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O MENINO E A TELA NO CHÃO

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Faces de um Sonhar

Faces de um Sonhar

No centro de um cômodo cheio de tintas e tubos espalhados, João Elyo se movimenta ao redor de uma tela posicionada no chão, em cima de um tapete felpudo. Em movimentos naturais, o garoto entra num vórtice enquanto cria imagens com as tintas ao redor. O menino reveza em diferentes posições, com pinceladas fortes e esguichos em um processo criativo introspectivo, onde o pequeno encontra suas obras e as transforma em telas. As expressões hora sérias, hora brincalhona, expõe o universo que se cria em torno do ambiente quando João pinta.

Por trás das lentes de uma câmera simples de um celular, a dona Elizete registra as criações do pequeno João Elyo com admiração. No olhar da professora é possível ver o brilho de orgulho do filho que com apenas

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12 anos já expôs seus trabalhos até mesmo no Museu do Louvre, em Paris. Mas a magia que vem do olhar de Elizete ultrapassa o orgulho, em cada palavra, a mãe de Elyo deixa transbordar a admiração de um milagre. João é portador da Síndrome de Down e pinta desde os 8 anos de idade com uma sensibilidade de quem entende e se inspira na natureza. “Esse caminhar dele nas artes contribuiu demais para que ele adquirisse o respeito da sociedade. As que pessoas antes olhavam para ele com um olhar de preconceito, hoje mudaram essa visão, antes elas não acreditavam na capacidade intelectual do João Hélio para desenvolver algo diferente...”.

Afirmou a mãe do pequeno gênio.

As cores do menino impressionam, combinações surpreendentes transcrevem uma visão de fenômenos que o menino admira. Seja o brilho e o reflexo da luz do sol, a imensidão das estrelas ou a beleza calmante da chuva. O jovem talento não passou despercebido! Espelha exemplos para outros pequenos gênios que talvez não se encaixem em padrões hostis de uma sociedade que repudia a diferença, mas carregam a sensibilidade e o poder de uma conexão com sentimentos mais profundos do que estamos acostumados a lidar e por isso nos fascinam.

A arte abstrata de João Elyo também comoveu a artista plástica piauiense mundialmente famosa, Naza. Ela que é conhecidíssima por seu estilo único e criadora do conceito “Abstracted Realism”, se expressou com sentimento de orgulho ao saber que João Elyo está tendo um imenso apoio dos seus familiares nessa jornada no mundo da arte. Naza, que já tem carreira estabelecida com os trabalhos aclamados, observa a arte do garoto com olhar de artista que vislumbra o início de uma trajetória. Ela, que ganhou o mundo, se impressiona com as possibilidades que aguardam o pequeno no futuro, já que o apoio à arte na família de João é massivo.

“Eu achei super incrível o apoio que ele está recebendo da família. Isso é fantástico, porque a medida que o tempo passar ele vai ter condições de desenvolver mais ainda o talento dele. É muito interessante a forma como ele se expressa com as cores”. Contou a artista que, assim como João Elyo, também começou cedo nas artes. Ela conta que por volta de 8 ou 9 anos começou a pintar, em Santa Cruz, interior do Piauí e pedir ao pai que enviasse suas pinturas para um programa nos Estados Unidos. Desde cedo a arte chamou alto por Naza, que agora admira os quadros de João Elyo com a comoção de quem já trilhou este caminho.

A mãe do menino filma, edita, posta e atende à imprensa. Sempre com muito orgulho ela transborda a alegria que a arte proporcionou para o pequeno. Nas fotos o menino posa com sorriso largo e feliz, em diferentes exposições, ao lado de diferentes quadros que expressam as emoções do jovem artista. Ela conta que a pintura chegou cedo na vida do menino, lidando com uma fase escolar conturbada, João Elyo estava triste com um episódio de expulsão de uma escola, e como forma de lidar com as emoções, a pintura aflorou de vez no garoto.

Para João Elyo, o início foi uma torrente de criações que renderam mais de dez quadros apenas no primeiro ano. Os quadros logo chamaram a atenção de artistas e estudiosos da arte. Então pipocaram os convites, quadros do pequeno Esperantinense ocuparam exposições na capital do Piauí e logo seguiram para outros estados, passaram pelo Pará e pelo Rio de Janeiro. Ocuparam programas de TV e portais de notícia e saíram do país, foram expostos na Califórnia nos Estados Unidos até alcançar o mais renomado museu de arte moderna, o Louvre, em Paris, abrigou a exposição “xyz” do garoto.

“Quando eu estava olhando os quadros e o pequeno rapaz aí pintando eu fiquei com uma emoção de muita alegria por ver ele tão feliz fazendo a arte dele

Arquivo pessoal João Elyo foi essa a emoção, os quadros parecem como umas explosões de de cor. Deve ter alguma alguma, claro, que cada cor que ele usa, cada mancha que ele faz deve ter algo a ver com o que está, o sentimento que está dentro dele, né?”. Concluiu Naza, que também viu a atmosfera cativante e familiar em que o artista está envolvido, conhecer o trabalho de João e não notar o quanto sua família contribui na evolução artística do garoto é quase impossível. Para alguém como ele, as portas tendem a se fechar e o poder da família de não medir esforços na garantia do sucesso do pequeno é parte essencial do sucesso que ele já alcançou.

Quando a possibilidade de exposição na França surgiu, era um sonho bonito, porém distante da realidade econômica da família. Mesmo assim, apoiadores começaram a surgir quando a família assumiu o compromisso de levar a marca do menino para o Louvre. A família organizou uma vaquinha e divulgou ao máximo até que a viagem se concretizou e com ela, a carreira promissora do pequeno decolou de vez. causa nas pessoas que conhecem seu trabalho, são componentes de um universo que transforma em magia a história de um menino artista que não cabendo apenas em vencer desafios se encontrou na pintura e segue deixando sua marca em um mundo que não o compreende, mas admira a grandeza das suas criações.

“A arte rompe barreiras mesmo! Ele quebrou paradigmas, né? Então ele é um incentivo muito grande para famílias que têm crianças com algum tipo de talento, mas que pelo fato de ter uma deficiência a família não acredita. Agora elas podem acreditar por conta do João Elyo.” Diz emocionada a mãe do garoto.

O jovem João chegou até a França, mas está longe de ter chegado ao topo, o talento do pequeno se aprimora e o jovem pintor cria os quadros com uma frequência exemplar para qualquer artista. A imensidão e a grandeza das emoções que João Elyo traduz em seus quadros destoam da feição inocente de uma criança feliz e impressionam espectadores que contemplam as combinações de cores e técnicas que compõem o trabalho do pequeno, que se assemelha a obras de Pollock, pai do expressionismo abstrato. Assim como Pollock, o pequeno João Elyo não usa cavaletes ou pincéis, ele é autodidata e cria de forma orgânica utilizando vários instrumentos que maneja com as duas mãos, já que também é ambidestro.

A pureza no sorriso do menino, os vídeos registros caseiros das criações e o impacto que a arte de João Elyo

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