaço da Serra da Mantiqueira no que ele é hoje. Na comida, na arquitetura, no comércio, os alemães que aqui chegaram em meados do século passado imprimiram seu estilo único. E eles eram muitos, em números e em histórias para contar.

Criativos, destemidos, cheios de vida e de cultura. Os alemães que escolheram o Brasil como seu novo lar ajudaram a construir Campos do Jordão como a conhecemos hoje. E nos deixaram muita história para contar...

TEXTO DE BIANCA JUSTINIANO FOTOS DO CENTRO DE TURISMO ALEMÃO E GIL RENNÓ DIREÇÃO DE ARTE DE WAGNER ROSA

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A terra

DA MÚSICA

Paralelamente à badalação musical costumeira das temporadas de inverno e a seus clássicos festivais, uma comunidade jordanense se esforça para permanecer unida e expressar sua arte TEXTO E DIREÇÃO DE ARTE DE WAGNER ROSA I FOTOS DE GIL RENNÓ

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UMA ÉPOCA DE EVENTOS Fotos: Acervo Cozinha da Montanha

Aprecie na Montanha o que é da Montanha

6ª Temporada Gastronômica da

Cerveja

Artesanal

Prato do Restaurante Charpentier para a Temporada Gastronômica da Cerveja. Porção de iscas de filé salteadas ao molho de cerveja e sementes de coentro acompanhadas de batatas fritas em flor. Receita Chef Murilo Carvalho. Foto Kadu Schiavo.

INFORMAÇÕES cozinhadamontanha@gmail.com

12 3662-6088 12 9751-7884 www.cozinhadamontanha.com.br

O cliente que pedir o prato da Temporada e harmonizar com uma das cervejas Baden Baden, ganhará um Brinde Gourmet Butter Toffees!

FOTOGRAFIA ILUSTRATIVA.

20 de setembro a 13 de outubro

PATROCINADORA OFICIAL do Cozinha da Montanha

Os anos 2000 trouxeram para a choperia um período de consolidação e muitas mudanças. Com uma reformulação administrativa, o local se transformou em uma empresa ainda melhor. A partir de 2006, o restaurante investiu em eventos gastronômicos, como o Botequim Gourmet e o Gourmet Fest, que reuniram grandes chefes do país, como Emmanuel Bassoleil e Claude Troisgros, para criarem pratos especiais que harmonizassem com as cervejas Baden Baden. “O Baden Baden Gourmet Fest foi uma experiência ótima! Incorporar a cerveja gourmet à lista de ingredientes de uma receita foi muito interessante, além de o resultado ter sido surpreendente”, comenta o Chef Claude, conhecido pelas participações em programas culinários no canal GNT. Pouco depois, o restaurante iniciou uma expansão na estrutura para abrigar ainda melhor seus clientes e organizar a criação de um extenso salão de eventos, além da reformulação e da modernização da cozinha do restaurante. No período pós-venda, o Baden decidiu investir cada vez mais nas pessoas e isso culminou em uma melhora no atendimento, na gestão e na eficiência para transformar o empreendimento em algo ainda maior. “Às vezes entro na cozinha nos dias de feriado e de temporada e vejo pessoas de branco preparando atentamente e com zelo os pratos que serão servidos em instantes. Vejo o cuidado e o carinho com que realizam seu trabalho como se eles fossem parte de uma colmeia. Quando vejo os garçons do Baden equilibrando as suas bandejas no meio daquela multidão sempre dispostos, felizes e atenciosos, eu penso em milagre! Vejo o sorriso nos olhos e nos lábios de todos eles, vejo a arte Baden Baden de servir”, explica Vasco. Mais do que uma referência gastronômica e um ponto turístico da Serra da Mantiqueira, o Baden Baden quer fazer do momento de descontração de suas mesas algo especial e duradouro para cada cliente. Tudo no local é voltado ao produto final: a felicidade de quem visita o restaurante e aprecia um momento feliz. 98

Baden Baden

Cartazes de divulgação do Festival Gastronômico. A partir da criação da cerveja, o Baden se tornou uma referência dentro do evento, sendo a principal atração da programação


os harmonizaram com as cervejas gourmet das montanhas de Campos do Jordão, e que com suas “batutas” criaram sabores inesquecíveis

A terra A terra Apresentamos o melhor dos festivais gastronômicos realizados pela Choperia Baden Baden. Você vai conhecer um pouco da história destes grandes chefs, que desenvolveram menus especiais e os harmonizaram com as cervejas gourmet das montanhas de Campos do Jordão, e que com suas “batutas” Apresentamos o melhor dos criaram sabores inesquecíveis festivais gastronômicos realizados pela Choperia Baden Baden. Você vai conhecer um pouco da história destes grandes chefs, que desenvolveram menus especiais e os harmonizaram com as cervejas gourmet das montanhas de Campos do Jordão, e que com suas “batutas” criaram sabores inesquecíveis

A terra Reunir os melhores chefs do país para produzirem pratos exclusivos que combinassem com o sabor da primeira cerveja gourmet do Brasil: esse era o grande desafio do Baden Baden Gourmet Fest e do Botequim Gourmet, que contaram com a presença de cozinheiros renomados do Brasil e da Eupora

DA GASTRONOMIA

DA GASTRONOMIA

DA GASTRONOMIA

Apresentamos o melhor dos festivais gastronômicos realizados pela Choperia Baden Baden. Você vai conhecer um pouco da história destes grandes chefs, que desenvolveram menus especiais e os harmonizaram com as cervejas gourmet das montanhas de Campos do Jordão, e que com suas “batutas” criaram sabores inesquecíveis 30 Anos de Alegria

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A Baden Baden Golden, com seu leve toque adocicado é perfeita para acompanhar uma sobremesa como uma torta de maçã ou uma receita com frutas vermelhas. Segundo seu criador, tem “corpo, alma e aroma de mulher”


“Foi muito interessante harmonizar uma receita com cerveja, pois a cerveja também faz parte da cultura brasileira” Chef Ana Luiza Trajano

PICADINHO. Harmoniza com Baden Baden 20 anos

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SALMÃO GOLDEN. Harmoniza com Baden Baden Golden

“A grande parte dos convites são para associar o meu trabalho à harmonização com vinhos. Um convite inusitado feito pela Anagrama para cozinhar com as cervejas Baden Baden, não só harmonizando, mas usando-as como ingrediente da receita, me motivou a criar coisas diferentes e sair da rotina. Um desafio gostoso e agradável, com produtos de boa qualidade” Chef Emmanuel Bassoleil

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“O Baden Baden Gourmet Fest foi uma experiência ótima! Incorporar a cerveja gourmet à lista de ingredientes de uma receita foi muito interessante, além do resultado ter ficado surpreendente” Chef Claude Troisgros

CODORNA RECHEADA com farofa de cebola e passas, molho de uva e cerveja Bock. Harmoniza com Baden Baden Bock

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NACO DE ATUM FRESCO, milhos de tomate, chutney de manga, limão e malagueta fresca. Harmoniza com Baden Baden Bock

“Venho há anos para o Brasil e, no Baden Baden Gourmet Fest, tive o primeiro contato com uma excelente cerveja nacional. Com a experiência e a especialidade de cervejas dentro do trabalho que já desenvolvo em Portugal, elaborei pratos que contemplaram e harmonizaram as cervejas, ressaltando o sabor dos ingredientes e delas mesmas. Uma experiência gratificante” Chef Vitor Sobral

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A EVOLUÇÃO DE UMA MARCA DE SUCESSO

Baden

Baden 1985

Baseado no brasão da cidade alemã de Baden Baden, o primeiro logotipo da choperia foi uma reprodução do município que deu nome ao local. Já em 1999, com a criação da Cerveja Baden Baden, o restaurante ganhou um novo logo, que inseriu a famosa taça em meio às cores da cidade alemã. Após a venda da cerveja para o Grupo Schincariol, a choperia se reinventou mais uma vez e transformou seu logo, dando ares mais tradicionais que remetessem aos famosos brasões germânicos do século XV

1999

Com o passar dos anos, a Baden Baden renovou sua marca, mas sempre preservando sua história e seus conceitos. Um local focado em oferecer gastronomia, entretenimento, alegria e muito chopp gelado! 2015

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FUTURO BADEN BADEN

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2017

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COM A CRESCENTE DEMANDA PELOS HÁBITOS

SUSTENTÁVEIS, A SERRA DA MANTIQUEIRA SE DESTACA COMO REFERÊNCIA

NA LUTA POR UM FUTURO CONSCIENTE

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Em 2013, a Serra da Mantiqueira foi eleita pela União Internacional para Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature), em parceria com a revista americana Science, como o oitavo local de área protegida mais insubstituível do planeta

O FUTURO PRESENTE Com a entrada no novo milênio, Campos do Jordão - assim como toda a Serra da Mantiqueira - decidiu olhar para seu passado, interpretar o seu presente e planejar o futuro. Com a qualidade de vida se deteriorando pelo aumento populacional desordenado e sem um efetivo diálogo entre o poder público e todas as classes sociais, a cidade, seguindo o modelo nacional, se dividiu. Glamour e riqueza se distanciaram da pobreza crescente, criando dois mundos completamente distintos. Separados por barreiras geográficas e sociais, o município e a região deixam aumentar a cada instante as diferenças entre polos. Em um cenário como Campos do Jordão, os contrastes ficaram ainda mais aparentes pela devastação das áreas destinadas à preservação ambiental. Porém, em meio à dicotomia, das montanhas da Serra da Mantiqueira novas ideias e conceitos estão surgindo. Buscando a valorização do ser humano, a preservação do meio ambiente e a longevidade do ecossistema, a expectativa para o futuro é conviver em uma sociedade mais sustentável. Com um trabalho embrionário, a Serra da Mantiqueira iniciou, a partir dos anos 2000, um envolvimento dos produtores e dos fornecedores de alimentos locais. Apostando na produção de orgânicos e no cultivo sob medida, a linha de produção alimentícia caminha no movimento inverso ao do inflado mercado capitalista, sem desperdícios e com a qualidade elevada. Ao longo do século XXI, a região vem colecionando conflitos e enfrentando resistências da especulação imobiliária. Por outro lado, tem encontrado, atualmente, respaldo no ecoturismo, uma iniciativa que tem atraído mais visitantes e transformado a região em uma referência para os amantes dos esportes de aventura. Esse é um pedaço do futuro que Campos do Jordão e a Serra da Mantiqueira esperam criar: um espaço mais solidário com o meio ambiente, para que as próximas gerações possam prosperar em um futuro mais sadio e responsável. Nas páginas a seguir, você confere o poema “A terra e o sabor”, de Mané Young, um apaixonado pela região, que faleceu em 2014, deixando um legado para a culinária e para a cultura da região. Uma homenagem que sintetiza o espírito e a essência da Serra da Mantiqueira.

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DÉCADA DE 2000

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O contato com o mundo além das montanhas da Mantiqueira foi e continua sendo através do rádio e das palavras da Bíblia

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Cornélio Gonçalves herdou a “venda” de seu pai, Sebastião Gonçalves, que a herdou de seu avô, Júlio Gonçalves. O local é ponto de abastecimento e diversão do bairro dos Borges, comunidade vizinha a Campos do Jordão

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Música, festa e devoção. Palavras que na comunidade rural Bairro do Centro são sinônimas. O grupo liderado por Sebastião Mira e Luiz Ribeiro mantém viva as tradições da “Folia de Reis” (festejos em comemoração ao nascimento do menino Jesus), além de fazerem, uma vez ao ano, a manutenção das “Santa Cruzes”, (locais em que pessoas faleceram, tendo sido criados memoriais onde se reza o Terço)

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Fazendo o que gostam, Maria Aparecida e Luiz Carlos lutam para manter o sítio, localizado no Vale do Baú, na divisa entre Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, e o sonho de viver da própria terra

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Entre os alimentos plantados por Seu Antônio em sua horta no pé da Serra da Mantiqueira se destacam a produção de alho-poró, couve-flor, cebolinha, limão cravo e variedades de pimenta: um trabalho artesanal, que o necessita do cuidado diário do agricultor

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Um dos funcionário mais antigos da choperia Baden Baden, Seu Antônio possui uma vida inteira dedicada à agricultura. Sua horta abasteceu a mesa de uma centena de clientes do local, além de ser um dos principais responsáveis pelo saboroso tempero da casa alemã. Um guardião das delícias do restaurante, que se empenha dia e noite na arte de cuidar da terra

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Junto ao fondue, a truta tornou-se uma das principais receitas da cidade e da região, embora outros locais tenham obtido sucesso com a importação de trutas, foi Campos do Jordão que alavancou as tecnologias dessa ciência

Um dos maiores nomes da ciência na cidade, Yara Aiko Tabata tornou-se pioneira nas pesquisas sobre trutas no Brasil. Seu legado fez de Campos do Jordão uma referência nas descobertas e no investimento de tecnologia do setor. A Estação Experimental de Salmonicultura do Estado de São Paulo, criada na década de 1970 e localizada dentro do Horto Florestal, inovou nas novas formas de reprodução da espécie, além da elaboração da truta salmonada e do caviar de truta

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Fotos: Acervo Rodrigo Ismael Figura conhecida da agricultura e gastronomia local, Rodrigo possui na propriedade no Alto da Serra um bosque de Castanheiras Portuguesas e uvas Malbec e Shiraz, para produção de vinho artesanal. Seu trabalho de maior destaque está na produção de frutas vermelhas. Um pioneiro no conceito de turismo rural de charme, que leva visitantes a conhecer o sítio onde são produzidas as delícias de seu restaurante

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Curiosamente, embora o Brasil seja um dos maiores consumidores de cerveja do mundo, o lúpulo ainda não havia sido cultivado no país. Até que, após muitos testes, o agrônomo Rodrigo Ismael produziu e colheu a primeira espécie em terras brasileiras

Principal nome do Slow Food na Serra da Mantiqueira, o chef Nelson Gonçalves Júnior se empenha em trazer os ideais sustentáveis para dentro das cozinhas jordanenses. Formado em gastronomia pelo Senac, ele busca através de parcerias com produtores regionais expandir ainda mais a comunidade do Slow Food. Junto com Rodrigo Ismael, ambos são os representantes da nova safra de profissionais da gastronomia da Mantiqueira. Especialistas que buscaram conhecimento fora da região e retornaram para trazer avanços para comunidade

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MANTIQUEIRA, Campos do Jordão, Santo Antônio, São Bento, a terra aqui se ergue em serra. Aqui, a terra quer estrela de pertinho. Aqui, o sabor vem do céu. Mantiqueira, Campos do Jordão, Santo Antônio, São Bento, água e pinhão bastariam, mas a terra neste trecho nos dá mais. Tão generosa, dá morada, nos reúne e a tantos acolhe, vindos de todos os cantos. 128 Baden Baden


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MANTIQUEIRA. Aqui o sabor vem do céu e da terra. Ao nos dar alimentos, ensina. Aos poucos, que ironia, lentamente aprenderemos. Fosse a terra só forma, seria Arte, mas quis, dadivosa, ser mãe em parto permanente. Serra, terra de aleitar todos os povos, a cuidar de cada um que aqui fizesse pouso.

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TERRA. Por ser tão plena, erramos ao lhe sugar sem repor. Será eterna a terra, por isso nos olha e ainda nos protege. O sabor que vem do céu. Seus estandartes maiores pairam sobre tudo e de cima caem seus frutos, alimento e magia. Sementes!! (Onde há mais mistérios que em sementes?) Energia concentrada, pobre ciência que ainda não a compreende.

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SABOR. Sob ela, Araucária, em fogueiras por tanto e tanto tempo o assar lento que nos deu e dá a vida em iguaria. Não bastasse, ficou símbolo da terra o pinhão que garantiu o início, os caminhos e as passagens de índios por tantos séculos e bandeirantes mais recentes. Assim a terra ainda de juás e ingás, frutas e frutinhas, ervas de tempero e de curar. Assim ainda o sabor da quirerinha, canjiquinha a lembrar o angu de sal dos escravos e o nascer único de mineiros e de paulistas. Das hortas, alecrins, verduras, morangas, mugangos. Das flores, o mel mais silvestre da vida. 30 Anos de Alegria 135


GENTE. Das montanhas destes campos tiraram o mais lindo lenho. Araucåria, o mais lindo candelabro, ao erguer sua majestade em bandos, imponente encerra em si sua sabedoria, ao olhar os homens na ignorância de suas serras e machados. 136 Baden Baden


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SERRA NOSSA. Sua água pura abençoa todos os lados, Abençoa cerveja ao badalar dos sinos; Baden, baden, baden, que leva leve nosso nome por aí. Pamonha. Água ao passante, visitante ou habitante. Caipirinha, conhaque. Culinária alemã a mostrar histórias. Feijão. Fondue suíço, que ao redor do fogo sempre estaremos. Queijo minas. Massas italianas. Quiririm, panela de ferro, fogão a lenha. Trutas americanas a viver em nossas águas. Sashimi, moquecas. Caças, geleias, doces, chocolate!! Brigadeiro de colher. Cho co la te. Esta terra faz berço. Farinha. Farofa.

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A TERRA. Sabor brasileiro que a tudo recebe e transforma, preserve! HaverĂĄ o tempo de sabores ainda maiores. Que seu fazer ĂŠ lento. Nos tenha assim, serra bela. Ao sabor saberemos ir. E manter, terra sagrada, a Mantiqueira. E manter, terra sagrada, a Mantiqueira.

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O ESPELHO DA VIDA A vida é semelhante a um imenso espelho, Que está em cima, abaixo e à volta. Multiplicado infinitamente e refletido em nós e no universo... Nossos sentimentos, Nossos pensamentos, Nossas expressões, Nossas sensações, Nossas ações...


Agradecer... Agradecer não é uma atitude mental é, sim, uma atitude plenamente espiritual. É estar presente e viver em permanente estado de gratidão. É sentir a vida pulsando em tudo e em todos. E valorizar isso. É saber que tudo que existe é parte de algo maior. Agradecer é SER aqui e agora. Assim, devemos ser gratos sempre. Somos gratos pelas VIDAS ao nosso redor: de nossos clientes, colaboradores, fornecedores, patrocinadores, apoiadores, amigos, admiradores, enfim, somos gratos por toda a VIDA que faz a Baden Baden. Muito Obrigado a todos!




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