Ilustração: Liliana Kyung
DEZEMBRO DE 2022 // ANO 11 // NÚMERO 22 REVISTA-LABORATÓRIO DOS ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM
METAVERSO PLURAL E LABFOR FAZEM EXPERIÊNCIA COM REALIDADE DIGITAL
GEOPOLÍTICA OS PERCALÇOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS QUE ENVOLVEM A CHEGADA DO 5G
ENTREVISTA
DEMI GETSCHKO, DO NIC.BR: “TODA TECNOLOGIA TRAZ JUNTO UMA DESIGUALDADE INERENTE”
5G: POSSIBILIDADES E
OBSTÁCULOS DA NOVA REDE
Como a quinta geração da internet móvel pode mudar a vida das pessoas
REVISTA-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM-SP
Nº22 - 2º SEMESTRE DE 2022
Presidente
Dalton Pastore
Vice-presidente Acadêmico
Alexandre Gracioso
Vice-presidente AdministrativoFinanceira
Elisabeth Dau Corrêa
Diretora Nacional de Operações Acadêmicas
Flávia Flamínio
Coordenadora do curso de Jornalismo-SP
Maria Elisabete Antonioli
Responsável pelo Centro
Experimental de Jornalismo
Antonio Rocha Filho
Editora - Revista Plural
Profa. Cláudia Bredarioli
Editor - Labfor
Prof. Paulo Ranieri
Alunos colaboradores
PLURAL: Amanda Amorim, Arthur Flavio, Catharina Trabasso (Design), Karina Lopes, Ricardo Lima (Design), Theo Fava e Viviane Tolosa.
LABFOR ESPM: Bianca Iazigi, Liliana Yoo Mi Kiung (Design), Luis Fellipe Suzuki, Mariana Bonini.
CEJor, Centro Experimental de Jornalismo da ESPM-SP portaljornalismo-sp@espm.br
Rua Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana São Paulo, SP Tel. (11) 5085-6713
Projeto gráfico
Marcio Freitas
A fonte Arauto, utilizada nesta publicação, foi gentilmente cedida pelo tipógrafo Fernando Caro.
IMPACTOS DO 5G E A ACELERAÇÃO DA VIDA
»»» O 5G chegou. Depois de anos de preparação e muita discussão, a quinta geração da rede móvel é uma realidade – ainda que um pouco incipiente, por ora – nas principais capitais do Brasil. E deve se disseminar ainda mais pelo País, com expectativa de chegar a todo o território nacional até o fim de 2029. Em um contexto de conexão constante, com uma experiência contínua entre o mundo físico e o virtual, a aceleração da vida se intensificará a partir de impactos sociais e comportamentais que passam a ser mais presentes no cotidiano. Mas quem de fato irá se beneficiar com a nova tecnologia?
A 22ª. edição da Plural foi fazer essa pergunta para mostrar o panorama que se descortina diante da novidade. Logo nas primeiras páginas, temos uma entrevista com Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, para quem “toda tecnologia traz junto uma desigualdade inerente”. Assim como em outras reportagens desta revista, surge a partir deste texto a discussão sobre o acesso à quinta geração da internet móvel. Ele exige aparelhos celulares mais novos e mais caros, envolve a necessidade de investimentos em infraestrutura para distribuição de sinal, prevê contrapartidas por parte das empresas de telecomunicações para que a rede chegue a escolas públicas sem acesso à internet.
As possibilidades trazidas pelo 5G, contudo, são incontáveis: ampliação da internet das coisas, uso de realidade aumentada, proliferação da inteligência artificial, desenvolvimento de cidades inteligentes nas quais carros autônomos possam trafegar. Os canteiros de obra vão identificar aumento na produtividade, o consumo energético será mais eficiente, médicos poderão acompanhar cirurgias assistidas a distância.
A Comunicação e o Jornalismo vão passar por diversas novas experiências. Nesta Plural nós apresentamos uma iniciativa do Laboratório de Formatos Híbridos (Labfor-ESPM), coordenado pelo professor Paulo Ranieri, que desenvolveu avatares que ganharam vida em um vídeo produzido por alunos e professores.
De certa forma, a chegada da nova tecnologia deve concretizar boa parte das demandas que afloraram por conta da pandemia de Covid-19. Se antes havia a possibilidade de estar dentro ou fora da rede, isso acabou por completo. Mas ainda haveremos de pensar sobre os impactos disso tudo no comportamento, em permitir que a tecnologia faça escolhas, pense e aja no lugar do ser humano. Nas próximas páginas, levantamos algumas reflexões sobre o tema.
Boa leitura!
CLÁUDIA BREDARIOLI, EDITORA DA PLURAL
e EDITORIAL
ÍNDICE
ENTREVISTA
Demi Getschko, engenheiro eletricista e presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), tem uma visão crítica sobre a chegada do 5G. Ele afirma que a nova tecnologia não vai conectar mais pessoas, mas sim garantir uma melhor inclusão a quem vai começar a usá-la. Segundo Getschko, a função do 5G não é a incorporação de uma população maior com acesso à rede e sim a incorporação de uma tecnologia avançada, com boa latência e maior velocidade.
página 16 EDUCAÇÃO
A tecnologia 5G é a nova aposta da educação brasileira. Com a ajuda deste novo sinal, escolas que ainda não possuem acesso à internet no Brasil terão a promessa de integrar a rede mundial de computadores.
página 20 CARROS AUTÔNOMOS
Os carros autônomos são veículos que possuem a capacidade de dirigir em piloto automático e tomar decisões relacionadas à direção sem precisar recorrer ao motorista.
página 22 GEOPOLÍTICA
O 5G também sofreu impacto de questões geopolíticas. No ano de 2021, aconteceu o leilão do 5G no Brasil, que trouxe diversos embates entre China e Estados Unidos sobre a adoção da tecnologia.
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10 CAPA
página
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prevê que o 5G possibilitará uma velocidade máxima de 20 gigabits por segundo, que é 20 vezes mais rápida que a rede 4G atual.
página 24 METAVERSO
Ninguém sabe realmente para onde o metaverso está indo. É apenas uma questão de tempo até que o mundo testemunhe se o investimento multibilionário do empresário Mark Zuckerberg terá retorno financeiro.
página 14 FAKE NEWS
As inúmeras fake news que surgem em torno do 5G já são problemáticas na medida em que confundem a população e a mantém isolada do que realmente está acontecendo ao seu redor.
página 27 DESIGUALDADE
Nos dois anos de pandemia que marcaram o começo da nova década, duas coisas ficaram claras: a internet se transformou em um item essencial de infraestrutura; e o Brasil tem um abismo de desigualdade digital.
página 18 FAVELA 3D
A Favela Marte, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, será a primeira favela do Brasil a receber a quinta geração da internet móvel que promete maior velocidade de navegação.
página 28 ENERGIA
As redes com tecnologia 5G garantem demandar 90% menos energia do que as anteriores, impactando assim na diminuição dos custos futuros e tornando-as mais ecológicas e sustentáveis.
página 29 CONSTRUÇÃO CIVIL
Os canteiros de obra se tornarão mais eficazes, abrindo caminho principalmente para a inteligência artificial (em que as máquinas realizam atividades humanas de maneira autônoma).
página 10 Foto: iStock Foto: Reprodução Scielo Demi Getschko
Foto: Divulgação Favela 3D
ENTREVISTA: DEMI GETSCHKO
DIRETOR-PRESIDENTE DA NIC.BR E CONSELHEIRO DO CGI.BR
TODO AVANÇO TECNOLÓGICO TRAZ JUNTO UMA DESIGUALDADE INERENTE
DEMI GETSCHKO APONTA QUE O 5G É MAIS RÁPIDO, MAIS AVANÇADO E UMA TECNOLOGIA QUE AJUDARÁ EM DIVERSAS ÁREAS DA SOCIEDADE, MAS VAI BENEFICIAR AQUELES QUE TIVEREM CONDIÇÕES DE ADERIR À REDE, NÃO A TODOS
VIVIANE TOLOSA
»»»Demi Getschko, engenheiro eletricista e diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), tem uma visão crítica sobre a chegada do 5G. Ele coloca que a nova tecnologia não vai conectar mais pessoas, mas sim garantir uma melhor inclusão a quem vai começar a usá-la. Segundo Getschko, a função do 5G não é a incorporação de mais pessoas e sim a incorporação de uma tecnologia avançada, com boa latência e maior velocidade.
Não existem apenas benefícios nessa
nova tecnologia, Demi alerta sobre os riscos. O presidente avisa que quanto mais facilidade de acesso a internet, os usuários também ficam mais suscetíveis a receber ameaças, spam e fraudes. Sobre as inovações que essa tecnologia deve trazer, Demi enfatiza a maior banda em relação ao 4G que faz com que mais dispositivos possam estar conectados ao mesmo momento. Além da grande jogada do 5G, segundo ele, ser conseguir mais bits por segundo e uma velocidade mais rápida na troca de informações entre os dispositivos e a antena de tecnologia. Além disso, o engenheiro eletricis-
ta falou em quais áreas faz sentido a implantação do 5G. Para ele, a indústria automobilística é o setor com maior ganho. Em agronegócio, o 5G pode ser explorado em transferências de informação entre uma central e uma fazenda, por exemplo. Enquanto dentro de casa a internet das coisas (IoT - internet of things) já faz o serviço do 5G. Confira a entrevista de Getschko para a Plural:
Qual a inovação com o 5G?
A grande jogada do 5G, que pode ser identificada em todas as gerações da tecnologia, na medida que a coisa vai evo-
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luindo, é conseguir mais banda, para que mais bits por segundo possam ser transferidos entre o seu dispositivo e a antena e entre essa antena e o serviço que está sendo alocado. A banda do 5G é bem maior que a banda que o 4G fornece. O 5G permite uma quantidade muito maior de dispositivos se conectarem a ele do que o que permitia o 4G.
Então nós já temos mais banda, temos mais dispositivos e o terceiro ponto que é um pouco técnico, mas não custa falar também é um negócio chamado latência. Latência é o tempo que leva para você ir até lá e voltar, quer dizer, que tempo eu
levo pra ir até a central e voltar, para ir até um serviço e voltar. Por exemplo, se você usa satélite para chegar em algum lugar você tem que subir até o satélite e descer do satélite até a terra. Então a latência do 5G também é bem menor.
O 5G vai gerar algum tipo de desigualdade?
Bom, qualquer coisa que seja, digamos, avanços tecnológicos, traz junto com ele uma desigualdade inerente que é o fato de que tem gente vai nesse avanço e tem gente que fica parado no anterior. Então isso obviamente vai gerar
RAIO-X
Nome
Demi Getschko
Nascimento
15 de abril de 1954, em Trieste, Itália.
Formação
Graduado em Engenharia Eletricista na Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (Poli-USP), com mestrado e doutorado em engenharia.
Carreira
Diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) desde 2005.Em 2009 tornou-se editor chefe da Revista.br e, desde 2014, escreve quinzenalmente para o caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo.
alguma desigualdade adicional porque tem gente que terá o 5G e, portanto, mais banda e menor latência e outras estarão ainda chegando nisso aí, mas isso é um efeito transitório que todos temos que aguentar.
Como eu disse, pelo menos na minha visão, é que isso é mais uma ferramenta que ajuda a internet, não é uma bala de prata que vai tornar a internet espetacular pra todo mundo, porque demora pra ir pra tudo quanto é lugar e ela não vai deslocar outras soluções. Por exemplo, tem uma solução importante chamada wifi 6, que permite também mais
Foto: Reprodução Scielo Demi Getschko
“EU NÃO ACHO QUE SEJA UMA TECNOLOGIA
AUMENTAR O
DE PESSOAS
Quer dizer, o 5G não é uma tecnologia de entrada, é uma tecnologia de evolução. Uma tecnologia de ponta. Quem já tinha uma conexão razoável pode melhorar, indo pra 5G. Quem não tinha nada dificilmente vai sair do nada pro 5G. Ele vai sair do nada pra uma coisa mais elementar e depois vai evoluindo pro 5G, a não ser que alguém instale 5G lá direto, pode acontecer isso também. Então eu não acho que seja uma tecnologia para aumentar o número de pessoas conectadas, porque a função dele não é basicamente de mais inclusão, é de melhor inclusão, as pessoas conectadas terão mais condição de trabalhar e ter mais pessoas mais conectadas depende de políticas mais de infraestrutura do que de 5G em si.
Como especialista, o que você achou do 5G?
banda e melhor desempenho em pontos de wifi e os Wi-Fi são pontos importantes para praças públicas.
O pessoal fica na praça usando internet, pode usar wifi em estabelecimentos comerciais que muitas vezes tem wifi disponível. Então existe um conjunto de coisas que vão ser usadas, o 5G é uma delas, ajuda e vem pra somar mas eu não diria que existe o mundo antes e depois do 5G. Existe um gradual de melhorias, onde o 5G faz parte e nós estamos indo na direção disso. Mas evidentemente vai ter gente que vai demorar mais pra ter isso, vai ter gente que vai ter logo e isso não vai matar as demais tecnologias. Dizer não, agora só tem 5G, vai continuar tendo o que já tinha mais o 5G
Vai aumentar o número de pessoas conectadas à internet?
Em geral quem vai estar conectado com 5G é quem já estava conectado.
Eu acho que é ótimo termos mais uma tecnologia, uma tecnologia poderosa, especialmente na mobilidade, na banda e na latência e vai se somar ao que nós já temos dando um bom desempenho para aplicações de alto nível, aplicações de automação industrial, aplicações inclusive de entretenimento móvel, você consegue com 5G um bom desempenho que nos outros casos provavelmente você teria truncamentos e você teria perda de qualidade. Agora, se você não tem nada e está no sertão, não vai aparecer o 5G do nada e te conectar à rede. Provavelmente você primeiro precisa batalhar pra ter fibra chegando até algum lugar, algum tipo de acesso, certamente o 5G chegará também, mas não será a primeira onda.
Quais são os riscos da tecnologia 5G? Então, os riscos da tecnologia 5G, só pra falar mais dois ou três pontos aí que são evidentemente variáveis. Primeiro, a tecnologia 5G trabalha debaixo do IP,
portanto debaixo da internet, a internet trabalha sob isso. Então nós temos várias discussões sobre como a internet deve ser. Uma delas, por exemplo, é que a internet tem que ser neutra. O que significa que a internet tem que ser neutra? Que você não pode beneficiar acesso a um lugar e prejudicar o acesso ao outro, você não pode interferir no que eu possa ver ou deixar de ver, mexendo digamos na quantidade de recursos que você coloca para um lado ou para o outro. Quer dizer não, para o pessoal da minha turma eu deixo você ir e para o pessoal que eu não gosto eu vou impedir que você vá. Isso a internet teoricamente não deveria fazer e o marco civil brasileiro escreve explicitamente que isso tem que ser neutro. Agora como a internet está em cima do 5G a neutralidade da internet agora passa a depender da neutralidade 5G, quer dizer se o 5G não for neutro você não tem uma internet neutra, não por culpa da internet mas por culpa, digamos, da infraestrutura debaixo dela que pode ser não neutra esse é um um ponto. Outro ponto que tem que levar em conta sempre é que quanto mais facilidade de acesso você tem a internet também mais facilidade de acesso o pessoal de más intenções tem a você. Então se você está mais conectado e com mais banda você vai receber, evidentemente, muito mais informação e dentro dessa mais informação que você recebe, vai receber também mais ameaças, mais spam, mais riscos, mais fraudes, etc.
Quais os impactos do 5G nas diversas áreas da nossa sociedade?
Eu acho que é uma excelente ferramenta para você somar ao arsenal que você já tem. Eu não acredito que ela vá deslocar totalmente outras ferramentas. Certamente, por exemplo, você vai continuar tendo wifi na sua casa, provavelmente vai continuar usando o wifi para
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CONECTADAS, PORQUE A DELAFUNÇÃO NÃO É BASICAMENTE DE MAIS INCLUSÃO, É DE MELHOR INCLUSÃO”
ligar dispositivos ao seu roteador. Você vai usar Bluetooth para coisas de pouca distância, em suma, é internet para conexões em rede local. Tudo que existia continua existindo e você tem adicionalmente o 5G.
Como a indústria automobilística se beneficiaria dessa nova tecnologia?
Eu posso ficar no carro numa conexão em 5G ou 4G, que já podia também mas o 5G com certeza vai poder isso também. Você vai andando no carro, você vai fazendo suas edições no seu texto, vendo o seu vídeo, o que for porque as células repassam entre elas a conexão que você tinha e a sua conexão não cai. Então, para aplicações em que você precisa de mobilidade e agora você tem mais banda, menor latência, o 5G ajuda muito. Então, por exemplo, você quer um carro móvel, precisa falar urgentemente com a central de controle ou coisa assim, via 5G ele consegue falar
com alta banda e baixa latência. Um sujeito que está fazendo uma operação num hospital ele precisa consultar um outro médico que está andando no meio da rua, que tá em algum lugar, o 5G vai permitir isso ser feito com agilidade e qualidade. Então, essas são as outras grandes aplicações. Outras aplicações podem ser beneficiadas, mas aí a coisa varia muito, por exemplo.
Você acha que seria funcional ter o 5G dentro de casa?
Eu acho que dentro de casa é pouco provável que você use 5G para a sua geladeira falar com o seu fogão, se os dois estiverem ligados via internet das coisas.
Você vai usar wifi que é estável, é barato, não custa e não precisa de assinatura, é uma coisa que você resolve localmente. Quando você sair para andar, provavelmente, você vai precisar de uma tecnologia celular e aí o 5G vai ajudar.
De que modo se aplicaria na área de mobilidade?
Eu acho que é uma excelente adição para mobilidade, pra gente que precisa de recursos importantes, em deslocamento, é importante para indústrias onde você pode ter automação de equipamentos que precisam de grande banda e podem estar se movendo dentro de indústria.
Daí vai ficando menos crítico, por exemplo, para coisas dentro de casa ou coisas no campo, onde você tem pouca necessidade de banda. Como eu falei, um sensor de temperatura não fica falando desesperadamente, ele manda quatro cinco bytes para dizer qual é a temperatura e ficar quieto por horas. Então aí o 5G é menos, digamos, crítico e, certamente ele usa mais energia, então você não vai botar isso [5G] numa situação remota desse tipo.
Pode haver modificações na lei, com o 5G?
Então, veja, eu sou um grande fã da lei do marco civil e também da LGPD, no seguinte sentido, são leis que não se ligam a uma tecnologia específica. Quando você amarra a lei, a tecnologia, a lei tende a ser obsoleta à medida que a tecnologia vai mudando. Por isso as leis precisam ser atualizadas. Então, a lei de proteção de dados não está amarrada a nenhuma tecnologia em si e também o marco civil não está amarrado a nenhuma tecnologia em si. Com isso eles têm uma sobrevida que é muito mais parecida com, digamos, direitos humanos, não estão amarrados ao fato de que as pessoas estão aqui ou na Ásia ou na Alemanha, quer dizer se você se especifica a lei é de proteção de dados privados com alguma tecnologia embutida você está criando uma lei datada que vai perder efeito assim que aquela tecnologia for substituída.
Foto: Freepik
5G, como tecnologia de melhor inclusão ainda vai demorar para chegar a todo o Brasil
OQUE MUDA COM O 5G
O que é, como funciona e por que se importar com a quinta geração de internet móvel
»»» “Uma revolução está a caminho”. Foi assim que o jornalista Tadeu Schmidt abriu a reportagem do programa Fantástico, na TV Globo, sobre o 5G, em dezembro de 2020. A quinta geração de internet móvel é a mais nova entrada no mundo dos sistemas de celulares e arquitetura de rede. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ela possibilitará uma velocidade máxima de 20 gigabits por segundo, 20 vezes mais rápida que a rede 4G atual. Isso permitirá a evolução de processos produtivos em diversos setores das indústrias. O 5G
chegou ao Brasil no começo de julho, em São Paulo. Segundo dados da Anatel, a tecnologia já está disponível em todas as capitais do país. Entretanto, a rede ainda é bem limitada e demorará alguns anos para atingir a capilaridade que a sua antecessora tem. Então, se a maioria da população brasileira não tem acesso e a única mudança é a velocidade, por que se importar? A resposta vem das possibilidades que a tecnologia nos traz.
Em entrevista para a Plural, Fábio Soares, engenheiro de telecomunicação, disse: “Os especialistas mundo afora entendem que o 5G vai ser mais disruptivo que a própria internet”. Mas o que
exatamente isso significa? A internet comercial, para o consumo público, surgiu em 1993 e consistia basicamente em sites. Naquela época, era inimaginável a forma que essa tecnologia seria usada hoje. Por exemplo, no processo de checar a rota mais fácil ou rápida de desolamento a partir de um celular, o 5G chega com a promessa de ser mais que isso. Segundo Soares, as possibilidades não se limitam a trajetos e aplicações palpáveis, mas também estarão presentes em situações ainda pouco percebidas. Internet das coisas e inteligência artificial são termos que parecem coisa de cinema. Com o 5G, eles se tornarão termos do dia a dia. Mas quem ganha com o 5G?
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ARTHUR FLAVIO
Para onde vamos
A quinta geração está presente, no momento, em todas as capitais do Brasil, mas com acesso ainda restrito a boa parte da população. Isso se deve à baixa compatibilidade com celulares de gerações passadas. Uma lista disponibilizada pela Anatel diz que, atualmente, 82 modelos de aparelhos funcionam com o 5G. Isso também se deve ao baixo número de antenas instaladas. As promessas da Anatel parecem querer resolver essa questão, mas em um período nada animador. No site oficial do governo, é informado que o objetivo é atender 100% dos municípios com população igual ou superior a 30 mil habitantes, fornecendo uma antena para cada 15 mil pessoas, apenas em meados de 2029.
Ou seja, o 5G não estará disponível para a população em geral logo de cara. Afinal, a tecnologia é uma promessa de revolução. E não vem simplesmente prover uma maior qualidade e velocidade
para a população de uma forma direta, mas sim por meio de melhorias nas indústrias. Com o 5G, será possível realizar o que chamam de internet das coisas (IoT, como também é chamada, a partir das iniciais da expressão em inglês, Internet of Things). Cidades conectadas o tempo inteiro. A sua geladeira vai saber sua comida favorita, quando você precisa dela e em qual supermercado você vai com mais frequência.
Cunhado por Kevin Ashton em 1999, o termo Internet of Things (IoT) costuma se referir a uma rede de objetos conectados e sensíveis. Indústrias inteiras serão remodeladas para estarem conectadas a data centers que realizaram trabalhos manuais com a maior eficiência já vista. André Lemos, engenheiro, mestre em Política de Ciência e Tecnologia e doutor em Sociologia, escreve no texto de abertura de seu livro A comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura: “Na cultura contemporânea, mediadores não-humanos (objetos inteligentes, computadores, servidores, redes telemáticas, smartphones, sensores, etc.), nos fazem fazer (nós, humanos) muitas coisas, provocando mudanças em nosso comportamento no dia a dia e também, em contrapartida, recursivamente, mudamos esses não-humanos de acordo com a nossa necessidade”. No Brasil, junto com a chegada do 5G em 2022, tivemos a Lei 14.108/2020, que impulsiona a IoT. Essa lei permite que aparelhos do dia a dia como eletrodomésticos sejam conectados à internet, e reduz a fiscalização de instalação e funcionamento de estruturas de telecomunicações M2M (máquina a máquina), que é basicamente o uso de uma máquina para controlar outra. Com isso, a nova regulamentação viabiliza a instalação de inteligência artificial em diversas indústrias, sem a fiscalização das próprias fábricas.
Em entrevista para a Plural, Carlos Storck, pesquisador e professor do Cefet-MG, doutor em Informática e especialista em 5G, diz que a inteligência artificial proporcionará uma mudança significativa nas indústrias. Isso porque, as máquinas já podiam ser controladas por inteligência artificial, mas ainda era necessária uma estrutura gigantesca de refrigeração para amenizar o calor produzido pela quantidade de dados processados. Agora, com o 5G, só é necessário um pequeno aparelho montado junto à máquina que se comunique com um data center que tenha toda essa estrutura para resolver esse problema.
Fábio Soares destacou também o que poderá acontecer com as pessoas que ficarão sem emprego por terem suas funções realizadas por robôs. O entre-
“As mesmas empresas que impactam negativamente o meio ambiente são as mesmas empresas que empregam pessoas e que fazem a economia girar.”
Barbara Dunin ex-assessora da Rede Brasil do Pacto Global, que participou da agenda Rio + 20
vistado afirmou que “eles estão saindo de um emprego com pouco valor agregado para um com muito valor agregado”, e que isso não será um problema, pois uma vez que os empregos manuais não forem mais necessários, eles ressurgirão como programadores e técnicos de inteligência artificial. Mas quando questionado sobre a necessidade de estudos para realizar essa nova função e que, muitas vezes, operadores de máquinas não têm o dinheiro necessário para a realização desse processo, Soares diz: “Claro, isso vai demandar deles algum tipo de esforço. Vai ter que ter um esforço do governo também, com educação”, sem mencionar a responsabilidade das empresas e de toda a sociedade civil nesse processo.
Outra coisa que muda com o 5G é a baixa latência que a nova tecnologia proporciona. Latência é a diferença de tempo em que uma ação é dada e quando ela acontece, o delay, segundo Carlos Rafael Gimenes das Neves, engenheiro da Computação e professor no curso de Tech da ESPM-SP. Na quinta geração é de um milissegundo. E essa baixa latência é que permite um carro dirigir sozinho. É também o que vai permitir que um médico no Japão opere uma pessoa no Brasil.
Dessa forma, a tecnologia 5G não será perceptível à população de uma maneira geral num primeiro momento. Mas o que ela proporcionará são alternativas ainda nem pensadas pelos seres humanos de como otimizar nossa sociedade. Só que ainda restam perguntas que só o futuro irá nos responder. Quem realmente ganha com a otimização das máquinas e o que acontecerá com aqueles que perderam seus empregos para elas? Além de perguntas de cunho ético, como o quão dependentes da tecnologia somos e o quão longe isso pode chegar.
Enquanto elas não são respondidas, resta esperar pela sexta geração, que tem
Em um futuro próximo todos nossos aparelhos eletrônicos serão controlados por outros aparelhos
previsão de chegada para 2028, segundo Fábio Soares, e promete velocidade de até 1 mil Gbps, com foco em máquinas e ampliação de realidade estendida. O 5G opera em outra escala, de cem megabytes (MB) a 1GB de taxa média, com 20GB de pico. Ou seja, o 6G têm cem vezes mais velocidade. O problema é que, quanto mais alta a frequência, menor a distância que ela é capaz de percorrer.
antenas e frequências É necessário compreender que a tecnologia de dados móveis é baseada em radiofrequências. Ou seja, o sinal é enviado e recebido por meio de antenas e receptores, com centrais que são conhecidas por Estação Rádio Base (ERB). Aquelas torres gigantescas formadas por linhas de aço laranja, branca ou vermelha. Com a chegada do 5G, essas torres irão mudar. A nova tecnologia ainda funciona com as radiofrequências, mas com
frequências de ondas muito mais rápidas, só assim ela consegue carregar mais dados. Quanto menor a onda, maior a frequência e consequentemente, mais informação a rede é capaz de passar. Mas um problema surge com isso. Marcelo Zuffo, professor de sistemas eletrônicos da USP, disse para o Fantástico, em reportagem veiculada pela TV Globo em dezembro de 2020: “No caso do 5G, a gente aumenta a velocidade de propagação de sinal usando ondas menores. O problema dessas frequências é que elas são menos penetrantes”. Isso significa que as ondas do 5G não viajam tão longe quanto as do seu antecessor.
Marcos Vinicius Aguiar, diretor-executivo de Relações Governamentais da AEA, disse que pela baixa penetração das ondas do 5G, a instalação de mais antenas é necessária, para que o sinal fique mais estável. Por isso, a paisagem urbana tende a mudar. Logo mais será normal
12/13 Foto: Freepik
olhar para cima e ver antenas para todos os lados. Fixadas nos mais diversos prédios. Mas como será que a humanidade chegou a esse ponto?
de onde viemos
Em 1973, Martin Cooper testou com sucesso o primeiro celular. O jovem inventor havia assumido o controle da empresa Dyna Tac três anos antes. Embora ele tenha sido criado em 1973, o aparelho só foi lançado em 1983, pesava quase 1 kg e foi o começo de tudo. O mundo sentia então o gosto do 1G, que realizava apenas chamadas por voz. Mas nem tudo eram rosas. Fábio Soares, engenheiro de telecomunicação, disse que, embora revolucionária, a tecnologia do 1G não foi acessível para grande parte da população, devido ao alto preço do serviço, e por isso não é tão lembrada hoje em dia. Segundo dados do Tilt (2017), do grupo UOL, o primeiro celular do mundo custava cerca de US$ 3.995 (cerca de R$ 20,8 mil). Fora a taxa de US$ 50 (aproximadamente R$ 260) por mês para adquirir o plano comercial e uma taxa adicional de US$ 0,40 (R$ 2) por minuto de ligação. Ou seja, ter um celular não era para qualquer um.
A partir da década de 1990, surgiu o 2G e o começo da era digital. Diferentemente de seu antecessor, que funcionava de maneira analógica, a nova geração trabalhava de forma digital, permitindo diversas conversas ao mesmo tempo e o barateamento da tecnologia. Outra mudança que o 2G proporcionou foram as mensagens de texto. E bem no final da vida, devido ao surgimento de novas tecnologias (GPRS e Edge), permitia acesso limitado à internet, em uma taxa extremamente baixa, 171 Kbps no GPRS e 384 Kbps no Edge, segundo o CanalTech. Dez anos depois, segundo o pesquisador e professor Carlos Storck, o mercado conheceu o 3G, em 2021. Com ele,
veio a consolidação da navegação e acesso da internet pelos celulares, mas ainda trazia uma velocidade baixa. Fábio Soares disse: “No 3G a gente está falando de no máximo 2 Mbps, mas a média de fato era de 384 a 500 Kbps, bem menor que a expectativa, e com uma latência extremamente alta. Então praticamente tudo o que você conseguia navegar era em site”.
Mas a utilização do 3G pela massa foi, novamente, um processo demorado. Houve uma troca de frequências utilizadas, de GSM para UMTS. E essa troca foi demorada em diversos países. Inclusive no Brasil, que conseguiu fazer uso da tecnologia, de fato, apenas seis anos depois de seu lançamento.
Mais dez anos depois, em 2010, chegou a vez do 4G. Agora, a internet móvel tinha uma velocidade e latência que chegavam a 1 Gbps e 80 milissegundos. Isso possibilitou a criação de uma rede muito mais eficiente, e com ela aplicativos que faziam uso do GPS, dando uma enorme autonomia aos dispositivos celulares, com aparelhos que estavam conectados o tempo todo. Mas isso não foi bem democratizado.
Segundo um levantamento da Anatel em 2020, mais de 20 milhões de pessoas ainda usavam o 3G no Brasil. Sobre isso, Fábio Soares afirma: “Existe um problema financeiro muito grande. Por mais que as operadoras sejam grandes, elas não têm bolso para fazer uma cobertura de uma tecnologia nova”. E segue explicando que existe uma preocupação para que isso diminua com o 5G. Instituições como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ministério das Comunicações e a Anatel estão abrindo um processo com o nome de democratização do 5G, por meio do qual incentivam que os prefeitos das cidades invistam na infraestrutura de celular para que as operadoras possam trabalhar.
Carlos Storck é pesquisador e professor concursado do Cefet-MG
“Existe um problema financeiro muito grande. Por maiores que sejam as operadoras, elas não têm bolso para fazer uma cobertura de uma tecnologia nova.”
Fábio Soares, engeheiro de telecomonicações
Foto:: Reprodução/Acervo Pessoal
THEO FAVA
»»»“A mentira é mais sexy do que a verdade”, diz Sérgio Ludtke, editor do Projeto Comprova. A iniciativa de Ludtke reúne jornalistas de 43 veículos de comunicação e faz a verificação de conteúdos duvidosos que surgem na internet sobre diversos assuntos, como as eleições e a pandemia da Covid-19. Para ele, as mentiras disseminadas têm muito mais potencial de circulação do que as notícias verdadeiras, pois dependem apenas da imaginação do criador, e não de um processo árduo de apuração. Nesse sentido, é preciso que as ferramentas de checagem sejam, até certo ponto, atrativas, para poder competir com as narrativas não verdadeiras que chamam tanto a atenção dos internautas.
Além disso, Ludtke afirma que a desinformação pode ter diversas aparências e formatos, o que dificulta o processo de identificá-las e de desmenti-las.
“Nós temos tratado ‘desinformação’ como um termo guarda-chuva, em que cabem várias coisas”, comenta. As fake news podem, por exemplo, ser passadas por meio de postagens satíricas que, na maioria dos casos, não têm a intenção de desinformar. Mas acabam confundindo os leitores. É possível ainda que certos conteúdos usufruam de acontecimentos verídicos, porém de forma distorcida e enganosa. Para exemplificar esta situação, Ludtke reflete: “Se alguém publica uma notícia de que um jovem morreu em uma determinada cidade e que ele tomou 15 dias antes a vacina contra a Covid, a justaposição desses acontecimentos leva a entender de que a causa do falecimento é a vacina, embora não haja essa relação”.
Com a inovação do 5G representando um acontecimento na telecomunicação, a implementação da tecnologia
JORNALISMO CONTRA A PROLIFERAÇÃO DE CONTEÚDO FALSO
A revista Plural checou as principais afirmações sobre o 5G que circulam em rede
é acompanhada de uma série de mentiras e desinformações. Muitas dessas mentiras são baseadas num hábito de formar teorias da conspiração, que têm dominado as redes sociais desde que a internet se universalizou. Existem páginas no Twitter e no Facebook que são dedicadas a espalhar estas teorias, e por conta da natureza sensacionalista destas desinformações, têm a capacidade de se dispersar muito facilmente.
As inúmeras fake news que surgem em torno do 5G já são problemáticas na medida em que confundem a população e a mantém isolada do que realmente está acontecendo ao seu redor. As consequências dessas mentiras, no entanto, podem acarretar riscos à segurança pública e ao desenvolvimento social.
Em 2020, por exemplo, houve mais de 100 ataques e vandalismos a mastros de telecomunicações ao redor da Europa, devido a uma falsa conexão que havia sido estabelecida entre a radiação do 5G e o vírus da Covid-19.
Quando o nariz do Pinóquio cresce?
A Plural abriu um espaço descontraído para checar e apurar as afirmações sobre o 5G. O famosíssimo personagem Pinóquio, criado por Carlo Collodi, será nosso mascote. Funciona da seguinte forma: se a afirmação for verdadeira, o nariz do Pinóquio NÃO CRESCE. Se a afirmação for mentira, ele CRESCE. Caso a informação seja parcialmente verdadeira, mas estiver distorcida ou faltando contexto, o nariz do Pinóquio CRESCE UM POUQUINHO.
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Foto: Reprodução/Instagram Sérgio Ludtke
Ludtke, do Projeto Comprova: “a mentira é mais sexy do que a verdade”
O 5G PODE DIMINUIR O CUSTO DA ENERGIA
É de se esperar que a nova tecnologia 5G aumente não só a velocidade de conexão dos usuários e forneça uma cobertura mais ampla e eficiente, mas que também reduza o alto consumo de energia da nossa sociedade. As redes 5G prometem usar 90% menos energia do que as redes usadas anteriormente, o que por sua vez tem o efeito de reduzir custos futuros, sendo mais verdes e sustentáveis.
(Veja mais detalhes na pág. 28)
A RADIAÇÃO DO 5G CAUSA CÂNCER OU COVID-19
A ideia de que radiação pode causar câncer está fortemente presente no senso comum das pessoas. A relação que se faz entre esses dois conceitos, no entanto, só é verdadeira quando se trata de radiação ionizante, que é quando a radiação tem a capacidade de arrancar elétrons das moléculas. A radiação que o 5G gera, no entanto, não é ionizante, e portanto não tem a capacidade de causar câncer. Já no caso da Covid-19, não existe nenhuma relação biológica comprovada entre o 5G e o vírus, portanto não tem como este ser causado pelo 5G.
O 5G VAI COLOCAR A SEGURANÇA DE TODOS OS DISPOSITIVOS EM RISCO
Por se tratar de uma tecnologia que contém uma banda mais larga, conecta mais pessoas ao mesmo tempo, e aumenta a velocidade das informações, o 5G pode, sim, deixar os dispositivos mais vulneráveis a ataques. O gerente de projetos da empresa de telecomunicação Speedcast, Erico Approbato diz que apesar de aumentar a vulnerabilidade, a responsabilidade sobre a cibersegurança é, também, do usuário. Portanto, é importante que qualquer pessoa tenha senhas complexas e mais de um fator de autenticação, independentemente da geração telecomunicativa.
A CHINA QUER USAR O 5G
PARA ESPIONAR NO BRASIL
Segundo Fausto Godoy, coordenador do Centro de Estudos das Civilizações da Ásia da ESPM, existem vários fatores que derrubam essa narrativa das teorias de conspiração. Primeiramente, o Brasil não tem forte relevância no cenário geopolítico e, portanto, não interessaria aos grupos de espionagem da China. Além disso, as empresas chinesas que estão envolvidas na implementação do 5G em cidades do Brasil são privadas, apesar de terem laços com o governo, não são estatais.
Ilustrações Ricardo Lima Soares
5G: UMA APOSTA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Tecnologia pode trazer ampliação do acesso às redes no processo de formação
AMANDA AMORIM
»»» A tecnologia 5G é a nova aposta da educação brasileira. Com a ajuda deste novo sinal, escolas que ainda não possuem acesso à internet terão possibilidade de integrar a rede. José Luciano de Melo, professor de língua portuguesa e literatura da ETEC Cidade Tiradentes, afirma que a tecnologia atualmente se tornou a própria educação: “A tecnologia é mais do que uma ferramenta para a educação. Atualmente o professor não é mais a considerado aquele dono do saber, aquela pessoa que detém o poder de tudo e que os jovens precisam consultar para ter acesso à informação. Na verdade, o professor e a escola se tornaram mediadores do conhecimento, porque a informação é distribuída em diversas formas e em diversos níveis e formatos que o aluno irá buscar.”
Tendo em vista que as mídias têm um grande papel na formação dos cidadãos, há que se considerar que, além de disponibilizarem interatividade e descontração aos alunos, durante os estudos elas também ampliam as percepções de mundo e a diversificação social e cultural. Porém, no Brasil, há 25% do total de escolas públicas que
estão desconectadas das redes, o que afeta diretamente o rendimento dos estudantes.
Reginaldo de Jesus Tolosa, engenheiro e professor de química, comenta como o acesso à internet é essencial para um melhor desenvolvimento dos alunos. “A tecnologia pode influenciar muito em relação às escolas públicas e em relação aos estudos. Especialmente, no período de pandemia, nós, professores, não tínhamos como acessar os alunos pessoalmente, então tivemos que utilizar a tecnologia para lecionar. O principal meio utilizado foi o WhatsApp, que é uma rede social muito conhecida pelos alunos e nós nos aproveitamos dela para nos comunicar e passar conteúdo da aula. Estes e outros tipos de comunicação são grandes aliados nesse processo de aprendizagem. A tecnologia é algo que nós precisamos usufruir, seja como aluno ou como professor.”
Tolosa afirma que como consequência desse papel fundamental da internet nos estudos, os alunos que não dispõem das mesmas oportunidades acabam sendo diretamente impactados durante seu processo de aprendizagem. “Pensamos na parte de velocidade, ou seja, a importância da escola conectada, e a rapidez de comunicação. Deste modo, hoje é fundamental que a escola
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Essa nova rede vem para revolucionar, tornando mais acessíveis e mais rápidos os caminhos e acessos a aplicativos e sites
Reginaldo Tolosa, Engenheiro e professor de química
ESCOLAS SEM INTERNET NO BRASIL
seja conectada. Podemos ver isso com essa nova rede do 5G, que vem aí para revolucionar, tornando bem mais acessíveis e bem mais rápidos os caminhos e os acessos a aplicativos e a sites que a gente utiliza a escola. No meio educacional, é preciso estar conectado o tempo inteiro.”
Estudar em uma escola que não tem acesso à internet pode afetar diretamente o rendimento do aluno, afirma o professor de química. “A desvantagem de uma escola que não possuí acesso à internet é a demora da informação. O acesso à informação, por meio da rede, quando está relacionado à sua velocidade, é muito superior e interfere diretamente no rendimento do aluno.
A rapidez da informação é fundamental, o aluno sai prejudicado devido a essa demora para conseguir alguma informação que vai ser usada no futuro, seja em algum trabalho ou em seus estudos.”
A nova tecnologia 5G promete levar o acesso à rede para escolas que ainda são desconectadas. Em 2021, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) iniciou o projeto de leilão do 5G. A Frente Parlamentar de Educação solicitou que os ganhadores deste leilão tivessem a obrigação, como contrapartida, de levar internet móvel de qualidade para as escolas públicas brasileiras.
Uma das empresas vencedoras deste leilão, que arrematou lotes da faixa de
26 gigahertz (GHz), foi a Neko, subsidiária da Surf Telecom. A faixa de 26 GHz era considerada uma das mais críticas, por ser uma frequência ainda pouco explorada e que ainda deve começar a ser usada. Mas a Neko acabou comunicando à Anatel sobre a desistência do lote arrematado no leilão de novembro por R$ 8,5 milhões (com ágio de R$ 2,83 milhões). A Surf Telecom é uma operadora virtual, ou MVNO (mobile virtual network operation na sigla em inglês), empresa que presta serviço de telefonia e internet a partir da locação das redes de outras operadoras. Foi colocada à venda recentemente.
Yon Moreira, CEO da Surf Telecom, comenta que é imprescindível que a educação caminhe junto com a tecnologia. “A melhor maneira de enxergar o 5G como um todo é que ele tem o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Nós temos que olhar a tecnologia como uma oportunidade”, afirma.
Moreira realiza projetos com fundos sociais desde o início de sua carreira e acredita que o 5G vai permitir que o acesso fique mais barato. “Este sinal vai quebrar barreiras e permitir que pessoas tenham condições e oportunidades, que vão muito além da educação. É necessário que empresas de telecomunicações tenham a iniciativa de levar esta rede para vários lugares, pois o 5G por si só não fará isso. É de responsabilidade social que todos tenham direito de acessar a internet.”
De acordo com ele, a rede é uma chance de transformação da sociedade, em que a educação é um dos principais focos. “As empresas de telecomunicação têm o dever de levar esses sinais para lugares onde ainda não há rede ou até mesmo energia elétrica. O 5G, além de permitir que escolas tenham acesso à internet, serve também como agente de fiscalização da sociedade.”
Escolas
Brasil 1,5 ¾ Fonte:: Anatei 2 soo ooooQs ooo ooo 0.2 12. 75 50.4
sem Internet no
AS MÍDIAS TÊM UM GRANDE PAPEL NA FORMAÇÃO DOS CIDADÃOS AMPLIANDO AS PERCEPÇÕES DE MUNDO E A DIVERSIFICAÇÃO SOCIAL E CULTURAL
O 5G NA FAVELA
Projeto que envolve governo, sociedade civil e empresas promete oferecer às familias uma moradia digna, uma favela digital e desenvolvida
VIVIANE TOLOSA
»»» A Favela Marte, localizada na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, será a primeira favela do Brasil a receber a quinta geração da internet móvel que promete muitos avanços tecnológicos e maior velocidade de navegação. “Hoje em dia ninguém está apto a viver longe da internet. Tudo que você vai fazer precisa de internet”, disse Josiane Maria, 42, moradora da Favela Marte.
Outra moradora e responsável pela telecomunicação do projeto Eliane Tavares, 39, relatou como foi descobrir as ideias do Projeto 3D para beneficiar a Favela Marte. “Eu senti como se o nosso sonho estivesse prestes a ser realizado, como se o nosso grito [da favela] chegasse mais longe”. O projeto é uma parceria da ONG Gerando Falcões com a operado-
ra TIM, além da marca de celulares Motorola e da empresa American Tower. Toda a iniciativa faz parte do projeto Favela 3D: digna, digital e desenvolvida, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de seus moradores, incluindo um grande processo de reurbanização e modernização das casas dos moradores locais. A moradora Micheli Machado Bisco, 37, disse que espera “que o projeto consiga alcançar o que é só sonhos algumas famílias conseguem pensar”.
O projeto da Favela Marte começou em 2020 e envolve muitos parceiros, prefeitura, governos do estado, federal, iniciativa privada e também ONGs, como o Instituto Valquírias World, de Rio Preto. Um investimento de R$ 58 milhões. As famímilias começaram a ser removidas de suas casas no segundo semestre de 2022 para a reconstrução das moradias.
Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões, comentou que o projeto é pioneiro e o
melhor da tecnologia chegará nas favelas. “A periferia, geralmente, é a última a receber a inovação e, dessa vez, queremos acelerar o processo, conectando a comunidade ao 5G e proporcionando uma série de ações e acesso a serviços digitais graças a essa tecnologia”, disse o CEO.
A inclusão digital ainda é pouco presente em bairros periféricos. De acordo com pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Data Favela, em parceria com o Instituto Locomotiva, o acesso à internet é ruim em 43% das favelas brasileiras. A Favela Marte poderá significar um revolução tecnológica na periferia. No final de 2023, as 240 famílias de moradores da comunidade terão acesso ao 5G. “As pessoas de fora não têm a visão que nós dentro da favela temos”, declarou Eliana Tavares.
Durante o período da pandemia, ficou evidente a necessidade de uma internet
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Foto: Divulgação Favela 3D
Conceito visual para o Projeto Favela 3D
PARA TER ACESSO AO 5G, MUITAS PESSOAS VÃO PRECISAR TROCAR SEUS APARELHOS POR VERSÕES
MAIS ATUALIZADAS, QUASE SEMPRE MAIS CARAS
de qualidade para as crianças continuarem frequentando as escolas, por exemplo. “Para nós é gratificante as pessoas tomarem essa iniciativa de colocar o 5G lá dentro”, relatou Josiane.
Cada uma das marcas terá um papel fundamental na implantação do 5G na Favela Marte. A TIM foi a primeira operadora a implantar o 5G em Brasília. Enquanto isso, a American Tower vai garantir as antenas para uma conexão rápida e muito melhor, como é proposta pela tecnologia 5G.
“Trazer a dignidade, o sonho e a força de vontade para cada morador exercer seus direitos de cidadão e ter dos governantes e da sociedade o direito ao lazer”, disse Micheli Machado. A moradora afirma que quer fazer parte de “uma favela renovada, uma favela transformada’’.
Também segundo documento oficial divulgado pela Gerando Falcões, o CEO da TIM, Alberto Griselli, falou que o projeto da TIM é “entregar o melhor da tecnologia na comunidade, com iniciativas que podem englobar educação à distância, serviços financeiros, telemedicina, ações de empreendedorismo com o Instituto TIM e inclusão de mulheres no mercado de trabalho, por exemplo”.
Para ter acesso à nova tecnologia, o 5G, muitas pessoas vão precisar trocar seus aparelhos por versões mais recentes e atualizadas. Segundo José Cardoso, o presidente da Motorola no Brasil, a marca “foi pioneira em trazer o 5G para o Brasil”. Por isso, o projeto Favela 3D escolheu a parceria com a Motorola que apresenta a tecnologia 5G em 60% dos seus aparelhos. “Precisamos que os nossos aparelhos sejam compatíveis com isso”, comentou Micheli.
A remoção das famílias para o processo de reurbanização do espaço da Favela Marte já trouxe grandes mudanças. Os moradores foram realocados em imóveis alugados pela ONG Gerando Falcões.
“Morar numa casa digna me fez ter mais forças ainda para ajudar nessa luta contra a desigualdade social”, disse Eliana sobre como estava sendo toda a experiência de mudança.
“Depois de muita luta, nós somos merecedores de receber tudo isso”, afirmou Josiane. A estimativa é que o projeto seja concluído no segundo semestre de 2023.
Eliane Tavares, outra residente da Favela Marte, conta que não espera apenas uma casa, mas sim uma transformação de sua vida com toda a nova tecnologia que será implantada. “Vemos a transformação de cada morador, não só por ele sair de um barraco de madeira, mas pela transformação na qualidade de vida, de dar para esses moradores o direito de sonhar.”
A Favela será construída com avanços da tecnologia 5G. Além disso, contará com um museu da pobreza, fábrica de cultura, associação de moradores e muito mais benefícios. Em 2023, os moradores terão total acesso ao 5G por meio de hubs tecnológicos. “Daqui a menos de dois anos a gente vai estar dentro do nosso espaço. Mas, para melhorar, a gente precisou sair do nosso espaço”, comentou a moradora Josiane ,emocionada.
Josiane conta que, quando viu as reportagens sobre a implantação do 5G na favela ficou chocada com os comentários. “A favela precisa de comida e de roupa, para quê informática? Aliás, para quê internet?” são alguns dos exemplos citados que ela viu. Completou dizendo que muitas vezes as pessoas reclamavam dizendo “nem eu tenho 5G”.
“Para mim é gratificante, né? Saber que têm mais pessoas que se preocupam com os direitos de todos de ter tecnologia e igualdade. E, mais uma vez, isso mostra que a comunidade tem força para ir além”, disse Micheli Bispo.
Josiane Maria: “tudo depende de internet”
Micheli Machado deseja a diminuição da desigualdade
Eliana Tavares: ” a favela merece uma moradia digna”
Fotos: Arquivo Pessoal
KARINA LOPES
»»»A disseminação do 5G no mundo trouxe à tona diversos sonhos e expectativas de muitas pessoas, sobretudo daquelas que viveram a reviravolta tecnológica no final do século passado e início dos anos 2000. Diversas eram as obras cinematográficas que traziam elementos futurísticos envolvendo tecnologias ainda desconhecidas, como hologramas e carros voadores. O filme O Vingador do Futuro estrelado por Arnold Schwarzenegger trazia um elemento diferente: Um táxi guiado por um robô. No entanto, a obra que mais se assemelha às tecnologias desenvolvidas pelo setor automotivo atualmente é a franquia Carros, produzida em 2006 pela Pixar. A afirmação anterior pode gerar diversas perguntas, por exemplo “como a realidade pode imitar um filme de animação infantil?”
Os carros autônomos são carros que possuem a capacidade de dirigir em piloto automático e tomar decisões relacionadas à direção sem precisar recorrer ao motorista. No mundo essa tecnologia ainda está em fase de aprimoramento, já existindo alguns modelos no mundo que têm essa função, mas que não é executada plenamente. A promessa feita pelas montadoras e empresas que trabalham na indústria automotiva é que com a instalação e massa das antenas de 5G nas cidades, os carros autônomos poderão ser melhor utilizados, já que isso possibilitaria uma troca de informações mais dinâmicas entre carros e satélites.
No entanto, mesmo com a chegada do 5G nas capitais do Brasil, ainda é muito cedo para se falar em carros autônomos no país. Marcus Vinícius Aguiar, representante da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), disse em entrevista à Plural que “ainda
CHEGADA DOS CARROS AUTÔNOMOS: REALIDADE OU FICÇÃO?
Entenda como a tecnologia do 5G pode interferir na indústria automobilística
é muito cedo para falar sobre carros autônomos no Brasil” Aguiar justifica a afirmação falando que “para existir carros autônomos é preciso de todo um ecossistema preparado.” O representante da AEA traz ainda um panorama geral: “se você olhar até no resto do mundo, você não tem uma plenitude de carros 100% autônomos. Você tem alguns modelos que são semi-autônomos, alguns autônomos, mas é necessário, além do carro em si, ter o ecossistema. É preciso ter a via, a comunicação, toda a rede de dados preparada também para você não ter lapsos da comunicação.”
Berzin Bhandara mora no Texas e possui um dos primeiros veículos com funções semi-autônomas. Ele revelou à Plural que depois dos primeiros meses com o carro parou de usar o sistema de navegabilidade autônoma por conta de falhas e inconveniências. “Um dos pontos fracos que essas primeiras gerações apresentam
é que elas demandam muita interferência humana. Por exemplo, você precisa continuar com as mãos no volante ou a função autônoma para e, às vezes, a direção autônoma para sem nenhum motivo e é muito assustador”. Sobre essa falha que Berzin relata, a Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos Estados Unidos (NHTSA), fez um levantamento que mostra que no período entre setembro de 2021 e junho de 2022 houve 367 acidentes envolvendo carros autônomos. Isso acontece por diversos motivos, dos quais é possível citar dois principais: Pelo fato dos carros autônomos exigirem uma conexão plena com a rede, qualquer interferência no sinal ou redes congestionadas pode fazer com que o veículo fique desorientado; outra situação é que esse modelo de automóvel não reconhece elementos que não estejam conectados no servidor e trocando informações com ele, ou seja, ele não consegue prever o que os
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NO MUNDO ESSA TECNOLOGIA AINDA ESTÁ EM FASE DE APRIMORAMENTO, JÁ EXISTEM ALGUNS MODELOS COM
ESSA FUNÇÃO, MAS QUE NÃO É EXECUTADA PLENAMENTE
veículos ao redor vão fazer, o que gera uma resposta brusca no trânsito.
Ainda sobre a questão de acidentes envolvendo carros que dirigem sozinhos muito se questiona quem seria a figura responsabilizada nesses casos, já que o carro seria conduzido por satélite e a pessoa que originalmente estaria atrás do volante não teria muito controle sobre a situação. Marcus Vinicius afirma que a legislação que trata sobre carros autônomos está sendo levantada agora e se encontra em fases iniciais mesmo em países que já desenvolvem essa tecnologia há tempos. Ele também afirma que muito desse novo relacionamento entre pessoas e automóveis coloca em pauta questões como a responsabilidade civil.
É nesse sentido que a franquia de filmes Carros se assemelha ao mundo real. Há muito tempo atrás era difícil de imaginar veículos conversando entre si, tomando decisões sozinhos, vendo semáforos,
pedestres, fazer avaliações no sistema eletrônico do carro e até mesmo chamando eles mesmos autoridades como policiais e bombeiros. Parece uma situação utópica, no entanto Marcus garante que não é. O representante da AEA afirma que o principal empecilho para a adoção integral de carros autônomos no mundo é o fato de muitas cidades ainda não possuírem uma rede de 5G robusta, impossibilitando o tráfego rápido e dinâmico de informações que precisam ser compartilhadas para que esse ecossistema possa funcionar.
Trazendo agora um pouco do lado da produção fabril, Aguiar fala sobre a forma como o 5G pode baratear o custo dos carros a serem produzidos. Ele diz que “ a análise de dados da produção pode prever falhas, ajuda na automação industrial e na robótica, já que robôs fazem análises mais rápidas e com maior número de dados.” Sendo assim é possível reduzir o
tempo de produção, melhorar a qualidade, ajudar na rastreabilidade, e aumentar a confiança dos clientes. Além disso, Aguiar ainda diz que essa automação fabril é um fator importante para reduzir os riscos para os funcionários já que, segundo ele, “não é preciso ter um condutor que vai em áreas de risco, como alto-forno ou áreas de baixa temperatura.” Além desses pontos também é importante destacar que muito se fala sobre o impacto ambiental gerado por carros autônomos, já que os modelos de carros que estão sendo produzidos são movidos a eletricidade e reduzem a emissão de gases do efeito estufa. Bhandara fez uma observação sobre seu veículo: “Apesar do meu carro ter sido da primeira geração a usá-la (tecnologia autônoma) algo me diz que a tecnologia estará melhor nos próximos dez anos. Então provavelmente o próximo carro que eu comprar será duas ou talvez três vezes melhor.”
Ilustração : Ricardo Lima Soares
Conexão otimizada entre os carros e os elementos da cidade por meio do 5G permitirá a circulação de carros autônomos
GEOPOLÍTICA DO 5G
Como a aplicação da nova tecnologia de dados móveis é afetada pelas relações internacionais
relevância para o contexto brasileiro. Por algum tempo, Donald Trump, ex-presidente dos EUA, tentava fazer com que o Brasil proibisse o funcionamento da chinesa Huawei em território nacional, o que não era nenhum pouco viável para o nosso país.
»»»O 5G tem sido protagonista em muitos assuntos do mundo atual. Tecnologia, carros, internet das coisas e inteligência artificial são alguns exemplos das áreas que demandam essa nova geração das telecomunicações. No entanto, essa tecnologia passa por um impacto grande no que se refere à geopolítica. No ano de 2021, aconteceu o leilão do 5G no Brasil, que trouxe diversos embates a respeito da China e dos Estados Unidos, reflexo das discussões internacionais sobre a adoção da tecnologia.
O 5G está sendo muito comentado atualmente, sobretudo por conta da velocidade e volume com que as informações passam a ser trocadas. Por conta dessa dependência tecnológica, muitos países que são potências mundiais estão enfrentando uma corrida para saber quem terá maior influência nesse setor. É nessa circunstância que a corrida do 5G chega ao Brasil.
O leilão que aconteceu no Brasil para saber qual empresa seria responsável pela rede de distribuição nacional aconteceu em 2021. Nesse cenário, dois países tiveram grande destaque: China e Estados Unidos; ambos de grande
Quando o Brasil foi fazer o jogo do 5G, o país queria excluir os chineses por pressão dos americanos, que vieram aqui e falaram para não deixar os chineses entrarem na disputa Leonardo Trevisan, professor de Geopolítica Internacional na ESPM
Leonardo Trevisan, professor de Geopolítica Internacional na ESPM, explica à Plural por que isso ocorre: “Quando o Brasil foi fazer o jogo do 5G, o país queria excluir os chineses por pressão dos americanos, que vieram aqui e falaram para não deixar os chineses entrarem na disputa, mas isso foi impossível porque desde o período do 2G a Huawei já tem os equipamentos montados aqui no Brasil. Ficaria muito caro desmontar tudo para ter só o 5G americano.”
A Huawei, então, foi impedida de participar do leilão por não ser uma operadora de telefonia, mas a empresa ainda fornece os equipamentos necessários para as telecomunicações brasileiras. Esse cenário de conflitos trazidos pelo 5G não se restringe ao Brasil, mas alcança também outros países. Em represália à companhia chinesa, os Estados Unidos orientaram aos países aliados, como Reino Unido, França e Itália, que banissem a Huawei de seu território.
O Chile excluiu a empresa de seu projeto de cabos transpacíficos, e a Índia decidiu retirar os equipamentos chineses por conta de conflitos nas fronteiras de ambos os países. Essas medidas, segundo o advogado Ericson Scorsin –doutor em Direito pela USP e especialista em tecnologias digitais e telecomunicações –, adotadas pelos Estados Unidos como uma forma de se manter na corrida global do 5G e não perder a sua influência para a China. O pesquisador disse ainda à Plural que essas medidas “negam o livre comércio”, já que impõem restrições aos países e à tecnologia chinesa. Esses exemplos
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ESSE CENÁRIO DE CONFLITOS TRAZIDOS PELO 5G
NÃO SE RESTRINGE AO BRASIL, MAS CHEGA TAMBÉM A OUTROS PAÍSES
mostram o poder que nova tecnologia exerce sobre as nações e deixam uma pergunta no ar: por quê?
Para responder a essa questão é necessário entender que essa problemática é bem mais ampla do que parece. As telecomunicações, segundo Scorsin, não fazem mais parte apenas do contexto comercial, e sim da geoestratégia de um país. Victor Veloso, pesquisador da área de tecnologia e questões cibernéticas, explica à Plural que, a partir do momento em que um país tem domínio da estrutura de telecomunicações, é possível interceptar as informações que passam por ali.
Um grande exemplo disso é o grupo chamado Five Eyes, que nasceu no início da Segunda Guerra Mundial – composto
pelos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido –, como o objetivo principal compartilhar informações derivadas de espionagem entre si. O caso prático mais recente que demostra a importância das telecomunicações é o ataque russo às antenas de transmissão durante a Guerra da Ucrânia, que dificultou a comunicação do país atacado com seus aliados. Nesse sentido é possível entender por que as potências mundiais se preocupam com quem terá o controle das redes
de transmissão nos próximos anos e o motivo dessas disputas em relação ao 5G, já que ele é visto como o futuro das telecomunicações. É importante ressaltar também que, além da chinesa Huawei, a distribuição do 5G pelo mundo tem a participação de outras duas empresas europeias: Ericson, da Suécia, e Nokia, da Finlândia, ambas apoiadas pelos Estados Unidos.
Foto: Maystra Istock, com arte de Gabriella Manzini e Ricardo Lima
»»»Ninguém sabe realmente para onde o metaverso está indo. É apenas uma questão de tempo até que o mundo testemunhe se o investimento multibilionário do empresário Mark Zuckerberg na inovação tecnológica terá retorno financeiro. Ele vai falhar e ficar perdido na história ou se tornará uma nova maneira de se engajar socialmente? A única coisa que se sabe com certeza é que, para a tecnologia continuar evoluindo e ganhando força, é necessário o auxílio da tecnologia 5G. Para realmente entender o quão fundamental é o relacionamento entre 5G e metaverso, no entanto, é necessário compreender o que essa nova ferramenta é. Depois que Mark Zuckerberg renomeou o Facebook como Meta, em outubro de 2021, e mostrou sua visão para o futuro próximo, o termo se tornou tão rapidamente viral, que a maioria das pessoas não parou para aprender o que realmente significa. As buscas no Google pelo termo “metaverso” aumentaram astronomicamente após o anúncio de Zuckerberg, representando quase 100 vezes o que nor-
METAVERSO: A INOVAÇÃO CAMINHA AO LADO DO 5G
Ferramentas que se baseiam em realidade virtual ampliam as possibilidades de comunicação, mas esbarram no amplo acesso à nova tecnologia
malmente era alguns meses antes. A aparição instantânea da palavra na grande mídia fez com que o conceito fosse universalmente associado a Mark Zuckerberg e seus empreendimentos, como se fosse um produto de sua criatividade, e não uma ideia já existente pela qual ele é extremamente entusiasmado.
O termo “metaverse” (em inglês) remonta a 1992, quando foi usado pela primeira vez no romance Snow crash, de Neal Stephenson. A premissa da história envolve uma plataforma digital no futuro, na qual as pessoas interagem umas com as outras por meio de avatares 3D. Desde o lançamento do romance, qual-
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THEO FAVA
Projeção de usuário dentro do metaverso por meio de realidade virtual (VR)
Foto: Julien Tromeur/Unsplash
quer plataforma que envolvesse a interação de pessoas em mundos virtuais com ambientes 3D passou a ser reconhecida como uma interação do metaverso. A maioria dos casos nos últimos anos são videogames.
O primeiro exemplo famoso de uma plataforma metaverso foi o Second Life, que foi lançado em 2003 e teve seu auge de popularidade em 2006. O Second Life envolvia, como todas as plataformas de metaverso, a criação de avatares 3D que interagiam socialmente uns com os outros. Tinha uma economia própria e incluía conceitos como mercado imobiliário, comércio, entre muitas outras ideias que geralmente só são vistas no mundo real. Algumas empresas investiram em uma presença no Second Life, a fim de promover suas marcas, mas como o engajamento em torno da plataforma diminuiu, elas decidiram retirar seus investimentos. Embora ele ainda exista e tenha um culto de seguidores que continua gerando lucros para seus criadores, o Second Life não atingiu o potencial que antes se pensava ter.
Desde então, a maioria das plataformas de metaverso que ganharam popularidade veio na forma de videogames que geralmente não são reconhecidos como metaverso. O Minecraft, por exemplo, é um dos jogos mais populares de todos os tempos, mas também serve como uma plataforma desse tipo, considerando a possibilidade que os usuários têm de interagir social e livremente entre si em mundos abertos por meio de avatares personalizáveis. Muitos outros videogames populares, como Roblox, Grand Theft Auto e Free Fire, também entregam esse mesmo serviço.
E assim chegou 2021, e Mark Zuckerberg, um dos empresários mais influentes e ricos do mundo, decidiu que mudaria o foco de seu negócio para o crescimento do metaverso. Zuckerberg
também decidiu incorporar a tecnologia de realidade virtual em seu desenvolvimento da nova tecnologia e, desde então, os conceitos se tornaram amplamente associados. A ideia da realidade virtual é oferecer uma experiência de metaverso mais imersiva, pois envolve o uso de equipamentos com a intenção de fazer com que alguém se sinta em um mundo virtual.
Desde o anúncio do novo foco tecnológico, a Meta experimentou uma queda dramática nas ações e investimentos, gerando uma possível crise dentro da empresa. Isso decorreu da desconfiança que a maioria das pessoas tem com o metaverso como projeto. Não se sabe se essa recessão interna vale a pena como um risco tomado que é necessário em um contexto futuro, ou se a Meta falhará como empresa por causa de seu fascínio por essa tecnologia.
De qualquer forma, o 5G é fundamental para que o metaverso possa se desenvolver e abranger a mais pessoas. “Precisamos de algo que faça com que o metaverso consiga ser bem imersivo. É a única forma de replicar o nosso sistema social
[do mundo real] no espaço digital”, disse o especialista em telecomunicação Mischa Dohler.
Dohler é o arquiteto chefe da empresa sueca Ericsson no Vale do Silício, e tem um profundo interesse pelos conceitos relacionados às evoluções na telecomunicação e como isso se relaciona com outras tecnologias. Para ele, o aumento na largura da banda, proporcionado pelo 5G, auxilia com a questão da imersão no metaverso, pois pode ajudar na criação de ambientes virtuais mais realistas e complexos. Além disso, a baixa latência do 5G, que faz com que o uso da internet seja mais fluido e menos travado, proporciona um imediatismo das interações sociais no metaverso, o que é fundamental para manter as plataformas imersivas. Segundo Dohler: “O metaverso permite a construção de laços emocionais que não são possíveis numa chamada de zoom”. Além disso, o 5G está entrelaçado com a tecnologia de computação em edge cloud, que Dohler acredita ser fundamental no desenvolvimento do metaverso e de sua acessibilidade. Basicamente, o 5G facilita a tecnologia de cloud computing, que é quando a computação e processamento de dados são feitos na nuvem e não no dispositivo sendo usado. Incluída neste conceito, a tecnologia do edge cloud faz com que essas nuvens sejam espalhadas por todas as partes, o que significa que o processamento de um dispositivo pode ser feito em praticamente qualquer lugar. “Os reais benefícios disso são que o equipamento de realidade virtual ou aumentada não vai precisar de muito poder computacional ou bateria. Por causa disso ele seria mais leve, mais barato e mais acessível para a população geral”, disse o especialista.
Mischa Dohler, arquiteto chefe da empresa Ericsson
Para o engenheiro de computação e professor do curso de Tech da ESPM-SP Carlos Rafael das Neves, essa questão de acessibilidade e ampla disponibilidade
“O metaverso permite a construção de laços emocionais que não são possíveis numa chamada de zoom”
SÃO INÚMEROS OS FATORES QUE INDICAM QUE O METAVERSO TEM POTENCIAL DE MUDANÇA
é importante para a evolução do metaverso. De acordo com ele, o Second Life deveu certa parte de sua perda de popularidade na década de 2000 à falta de acessibilidade, pois a manutenção da tecnologia que a plataforma exigia não atendia a todas as classes. “Vira alguma coisa de nicho. Era só para quem tinha condição de pagar uma internet muito bacana, ter uma máquina legal”, comentou.
Nos tempos atuais, jogos como o Second Life não necessitam de um investimento tão custoso, tendo em vista os avanços tecnológicos desde então. As propostas de Mark Zuckerberg, no entanto, representam uma visão que é inalcançável no mundo atual para a maior parte da população. O aparelho de realidade virtual mais recente, por exemplo, custa quase R$ 8 mil, convertendo o preço do mercado estadunidense.
Isso não significa, porém, que todas as experiências de metaverso sejam feitas apenas para quem tem altas condições
Carlos Rafael das Neves, engenheiro de computação e professor da ESPM
financeiras. Jogos populares como por exemplo o Roblox ou o Minecraft, que são também plataformas de metaverso, não necessitam de dispositivos potentes para serem jogados. “Eu por exemplo até hoje já peguei um monte de modelo de celular na mão de toda a faixa de preço, todas rodam tranquilamente o Roblox,” disse o professor.
Em outubro de 2022, Carlos Rafael conduziu uma oficina para o evento ESPM Movement, em que apresentava a plataforma de metaverso Mozilla Hubs e seu entusiasmo com ela. A proposta da Mozilla é criar um ambiente virtual que, diferentemente dos videogames, priorize a questão da interação social e não da jogabilidade. Essencialmente, ela funciona como se fosse uma videochamada, com elementos como compartilhamento de tela ou de câmera, mas que opere dentro de um ambiente virtual com avatares personalizados em 3D. A qualidade da tecnologia envolvida é baixa justamente para poder abranger mais pessoas em dispositivos que variam em capacidade de processamento. Para Carlos Rafael, o mais importante para o metaverso é a experiência de trocas e interações, e não a tecnologia envolvida.
A confiança nessa proposta levanta o questionamento se Mark Zuckerberg não estaria cometendo um erro de ter sua visão de metaverso inadequada para pessoas sem grande poder aquisitivo. Carlos Rafael, no entanto, vê dificuldade em avaliar os investimentos do empresário. O professor encara a situação com cautela, evitando taxações que incriminam ou glorificam as decisões de Zuckerberg.
São inúmeros os fatores que indicam que o metaverso pode realmente ser um sucessor da internet, e outros que indicam que nunca terá a tração necessária para se tornar isso. Para saber ao certo o que realmente vai acontecer, só o tempo dirá.
Jovem usando aparelho de realidade virtual
“Mais importante para o metaverso é a experiência de trocas e interações, e não a tecnologia envolvida”
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Foto: UK Black Tech/Unsplash
INTERNET PARA QUEM?
Com a chegada da mais nova tecnologia de rede móvel, chega também a questão de quem terá acesso a seus benefícios
»»»O 5G chegou e, junto dele, as promessas de revolução no mundo tecnológico. Altas velocidades, baixa latência, inteligência artificial, machine learning, indústria 4.0 são apenas algumas das mudanças que o 5G trará. Mas algo que fica de certa forma implícito é para quem essa tecnologia estará acessível. Nos dois anos de pandemia, duas coisas ficaram claras: a primeira é que a internet se transformou em um item essencial, tal qual energia elétrica, água e saneamento básico. E a segunda é que o Brasil tem um abismo de desigualdade digital. Uma pesquisa publicada no começo de 2022 pela consultoria PwC e pelo Instituto Locomotiva revela que 81% dos brasileiros com 10 anos ou mais usam a
internet, mas dessa porcentagem, apenas 20% têm acesso de qualidade à internet. De um lado, 29% da população está amplamente conectada, de outro, 20% nem sequer tem acesso à rede. A pesquisa ainda ressalta que há uma diferença marcante no acesso às redes entre as classes de renda, com 100% da população de classe A, em comparação com apenas 64% das classes DE. A pesquisa ainda aponta três principais motivos para essa diferença: deficiências da infraestrutura de conexão - que incluem coisas como a qualidade e a distribuição do sinal; custo para ter acesso e limitações de acesso a hardware; e deficiências do sistema educacional do país. O primeiro motivo estabelece razão entre uma série de fatores. A deficiência da infraestrutura tem relação direta com a renda e com as regiões em que as
pessoas moram. A pesquisa aponta isso como resultado do modelo de compra de internet, com a rede fixa sendo feita por velocidade e a móvel por quantidade consumida de dados. Ainda na pesquisa, é dito que 13,5 milhões de lares têm internet via modem ou chip - a mais barata, mas também com a menor velocidade de acesso.
A rede Nossa São Paulo disponibilizou no final de 2021 um mapa da desigualdade. Nele é possível observar que a infraestrutura digital é muito menor em bairros com menor renda, não importando o tamanho da população. O bairro do Grajaú, na zona sul da capital paulista, é o mais populoso da cidade de São Paulo e tem pouco mais de quatro vezes a população do Itaim Bibi, bairro nobre da capital. Mesmo assim, tem 76 vezes menos antenas de internet por km² do que o Itaim.
A limitação de acesso ao hardware é outro fator que contribui para o abismo de desigualdade de acesso no Brasil. A pesquisa da PwC aponta que 99% da população usa o celular para acessar a internet e, ainda, que para 58% da população o celular é o único meio de acesso, o que revela o impacto que o preço de aparelhos tem no acesso à rede. Assim, é possível assumir que o 5G não estará disponível para a maior parte da população, já que a utilização da tecnologia em sua forma pura requer a troca de aparelho. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou uma lista de aparelhos compatíveis com o 5G no começo de 2022. São 82 aparelhos com valores entre R$ 1,4 mil e R$ 11 mil. O último motivo está relacionado às deficiências no sistema educacional brasileiro. A pesquisa da PwC aponta que mais de 8 milhões de estudantes (21% dos matriculados na rede pública) estão em escolas sem banda larga. E isso não é tudo: outros 124 mil alunos não têm ao menos acesso à energia elétrica. Segundo a Anatel, 20 milhões de brasileiros ainda usam a tecnologia 3G. E ainda mais: a agência reguladora só prevê a instalação de antenas 5G em cidades com menos de 30 mil habitantes em meados de 2029.
Foto: andresr/iStock
ARTHUR FLAVIO
Mais de 8 milhões de estudantes estão sem banda larga na rede pública
POSSIBILIDADES PARA O SETOR ELÉTRICO
Uma das principais mudanças impactará a gestão da rede energética nos grandes centros urbanos
Uso do 5G na rede elétrica deve propiciar redução de perda de energia
ISABELA TIEZZI AMANDA AMORIM
»»» O uso de 5G para controle das redes elétricas pode propiciar uma redução das perdas de energia, que hoje são de cerca de 15% de toda a energia produzida. Isso permite não apenas uma vida útil maior dos sistemas elétricos, como uma redução do custo do serviço.
“O 5G está relacionado à possibilidade de coletar dados, correlacioná-los em tempo real e identificar oportunidades de eficiência operacional, reduzindo, por exemplo, o consumo de energia bem como usar as energias limpas nessas redes de forma ampla e irrestrita para alimentação dos sistemas que as compõem”, afirma Márcio Kanamaru, sócio da KPMG .
Estimativas sugerem que as redes 5G podem ser até 90% mais eficientes por unidade de tráfego do que as 4G. Mas, mesmo assim, precisarão de muito mais energia devido à maior densidade da rede, à grande dependência que têm dos sistemas e da infraestrutura de TI,
ao aumento no uso da rede e ao crescimento acelerado do tráfego.
A introdução desta nova rede na sociedade brasileira propõe revolucionar não somente a telecomunicação, mas também os outros setores da economia. A nova tecnologia vai possibilitar grandes novidades e aplicações que futuramente impactarão melhorias importantes para o potencial elétrico do país.
Silas Rodrigues, engenheiro da empresa de tecnologia Itech, afirma: “No quesito da rede 5G vemos um maior alcance de mercado em outras frentes, como cidades conectadas, carros autônomos, cirurgias assistidas, controle remoto de maquinários. Isso são aplicações que têm necessidade de mais banda para trafegar informações.”
A gestão da rede em grandes centros urbanos promete ser uma das grandes mudanças que o 5G impactará. A digitalização da rede elétrica é, agora, uma realidade pautada para o setor energético brasileiro. Rodrigues comenta que a digitalização será de vasta importância para o país. “Visando especificamente
os serviços relacionados à energia, vejo como mais aplicáveis outras tecnologias de comunicação. Essas redes estão segmentadas como redes LPWAN. Tratam-se de redes de baixo volume de tráfego de informação, com baixo custo em infraestrutura. Assim, consequentemente mais baratas para instalações em massa, provendo o que denominamos de internet das coisas”.
Por meio do uso desta nova tecnologia será possível considerar vantagens potenciais em relação à inteligência para os processos elétricos e serviços prestados pelas empresas. No Brasil, “o panorama é promissor e grande parte das operadoras já têm trabalhos em parceria com os principais fornecedores para utilizar, por exemplo, energia solar para alimentar as antenas e sites”, diz Kanamaru.
A nova tecnologia do 5G promete não apenas impulsionar a velocidade de conexão dos usuários e oferecer uma cobertura mais ampla e eficiente, como também irá diminuir o alto consumo de energia da nossa sociedade.
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Proença / Unsplash
Foto Mariana
O MUNDO DO 5G NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Quais são as mudanças nos canteiros de obras?
das coisas.”
Além disso, o especialista diz que há muitas vantagens quando tratamos deste assunto. “O 5G traz muitos impactos positivos para o setor da construção, melhorando consideravelmente o acesso e a troca de informações, resultando em uma maior eficiência e menor retrabalho. Esse impacto sobre a mão de obra é positivo, pois com ele a produtividade de todos os colaboradores envolvidos direta e indiretamente nas atividades melhora.”
LEONARDO SIQUEIRA
»»» Como a chegada do 5G afeta os canteiros de obra? Eles se tornarão mais inteligentes, abrindo caminho principalmente para a inteligência artificial (IA - em que as máquinas realizam atividades humanas de maneira autônoma) e a internet das coisas (rede de objetos físicos que são incorporados a softwares ou sensores com o objetivo de conectar outros dispositivos pela internet).
Isso traz a possibilidade de integração com máquinas, ou robôs, para a execução de atividades que requerem alta precisão. E, por meio da internet das coisas, essa nova tecnologia pode auxiliar no uso de drones para obtenção de imagens precisas e atualizadas da obra e a instalação de sensores fixados em vigas ou nas estruturas da construção.
Segundo Silvio Etges, especialista na
área de TI e no assunto, o 5G permitirá uma acessibilidade maior de informações dentro do canteiro de obras, o que atualmente é dificultado pela baixa qualidade e velocidade da internet. Além disso, informações produzidas dentro do canteiro poderão ser transmitidas instantaneamente, tornando a integração efetivamente online.
O efeito do 5G nos canteiros de obras ainda é pouco perceptível e deve aparecer gradativamente nos próximos cinco anos. “Existem muitos desafios para serem superados, como a implantação das redes”, conta o especialista.
Silvio Etges explicou que não acha que a chegada dessa tecnologia trará muitos pontos negativos, como por exemplo, o desemprego: “O 5G isoladamente não deve contribuir para o desemprego, pelo contrário, ele deve impulsionar novas carreiras dentro da construção, como a automação por meio da internet
Toda nova tecnologia traz mudanças nos processos e não será diferente no setor da construção, segundo Etges. “Para uma empresa usufruir efetivamente dos benefícios, precisará repensar seus produtos e serviços. Um exemplo é a possibilidade de ofertar automação como uma commodity, o que afeta o processo construtivo desde a sua concepção, passando pela execução e impactando até a capacitação do time de atendimento pós-obra. Então, podemos entender que haverá mudanças e que dependerá de cada empresa buscar a adaptação da sua realidade, melhorando com isso sua eficiência operacional e a satisfação dos seus clientes.”
Outra opinião sobre o 5G vem de Yanis Stoyannis, professor do Instituto Daryus de Ensino Superior Paulista (Idesp) em Segurança de Telecomunicações e Internet, em entrevista para a Concrete Digital. “A rede 5G será em breve o principal meio de conectividade de rede entre os diversos setores da economia. Alta capacidade de transmissão de dados, baixíssima latência (atraso da comunicação) e confiabilidade são algumas das principais características perceptíveis do 5G que viabilizarão a adoção de outras tecnologias digitais na construção civil”.
Tecnologia vai trazer acessibilidade maior de informação nas construções
Foto Unsplash /Arte Liliana Kyung
BASTIDORES DO
»»»O conceito de avatar, atualmente, vai muito além de um simples boneco virtual com as mesmas feições de seu criador – ou das criaturas azuis mais famosas do cinema. Os avatares podem, por exemplo, ser dispositivos facilitadores de relações pessoais, políticas e econômicas, pelo fato de protagonizarem o Metaverso, um universo de realidade digital que si-
mula e virtualiza as nossas vidas. Pela relevância, a equipe do Laboratório de Formatos Híbridos (LabFor) escolheu os avatares para trazer cor e personalidade às páginas desta edição da Revista Plural, dedicada à tecnologia 5G.
Quando o tema “A vida em 5G” foi apresentado, logo surgiu a ideia para um projeto interativo e tecnológico.
Por que não criar bonecos virtuais de cada uma das pessoas da redação? A partir daí, o projeto ganhou vida rapidamente e os avatares foram elaborados. O primeiro deles, a Pluralzinha, dedicada à editora da revista, Cláudia Bredarioli. A plataforma (Ready Player Me) permite que detalhes como o corte de cabelo ou o formato da boca sejam ajustados, a fim de
BIANCA IAZIGI, LUIS FELLIPE SUZUKI, MARIANA BONINI
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METAVERSO
que o desenho se aproxime ao máximo da realidade. Encaminhados para a conclusão, os alunos do LabFor utilizaram o Photoshop para editar, recortar e separar os bonecos, o que os levou ao formato que vemos nestas páginas.
O maior objetivo do projeto, além de associá-los ao tema principal da revista, foi criar uma assinatura individu-
alizada Nesta página, temos a equipe LabFor - coordenada pelo professor Paulo Ranieiri e composta pelos alunos Bianca Yázigi, Luis Fellipe Suzuki, Mariana Bonini e Liliana Kyung - com a professora Cláudia Bredarioli e o supervisor do Centro Experimental de Jornalismo (CeJor), Antonio Rocha Filho. Pelo QRCode ao lado, o vídeo da apresentação do projeto.
Arte Labfor
»»» O ano era 1984. As ruas do Brasil ferviam com as manifestações da Diretas Já e Margaret Thatcher ganhava as eleições e se tornava a primeira-ministra da Inglaterra. O ano nascia com promessas. No Superbowl de 1983, um comercial em específico chamava a atenção e prometia mudanças. Nele, eram apresentadas fileiras e mais fileiras de pessoas cinzas e moribundas, com uma tela gigantesca mostrando um homem careca ditando regras. Uma clara referência a 1984, de George Orwell. Quando, entre takes, um fio de esperança surge. Anya Major, uma experiente lançadora de discos inglesa, aparece com uma marreta e esmigalha o telão. Depois isso, a tela se dissolve para o branco e anuncia que no dia 24 de janeiro de 1984, a Apple Computer iria apresentar o Macintosh e provaria que o ano de 1984 não seria como o livro. A obra de Orwell, escrita em 1948, descrevia uma sociedade totalitária, ambientada em 1984, em que as pessoas tinhas suas vidas
PERFIL: STEVE JOBS
UMA POLÊMICA GENIALIDADE
Criador da Apple foi excêntrico, mas fantástico
permanentemente controladas por um personagem imaginário chamado Grande Irmão.
No prometido dia, Steve Jobs estava impaciente e irritado. Apenas 40 minutos antes de sua grande e triunfal apresentação, tinha sido informado que seu computador não poderia dizer “olá”, como era o planejado. Devido a alguns erros de programação e a impossibilidade de
abrir o computador principal para consertar, ninguém tinha as ferramentas certas que são exigidas pela Apple até hoje, a apresentação de Jobs não contaria com seu computador dizendo “olá” e para ele, esse era o fim do mundo. Mas o relógio ainda rodava e as coisas não ficariam assim, Jobs não podia deixá-las assim. O Macintosh era seu bebê. Sua revolução. Seu perfeccionismo entrou
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ARTHUR FLAVIO
FRACASSOU NA NEXXT, INVESTIU NA PIXAR E, QUANDO VOLTOU PARA SUA EMPRESA, REVOLUCIONOU O MUNDO COM O PRIMEIRO CELULAR COM TELA SENSÍVEL
em cena novamente e o grande cofundador da marca da maçã ameaçava falar em voz alta o nome de Andy Hertzfeld, o programador principal, e culpá-lo pelo erro, acabando com sua reputação diante de milhões de pessoas.
O problema é que não foi bem assim. Na verdade, isso nunca aconteceu. É apenas uma descrição romantizada da primeira cena do filme Steve Jobs (2015), de Danny Boyle. Então por que falar sobre um evento que não aconteceu. Jobs realmente não tratava bem as pessoas com quem trabalhava. Era uma pessoa extremamente difícil de se conviver. Lisa Brennan-Jobs, filha de Steve, conta em seu livro, Small Fry, que certo dia, quando ela tinha apenas 9 anos, pediu inocentemente para ter o carro do pai quando ele não usasse mais, o já então milionário respondeu em seu tom mais apático: “Você não vai pegar nada. Entendeu?
Nada, você não vai ganhar nada.”
Em uma das últimas conversas que Lisa teve com seu pai, ele disse que ela cheirava a privada. O comentário não veio do nada. A jornalista usava um perfume vencido no dia. A surpresa é que ela não tem rancor de seu pai. Muito pelo contrário, ela escolheu perdoá-lo. Em entrevista para o jornal britânico The Guardian, ela disse: “Seu amor por mim pegou ele de surpresa”. E isso parece ser um tema recorrente na vida de Jobs. Seu comportamento muitas vezes destoa do senso comum de bondade, mas ao mesmo tempo, ele é tido como um ser humano fantástico, honesto e incrivelmente amoroso pelas pessoas mais próximas dele.
Steve Wozniak foi um dos cofundadores da empresa da maçã e um dos amigos mais velhos de Jobs. Em entrevista para a CNBC, canal norte-americano de
televisão, Wozniak disse que conheceu Jobs por um amigo em comum e a dupla se deu bem logo de cara. Isso aconteceu em 1971 e não demorou muito para “os Steves” começarem a criar algo juntos. Wozniak era engenheiro e programador. Quem colocava as coisas para funcionar. Jobs era o marqueteiro. O pensador. Quem sabia o que queria e como fazer para deixar seus produtos simples e belos. Em entrevista para o The Economic Time, um jornal indiano de grande circulação global voltado para o noticiário econômico, Wozniak disse que Jobs nunca entendeu as partes que formam um computador, o software e o hardware. Se Wozniak não estivesse lá para pôr em ação as ideias de Jobs, talvez a empresa não tivesse saído do papel. Em 1974, Jobs conseguiu seu primeiro e único emprego formal. Virou o funcionário número 40 da Atari e trabalhava
“Seu amor por mim o pegou de surpresa.”
Lisa Brennan-Jobs
consertando e ajustando placas de circuito. Allan Alcorn, engenheiro criador de Pong – um dos primeiros videogames que estouraram no mundo –, lembra que, nessa época, Jobs era apenas um hippie de 19 anos, que simplesmente entrou na sede da companhia e saiu com um emprego, conforme reportagem publicada pelo portal UOL em abril de 2017. Parece loucura nos dias de hoje, mas antigamente um console de videogame não era só o que você precisava para jogar. O console era uma parte da equação. A outra parte era o cartucho, e dentro dele os chips de circuito integrados. Esses chips eram os responsáveis por grande parte do custo dos cartuchos. Por isso, Nolan Bushnell, fundador da Atari, propôs para seus funcionários que quem fizesse um jogo em quatro dias economizando o máximo de chips possível ganharia um prêmio de US$ 700, segundo reportagem veiculada no portal Terra em outubro de 2020. Jobs comprou a proposta e pediu ajuda para Wozniak para desenvolver seu jogo e economizar chips. O resultado foi o Breakout, um jogo que a maioria das pessoas conhece como aquele de quebrar bloquinho com uma bola. Jobs ganhou os US$ 700 (cerca de R$ 3,6 mil em valores atuais) e dividiu 50% com Wozniak. Mas o que Woz não sabia é que os US$ 700 não eram o prêmio final. Também existia um bônus de US$ 5 mil (R$ 26 mil) para quem conseguisse reduzir o número de chips. Esse dinheiro acabou inteiramente no bolso de Jobs. Voltando para o que Lisa disse para o The Guardian: “Seu amor por mim pegou ele de surpresa”. Vindo de alguém a quem foi negado, por quase a vida inteira, o amor de seu pai. Alguém que sabe que Jobs negou sua paternidade até o último momento e só pagou sua pensão quando um teste de DNA provou sua paternidade. Em seu livro, Lisa conta: “Até meus 2 anos de idade, minha mãe complementava
auxílios governamentais com trabalhos de limpeza ou de camareira. Meu pai não ajudava”. A jornalista continua: “O caso foi concluído em 8 de dezembro de 1980, com a insistência dos advogados para encerrar o processo. Quatro dias depois, a Apple abriu seu capital e, de um dia para o outro, meu pai foi avaliado em mais de US$ 200 milhões”. E ainda assim, ela acredita que seu pai a amava. Mas ele também revolucionou a empresa da tecnologia, criando coisas que parecem bobas, mas são fundamentais para a nossa percepção e entendimento de como os computadores funcionam e o que eles podem fazer. Talvez assim como o cinema, as pessoas famosas, e tudo que sabemos delas, são fotografias da realidade e para enxergar quem elas realmente são, precisamos olhar mais de perto.
Steven Paul Jobs nasceu em 24 de fevereiro de 1955. Foi adotado logo ao nascer. Sua mãe biológica não tinha condições
de criá-lo. Desistiu da faculdade depois de apenas um semestre e, segundo sua biografia autorizada, nem ao menos se despediu de seus pais quando eles o deixaram em sua casa. Trabalhou na Atari e criou um dos jogos mais famosos de todos os tempos, criou a Apple, que foi a primeira empresa a alcançar a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado. Foi pressionado a sair da empresa que criou, por alguém que ele mesmo contratou. Fracassou com a Nexxt, investiu na Pixar e, quando voltou para sua empresa, revolucionou o mundo novamente com o iPhone, o primeiro celular a utilizar touch screen (tela sensível ao toque) e o 3G.
Steve Jobs morreu no dia 5 de outubro de 2011, aos 56 anos, na sequência de um câncer pancreático raro que afeta as funções exócrinas do órgão, contra o qual lutava desde 2004. A causa final da morte foi uma parada cardíaca. Sem dúvida foi um ser humano excêntrico, mas fantástico.
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A capa da biografia de Steve jobs, escrita por Walter Isaacson, com imagem do Iphone 13 pro max
Foto: Unsplash
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
REVISTA PLURAL E LABFOR
• Profa. Cláudia Bredarioli (Editora da Plural) [1]
• Liliana Kyung (Design) [2]
• Catharina Trabasso (Design) [3]
• Arthur Flavio [4]
• Mariana Bonini [5]
• Theo Fava [6]
• Amanda Amorim [7]
• Prof. Paulo Ranieri (Editor do Labfor) [8]
• Luis Fellipe Suzuki [9]
• Ricardo Lima (Design) [10]
• Viviane Tolosa [11]
• Karina Lopes [12]
• Bianca Yazigi [13]
DEZEMBRO DE 2022
ANO 11 // NÚMERO 22
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Foto: Wilian Tadeu Ambozio