Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 46

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EDITORIAL 3

Nuno Gomes Oliveira

Diretor da revista “Parques e Vida Selvagem”

Variação da Biodiversidade Um estudo publicado na revista “Science” de 18 de abril passado, e muito citado na imprensa portuguesa, da autoria de cientistas das Universidades de St. Andrews (Escócia), Vermont e Maine (EUA) e Keio (Japão) conclui que existem tantos locais no planeta a perder espécies como a ganhar, havendo uma mudança na composição das comunidades.

A

valiando dados de 100 estudos de monitorização feitos ao longo de vários anos, em diferentes locais e biomas, concluíram, ainda, que "Em cada local, as espécies que encontrávamos há 30 anos são diferentes das atuais", como declarou à agência Lusa a Doutora Maria Dornelas da Universidade de St. Andrews, coordenadora do estudo. Conclusão a que, aqui no Parque Biológico de Gaia, já tínhamos chegado por via empírica. Ao longo dos últimos 30 anos diminuíram drasticamente as pequenas aves de alimentação basicamente insetívora (toutinegras, piscos-de-peito-ruivo, felosas...) e algumas desapareceram mesmo, como a Felosa-do-mato. Em contrapartida aumentaram algumas espécies mais omnívoras, como as tordeias ou as diversas espécies de chapins. Desapareceu a Rola-brava (criavam meia dúzia de casais no Parque Biológico) e apareceu, às centenas, a Rola-turca. Os migradores transarianos, visitantes de verão, como a Poupa e o Cuco, já por cá se não veem, como não se veem alguns visitantes vindos do Norte, no inverno, como o Galispo, a Galinhola ou o, antigamente abundante, Estorninhomalhado. Das aves de rapina, falta-nos hoje o Mochogalego, mas temos Milhafre-preto e Corujado-mato. Temos garças-reais e garçasboieiras, desde há alguns anos e, não raro

cegonhas a sobrevoarem ou pousarem no Parque Biológico. Realmente a biodiversidade, em absoluto, pouco diminui (80 espécies de aves até final dos anos 90 do séc. XX, 78 atualmente), mas a sua composição mudou por fatores locais, como a alteração do território do próprio Parque Biológico (hoje mais florestal), a diminuição da agricultura, a fragmentação do território ou o crescente uso de herbicidas; mas também por fatores longínquos, como a desertificação crescente ao sul do Sara que dificulta a migração das aves transarianas, as alterações climáticas e o uso intensivo de agro-químicos nos países do Norte da Europa. A caça, que é fortemente responsável pela diminuição, quase extinção, da Rolabrava, também pode ser responsável pelo

aumento de aves de rapina e outras espécies protegidas que os caçadores deixaram de abater.

POLINIZADORES E PESTICIDAS A diminuição das abelhas na Europa, estimada em 30% ao ano nos últimos 15 anos, é preocupante pois elas são responsáveis pela polinização de três quartos das colheitas agrícolas a nível mundial. Recentemente a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) divulgou um estudo que demonstra que 24% das espécies de abelhas e abelhões da Europa estão ameaçados. A polinização é a transferência do pólen das anteras de uma flor para o estigma de outra flor da mesma espécie

Mapa das Áreas de Risco de Desertificação apresentado na Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas (1977)

Risco de desertificação Muito alto Alto Moderado

Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 3


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