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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

Leôncio Siqueira cia - apercebera-se disso, daí a preocupação manifesta com relação ao romance. Acho que ela nunca conseguiu afastar-se disso, era muito incrente a ela, profundamente entranhado. Seus textos, vigorosos, corajosos, são envoltos por uma aura estranha e muito especial. Era uma escritora de estilo singular. A fogosidade dos seus escritos atira-nos a leitura desembestada. Todo esse conjunto me atraiu. Por que? Pela sua força literária? Quem sabe por seu universo ter sido Bragança da minha infância (o elo mais forte?), por ter vivido em Belém, por ter labutado, em tempos recurvos, na mesma repartição federal que eu (Justiça do Trabalho), onde encontrou fonte de inspiração para seu livro Afonso Continuo, Santo de Altar. É sabido que toda criatura humana tem sua missão terrena. Lindanor tinha a sua, e muito especial - - seus escritos remetem a isso —, e a cumpriu, com toda certeza. Embora fosse de todo lugar — seu espírito irrequieto assim pedia —, a escritora escolheu a França para viver e terminar seus dias. Quem conhece o país, sobretudo, a capital, Paris, sabe a atração que ela exerce (sempre exerceu) sobre os artistas, das mais variadas áreas culturais, em todos os tempos da humanidade. Em 2002 morreu na França, onde seu corpo foi cremado e suas cinzas, por desejo seu, esparzidas sobre as águas da baía do Guajará, em Belém, demonstrando todo o amor que nutria pela terra paraense, uma constante nas suas obras. Afora, evidentemente, os mais novos escritores, além do bragantino Nélio Gonçalves, acrescentamos em bom número: Ubiratan Rosário, Ribamar Oliveira, Alfredo Garcia, Leôncio Siqueira, Amaury Dantas, Reinaldo Gonçalves, 24 www.revistapzz.com.br

Cirene Guedes Quintino Leão, Leila Nascimento, Fernando Vieira, todos com obras publicadas, além de outros. Recentemente, a literatura bragantina perde uma de suas pérolas, a Professora Cirene Maria Guedes da Silva, Cirene Guedes, Membro Efetivo da Academia de Letras e Artes de Bragança, ocupante da Cadeira nº 6, que tem como Patrono D. Eliseu Maria Corolli. Prazer imensurável e, profusso, a qualidade e a quantidade de seus poemas, todos escritos à mão, que permaneciam adormecidos em seus cadernos pautados, afora os que vagavam em folhas avulsas. Num caderno pautado de capa dura, cor azul, ela ia escrevendo seus poemas e numerando suas páginas (174), um poema em cada página. A estes juntaram-se um monte de folhas avulsas, certamente destacadas de outros cadernos aramados e, mais outro caderno, de capa rosa, mais organizado, com 60 folhas. Computou-se, ao todo, cerca ou mais de quatrocentos poemas. Um fato inusitado, contudo, chamou atenção de Nélio Gonçalves, organizador do livro “Versos Molhados de Cirene Guedes”: todos estavam fortemente manchados de água, especialmente o primeiro, de capa azul, denotando-se que em algumas páginas havia muita dificuldade de ler certas passagens dos poemas. Indagando-lhe, então veio a explicação: seus escritos eram sobreviventes de uma enchente do Rio Caeté com o encontro das aguas do igarapé do Riozinho, bairro onde residia, durante um rigoroso inverno, que invadiu cômodos de sua casa. Disse que salvou o que foi possível salvar, ou o que estava ainda legível (no caso, as folhas avulsas destacadas) fácil

Aviz de Castro chegando-se a conclusão de que vários outros escritos certamente foram perdidos. Infelizmente. Depois da enchente, com receio de perdê-los durante outras possíveis, despachou o caderno azul para guarda na casa do Professor Ribamar Oliveira, e o outro, para casa de parentes. Ao reunir e ler, cuidadosamente, todo o seu conteúdo - depois de forma hábil e diligentemente digitado pelo Andrei Gonçalves - Nélio Gonçalves levou um enorme susto prazeroso: “em minhas mãos estavam o produto da maior poeta bragantina de todos os tempos – perdoe-me se cometo injustiça por esta afirmação. Chego a esta conclusão por absoluto conhecimento de causa: há muito procuro acompanhar e colecionar tudo o que se vem produzindo de literatura em Bragança e, nos Encontros Culturais promovidos pela Academia de Letras e Artes procuro sempre, expor todas estas obras para conhecimento do público participante. É imprescindível dizer da surpresa deste público em ver o quanto de literatura já se produziu em Bragança!” A grandiosa e manancial produção poética de Cirene Guedes, e a incrível qualidade dos escritos que agora sairiam do anonimato para deleite do povo de Bragança e de outros rincões. Nos “Poemas Molhados que assim resolvemos intitular, por óbvio, estava a produção parcial de Cirene Guedes, professora de várias gerações caeteuaras, a qual, durante longo tempo, guardou o que a sua genialidade poética produziu, e quase perdida pela referida enchente. Longe de lamentarmos a tragédia, recolhemos a certeza de que seus poemas foram abençoados pelo “batismo” de águas do formoso Rio Caeté - existiria batizado melhor? -, mancomunado, obviamente, com as águas do pequeno riacho


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