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Tarólogas Da curiosidade ao despertar da vidência

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Mulher de visão

Mulher de visão

“Quando o discípulo está pronto o mestre aparece”.

Assim diz Hermes Trismegisto sobre o despertar para o estudo exotérico.

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Todos nós quando crianças temos curiosidade pelo mágico, pela magia. O mágico do circo, fadas madrinhas, bruxas e bolas de cristal.

Dos contos de fadas medievais às cômicas personagens de Walt Disney: Maga Patológica e Madame Min, a humanidade é curiosa pelo mágico, a magia, ou quando tratamos da parcela de humanos descrentes de que “mistério sempre há de pintar por aí”, encontramos os loucos e fascinados pela ciência e busca da verdade.

O relato a ser contado é sobre três mulheres que descobriram sua magia e sabedoria interior de formas muito diversas através do Tarot.

Esta matéria pretende mostrar minha ótica como também taróloga, médium, benzedeira e quiromante, sobre as histórias de mulheres categoricamente distintas, iguais apenas na devoção de seu coração as cartas. É uma tarde de segunda. Passeio pelos corredores da universidade tomando um café. Ouço uma música boa, vinda de um banco, na praça de filosofia do CCHL. Me aproximo e vejo duas pessoas ali sentadas. “A música de vocês me chamou para cá, posso tomar café aqui?”. Sou calorosamente recebida por Kaede e Larissa e passamos a conversar.

Kaede, uma garota trans, de fisionomia etérea, se assemelha a uma elfa. Sua energia exala mistério como a carta do arcano do Mago. Me senti livre para dizer isto a ela, que responde ter adorado “minha energia”. O relógio marca 17:17 e vemos o horário todas juntas. Pergunto à Kaede se ela sabe que para cada hora espelhada há uma carta no Tarot:

“Não, sabia e olha que sou taróloga, você também?’ Respondo que sim e mostro a ela a carta da Estrela. Lemos a mensagem e a carta faz sentido para mim, ela e Larissa que acompanhava a conversa.

Papo incrível. Estava sem pauta para a matéria para a Oxente. Do nada entendi que a expressão de cultura que eu poderia levar estava ali diante dos meus olhos, arraigada na minha rotina e num estalo, uma virada, me veio a razão que cultura não é um bicho exótico longe de nós, enjaulado como um mamute em um circo. É simplesmente a riqueza do cotidiano, por mais que este cotidiano seja para alguns, totalmente inusitado. Essa é a mágica da coisa.

Resolvi então que faria uma matéria sobre mulheres tarólogas. Kaede com seu ar de mistério e seus cabelos soltos ao vento, me inspirou a contactar duas tarólogas que eu conhecia: Carol, 30 anos e Alejandra, 60 anos, Chilena, residente em Recife.

Conheci Carol há 7 anos atrás, através de um sobrinho dela. Ficamos amigas de imediato em 2016. Na época ela morava em Recife, vindo morar em Teresina apenas em 2020. Sempre fomos parecidas em tudo na espiritualidade. Ela do tarot, eu da quiromancia, ambas ligadas pela vidência. Resolvi ligar e conversar um pouco. Somos aquele modelo de amigas que se veem raramente, se ligam raramente, mas estão sempre conectadas, como se soubéssemos o que a outra pensa. Como ela mesma diz: somos Rita Lee e Fernanda Young. Eu não tinha falado ainda que estava jogando cartas (comecei em dezembro). Ela imediatamente em tom jocoso fala ao telefone “eu sabia que tu estavas aprontando sua bruxinha!”. Depois de colocarmos papo em dia ela desliga o telefone e manda o depoimento dela por áudio:

Sobre o Tarot, Carol é bem taxativa. ´´Ele não é um mecanismo de adivinhação. E vou muito mais além. O Tarot ele não diz aquilo que você quer ouvir. Ele diz aquilo que tem que ser dito. E está lá no subconsciente, está lá dentro de você. Ele tem seus mistérios. Por quê? Porque ele é regido por todos os arcanjos e tudo que você imaginar e toda força que todos os pranas, todas as energias, todos os chacras e assim vai as pessoas tem que ter uma certa intuição. ´´, diz Carol.

´´Eu faço Tarot, faço como troca, não troca de moeda e não troca de pra ser mercenária, pra ser alguma coisa do tipo. Não. A troca é uma troca humanística é uma troca de bem-estar.

É se as pessoas não tem dinheiro pra pagar tudo bem, tranquilo porque a pessoa está precisando. Então eu vou muito mais além. O tarô não é um mecanismo de barganha. É o Tarot é o mecanismo de ajuda. Porque as pessoas estão perdidas. Dentro delas mesmo, porque o resultado e tudo está dentro delas e claro com todos os chacras começando o básico o esplêndido o plexo frontal, todos os chacras, todas as energias elas têm que emanar e elas emanam muito bem e comigo vai muito bem e eu gosto de fazer o que eu faço´´, completa.

É uma terça feira. Mal posso esperar para encontrar com Kaede e entrevistá-la. Ela só não sabe disso ainda. Nos encontramos novamente, nesses encontros casuais que só a UFPI proporciona. Horas conversando, desenhando em nossos cadernos e noto que ela está com o baralho dela em mãos. Pergunto se ela está com alguma angústia no peito, se quer pedir discernimento: “Se você quiser, posso jogar as cartas pra ti”. Não me surpreendo mais com as respostas porque essas perguntas quem faz é minha intuição. A resposta foi um sim claro e objetivo, seguido de um “como você adivinhou?”. Coisa de quem acredita que o mundo não é cartesiano. Que há algo além de nós. Tiramos o jogo e pedi para ela me contar um pouco sobre a experiencia dela com o baralho. Falei que tinha decidido fazer uma matéria, perguntei se ela gostaria de participar, e se poderia gravar o depoimento. ´´Minha experiência enquanto pessoa taróloga, eu considero um tanto excêntrica porque o Tarot revelou muitas coisas sobre a minha espiritualidade. Eu costumava ser uma pessoa bem cética antes de começar a tirar e fui de um ponto para o outro em relação a ceticismo e espiritualidade muito rápidos pela experiência de tirar cartas´´, diz Kaede. Em seguida, vem a explicação para o início dessa aventura espiritual. ´´O que me levou para o Tarot? De começo foi um interesse antropológico que sempre tive pela magia, independente de acreditar ou não, achava interessante como fenômeno mesmo, que era prática que as pessoas faziam e fazem ainda. Eu sempre gostei de cartas, como iconografias. Comprei um Tarot como quem não quer nada, e a partir daí as coisas começaram a bater muito. Começou a entrar em conflito com o meu ceticismo, a ser um acúmulo de coincidências que bagunçou as minhas percepções de ser, da realidade´´.

Mas afinal, quem são os tarólogos?

Um dos pontos desta matéria também é fazer conhecer a origem do tarot e como ele se difundiu no ocidente a ponto de nos dias de hoje, ser considerado até uma moda.

O Tarot tem sua origem no povo cigano. Os ciganos foram perseguidos e marginalizados ao longo da história em diferentes épocas. Ao contrário do povo judeu, por exemplo, eles estão longe de constituir uma homogeneidade. Ambos sofreram bastante, mas o judeu tem uma identidade étnica e religiosa que permitiu mesmo o estabelecimento de um Estado-nação como Israel – algo impensável para os ciganos. Desta forma levaram o nomadismo como estilo de vida – forçados ou não – e não se fixaram em determinada região, suas práticas e modos chegaram a cantos, países e culturas totalmente diferentes. O Tarot é um exemplo. A própria origem do Tarot mostra o espírito multifacetado do povo cigano: França, 1772, com Madame Lenormand, uma cartomante francesa célebre durante o período da era napoleônica. Na França, Lenormand é considerada a maior cartomante de todos os tempos, com grande influência na onda da cartomancia do país ao final do século XVIII. Façam as ressalvas para ocasionais imprecisões históricas, mas tal surgimento é o mais aceito. Respostas rápidas e diretas para dúvidas e inquietações cotidianas em 36 cartas, eis o Tarot.

Hoje, porém o baralho mais popular e amplamente utilizado é o de Arthur Edward Waite, um místico inglês nascido nos Estados Unidos que escreveu e estudou intensamente os assuntos do mundo esotérico, sendo conhecido principalmente por ser cocriador do baralho de cartas de Tarot intitulado Rider-Waite bem como o seu guia, Key to the Tarot (1910), republicado de forma ampliada em 1911 como A Chave Ilustrada do Tarot.[5] Este é o baralho que comumente encontramos para vender em absolutamente qualquer lojinha de artigos esotéricos ou religiosos e até sites como ali express, americanas, shoppee.

O Tarot ao longo dos séculos se sobressaiu de uma cultura de um povo marginalizado, para uma moda e curiosidade entre jovens das décadas de 60, 90 e dos anos 2000, que para muitos levou ao despertar da vidência.

O próximo relato é de Alejandra Arce Fenelon, para mim, Tia Alejandra. Chilena, casada com meu tio avô e madrinha do meu pai. Uma mulher mística, membra da ordem Rosa Cruz, que há muitos anos estuda ocultismo e os mistérios do planeta.

Alejandra tem 74 anos e trabalha com mapas astrais, cromoterapia, cabala, cristais e benzimentos. Era quinta à tarde quando liguei e ela muito ocupada com o “ano novo astrológico que estava por vir na segunda” me prometeu um áudio contando sua história com as cartas:

´´Na minha casa se jogava muito canastras e depois eu comecei a pegar em umas cartas, mexer nelas e gostei da textura, da sensação e comecei a colocar cartas no meu quarto, sozinha, era filha única. E comecei a adivinhar algumas coisas. Na minha cabeça eu estava brincando, pois não havia nenhuma técnica, era totalmente intuitivo. Algumas amigas descobriram me pediram, eu coloquei, mas sempre rindo, achando que era até uma invenção minha, mas não é que deu certo? Daqui a pouco as pessoas vinham me dizer que tudo que eu tinha dito estava acontecendo e eu comecei a ficar impressionada, lógico´´.

´´Minhas cartas ficaram famosas dentro do ambiente mais próximo. Mas eu não queria colocar jogo para família nem amigos porque não queria saber nada do que poderia acontecer com eles, especialmente com parentes mais próximos como mãe, pai e filhos. Acontece que espiritualmente eu nasci com uma cigana que me acompanha desde o nascimento e na verdade quem colocava as cartas era ela. Sempre coloquei cartas intuitivamente, sem nenhuma técnica. Com o tempo comecei a ler sobre tarot, comprei vários tarots, mas me sinto à vontade mesmo com as Barajas espanholas, que são aquelas cartas feitas para jogar mesmo´´.

Eis a nossa viagem por esse mundo complexo e cheio de possibilidades chamado Tarot.

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