Revista Nordeste Ed 96

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pOLÍTICA FISCAL

GEOPOLÍTICA

Impeachment

Alta dos juros não combate inflação

Líderes eleitos revelam futuros projetos

Sociedade repudia tentativa de golpe

Os novos desafios do Brasil em 2015 Retração da economia exigirá mais dos governos Novo Pacto Federativo e reformas se impõem


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ÍNDICE ENTREVISTA

POLÍTICA

ECONOMIA

GERAL

TURISMO

COLUNAS

10

18

47

58

70

8

Setor energético cobra diálogo Ivan Botelho, empresário da Energisa, comenta situação do Brasil

Eleição define nova geopolítica Revista NORDESTE traz levantamento e projeções políticas de governadores e senadores eleitos nos nove estados

Iniciativas promissoras Startups crescem no Brasil e atraem mais investimentos. Empresas também buscam inclusão social

Herança conservadora Levantamento mostra queda de nove posições do Brasil em pesquisa de igualdade de gênero

30

CULTURA

Os caminhos do governo Dilma Rousseff avançou em políticas sociais, mas enfrentará outros desafios no próximo mandato

CAPA

Os desafios do Nordeste Cenário econômico da região melhora após políticas sociais, mas gestores ainda precisam lidar com outras problemáticas

74

Uma luz para os anjos Poeta paraibano, Augusto dos Anjos completa centenário de morte e especialistas comentam sua literatura sombria

50

42

Projetos ganham destaque Programas de Recife e Salvador estão no ranking de infraestrutura mais bem avaliadas do país

40

Oposição radicaliza contra governo Com efeitos do caso Petrobras, representantes da direita defendem impeachment, mas movimento não ganha força

Pontos turísticos ameaçados Dois equipamentos de João Pessoa correm risco com erosão de falésia

28

Delfim Neto

14

Plugado | Walter Santos

38

Carlos Roberto

46

66

Ipojuca Pontes

Discurso revela xenofobia Ódio contra nordestinos aparece nas redes sociais após reeleição da presidente

68

Pelo Mundo | Rivânia Queiroz

72

54

Jovens lideram inadimplências De acordo com especialistas, principais causas são inexperiência e impulsividade

Cartas e E-mails

76

A vez do audiovisual Pesquisa mostra crescimento de mais de 300% do faturamento das bilheterias brasileiras

82

Consciência negra feminina Mês lembrado pela luta dos escravos, novembro desperta discussões sobre o papel de Dandara, esposa de Zumbi dos Palmares

Digestivo

64

Upgrade

80 Vitrina

| Flávia Lopes


Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Subeditora Fávia Lopes Repórteres Grazielle Uchôa e Isadora Lira Editoria de Arte e Tratamento de imagem Danielle Trinta e Felipe Headley Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

NOVEMBRO / 2014

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

8

A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

CARTAS E E-MAILS “Pelo papel que cumpre, ainda achamos que é preciso apostar mais e chegar mais perto da Revista para que ela se expanda por todos os recantos do Nordeste”

Quem vai abrir mão das conquistas? Definidos os destinos políticos do Brasil para os próximos quatro anos e sacramentada a vitória de Dilma Rousseff, o país viu emergir nas primeiras semanas pós-eleições uma onda de insatisfação por parte dos setores conservadores. Em um cenário democrático, o descontentamento de parte da sociedade – aquela que não votou na candidata eleita – é natural, positiva até. De admirar, contudo, foi o clima de impeachment que se instalou na direita radical, supostamente apoiada pelo PSDB e seus maiores representantes atualmente, Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Governador reeleito em São Paulo, o também tucano Geraldo Alckmin parece ter sido um dos únicos a entender que chegou a hora de aceitar o resultado eleitoral e admitiu não haver motivações legais para um impeachment. O golpismo teve como justificativa a série de escândalos e denúncias envolvendo a Petrobras, e contou ainda com suporte dos grandes veículos de comunicação. Mas, qual não foi a decepção da oposição quando revelou-se nos bastidores que nenhuma das informações obtidas pela Polícia Federal chegavam à Presidência da República? O descontentamento cresceu porque nem mesmo a sociedade aceitou o ataque à presidente, isolando ainda mais os segmentos que afirmavam a necessidade de uma intervenção militar no país. Com sorte, os brasileiros não esqueceram o que significa viver em um

Estado de ditadura e de desrespeito às liberdades. O Nordeste, especialmente, não parece querer abrir mão dos avanços que conquistou nos últimos 12 anos em nome de um Estado de Exceção, que se faz cruel em todas as suas facetas, e em todos os lugares em que já vigorou. A trajetória experimentada pelo Brasil na primeira década do século XXI, aliás, teve impactos importantes, aos quais a região Nordeste não quer se furtar. Os nove estados têm hoje um novo cenário econômico, ensejado pela implantação de importantes políticas sociais. Medidas que afetaram a renda das famílias, como o Bolsa Família e o aumento real do salário mínimo estimularam o consumo que, por sua vez, alavancou os investimentos na região e o consequente crescimento econômico. O cenário nordestino atual sinaliza, no entanto, para novos e antigos desafios que, se vencidos, podem consolidar o desenvolvimento e a pujança regional. Nesse sentido, o redesenho do Pacto Federativo a partir da rediscussão de receitas e atribuições, a consolidação das conquistas no setor industrial (que aumentou seu peso no total nacional de 8% no final do século XX para 9,3% nos últimos anos) e a ampliação dos investimentos em infraestrutura econômica e social na região são aspectos imperativos a serem pensados nas estratégias dos governos dos nove estados daqui em diante.

Wellington Dias Governador eleito do Piauí Teresina – PI

Quanto ao conteúdo e posição no mercado, a Revista NORDESTE salta aos olhos a comparação dos assuntos abordados” Nunzio Briguglio Secretário de Comunicação São Paulo –SP

Pelo menos por onde tenho tido contatos, causa boa impressão os comentários de pessoas dos vários níveis ressaltando o padrão editorial da Revista, que rogamos que se mantenha assim” Francisca Carvalho Chefe de Gabinete do Ministério do Planejamento | Brasília – DF

Precisamos ver como fazer a Revista ficar mais próxima das discussões das universidades brasileiras, a partir da UFPB em face de seu papel agregador de valores”

Quando acompanho a pauta da NORDESTE sinto que o Ceará precisaria estar com mais envolvimento e com temas expostos para conhecimento do brasileiro como um todo”

Antonio Gualberto Professor Doutor João Pessoa – PB

Geraldo Pinheiro Médico Fortaleza – CE

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

O debate e cobranças sobre as novas aspirações do Nordeste se faz indispensável pelas imposições de concentração de renda e investimentos no Centro e Sul, por isso a Revista NORDESTE cumpre um papel importante” Paulo Severo Ex-diretor da SUDENE Recife – PE

Erramos: A matéria “Mais médicos e mais saúde” (Edição 96) o primeiro olho é do advogado Ricardo Russo.

REVISTA NORDESTE N.º 95 Atestar que a NORDESTE se mantém com perfil e cobertura de alto padrão é sinônimo de que o mercado editorial brasileiro ainda dispõe de referências diante de vários casos de anti – jornalismo, como se vê na atualidade, sobretudo porque trata de questões de todas as editorias e do país mas sem deixar de focar nos estados nordestinos”

NOVEMBRO / 2014

Ano 9 | Número 96 | Novembro | 2014

EDITORIAL

Bárbara Lobato Brasilia – DF 9

NORDESTE revistanordeste.com.br


Entrevista

Setor energético cobra diálogo

À

frente da Energisa, um dos maiores grupos privados da área no Brasil, Ivan Muller Botelho analisa a situação elétrica e o desenvolvimento da empresa. Ele também comenta quais são os principais desafios e metas para os próximos anos e o que o consumidor deve esperar de uma crise energética que se alastra pelo país

NORDESTE: Fazendo uma leitura crítica, qual seria a reinvindicação prioritária do setor elétrico a partir da iniciativa privada? O que considera importante no diálogo com o Governo Federal? Ivan Botelho: O que é realmente importante é o diálogo, mas hoje ele é muito difícil. Somos praticamente empurrados pelo governo para criarmos soluções. Quem dá a solução é o governo. Tem leilão de eólica, tem leilão de energia solar e por aí vai. Acho que deve haver um debate entre a sociedade e as empresas de energia para ver o que é melhor para todos.

Por Walter Santos e Isadora Lira ws@revistanordeste.com.br isadoralira@revistanordeste.com.br

NORDESTE: A questão energética preocupa países em todo o mundo. Em torno deste setor, há aspectos econômicos e ambientais relevantes, sobretudo quando se trata de exploração. Como o senhor avalia as políticas energéticas do Brasil na atualidade? Ivan Botelho: O Brasil sempre foi um país com abundância em recursos hídricos. Muita água, rios, bacias hidrográficas, floresta. Mas de uns tempos pra cá, devo dizer que estou decepcionado com a lerdeza de se tomar certas atitudes. Os europeus e norte-americanos esgotaram suas fontes hidráulicas. Tive a oportunidade de trabalhar nos Estados Unidos, em 1957, e percebi, já naquela época, que eles não tinham aproveitamento hidráulico viável. Desde então, buscou investir em fontes alternativas: nuclear, em grande escala; carvão e gás. Aqui, o país viu que para a exploração de outros recursos hí-

dricos teríamos que ir para áreas afastadas da bacia amazônica. O Brasil parou de explorar porque não quis chegar até determinadas áreas, onde demandavam linhas de grandes dimensões (dois, três, quatro mil quilômetros) e optamos pelas pequenas hidros. Havia um movimento enorme comandado pelos americanos e europeus contra as usinas hidráulicas de grande porte, com acumulação. E é o que até hoje impera.

NORDESTE: O governo adotou medidas que afetaram o preço da energia, segundo seu argumento, para conter a inflação. Mas recentemente a energia voltou a ter seu preço majorado. Como o senhor avalia essa estratégia?

Ivan Botelho

Ivan Botelho: O modo como foi feita aquela redução no ano passado, digamos que foi infeliz. O governo reduziu a tarifa para o consumidor, prejudicando as geradoras. Isso não se faz. Tem que olhar o Brasil como um todo. Em 2013, o país estava com escassez de água e foi dado um desconto em um momento que não se podia oferecer. A ajuda deveria ter ido para as usinas. E o que aconteceu? Um ano depois, o problema voltou e ano que vem o valor da tarifa vai aumentar ainda mais. Fotos: Divulgação

NORDESTE: O que esperar do futuro Ministro das Minas e Energia? Ivan Botelho: Para ser bem breve, eu acho que tem que haver um diálogo. E que não sejam tratadas apenas as prioridades do governo, mas do consumidor e das empresas do setor. Como vamos garantir o abastecimento de energia nos próximos anos se tivermos uma seca, por exemplo? NORDESTE: O estado de São Paulo está vivendo uma crise inimaginável. Alguns especialistas projetam a possibilidade de apagão. O senhor acredita nisso? Ivan Botelho: Apagão deveria ser uma palavra proibida. Hoje, o sistema do Nordeste está com 14,7% de água e o do Sul tinha 17,4% ontem e vem caindo numa base de 0,2 a 0,3, chegando a 10% ou 12% em alguns dias. Ou seja, é praticamente um racionamento. As pessoas perguntam o que aconteceria se chovesse. Bom, tem que chover muito. Mas a previsão da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que as chuvas seriam 66% do normal. Ou seja, abaixo do normal. Essa é a previsão para esse mês, já para os próximos eu não sei.

O governo precisa dar um sinal de amizade, de parceria. E não de disputa. Hoje todos os empresários com quem eu converso acham que o governo está ali para castigá-los”

NORDESTE: Recentemente, a Energisa adquiriu o controle do Grupo Rede. Como chegou a essa evolução, diante de um cenário econômico de crise? Ivan Botelho: O importante para você crescer são os colaboradores. Esse é um ponto que a gente sempre teve em mente e que acha necessário,


mos de faturamento e qualidade, comparando-a às demais regiões? Ivan Botelho: É surpreendente o crescimento hoje da Energisa nos estados da Paraíba e Sergipe. O que posso dizer é que o Nordeste deu certo. NORDESTE: Se considera um otimista ou está pessimista em relação à economia brasileira? Qual a projeção que faz em relação aos próximos 12 meses da economia do país?

A economia do país vai muito mal. O consumo industrial não é negativo, mas é muito baixo. Hoje, abaixo dos 2%, enquanto o consumo residencial do Mato Grosso é de 23%” ao contrário, você não cresce. Não adianta ter todas as oportunidades se você não tem gente para tocar os projetos. Quando nós estávamos fazendo um estudo para adquirir o Grupo Rede, contávamos com uma equipe de 120 profissionais de altíssimo nível. Eles percorreram todas as empresas, levantaram os riscos, as oportunidades e os valores. Assim, fizemos um plano que

foi apresentado à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que ficou impressionada. O nosso plano tem metas. Cada gerente de meta tem que fazer o que está estabelecido. E isso está acontecendo. NORDESTE: A Energisa surgiu em Cataguases, município mineiro, e se expandiu para o Rio de Janeiro, depois chegou ao Nordeste e agora está no Centro-Oeste. Dentro de uma visão de capilaridade, o grupo pretende se expandir para as regiões Sul e Norte? Ivan Botelho: No caso das empresas de distribuição a gente não pode dizer que gostaria de ir para o Sul ou para o Norte. A gente tem que ir para onde tiver oportunidade. Falam muito que a Petrobras vai privatizar as empresas que estão sob o comando dela. Tem empresa na Paraíba, em Alagoas, no Piauí, no Acre, enfim, tem em vários lugares. E as pessoas estão esperando para ver no que vai dar. NORDESTE: Do ponto de vista estratégico, o que a Energisa representa para o Nordeste em ter-

Ivan Botelho: A economia do país vai muito mal. A gente nota que o consumo industrial não é negativo, mas é muito baixo. Hoje, abaixo dos 2%, enquanto o consumo residencial do Mato Grosso é de 23%, por exemplo. Para o próximo ano ainda é uma incógnita, isso vai depender do que o governo vai estabelecer. Mas as perspectivas não são boas. NORDESTE: Dentro desse cenário que o senhor apontou, está faltando uma maior aproximação do governo com o setor? Ivan Botelho: Sem dúvida. O governo precisa dar um sinal de amizade, de parceria. E não de disputa. Hoje, todos os empresários com quem eu converso acham que o governo está ali para castigá-los. Isso é muito ruim. O empresário precisa ter o sentimento de que ele é bem-vindo e que ele venha, invista, faça dinheiro e ganhe dinheiro.

acima de R$ 3 bilhões em todas as empresas.

NORDESTE: Quais são os desafios e as novas metas do Grupo Energisa?

NORDESTE: Como cidadão pessoense, e tendo um elo com várias outras cidades nordestinas, como o senhor se sente à frente da direção da empresa e qual o vínculo do senhor e da empresa na expansão da cultura e na inclusão social?

Ivan Botelho: Nossa grande expectativa é de consolidação. Nós queremos consolidar o padrão de Energia da Paraíba, que é a melhor empresa do Nordeste. Temos que ser a melhor empresa do Centro-Oeste e do Sudeste também. E isso demanda gente, tempo e dinheiro. Na Paraíba, devemos investir nesses próximos três anos algo em torno de R$ 320 milhões. O grupo todo tem um investimento

Ivan Botelho: Olha, eu criei a Fundação com o nome do meu pai, Ormeo Junqueira Botelho, em 1985. Antes, fazíamos eventos isolados no cinema numa cidade, num grupo de música, orquestra de viola, mas aquilo estava solto. Em 1985 decidi colocar isso em uma fundação com uma diretoria voltada para isso e, assim, começamos. Iniciamos em Minas Gerais e construímos um grande centro lá. Fotos: Divulgação

Chegamos a ter 1.200 alunos matriculados em artes, música, pintura e dança. E agora estamos espalhando. Temos na Paraíba, no Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Já mandamos um plano para 13 cidades de São Paulo. A gente vê em cada região no que podemos ajudar na área. Uns têm mais vocação para música, outros para dança, por aí vai. Isso tudo começou em Cataguases, mas Cataguases é uma cidade pequena e por isso viemos para a Paraíba. E aqui ficamos e aqui vamos ficar. NORDESTE: O que representa para o senhor o título de cidadão pessoense? Ivan Botelho: É emocionante. O ser humano tem vaidade. E isso me deixou vaidoso, com vontade de fazer mais.

O modo como foi feita a redução da tarifa energética no ano passado foi infeliz. O governo a reduziu para o consumidor, prejudicando as geradoras. Isso não se faz”


Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

Uma nova safra de Líderes, longe do Coronelismo Afora a reeleição dos governadores Ricardo Coutinho (PB) – este desbancando todos os líderes do estado- e Jackson Barreto (SE), a partir de 2015, a sociedade dos outros sete estados nordestinos passa a conviver com novas caras de executivos e políticos à frente dos destinos dos governos do Nordeste, e passa a exigir mais de seus líderes para ampliar o nível de investimentos e distribuição de renda. A maioria, sem dúvida, está distante da fase do coronelismo. A nova cena mostra que o PT fez três governadores, Rui Costa (BA),

Wellington Dias (PI) e Camilo Santana (CE), embora neste último caso o novo governador cearense, mesmo sendo do PT, atribui a sua vitória aos irmãos Gomes. O PMDB apresenta ainda a juventude do governador Renan Filho, o PSD traz a surpresa do “pé quente” Robinson Faria e o Maranhão conduz a força do ex-presidente da Embratur, Flávio Dino, como aposta de futuro para os maranhenses cansados da Era Sarney. Nesse contexto, ainda se apresenta o chefe do executivo de Pernambuco, Paulo Câmara.

O mercado internacional acompanha com atenção a avaliação do Financial Times, que aponta lugares propícios para investimentos, sobre a performance dos estados brasileiros no setor econômico, logístico, educacional etc. O Rio de Janeiro foi o melhor avaliado seguido de São Paulo, Bahia, Pará e Pernambuco. O desempenho da Bahia é reflexo de sua liderança no PIB entre os nove estados nordestinos.

De olho no carnaval

Fabricação de navios médios

Mesmo com projeções pessimistas de analistas econômicos para o próximo ano, a Prefeitura de Salvador já traçou, três meses antes do Carnaval, toda a estratégia para permitir atrair investimentos em 2015. O objetivo é superar os rendimentos dos últimos anos. O prefeito ACM Neto tem cuidado pessoalmente e já deflagrou o credenciamento de veículos e profissionais de comunicação.

A retomada da indústria naval brasileira já está chamando atenção, inclusive no Nordeste. Uma das empresas que está projetando a fabricação de embarcações de médio porte, VARD Promor, está se destacando na fabricação de dois novos navios. A expectativa é que a China e a Coréia sejam os principais compradores da empresa nacional.

Hospital de vanguarda

Exportação da Bahia Nos últimos dias, o Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon) tem participado de um projeto inédito iniciado em outubro, envolvendo o primeiro embarque teste de banana-prata para exportação da Região do Jaíba, no norte de Minas Gerais. O transporte adequado da carga, que desembarcou na semana passada em Lisboa (Portugal), é um dos

de pequeno e médio porte, de forma a atenuar a gravidade do caos, a partir da produção da refinaria.

principais desafios para que a fruta alcance o mercado europeu em condições de ser comercializada. Antes, a carga passou por um período de pré-teste, no qual ficou refrigerada em contêiner por um mês na região produtora, simulando as condições que seriam enfrentadas no transporte por terra e mar até a Europa.

Depois do Sírio Libanês, outro hospital do Brasil entrou na lista dos mais bem equipados tecnologicamente. O Hospital da Unimed Recife garante o monitoramento do paciente em tempo real. A qualidade do sistema tecnológico já repercute com a escolha da unidade como modelo fora do eixo Rio - São Paulo. A instituição é presidida pela médica Maria de Lourdes de Araújo, uma das mais importantes dirigentes do sistema médico - cooperativista do Brasil.

NOVEMBRO / 2014

Embora esteja pronto somente no próximo ano, já chama a atenção do Brasil a nova pujança e estrutura do Porto do Panamá, agora com três vezes o tamanho original, que merece atratividade econômica expressiva. Pelo que comentam muitos especialistas, a porta de acesso a outros continentes encurtará a chegada de produtos da Ásia e Europa. Daí a importância do novo porto.

Os empresários instalados no Complexo Suape, em Pernambuco, andam preocupados com as consequências na mobilidade provocadas pela produção da Refinaria Abreu e Lima nos próximos tempos. Para se ter uma ideia, a previsão é de que o novo equipamento terá 180 carretas circulando por dia, devendo causar um caos no tráfego do Litoral Sul, algo que já acontece sem a empresa de refino. Segundo previu o consultor Fábio Saboya, da área de logística, as condições de escoamento exigem medidas urgentes para fazer frente a esse sério problema. Ele defende investimentos

O ranking para investir melhor

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Panamá e a expectativa

Efeitos da refinaria


Política

Mudança histórica

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Com os resultados das urnas consolidados, a Revista NORDESTE traça um panorama político nos nove estados da região. Conheça quem são os novos governadores e senadores e o que planejam para o quadriênio

Senador aliado Cerca de 50% dos votos válidos no Maranhão elegeram para o Senado Federal Roberto Rocha (PSB), que pertencia à coligação de Flávio Dino. O pessebista ultrapassou Gastão Vieira (PMDB), ministro do governo Dilma, que conquistou 44% do eleitorado maranhense. Sobre o que planeja para os próximos oito anos de mandato, Roberto Rocha afirma querer “ajudar o novo governador na imensa tarefa de fazer a transição para esse novo ciclo político, de tom republicano, aproximando as demandas sociais da classe política”. O senador eleito diz que há questões pontuais que merecem atenção permanente, como o combate às drogas, especialmente o crack, e a reformulação do sistema prisional. Foto: Shutterstock | Divulgação

Minha presença no Senado acena para outra correlação de forças, capaz de oferecer ao Maranhão as garantias de que o projeto de mudança estará representado na mais alta instância de representação política do país Roberto Rocha

NOVEMBRO / 2014

NOVEMBRO / 2014

Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

ses à água, já que segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano 2013 (PNUD e IPEA), somente metade da população do estado vive em casas com água encanada e banheiro. “Se eu tivesse de elencar uma única prioridade – que não é o caso porque o governo não pode se ater a apenas uma prioridade –, seria o programa Água para Todos. Metade dos domicílios maranhenses não tem acesso à água. Isso é muito grave. Há gerações e geraFlávio Dino ções de mulheres maranhenses que foram condenadas Digo sempre que Deus, quana passar a vida carregando um do criou nosso estado, deu todas as balde de água na condições para vivermos felizes e em cabeça para ter o abundância: água, recursos naturais, que beber. Meu compromisso é minérios. O mau uso da política para se mudar essa situaapropriar dessas riquezas é a causa do ção ao longo dos sofrimento da população. É essa chave próximos quatro anos”, garante. que vamos mudar em nosso estado

17

eleição define nova geopolítica

Primeiro governador do PC do B na história do Brasil, Flávio Dino venceu Lobão Filho (PMDB) ainda no primeiro turno com 63% dos votos válidos no Maranhão. “O legado de 50 anos de domínio de um mesmo grupo político em nosso estado está expresso em números. Não há um indicador social aplicado no nosso país em que o Maranhão não figure em último ou penúltimo lugar”, afirma o governador eleito em entrevista à Revista NORDESTE, após vitória expressiva contra o clã dos Sarney. Embora tenha sido apoiado pelo PSDB, Flávio Dino, que presidiu a Embratur desde 2011, propôs durante a campanha programas que são a versão estadual do “Mais Médicos”, “Bolsa Família” e “Minha Casa, Minha Vida”, desenvolvidos pelo Governo Federal. Segundo ele, a principal prioridade do seu governo será garantir o acesso dos maranhen-


Renan Filho

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NOVEMBRO / 2014

Collor assume novo mandato

Fernando Collor

A aliança entre Renan Filho e Fernando Collor (PTB) costurou o palanque, com 14 partidos, repetindo a dobradinha Calheiros/Collor nas eleições 2010 e 2012. O ex-presidente do Brasil foi reeleito senador com mais de 55% dos votos, derrotando Heloísa Helena (PSOL), sua principal adversária na disputa. Em entrevista à Revista NORDESTE, Collor afirma estar otimista com as mudanças que deverão acontecer no estado. “Tenho presenciado o governador eleito Renan Filho reiterar seu compromisso de sintonizar os projetos que são prioritários para Alagoas com os do Governo Federal. Já disse a ele que estarei atento para articular perante os organismos federais uma ação integrada de bancada em defesa do estado”, comenta. Para o senador, seu mandato terá dois caminhos prioritários: ajudar Alagoas a

retomar o crescimento e discutir temas importantes. “Além de novas saídas para a crise, que afeta a qualidade dos serviços oferecidos nas áreas da segurança, da saúde e da educação, e o debate em torno da reforma política, preocupa-me também as amarras impostas pela burocracia e a falta de mão de obra qualificada”, afirma.

Fiz uma campanha absolutamente propositiva e de prestação de contas. Foquei no meu trabalho parlamentar e utilizei o espaço para qualificar o debate, expondo as ações realizadas no Senado Federal

Robinson Faria

Robinson Faria (PSD), atual viceA principal proposta de Robinson -governador do Rio Grande do Norte, Faria durante sua campanha foi na disputou as eleições com Henrique área de segurança pública. Ele conta à Eduardo Alves (PMDB), presidente da Revista NORDESTE que a primeira Câmara. Alves articulou alianças com 18 medida será implantar o Ronda Cidadã, partidos, mas a coligação, que tinha dez intensificando a presença de efetivo polegendas a mais que licial nos bairros. “A Irei escolher técnicos segurança pública a de Robinson, não foi suficiente para competentes para serem será prioridade núgarantir sua vitória mero um em nosso meus auxiliares. Nada no pleito. Faria virou governo. Vamos o jogo na reta final de indicação política. aparelhar o sistema da campanha elei- Queremos fazer o melhor policial, hoje totaltoral potiguar e foi governo da história do Rio mente sucateado, eleito com 54% dos com novas viaturas, votos. Para tanto, Grande do Norte e para armas e o que há de contou com o apoio isso o governo terá que mais moderno na do ex-presidente ser meramente técnico segurança pública, Lula, para decepção o monitoramento de Henrique Alves, que é aliado de Dilma das ruas e avenidas com a integração no Congresso, mas tratou de retaliar o das policias Militar, Civil, Federal e Rogoverno já na primeira sessão pós-eleição doviária Federal, efetivando o trabalho da Câmara dos Deputados em manobra das Centrais de Polícia 24h”, promete o para derrubar decreto da presidente. governador eleito.

Paraibana ocupa cadeira potiguar A pedagoga e deputada federal Fátima Bezerra conseguiu eleger-se senadora pelo Rio Grande do Norte, desbancando a vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB), que vinha polarizando a disputa. Fátima é paraibana, mas fez sua carreira política no estado vizinho. Após a apuração, a senadora afirmou que o Rio Grande do Norte faz história ao eleger uma candidata de origem popular. “No nosso estado, o Senado sempre foi ocupado por representantes das oligarquias, ex-governadores, ou políticos em fim de carreira. A minha vitória traz um fato novo, que é eleger uma professora de origem modesta, que conseguiu ser deputada estadual e federal, e agora serei a senadora de todos, de todo o Rio Grande do Norte”, declarou. Professora por muitos anos na rede estadual e municipal em Natal, Fátima Foto: Divulgação

Fatima Bezerra

destaca a melhoria na educação como sua principal luta no Senado. Entre as propostas, está o investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação em 10 anos. Já na área de segurança pública, ela afirma que vai propor melhorias para policiais civis, militares e bombeiros no fortalecimento do Fundo Nacional de Segurança Pública.

A minha primeira palavra ao povo do Rio Grande do Norte é de agradecimento pela expressiva votação, por este gesto tão generoso que depositou na nossa luta. Isto aumenta mais ainda a nossa responsabilidade. Mas, sempre digo que vou corresponder a esta confiança como sempre fiz, com seriedade, ética, compromisso

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O deputado federal Renan Filho Filho conta também com a parceria do (PMDB), cujo pai é Renan Calheiros, Governo Federal. “Tenho dito, e repito presidente do Senado, foi eleito governaaqui, tão mais eficientemente um goverdor de Alagoas no primeiro turno. Filho, no tocará as soluções para os problemas que ganhou a disputa contra o senador alagoanos quanto mais o governador Benedito de Lira (PP) com 52% dos tiver capacidade de articulação com o votos, substitui TeGoverno Federal. otônio Vilela Filho Nossos recursos são A prioridade que (PSDB), que está entendo para o governo reduzidos e, ainda à frente do estado por cima, a receita de Alagoas é um tripé, desde 2007. estadual é dilapidaO novo governa- formado por educação, da pelo pagamento dor de Alagoas terá saúde e segurança públi- de valores absurdos de enfrentar alguns dos juros e serviços dos piores indicado- ca. Os programas partida dívida contraíres sociais do país. rão desta base tríplice da por pressão do Com 3,3 milhões governo Fernando de habitantes, o estado tem o menor Henrique Cardoso, entre 1996 e 1997, IDH (Índice de Desenvolvimento Huquando Alagoas vivia uma gravíssima mano) do Brasil, é líder em número de crise. (...) Sem questões como essa seanalfabetos e registra o maior índice de rem revistas, a realidade alagoana só se homicídios do país, segundo dados do complicará ainda mais”, afirma Renan, Mapa da Violência 2014. que é o governador mais novo entre os Para enfrentar esses problemas, Renan eleitos em 2014.

De vice a governador

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Governo jovem em Alagoas


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A equipe de transição do governador eleito é formada pelos coordenadores Renato Thièbaut, ex-chefe de gabinete de Eduardo Campos, e Cecília Wanderley, ambos atuaram na campanha eleitoral de Paulo Câmara. A equipe é comandada pelo vice-governador eleito, Raul Henry (PMDB).

O atual momento de Pernambuco, em relação ao desenvolvimento econômico e social, nos mostra que estamos no caminho certo, mas que muito ainda precisa ser feito para inovar e avançar mais na qualidade dos serviços prestados à população

Camilo Santana

O nome de Camilo Santana (PT) para o governo do Ceará foi anunciado pouco antes do fim do prazo para definição das coligações. Seu adversário foi Eunício Oliveira (PMDB), que rompera com o governador Cid Gomes (PROS). Embora Eunício tenha liderado nas pesquisas de intenção de voto do primeiro turno, Camilo, apoiado pelos irmãos Gomes, diminuiu a margem alcançada pelo peemedebista e conseguiu a vitória no segundo turno das eleições. Camilo Santana elogia a gestão do atual governador, Cid Gomes, mas garante que ampliará as oportunidades de crescimento para o Ceará. Para atrair mais investimentos e abalizar o desenvolvimento do estado, ele promete dar atenção à infraestrutura, além de investir no capital humano em todos os setores econômicos. “Temos grandes oportunidades na área de ciência, tecnologia e inovação,

Dobradinha no Senado

Fim da aposentadoria

Ex-ministro da Integração Nacional no governo Dilma Rousseff, Fernando Bezerra (PSB) recebeu 2,6 milhões de votos, alcançando 64% do eleitorado pernambucano. Em mais uma derrota do PT no estado, Bezerra, que também é afilhado político de Eduardo Campos, ganhou a corrida eleitoral contra o ex-prefeito do Recife, João Paulo, e vai ocupar a vaga do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). O senador eleito faz projeções positivas para o estado, um dos mais desenvolvidos do país. Para ele, Pernambuco vai experimentar nos próximos anos um importante crescimento, sobretudo na indústria. “Conquistamos grandes empreendimentos industriais, como a Fiat, a Vivix Vidros Planos, refinarias, dois estaleiros, além de toda a cadeia de alimentos e bebidas. Estes empreendimentos atraem outros agregados, que

Quatro anos após anunciar que deixaria a vida pública, o ex-senador e ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati, foi eleito para mais um mandato no Senado Federal. Um dos políticos mais influentes do PSDB, Tasso se destacou como opositor ferrenho do governo Lula, entre 2003 e 2010 e nas eleições deste ano ficou à frente da campanha de Aécio Neves no Nordeste. Ele venceu com folga, de quase 58%, contra 39% do segundo candidato, Mauro Filho (PROS). Jereissati foi o responsável por lançar os irmãos Ciro e Cid Gomes (PROS) na política. Depois, rompeu com eles e passou a fazer oposição ao governo Cid. “Não concordo com o tipo de política que a família Ferreira Gomes está fazendo no Ceará. Não é

aumentam a nossa arrecadação. Além disso, o setor industrial gera muitos e bons empregos, que repercutem diretamente na economia”, justifica o ex-ministro.

Fernando Bezerra

Quero ajudar Paulo Câmara a fazer mais por Pernambuco. Defendemos o legado de Eduardo Campos, que trouxe grandes investimentos. O Senado é a casa que aprova os financiamentos e quero atuar para que possamos fazer as grandes intervenções que o estado necessita

Foto: Divulgação

Espero que a marca da minha gestão seja o diálogo, instrumento capaz de construir consensos, dentro da heterogeneidade de uma sociedade de múltiplos interesses e necessidades em razão da nossa posição geográfica estratégica, do complexo de universidades, dos centros de pesquisa e de nossa vocação para a chamada economia criativa. O tripé infraestrutura e logística, qualificação profissional e o sistema fiscal e tributário são os principais vetores da competitividade, sobretudo com as condições que temos aqui no Nordeste”, afirma Camilo, que quer ainda assegurar para o estado a independência na política de água e energia.

Somente com o compromisso com a moral e a ética na vida pública podemos representar com dignidade o povo do Ceará Tasso Jereissati

nem sombra daqueles jovens idealistas que eu levei para a prefeitura”, chegou a dizer. Em entrevista ao site da VEJA, o senador eleito afirmou que seu próximo mandato dependeria dos resultados das eleições presidenciais. “Outra coisa é ser oposição a um governo, que, em minha opinião foi um dos piores que o Brasil já teve depois da democratização”, afirmou. Agora, com os resultados definidos e a vitória petista no cenário nacional e estadual, o tucano encorpa a oposição ao Governo Federal em Brasília e ao governador eleito do Ceará.

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NOVEMBRO / 2014

Paulo Câmara

O economista Paulo Câmara (PSB) foi eleito no dia 5 de outubro governador de Pernambuco com votação expressiva, de 68% contra os 31% do senador Armando Monteiro (PTB). A Câmara assumirá o Palácio do Campo das Princesas ocupando a cadeira que pertenceu a seu padrinho político, Eduardo Campos, por dois mandatos. À Revista NORDESTE, Paulo Câmara contou que montará uma equipe de governo a partir do exemplo do líder pernambucano morto em agosto. “A gestão do governo nesses últimos oito anos é reconhecida nacionalmente pelos resultados que trouxe para Pernambuco, gestão esta liderada pelo Governador Eduardo Campos. Este é um modelo que também iremos seguir, vamos montar uma equipe com pessoas qualificadas e que ao longo de suas carreiras já enfrentaram desafios e já provaram que tem competências para fazer parte do nosso governo”, garante o pessebista.

Vitória dos irmãos Gomes

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PSB permanece no poder


Reviravolta petista Iniciei a campanha com um alto índice de desconhecimento entre os eleitores, superamos isso e chamamos a população a comparar os dois projetos políticos que estavam colocados projeta a Bahia a partir de uma gestão moderna. “Um estado que se destaque pela competência e que continue a atrair grandes investimentos, com uma rede de universidades que atenda às demandas de desenvolvimento regionais, com professores, policiais e servidores motivados. Digo isso, com a convicção de que tenho condição de fazer um governo ainda melhor, porque estou recebendo de Wagner uma Bahia pronta para dar passos largos”, afirma.

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conquista com vantagem Candidato na chapa de Rui Costa, Otto Alencar (PSD), vice-governador da Bahia, ganhou a corrida eleitoral contra um adversário histórico. Eleito com 56% dos votos, Alencar superou Geddel Vieira Lima (PMDB), que conquistou 35% do eleitorado baiano. Otto Alencar já foi governador e assumiu secretarias do estado. Ele e o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fundaram o PSD em 2011. “A aliança do PSD com o PT foi feita de forma programática e em uma relação de sinceridade, lealdade e firmeza, tanto é que todo o meu grupo do PSD votou no candidato do PT”, diz o senador eleito ao justificar que a vitória conquistada no Senado, Governo do Estado e Presidência da República foi fruto de uma relação de trabalho e confiança.

Otto Alencar

Otto Alencar afirma que sua atuação será pautada pela luta por reformas, como a tributária, do Código Penal e do Fator Previdenciário. A reforma política, no entanto, é o que mais atrai sua atenção. “Acho que é urgente acabar com a reeleição, fazer eleições conjuntas e instituir o voto distrital misto”, afirma.

Em uma eleição disputada, definida após 95% das urnas serem apuradas, a Paraíba decidiu que Ricardo Coutinho (PSB) será mais uma vez o responsável pelo destino do estado nos próximos quatro anos. O atual governador conseguiu uma virada contra o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que havia saído na frente no primeiro turno. Com o importante apoio do PMDB, dos senadores Zé Maranhão e Vital do Rêgo, o socialista conseguiu a reeleição com 52% dos votos válidos contra 47% do tucano. Em seu perfil no facebook, Coutinho agradeceu o eleitorado e prometeu: “vou fazer o melhor mandato da minha vida”. Em reunião com lideranças que apoiaram sua campanha, Ricardo afirmou que não vai esperar a posse para anunciar mudanças em sua gestão. “A formação do nosso governo será alterada à medida que eu for dialogando. Eu preciso de uma nova

etapa, tenho que mudar gente e farei isso com a maior tranquilidade. Nós vamos continuar a servir à Paraíba, à medida que eu for definindo os nomes, vou trocando, não vou esperar o dia 1 de janeiro”, esclareceu.

Essa eleição trouxe muitos ensinamentos para todos nós. Trouxe ensinamentos para a Paraíba cujo o segmento político tinha um pensamento que eleição era apenas uma pactuação entre entes políticos, (...) porque política não é só governador, deputado, prefeito. Política é o povo

Ricardo Coutinho

Experiência no Congresso Eu não tenho nenhum sentimento de ocupar cargo executivo. Eu já ocupei vários e não quero mais. Para que as reformas possam acontecer, para tirar o país dessa situação, é preciso atualizar nossa legislação. Levar mudanças para os estados será minha luta permanente

José Maranhão

Aos 82 anos, o líder peemedebista no estado, Zé Maranhão (PMDB), foi eleito para mais um mandato no Congresso Nacional. Após perder as duas últimas disputas em que se candidatou, Maranhão liderou com relativa folga todas as pesquisas de intenção de voto na Paraíba. O resultado foi uma votação de 37%, contra Lucélio Cartaxo (PT), irmão gêmeo do prefeito da capital pessoense e estreante em eleições, que alcançou quase 30%. Ambos superaram o experiente Wilson Santiago (PTB), que somou 29%.

Ninguém vai fazer uma aliança política sem que essa aliança tenha como foco o projeto político administrativo. Estamos unindo as forças do PMDB e do PSB para fortalecer uma política de desenvolvimento econômico Foto: Divulgação

Durante a campanha, ele afirmou que defenderá a reforma política para acabar com a reeleição e transformar a corrupção em crime hediondo. O senador eleito defende ainda o financiamento público de campanhas e a fidelidade partidária. Maranhão usou de sua habilidade política e conseguiu apoio de políticos do PT e do PSB. No segundo turno, apoiou a reeleição de Ricardo Coutinho e agora promete manter a aliança com o governador. De acordo com Maranhão, a união da sua legenda e do PSB na Paraíba vai além da governabilidade. “O PMDB tem um projeto de convergência nacional, esse projeto tem como centro o PMDB. (...) Além disso, Ricardo Coutinho abriu uma dissidência no seu partido para apoiar a reeleição da presidenta”, frisou o senador em entrevista coletiva.

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Em um dos resultados mais surpreendentes das eleições no Nordeste, Rui Costa (PT) virou na última etapa e venceu na Bahia com 54% dos votos, tirando Paulo Souto (DEM) de um possível – e até certo ponto, provável - segundo turno entre os dois candidatos. A vitória petista teve características semelhantes à disputa de 2006, na qual o atual governador, Jacques Wagner (PT), também venceu Souto após ter ficado atrás nas pesquisas durante toda a campanha. O resultado representa uma derrota para o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), principal cabo eleitoral das oposições e articulador da chapa que uniu o DEM e o PSDB ao PMDB. Para Rui Costa, que é deputado federal e foi chefe da Casa Civil no governo Wagner, a saúde é a principal preocupação. Ele promete começar pelo hospital regional de Feira de Santana ainda no primeiro semestre de 2015. Além disso, Costa conta à Revista NORDESTE que

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Rui Costa

LIDERANÇA CONQUISTADA


WELLINGTON Dias volta a governar

PMDB SE MANTÉM NO PODER

Tendo consciência das dificuldades que nós atravessamos, mas com muita alegria e confiança que a população nos depositou. Eu nunca tive dúvida da vitória

condições financeiras adversas, as quais sinalizam que 2015 será um ano difícil. Ele teve que atrasar salários e irá reduzir o número de comissionados, cortar gratificações e extinguir secretarias.

Wellington Dias

Em seu terceiro mandato no governo do Estado, Wellington Dias (PT) assume mais uma vez o Palácio do Karnak, sede do poder executivo. O petista, que foi um dos senadores mais atuantes na defesa do governo no Parlamento, conseguiu impedir a reeleição de Zé Filho (PMDB) ainda na primeira etapa. A vitória marca o retorno de sua legenda ao governo do Piauí, onde Dilma Rousseff venceu com mais de 70% dos votos. “Gostaria de agradecer aos partidos que corajosamente fizeram parte desta coligação e a toda militância que nos deu sustentação. O povo não deu um cheque em branco, mas sim a oportunidade de um processo de mudança para que possamos acelerar o crescimento econômico e social”, declarou após o anúncio do resultado, que foi expressivo para o petista, de 63%.

Lá atrás tínhamos que cuidar de necessidades. As pessoas precisavam comer, sair do isolamento de água. Hoje, o povo quer transformações em áreas que lá atrás ninguém se lembrava de falar. Nós vamos trabalhar para ter um Piauí eficiente, moderno, e o principal: trabalhar sem ter medo de falar que a nossa opção continua sendo os pobres

Jackson Barreto

Primeira-dama se reelege

Resultado expressivo

Após campanha acirrada em Sergipe, a democrata Maria do Carmo (DEM) conseguiu a reeleição e se direciona para o seu terceiro mandato como senadora. Esposa do prefeito de Aracaju, João Alves Filho, ela teve 48% dos votos contra 45% do deputado federal petista Rogério Carvalho. Com trajetória política marcada pela atuação social, Maria do Carmo diz, em entrevista à Revista NORDESTE, que uma de suas prioridades no Senado Federal será a federalização da educação básica, proposta pelo senador Cristovam Buarque. “Creio firmemente que melhorar os salários dos professores e assegurar boas estruturas físicas e aparelhamento pedagógico às escolas serão fundamentais para oferecer uma educação básica de qualidade. Precisamos dar esse salto agora”, afirma.

Com a desistência do senador João Vicente (PTB) em disputar a reeleição, ficou a cargo do ex-prefeito de Teresina, Elmano Ferrer a tarefa de concorrer no pleito piauiense pelo partido. Com o apoio do governador eleito, Wellington Dias, da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, Elmano elegeu-se com votação expressiva de 62%. O petebista derrotou o ex-governador Wilson Martins (PSB), que teve 35% dos votos no estado. Para Elmano, conhecido durante a campanha como o “véin trabalhador”, a dobradinha com Wellington Dias será fundamental. “Quero ter uma atuação muito forte em parceria com o Governo do Estado, em todas as ações de desenvolvimento, para que tenhamos uma economia desenvolvida e autossustentável”, disse à Revista NORDESTE.

Maria do Carmo

Foto: Divulgação

Não vou me ater apenas às emendas parlamentares, mas especialmente trabalhar o Orçamento da União e o Programa de Aceleração do Crescimento, ali estão as grandes linhas de investimentos Ele explica que pretende trabalhar no Senado a partir de três vertentes. “Minha atuação prioritária será as questões do Piauí, das cidades do estado, em seguida a regionalização, planejamento de desenvolvimento regional, e as questões nacionais, como o Pacto Federativo e a Reforma Tributária”.

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Há muita riqueza em solo sergipano. Penso que teremos muito trabalho para reverter essa riqueza à população, de forma que chegue para todos educação de qualidade, formação técnica e científica, estrutura e serviços de saúde modernos e eficientes e demais aparelhamentos urbanos que promovam maior qualidade de vida

Elmano Ferrer

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O atual governador de Sergipe, que assumiu o cargo no ano passado após a morte de Marcelo Déda (PT), ganhou a disputa no estado com 53% dos votos. Jackson Barreto ((PMDB) derrotou Eduardo Amorim (PSC), que somou 44%. Só na reta final ele passou à frente do senador Amorim e conseguiu a vitória no primeiro turno. Jackson Barreto prometeu dar continuidade às políticas de Déda e teve o apoio de Lula e Dilma. No entanto, reeleito, afirmou que o projeto político do ex-governador terminará em dezembro, quando iniciará seu próprio modelo de gestão. “A partir de janeiro, será um novo projeto, dentro da minha visão como administrador (...), isso é uma coisa muitíssimo natural e está prevista em qualquer democracia”, declarou em entrevista à afiliada da TV Globo em Sergipe. Antes mesmo de iniciar o novo mandato, Jackson Barreto já enfrenta


Opinião

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Desenvolvimento e ordem fiscal

O

equilíbrio fiscal, isto é, o controle sobre gastos e receitas públicas é o mecanismo pelo qual se organiza a vida da sociedade. A política fiscal tem funções muito importantes, a primeira delas é que ela provê bens e serviços – justiça, educação, saúde, infraestrutura, - que não são atribuição do setor privado. Ela provê também a redistribuição de recursos, porque toda sociedade tem que ser civilizada, garantindo um pouco de conforto e segurança àqueles que não têm condição de se sustentarem. A ordem fiscal deve procurar caminhos na direção da igualdade de oportunidades e dar condições ao governo de agir durante as eventuais quedas de demanda que acontecem numa economia cíclica como é a capitalista, fundamentalmente para manter o nível de emprego. Significa que o governo precisa ser capaz de operar mecanismos de compensação: se a demanda privada cai, ele amplia a demanda pública, de tal jeito que os níveis da atividade e o emprego fiquem mais ou menos estáveis, porque eles são importantes na coesão social e para a própria estabilidade. Todas as outras políticas dependem de uma boa política fiscal. Não adianta imaginar, por exemplo, que se vai acabar com a inflação apenas com a política monetária, aumentando a taxa de juros, se não se mantiver um relativo equilíbrio fiscal. A falta desse equilíbrio promove a inflação, simplesmente. Usar a alta dos juros para combatê-la não é a solução para

o problema e ainda vai prejudicar o nível da atividade. Não se pode ter – por outro lado - uma política salarial decente sem a companhia de uma política monetária sólida que leve a uma estabilidade na inflação. Por quê? Porque é fundamental entender que quando o trabalhador vai discutir o salário, ele não discute só o aumento do salário nominal; ele não reivindica só o salário, ele vai discutir como é que vamos dividir o excedente que foi produzido: um pedaço é para o capital, mas outro pedaço é para o trabalho. Num clima de estabilidade se consegue aumentar a participação do trabalho na renda sem criar novas tensões inflacionárias. O equilíbrio fiscal é ainda mais decisivo para se ter uma política cambial adequada. É preciso que haja recursos no governo federal para intervir no sistema de câmbio: se o câmbio está caindo muito, ou se voltar a subir muito, é preciso manter as condições de influir para eliminar as flutuações no câmbio. É por tudo isso que venho insistindo em dizer que a ordem fiscal é a mãe de todos os outros equilíbrios. Não estamos numa situação muito adequada: temos um crescimento econômico fraco e uma queda sinistra na produção industrial. Vai ser preciso uma mudança e eu coloco minhas esperanças no fato que o voto de confiança que a Presidente Dilma Rousseff recebeu da sociedade vai permitir mudar a política macro e a política micro para conseguir de volta o desenvolvimento do Brasil.

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Gestão petista enfrenta resistência, mas avança em políticas sociais como o Pronatec, Mais Médicos, na manutenção do emprego, além de manter e ampliar conquistas de gestões anteriores, a exemplo do Bolsa-Família e Minha Casa, Minha Vida. Agora, tem novos desafios para manter nível de crescimento econômico

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Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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Brasil reelegeu no último dia 26 de outubro Dilma Rousseff para a Presidência da República. A corrida eleitoral foi uma das mais acirradas desde a redemocratização do país, com uma diferença de apenas 3% dos votos entre a petista e Aécio Neves (PSDB). A vitória apertada da primeira mulher a presidir o Brasil é a sinalização primária dos desafios que Dilma enfrentará nesta gestão, a qual deverá atentar para os anseios da população

brasileira, que clama por mudanças, para a resolução dos impasses econômicos e ainda para o acirrado cenário político, expresso por uma bancada de oposição fortalecida no Congresso Nacional. No primeiro mandato, a presidente conseguiu avançar em políticas sociais como o Pronatec, o Mais Médicos, na manutenção do emprego, além de manter e ampliar as conquistas sociais dos governos anteriores, como o Bolsa-Família e o Minha Casa, Minha

já que os rearranjos das forças políticas, em última instância, podem levar sua legenda, após 12 anos, a ter que governar com uma base aliada mais enxuta, entretanto mais coesa e homogênea ideologicamente. Além disso, para o especialista em política, Djalma Pinto, esse cenário será positivo para o Brasil, porque possibilitará ao país finalmente testemunhar um desempenho efetivo das atribuições do Congresso Nacional previstas na Constituição, como fiscalizar com mais rigor os atos do Poder Executivo, inclusive, da administração indireta; sustar os seus atos normativos que exorbitem do poder regulamentar e convocar ministros de Estado para prestar informações. Djalma, que é ex-procurador da Fazenda Nacional, acredita que o fortalecimento da oposição obrigará o governo a dispensar mais atenção aos gastos públicos, preocupando-se com a transparência nas suas ações. “À população interessa que a oposição cumpra o seu papel, sem, contudo, impedir a implementação daquilo que for necessário para o bom gerenciamento da administração pública”, conclui. A campanha eleitoral de 2014 teve ritmo intenso, foi cheia de reviravoltas e acusações. Mas, passado o período eleitoral, PT e PSDB ainda divergem sobre a proposta de haver diálogo entre os dois partidos. Para Dilma, ainda que se firmando na oposição, é necessário haver conversação entre as legendas, do contrário, criaria um “quadro caótico” com rachas nos poderes. Após a vitória, é natural que a petista incentive o diálogo, já que é necessário que ela se coloque como presidente eleita, não mais como candidata do PT. Para Aécio Neves, por sua vez, qualquer relação dialógica será condicionada às propostas que atendam os interesses da população. Em seu retorno ao Senado, o tucano afirmou que fará uma “oposição incansável”. Foto: Agencia Brasil

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Os caminhos do governo

Vida. Pecou, segundo especialistas, no pouco diálogo com a sociedade, na baixa previsibilidade da política econômica e em ações de enfrentamento ao mercado financeiro, o que afasta investimentos e inibe o empresariado. O primeiro ciclo de Dilma se encerra em 31 de dezembro e as conquistas integram agora a história do país. A próxima etapa é impedir que os problemas a serem enfrentados se cristalizem em sua biografia presidencial e dificultem o crescimento brasileiro no próximo quadriênio. Historiador pela USP, Renato Cristofi acredita que, se fora possível erradicar os níveis da pobreza extrema e a fome no Brasil, é necessário enfrentar ainda outras questões estruturais e sociais, como saúde, educação e serviços públicos. Para ele, o recado da necessidade de mudança foi a manifestação da maioria do eleitorado, inclusive de quem votou na reeleição de Dilma. “O governo e a presidente foram exitosos sim em apresentarem-se como os mais capazes de realizar esses anseios e demandas do conjunto da maioria da população. Ao mesmo tempo, a oposição sai fortalecida porque mais setores sociais demonstraram acreditar que ela deveria conduzir o Brasil em um novo ciclo de governança e políticas públicas. Assim, enquanto oposição derrotada e fortalecida pelas urnas caberá aos partidos adversários cumprirem seu papel de fiscalizar, cobrar e exigir do governo aquilo que demanda os setores que se colocaram em alinhamento ao seu projeto político, porém realizando uma oposição que se manifeste para o conjunto da nacionalidade”, argumenta, se referindo à perda de aliados do PT nessa eleição. O crescimento no número e na força de parlamentares adversários no Congresso e nos estados, contudo, não desfavorece por completo a presidente,

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Política


ALIANÇA É PRIMEIRO DESAFIO presidência da Câmara, mas uma ala que teme a rebeldia peemedebista defende como alternativa um nome do PMDB que não seja ligado a Eduardo Cunha. A eleição só acontecerá em fevereiro, mas uma possível vitória de Cunha é tida nos bastidores como uma derrota pessoal da presidente reeleita. Segundo o historiador Renato Cristofi, desde a redemocratização, o PMDB cumpre um papel chave na governabilidade, por ser o partido com maior capilaridade no país, e, sobretudo, por ter a maior bancada no Senado, ser a segunda bancada na Câmara dos Deputados e ter, novamente, eleito o maior número de governadores. Típico partido de centro, a legenda aceita políticas mais ou menos indefinidas em questões ideológicas e barganha cargos de importância estratégica para o governo. “Diante de um PMDB fortalecido, e da tradição de ceder espaços na administração, através de cargos de nomeação direta, em ministério e estatais, será importante para o governo estabelecer critérios de seleção desses agentes político-partidários e, sobretudo, melhorar os mecanismos de controle e fiscalização da máquina e dos recursos públicos”, alerta Cristofi. Djalma Pinto lembra que, historicamente, a rebeldia da base aliada significa reivindicação por cargos e mais espaço na Administração. “Aceitas as exigências pelo Chefe do Executivo - quase sempre danosas ao interesse público, o “freio” para conter as ameaças dos “rebeldes” está assegurado. O problema é que o fisiologismo, a chantagem e a troca de cargos por apoio comprometem a eficiência, expressamente exigida no art. 37 da Constituição. Pior que isso, o condicionamento do apoio político ao recebimento de benefícios, que se expressa no ‘é dando que se recebe’, tipifica falta de decoro que a Constituição pune com a perda do mandato”, ressalta o analista político.

REFORMA POLÍTICA COMO PRIORIDADE

Manifestantes protestam na frente do Palácio do Planalto, durante ato realizado em junho de 2013

Foto: Agencia Brasil | Mídia ninja

Ainda em Brasília, outro desafio se impõe. Em seu primeiro discurso como presidente reeleita, Dilma Rousseff destacou qual será a primeira prioridade de seu novo governo: “Entre todas as reformas, a primeira e mais importante deve ser a reforma política. Meu compromisso é deflagrar essa reforma”, garantiu. Todavia, como a própria presidente afirmou em sua fala, essa mudança é de responsabilidade do Congresso. E é aí que reside o seu problema, já que ela defende a realização de um Plebiscito Popular, que enfrenta enorme resistência dos parlamentares, cuja preferência é por um Referendo. Isso porque o Plebiscito, convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo, reduziria a participação e autonomia dos parlamentares, enquanto o Referendo é primeiramente aprovado pelo Parlamento, para somente depois ser submetido ao voto do povo. Para o advogado e integrante do Comitê Nacional da Campanha pelo Plebiscito, Ricardo Gebrim, a questão que estará em jogo daqui pra frente é de quem fará as reformas: o Congresso ou o povo em um processo em que seja possível eleger seus representantes com a única tarefa de elaborar um novo sistema político. “Quando o PMDB fala em Referendo, quer aprovar uma reforma

eleitoral, sem alterar os entraves constitucionais, que provavelmente serão mudanças cosméticas, para então submeter um projeto pronto ao referendo popular. Onde se dirá sim ou não a um conjunto de mudanças que o Congresso Nacional negociou para conservar seus próprios interesses”, criticou em entrevista ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Segundo o advogado, as dezenas de movimentos sociais envolvidos na questão do plebiscito terão que ir para as ruas defender o projeto, além de enfrentar os interesses dos deputados e senadores, e a “artilharia pesada da mídia”. Para Ricardo Castrofi, é quase uma unanimidade para quem olha para o sistema político-partidário brasileiro a constatação de que seus agentes – os congressistas – são os menos interessados em realizar aquilo que lhes compete enquanto representantes eleitos. Para o historiador, a Reforma Política, tratada como a “mãe de todas as reformas”, dificilmente avançará sem pressão popular eficiente. “A ideia da consulta popular – plebiscito ou referendo – é uma forma de pressioná-los politicamente”, afirma. Sob essa ótica, a Reforma Política mediante Plebiscito popular é desafio conjunto de Dilma e da população brasileira.

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legislatura, número que corresponde a um terço da composição total das duas Casas. Já na primeira sessão da Câmara dos Deputados, o primeiro sinal do abalo na relação entre PT e PMDB pôde ser sentido. Em manobra capitaneada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), os deputados federais aprovaram um projeto que susta os efeitos de um decreto da presidente que regulamenta os conselhos populares. Alves nega a retaliação, mas o Palácio do Planalto credita a derrota que sofreu no Parlamento ao ressentimento do peemedebista, que atribui ao PT, especialmente ao ex-presidente Lula, sua derrota no pleito estadual, no qual era candidato a governador do Rio Grande do Norte. Isso porque Lula gravou um vídeo de apoio a Robinson Faria (PSD), que acabou eleito. Logo em seguida, a candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara também passou a ser motivo de impasse entre os partidos. O nome do peemedebista desagrada o Planalto e o PT por ele ter adotado postura contrária aos interesses do governo federal diversas vezes enquanto líder do PMDB na Câmara. O PT diz que vai indicar candidato do partido para disputar a

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Não é de hoje que a relação entre PT e PMDB anda estremecida. Mas, após as eleições, a consolidação da aliança entre as legendas será um problema para o Palácio do Planalto antes mesmo da posse de Dilma Rousseff acontecer. O PMDB, do vice-presidente Michel Temer, é o principal aliado petista, mas internamente não tem unanimidade em relação ao governo e vem colecionando algumas crises políticas com o partido socialista. A maior parte delas é fruto de insatisfações relacionadas à escolha de nomes que desagradam o partido para ocuparem cargos importantes no Executivo. Em 2015, as legendas somarão 168 senadores e deputados federais na próxima


IMPASSES ECONÔMICOS Para especialistas, o número um dos desafios econômicos de Dilma Rousseff neste segundo mandato é levar a inflação para o centro da meta, que é 4,5% ao ano. Hoje, no teto da meta (6,5% ao ano), a taxa prejudica a economia e o poder de compra da população. Conquistar a confiança desde o empresariado até a dona de casa que faz suas compras no mercado também é, segundo Ricardo Castrofi, uma tarefa importante para reconquistar a confiança na política econômica do governo, na macroeconomia e na economia doméstica. Afinal, como afirma o ex-procurador da Fazenda Nacional, Djalma Pinto, “quando a economia vai bem, o cidadão presta pouca atenção ao governo. Quando, porém, a crise nela se instala, o descontentamento geral ecoa na política”. De acordo com Robson Valdez, o Brasil está hoje em uma recessão técnica, já que o PIB apresentou queda por dois trimestres consecutivos. “Ainda não observamos uma queda acentuada dos níveis de emprego, renda, as taxas de lucro das empresas, investimentos e tampouco uma aumento acentuado dos níveis de taxas de juros, inflação, capacidade ociosa da indústria, etc. É certo que alguns desses agregados vem mostrando oscilações ne-

gativas ao mesmo tempo em que outros agregados ainda mostram alguma solidez. De toda forma, a situação requer cuidado e demanda ajustes. São estes acertes os desafios do novo mandato da presidente Dilma”, destaca o economista. Por isso o ajuste fiscal é prioritário. Ele garantiria ao governo alcançar a meta de superávit primário (diferença entre receita e despesa para pagar juros da dívida pública federal), que já foi alterada várias vezes, e ainda contribuiria para o controle da inflação, com a redução dos gastos governamentais. Há uma projeção de que as contas públicas terão um déficit nominal superior a 4% do PIB este ano, o pior resultado dos últimos 10 anos. Esse cálculo considera receitas e despesas do governo mais o pagamento de juros da dívida. Para ajustar isso, o governo terá que cortar gastos ou arrecadar mais, o que só é possível crescendo ou aumentando alíquotas. Além do aumento nas taxas de energia e gasolina anunciadas no último mês, a equipe do Ministério da Fazenda não descarta medidas como a volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) dos combustíveis e a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Para Robson Valdez, o resultado destes desafios implicará, num primeiro momento, em desaquecimento da economia e redução do emprego. Ou seja, o enfrentamento é, segundo ele, em algum grau recessivo. “O problema é que para lidar com estes desafios, nem o setor privado e nem consumidores querem sofrer os efeitos colaterais dessas medidas. Acomodar os interesses dos atores econômicos impõe-se também como um grande desafio a ser enfrentado”, complementa. O nome que estará à frente do Ministério da Fazenda dirá muito sobre a forma com que o novo governo Dilma pretende lidar com estes entraves econômicos. O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa são cogitados para o cargo. Em entrevista, o atual ministro, Guido Mantega, declarou que seu sucessor terá o desafio de fazer a economia crescer em um momento de transição na economia mundial e confirmou que, para garantir um cenário mais positivo, será necessário fazer corte nas despesas públicas, que poderia ocorrer em relação ao seguro desemprego, auxílio doença e pensão por morte.

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Tida pela presidente como medida certa e necessária nos próximos quatro anos, a Reforma Tributária e a forma como ela será conduzida gera expectativa para diversos setores. “Eu tenho a convicção que o Brasil precisa de uma Reforma Tributária, precisa simplificar tributos. É impossível continuar com a sobreposição e com a guerra fiscal. Eu acho que nós reduzimos e muito a guerra dos portos, mas a guerra fiscal ainda permanece”, afirmou a petista em entrevista ao Jornal Nacional. Para o economista Robson Valdez, a Reforma Tributária deve ser um compromisso do Estado. “Acredito que Dilma deve dar início a este processo que demanda uma negociação longa entre estados, municípios e Governo Federal, pois a Reforma envolve receita de todos os entes da Federação. Por isso, ela é tão importante e, pelo mesmo motivo, ela é tão complicada de ser enfrentada”, explica Robson. Para o governo, essa reforma já começou. Em entrevista, o ministro- chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, disse que o novo mandato da presidente reeleita já começa com a Reforma Tributária em andamento, com a nova Lei do Supersimples, aprovada este ano pelo Congresso Nacional e que entra em vigor a partir de 1º de janeiro. O Supersimples estabelece um sistema de tributação diferenciado para as micro e pequenas empresas, unifica oito tributos cobrados pelos Governos Federal, estadual e municipal em um único boleto e reduz, em média, em 40% a carga tributária. Além disso, prevê agilização nos processos de abertura e fechamento de empresas. Segundo dados do Banco Mundial, este processo no Brasil poderia durar mais de cem dias e com a nova lei, tudo será feito em apenas um balcão e dentro do prazo máximo de cinco dias.

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REFORMA TRIBUTÁRIA JÁ COMEÇOU

Foto: Agencia Brasil


PROBLEMAS ANTIGOS Além dos desafios particulares ao ano de 2015, Dilma Rousseff tem a responsabilidade em seu segundo mandato de lidar com problemas históricos do Brasil, que o caracterizam como um país ainda em desenvolvimento. Políticas públicas para saúde, educação e segurança pública são temas centrais para o governo.

EDUCAÇÃO

GESTÃO ENERGÉTICA O setor elétrico, historicamente emaranhado, passa por um momento delicado. Especialistas afirmam que Dilma Rousseff terá de enfrentar crise hídrica, aumento de tarifas e preços elevados no curto prazo. Qualquer um dos candidatos à presidência – Dilma Rousseff ou Aécio Neves – teriam problemas a enfrentar no segmento. É o que aponta a Agência Canal Energia. Em um período de estiagem, a falta de água e de energia elétrica preocupam o governo e a população. A previsão de poucas chuvas nos próximos meses prenuncia reservatórios ainda mais baixos. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, neste mês os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste (que representam 70% da reserva brasileira) podem chegar a um volume de 16% - nível mais baixo desde 2001. Além disso, a tendência é que as tarifas de energia aumentem consideravelmente em 2015, já que as empresas levantaram, com a intermediação do governo, um empréstimo bancário de R$ 17,8 bilhões, que terá de ser pago pelo consumidor em dois anos. Isso porque todos os ajustes de preço

promovidos ao longo do ano terão de incluir a reposição parcial de gastos que as distribuidoras tiveram em 2014 com a compra de energia, cujo preço subiu por causa do baixo volume de chuvas. As tarifas no mercado de curto prazo deverão continuar altos, pelo menos até 2016, de acordo com especialistas do setor, pressionando principalmente o setor industrial. A variação de preços no mercado de energia depende ainda de como o governo vai lidar com as especificidades do setor elétrico. Se a estiagem persistir, por exemplo, e os reservatórios permanecerem baixos, será necessário rediscutir o uso das termoelétricas, que têm um alto custo operacional apesar de contribuírem com 28% da eletricidade fornecida no país. Como atualmente estão funcionando com o total de sua capacidade pela defasagem das hidrelétricas, elas podem encarecer ainda mais a conta do consumidor. Outra medida para não colocar em xeque a segurança do fornecimento elétrico, evitada durante todo o ano eleitoral, é lançar mão de uma campanha pelo uso racional de energia.

SEGURANÇA PÚBLICA De acordo com o Mapa da Violência, o Brasil é o sétimo país mais violento do mundo. Coordenar juntamente com os estados uma política de segurança que diminua esses índices é mais um desafio do Governo Federal, já que os recursos dos estados são limitados e o crime organizado se expande para além das divisas. Especialistas e alguns congressistas já debatem alterar a legislação para aumentar a responsabilidade da União no setor.

SAÚDE O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é o maior sistema público de saúde do mundo. Hoje, o país aplica 7% de suas receitas na área, mas o aumento dessa verba tem sido discutido. Entidades do setor, reunidas no Movimento Saúde Mais Dez, acreditam que é necessário elevar esse investimento para os 10%, injetando mais de 40 bilhões de reais ao ano. Outro ponto sensível na área é a regulação dos planos de saúde, cada vez mais problemáticos e que atendem a 51 milhões de usuários atualmente.

Em junho deste ano, o governo Dilma conseguiu aprovar o Plano Nacional de Educação, que deverá quase dobrar a verba para a educação nos próximos 10 anos, com a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país na área. O Plano inclui ainda metas para universalização da educação no ensino fundamental, mas há um grande desafio: o de universalizar até 2016 o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos. Atualmente, 15% dos alunos da faixa etária estão fora da escola e 42% deles estão atrasados, ainda cursam o ensino fundamental. Além disso, embora o governo tenha investido em bolsas para o ensino superior, como o Fies e o ProUni, o ensino médio continua sendo um grande gargalo no país. Nesse sentido, a tarefa da presidente é viabilizar parcerias mais efetivas com os estados, responsáveis pela gestão do ensino médio.

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O investimento em programas sociais é hoje o grande trunfo do governo petista. Sua ampliação, não por acaso, foi proposta central não só da campanha de Dilma, mas também de Aécio Neves. As dificuldades a serem enfrentadas no setor econômico pela Presidência, no entanto, podem inviabilizar a consecução de ações mais consistentes na área social. Conciliar os planos sociais e a macroeconomia, portanto, é mais um dos desafios da presidente. Parâmetro de credibilidade do governo, este é um assunto a ser tratado com muito tato pela equipe econômica e social de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo em que precisa equilibrar as contas públicas e aumentar os investimentos, principalmente em infraestrutura, a presidente se compromete a ampliar as políticas sociais, as quais, segundo estudo divulgado em outubro pela Organização das Nações Unidas (ONU), reduziram o percentual de brasileiros na faixa da pobreza de 24,3% em 2001 para 8,4% em 2012, e na de pobreza extrema de 14% para 3,5%. Para o economista Robson Valdez, será difícil ampliar os gastos sociais no contexto de contenção de gastos, já que não ampliá-los já é uma forma de conter as despesas e sinalizar aos beneficiários dos programas governamentais que o que foi contratado será mantido. Ao mesmo tempo, também sinaliza ao mercado que o governo está comprometido com o ajuste econômico e com a manutenção da demanda aquecida. “Acredito que os cortes possam vir na forma de não-realização de novos concursos públicos e contratações em áreas não estratégicas, cargos comissionados, etc. Sem, no entanto, comprometer investimentos em saúde, educação e segurança pública”, explica Robson.

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AMPLIAÇÃO DOS PROGRAMAS SOCIAIS

Foto: Agencia Brasil


Opinião

A tacada segura de Dilma

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campanha presidencial, que as oposições política e midiática teimam em não encerrar, foi plena de fatos e circunstâncias que merecem, no mínimo, um registro. É o caso, por exemplo, do comportamento da grande imprensa que sempre alardeou agir com isenção, ética e responsabilidade profissional. Nessa campanha, televisões, jornais, revistas e portais dos “big five” desmentiram essas premissas e entraram despudoradamente na guerra eleitoral para alijar o PT do poder. Não defenderam apenas os candidatos da oposição; foram além, pregaram abertamente o voto anti-Dilma. Algumas capas de revistas semanais, publicadas principalmente no segundo turno, evidenciaram isso muito bem: “Dilma, uma campanha montada na mentira”; “Campanha de Dilma sob suspeita”; “Agora é hora de mudar”. E a Veja antecipou para a sexta-feira antes do domingo da eleição, sua edição que trazia uma capa onde se lia: “Eles sabiam de tudo”. Em outras palavras, Dilma e Lula estavam por dentro do que acontece na Petrobras. A baixaria campeou solta na campanha, no melhor estilo UFC/MMA. Sem exceção, os partidos invadiram a internet, os horários eleitorais – neles incluídas as inserções de 30 segundos – e, particularmente, as redes sociais que, se em pleitos anteriores priorizaram as mensagens propositivas, neste ano passaram a gerar e a abrigar indecências, calúnias e todo um mar de lama e safadeza, bastante eficaz na conspurcação do processo eleitoral. A troca de acusações, sem respaldo de documentos, caracterizou horários gratuitos e debates, unindo nessa linha de irresponsabilidade todos os candidatos, nanicos e maiúsculos. Dedos em riste, rostos crispados, ira incontida, adjetivos como irresponsável, leviano e o verbo mentir em lugar do tradicional eufemismo “faltar com a verdade” frequentaram as telinhas e as ondas radiofônicas. Era a arte da desconstrução do adversário, da qual Dilma foi a artista maior, mesmo porque a oposição midiática, feroz e persistente, dispensou, em grande parte, Aécio e Marina dessa tarefa. O petrolão tomou o lugar do mensalão, com tamanha intensidade, que levou a Globo a mostrar, por dezenas de vezes, o doleiro Alberto Youssef entrando em uma viatura policial. Puro pretexto para requentar o noticiário, invariavelmente fundamentado nos “depoimentos sigilosos” dos “heróis”delatores Paulo Roberto Falcão e Alberto Youssef.

Um outro destaque da eleição presidencial foi a votação em bloco da região Nordeste. Mais de dois terços dos votos foram dados a Dilma, mesmo no estado de Pernambuco onde a família de Eduardo Campos e Marina Silva apoiaram Aécio. Decisivos para a reeleição da presidenta, os sufrágios dos “mal informados”, segundo FHC, e dos “bovinos” de acordo com Diogo Mainardi, somaram-se às maiorias dilmistas, em Minas e no Rio, e mostraram ao país a força política da região. O Nordeste foi generoso ao reconhecer os programas sociais que os governos petistas vêm, há 12 anos, distribuindo nos seus nove estados, que crescem hoje a taxas maiores que aquelas alcançadas pelos sempre bem aquinhoados sudestinos. Finalmente, uma observação sobre o comportamento dos tão criticados institutos de pesquisas eleitorais. Praticaram um besteirol total, para não dizer um descompromisso com a realidade e um consequente desrespeito ao eleitorado. Fiquemos apenas no segundo turno. Os dois maiores institutos do país, Ibope e Datafolha, divulgaram pesquisas rigorosamente empatadas, mesmo tendo sido realizadas em dias, horários e locais diversos. Outra curiosidade: a Folha de São Paulo publicou, em sua primeira página, e pela primeira vez, pesquisa isolada do concorrente Ibope que, por mera coincidência(?) apontava, é claro, números favoráveis a Aécio. Vale lembrar também que as pesquisas Sensus-Isto é chegaram a colocar uma vantagem de Aécio sobre Dilma de 16 pontos, quando Datafolha e Ibope já mostravam a petista na liderança das intenções de voto. A guerra continua e nela, com o mesmo ímpeto, as oposições política e midiática permanecem. Por sua vez, Dilma parece disposta a topar a parada, com habilidade e um “discurso politicamente correto”. Em um improviso, feito minutos após a divulgação de sua vitória, defendeu o diálogo como instrumento de congraçamento e desenvolvimento do país e assumiu o compromisso de apoiar as investigações e as punições do escândalo Petrobras “até o fim” e “doa a quem doer”. Esta, uma atitude corajosa que, na leitura popular, significa dizer que “quem não deve, não teme”. E, em termos políticos, a assinatura de um cheque em branco às oposições, o que pode, no médio prazo, esvaziar-lhes, no todo ou em parte, o discurso. Uma tacada segura, como se diz no Nordeste.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

A baixaria campeou solta na campanha, no melhor estilo UFC/MMA


Política

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vê motivações legais para esse processo e acredita ter chegado a hora de aceitar o resultado eleitoral. Com a revelação de que ex-diretores e executivos da Petrobras estariam liberando propinas em troca de contratos que envolviam bilhões de dólares, a oposição partiu para a radicalidade e enfrentou a contrarreação do Governo Federal. Em entrevista coletiva, o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reafirmou a determinação de aprofundar as investigações, o que afasta a discussão de um “terceiro turno”. Dois fatos novos surgiram no cami-

Apesar do movimento em apoio ao impeachment de Dilma ter ganhado visibilidade, a sociedade brasileira não acatou o afastamento dela, mesmo com o suposto apoio da grande mídia (Rede Globo, Veja, Estadão, Folha, RBS etc.), que chegou a envolver a Chefe de Estado e o PT diretamente ao caso Petrobras. Além disso, as novas prisões de executivos de empreiteiras envolvidos no caso foram estimuladas pela Lei nº. 12.846, conhecida como Lei Anticorrupção Empresarial, sancionada pela presidente no fim do ano passado e que entrou em vigor em janeiro deste ano. A norma enquadra como corruptor todo aquele que oferecer, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, entre outras ações ilícitas. Na primeira quinzena de novembro, um político experiente ligado ao PMDB comentava nos bastidores sua decepção acerca do caso da Petrobras. Em desabafo, ele afirmava que algumas informações privilegiadas que a Polícia Federal conseguiu obter podem não respingar na Presidência da República.

nho e deixaram a oposição - batizada de golpista -, enfraquecida: a revelação do Ministério Público Federal de que os desvios e pagamentos de propinas foram registrados desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando foi iniciado o processo de privatização da Petrobras, inclusive o projeto de mudança do nome para PETROBRAX. Outro fato que chamou atenção foi a prisão do lobista Fernando Soares, considerado pelo MPF e Polícia Federal o principal operador do suposto esquema junto à empresa, na relação com parlamentares ligados ao PMDB. Foto: Agencia Brasil | Divulgação

Especialistas políticos reconhecem que um dos motivos do descontentamento dos veículos e profissionais da grande mídia com a presidente é a decisão do Governo Dilma de implementar a lei de regulação econômica da mídia, que assegura a liberdade de expressão, mas veta o monopólio da comunicação por poucos grupos empresariais, medidas já adotadas nos Estados Unidos e em alguns países europeus. Outra questão que impulsiona a campanha aberta da grande mídia contra o governo do PT é a larga abertura de propagandas a pequenas e médias empresas, espaço aberto depois do Governo Lula. Até 2012, durante o Governo FHC, toda a verba ficava apenas com 192 empresas de comunicação, com 62% só da Rede Globo. Já com Lula, o número passou dos 5 mil veículos e com Dilma, ultrapassou o marco de 8 mil empresas, antes concentrados apenas no Centro-Sul, mas hoje atingindo todo Brasil.

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Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

das maiores construtoras nacionais. Manifestações isoladas em São Paulo, reunindo pouco mais de 3 mil pessoas, demonstraram que o movimento não recebeu a adesão popular. Houve reação contrária nas redes sociais de sindicatos, entidades liberais e intelectuais. No Congresso Nacional, os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes radicalizaram o discurso, embora Aécio tenha negado qualquer participação no processo de impeachment. Na tribuna, eles defenderam o afastamento da presidente, divergindo, assim, do governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alkmin, que não

O jornal da família Mesquita, o Estadão, foi o primeiro veículo de comunicação que defendeu abertamente o impeachment da presidente Dilma. Um de seus herdeiros, Fernão Lara Mesquita, teria sido flagrado postando um cartaz com dizeres ligando a realidade brasileira com a da Venezuela. A partir do editorial publicado após as eleições, o Estadão assume posição ultradireita contra os governos do Partido dos Trabalhadores, ao defender a queda do governo Dilma, o que vem sendo considerado por setores sociais como um golpe, a exemplo do que aconteceu no século passado durante a Ditadura Militar.

A CAUSA DA IRA DA IMPRENSA

Prisões e efeitos do Lava Jato levam partidos da direita a abraçar processo de impeachment contra Dilma, mas sociedade repudia um terceiro turno

Brasil presenciou logo após o processo eleitoral uma série de fatos que pedem o impeachment da presidente Dilma, produzidos por setores conservadores, ligados a partidos políticos da direita. Supostamente, essas movimentações estariam recebendo o apoio do PSDB, puxado pelo ex-candidato Aécio Neves e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, alinhados com veículos de comunicação da grande mídia. O fato vem à tona depois dos novos escândalos envolvendo a Petrobras, com prisões de executivos de alto escalão e empresários

GOLPISMO NUNCA MAIS

Manifestações em São Paulo-SP

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oposição radicaliza contra governo

ESTADÃO DEFENDE IMPEACHMENT


Capa

“Com a renda em crescimento, o consumo se dinamizou. E o dinamismo do consumo estimulou, em um segundo momento, o investimento. Não se conseguirão entender as mudanças recentes na vida econômica do Nordeste sem examinar esse outro componente”

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Políticas sociais causaram mudanças na vida econômica dos nove estados. Região passou a atrair investimentos privados e liderar, junto com o Norte, o crescimento do crédito no país. Agora, os novos gestores terão que aproveitar momento para consolidar avanços

Foto: Shutterstock | Mapa: BNDES (modificado)

sando de 25% para 45% em poucos anos. Leonardo Guimarães Neto, em estudo recente, mostrou que o Norte e o Nordeste lideraram o crescimento do crédito no país, tanto de pessoa física quanto de pessoa jurídica. As taxas para essas regiões (exceto a região Norte, no caso de pessoa jurídica) são maiores que as taxas médias no Brasil e superiores às observadas para as regiões mais ricas. Isso é outra novidade. Além do crédito ao consumo, merece destaque o comportamento do crédito ao investimento no Nordeste dos anos recentes. E os bancos públicos desempenharam papel importante nesse contexto, merecendo destaque o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e

o BNDES, que expandiram fortemente seus financiamentos à produção. Praticamente todos os estados da região, em especial o Maranhão e Pernambuco, abrigaram investimentos vultosos em grandes empreendimentos produtivos como se vê no Mapa 1. Por fim, cabe destacar a importância dos investimentos na expansão do ensino médio e em especial do ensino superior no Nordeste, onde o percentual de jovens entre 18 a 24 anos matriculados no ensino superior pulou de 6,1% para 15% entre 2000 e 2010 (na média nacional estes números foram de 11,5% para 22,8%). Muitas cidades médias da região se dinamizaram sob o impacto destes investimentos. TERMOELÉTRICA

HIDROELÉTRICA PLANTAS EÓLICAS

REFINARIAS

ESTALEIROS

SIDERÚRGICAS

INDÚSTRIA DE CELULOSE AEROPORTO

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Por Tania Bacelar de Araujo Sócia da CEPLAN

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conjunto de projetos concentrados na ampliação da infraestrutura econômica e social do país. Um destaque é o Minha Casa Minha Vida, que busca enfrentar o elevado déficit habitacional, concentrado nas famílias de mais baixa renda. Em paralelo, a descoberta de petróleo na camada do pré-sal estimulou os investimentos da Petrobras. O principal beneficiário dessas iniciativas foi o setor da construção civil, bom gerador de empregos. A leitura regional desse bloco de investimentos mostra que ele era regionalmente desconcentrador, a longo prazo, como constata estudo feito pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação de Mauro Borges Lemos. No caso da Petrobras, duas políticas da empresa foram alteradas: a de compras e a de expansão de refinarias. A política de compras passou a ser usada para estimular o setor produtivo nacional, com destaque para a aquisição de sondas e navios, o que faz renascer a indústria naval no Sudeste (especialmente no Rio de Janeiro) e no Sul (Rio Grande do Sul) e trouxe estaleiros para vários estados do Nordeste (Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão). No caso das refinarias, a empresa deixou de ampliar as já existentes (concentradas no Sudeste e Sul) e partiu para construir novas unidades, três delas se localizando no Nordeste. Outro instrumento que teve grande expansão foi o crédito. Para compreender sua importância, basta ver a evolução da relação crédito/PIB pas-

INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

MAPA DOS INVESTIMENTOS INDUSTRIAIS E NOVOS SETORES

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Os desafios do Nordeste

trajetória experimentada pelo Brasil na primeira década do século XXI teve impactos regionalmente diferenciados. Políticas que afetaram a renda das famílias, como o Programa Bolsa Família e principalmente o aumento real do salário mínimo, impactaram fortemente o Nordeste (onde 45% dos ocupados recebem até um salário mínimo, bem acima da média brasileira, que é de 26%) do que o Sudeste (onde esse percentual é de apenas 17,6%), segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Entre 2000 e 2010, o Censo Demográfico (IBGE) registrou que o valor do rendimento médio das famílias residentes no Nordeste cresceu 5,6% ao ano, quando a média nacional foi de 4,5%, e no Sudeste essa taxa foi de 3,9%. Isso é uma mudança relevante, posto que no século XX o Sudeste é quem liderava o crescimento da renda no país. Com a renda em crescimento, o consumo se dinamizou. E o dinamismo do consumo estimulou, em um segundo momento, o investimento. Não se conseguirão entender as mudanças recentes na vida econômica do Nordeste sem examinar esse outro componente. Indústrias de alimentos e bebidas, de bens duráveis, por exemplo, buscaram se instalar ou se ampliar para produzir na região, em especial em suas cidades médias. As grandes redes de supermercados e os shopping centers também se multiplicaram, especialmente nesses locais, buscando disputar os novos consumidores. Por seu lado, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) incluiu um


A estratégia dos governos As dificuldades recentes Com a desaceleração da economia nacional nos anos recentes, o Nordeste também foi impactado, mas manteve crescimento acima da média nacional. A queda do ritmo de crescimento do consumo das famílias e das vendas no varejo no entanto foi mais lenta na região. Mas o irregular comportamento do investimento também atingiu o Nordeste. O desafio de retomar o crescimento da economia nacional se apresenta, assim, muito importante para o Nordeste.

Os anos a seguir sinalizam para novos e antigos desafios. No campo específico do desenvolvimento econômico destacam-se três deles: uma vez que estudos recentes elaborados pelo IPEA mostram com clareza que a retomada da iniciativa do Estado foi liderada pelo Governo Federal, que voltou a concentrar a receita pública (especialmente pela via da instituição de tributos não partilhados com outros entes federados). Além disso, renúncias fiscais com base em impostos partilhados impactou negativamente os estados e municípios, mesmo com o Governo Federal criando programas de financiamento de investimentos via bancos públicos. Embora o tema não tenha sido enfatizado nas últimas eleições, rediscutir receitas e atribuições e buscar maior protagonismo nas políticas públicas são desafios dos novos governadores.

O redesenho do pacto federativo,

Gestores pedem a reformulação do pacto federativo, em Brasília

posto que a retomada do crescimento no país passará, certamente, pelo aumento da taxa de investimento. Como o setor público ainda carrega dívida elevada, seu cacife para patrocinar um bloco consistente de investimentos é pequeno. O Governo já decidiu patrocinar um novo modelo de financiamento com base em concessões, PPPs e outros instrumentos de estímulo à presença do setor privado. Mas os primeiros mapas deste novo modelo revelam a preferência por regiões de maior densidade econômica, e portanto de taxas de retorno mais elevadas. O Nordeste já tem na sua base de infraestrutura A ampliação dos investimentos em infraestrutura econômica e social na região,

é outro desafio. Importantes investimentos na indústria de industrial transformação definiram um novo perfil da base industrial do Nordeste e fizeram passar seu peso no total nacional de 8% no final do século XX para 9,3% nos últimos anos. O destaque, nesse caso, vai para Pernambuco, que vinha em um nítido processo de desindustrialização e atraiu um importante bloco de investimentos. Mas, o cenário que se vislumbra à frente é desafiador. Vários segmentos sinalizam para uma reconcentração de investimentos no Sudeste e Sul (Petróleo & Gás e sua cadeia de fornecedores da eletrometalmecânica, automotivo, petroquímico, entre outros). Por sua vez, uma necessária política ativa de promoção da indústria nacional tenderá a enfatizar segmentos produtores de bens de maior valor agregado, que têm perdido muito espaço no mercado interno e externo. Uma das políticas estratégicas será certamente a de promoção da inovação para elevar a produtividade na indústria do país. A montagem das “plataformas do conhecimento”, pelo MCT, já sinaliza nesta direção. Mas lida regionalmente, tal política tenderá a impactar mais fortemente no Sudeste e Sul e em Manaus, onde tais setores se concentram. Os governadores do Nordeste vão precisar estar atentos e exigir o necessário tratamento regional nesta estratégica política. A consolidação da conquista dos anos recentes no âmbito

Foto: Divulgação

econômica uma de suas desvantagens competitivas e não pode deixar que o hiato entre seu padrão e o das regiões de maior peso econômico se alargue. O desafio dos governadores da região é o de se articularem para montar um plano investimentos estratégicos que atenda a todos, evitando disputas fraticidas e arregimentando força política para inserir bem o Nordeste neste novo momento do país. Como se vê, os principais desafios requerem ação articulada regionalmente. Como o cenário não aponta para a retomada de políticas regionais ativas, caberá aos novos governadores criar mecanismos que lhes permitam atuar em conjunto para garantir prioridade ao Nordeste nas políticas nacionais estratégicas para o desenvolvimento econômico da região.

Mobilidade urbana cresce em Natal (RN)


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om luvas de pelica, como quem pede desculpas ao algoz, o PSDB, da esquerda light, pediu (atrasado) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma auditoria no sistema eleitoral que sagrou a vitória do PT nas eleições presidenciais de 2014. A apelação foi protocolada pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador jurídico da campanha de Aécio Neves. O deputado, muito maneiroso, disse ter “confiança na Justiça Eleitoral”, mas alegou que nas redes sociais parte significativa da sociedade brasileira questiona, com propriedade, o processo, a mecânica das apurações e, por consequência, a contagem dos votos – razão para uma auditoria que restitua “a confiança dos eleitores na apuração e na propalada infalibilidade da urna eletrônica”. De fato, nas redes sociais, e também em centenas de sites e blogs, não só se denuncia o vazamento do resultado do 2º turno, mas, principalmente, casos do aparecimento de urnas já listadas com 400 votos em favor de Dilma Rousseff (quando a urna eletrônica recebe, em média, 261 votos), eleitores que não puderam votar por que outros votaram em seu lugar, máquinas que funcionavam sozinhas, contagem de votos feita por 23 funcionários do TSE, em recinto fechado, sem o acesso de fiscais ou a presença da imprensa para testemunhar o desenrolar das apurações . Em suma, coisas que evidenciaram a completa vulnerabilidade do sistema e a provável irregularidade do processo da apuração. (O DataFolha, que presta serviços profissionais ao governo, noticiou que no meio da contagem Aécio Neves aparecia com 8% de votos acima de Dilma, mas, logo depois do somatório semi-secreto, a candidata do PT já vencia com a vantagem de 5%). Como se sabe, a urna eletrônica usada no Brasil não permite a recontagem dos votos, prática essencial para a confiabilidade do processo eleitoral. No

vulnerável sistema adotado na taba, se o candidato for roubado na contagem dos votos, roubado continuará, e sem possibilidade de recontá-los, uma vez que no “nosso” sistema as atas são apagadas depois do anúncio final da apuração. Só para ilustrar: a advogada e analista Maria Aparecida Cortiz, que acompanha o desenvolvimento dos sistemas eleitorais junto ao TSE desde 2002, tornou-se especialista em apontar as inúmeras falhas de segurança do processo de votação e apuração da urna eletrônica tupiniquim. Não é por outro motivo, aliás, que países como Estados Unidos, Japão, França e Alemanha, dominando a informática à perfeição, recusam a urna eletrônica e consagram o sistema artesanal de apuração de votos. Ele é lento, pode falhar, mas possibilita a recontagem dos votos. Em resposta ao pedido do deputado Carlos Sampaio, o doutor João Noronha, corregedor-geral da Justiça Eleitoral nomeado por Dilma Rousseff, como era de se esperar, descaracterizou a denúncia tucana e disse que “faltou seriedade” ao deputado que pediu uma auditoria sobre o resultado das eleições. “Não há erros nem vícios na apuração”, garantiu. Para Noronha, as denúncias de fraude são fofocas das redes sociais, sem autoridade para embasar o questionamento jurídico da apuração. O pedido, segundo o corregedor, apenas “prejudica a imagem eleitoral e democrática do país” - o que soa como um chiste de mau gosto, pois, no mundo civilizado, a começar pela Itália, a imagem do Brasil é mais negra do que asa de graúna. Ninguém questiona mais que Lula e o seu partido de “malfeitos” aparelharam o Estado e a Justiça brasileira. Como se sabe, Dias Toffoli, nomeado por Dilma e que hoje preside o TSE, foi advogado do PT e assessor de José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil de Lula condenado a 7 anos e 11 meses, mas que cumpriu menos de um ano de cadeia.

Iniciativas promissoras Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

A urna eletrônica usada no Brasil não permite a recontagem dos votos, prática essencial para a confiabilidade do processo eleitoral. No vulnerável sistema adotado na taba, se o candidato for roubado na contagem dos votos, roubado continuará

Menores e menos burocráticas, as Startups têm ganhado força no Brasil, atraindo cada vez mais investimentos. Além do retorno financeiro, os empreendedores buscam inclusão social Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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os anos 90 até hoje, muita coisa mudou no cenário econômico mundial. Uma das áreas crescentes da economia atual são as chamadas Startups, empresas novas com pouca receita, futuro incerto e projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras, que se aproveitam de recursos da internet. Quem percebeu isso foi o ex-aviador André Miotto que começou a notar o potencial do segmento enquanto sobrevoava a Califórnia, passando pela incubadora de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo como Google e Microsoft, conhecido como Vale do Silício. Prevendo um futuro promissor, ele deixou a aviação para adentrar no ramo da consultoria empresarial, na qual atua há 12 anos. Em pouco mais de uma década, André entendeu que as transformações econômicas que o Brasil vem passando desde o início deste século formaram um terreno fértil para a proliferação de Startups. “O Brasil, nos últimos 15 anos, teve um crescimento macroeco-

Foto: Divulgação

tt Mio André

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nômico muito grande. E percebo quatro fatores fundamentais nesse processo: o ganho cultural da nova geração; a grande abertura e facilidade de acesso à tecnologia para a população de 15 a 30 anos e o cenário nacional econômico, pois o país está buscando resultados rápidos e as Startups, por precisarem de pouco investimento inicial, zero de burocracia e retorno rápido, se tornam uma excelente possibilidade. Sem falar da necessidade das empresas de agregar valor à massa”, falou.

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Urnas devassáveis

Além desses fatores, Aziz Camali, consultor da DZN, empresa de consultoria em São Paulo, vê outro aspecto neste cenário. Ele acredita que os jovens não têm mais interesse nos empregos “seguros”. “Esse é um conceito que tem sido questionado cada vez mais e em vários aspectos. As pessoas têm procurado um trabalho que dê prazer, e, neste processo, vêm transformando projetos pessoais em negócios. A gente está num momento de ‘borbulhar’”, disse. O mercado tem acreditado nisso. De acordo com a Anjos do Brasil, associação que reúne investidores, entre junho de 2012 a julho de 2013, o investimento-anjo destinado a Startup, cresceu 25% no país, somando 619 milhões de reais. “Investidor-anjo é a pessoa física com capital próprio que quer investir na empresa nova e que percebe que tem grande potencial”, explicou André. O consultor credita parte do sucesso das Startups aos investidores-anjo. “Nos últimos três anos, a mortalidade do segmento caiu 60% após sua fundação. Isso é mérito do crescimento desse investimento”, complementou. Outras responsáveis pela vida longa das iniciativas são as “aceleradoras”, operadoras que surgiram para tentar ajudar as empresas a crescer de maneira mais rápida e alcançar seu break even (quando conseguem pagar suas próprias contas) no menor tempo possível. “Em 2008 e 2009, antes da presença delas, 60% das empresas fechavam logo após a abertura. Ou seja, era um negócio de alto risco. As aceleradoras vêm para auxiliar o processo, porque ajudam a construir e formalizar o empreendimento”, explica. No Nordeste, o segmento também vem ganhando força. “A região deu um salto muito expressivo em tecnologia, cultura, economia e conhecimento. Tudo isso foi extremamente importante para o desenvolvimento do país. E também percebo que a região tem mostrado esse valor através de todas essas Startups de tecnologia, saúde, agronegócio, educação que vem exportando para o Brasil e para o mundo”, destaca André.

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Economia

Opinião


INOVAÇÃO OU TECNOLOGIA?

Facilitando o aprendizado

Quando se fala em Startup é comum fazer uma associação à tecnologia. Entretanto, a palavra-chave que define o que é comum a todas elas é a inovação, fator que acaba sendo atrelado aos lançamentos digitais. “Essa associação é justificada por causa da essência deste tipo de empreendimento, que é lançar um produto com pouco investimento e atingir um grande público. Mas nem todas estão focadas em tecnologia”, disse André.

Assim como a Joy Street, a Startup paraibana Sinapse Virtual também buscou desenvolver uma plataforma que contribuísse para facilitar o aprendizado. O programador e designer gráfico Vinício Veríssimo, juntamente ao neuropediatra Glenny Gurgel começou em 2013 o projeto chamado ‘Sinapse nas Escolas’, uma plataforma que busca avaliar cada uma das habilidades cognitivas (memória, atenção, percepção visual, raciocínio lógico) e as competências pedagógicas básicas em português e matemática, traçando um perfil diagnóstico individualizado. Além disso, proporciona uma tutoria de jogos aplicativos e objetos educacionais indicados para a estimulação das habilidades que se apresentarem deficitárias. “Crianças com dificuldades de aprendizagens acabam não receben-

Aziz Camali

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O carro-chefe da Startup são as Olimpíadas de Jogos Digitais (OJE). “Essa olimpíada rola todo ano em escolas públicas parceiras. No evento, se trabalham as competências da matriz curricular do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas também é realizada no ensino fundamental 2. A gente pensa estrategicamente em tudo que faz. Nada existe à toa”, explicou Diego. Atualmente com 30 funcionários no escritório em Recife, a Joy Street busca levar suas propostas para outros municípios e estados. A OJE já foi realizada em escolas de Sergipe e do Acre, por exemplo, mas a Startup tem dialogado com outros 10 governos, tanto estaduais como municipais. “Embora tenhamos hoje 30 pessoas no escritório, temos mais funcionários espalhados pelo país. Quando realizamos a OJE em outro estado, nós mandamos uma equipe para fazer o acompanhamento do processo”, disse Diego.

Vinício Veríssimo

Na palma da mão

Impacto social A vontade de transformar o âmbito social move alguns dos empreendedores das Startups. Estar no mercado e ser bem sucedido não é o suficiente para pessoas como Diego Garcez, diretor de negócios da Joy Street. “É muito motivador trabalhar em uma empresa que tem uma proposta social”, disse. Ele é um dos oito criadores da empresa pernambucana, lançada em 2010, que busca lançar soluções na área educacional. Composta por profissionais de psicologia, games e design, a Joy Street atua em diversas cidades, buscando maneiras de desencadear diálogos nos ambientes de aprendizagem. “Através de pesquisa de usuário, a Joy percebeu que há uma perda de audiência muito grande das escolas para os games, redes sociais, enfim, para o mundo digital. Então nós buscamos entender o que prende a atenção deles e trazer a atenção de forma espontânea e lúdica, mas voltando para a educação”, disse Diego.

“Crianças com dificuldades de aprendizagens acabam não recebendo as devidas oportunidades e ações que favoreçam o seu aprendizado escolar, a despeito do avanço na compreensão dessas dificuldades por parte das neurociências e da pedagogia moderna”

ez arc Diego G

Pensando em desenvolver uma plataforma que facilitasse a comunicação entre surdos e não-surdos, três jovens alagoanos criaram em 2013 o Hand Talk, um aplicativo que converte dados de texto, som e imagem em libras. Para servir de interlocução nesse processo de conversão, os três criadores do aplicativo, Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz (publicitário, analista de sistemas e arquiteto, respectivamente), elaboraram um personagem chamado Hugo, que interage com o usuário. “Atualmente estamos disponíveis para Android, IOS e Blackberry e já superamos a marca de 210 mil downloads. O mais interessante é que como o aplicativo da Hand Talk mesmo sendo de um nicho específico tem uma média de usuários ativos mensais surpreendente. Hoje, Foto: Divulgação

temos mais de 40 mil usuários ativos, que utilizam a ferramenta constantemente. Em outubro, o aplicativo foi aberto mais de um milhão de vezes”, disse Carlos Wanderlan. Mas, não é apenas pelo número de downloads que os rapazes da Hand Talk perceberam o alcance do aplicativo. No mesmo ano que a plataforma foi lançada, eles levaram o prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) na categoria de inclusão social. “Essa premiação veio consagrar ainda mais a nossa trajetória e abrir portas com diversos parceiros e clientes. Hoje vários dos contatos realizados naquele momento já se tornaram realidade. E muitos também buscam levar a Hand Talk para seus respectivos países com nossa plataforma para a língua de sinais nativa deles”, falou Carlos.

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“Como as pessoas estão buscando transformar seus projetos pessoais em negócios, elas buscam algo que realmente tenha um impacto no seu meio, que possa ser transformador”

do as devidas oportunidades e ações que favoreçam o seu aprendizado escolar, a despeito do avanço na compreensão dessas dificuldades por parte das neurociências e da pedagogia moderna”, explicou Vinício sobre a motivação para criar a plataforma. “E essa realidade é mais cruel quando se trata da população de baixa renda que tem acesso bastante limitado às práticas terapêuticas adequadas”, complementou. Atualmente aplicada em duas escolas, uma em Santa Catarina e outra no Rio de Janeiro, a Sinapse Virtual já busca desenvolver outras plataformas. “Em breve iniciaremos o desenvolvimento de uma plataforma de estimulação cognitiva voltada para a terceira idade, ajudando a prevenir quadro de demência como o Alzheimer”, antecipou Vinício.

Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz

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ci Ma Orestes

É o caso da Multiorto, localizada em Pernambuco. Criada pelo dentista Orestes Maciel há 10 anos, a Startup oferece serviços de ortodontia com um baixo custo. “Assim que eu me formei, percebi que havia uma carência na área. O Brasil tem alto índice de pessoas que nunca foram ao dentista, cerca de 10% da população. E apenas 40% das pessoas foram ao dentista nos últimos 12 meses. Quando eu estava na graduação, percebi que havia um pessoal que não tinha acesso ao atendimento dentário, tanto por ser longe, como por ser caro”, disse Orestes. A importância da empresa para a sociedade é um dos destaques no mercado de Startups. “Percebo que, como as pessoas estão buscando transformar seus projetos pessoais em negócios, elas buscam algo que realmente tenha um impacto no seu meio, que possa ser transformador”, disse Aziz Camali.


Economia

ALTERNATIVA PARA ESGOTOS

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PPP do Metrô de Salvador e programa de saneamento da Compesa estão entre os 15 projetos de infraestrutura mais bem avaliados por levantamento

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em infraestrutura não há crescimento, porém, o desenvolvimento do país ainda esbarra em gargalos que impedem sua expansão. Esse é um dos maiores obstáculos da economia no Nordeste. Segundo levantamento da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), só na área de infraestrutura para transportes a região precisa de investimentos de cerca de R$ 70 bilhões, direcionados a 196 projetos. Para se ter uma noção, é mais barato transportar grãos para a China que trazer milho e soja do Sul para a os noves estados. A situação, no entanto, está mudando. Recentemente, dois projetos nordestinos ganharam destaque no ranking dos 15 projetos mais importantes do Brasil, apontados pela KPMG (rede global de firmas independentes) e a Revista Exame: o metrô de Salvador e o programa de saneamento básico da Região Metropolitana de Recife. Impulsionadas pelos desafios da rápida urbanização e tendo como base o estudo “Futuro do Estado 2030”, que aponta as nove megatendências que vão impactar os programas governa-

mentais, o ranking teve como função dar visibilidade aos bons projetos de infraestrutura. “O objetivo do levantamento foi exemplificar que tipo de projetos o Brasil precisa focar para que se tenha o melhor benefício sob o ponto de vista da qualidade de vida do indivíduo, da inclusão do país na economia global e sob o ponto de vista do impacto no ambiente físico, como questões climáticas e de urbanização”, explica o sócio da KPMG e líder para Governo e Infraestrutura, Mauricio Endo. Foram analisados 1.566 projetos concluídos ou em andamento no país, divididos nos segmentos de energia; petróleo e gás; transporte; saneamento; telecom; infraestrutura social; e mobilidade urbana. Os projetos foram classificados de acordo com os critérios das megatendências apontadas no “Futuro do Estado 2030”, que são: mudanças demográficas; ascensão das classes sociais; inclusão tecnológica; economias interligadas; dívida pública; alterações no poder econômico das nações; mudanças climáticas; escassez de recursos; e urbanização.

A Parceria Pública Privada de Saneamento da Região Metropolitana do Recife, elaborado pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), ficou na segunda colocação do ranking. Outra iniciativa que também ganhou destaque foi a PPP do Metrô de Salvador, que alcançou a 12 ª posição. De acordo com Mauricio Endo, os projetos foram selecionados por terem demonstrado relevância em vários segmentos, como benefícios econômicos, sociais e até sustentáveis. “São projetos que contribuem para atender os desafios do futuro do Brasil”, destaca. O representante da KPMG explica que o país ainda ocupa a 114ª posição entre 148 países em termos de qualidade de infraestrutura, apesar de ter o sétimo maior PIB mundial, de acordo com levantamento de competitividade do World Economic Forum (WEF). “Esses 15 projetos foram selecionados, pois podem ajudar o país a melhorar no ranking do WEF, além de servir como modelo para ajudar a enfrentar os desafios das nove megatendências”, enfatiza Endo. Foto: Ascom Bahia | KPMG

Cidade GANHA SANEAMENTO Nos primeiros 14 meses do projeto de saneamento da Compesa já foram investidos mais de R$ 148 milhões, realizadas 1.128 obras de recuperação de redes e 1.498 quilômetros de tubulações foram limpas e desobstruídas. Nesse período, já foi concluída a implantação de novas redes de coleta em áreas como Pau Amarelo, Nossa Senhora do Ó e parte de Recife. O total de investimentos previstos é de R$ 4,5 bilhões. Desse total, R$ 3,5 bilhões serão investidos pelo parceiro privado e R$ 1 bilhão do Poder Público. “O Programa Cidade Saneada é um marco na história do saneamento do Brasil, pois construiu uma solução integrada que abrangerá toda uma Região Metropolitana que deverá ser a primeira no país a alcançar a universalização dos serviços, servindo como referência para as demais áreas altamente adensa-

das da nação”, comenta Ricardo. Para ele, o diferencial desse programa é o desafio de fazer num curto espaço de tempo o que não foi feito em muitas décadas. “Além da ampliação dos serviços de esgotamento sanitário, o programa objetiva a recuperação e manutenção de todos os sistemas existentes e utiliza indicadores de qualidade para monitorar o serviço prestado”, destaca. Laurita Xavier conta que as obras de saneamento básico já começaram na Rua Zefirino Pinho, no bairro Imbiribeira, local onde vive há mais de 30 anos, mas os moradores da localidade ainda aguardam a finalização. “Eles quebraram as ruas, colocaram a tubulação, mas ainda não terminaram de fazer a ligação das casas para a tubulação da rua”, conta ela afirmando que há mais de um ano as ações foram iniciadas.

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Mauricio Endo

explica Ricardo Barretto, diretor de novos negócios da Compesa. Ricardo conta que o objetivo do programa é elevar o índice de cobertura de esgotamento sanitário que, atualmente, é de 30% na Região Metropolitana do Recife, com tratamento de 100% do esgoto coletado, trazendo uma referência de solução para outras regiões do país com situações semelhantes. “Apenas 80% dos estados brasileiros possuem cobertura de esgoto abaixo de 40%”, afirma. O programa também tem como objetivo a recuperação dos sistemas já existentes no prazo máximo de dois anos, adequando-os à legislação ambiental vigente no prazo máximo de cinco anos e 12 anos para o alcance da cobertura de 90% dos serviços de esgotamento sanitário, contados a partir do início da operação. O contrato tem uma vigência de 35 anos e após esse prazo, no ano de 2048, a intenção é que toda estrutura seja devolvida à Compesa.

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Projetos ganham destaque

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1991 apenas 33,3% dos domicílios do Recife estavam ligados à rede geral de esgotos. Em 2000, o percentual aumentou para 42%. Alguns anos depois, a PPP de Saneamento da Região Metropolitana do Recife surgiu como uma alternativa adotada pelo Governo de Pernambuco para aumentar a cobertura de esgotamento sanitário e melhorar a qualidade de vida da população. “Em julho de 2013, a Compesa e a Odebrecht Ambiental, vencedora do certame licitatório, iniciaram o Programa Cidade Saneada, que abrange as 14 cidades da Região Metropolitana do Recife e a cidade de Goiana. Em 12 anos, todos esses municípios atingirão a cobertura de 90% de atendimento de esgotamento sanitário, beneficiando em torno de 3,7 milhões de pessoas. Ao final do prazo contratual de 35 anos, espera-se beneficiar mais de 4,8 milhões de pessoas com o esgotamento sanitário”,


avanço para o trânsito

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Retorno positivo Segundo Copello, a previsão de entrega do metrô é para o ano de 2017, e, apesar de estar apenas funcionando parcialmente (com horário de operação das 8h às 18h), o acesso ao metrô já atingiu um milhão e meio de usuários. Ele conta também que o trânsito na cidade estava caótico, e por isso o feedback da população está sendo positivo. “Salvador é a terceira capital do país em termos de população e a situação de trânsito na capital da Bahia e nos municípios vizinhos já estava em um nível assustador. O trabalhador estava sendo submetido a uma carga de tempo muito grande no deslocamento, e o projeto do metrô veio com o objetivo de melhorar essa situação”. Nara Oliveira, moradora de Salvador, conta que usa diariamente o transporte público da cidade e que a mobilidade urbana melhorou depois da implantação do novo veículo. “Achei o metrô em Salvador um presente de Deus para a população. Por um longo tempo achei que o seria um imbróglio em nossas

vidas, mas não é. Agora é a nossa realidade. Está testado e aprovado. É de primeira linha e não tem ressalva alguma. Lógico que muitos locais na cidade ainda têm o que melhorar, mas para o trânsito caótico que Salvador vinha enfrentando, já ajudou bastante. E quando a segunda etapa estiver concluída perceberemos mais ainda o impacto positivo”, diz. O edital na modalidade de PPP prevê um investimento total de R$ 3,680 bilhões, em que o Governo Federal deverá participar com R$ 1,283 bilhões, o Governo da Bahia com R$ 1 bilhão e a empresa vencedora da licitação ficará com a diferença. Após a conclusão do metrô e a sua entrada em operação, o estado ainda fará, nos 30 anos de concessão, um aporte financeiro anual de R$ 143 milhões, para garantir a taxa de 8% de retorno sobre o investimento privado, remunerar a operação do sistema (energia, manutenção, etc) e subsidiar o valor da tarifa a ser cobrado dos usuários.

PROJETOS 1 Concessão Aeroporto Internacional de Viracopos

Em 12 anos, todos os municípios da RMR e Goiana terão cobertura de 90% de atendimento de esgotamento sanitário. Isso foi possível a partir do Programa Cidade Saneada, da Compesa

2 PPP Região Metropolitana do Recife (COMPESA) 3 PPP Linha 6 do Metrô de São Paulo 4 PPP Tratamento e Abastecimento de Água São Lourenço (SABESP)

Gargalos e desafios

Metrô de Salvador tem previsão para 2017

Atualmente, o Brasil investe R$ 73 bilhões por ano em infraestrutura. De acordo com levantamento da CNI, a necessidade para superar os gargalos no setor pede um investimento mínimo de 5% do PIB, um valor que somaria R$ 175 bilhões por ano. Quem também defende maior atenção na área é Mauricio Endo, da KPMG. Segundo ele, o incentivo a projetos vem crescendo nos últimos anos, principalmente com a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas a atenção precisa ir dos 2,5% do PIB aplicados em infraestrutura. “Precisamos chegar a um patamar de 5%, ou seja, investir o dobro do quem tem sido investido, mas sem dúvidas estamos numa crescente, em um processo de recuperação de investimentos em infraestrutura necessária para o país”, afirma. Ele aponta que o ideal utilizar vários outros mecanismos de Foto: Ascom Bahia | Compesa

investimentos, como participação de iniciativa privada, ou PPP, por exemplo. “Para que se consiga fazer mais projetos de caráter social, focando na educação e na saúde também, que é algo que está bastante precário ainda”, completa. Mauricio Endo destaca ainda a importância de melhores planejamentos nos projetos futuros. “A maior dificuldade é a falta de planejamento de infraestrutura de longo prazo. O país ficou muito tempo sem investir na área e também sem planejar, então é preciso criar um plano de infraestrutura nacional, interligado com os planos estaduais e municipais, de forma integrada com os entes federativos e com os vários setores para que os projetos sejam priorizados e para que sejam investidos em uma sequência lógica, que dê o melhor retorno social econômico e financeiro para o país”, assegura.

5 Concessão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e respectiva linha de transmissão 6 PPP Habitação de Interesse Social em São Paulo 7 Ferrovia Norte-Sul 8 Smart Grid Light 9 Plano Nacional de Melhoria da Qualidade - Plano de Investimentos das Operadoras de Serviço Móvel Pessoal 2012-2014 (TIM, Vivo, Claro e Oi) 10 Ferroanel São Paulo – Tramo Norte 11 Campo de Libra (Pré-Sal) 12 PPP Metrô de Salvador 13 Concessões da Rodovia BR-163

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metrô e conclusão das obras da linha 1, interligando os municípios com extensão total de cerca de 36 km. O prazo previsto para a concessão é de 30 anos, entre obras e operação do sistema. De acordo com o presidente da Companhia de Transportes do Estado da Bahia, José Eduardo Ribeiro Copello, a PPP já colocou em operação os 6 quilômetros e acrescentou mais um e meio com mais uma estação. “As obras estão seguindo num ritmo acelerado”, conta Copello, acrescentando que a parceria é o grande diferencial desse projeto, já que as obras foram iniciadas em 1999 e ainda não tinham entrado em operação. Após a retomada do projeto, em 2013, com a Companhia de Participações em Concessões (CPC) na licitação do programa, já foram concluídas várias etapas das linhas.

14 Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós 15 29 Sondas de Perfuração Marítima em Águas Profundas (PAC)

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O sócio da KPMG, Mauricio Endo, explica que o projeto do metrô de Salvador entrou no ranking por apresentar uma proposta de solução para o trânsito da capital baiana e das cidades em seu entorno. “Como toda grande metrópole, o problema de mobilidade urbana é muito grave, e em Salvador não é diferente. Esse projeto vai realmente trazer o ‘desafogamento’ das vias urbanas. Vai retirar milhares de carros das ruas, melhorando não só a condição do tráfego, mas também a redução de emissão de poluentes, impactando na qualidade do ar”, explica Mauricio. O projeto tem como objetivo a implantação e operação do Sistema Metroviário em Salvador e na cidade vizinha Lauro de Freitas, por meio de concessão patrocinada. As obras abrangem a construção da linha 2 do


Economia

Nordeste deve menos

Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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que comprar com o primeiro salário? Antes mesmo de recebê-lo, muitos jovens já fazem a si mesmos essa pergunta e planejam o destino dos primeiros frutos do seu trabalho. O ímpeto do consumo, quando não controlado, contudo, pode levar a um ciclo de endividamento difícil de ser interrompido. Maria Alice Venâncio (22) passou este ano em um concurso público. Antes mesmo de assumir o emprego, a estudante comprou uma calça jeans que, segundo ela, ainda não tinha condições de pagar. Ela já passou seis meses com o nome incluso na relação de inadimplentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e hoje se policia para não passar pela mesma situação. “A sensação de receber aquela carta de cobrança foi horrível. Tive que pedir socorro a uma tia minha, que me ajudou a quitar a dívida”, conta. A estudante conseguiu sair da lista que, segundo o SPC Brasil e

a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), só cresce no país. Um estudo do Serasa Experian, que procurou saber qual o nível de inadimplência no Brasil, concluiu que são os jovens entre 25 e 30 anos, especialmente os da periferia, aqueles que mais têm dívidas não pagas. O cenário é o mesmo em todo país. Segundo o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, isso acontece por três motivos, a facilidade de crédito que os jovens encontram, o imediatismo e a falta de educação financeira. “Hoje, qualquer um tem acesso a um cartão de crédito oferecido pelo banco. Essa facilidade acaba induzindo o imediatismo do jovem, que vê um óculos, uma bermuda bacana no shopping, vai e compra, mesmo sem poder”, argumenta. Executiva de vendas, Lorette Salgado (25) concorda que a falta de educação financeira pode ser muito

prejudicial para um jovem que inicia sua trajetória no mercado de trabalho. Ela conta que começou a trabalhar muito cedo, mas só com o tempo passou a ter consciência financeira. “Trabalhei como vendedora em uma loja de confecção feminina e sempre fui bem consumista. Na época era bem tentador ter um guarda-roupa a sua disposição”, confessa. Lorette diz que aprendeu a controlar os gastos, embora ainda não consiga fazer planejamentos a longo prazo. Ainda assim, ela teme se endividar. “Uma dica que eu dou é não gastar além do que você ganha. Não faço planilhas e afins, mas acompanho meus gastos toda semana pela internet e tenho tudo montado na minha cabeça, de quanto posso gastar com gasolina, saídas para restaurante etc. Morro de medo de sujar meu nome e futuramente isso me impedir de fazer investimentos maiores, como compra de imóveis”, explica.

Maria Alice

“A sensação de receber aquela carta de cobrança foi horrível. Tive que pedir socorro a uma tia minha, que me ajudou a quitar a dívida”

Foto: Manoel Pires/ Arquivo pessoal

Lorette Salgado

que leva em consideração as informações disponibilizadas pelas empresas concedentes de crédito à Serasa, com base nos municípios com população superior a mil habitantes. Foram avaliadas dívidas atrasadas há mais de 90 dias e com valores acima de R$ 200,00. O economista Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), acredita que o grande diferencial do Nordeste, que resultou em índices de inadimplência menores que os do país, é o desenvolvimento econômico que a região tem vivenciado. “O crescimento do Brasil está em processo recessivo, mas quando a gente segmenta por região, o Nordeste vem mantendo o nível de emprego e renda e isso acaba contribuindo para uma inadimplência menor. Eu diria que esse é o grande motivo, além, claro, de os bancos oferecerem hoje maior facilidade de crédito”, comenta o economista. Ele alerta, no entanto, que o quadro não deve permanecer assim por muito tempo, já que a inflação se agrava e os índices econômicos do país afetarão todas as regiões. De acordo com Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, a região Sudeste é quem detém a maior fatia de inadimplentes no país: 40,36%. Em seguida surgem as regiões Nordeste (24,76%), Sul (14,38%), Norte (8,49%) e Centro-Oeste (8,20%) no ranking.

Avalie cuidadosamente sua renda mensal e quanto já está comprometido com despesas que não podem ser cortadas ou reduzidas. O objetivo é descobrir o valor disponível mensalmente para o pagamento das dívidas.

Acesse o Limpa Nome Online (www. serasaconsumidor.com.br/limpa-nomeonline) e verifique quantas pendências financeiras existem – estudos da Serasa Experian indicam que cada consumidor inadimplente possui, em média, quatro dívidas.

Eleja as prioridades e renegocie suas dívidas. Lembre-se de que o total das prestações não deve ultrapassar o valor disponível de sua renda. Estabeleça prioridades usando como critério as dívidas com juros mais elevados. NOVEMBRO / 2014

Inexperiência e impulsividade são principais causas para a inclusão desse grupo na lista do SPC e Serasa

Como limpar o nome?

Controle seus gastos. Enquanto estiver pagando as dívidas negociadas, controle seus gastos e, se possível, tente reduzir despesas.

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Jovens lideram inadimplências

De acordo com o indicador regional de inadimplência do consumidor calculado pelo SPC Brasil e CNDL duas entidades no mês de setembro, cresceu o número de dívidas em todas as regiões brasileiras. O Nordeste, no entanto, apresentou crescimentos menores – de 4,93% - se comparado à média nacional (5,07%). Na comparação com setembro do ano passado, os setores que apresentaram variações mais acentuadas de dívidas em atraso no Nordeste foram serviços de comunicação, como telefonia, internet e TV a cabo, com crescimento de 11,80%. Segundo levantamento do Serasa Experian, o Nordeste também teve um saldo positivo. A região apresenta o segundo menor índice de inadimplência do país (23,6%), atrás apenas do Sul, que concentra 24,5%. Esses dados são apresentados no Mapa da Inadimplência,


apresenta

Os benefícios da gasolina Petrobras GRID

1

Maior durabilidade do motor baixa formação/menor acúmulo de resíduos

2

Uma gasolina de confiança

Manutenções mais espaçadas

Você sabia?

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em constante movimento e contato. Com a redução do atrito entre os componentes internos do automóvel, como anéis de segmento, pistões e cilindros, há um maior aproveitamento da energia mecânica do veículo, o que resulta em respostas mais rápidas nas acelerações e em retomadas de velocidade. Outra função da gasolina Petrobras GRID é minimizar o acúmulo de resíduos no motor do carro. O combustível contém baixa formação de depósitos em válvulas, bicos injetores e na câmara de combustão, garantindo uma vida útil mais longa do motor e do lubrificante. A quantidade de aditivos utilizados e a tecnologia das substâncias incorporadas ao produto foram desenvolvidas especificamente para atuar em conjunto com a gasolina brasileira, que contém de 18 a 25% de etanol.

3

reduz a emissão de gases poluentes apresenta baixo teor de enxofre

4

melhor desempenho

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A

tem melhor conservação, o que aumenta os intervalos de manutenção e regulagem. Os efeitos de um combustível de qualidade também podem ser percebidos no desempenho do automóvel. Em geral, quando se usa uma gasolina adulterada ou de má qualidade o motor do carro fica suscetível a falhas, com dificuldade na partida e consumo excessivo. Por isso, a qualidade do produto e o custo benefício devem ser considerados na hora de abastecer. Desenvolvida para melhorar o desempenho do veículo, a Gasolina Petrobras GRID foi criada para substituir a Gasolina Supra. Além das substâncias detergentes e dispersantes contidas em sua fórmula, o líquido, de cor esverdeada, incorpora o aditivo modificador de atrito, que ajuda a minimizar os danos ocasionados nas peças

A gasolina é um dos principais produtos do refino do petróleo e a combustão dela é que faz o motor do automóvel se movimentar, o que causa a liberação de gases poluentes, como o enxofre, por exemplo. Quanto menor for o acúmulo de resíduos no motor, menos gases poluentes serão emitidos. A gasolina Petrobras GRID reduz em até 94% os índices de gases prejudiciais ao meio ambiente, como o óxido de enxofre, atendendo aos limites estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para veículos leves de Programa de Controle das Emissões da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve).

respostas mais rápidas nas acelerações

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Combustíveis com aditivos detergentes e dispersantes ajudam na manutenção de veículos e aumentam vida útil do motor qualidade de um combustível é essencial para manter a vida útil e o bom estado do motor. A escolha errada pode acarretar em prejuízos, como problemas mecânicos ou consumo excessivo, além de menor aproveitamento da potência do veículo. Por isso, produtos que proporcionam a conservação dos motores, como a gasolina aditivada, por exemplo, vêm chamando a atenção do consumidor. Com a soma de substâncias detergentes e dispersantes, ela ajuda a manter limpo o sistema de alimentação do combustível. O acúmulo de resíduos no motor pode prejudicar a eficiência do veículo a longo prazo, ocasionando um processo de oxidação das peças. Com a limpeza proporcionada por uma gasolina aditivada, o interior do motor

menor custo de manutenção

Foto: iStock/Banco de Imagens Petrobras


Geral

Depois da conquista do direito ao voto, as mulheres vêm alcançando maior espaço na política e no mercado de trabalho, mas ainda enfrentam barreiras do conservadorismo. Recentemente, o Brasil caiu nove posições no ranking mundial de igualdade de gênero

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Alzira Soriano se candidatou ao cargo de prefeita em Lages (RN), em 1928, cinco anos antes do sufrágio feminino ser implementado no país. (Livro “Século XX: A mulher conquista o Brasil”)

no combate ao machismo. “Mesmo que reconheçamos as campanhas de prevenção ao câncer de mama e a Lei Maria da Penha, outras causas de morte das mulheres, como a questão do aborto, ainda são observadas pelo prisma religioso e não como deveria ser, uma questão de saúde pública. Nesse caso e em outros, a força do machismo ainda se impõe”, declara. A ex-vereadora Sandra Marrocos conta que enfrentou diversos preconceitos durante seu trajeto político, principalmente quando chegou à Câmara Municipal de João Pessoa. Hoje, à frente da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac), também na capital pessoense, ela assegura que as mulheres carregam um fardo simbólico. “Somos referências das bruxas que foram queimadas, as mulheres que foram acusadas de bruxarias porque ousaram desafiar naquele tempo histórico; das mulheres que foram para as ruas, que lutaram pelo direito de votar. A gente tem 80 anos de condição de voto, isso é muito pouco”.

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Herança conservadora

manteve apenas nas áreas de educação e saúde, em que o Brasil obteve, respectivamente, as notas de 1 e 0,98 (quanto mais perto de 1, maior a equidade e o valor zerado significa desigualdade total). Rosana explica que os índices positivos nesses aspectos mostram que as mulheres vêm se cuidando profissionalmente e estão também tendo mais sucesso. “Aumentou muito a faixa etária média dos casamentos e isso faz com que a mulher tenha tempo de se capacitar, de se planejar”, afirma. Porém, o que chamou atenção no levantamento foi a perda que o Brasil obteve na participação feminina na economia e na política. No ranking político, o país conseguiu a 74ª posição e alcançou o índice de 0,148. O valor é maior que o obtido no último levantamento (0,144) em 2006, mas a evolução ficou aquém do crescimento de outros países, o que interferiu na sua alavancada na lista. O relatório apontou também uma “ligeira queda na desigualdade salarial e renda média estimada” para as brasileiras, colocando o país na 81ª posição da lista nessa área. Em entrevista à Revista NORDESTE, a ex-candidata à Presidência da República, Luciana Genro (PSOL), afirma que os índices são reflexos negativos do conservadorismo da sociedade. “O machismo é um componente que constitui a sociedade tal qual ela é, carregada de exploração e opressão. Nosso país carrega esses traços desde a colonização, o papel do homem no comando da família, das instituições, da polícia, da política. Essa posição de domínio do homem infelizmente se traduz em violência contra a mulher, ainda física e também simbólica”, comenta Luciana. Iniciada na vida política desde os 17 anos, ainda no movimento estudantil, ela pontua que o Brasil está muito atrasado

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O

s primeiros passos femininos rumo ao caminho da conquista de direitos foram dados em 1893, na Nova Zelândia, guiados por Kate Sheppard, personagem de maior destaque na luta pelo sufrágio das mulheres. No Brasil, a participação feminina começou um pouco mais tarde, em 1928, quando Alzira Soriano se candidatadou à Prefeitura de Lages, no Rio Grande do Norte, isso antes do sufrágio das mulheres ser assegurado por lei. Desde então, a evolução do gênero em espaços políticos e sociais têm sido gradativa no país. Em 1932, o direito era resguardado apenas a mulheres casadas com o aval do marido ou viúvas. Já as solteiras podiam votar caso tivessem renda própria, além de também poderem se eleger. Porém, a garantia da cidadania só foi realmente concedida às mulheres com a aprovação do Código Eleitoral, em 1934, instituído no governo Vargas. A busca pelos direitos femininos, no entanto, continua, e essa democracia jovem ainda reflete heranças do conservadorismo. “A sociedade ainda vê como finalidade principal da mulher a maternidade e o casamento, isso é cultural e é muito difícil de desconstruir”, diz Rosana Schwart, socióloga, historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, comentando a queda de nove posições do Brasil no ranking de igualdade de gênero. O levantamento, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, mostrou que este ano o país está na 71ª colocação da lista, quando em 2013 apresentava a 62ª posição, entre 142 países. O relatório levou em consideração as diferenças entre homens e mulheres em vários setores da sociedade como saúde, educação, economia e indicadores políticos. A igualdade entre os gêneros se

Foto: Divulgação


BRASIL

EMPODERAMENTO POLÍTICO PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA

EDUCAÇÃO

CAPACITAÇÃO POLÍTICA

SAÚDE E SOBREVIVÊNCIA

Nota

Nota

Nota

Nota

0,694

1

0,148

1

Posição

Posição

Posição

Posição

81ª

74ª

POR MAIS PARTICIPAÇÃO

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PODER FEMININO A socióloga Rosana Schwart acredita que quanto mais mulheres nos poderes executivos e legislativos, mais chance há de se levantar assuntos considerados polêmicos. “Eu acredito que, aumentando o número de mulheres na política, aumenta as chances de discutir alguns temas tabus. As mulheres estão mais abertas para discutir outras sexualidades. Elas tratam a homossexualidade, por exemplo, com mais facilidade porque não barram no machismo. Como já foram discriminadas nesse sistema, tendem a olhar com mais cuidado para as minorias, para quem sofre ou sofreu opressão”. Luciana Genro, no entanto, que participou ativamente das últimas eleições, chegando a ter mais de 1

milhão de votos, aponta que a participação feminina ainda é baixa, principalmente nos cargos eletivos. Ela afirma também que é difícil ser mulher e fazer política. “São poucas mulheres que conseguem deixar marido e família em casa para ir a uma reunião à noite ou para passar o final de semana em seminários e congressos políticos. A política é um ambiente masculino e machista, que trata de descaracterizar as mulheres, em especial as com posições firmes. É normal que se façam comentários de uma mulher na política sobre a sua beleza, cabelo, se usa batom ou não, definem as mais combativas como loucas ou histéricas, muitos homens tratam de estigmatizar a presença das

mulheres nesse espaço. Vencer essas barreiras é um desafio a ser conquistado. A auto-organização é fundamental nesse aspecto”, declara. Também atuante política, e secretária geral do PSB, Sandra Marrocos conta que sentia o escárnio quando defendia suas posições de maneira firme na Câmara. “Fora o preconceito de achar que você não está pronta para fazer o embate quando é necessário. Eu tenho uma posição muito forte quando faço uma defesa. E o que é que dizem? ‘Ela está destemperada ou ela é louca’, querendo desqualificar o discurso da mulher. O homem quando faz isso é forte, a mulher é louca. Isso é o pior tipo de preconceito que existe”, desabafa.

Sandra Marrocos

“Quando você percebe a quantidade de participantes, a maioria são mulheres, elas fazem intervenção, debatem.”

Sandra Marrocos afirma que, apesar do preconceito, são as mulheres que mais participam de debates que discutem políticas públicas implementados pela democracia representativa, como o Orçamento Democrático, por exemplo. “Quando você percebe a quantidade de participantes, a maioria são mulheres, elas fazem intervenção, debatem. Nos fóruns de representação, até que tem um número considerável. Quando você vai para os conselhos, a participação das mulheres já fica bem reduzida. Já os partidos políticos têm um cenário muito ruim”. Por isso, uma das lutas do movimento Marcha Mundial das Mulheres é a defesa por mais espaços no poder, considerado um ponto de partida essencial para a melhoria das políticas públicas de gênero. “Consideramos como luta central para o próximo período a mudança do sistema político. Defendemos realização de um plebiscito oficial da Constituinte como forma de iniciarmos um processo de reforma política, sem a qual não conseguiremos enfrentar as desigualdades

da participação de mulheres, sem qual não conseguiremos quebrar essa ‘desconfiança’ do senso comum de que política não é coisa para as mulheres”, afirma Elaine Bezerra, militante do Comitê Campinas da Marcha Mundial das Mulheres. O movimento luta pela emancipação do gênero contra todas as formas de violência. “A Marcha é composta por mulheres e grupos que se identificam com o feminismo que construímos. Estamos presentes em mais de 100 países e em todas as regiões do Brasil”, explica Elaine. A ativista conta também que a organização teve, recentemente, participação ativa no julgamento do caso do estupro coletivo de Queimadas (em que todos os envolvidos foram julgados e condenados, em especial, o mentor do crime); o processo contra a banda New Hit que estuprou duas fãs e o veto do projeto do vagão rosa em São Paulo que, segundo ela, “não resolvia o problema do assédio que as mulheres sofrem nos transportes públicos, apenas contribuía para naturalizar e ‘guetizar’ as mulheres”.

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“O machismo é um componente que constitui a sociedade tal qual ela é, carregada de exploração e opressão.”

no patamar das discussões políticas, mostrando que é capaz”, declara. Ter uma mulher como representante de uma federação é significativo, porém, analisando o quadro de governadores eleitos neste ano, a situação mostra que os homens ainda lideram, consideravelmente, o espaço político do Brasil. De todos os estados, apenas uma mulher foi eleita governadora, em Roraima. Com 54,85% dos votos, Suely Campos (PP) assumiu a candidatura depois da impugnação do seu marido, Neudo Campos. Rosana explica que os resultados das eleições são reflexos do contexto social atual e que a inclusão das mulheres na política ainda precisa de impulsos como cotas e apadrinhamento, por exemplo. “Muitas vezes as mulheres entravam por causa das cotas, apenas para preencher as vagas. Muitas outras entravam porque eram parentes ou esposas de políticos que já estavam no poder, ou que já tinham uma carreira na política”, explica.

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Luciana Genro

Os espaços políticos do Brasil têm ganhado maior participação feminina, chegando até mesmo a eleger a primeira presidente da República mulher: Dilma Rousseff. A socióloga Rosana Schwart acredita que a eleição dela serviu como um passo importante para a efetivação da imagem da mulher nas instâncias de poder. Além disso, Rosana mostra como o cenário das últimas eleições foi significativo para a representação feminina na política. “Nesta eleição, nós tivemos três grandes mulheres disputando, que tiveram uma trajetória política importante. Uma mulher de esquerda, com uma luta muita forte, que é a Luciana Genro, que mesmo tendo seu pai político, teve uma história independente disso. A Marina, que criou todo um objetivo e caminhou para alcançar esse objetivo. E a Dilma, que é militante, sofreu tortura, repressão e continuou crescendo


PAÍSES COM MAIOR

IGUALDADE:

3 5

2 Noruega

4

Nicarágua

Ruanda

8 9

Suécia

Dinamarca

6 7

Finlândia

“Obviamente precisamos avançar em políticas para as mulheres que enfrentem a situação de desigualdade vivenciada por nós. Contudo, tivemos muitos avanços no último período desde a criação da Secretaria de Política para as Mulheres do Governo Federal e seus respectivos organismos nos estados e municípios”

Irlanda

Filipinas

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Elaine Bezerra

Bélgica

NO MERCADO DE TRABALHO A maior queda do Brasil no Fórum Econômico Mundial ocorreu na avaliação que considera salários, participação e liderança feminina no mercado de trabalho, em que o país despencou da 74ª posição para 81ª colocação na lista. Na avaliação da presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Paraíba (ABRH-PB), Maria da Penha, os dados mostram a herança conservadora da sociedade, em que as mulheres vivem uma maratona para alcançar ascensão profissional em qualquer segmento. “Nos últimos 10 anos a possibilidade de crescimento nesse quesito tem sido significativo, mas ainda estamos distantes do ranking mundial”, declara. Em sua opinião, a queda salarial pode ocorrer com maior significância em cargos executivos. “No caso das empresas que praticam o plano de carreira e salários é possível que haja um diferencial por questões de acessibilidade ao desenvolvimento profissional mais para os homens do que para as mulheres. Elas exercem uma jornada multifuncional e muitas vezes esse fator dificulta a possibilidade de maior qualificação profissional. Quanto à participação e liderança feminina, está muito evidente o crescimento da mulher em cargos que eram tradicionalmente masculinos. É óbvio que a mulher brasileira tem sido cada vez mais cobiçada para cargos de CEO em empresas de grande porte”, explica Maria da Penha.

Elaine Bezerra, da Marcha Mundial das Mulheres, afirma que parte dessa mudança advém de políticas públicas voltadas especialmente para o gênero. “Obviamente precisamos avançar em políticas para as mulheres que enfrentem a situação de desigualdade vivenciada por nós. Contudo, tivemos muitos avanços no último período desde a criação da Secretaria de Política para as Mulheres do Governo Federal e seus respectivos organismos nos estados e municípios”. Ela conta que a igualdade de gênero entrou na agenda pública e destaca conquistas como a Lei Maria da Penha, programas voltados para a autonomia econômica das mulheres e de crédito. “Mas, temos uma luta pela ‘despatriarcalização’ do Estado, luta contra as políticas de caráter ‘familista’ que apenas reforçam e naturalizam o lugar das mulheres como mãe e esposa, por exemplo”, assegura a militante. Luciana Genro, no entanto, reclama que há muito a desejar na questão de políticas públicas para mulheres, como discussões a respeito da descriminalização do aborto, por exemplo. Além disso, a ex-candidata afirma que não houve empenho do governo para votar e implementar o Projeto de Lei 7016/10. “Um projeto de minha autoria que prevê multa a empresas que não pagarem o mesmo salário a homens e mulheres que cumprem a mesma função”, destaca.

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O artigo 10 da Lei 9.504 de 1997 assegura a reserva de 30% e 70%, para cada gênero, do número de candidaturas nos partidos políticos e coligações. A lei foi uma conquista para a participação feminina na política, mas ainda levanta questões. Luciana Genro afirma que a medida reconhece e enfrenta o machismo, mas levanta ressalvas. “Entretanto, no Brasil, os partidos colocam mulheres que não são candidatas para valer ou não dão condições mínimas de elegibilidade, como tempo na TV, financiamento da campanha e visibilidade nas suas instâncias decisórias. O PSOL adotou a paridade em suas instâncias de direção. Pelo menos 50% das cadeiras dos diretórios nacional, estaduais e municipais são ocupados por mulheres. Já tivemos duas mulheres candidatas à Presidência. Defendemos paridade de gênero como uma medida essencial da Reforma Política que deve ser feita”, declara. Já Sandra Marrocos defende a importância da participação feminina no poder legislativo, por apresentar maior capacidade de criar e regulamentar normas que discutem as questões de gêneros. “Ter uma presidenta não retrata que a gente teve um crescimento na participação das mulheres. O grande desafio é mudar os espaços do legislativo”, declara a paraibana, levantando também a bandeira de uma Reforma Política, com o financiamento público de campanha e com lista fechada por alternância de gênero.

Islândia

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DIREITOS ALÉM DE COTAS

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UPGRADE

NOVO TABLET

ATUALIZAÇÃO

IPHONE EM ALTA

A Nokia apresentou o primeiro tablet com sistema Android, que será lançado na China, em fevereiro. Sem taxas, o aparelho custará U$ 250,00, mas ainda sem previsão de chegar ao Brasil. O N1 tem processador Intel Atom que oferece bons resultados aos consumidores.

Lançado agora em novembro, o oitavo jogo principal da série Assassin’s Creed já terá nova versão para PC e PS4. A ideia é corrigir problemas como os movimentos do personagem, a inteligência artificial, as animações, o matchmaking, o menu e a estabilidade geral, que possuía problemas relacionados a acidentes que ocorrem no modo campanha e no co-op.

A web-mobile MeSeems divulgou pesquisa sobre a preferência dos brasileiros pelos smartphones. A empresa entrevistou mais de 12 mil pessoas, de 16 a 70 anos, e constatou quais as marcas preferidas dos usuários: Apple, com 36%, seguida pela Samsung (31%) e Motorola (15%). O levantamento apontou que 56% dos usuários escolhem os aparelhos pelo design e, seguidos em igual preferência, pelos aplicativos e funcionalidades disponíveis. Outros pontos destacados foram a reputação da marca e da empresa (48%), e o melhor custo benefício (43%).

SEGURANÇA

NAS NUVENS

TECNOLOGIA

O WhatsApp, versão para Android, passou a utilizar criptografia como padrão, sem previsão para versão iOS. O aplicativo utiliza código open source. O novo serviço não consegue descodificar mensagens trocadas, mesmo se a empresa for intimada judicialmente.

A Canon Image Gateway (CiG), serviço gratuito na internet, chega para ajudar os usuários da marca a armazenar e compartilhar suas fotos em diversas plataformas. O novo serviço permite que o clique seja salvo em uma biblioteca pessoal: o Online Photo Album, e compartilhado a qualquer momento, nas redes sociais.

O Campus Festival realiza sua 2ª edição nos dias 6, 7 e 8 de dezembro. Trata-se de uma Conferência Universitária de Artes Integradas e Tecnologia para discutir o empreendedorismo e a economia criativa. O evento acontecerá no Espaço Cultural, em João Pessoa (PB), com apresentação de shows, mostras culturais e palestras. A programação contará com a participação de dez bandas, incluindo Nação Zumbi, e 60 palestrantes. O interessados podem adquirir o ingresso para o festival por R$ 70.

SISTEMA DE GESTÃO ‘MADE IN PB’

VISUALIZAÇÃO EM PLATAFORMA 3D

O Integra Eventos, sistema de gestão criado na Paraíba, já está presente em todas as regiões do Brasil. São mais de 50 eventos realizados em 14 estados. Criado para atender os requisitos do segmento, ele é um moderno software que garante eficiência e segurança. As funcionalidades do sistema permitem um gerenciamento completo, que compreende desde as inscrições realizadas pela internet até o controle de acesso e de fluxo dos participantes, em tempo real. O software apresenta os resultados finais do evento por meio de relatórios com as estatísticas gerais, como perfil e quantidade de visitantes.

O Mozilla Firefox está comemorando dez anos. Como parte das celebrações de aniversário, a empresa lançou a plataforma Mozvr.com, com ajuda da Oculus Rift, para mostrar o progresso de uma experiência de navegação em 3D. Para acessar é preciso habilitar a construção do VR e adquitir o óculos Rift. Como no Google Earth, o usuário poderá girar e orientar a apresentação em 3D e vê-la em diferentes ângulos. No site, o Mozilla mostra a utilidade da visualização: quando houver quebra do código HTML, problemas no layout, ou para otimizar a página.

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A Holanda é conhecida por incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte, e em novembro foi inaugurada uma motivação a mais: uma pista iluminada, inspirada em uma das obras mais famosas de Van Gogh, Noites Estreladas, instalada no país. Elaborada pela artista e designer holandesa Daan Roosegaarde, a pista tem um quilômetro e fica localizada na cidade de Nuenen, próxima ao local onde o pintor viveu. Para reproduzir a noite pós-impressionista, a designer usou 50 mil pontos luminosos de LED que brilham no escuro, feitos por um material que utiliza energia solar, desenvolvido pela empresa holandesa Heijmans. A ideia é que essa tecnologia possa evoluir para ser usada em grandes cidades, reduzindo o consumo de energia e fazendo com que as ciclovias fiquem mais seguras. Atualmente, estima-se que exista, pelo menos, uma bicicleta por habitante na Holanda, por conta do incentivo que o país vem tendo, desde os anos 70 , para promover o uso do meio de transporte. Algumas das medidas adotadas foram: o fechamento de ruas para carros, redução de vagas e aumento do preço dos estacionamentos e implantação de ciclovias na Holanda. No total, são 32 mil quilômetros de pistas exclusivas para as bikes - agora imagina só aplicar essa iluminação por todo o país.

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CICLOVIA ILUMINADA MOTIVA CICLISTAS


Geral

Discurso revela xenofobia

Manifestação de ódio contra nordestinos nas redes sociais é ato criminoso e mostra o bairrismo de uma minoria que insiste em segregação Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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A

conteceu mais uma vez. Tal como em 2010, quando na eleição de Dilma Rousseff, as redes sociais foram inundadas por ofensas, comentários preconceituosos e até incitação à violência. Castrações químicas, holocausto e a construção de um muro que dividisse as regiões Norte e Sul do país foram algumas das ideias apresentadas. Isso porque uma parcela da população que não votou na candidata petista creditou ao Nordeste a “responsabilidade” pela reeleição da presidente. Não se deram conta, no entanto, de que numericamente Dilma teve menos votos no Nordeste (cerca de 24,7 milhões) do que nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (mais de 26,7 milhões). “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”. Em meio a muitas mensagens preconceituosas, esta, publicada no Twitter por uma estudante de Direito ainda em 2010, ocupou as principais páginas dos jornais. A estudante perdeu o estágio, trancou a faculdade, mudou de cidade e foi condenada pelo crime de discriminação a 1 ano, 5 meses e 15 dias de prisão. Ela teve a pena convertida em prestação de serviço comunitário e pagamento de multa. A repercussão do caso, contudo, não foi suficiente para evitar a reincidência de atitudes como essa, quatro anos depois. Três dias após as eleições, o Ministério Público Federal já havia recebido 131 denúncias por racismo nas redes sociais, em que 85 delas atacavam especificamente os nordestinos.

Confirmada a reeleição de Dilma, em pouco tempo internautas ressuscitaram nas redes sociais – sobretudo no Twitter – movimentos separatistas, movidos por demonstrações de preconceito contra os nordestinos, sugeriram a “exterminação” do povo e reproduziram insultos. Para a especialista em redes sociais, cultura e comportamento digital, Ana Paula Freitas, essas reações têm origem na ignorância e na discriminação cultural, parcialmente explicados pelo fato de que, no Sudeste e no Sul, o único contato que a classe média tem com os nordestinos é em posições socialmente consideradas subalternas, em cargos de serviços. “A meritocracia e o autoritarismo ainda são valores muito fortes para nós; fomos colonizados sob estes princípios e continuamos classificando o valor das pessoas de acordo com os cargos que elas ocupam e com as conquistas profissionais delas. Junte tudo isso e você poderá observar um desprezo generalizado pelos imigrantes dessas regiões, especialmente entre as classes mais altas”.

INTERNET NÃO É “TERRA SEM LEI” Gisele Truzi, advogada especialista em Direito Digital, alerta para o fato de que as publicações ofensivas podem configurar crimes contra a honra (calúnia e difamação) ou o crime de preconceito racial e discriminação. Sócia-proprietária da Truzzi Advogados, Gisele diz que, ao contrário do que se pode pensar, a internet não é uma “terra sem lei” e que é perfeitamente possível punir indivíduos que praticam crimes utilizando as novas tecnologias. “O que ocorre atualmente é que o uso maciço da internet dá a certas pessoas uma coragem maior em se expor e em denegrir terceiros, pois a tela do computador gera certo distanciamento do alvo, o que acaba estimulando certas práticas ofensivas”, afirma a advogada. Já Ana Paula Freitas não acredita que os usuários das redes compartilham mensagens de cunho xenofóbico e discriminatório por terem um sentimento de impunidade na web. Para ela, os indivíduos reproduzem na internet o que falam na vida offline. “Quando ele manifesta ódio e preconceito, só as pessoas próximas escutam, ele não é punido e, além disso, palavras ditas podem ser reinterpretadas e perdem o peso. Registrar em texto tem implicações maiores, mas publicar na rede dá uma dimensão completamente diferente”, comenta a especialista, que em 2013 foi eleita uma das 25 pessoas mais influentes da internet no Brasil. Ana Paula explica, além disso, que o

Gisele Truzi

Twitter e a internet contam com um fenômeno que se chama troll, comentários polêmicos que chamam atenção para conseguir mais visibilização. “Acho que esse tipo de coisa é um pouco dos dois: ou a pessoa que comete o crime de ódio na web não entende que aquilo é tão grave, porque está acostumado a dizer na vida offline e ninguém o repreende, ou sabe e faz de propósito, porque sabe que vai gerar repercussão”, argumenta Ana Paula. A especialista afirma que é importante discutir o assunto, mas alerta para a existência de um movimento justiceiro na web. “Quando ocorre algum crime de ódio, o criminoso tem a vida virada de cabeça pra baixo. Ele mesmo se torna uma vítima de outro crime de ódio, frequentemente: se for mulher, vai sofrer machismo, por exemplo. O cuidado que devemos ter ao ver conteúdo que propaga ódio é não perpetrar esse ódio contra o criminoso, até porque é uma espiral. É preciso denunciar e colocar a discussão em pauta, mas se limitar a isso”, conclui. Foto: Shutterstock | Divulgação


Mundo

rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Descanso com luxo Um dos mais conceituados empreendimentos hoteleiros do Sul da Bahia, o Cana Brava Resort convida a uma experiência única no final do ano. O equipamento oferece opções de lazer e descanso em seus 70 mil m² com 94 apartamentos Luxo, 54 chalés standard e 24 máster, além das 4 suítes presidenciais. Recentemente, a empresa investiu R$ 350 mil na construção de novo site e atualização de mobiliário, enxovais, amenities, serviços de mesa e maquinários para o setor de Alimentos & Bebidas e para a lavanderia. A página, além de trazer interfaces renovadas, dá atenção à comunicação online – via chat, em tempo real, já que hoje pelo menos 15% das vendas do Cana Brava se originam de contatos iniciados pela internet. A proposta é ampliar esse potencial do negócio. O Cana Brava All Inclusive Resort está localizado a apenas 20 km do aeroporto Jorge Amado e a poucos minutos do centro de Ilhéus. O Resort oferece cortesia para duas crianças de até 12 anos, desde que hospedadas no quarto dos pais.

Serviço: Cana Brava All Inclusive Resort Reservas podem ser feitas por meio do reservas@canabravaresort.com.br. Contato: (73) 3269-8000

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Compras em alto mar A MSC Cruzeiros lançou uma série de cruzeiros temáticos, como o Shopping Cruise, que levará os amantes das compras até as melhores lojas e grifes do Mediterrâneo. A bordo do MSC Splendida eles conhecerão lugares fascinantes e melhores pontos da região, desde as chiques e imaculadas lojas de Roma até a agitação das feiras “souk” na Tunísia. Com um roteiro especial, o cruzeiro de sete noites terá embarques em Gênova, na Itália, passará por outras cidades no mesmo

país, além de visitar a Tunísia, Espanha e França. Com saídas programadas para os dias 11, 18 e 25 de janeiro de 2015, os viajantes serão levados, em excursões, aos grandes centros de compras de Civitavecchia (Roma), Palermo, La Goulette (Tunis) e Marselha. Em Barcelona, as belas construções desta emblemática cidade poderão ser apreciadas e está prevista uma parada no famoso Outlet La Roca Village. O local abriga mais de 100 marcas de luxo e estilo de vida com preços reduzidos até 60%. Em Tunis, os viajantes irão às Souks e ruínas de Cartago. Em Gênova, conhecerão o Serravalle Designer Outlet e seguirão rumo à multicolorida Portofino. Os valores por hóspede variam de USD 869 + taxas a USD 344,50 + taxas.

Cultura e gastronomia O Festival Sons e Sabores 2014 chega a sua segunda edição valorizando a cultura, o turismo, as raízes regionais e a gastronomia dos municípios da região do Brejo paraibano. Este ano, o evento vai acontecer nas cidades de Solânea, Areia, Alagoa Grande e Pilões, até o dia 14 de dezembro. Cada cidade terá uma programação específica, onde os visitantes poderão apreciar os “sons e sabores” da localidade. A ideia é promover a implantação de um roteiro turístico que una culinária e música. Durante o festival, serão promovidas atividades culturais, criação de pratos nos bares e restaurantes, além de oficinas de arte e shows regionais. O chef Adilson Santana, consultor da edição, já está catalogando os pratos e dando as devidas orientações para a criação de novos sabores nos municípios participantes. O evento é realizado pelo Fórum do Turismo do Brejo Paraibano, com apoio do Sebrae Paraíba.

Para saborear com estilo As festas de fim de ano são excelentes oportunidades para presentear e saborear bons rótulos. Há diversas opções no mercado e preços variados. Fizemos uma lista com algumas sugestões para o brinde do Natal e do Réveillon.

O Ponto Nero Blanc de Blancs Golden Conceptual Edition se

destaca por sua cremosidade. O rótulo, 100% Chardonnay, apresenta aromas complexos, excelente frescor e equilíbrio. A embalagem é uma elegante lata dourada. Preço sugerido: R$135,00.

O rótulo 12 e Mezzo Malsavia é o lan-

çamento da vinícola italiana Varvaglione. O vinho possui nuances de baunilha e frutas tropicais, boa textura, além de ser harmonioso e persistente. Preço sugerido: R$ 60,00.

O Brunello Di

Montalcino Vigna Loreto, safra 2008,

da italiana Mastrojanni, é um dos ícones da vinícola. O produto é elegante, complexo e tem produção limitada a 8.000 garrafas. Preço sugerido: R$ 545,00.

O Aponte D.O Toro, safra 2006, da espanhola Frontaura, tem produção limitada de 2.600 garrafas. O vinho harmoniza com carnes de caça, costela bovina e queijos. Preço sugerido: R$ 380,00.

O português Alma Grande, safra 2009,

é bem estruturado, harmonioso e persistente. Os seus taninos sedosos conferem-lhe elegância e longevidade. É um vinho de classe superior. Preço sugerido: R$ 125,00.

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Curso para chefs As Faculdades Maurício de Nassau de João Pessoa e Campina Grande vão oferecer o curso superior tecnológico (CST) de Gastronomia. Serão oferecidas 240 vagas por ano, em cada unidade. As inscrições para o vestibular tradicional ou agendado já estão abertas e podem ser feitas pelo site www.mauriciodenassau.edu.br. O curso tem início a partir do primeiro semestre de 2015 e duração de dois anos. Além do vestibular, os alunos podem ingressar usando a nota do Enem ou por transferência. A proposta é direcionada a atividades práticas em cozinhas pedagógicas, laboratórios de alimentos e bebidas (Enologia e Bar), laboratórios de informática, projetos integradores, seminários, palestras, eventos e visitas técnicas. O mercado de trabalho é amplo e está em contínua expansão. O Grupo Ser Educacional já oferece a graduação nas unidades de Fortaleza, Maceió e Recife. Em João Pessoa, as aulas serão no prédio da av. Epitácio Pessoa.

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Rivânia Queiroz

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Pelo


Turismo

AÇÃO DA PREFEITURA

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Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

C

superior da falésia, tudo isso associado à ação gravitacional”, diz. Dentre as consequências dessa erosão, algumas põem em risco a circulação de pessoas e automóveis que passam pelo topo da formação. Henaldo aponta para outras questões resultantes do detrimento da área. “A perda de um patrimônio natural de forte beleza cênica, o que contribuiria para perda de um atrativo turístico. Quanto às perdas ambientais teríamos a diminuição de áreas verdes e sua consequente redução da biodiversidade. A aceleração dos desmoronamentos causa o aumento de sedimentação na linha de costa, turbidez das águas e afeta a biodiversidade marinha”, afirma o geógrafo. Marcelo indica outras consequências que, em curto prazo, podem afetar os principais pontos turísticos pessoenses: o farol e a Estação Cabo Branco. “Ambos são equipamentos construídos em área de risco, com uma grande vulnerabilidade aos processos erosivos. Não foi uma decisão inteligente construir um equipamento tão caro em uma área de risco. Quanto ao farol, ele é bem mais antigo e teve grande importância em seu momento histórico, atualmente é apenas uma relíquia, pode até mesmo estar em atividade, mas com a tecnologia náutica é dispensável à navegação”, observa.

Foto: Divulgação

ações e os recursos deveriam ser investidos em algo mais útil, como a recuperação de escolas, por exemplo. Sei que a minha opinião não agrada a todos os paraibanos, mas, de acordo com a geomorfologia, o recuo das falésias é um processo natural e pode ser acelerado com o aquecimento global. Isso provocaria um aumento direto do nível do mar, acelerando o processo de recuo da falésia”, conclui.

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Localizados sobre a falésia do Cabo Branco, dois dos principais equipamentos da capital paraibana estão ameaçados de desaparecer. O crescimento da erosão põe em risco a estrutura do local e a segurança das pessoas que transitam na área

onhecida por ser o ponto mais oriental das Américas e pelas suas praias, João Pessoa está vendo dois de seus principais pontos turísticos ameaçados. A Estação Ciência e o Farol de Cabo Branco estão localizados em cima de uma falésia homônima. Há anos ambientalistas e geógrafos apontam para o estado da falésia como preocupante, mas foi no último dia 24 de setembro que foi decretada situação de emergência na área. O geógrafo e professor da Universidade Federal de Campina Grande, Henaldo Gomes, indica algumas das causas do seu deterioramento. “O desmatamento da Mata Atlântica para a construção da Estação Ciência acelerou um processo que se configurava nas últimas décadas. A Mata Atlântica funcionava como um amortecimento das águas das chuvas que se infiltravam lentamente no solo. Outra coisa que colaborou para a erosão foi a impermeabilização da terra através do asfaltamento das vias não pavimentadas, permitindo a infiltração das chuvas no topo das falésias”, explica. O também geógrafo Marcelo Brandão vê a problemática sob outra perspectiva. “O recuo de uma falésia é um processo natural, ele ocorre em função de diversos fatores associados, a ação das marés, a ação do vento, as interferências antrópicas, como ocupação e circulação na parte

Henaldo Gomes

Marcelo Brandão 69

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Pontos turísticos ameaçados

As discussões em torno da contenção da erosão da falésia existem há mais de 14 anos, entretanto, até então não havia um projeto executivo para o início das obras. Em 2012, um licenciamento chegou a ser concedido pela Superintendência de Desenvolvimento do Meio Ambiente (Sudema), mas com 19 condicionantes. Entre elas, a exigência da composição de um projeto executivo. Com a urgência da situação, algumas medidas já estão sendo adotadas. A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) pretende drenar e renaturalizar a área que compreende a falésia, tendo iniciado as obras no começo de novembro. Em publicação oficial da prefeitura, o secretário de Planejamento, Rômulo Polari, sublinha que o projeto prevê um replanejamento viário para a área, a reestruturação da drenagem, a proteção contra agressões marítimas, bem como o planejamento urbanístico nas imediações. De acordo com Polari, os estudos para a composição do projeto executivo já estão em fase de conclusão e alguns trabalhos foram iniciados. Outras medidas que a prefeitura pretende adotar incluem a recomposição de barreiras entre os corais, a fim de evitar que as correntes marinhas acelerem a degradação da falésia. Para Henaldo, o aspecto rodoviário precisa ser repensado. “Ações mitigadoras para a falésia seriam: a proibição de tráfego de automóveis, pois os mesmos causam vibrações que contribuem para o desmoronamento das falésias. Outra ação a médio e longo prazo seria um zoneamento ecológico da área e um plano de manejo e reflorestamento do topo e da encosta das falésias”. A interdição do trânsito é, inclusive uma das recomendações apontadas pelo estudo levantado pela prefeitura. No entanto, não foi tomada nenhuma decisão definitiva quanto a isso. Para Marcelo Brandão, as medidas são paliativas. “Sinceramente, acho que as


Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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Em sintonia com o mês de campanhas de apoio ao tratamento do câncer em crianças e adolescentes, o jornalista Renato Lemos lança o livro O Amanhã Existe - a história de quem transformou a luta contra o câncer infantojuvenil no Brasil. A obra conta a trajetória de Francisco Neves, o “Chico”, que enfrentou a doença do filho caçula. Hoje, ele é superintendente do Instituto Ronald McDonald, que beneficia anualmente cerca de 30 mil crianças e adolescentes e seus familiares.

A Bahia celebra o mês da Consciência Negra com programação especial. Além das ações que integram o III Encontro das Culturas Negras, este ano acontecerá pela primeira vez o Circuito de Artistas Credenciados, com o tema Culturas Negras. O evento promove, nos espaços culturais da capital e interior, uma série de shows e espetáculos de artistas contemplados no edital realizado pela SecultBA, em abril deste ano, cujo trabalho está vinculado a atividades de promoção de cultura.

dúvidas em afirmar que foi o drama do amor. Trata-se, pois, de uma paixão, cujo desfecho infeliz teria abalado convulsivamente sua personalidade carente de equilíbrio. Exatamente aí, no capítulo do amor, é que deve começar o trabalho de pesquisa para a verdadeira interpretação psicológica do autor”, disse Horácio, que também já partiu desse mundo. Da primeira à última página do livro Eu (única obra publicada pelo autor), o eu-lírico canta a angústia da vida. Em controvérsia ao sobrenome “angélico”, de celestial, como os “anjos” do nome, sua obra só tem a imortalidade, pois veio fadado ao mundo para servir de poeta. Cria do interior da Paraíba, do Engenho Pau D’Arco, Augusto cumpriu sua missão até 12 de novembro de 1914. O escritor morreu em virtude de grave pneumonia. Seu legado foi uma obra imortal, única. “Gozo o prazer, que os anos não carcomem/ De haver trocado a minha forma de homem/ Pela imortalidade das ideias!”, assim calou o poeta em sua eternidade enigmática.

A maior série de música clássica do país, o projeto Música no Museu, abriu temporada em São Luís (MA) com a apresentação da saxofonista Daniela Spielmann e a pianista Sheila Zagury, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, este mês de novembro. O projeto foi iniciado em 1997 e tem cerca de 500 concertos por ano em todo o Brasil e em outros países, como Espanha, Portugal e França, por exemplo. Veja a programação no site www. musicanomuseu.com.br

O cantor e guitarrista Jack White, o vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, e Pharrel Williams serão as grandes atrações da edição de 2015 do festival Lollapalooza Brasil, que acontece nos dias 28 e 29 de março, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Também vão tocar no festival personalidades do rock internacional como Skrillex, The Smashing Pumpkins, Foster the People, Bastille, Steve Aoki, Pitty, Banda do Mar, Molotov, Three Days Grace, Chemical Surf e Scalene.

Festival de música clássica A capital paraibana será palco de atrações de várias nacionalidades com o II Festival Internacional de Música Clássica de João Pessoa. O evento acontece de 30 de novembro a 6 de dezembro e conta com a participação de 20 artistas de 12 nacionalidades. Um dos destaques é o maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, Isaac Karabtchevsky, e a pianista Anna Fedorova (Ucrânia), que participou da primeira edição do evento. As apresentações terão como cenário a arquitetura barroca das igrejas, no centro histórico.

Bons ventos no cinema Um dos destaques do cinema brasileiro em novembro é o filme Ventos de Agosto. Com direção estreante de Gabriel Mascaro em longasmetragens de ficção, o enredo traz uma reflexão sobre vida e morte, envolvendo a relação entre os protagonistas Shirley (Dandara de Morais que interpreta uma jovem da cidade grande) e Jeison (ator estreante Geová Manoel dos Santos interpretando um pescador de uma vila). Com o cenário de uma comunidade litorânea de Alagoas, o longa foi o único filme brasileiro na seleção internacional do festival promovido pelo American Film Institute.

Voltado para o público infantil, o livro Sete contos, Sete quadros, das autoras Carla Caruso e May Shuravel, traz a vida de artistas que viveram no Brasil, como Pedro Alexandrino (1856-1942) e Tarsila do Amaral (1886-1973). Por meio da construção dos contos, as autoras propõem os primeiros passos das crianças pelo mundo das artes, ao mesmo tempo que informa um pouco da produção artística e aspectos históricos do Brasil.

Verão animado O Fest Verão Paraíba, evento consolidado há 10 anos no calendário cultural da capital do estado, definiu sua programação. Nos dias 4, 11 e 18 de janeiro, a praia de Intermares trará nomes do forró, sertanejo e axé. No primeiro domingo do mês, o público poderá assistir a shows como o da dupla Jorge e Mateus e Saulo Fernandez. Já no dia 11, Ivete Sangalo e Aviões do Forró comandam a festa. No último domingo, será a vez de Bel Marques e O Rappa.

Dois dias de MPB Grandes nomes da Música Popular Brasileira irão fazer a festa em Recife e Olinda. Com a proposta de reunir artistas como Gilberto Gil, Marisa Monte, Ana Carolina, Seu Jorge e Caetano Veloso, o Festival MPB 2014 será realizado nos dias 13 e 14 de dezembro no Centro de Convenções de Pernambuco. O evento também abrirá espaço para artistas novos que ainda estão se consagrando no cenário nacional como Tibério Azul, Banda do Mar, Mombojó e Vitor Araújo. Esta é a primeira edição do festival, que nasceu para suprir a necessidade do público que curte o gênero.

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Há 100 anos, Augusto dos Anjos finalmente encontrava a sua aclamada morte. O poeta, dono de versos sombrios, deixou uma literatura densa e ainda enigmática para muitos intelectuais. Assim como sua obra, sua vida também tinha vocação para o infortúnio. “Sofro, desde a epigênese da infância/ A influência má dos signos do zodíaco”, escreveu no poema “Psicologia de um vencido”. Quando vivo, o paraibano sofreu com a mãe, psicologicamente afetada pela morte de um irmão mais velho; padeceu com a morte de um filho e teve que suportar outros descontentamentos. No entanto, há quem defenda que o tom sombrio de sua lírica é consequência de sofrimentos do amor. Para o escritor e um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras, Horácio de Almeida, em texto escrito para o site Jornal da Poesia, a dor de uma paixão rompida é a única explicação para a angústia de seus versos. “E que desgraça foi essa que o fez ficar assim tão sombrio? (...) Por suas próprias palavras, não tenho

Depois de participar de grandes eventos literários, como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a escritora pernambucana Débora Ferraz, autora do romance Enquanto Deus Não Está Olhando, inicia a temporada de lançamentos da obra na Paraíba. O livro, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2014, na categoria romance, foi lançado em João Pessoa, na Festa Literária de Boqueirão (Flibo), e será apresentado em cidades como Campina Grande e Bananeiras, ainda sem data definida.

Universo artístico

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Um amor sombrio?

Turnê de lançamentos


Cultura Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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inguém sai ileso quando lê a poesia de Augusto dos Anjos (1884-1914). O autor paraibano, filho do “carbono” e do “amoníaco”, é alvo da curiosidade de leitores e críticos literários. Ainda hoje, completando o centenário da sua tão cantada morte, o poeta taciturno desperta interesse pelas múltiplas facetas que aflora em seus versos. Seu eu-lírico é conhecido por ser angustiado e pessimista, mas há quem veja luz nas sombras das líricas de Augusto. Para o escritor paraibano, Jairo Cézar, ele é o poeta da transformação e, apesar de concordar que a obra de Augusto manifesta pessimismo, ele consegue ver um leve tom de otimismo nas palavras do poeta e acredita que a morte pode ser até encarada como libertação. Como uma comprovação para seu argumento, Jairo cita os últimos versos do poema Os Doentes. “E eu, com os pés atolados no Nivarna,/Acompanhava, com um prazos secreto,/ A gestação daquele grande feto/ Que vinha substituir a Espécie Humana!”. Segundo sua interpretação, o trecho é uma das nuances embutidas na obra de Augusto e mostra a crença da transfor-

mação da humanidade, quem sabe em algo melhor. “Para mim, o poema mais importante, a espinha dorsal do livro Eu, é ‘Os doentes’. Trata de uma nova era que substituiria o humano que estava atolado em caos”, decifra Jairo, ligando o significado de Nirvana, mencionado no verso, à alegria de acompanhar essa mudança dos seres. “Claro que ele não é o poeta do otimismo, mas constata uma realidade do caos da sociedade e nesse poema podemos sentir a crença no homem novo”, afirma Jairo, nítido entusiasta pela poesia do paraibano e ex-diretor do Memorial Augusto dos Anjos (2006-2009). O crítico literário Hildeberto Barbosa, no entanto, não acredita nesse otimismo enrustido nos poemas do poeta, mas pensa que mesmo esse ar grotesco de seus versos pode ser considerado sublime. “Os poemas de Augusto têm uma fundamentação filosófica amarga, pessimista e aborda uma espécie de ânsia espiritual. Não há nada que confirme essa visão otimista. Ele conta inclusive o processo de deterioração das coisas. Ele dá uma dignidade a essas coisas abjetas, miúdas. O que ele faz na poesia é uma passagem do grotesco para o sublime”, opina.

O crítico esclarece ainda que não se pode confundir eu-lírico com o poeta Augusto dos Anjos. A voz da poesia do único livro que escreveu em vida, o Eu, é sombria, angustiada e trágica, o que não significa dizer que sua personalidade fosse assim. Jairo Cézar, por exemplo, conta que, em vida, Augusto chegou a produzir poemas engraçados, para publicações pequenas. “Ele participou do Nonevar, jornalzinho da festa das Neves, que acontece em João Pessoa. Nele, Augusto dos Anjos fazia poemas humorísticos, com o codinome Chico das Couves. E tinha o viés galanteador também, que assinava como Tales de Mileto, no mesmo jornal. Ele tratava as mulheres de “miniaturas de deusas gregas”, “sílfides impolutas”. Obviamente ele ganhou notoriedade pelo Eu, mas foram facetas que não podem ser invisibilidades. Foi um poeta em que se exibiu o pessimismo, mas não é só isso, tudo precisa ser relativizado, a própria visão de morte, por exemplo, Augusto encarou de frente. Ele aponta saídas, apesar de ser pessimista”, comenta Jairo, autor do livro Augusto em HQ, obra para o público infantil que conta a biografia do poeta paraibano.

Ilustração: Danielle Trinta

escolas, e ao mesmo tempo de nenhuma. “A obra dele é tão imensa e tão incrível que quebrou as pernas da crítica. Ele tem característica de todas as escolas literárias, então para enquadrá-lo é muito difícil, como houve um hiato antes do modernismo, foi lá que os críticos o colocaram. Alguns teóricos o indicaram como simbolista, muito mais por uma razão cronológica do que por característica. Mas, se você disser que ele é barroco, vai encontrar aspectos barrocos; assim como romântico, entre outras denominações. Para mim, no entanto, ele é um poeta mais para ser sentindo do que para ser classificado”, declara Jairo.

Hildeberto confirma as múltiplas facetas do poeta. Segundo ele, a poesia de Augusto foi assimilada pelo gosto popular, tem ressonâncias diversas e atinge a sensibilidade de leitores de todos os tipos, jovens, adultos e idosos. Ele afirma ainda que sua influência não se materializa na imitação de alguns poetas menores, mas num jeito de pensar e sentir as experiências humanas, sobretudo aquelas que lembram os mistérios da morte, da decomposição, da ruína, da dor e da arte. Em relação a essa angústia, o crítico conclui que o poeta consegue transpor a dor em uma amplitude macro, transformando-a em uma agonia cósmica, em uma “Cosmoagonia”.

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Uma luz para os anjos

Conhecido como um poeta sombrio, Augusto dos Anjos ainda desperta múltiplas interpretações em suas poesias. O paraibano completa centenário de morte este ano

O estilo de Augusto dos Anjos é singular e a literatura tem dificuldades de incluir sua arte em alguma escola poética. Hildeberto Barbosa explica que ele foi um poeta à frente do seu tempo, e que, apesar de ter vivido muito antes do movimento modernista do Brasil, ele foi enquadrado em um período anterior, o pré-modernismo, por ser considerado um revolucionário na literatura. “Considero Augusto dos Anjos um poeta singular. Talvez a personalidade poética mais original da poesia brasileira. Seu verso é único: pelo ritmo, pelas imagens e pelas ideias”, afirmou. O escritor Jairo Cézar explica que Augusto tem características de muitas

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À frente do seu tempo


Cultura

A vez do audiovisual

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Setor vem ganhando destaque no Brasil e apresentou um aumento de mais de 300% no faturamento das bilheterias do país, em seis anos, de acordo com dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Além disso, ações integradas do Governo Federal estimulam a produção também para a televisão Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

O fundo atua com três programas específicos e trabalha com o incentivo ao cinema, ao audiovisual em geral e à infraestrutura voltada para o setor. Entretanto, a produção audiovisual nacional ainda se depara com alguns gargalos, como apontou o estudo “Impacto Econômico do Setor Audiovisual Brasileiro”. O principal deles são os impostos. Sobre os ingressos de cinema, eles correspondiam a 30,25%, em 2011. Para DVD, a alíquota atinge 44,20%. Outro entrave no desenvolvimento do audiovisual no Brasil é a falta de profissionalização da área. A gerente-executiva de capacitação da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro), Odete Cruz, percebe esse desfalque. “O setor audiovisual tem passado por um crescimento expressivo nos últimos anos, mas ainda há uma carência de profissionais capacitados. É por isso que a Apro, juntamente com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), criaram um curso chamado ‘Objetiva – Empreendedorismo em Foco’, voltado para a capacitação da área”, disse. O curso prioriza micro e pequenos empreendedores e é dividido em quatro módulos: gestão empresarial; legislação do audiovisual brasileiro; distribuição, orçamento de comercialização, venda de filmes e mercado internacional; e inovações tecnológicas e produções transmídias. “Trata-se de um projeto desenhado há dois anos, mas que só iniciou em 2013. Abrange todos os segmentos: cinema, TV, novas mídias, internet. Não há uma referência específica”, complementou Odete. Por enquanto, o curso é realizado em São Paulo, mas Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Distrito Federal e Recife (PE) serão as próximas cidades a receber essa capacitação, embora ainda sem data definida.

Marcel Vieira

“Eu falo para os meus alunos de uma maneira muito convicta: esse é um dos momentos mais singulares do audiovisual brasileiro para você se formar e tentar trabalhar nesse cenário”

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martphones, tablets, televisão, computador e cinema. São diversas as opções de telas para o espectador escolher onde vai assistir filmes. Na década de 70, quando as opções eram escassas, existiam três mil salas de cinema pelo país, número que caiu para mil, 20 anos depois. Entretanto, essa quantidade tem voltado a subir desde os anos 2000, atingindo a marca de 2.678 salas em 2013, de acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Naturalmente, também aumentou o número de espectadores. De 2008 para 2013, houve um crescimento de 67% de público nos cinemas brasileiros. Tudo isso está incorporado a uma série de investimentos no setor, que tem criado também iniciativas para fortalecer a produção nacional. Segundo o estudo “Impacto Econômico do Setor Audiovisual Brasileiro”, realizado pela Tendências Consultoria Integrada para a Motion Picture Association, as produções contribuem com R$ 19,8 bilhões para a economia nacional. Para o professor de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Paraíba, Marcel Vieira, um dos investimentos mais significativos na área é o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). “No atual cenário, podemos destacar, não só no cinema, mas na televisão, a criação do FSA. Esse fundo é retroalimentado pelas próprias produções e visa o fortalecimento das produções, inclusive as independentes”, explica.

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Odete Cruz

Foto: Divulgação


ALÉM DO CINEMA

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Cena do curta “O Hóspede”, realizada pela produtora Vermelho Profundo

Fabiano Raposo e Jhésus Tribuzi (Vermelho Profundo) e Tavinho Teixeira

EM TODAS AS TELAS PROJETOS APROVADOS O projeto de série para televisão da produtora Vermelho Profundo se passa em uma cidade do Sertão paraibano, em um ano eleitoral, polarizada entre o misticismo religioso e fundamentalismo político. A história da série Voragem gira em torno do desaparecimento do sobrinho do governador do estado e cai em um poço desativado. De acordo com Jhésus, a série tem todas as coisas que o autor gosta: horror, niilismo, sangue, loucura e morte. A produtora considera que sua especialidade seja horror, ficção científica, faroeste e suspense. Foto: Divulgação

Em busca de atender ao público brasileiro voltado para séries, foi criado o programa Brasil de Todas as Telas, utilizando os recursos do FSA. Em vigor desde julho de 2014, o programa articula parcerias público-privadas e propõe novos modelos de negócios. Faz parte da base do Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual. “Esse projeto visa investir em produções mais diversificadas possíveis, sobretudo regionalmente”, explica Marcel. O professor esclarece como o processo é realizado na capital paraibana. “A Prefeitura do Município entra com uma quantia e, o fundo setorial, após o projeto ter passado por todas as etapas do edital, completa essa quantia com o dobro do valor. Se a prefeitura entra com R$ 1 milhão, por exemplo,

o FSA coloca mais R$ 2 milhões. No final, o projeto fica com R$ 3 milhões e um pouquinho para investimento no edital municipal para produtoras independentes”, diz. “Nesse projeto, com estados que não têm tradição de realizar TV nem longa-metragem, que é o caso da Paraíba, o conselho do FSA decidiu abrir uma exceção para realizar curtas-metragens inseridos nessa linha. Para João Pessoa, esse edital vai dar uma balançada grande, principalmente porque o fundo setorial exige que seja produtora com registro da Ancine, o que demanda uma profissionalização do setor, que muitas vezes é tratado com amadorismo. Isso tem um efeito muito bom, sobretudo se pensado como política a longo prazo”, conclui Marcel.

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Queixas como as do ator Malcon Bauer em relação às séries brasileiras devem se tornar menos frequentes em breve. Pelo menos se considerarmos que a variedade de produção televisa tende a aumentar. “Outra coisa que o Fundo Setorial do Audiovisual tenta dar conta são as demandas da TV a cabo. A Lei nº 12.845 exige, dentre outras coisas, que os canais chamados de ‘canais de conteúdo qualificado’ tenham em seu horário nobre três horas e 30 minutos de conteúdo nacional, dos quais metade deve ser de produtora independente. Isso é um incentivo para a o conteúdo televisivo”, analisa Marcel. Composta por Ramon Mota, Jhésus Tribuzi e Fabiano Raposo, e formada há menos de dois anos, a produtora Vermelho Profundo, de Campina Grande (PB), já sente os benefícios deste incentivo. Ela recebeu, no dia 17 de outubro deste ano, R$ 600 mil para financiar seis projetos, sendo cinco longas-metragens e um seriado de televisão chamado Voragem. Em relação à Lei nº 12.845, os produtores afirmam que o incentivo é algo que vem diversificar a grade das TVs a cabo e aumentar a possibilidade das produtoras independentes de se desenvolverem. “Voragem é um produto dessa lei, se não fosse ela muito dificilmente teríamos espaço para entrar no mercado de TVs a cabo. Isso ainda não aconteceu de fato, mas a existência dela nos faz acreditar que é possível”, completa Ramon.

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com a internet, onde há grande oferta de produtos, das mais variadas formas, motivada pelas facilidades de fazer downloads ou acompanhar produções pela Netflix, por exemplo. O ator Malcon Bauer, de Florianópolis, conta que assiste 39 séries de televisão. “Diria que passo, semanalmente, mais tempo vendo séries do que filmes. Mas vejo pelo menos quatro filmes por semana, sendo um no cinema”, conta. Apesar do Brasil ter grande número de entusiastas desse gênero, o público para esse tipo de produção própria do país ainda é pequeno. Malcon é um exemplo de espectador que, por mais que adore seriados de televisão, não se sente cativado pelos produtos daqui. “Acho que os seriados brasileiros são muito repetitivos. No começo, eu adorava Tapas e Beijos, por exemplo, mas ficou três anos no ar”, disse, contando também que há exceções, como A Grande Família, que encerrou este ano, e a minissérie ‘O Rebu’.

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O audiovisual não é feito só da sétima arte. O professor da UFPB, Marcel Vieira, explica que o setor é muito mais amplo. “Não é só cinema, televisão e internet. Ainda mais hoje com toda essa cultura da convergência midiática. Tudo está interligado. Você tem que pensar nessa relação transmídia como uma forma de inserção no mercado audiovisual”. Ele afirma também que uma das metas da Ancine para os próximos anos é buscar fortalecimento em várias áreas do audiovisual. “O plano de metas inclui investimento em obras seriadas e vídeos sob demanda”, diz Marcel, acrescentando ainda que o momento do setor é propício para o estudo e mercado de trabalho. “Eu falo para os meus alunos de uma maneira muito convicta: esse é um dos momentos mais singulares do audiovisual brasileiro para você se formar e tentar trabalhar nesse cenário”. Uma dos gêneros que vem ganhando destaque no setor são as séries. Produções de outros países ficaram mais acessíveis

PRODUÇÃO PARA TELEVISÃO


Cores do

VITRINA

verão

A tendência candy colors, de tons pastéis, que estourou na estação mais quente de 2012, volta à tona neste verão, mas em nova versão, chamada yummi colors, que remete à junção de frutas e doces com cores cítricas. Tons fechados e neon ficam de fora nesta estação.

O conto de fadas da

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Beachwear com proteção solar Os maiôs, tops de manga longa e os hot pants, inspirados nas roupas de banho da década de 50, são a maior tendência nas praias do verão 2015. Além dos modelos que estão em alta, agora também é possível garantir essas peças com proteção solar para o corpo. Pioneira, a UV.Line traz roupas e acessórios com FPU 50+, que bloqueia 98% dos raios UVA e UVB.

Sapatilha Piccadilly

Bolsa carteiro Lemon Acessorize

Contém 1g quer expansão no Nordeste

Calça Mineral

Esmaltes MOHDA

Novidades na Make B

Carinho para a pele

A linha de maquiagem premium de O Boticário apresenta dois produtos novos nesse fim de ano. Para a linha regular de Make B Batom Velvet a marca traz cinco cores novas com textura matte pink, vermelho, rosa, salmão e papoula. Para os olhos, a novidade é uma edição limitada da palette de sombras baked, que tem 10 cores neutras e versáteis. O produto inclui ainda uma capa para celular acoplada à tampa e promete fazer sucesso.

Antes considerada dica caseira, a pomada dermatológica Bepantol ganhou o status de produto de beleza quando se transformou em Bepantol derma e passou a ser vendida como cosmético em três versões: líquida, creme e regenerador labial. Os produtos são potentes em hidratação e têm usos tanto para homens quanto para mulheres. A aplicação nos cabelos, unhas e cutículas, regiões tatuadas, lábios, pós-barba e áreas depiladas são apenas algumas delas.

Uma das maiores redes de franquias de maquiagem do país, a Contém 1g acaba de anunciar um plano de ampliação para os estados nordestinos. Para isso, a empresa reduziu o valor do investimento das franquias e passa também a implantar pontos de vendas em cidades a partir de 50 mil habitantes, o que não acontecia antes. Para quem quer investir no setor, um dos que mais cresce no Brasil, essa é uma ótima oportunidade.

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A grife streetwear marcou sua passagem no São Paulo Fashion Week, maior semana de moda brasileira, surpreendendo o público ao contar, de forma literal, de onde vieram as referências para o outono/inverno 2015. Na passarela, a grife mostrou uma encenação em que duas crianças corriam para abrir um grande livro de conto de fadas. Elas eram João e Maria, personagens do conto infantil que inspirou a coleção da Cavalera nesta 38ª edição do SPFW. O final da história contada pela marca paulistana foi feliz e trouxe um mix de texturas desde a lã fabricada em

Batons Lime Crime

Valdemar Iódice e a mineira Raquell Guimarães se uniram para um projeto que foi destaque da coleção de inverno 2015 da grife. Oito detentos da Penitenciária Professor Ariovaldo de Campos Pires, em Minas Gerais, produziram 20 peças de tricô para a nova coleção da marca, apresentada durante o São Paulo Fashion Week. Eles fazem parte do projeto Flor de Lótus, criado em 2009 por Raquell Guimarães, com intuito de ensinar aos detentos de dois presídios mineiros técnicas de tricô e crochê para incluí-los socialmente.

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CAVALERA

tear manual a patchworks com bordados de biscoitos de gengibre, clássico entre as guloseimas do hemisfério norte que remetia à casa feita de doces pela bruxa do enredo. O jeans e as estampas xadrez lembraram o look “lenhador”. As estampas de floresta, as peças escuras e quase sombrias, contrastavam com a feminilidade dos babados laterais nas saias ou nas golas de blusas e vestidos, que tinham ainda transparências e cinturas bem marcadas. O destaque da versão moderna de João e Maria foi para a curadoria de tecidos feita por Alberto Hiar, dono da grife, que selecionou materiais vindos de 15 países diferentes. Nada mais justo para narrar a história de um clássico mundial da literatura, que na versão do fashionista brasileiro, não teve nada de infantil.

Iódice usa tricôs produzidos por detentos


Cultura

Consciência negra feminina

TM Rio 2016.

S A LT O A LT O O U R A S T E I R I N H A ? VOU COM AS MENINAS OU COM O MARCINHO?

O mês de novembro faz alusão à morte de uma das personalidades mais notáveis da luta do movimento negro, o Zumbi dos Palmares. Entretanto, ao lado dele estava uma figura notável que é pouco abordada nas aulas de história: Dandara dos Palmares

E M E N D O N A F E S TA O U V O LT O C E D O ? PELO MENOS UMA COISA VOCÊ NÃO PRECISA DECIDIR. SÓ SEDEX É SEDEX.

Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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NOVEMBRO / 2014

A

luta negra no Brasil é diária. Além dos casos de racismo noticiados pelos veículos de comunicação, há o racismo cotidiano, que oprime e remete a um momento vergonhoso e não tão distante na história do país. Para não deixar essa questão passar em branco, foi instituído em 2011, através da Lei nº 12.519, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro. A data foi escolhida em alusão à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, morto em 1695. Mas, movimentos feministas negros têm buscado trazer à tona a figura de Dandara, esposa do líder revolucionário. “Ela foi e continua sendo importante porque é um ícone que rompe os estereótipos impostos às mulheres negras. Dandara rompeu padrões de gênero e com a lógica racista e escravocrata

brasileira, tanto por não se limitar aos ditos papéis femininos, quanto por lutar contra a escravidão de forma coerente e sem acordos que não libertassem todas as pessoas negras”, afirmou a jornalista Jarid Arraes, fundadora do movimento Feministas do Cariri (Femica) e integrante do Grupo de Mulheres Negras do Cariri. Jarid afirma que o passado não pode ser apagado e que é preciso analisa-lo para pensar o futuro. “Esquecer as consequências do racismo é uma das piores armadilhas que podemos cair enquanto sociedade. Precisamos lembrar que há pouquíssimo tempo pessoas negras eram escravizadas e precisamos discutir seriamente sobre as motivações, justificativas e pessoas que possibilitaram essa escravidão no Brasil”, explica. Para a militante e estudante de

história pela Universidade Federal da Paraíba, Elida Elena, é importante trazer a história de Dandara como ícone, para que mais mulheres negras possam sentir identificação com personalidades históricas. “Falta representantes de mulheres negras nos veículos midiáticos. Quando aparecem, estão sempre nas senzalas e nas cozinhas. Existem poucas nesses espaços na televisão brasileira e comunicação em geral”, fala. Elida comenta também a importância de Dandara no movimento negro do Brasil. “Ela é um grande exemplo da capacidade da mulher negra de romper paradigmas, algo que necessitamos enxergar até hoje. Sobretudo em nossa sociedade que reage de forma hostil às denúncias e protestos feitos pelas mulheres negras que não aceitam a retratação racista e machista da mídia e da cultura como um todo”.

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