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BRUCE FERREIRA: DA COMUNICAÇÃO Á ARTE

Fernanda Rodrigues

Ocurso de Comunicação da UFPI é gerador de potências desde sua fundação. Muitas pessoas incríveis passaram e vão passar por ele. Eu tenho essa certeza desde o primeiro dia de aula. Era uma sonhadora do interior do Piauí que veio para a capital em busca de expressar externamente toda aquela imensidão que tinha dentro de si.

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Nessa chegada à Universidade, me deparei com diversas pessoas que, só de olhar, mudaram um pouco da genética da minha cabeça. Entre elas, tinha uma figura que me saltava os olhos nas festas promovidas pelos alunos do curso: Tainah Porta. Uma drag queen que se apresentava nas famosas calouradas e vinhadas. Foi a primeira vez que vi uma drag queen pessoalmente. Aquela artista me inspirava. A bixa tocava só as músicas boas, performava, e dava muito close. Para mim, só isso bastava para me tornar fã.

Tive a oportunidade de conhecer a pessoa que estava por trás, ou melhor, por dentro daquilo tudo.

Bruce era o nome da bonita. Naquela época tínhamos pouco contato, eu só admirava de longe aquele que era um dos veteranos mais famosos, e que acima de tudo sempre estava engajado no Centro Acadêmico. Hoje tenho a sorte de estar sentada ao lado dessa pessoa no meu local de trabalho. Uma parceria que tem dado certo.

Não poderia deixar de falar sobre ele e sobre sua história no curso. Então puxei logo uma daquelas entrevistas aleatórias que se faz com os amigos. E na minha opinião são as melhores entrevistas, porque muitas

“Eu escolhi o jornalismo porque não tinha publicidade e propaganda (o que acontece com muitos alunos) e quando fiz um teste vocacional, deu que a minha primeira opção seria um curso de artes, artístico…, mas o que me foi orientado pelas psicólogas era procurar minha segunda opção, a comunicação. Foi meio que como segunda opção, já que a primeira era ser artista. O que eu sempre quis”. Ser artista estava nas suas veias. Desde quando era aluno do tradicional Colégio Diocesano, uma escola católica que ironicamente era o lugar preferido de um jovem LGBT. Ele sempre encontrava uma forma de aparecer, nos eventos, gincanas etc.

Assim que concluiu o ensino médio, buscou um curso técnico em comunicação, o que lhe deu a oportunidade de conhecer o curso antes mesmo de entrar: “Tive a oportunidade de participar do Enecom Piauí (Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), um momento que marca a minha entrada na universidade, porque eu tive uma semana de ‘tratamento de choque’, digamos assim, porque recebi informações que a minha bolha, minha vida privilegiada na classe média não me deixava enxergar, do mundo, das pessoas ao meu redor, das pessoas que iam estudar comigo etc”.

Bruce também me conta sobre as possibilidades que o curso oportunizou: “a universidade abriu portas e contatos com pessoas que me mostraram o mundo, principalmente porque se eu não estivesse no curso, eu não teria entrado na AIESEC, eu não teria tido as experiências profissionais que eu tive, tanto trabalhando em São Paulo, quanto no meu intercâmbio na Argentina. Sem conhecer a Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social) eu não ia ter essa mentalidade que eu tenho hoje, tanto de empatia, como de conhecimentos políticos. A minha consciência antirracista, antitransfóbica e todo esse movimento cultural que eu faço parte vem muito da minha relação com os universitários”.

Essas portas também foram profissionalmente abertas para a Drag Queen: Tainah Porta, uma artista que surge nas calouradas: “O fato de ser do CACOS (Centro Acadêmico de Comunicação Social) e estar envolvido com o movimento estudantil foi o que me deu essa oportunidade como artista, eu tocava nas calouradas e fui a primeira DJ de calourada da UFPI. Antes eram festas com voz e violão, as chamadas ‘vinhadas’, que acabavam cedo. Depois, as gestões do CACOS que eu trabalhei inovaram e criaram esse formato de festa que é conhecido até hoje nas calouradas da UFPI. Mas começou comigo. O curso me abriu as portas para que eu fizesse essa mudança. Já que eu não tinha a oportunidade de me mostrar, não tinha contatos, então no curso eu criei essa oportunidade. ” onversa vai, conversa vem, começamos a refletir sobre as mudanças que estão acontecendo no curso e aqueles fatores que mais pesaram no nosso distanciamento em relação à universidade: “O que mais me distanciou do curso muitas vezes foi a sala de aula, sabe? Não tinha vontade de ir pra UFPI assistir a aula, os professores extremamente desatualizados e muitas coisas que atrapalhavam muito. Tanto que o que aconteceu foi um desinteresse dos próprios alunos que acabou afetando os poucos professores que se dedicavam ao curso fazendo com que esses fugissem para a pós-graduação. Então os melhores professores do curso hoje dão uma matéria na graduação no período…”

São tantas reflexões e memórias dos momentos incríveis vividos. Durante nossa conversa também me empolguei relembrando como foi o início do curso para mim. É incrível pensar como tínhamos projetos e ações tão especiais na nossa graduação, como os estudantes eram extremamente engajados em ajudar uns aos outros. Bruce é só uma das almas que teve a oportunidade de brilhar a partir da comunicação. Deixo aqui uma reflexão: podemos deixar o curso morrer? Esse lar de tantas vivências e transformações tem que permanecer com a chama acesa. Espero que os próximos continuem. Fica a esperança de dias melhores para o curso de Jornalismo da UFPI.

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