Revista Nordeste Edição 98

Page 1

eduardo cunha

confinamento

O desafeto que incomoda o PT

Mutirões jogam luz à realidade das prisões

EXCLUSIVO

Os novos rumos do turismo no Brasil

Ministro Vinícius Lages aponta 21 prioridades para o setor Cresce investimento na atração de turistas com deficiência ou mobilidade reduzida


Combustível do carro.

ANUN DUP

Tem combustível que já nasce com o brasileiro. Os outros, a gente desenvolve aqui. Nova gasolina Petrobras Grid. Maior desempenho, máxima eficiência. Gasolina se escolhe assim.


NCIO PLO

www.petrobras.com.br

CombustĂ­vel do Erick.


ÍNDICE CAPA

8

Como o turismo pode reforçar a economia Ministro acredita que as novas políticas devem contribuir como estímulo à economia do país

16

Base governista rachada Eleição da Câmara acirra os ânimos de peemedebistas e petistas e mostra fragilidade na base aliada à Dilma

30

Nova força no Nordeste Grupo cearense compra Diários Associados e forma maior holding de comunicação da região

32

Rota de grandes investimentos Nordeste atrai empresas da construção civil que miram o mercado de luxo

CAPA

POLÍTICA

14

Oposição sem tréguas Opositores do Palácio do Planalto montam estratégia para minar o segundo mandato do governo Dilma

18

Parlamento independente Deputado Eduardo Cunha expõe sua relação com Dilma e opina sobre regulação da mídia

ECONOMIA

22

Restrições e altas expectativas Equipe econômica do Palácio anuncia ajuste financeiro. Aliados da presidente Dilma veem pacote com cautela

24

Resquícios do império Taxa que vigora no país até hoje levanta polêmica sobre sua legitimidade

34

Esperança no setor sucroalcooleiro Mudanças no percentual do etanol na gasolina ajudarão na retomada do setor que estava em crise


GERAL

39

Preso também é gente Reportagem especial acompanha os mutirões carcerários e descortina a situação dos que vivem atrás das grades

MEIO AMBIENTE

COLUNAS

64

6

Crise em SP provoca mudanças de hábitos Regiões como São Paulo estão enfrentando a falta de água nas torneiras. Alternativas para minimizar efeitos da escassez são desenvolvidas no Nordeste

TURISMO

68 Turismo para todos Cresce investimentos na atração de turistas com deficiência ou mobilidade reduzida

Método alternativo Auriculoterapia ajuda no diagnóstico e tratamento de mais de 200 patologias

38

Ipojuca Pontes

12

Plugado | Walter Santos

72

Upgrade

76 Vitrina

SAÚDE

62

Carlos Roberto

56

O mundo das ilusões Especialistas e pais discutem como a publicidade infantil pode persuadir as crianças

Dieta saudável no trabalho Nutricionistas dão dicas de como ter uma dieta mais balanceada durante o expediente

20

Digestivo

52

58

Cartas e E-mails

CULTURA

74 100 anos do doutor do baião País celebra centenário de Humberto Teixeira, compositor de clássicos da música popular brasileira

78

Um alento na recuperação de Shaolin Humorista vem se recuperando do acidente que o deixou em coma em 2011


NORDESTE revistanordeste.com.br

Ano 9 | Número 98 | Janeiro | 2015 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Repórteres Grazielle Uchôa, Isadora Lira e Umberlândia Cabral Editoria de Arte e Tratamento de imagem Danielle Trinta e Felipe Headley Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

JANEIRO / 2015

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

6

A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

EDITORIAL Reforço em boa hora O turismo é uma atividade econômica relevante em qualquer parte do mundo. Em um país continental como o Brasil, que tem inúmeros atrativos culturais, naturais, empresariais, etc., o setor ganha ainda mais importância. Apesar disso, por muitos anos os potenciais turísticos do país não foram explorados tanto quanto poderiam. Em 2003, com a criação do Ministério do Turismo, que antes fazia parte da pasta dos Esportes, o cenário passou a mudar. O Brasil recebeu os jogos Pan-Americanos em 2007, a Copa do Mundo em 2014 e se prepara para receber as Olimpíadas de 2016. Esses eventos marcam uma guinada no turismo brasileiro e demandam do Governo Federal a elaboração de um plano estratégico moderno e inovador. Nesta edição, a revista NORDESTE traz entrevista com o ministro do Turismo, Vinícius Lages, que revela as 21 metas que serão executadas pela pasta em coordenação com outros ministérios em 2015 e fazem parte do Plano Nacional de Qualificação do Turismo, que será lançado este ano. O ministro revela que os dados do setor demonstram que, apesar da conjuntura internacional, o turismo continua crescendo no Brasil e o cenário pode beneficiar o país em várias frentes, especialmente no que diz respeito ao estímulo econômico. Em tempos de recessão, as palavras do ministro soam como música aos ouvidos. Outra reportagem sobre o setor mostra como estão crescendo os investimentos na atração de turis-

tas com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida. Apesar de incipiente, as mudanças já trazem resultados importantes. Em cidades como Ipojuca, no litoral Sul de Pernambuco, o setor público criou um projeto que vem chamando atenção. O “Praia sem Barreiras” deu oportunidade a muitas pessoas desfrutarem do turismo local e foi eleito uma das 11 iniciativas inovadoras pelo Ministério do Turismo. A edição traz ainda matéria especial sobre os mutirões carcerários, que têm descortinado a precária situação das prisões brasileiras. No estado da Paraíba, a ação tem demonstrado eficácia e servido de modelo para demais regiões, ao tratar do assunto de forma efetiva. A reportagem esteve em algumas unidades carcerárias paraibanas e acompanhou o trabalho da juíza Lilian Cananéa, que começou em 2009, antes mesmo da criação oficial dos mutirões nacionais, instituídos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No estado paraibano, a atividade tem acontecido de forma sistemática por meio de audiências com a presença de uma equipe formada por juiz, defensor público e técnico judiciário, onde cada preso é ouvido individualmente e os casos são solucionados na hora. Boa leitura!

Rivânia Queiroz

editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br


CARTAS E E-MAILS “Para nós que estamos ocupados com as novidades da mídia, é sempre surpreendente identificarmos poucas produções do mercado editorial com o nível da Revista NORDESTE. As últimas edições apontam para esta constatação de mercado” Jornalista Franz Vacek Superintendente de Jornalismo e Esporte da REDETV | São Paulo – SP

O tom editorial de cobertura e defesa de grandes temas e assuntos do Nordeste tem gerado a compreensão de que já dispomos de um veículo de comunicação comprometido com nossas causas”

Estamos chegando de Tampa, nos Estados Unidos, e percebemos que, em Recife, muitas pessoas estão comentando sobre o acompanhamento da Revista NORDESTE quanto aos temas de impacto da sociedade”

Romildo Montenegro Médico João Pessoa – PB

Nelcy Campos Empresário Recife – PE

A Bahia precisa estar mais presente nas futuras edições da revista por ter um papel preponderante na economia, política e cultura da região, algo que já acontece. Queremos ver os espaços ampliados”

Para quem atua no mercado editorial é sempre bom identificar ações qualificadas como vem produzindo há anos a NORDESTE de forma pioneira”

NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

Thamile Aciolly Executiva da Ediouro Rio de Janeiro – RJ

REVISTA NORDESTE N.º 97 Gostaria de registrar meu contentamento com o nível da abordagem e da edição de nossa entrevista principal da Revista NORDESTE (Ed 97). Agradeço ao mesmo tempo em que parabenizo”

JANEIRO / 2015

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação.

Gustavo Nogueira Secretário de Planejamento do Governo do Rio Grande do Norte | Natal – RN

Professor Antonio Delfim Netto São Paulo – SP 7

Professor Penildon Silva Filho Pró-Reitor de Ensino de Graduação da UFBA | Salvador - BA

Como já fui presidente do Conselho Nacional de Secretários de Planejamento e, desde então, acompanho a revista, posso atestar que as últimas edições, sobretudo a anterior sobre a reunião dos governadores do Nordeste, mostram a importância de termos uma publicação com esse perfil”


Capa

Como o turismo pode reforçar a economia

O

Ministro Vinícius Lages está convencido de que as novas políticas do setor devem contribuir como um estímulo à economia do país, sobretudo nessa fase em que se fala em recessão. Em entrevista à Revista NORDESTE, Lages revela as 21 metas que serão executadas este ano e compara os números do turismo brasileiro com anos anteriores. Ele também faz projeções positivas para as Olimpíadas de 2016

Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

NORDESTE: O ano começa com a retomada de projetos, alguns iniciados no ano passado. O que o senhor identifica como pilares fundamentais do Ministério do Turismo para 2015? Vinícius Lages: Este ano será de muitas oportunidades para o setor do turismo. Uma de nossas prioridades é dar continuidade aos investimentos em infraestrutura turística, feitos pelo próprio Ministério do Turismo, e atuar de forma conjunta com outros ministérios que têm investimentos que podem nos favorecer, como a Secretaria de Aviação Civil, por meio dos investimentos no Programa de Aviação Regional, ou a Secretaria Especial de Portos, com os investimentos na área portuária que podem contribuir de maneira decisiva com o turismo náutico.

Vinícius Lages


Vamos estabelecer parcerias com outras áreas do governo que possam beneficiar o turismo no Brasil” NORDESTE: Levando em conta o tamanho do Governo, não seria recomendável ampliar a interface com outras áreas? Vinícius: Também vamos estabelecer parcerias com outras áreas do governo que possam beneficiar o turismo no Brasil. Por exemplo, com o Ministério da Agricultura podemos atrair o turista por meio dos alimentos brasileiros que são exportados. Apesar de sermos grandes produtores de commodities agrícolas, não temos a mesma expressão ainda no tema gastronomia, a exemplo de outros países; com o Ministério da Pesca podemos incentivar a prática da pesca esportiva, que atrai muitos turistas e mesmo a grande diversidade de peixes tropicais Fotos: Glauber Queiroz - MTur

também como parte de nossa oferta gastronômica. Com o MEC vamos trabalhar no nosso plano de qualificação do setor. Com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação temos entendimentos voltados para a inserção do turismo na agenda de inovação do país. Estes são apenas alguns exemplos. NORDESTE: O Brasil foi palco da Copa do Mundo em 2014 e receberá nos próximos anos outros eventos importantes, como as Olimpíadas de 2016. Qual o saldo para o futuro? Vinícius: Depois da Copa do Mundo temos outro grande desafio, que são os Jogos Olímpicos. Vamos trabalhar para tornar 2016 o ano Olímpico do Brasil, e que

todo o país seja beneficiado por este grande evento. Vamos ampliar nossas ações de promoção, tanto internamente como para o mercado internacional e realizar eventos relativos aos jogos em todo o país. NORDESTE: Que recomendações o senhor recebeu da presidente Dilma Rousseff para o Ministério? Vinícius: Temos investido em uma gestão ágil, moderna e inovadora, amparada nas recomendações de boa governança dos órgãos de controle. Mas, acima de tudo, o que nossa presidente nos pede sempre é muito trabalho focado nas prioridades que ampliarão e qualificarão ainda mais a oferta


são os agentes dos investimentos na ampliação da oferta de hotéis, restaurantes, atrativos turísticos, aviões, mas porque acreditamos que o desenho e o monitoramento das políticas públicas para o setor deve ter essa sintonia. O mesmo vale para os demais elos da cadeia de valor turística, como os trabalhadores e os profissionais liberais que trabalham diretamente na oferta turística. NORDESTE: Não se pode ignorar o fator econômico e, claro, sua conjuntura internacional. Em um evidente período de retração, como o senhor tem conduzido as estratégias para transformar o turismo em incremento econômico?

Estabelecemos uma nova ponte com o trade turístico, com os agentes do setor privado que efetivamente são quem produzem turismo no Brasil”

turística do país. A presidenta é uma líder que impressiona pela determinação, compromisso com a agenda de transformações do país e capacidade de trabalho. Desde o convite, e em distintas ocasiões, o diálogo tem sido sempre estimulante e motivador. NORDESTE : Como será a interlocução com o setor privado? Vinícius: Estabelecemos uma nova ponte com o trade turístico, com os agentes do setor privado que efetivamente são quem produzem turismo no Brasil. Essa escuta permanente do trade tem sido fundamental, não apenas porque

Vinícius: Um balanço preliminar da Organização Mundial do Turismo (OMT) mostrou que o número de viajantes cresceu 4,7% pelo mundo, de 2013 para 2014, índice que supera a estimativa da própria entidade. Em 2014 a movimentação de turistas internacionais ultrapassou 1,1 bilhão de pessoas. Estes dados mostram que, apesar da conjuntura internacional, o turismo continuou crescendo, e com a melhoria no cenário que já vem sendo notada, podemos nos beneficiar. Mas para isso, é necessário investirmos mais em promoção, na melhora do ambiente legal para ampliarmos os investimentos no país, e continuarmos a investir em infraestrutura. NORDESTE: Embora o Brasil tenha crescido em termos de atratividade de turistas, ainda estamos aquém de nossa potencialidade, se compararmos com países de grande força no setor. Qual a meta, em termos de números, para 2015, e que estratégias o senhor pretende adotar? Vinícius: Nos últimos anos tivemos um crescimento sustentável no setor. Uma década atrás eram 139 milhões de viagens domésticas. Números preliminares indicam que


Os dados mostram que, apesar da conjuntura internacional, o turismo continuou crescendo, e com a melhoria no cenário, podemos nos beneficiar”

o mercado interno registrou 205 milhões de deslocamentos em 2014. De janeiro a novembro, a entrada de divisas pela conta viagens foi de US$ 6,39 bi, aumento de 4,3% em relação aos US$ 6,12 bi do mesmo período de 2013. Se considerarmos o ano de criação do Ministério do Turismo, 2003, quando a receita cambial foi US$ 2,48 bi, o salto é superior a 250%. NORDESTE: O Nordeste está próximo das Américas, da Europa e da África. Como este componente geográfico e as demais atrações naturais, humanas e de perspectivas de novos negócios estão nas estratégias para transformar tudo isso em dividendos? Vinícius: Creio que a conectividade aérea deve ser encarada como Fotos: Glauber Queiroz - MTur

uma prioridade. Ou seja, ampliar o número de voos e sua frequência vai ter impactos no fluxo turístico como também baratear as passagens. Quanto mais voos, mais fácil trabalhar pacotes integrado com a região Nordeste, Sudeste e com o exterior. Também precisamos qualificar a mão de obra e os investimentos em promoção. NORDESTE : Um dos aspectos importantes para resolver a recepção dos turistas é investir na qualificação da mão de obra, ainda deficiente em alguns segmentos. Como o Ministério está investindo na capacitação? Vinícius: O Ministério do Turismo criou 21 diretrizes que vão nortear o novo Plano Nacional de Qualificação do Turismo, a ser lançado ainda em 2015. O objetivo é qualificar

trabalhadores, gestores, empresários e empreendedores que atuam nos serviços vinculados às atividades turísticas. NORDESTE: Como se traduzem as ações dentro das diretrizes na construção de nova fase das políticas do Turismo? Vinícius: As 21 diretrizes estão divididas em duas linhas de atuação: formação profissional e certificação de pessoas. A primeira linha de ação é composta por 16 diretivas para orientar o planejamento, a execução, o monitoramento e a avaliação de ações. A segunda, com cinco critérios-base, tem o propósito de orientar e atualizar os perfis profissionais. O conteúdo está à disposição dos estados e municípios para que possam adotá-las.


Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

A sangria da Petrobrás e a força do emprego no Brasil A Petrobrás, enquanto maior empresa brasileira diante de seu alto índice de faturamento, nunca viveu em toda a sua história uma campanha de desvalorização tão imensa quanto vem encarando nos últimos tempos. Cada vez mais fica evidente a ação da grande mídia em sintonia com o Capital estrangeiro para gerar depreciação e busca de terreno fértil para que empresas internacionais passem a explorar o Pré-Sal. A abordagem não ignora a necessidade de se apurar o caso “Lava Jato”, absolutamente, mas impressiona o volume e a vontade de sangrar maximamente nossa riqueza advinda da Petrobras. Em contra - ponto, mas escondida dos noticiário da Grande Mídia, a noticia de que Brasil atingiu o recorde positivo de desemprego de toda a sua história acabou escondida dos veículos de comunicação, que só pensam e focam na Petrobras. Como foi dito, o desemprego brasileiro caiu a 4,3 por cento em dezembro, ante 4,8 por cento em novembro, e igualou a mínima histórica registrada no mesmo

mês de 2013, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. Com isso, o desemprego encerrou 2014 com taxa média de 4,8 por cento, também a menor da série, contra uma taxa média de 5,4 por cento em 2013. Em dezembro de 2014, a taxa de desocupação foi estimada em 4,3%, repetindo o percentual de dezembro de 2013 e mantendo o menor nível de toda a série histórica da PME. Em novembro de 2014, a taxa fora de 4,8%. Já a taxa de desocupação média de janeiro a dezembro de 2014 foi estimada em 4,8% (a menor da série), contra 5,4% em 2013. Em relação a 2003 (12,4%), a redução chegou a 7,5 pontos percentuais. Trocando em miúdos, o Brasil vive a histórica fase de melhor aproveitamento de sua população no emprego, ao contrário das milhares de demissões em outros continentes, mas por força de interesses econômicos e políticos estes números positivos são encobertos pela Mídia diante da “sangria” da Petrobras.

Petrobras: foco de campanha depreciativa

12

JANEIRO / 2015

A dúvida de João Paulo Em Recife, são insistentes os comentários dando conta que o ex-prefeito e ex-deputado federal João Paulo está em vias de renunciar à vida pública por considerar-se já concluída a missão política a partir de Pernambuco. Ele, contudo, não confirma esta decisão. Em contato com a Coluna, disse que tudo dependerá do Partido dos Trabalhadores, embora reconheça que esteja cansado de tantas lutas. João Paulo disputou o Senado com o ex – Ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, e perdeu a eleição.


RedeTV! mira o Nordeste

Mudanças no BNB A indicação pelo Partido Progressista (PP) do Ministério da Integração Nacional tem gerado projeções de que o PP indique também, via Ministério da Fazenda, alguns diretores do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), inclusive à presidência. Ocorre que a operação não é tão simples, uma vez que o atual presidente do BNB, Nelson Souza, conceituado pelo nível do trabalho exercido, é pessoa indicada pelo governador do Piauí, Wellington Dias, por isso o desconforto do senador piauiense, Ciro Nogueira, de mexer num cargo de aliado no Estado. Mesmo assim, são continuados os comentários de ajustes na equipe.

Quando o carnaval passar, em fevereiro, o Consulado dos Estados Unidos no Nordeste estará deflagrando uma forte exposição comemorativa do Bicentenário das relações bilaterais dos EUA com o Brasil. O cônsul em Recife, Richard Reiter, considera uma oportunidade especial para renovação do relacionamento entre os dois países ampliando os negócios em diversas atividades comerciais, mas mantendo o intercâmbio no campo da educação e da cultura.

Aposta em Eduardo O deputado federal Manoel Júnior (PMDB-PB), da equipe de frente da candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara Federal, gerou tamanha convicção da vitória do parlamentar carioca que chegou a apostar muitos dias antes do pleito todos os seus vencimentos com quem quisesse. Mesmo com o anúncio da aposta, não apareceu competidor. Caso Eduardo ganhe, Manoel deve ser cotado para liderança do PMDB.

Sesquicentenário de Epitácio Pessoa

O ano de 2015 chega assinalando uma data especial no calendário dos Poderes constituídos do Brasil porque marca o sesquicentenário do paraibano Epitácio Pessoa, único brasileiro a ter conseguido ser Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional – façanha esta nunca conseguida por outro homem público. Epitácio Pessoa notabilizou-se pelo conhecimento jurídico, mas também foi responsável pela implementação do rádio no país, mesmo diante da resistência da elite carioca e paulista.

JANEIRO / 2015

Relações dos EUA com Brasil

13

Já são incontáveis as reuniões existentes em cidades diferentes do Nordeste envolvendo diretores da RedeTV! com representantes de emissoras para consolidar em breve um telejornal diário envolvendo assuntos dos nove estados. A RedeTV! entende que há um potencial enorme na região, sobretudo com o desempenho da economia nordestina nos últimos tempos e, ainda, a força política exercida nos últimos anos na definição dos rumos do Brasil.


Política

Oposição sem tréguas O clima hostil entre governo e oposição se mantém após o pleito eleitoral. Coordenar a relação do Planalto com setores da oposição no Congresso deverá ser um dos maiores desafios de Dilma Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

14

JANEIRO / 2015

A

disputa acirrada e agressiva das últimas eleições presidenciais prenunciava que quem quer que fosse eleito enfrentaria uma oposição predadora, pronta para desconstruir a imagem do Palácio do Planalto e esvaziar suas decisões. O primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff mal começou e seus opositores já deixam evidente a disposição em ir adiante com a animosidade da disputa eleitoral. A estratégia é valer-se de cada parte possível da máquina do Estado e do conjunto das instituições políticas, inclusive a

mídia, para neutralizar as ações de Dilma e impedir a formação de um governo capaz de dar continuidade aos avanços conquistados e enfrentar as dificuldades impostas nos últimos anos. O deputado Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara, uma das legendas oposicionistas, declarou no primeiro dia de 2015 que a oposição não daria trégua ao governo Dilma. “A oposição não abrirá mão de suas prerrogativas constitucionais e vai agir para que a presidente Dilma governe menos com medidas provisórias e debata mais com

o Congresso as grandes questões nacionais, como as mudanças na economia e o combate mais efetivo à corrupção no Estado brasileiro”, afirmou Bueno. Para o deputado, o novo mandato de Dilma enfrentará “enormes dificuldades” pelas escolhas feitas para a composição dos 39 ministérios. Em sua avaliação, as indicações não foram adequadas para o enfrentamento do escândalo de corrupção na Petrobras e o baixo crescimento econômico. “O governo pode esperar do PPS a mais firme e decidida oposição em favor do Brasil neste segundo mandato da presidente Dilma”, avisou. Próprias do regime democrático, as posições divergentes são benéficas até o ponto em que chegam a estabelecer uma agenda negativa, que tem por objetivo paralisar a presidência e impedir o governo de agir. Em uma conjuntura de recessão, a oposição investe na degradação do ambiente político a fim de criar uma crise que inviabilize o exercício do governo. Tanto é que os murmúrios de impeachment ainda podem ser ouvidos no Congresso.


Comando da Câmara preocupa

A composição dos gabinetes na Câmara e no Senado aponta para a definição da estratégia da oposição. Expoentes do PSDB como Aécio Neves, José Serra, Tasso Jereissati e Antônio Anastasia se articulam para trazer técnicos com experiência de governo e capacidade para usar dados contra o governo atual. Presidente do PSDB, Aécio estende a tática para o partido, compondo um time de consultores, assim como fez durante o período eleitoral. A ideia é criar grupos de investigação em áreas como economia, políticas sociais e política externa para fornecer elementos que enriqueçam o discurso da oposição. A lista de consultores e analistas envolve os nomes de ex-ministros do Supremo, ex-secretários de governos estaduais e consultores de grandes empresas. Também há consultorias de grupos com interesses contrários às políticas do atual governo que pretendem entregar seus números e análises para serem empregados pela oposição.

O método da oposição é unificar discursos, produzir manchetes e artigos de opinião, discursos no Plenário do Congresso e até “memes” nas redes sociais. Seminários, debates e conferências, livros e blogs de opinião e noticiosos, entre outras iniciativas, estão no pacote estratégico que tem um objetivo único: replicar opiniões contrárias ao governo Dilma, aos partidos que a apoiam, ao ex-presidente Lula e à esquerda. Além disso, como parte dos esforços para atingir o Planalto, a oposição pretende criar um “mutirão” de CPIs contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Além de uma nova comissão para investigar irregularidades da Petrobras, as legendas oposicionistas tentam abrir outras para apurar operações do BNDES e a situação do setor elétrico. Os requerimentos devem começar a circular nos corredores do Legislativo na primeira semana de fevereiro.

15

JANEIRO / 2015

A eleição para a presidência da Câmara Federal vem preocupando de tal modo os petistas que o favoritismo de Eduardo Cunha (PMDB) na disputa levou Arlindo Chinaglia, candidato do PT, a se reunir com a cúpula do PSDB, principal rival político do seu partido, para discutir um possível apoio à sua candidatura no segundo turno, já que na primeira etapa os tucanos confirmaram a aliança com o PSB do deputado Julio Delgado. A possibilidade de vitória do peemedebista Eduardo Cunha é sinal de turbulência para o Governo Federal, que poderá ver o poder da bancada aliada – mas não alinhada – crescer ainda mais no Congresso. Além disso, a vitória de Cunha não resultaria apenas na escolha da mesa diretora, mas também na indicação dos presidentes das comissões técnicas, pelas quais passam projetos de interesse do governo.

Estratégia para reforçar artilharia

Foto: Agência Brasil


Política

Base governista rachada Campanha pelo comando da Câmara tem clima acirrado e troca de acusações entre PMDB e PT, numa demonstração do abismo que existe entre os dois principais partidos da base do governo Dilma

Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

16

JANEIRO / 2015

N

o dia 1º de fevereiro, os deputados federais eleitos no último mês de outubro estarão em meio a uma ferrenha disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Quatro nomes concorrem à vaga: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Julio Delgado (PSB-MG) e Chico Alencar (PSOL-RJ). Oficialmente o governo afirma não interferir na disputa, mas nos bastidores o Planalto trabalha pela candidatura de Chinaglia, opção petista ao nome de Eduardo Cunha, que rompe com acordo de revezamento feito entre as legendas desde 2006 e tem posições contrárias ao governo, além de ser considerado desafeto pessoal da presidente. Terceira via, o pessebista Julio Delgado enfrenta a disputa com o apoio do PSDB e Chico Alencar corre por fora ao anunciar sua candidatura nove dias antes das eleições. Mas é entre Cunha e Chinaglia que a atenção do Congresso estará voltada. Favorito até então, o líder do PMDB na Câmara parece intimidar o Planalto. Ao fim das eleições presidenciais, ele mandou o recado ao dizer que sua bancada não seria “aliada automática” do governo.

A disputa recebe atenção do Executivo, já que o encolhimento da bancada do PT nas últimas eleições e a fragmentação da Casa em 28 partidos requer a recomposição da base de sustentação do governo, que tenta formar uma maioria de deputados para garantir força na aprovação de pautas do seu interesse, como é o caso da Reforma Política, uma das principais promessas de campanha de Dilma Rousseff. Para o cientista político Jaldes Meneses, Eduardo Cunha representa uma ameaça aos interesses da presidente Dilma, já que, embora tenha moderado recentemente suas investidas contra o governo, cresceu politicamente na Câmara Federal ao representar os interesses do chamado “baixo clero”, os lobbies econômicos e as “bancadas temáticas” (ruralistas, da saúde, do petróleo, entre outras.). “Nos últimos dias de campanha, Cunha tem dito que apoiará a ‘pauta de governabilidade’ (ou seja, deve apoiar o ajuste fiscal), mas será radicalmente contra a ‘pauta ideológica’ (em temas como a regulação da mídia, por exemplo). Isso já dá uma ideia de como será o comportamento dele caso eleito presidente”, acrescenta Jaldes ao analisar como o deputado deverá agir com a força que

obteve no Parlamento. À Revista NORDESTE, Eduardo Cunha diz que sua candidatura representa o desejo de um Congresso independente. O peemedebista cita a votação do orçamento impositivo e do decreto legislativo que revoga o decreto da Presidência da República sobre os conselhos populares como atitudes independentes do Parlamento na gestão do atual presidente Henrique Alves (PMDB-RN). “Esses momentos institucionais foram ganhos para a Câmara. Quando o PT esteve no comando não houve esses ganhos”, afirma o deputado.

“Cunha tem dito que apoiará a ‘pauta de governabilidade’, mas será radicalmente contra a “pauta ideológica” Jaldes Meneses


A eleição vai definir os espaços que os partidos ocuparão em 2015 e acende o sinal de alerta para o Executivo

Resistente ao nome de Eduardo Cunha, o PT lançou Arlindo Chinaglia, ex-presidente da Casa e ex-líder do governo para concorrer à presidência da Câmara. A decisão, no entanto, não foi unânime. Parte da bancada preferia o apoio a Eduardo Cunha. Para o cientista político Jaldes Meneses, a vitória de Chinaglia seria difícil, porque há uma motivação do PMDB em derrotar o PT na coordenação da dispersão política de bancadas parlamentares. “Ainda mais porque o PMDB tornou-se um Foto: Agência Brasil | Câmara dos Deputados

JANEIRO / 2015

Arlindo Chinaglia

partido desconfiado desde que o governo Dilma, no primeiro mandado, estimulou a criação do PSD de Gilberto Kassab e agora acena simpático à criação do PL”, lembra. Apesar disso, Jaldes acredita que o cenário disperso de quatro candidaturas pode favorecer as possibilidades de Chinaglia em um eventual segundo turno, na hipótese difícil mas possível, de Delgado apoiar a candidatura do petista em torno de um programa comum de governança do Congresso. À frente da campanha de Arlindo Chinaglia, o deputado federal Sibá Machado (PT-AC) não pensa ser tão difícil o apoio. Cotado como líder do governo na Câmara a partir de fevereiro, Sibá diz que é possível concretizar o apoio do PSB na disputa e que seu partido tem empreendido esforços para conquistar a aliança. “A bancada geralmente se divide, mas nos vamos conquistando o máximo de deputados possível. Queremos buscar um apoio significativo, se coeso ainda melhor”, afirma.

Arlindo Chinaglia chegou a anunciar o apoio do deputado Julio Delgado em um possível segundo turno, no entanto, o socialista negou a informação logo depois. Delgado se coloca como alternativa à alternância de poder entre o PT de Dilma Roussef e o PMDB do vice-presidente Michel Temer. “Os meus dois concorrentes integram a base do Governo. Os dois partidos têm ministros e cargos no Executivo. Os dois dizem que terão uma atuação independente do governo. Ora, como falar em independência se os seus partidos dão sustentação ao governo? Se a palavra independência ganhou outro significado, tenho dito que sou o candidato que vai fazer diferente”, afirma o deputado.

Julio Delgado, deputado 17

A esperança petista

Terceira via da Casa


Política NORDESTE: E o congresso não é independente? Eduardo Cunha: Não é que o Congresso não seja independente. Ele pode ter postura, porque ter independência não é só dizer “eu sou independente”, tem que ter postura de respeito. A gente tem atitude. Diria hoje que na presidência do Henrique (Eduardo Alves, PMDB-RN, atual presidente da Câmara) nós temos um tipo de independência muito forte. Quando Henrique pôs na votação o Orçamento, isso foi uma atitude independente; quando pôs para votar o decreto legislativo que revoga o decreto da presidência da República dos conceitos populares, também foi uma atitude independente. Os momentos institucionais que tiveram ganhos para o Parlamento, aconteceram com o PMDB no comando, não quando o PT estava na direção.

18

JANEIRO / 2015

Parlamento independente Em meio à disputa pela presidência da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDBRJ) fala à Revista NORDESTE e nega Impeachment de Dilma Rousseff

Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

N

ordeste: Além do PMDB, o que representa a sua candidatura à presidência da Câmara? É uma alternativa de independência do legislativo? Eduardo Cunha: Acho que a gente representa a vontade que o parlamento tem de ser independente, de cumprir a constituição, onde os poderes são independentes e harmônicos. Nada mais do que isso.

NORDESTE: O senhor tem uma posição crítica em relação ao governo. Caso seja eleito, como será a sua convivência com a presidente da República? Eduardo Cunha: Em primeiro lugar, a minha posição é clara. Eu sigo o PMDB. O meu partido fez parte da base do governo e ajuda a governabilidade, isso é um apoio. Outra coisa são as matérias nas quais existem conteúdos programáticos ideológicos que nós não concordamos. Em relação à Presidência da República, eu serei institucionalmente cumpridor daquilo que diz a Constituição e pessoalmente correto e leal com a governabilidade. Mas pessoalmente não serei submisso a qualquer poder, seja o Executivo ou Legislativo. NORDESTE: O judiciário volta e meia tem votado matérias que interferem no status quo de ação do legislativo. Como o senhor encara essas questões de decisões do poder Judiciário em consequência com as do Legislativo? Eduardo Cunha: A própria constituição diz que os poderes devem ser independentes e harmônicos. Eu falei antes que nós não temos que ser submissos ao governo. Além do poder Executivo, nós não podemos ser submissos ao poder Judiciário. Se o Judiciário eventualmente invadir as competências de poder Legislativo, legislando em


NORDESTE: Quais são os pontos que o senhor vai propor em sintonia com a ação popular? Como o senhor interpreta o que a sociedade quer? Eduardo Cunha: Nós somos representantes da sociedade em vários níveis. São 503 parlamentares eleitos por essa representação. Quando a gente viaja 27 estados, buscando entender seus problemas, debater não só o poder constituído como a sociedade organizada, a gente busca oferecer o que está acontecendo. Então todo esse conjunto de fatores leva a que você possa propor uma pauta que venha de encontro ao que a sociedade quer ou que precisa.

“Eu sigo o PMDB. O meu partido fez parte da base do governo e ajuda a governabilidade, isso é um apoio” Foto: Divulgação

NORDESTE: O senhor é anti-PT? Eduardo Cunha: Não sou anti-PT, não sou “antininguém”. Eu sou a favor do Parlamento. NORDESTE: Dentro de uma postura crítica e firme o senhor tem tido coragem de contestar, de se posicionar contra muitas posições do governo do PT. Eduardo Cunha: Eu contesto duas coisas. A primeira é a tentativa de obter hegemonia. Nós não entendemos que um partido que não é majoritário possa obter a hegemonia política. Em segundo lugar, a gente combate a tentativa de impor programas ideológicos que a gente não concorda, como a regulação de mídia. Não é questão de ser anti-PT, nós temos convergências e temos divergências com qualquer uma das legendas que conhecemos. No caso do PT, as

minhas duas grandes divergências são essas: não concordar com a busca da hegemonia e com pautas de natureza ideológica, que não têm nada a ver com a governabilidade. NORDESTE: A presidente Dilma corre risco de Impeachment? Eduardo Cunha: No que depender de mim, nunca.

“Serei institucionalmente cumpridor daquilo que diz a Constituição e pessoalmente correto e leal com a governabilidade”

JANEIRO / 2015

NORDESTE: Alguns dos temas mais relevantes para o futuro são a Reforma Política e a regulação da mídia. Como o senhor encara essas duas questões? Eduardo Cunha: A Reforma Política proposta vai ser apreciada em votação porque ela é a decisão da maioria. Em relação à regulação da mídia, não há qualquer projeto nesse sentido, mas adianto que sou prontamente contrário a qualquer tipo de regulação, seja de natureza de conteúdo ou de natureza econômica. Da minha parte, como presidente da Câmara, não prosperará qualquer projeto que trate de regulação da mídia.

NORDESTE: O que o senhor acha que a sociedade precisa? Eduardo Cunha: A sociedade precisa de garantia de bons serviços públicos, de garantia de saúde e educação correta. Ou seja, de um conjunto, que passa também pelo combate à corrupção.

19

substituição ao parlamento, o parlamento tem que reagir. Mas o Judiciário também tem o seu papel constitucional que é o de vetar a execução da lei. Isso ele precisa cumprir.


Opinião

Dilma não pode usar pau de selfie

D

ilma não pode usar o selfie stick, a sensação do momento e objeto de consumo de milhões de antenados. Ela e os brasileiros, eleitores seus ou não, estão preocupados com as medidas tomadas pela equipe econômica liderada por Joaquim Levy, um Chicago Boy defensor da prevalência das contas públicas sobre as demandas sociais. Dilma anda sumida, arredia, demonstrando sofrer o impacto das ações impopulares, acrescidas de turbulências políticas e de apagões. Sem computar o noticiário persistente sobre o petrolão, assunto alimentado, com notável competência, pela oposição midiática. Os que nela votaram e enfrentaram uma dura batalha eleitoral, onde a baixaria foi a tônica dominante, mostram-se confusos e até perplexos, diante de uma inesperada e estranha decisão de convocar tucanos para “colocar o país nos eixos”. O pau de selfie, listado pela revista Time como uma das melhores invenções de 2014, protagoniza chacotas, piadas, mas permanece como o gadget mais falado e usado por inflar egos, exibir vaidades e expor – em versão crítica - a necessidade, de quem o usa, sentir-se querido, admirado e merecedor de atenção. Tudo o que orienta a vida de um político e que, no momento, não combina com o relacionamento da presidenta com os governados. Todas as propostas apresentadas, na campanha eleitoral, por Aécio Neves e duramente combatidas pela então candidata Dilma, são exatamente as que Joaquim Levy e assessores têm anunciado. Tiradas, dia a dia, de um saco de maldades que torna difícil acreditar que o PT foi o vitorioso no último pleito presidencial. O ministro, recentemente elogiado em Davos pelo FMI (lembram-se dele?), não tem regateado esforços para atingir, primacialmente, os que vivem de trabalho e salário. Aumenta impostos, eleva juros, reduz gastos com a educação e a saúde, faz restrições a direitos trabalhistas e admite que a inflação subirá neste ano de 2015. Achando pouco, anuncia que o país vai entrar em recessão, reforçando a cantilena da oposição midiática que, há mais de dois anos, vem disseminando um clima pessimista no Brasil. Vozes petistas já se levantam contra a tucanização da economia ou, em outras palavras, a adoção da ortodoxia econômica.

Gilberto Carvalho, ex- secretário da Presidência, conhecido como o olheiro de Lula no Planalto; Marta Suplicy, senadora que deixou o Ministério dos Esportes atirando; José Dirceu que condenou a política econômica do Dilma 2.0; e , mais recentemente, o próprio Lula; todos pregando uma reformulação no PT e, ao mesmo tempo, mostrando-se incomodados com um ministério em que pontificam figuras como Kátia Abreu, Gilberto Kassab, Armando Monteiro e George Hilton. Uma equipe de auxiliares cuja composição só se entende como uma tentativa conquistar as Presidências da Câmara Federal e do Senado, condição importante no enfrentamento de chantagens e de impeachment. Há quem veja na movimentação de Dilma, neste início de segundo mandato, uma jogada para esquecer o sufoco da campanha eleitoral, inibir o discurso de Aécio, agradar o mercado e conseguir amenizar a violência e a virulência da grande imprensa. Alvo de críticas acres e abertas de seus partidários, a única saída da presidenta, para ter uma ação coerente, parece ser esperar que os efeitos do tsunami, previsto por Levy para dois anos de duração, agridam a sua paciência e a levem a redirecionar o governo para o horizonte que desenhou nos palanques eleitorais. Ao convocar tucanos e assemelhados para integrarem o seu governo e aceitar, sem aparente resistência, as medidas por eles sugeridas, Dilma pôs numa verdadeira saia justa, aqueles que lhe deram o voto. Estes, para escaparem das ironias e das gozações, estão recorrendo a tiradas de humor negro. Uma delas afirma que Dilma assim agiu para mostrar quanto o Brasil sofreria, se a maioria dos brasileiros tivesse dado a vitória a Aécio. JE SUIS CHARLIE, UMA OVA! Desrespeitar, zombar, agredir e fazer chacota com figuras como Deus (Alá), Jesus, Maria e Maomé não pode, nem deve ser entendido como liberdade de expressão. É, na realidade, licenciosidade de expressão. A França protesta, em escala de milhões de pessoas, contra a violência saída do cano de uma arma de fogo, mas ignora aquela que sai da ponta de uma caneta. O lema – Liberdade, Fraternidade, Igualdade – que o país adota desde a Revolução Francesa, deve valer para todos os que habitam o seu território, inclusive os muçulmanos.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

Vozes petistas já se levantam contra a tucanização da economia ou, em outras palavras, a adoção da ortodoxia econômica


Melhorar os

resultados dos seus negócios está nos seus planos? Dê um Sebrae nos seus planos. Dê um Sebrae nos seus resultados.

Quem tem seu próprio negócio e quer melhores resultados tem um bom motivo para procurar o Sebrae. E quem tem planos de abrir sua empresa também. É sempre bom contar com especialistas na hora de empreender, inovar e crescer.

Procure o Sebrae, especialistas em pequenos negócios. 0800 570 0800 – www.sebrae.com.br #tanosmeusplanos


Economia

Restrições e altas expectativas Ajustes anunciados pela equipe econômica da presidente Dilma são vistos com cautela por partidos aliados, correligionários e entidades de classe Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

22

JANEIRO / 2015

D

esde quando deu posse ao conjunto de ministros de Estado, a presidente da República, Dilma Rousseff, convive com uma série de ajustes. Os novos auxiliares da petista têm anunciado medidas restritivas: o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF); a volta da Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que regula o preço dos combustíveis; e o aumento do PIS/ Cofins sobre a gasolina. É bom lembrar que no fim do ano passado, o governo federal também mudou as regras de benefícios previdenciários como a pensão por morte e o seguro-desemprego, que ganharam critérios mais rigorosos. Setores aliados e mesmo do próprio Partido dos Trabalhadores, bem

como entidades de classes andam resistentes ao pacote. Um exemplo é a reação dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que paralisaram as atividades e forçaram a Volkswagen desfazer a demissão de 800 dos 12 mil empregados. A reação não para diante de previsões feitas pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que os primeiros meses do ano tendem a apresentar um cenário de restrições próximas da recessão econômica, condição esta que tem produzido reações negativas nos setores ligados aos trabalhadores. O ministro do Desenvolvimento Econômico, Armando Monteiro Neto, chegou a criticar a possibilidade de retração na indústria com o aumento nas

taxas de juros, dos serviços e impostos. O líder do PT no Senado, Humberto Costa, saiu na defesa do governo ao garantir que os ajustes são temporários. Durante o seminário sobre conjuntura econômica realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que aconteceu no Sertão de Pernambuco, o petista avaliou que “o pacote garante o equilíbrio econômico e não afeta os programas sociais do governo”. Para ele, é normal que em um cenário de dificuldade mundial aconteçam ajustes. “Mas tenho certeza de que são medidas temporárias e que vamos avançar neste novo governo”, afirmou o senador. Os ajustes fiscais já feitos pelo governo estão estimados em R$ 45,8 bilhões.


Inflação próxima dos 7%

*Dados em porcentagem

6,99

2015

6,67

2014

7,60

2004

*

*

*

Foto: EBC

As seis maiores centrais sindicais do país já se articulam para promover manifestação e pedir a revogação das medidas provisórias (MP) 664 e 665, anunciadas no fim do ano passado. Eles alegam que as medidas alteram regras sobre pensão, auxílio-doença e seguro-desemprego.

“Tivemos com o governo em algumas ocasiões onde nos foi dito que os trabalhadores não teriam nenhuma surpresa, tampouco haveria mudanças em seus direitos. ” Francisco Pereira de Souza

Os representantes das centrais ameaçam protestos em frente ao Ministério da Fazenda e da Petrobras e querem entregar um documento expressando a insatisfação dos trabalhadores. Francisco Pereira de Souza, um dos dirigentes da Organização de Políticas Sindicais da União Geral dos Trabalhadores (UGT), afirma que a ideia é discutir a defesa dos direitos e o emprego dos trabalhadores por entenderem que as medidas provocam prejuízos importantes para a sociedade. “Nossa mobilização também se dá em função de certo descontentamento. Estivemos com o governo em algumas ocasiões onde nos foi dito que os trabalhadores não teriam nenhuma surpresa, tampouco haveria mudanças em seus direitos. Mas fomos surpreendidos. Não concordamos com as medidas provisórias nem com a forma como foram divulgadas. Vamos propor que o governo reveja o pacote anunciado”, comenta o sindicalista.

JANEIRO / 2015

Dados do IPCA

Centrais sindicais se mobilizam

23

Diante do cenário econômico, a partir do anúncio de aumento dos impostos e de serviços básicos, a projeção para a inflação no ano de 2015 passou a ser de elevação, chegando à casa dos 6,99%, subindo um pouco mais em face dos prognósticos anteriores terem sido de 6,67%. Dados revelados pela Focus do Banco Central, divulgados na primeira quinzena, apontam a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em 2015, que foi elevada pela quarta semana seguida a 6,99%, contra 6,67% anteriormente. A última vez que a inflação oficial brasileira ficou acima de 7% foi em 2004, quando o IPCA subiu 7,60%. A meta oficial é de 4,5%, com margem de 2 pontos percentuais. Com base no acompanhamento de dados, a revisão da projeção no Focus aconteceu depois que o governo anunciou pacote de aumento de impostos, com destaque para tributos sobre combustíveis, como parte da investida do governo para colocar as contas públicas em ordem.


Economia

24

JANEIRO / 2015

Resquícios do Império Taxa cobrada desde 1831 para ocupação de terrenos de marinha vigora até hoje e incita discussões sobre sua legitimidade. Além da União, herdeiros da família real e a Igreja Católica também arrecadam a receita do laudêmio


Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

Foto: Divulgação

“Eu fui informado de que se tratava de um terreno de marinha, mas não imaginei que fosse me custar tanto. Tive que correr atrás dessa quantia exorbitante rapidamente” Edmilson Cunha

JANEIRO / 2015

não ser mais plausível. “Ela não mais emerge como algo que realmente se justifique, quer pela mudança dos tempos e as atuais tecnologias bélicas, quer pelos demais meios administrativos postos à disposição do Estado em casos de necessidade de ingerência sobre o patrimônio particular em situações críticas de segurança”, afirma Gilberto, que também é professor da faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (SP). O laudêmio corresponde a 2,5% do imóvel entre particulares. No caso dos terrenos pertencentes à União, o regime jurídico estabelece o aumento da taxa para 5%. De acordo com a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão responsável pelas demarcações dos terrenos e pela arrecadação das taxas, até novembro de 2014, 561.512 imóveis pertenciam à União no Brasil, sendo 466.832 deles terrenos de marinha. O Nordeste representa quase metade desse número, com 230.518 imóveis, sendo 195.627 deles terrenos de marinha. De janeiro a novembro 2014, a SPU teve arrecadação nacional de R$ 270.239.801,44 reais com o Laudêmio. Os imóveis ativos no Nordeste representam 45% dessa quantia.

25

F

oi ainda no primeiro ano de Dom João VI no Rio de Janeiro, quando transferiu a corte portuguesa para o Brasil, que o Imperador instituiu o laudêmio que, ao contrário do que se pensa, não é um imposto. Trata-se de uma taxa a ser paga à União em transações com escritura definitiva de compra e venda de terrenos de marinha, cujo conceito foi definido por decreto imperial ainda no século XIX e atualizado em 1946. A taxa ainda é desconhecida por muitas pessoas. Mas especialmente após a temporada de férias de verão, quando aumenta o interesse pela compra de imóveis litorâneos, é que o laudêmio passa a ser observado e também questionado. O representante comercial pernambucano Edmilson Cunha (49) mora em João Pessoa (PB) há 20 anos. Ele decidiu comprar um apartamento para passar os finais de semana em sua cidade natal, Recife. Mas ao adquirir o imóvel no bairro de Boa Viagem, se surpreendeu: ao término da construção, precisou desembolsar R$16.500 referentes à taxa. “Eu fui informado de que se tratava de um terreno de marinha, mas não imaginei que fosse me custar tanto. Tive que correr atrás dessa quantia exorbitante rapidamente”, lembra. De acordo com o Decreto-Lei nº 9.760/1946, são terrenos de marinha aqueles identificados a partir da média das marés altas do ano de 1831. “Traçou-se uma linha imaginária horizontal cortando a costa brasileira. A partir dessa linha (preamar-médio), todo terreno que estiver a 33 metros dela, no sentido do litoral brasileiro (terra) será considerado de marinha, portanto, da União”, explica o especialista em Direito Civil, Gilberto Maistro Júnior. Ele esclarece que essa medida foi tomada como instrumento de defesa nacional, já que a invasão pelos mares costumava ser o principal formato bélico dos séculos passados, mas acredita


quem é beneficiado? A cobrança do laudêmio está envolvida em discussões sobre o destino das receitas arrecadadas que precisam ser melhor esclarecidas. Muitos acreditam que a taxa é direcionada à antiga família real, à Marinha ou à Igreja Católica, o que não é verdade. No caso dos terrenos de marinha e seus acrescidos, o laudêmio arrecadado tem como destino os cofres da União. O advogado Rodrigo Marcos Antonio Rodrigues, autor do livro “Curso de Terrenos de Marinha e seus acrescidos”, esclarece que é importante prestar atenção na preposição “de”. Ou seja, os terrenos de marinha não são terrenos da Marinha do Brasil, portanto não são destinados aos seus cofres. Segundo Gilberto Maistro Júnior, os herdeiros da família real e da igreja católica podem ter um contrato de aforamento e receber as taxas devidas quando da transferência de imóveis de sua propriedade, estabelecida desde o tempo da coroa. Mas, isso não ocorre quando se trata dos terrenos de marinha. “Muitas dessas terras foram transferidas à igreja pela coroa portuguesa

à época da colonização, a fim de dar a elas caráter produtivo e contribuir para o fomento dos costumes e das atividades religiosas. O mesmo ocorre com relação aos herdeiros de Dom Pedro II, não há participação da família imperial brasileira no recebimento de qualquer quantia paga à União, fruto de aforamento. Eles recebem com relação aos imóveis nas relações em que são proprietários diretos. Nesse caso, a quantia é paga à Companhia Imperial de Petrópolis”, elucida. Rodrigo Marcos lembra que esses contratos são regidos pelo Código Civil Brasileiro, em vigor desde 2003, o qual proibiu a constituição de novos aforamentos, neste caso chamados de Enfiteuses. Mas o código garantiu a manutenção das já existentes no país. “Os imóveis de propriedade da antiga família real brasileira e da Igreja Católica, que foram submetidos a um contrato de aforamento, não se confundem com os terrenos de marinha, por isso é que a renda obtida com o laudêmio é dos proprietários desses imóveis aforados (antiga família real e Igreja)”, complementa o advogado.

“Os imóveis de propriedade da antiga família real brasileira e da igreja não se confundem com os terrenos de marinha, por isso a renda do laudêmio é dos proprietários dos imóveis aforados”

26

JANEIRO / 2015

Rodrigo Marcos


Foto: Divulgação

equivocado, ignorando critérios cientificamente mais adequados. “Alguns afirmam, ainda, que os ajustes anuais efetuados pela SPU são ilegais e que não se poderia admitir a atualização dos foros e taxas de ocupação pelo valor do imóvel, sendo o caso apenas de atualização monetária. Noticia-se também a cobrança de laudêmio, foro e taxa de ocupação sobre o valor das benfeitorias construídas sobre os terrenos de marinha, o que não seria admissível. Aqui entrariam os casos de laudêmios cobrados de apartamentos, salas, entre outros, pelo valor da própria unidade”, relata Gilberto. Edmilson Cunha acredita que o prédio em que comprou seu apartamento não deveria ser taxado, já que se encontra a mais de 1 km da praia de Boa Viagem. O advogado Rodrigo Marcos diz que o representante comercial deve contratar um profissional especializado no assunto para saber se a demarcação do terreno foi feita regularmente. Ele lembra, contudo, que a linha da preamar média considerada para fins de medição da faixa de 33 metros não é a atual, mas sim a do ano de 1831. “Outro fator importante é verificar

se o cálculo do laudêmio foi feito de forma correta, pois muitas vezes o imóvel pode estar construído parte sobre terreno livre de ônus e parte sobre terreno de marinha, portanto os 5% não incidem sobre 100% do valor do imóvel. Há de se considerar ainda o tipo de transação feita, algumas não autorizam a cobrança de laudêmio pela União. E famílias que recebem até cinco salários mínimos estão isentas do pagamento”, alerta o advogado sobre algumas variantes a serem consideradas antes de se questionar a cobrança. O advogado Rodrigo Marcos é favorável ao fim da cobrança do laudêmio. “Na minha opinião, tudo que puder ser feito para desonerar o cidadão brasileiro, que já tem que arcar com uma alta carga tributária, é válido e relevante”. O advogado, entretanto, acredita que posicionar o laudêmio como algo arcaico, para, com isso, combater a cobrança, é equivocado. “É até mesmo perigoso, tendo em vista que a maioria dos institutos do Direito que conhecemos hoje, como o da locação, arrendamento e comodato de imóvel, tem origem no antigo Direito Romano”, conclui.

27

“A ideia de terrenos de Marinha caducou, perdeu sua finalidade. Se num passado distante teve seus méritos em contribuir na proteção da Costa Marítima Brasileira e das áreas alagadas dos manguezais, hoje é destituída de qualquer propósito. A não ser, claro, a cobrança de taxas aos proprietários de imóveis”. É o que afirma a Associação S.O.S Terrenos de Marinha, com sede em Recife (PE). Para os componentes da instituição, as demarcações dos terrenos são equivocadas e há ilegalidade nos índices de reajustes anuais das taxas e foro e a inclusão de benfeitorias (apartamentos, salas, etc.) como objeto de taxação. Em 2011, a S.O.S Terrenos de Marinha conseguiu na Justiça a suspensão de todas as cobranças de foro, laudêmio e taxas de ocupação em terrenos de Marinha na cidade do Recife. Gilberto Maistro Júnior afirma que existem diversas ações judiciais individuais e coletivas em andamento e que são muitos os questionamentos em relação às cobranças dessas taxas. Segundo o especialista, muitos defendem que a demarcação dos terrenos de Marinha é realizada de modo

JANEIRO / 2015

sociedade questiona cobrança


ANUNCIO


O GRテ:ICA


Economia

Nova força no Nordeste Aquisição dos Diários Associados pelo grupo Hapvida forma a maior cadeia de rádio e TV da região

30

JANEIRO / 2015

Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

O

mercado editorial brasileiro conheceu, nos primeiros dias de janeiro, a novidade do setor da comunicação. Trata-se do grupo formado pela composição dos Diários Associados e Canadá Investimentos, que controla o grupo Hapvida. Juntos, formaram a maior cadeia de rádio e TV da região Nordeste. O fato ocorre no momento em que as grandes empresas de comunicação do eixo Rio- São Paulo (Globo, Abril, Grupo Frias, Estadão) vivem uma crise histórica de relacionamento com o Governo Federal. O anúncio se deu logo após a posse dos novos acionários e somente depois que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que é ligado ao Ministério da Justiça, aprovou a negociação da Hapvida Saúde, considerada a maior operadora de saúde do Norte e Nordeste.

O novo grupo aguarda os ajustes finais da operação e é administrado temporariamente pela direção dos Diários Associados em Pernambuco, onde está instalado o mais antigo jornal impresso do estado. O advogado Genésio de Sousa Neto, inventariante de um dos sócios da FM Clube em João Pessoa, diz que a direção dos Associados em Pernambuco sente a necessidade de fazer uma composição com os novos controladores majoritários. “Ainda há muita coisa para ser resolvida. Um exemplo é o caso da FM de João Pessoa. Como parte societária, ainda não discutimos absolutamente nada”, confirma Genésio.


Joezil Barros e Guilherme Machado integram a direção do novo sistema

Foto: Fernando Machado

As emissoras de televisão adquiridas foram o Sistema Associado de Comunicação (TV Clube Pernambuco); a Televisão Borborema e Rádio e Televisão O Norte, ambas da Paraíba. Além da Ceará Rádio Clube, também foram adquiridas a Clube do Recife e de João Pessoa, Feliz FM de Natal, a Rádio Poti, Rádio FM O Norte e Rádio Borborema. A operação não incluiu os veículos dos Diários Associados do estado do Maranhão, conforme relatou o diretor presidente do Condômico, Pedro Freire. “A negociação, em processo de conclusão, não inclui a praça Maranhão. Com isso, os jornais o Imparcial, Aqui-MA e portal de O Imparcial, com forte audiência e atuação no estado, continuam a pertencer aos Diários Associados”, conclui.

31

Em nota oficial, os Diários Associados confirmaram a união com a Canadá Investimentos, controladora do Sistema Hapvida, e a formação da maior Holding de comunicação do Nordeste. “A nova holding batizada de Sistema Opinião de Comunicações, com sede em Pernambuco, terá presença também nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Com a negociação, a Hapvida passa a deter 57,5% das ações do grupo, o que equivale a investimentos em três emissoras de televisão, sete de rádio e dois jornais impressos, o tradicional Diário de Pernambuco e o popular Aqui PE. No Ceará, a empresa ficará à frente da Rádio Clube - 1200 AM e montará o Sistema Opinião de Comunicação.

JANEIRO / 2015

Holding forma MAior sistema


Economia

Rota de grandes investimentos O impacto do crescimento econômico e a industrialização no Nordeste podem ser refletidos no aumento de consumo e pela demanda por artigos de luxo, como os empreendimentos imobiliários

32

JANEIRO / 2015

C

om o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo ligeiramente acima da média e o desenvolvimento de polos industriais, como o de Goiana, ao norte de Pernambuco, o Nordeste vem atraindo investimentos e fortalecendo um novo cenário econômico. Diante dessa perspectiva, a região ganha destaque também na rota dos empreendimentos imobiliários de luxo. De acordo com a consultora GO Associados, a região é responsável por 13% do mercado nacional, com tendência a se fortalecer ainda mais. Na

Paraíba, o Solar Tambaú vem sendo construído para atender a essa nova demanda que surge no estado. “De uns oito anos para cá o mercado mudou, tornando-se mais exigente. As empresas de construção civil estão respondendo à altura disso, fazendo empreendimentos do melhor nível nacional”, pontua Bethânia Navarro, diretora da Sala Negócios Imobiliários da JCP Construções, responsável pelo empreendimento Solar Tambaú. Bethânia observa que a Paraíba vive um momento econômico ascendente.

“O estado tem localização estratégica para investimentos. Temos belas praias e paisagens naturais que atraem investidores de todo o país. Por termos o metro quadrado mais barato que outros estados litorâneos com estrutura semelhante, a Paraíba torna-se naturalmente o foco de investidores nacionais e internacionais. O mercado imobiliário no estado está em constante crescimento e essa tendência deve permanecer por muitos anos”. E se o estado está em uma boa localização, o Solar Tambaú está em


um lugar privilegiado em sua capital. Na extremidade da principal avenida da cidade e bem no centro de uma das mais bonitas e procuradas praias urbanas de João Pessoa, o edifício é erguido a menos de 15 metros da areia da praia. Mesmo estando de frente para o mar, o Solar Tambaú também oferece uma piscina com borda transparente, fazendo com que o morador se sinta dentro do oceano E a proximidade com a natureza não se resume ao visual, mas também no aspecto sustentável. Em tempos de reavaliação do consumo de água, a JCP Construções integrou ao prédio um sistema de reutilização do líquido para evitar desperdícios. O sistema fará a captação de água da chuva, e para diminuir os impactos do uso da eletricidade, será utilizada a energia solar para o aquecimento da água. “O Solar Tambaú tem como alguns de seus pilares a sustentabilidade, a tecnologia, conforto e a segurança”, coloca Bethânia. O último item é fundamental para os idealizadores do projeto. O local terá guarita suspensa e blindada, câmeras de segurança, Sistema de Controle de Acesso (SCA), sala de segurança e automação, além de sistema de alarmes de última geração. No quesito tecnologia, o morador contará com internet de alta velocidade, interfonia digital ou analógica, telefonia digital ou analógica, rede de dados exclusiva, wi-fi em todo o empreendimento, telemetria, geradores de alto desempenho e exaustão mecânica automatizada nas garagens. Como o prédio fica localizado em frente ao Busto Tamandaré, palco de vários eventos culturais ao longo dos anos, a JCP também investiu em proteção sonora. “As paredes são duplas e preenchidas com lã de vidro e esquadrias com vidros laminados duplos com componentes específicos para isolar o ruído externo e garantir aos moradores o conforto térmico e acústico necessário. O material também elimina a preocupação com o calor e os sons externos, seja da rua ou do apartamento do vizinho”, diz Bethânia. Foto: Divulgação

Lar e negócios Seguindo uma linha que está em alta no mercado imobiliário de luxo no Brasil, o empreendimento atende ao padrão “Home and Business” (lar e negócios). A ideia é fazer com que os dois espaços estejam interligados, mas com fluxos separados, para dar praticidade e funcionalidade aos utilizadores de ambos. O térreo do edifício é composto pelas lojas, enquanto os outros andares são destinados aos apartamentos residenciais. No total são 26 tipos de plantas distribuídos nos quatro pavimentos, com apartamentos que vão de 47 a 337 m² e variação de um a três quartos, totalizando 130 unidades residenciais e 39 empresariais. A área comercial é chamada de Paço Rivièra e vai reunir lojas de alto padrão, além de uma longa lista de serviços como locação de veículos, personal trainners, personal stylist, fisioterapeutas, enfermaria e acompanhamento para idosos, office boy, serviços de manutenção in house, táxis. Fora esses, há também entretenimento, locação de barcos e marinheiro, mercearia e conveniências, motoristas, passeios turísticos, lavanderia, room service, limpeza e arrumação dos apartamentos; reserva

Construção do empreendimento Solar Tambaú

e locação de apartamentos e lojas, serviços de saúde, beleza, lazer, alimentos e bebidas; serviços de manutenção de unidade habitacional, manutenção de vitrines e limpeza de lojas. Com essa extensa lista de itens e artigos de luxo, quase todo o edifício está ocupado. “Boa parte dele já foi vendido, mas ainda temos opções para quem deseja morar ou empreender”, adianta Bethânia. A JCP Construções acredita que o projeto se tornará um modelo para os demais empreendimentos de luxo pelo país, além de um cartão-postal para a cidade.

“De uns oito anos pra cá o mercado mudou, tornando-se mais exigente. ” Bethânia Navarro


Economia

Esperança no setor sucroalcooleiro Mudança na composição do combustível pode contribuir com a retomada do crescimento das usinas de álcool e etanol Por Umberlândia Cabral umberlandia@revistanordeste.com.br

34

JANEIRO / 2015

A

pós viver uma das maiores crises de sua história, o setor sucroalcooleiro agora pode viver um momento de recuperação. Uma das principais reivindicações que as usinas de álcool e açúcar solicitaram ao Governo Federal finalmente vai ser colocada na prática. O percentual de etanol anidro na gasolina passará de 25% para 27%, segundo informou a presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina, após uma reunião para tratar do assunto na Casa Civil, no Palácio do Planalto. No fim do ano passado, os sindicatos da Indústria do Açúcar e de Álcool nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba se reuniram para realizar uma proposta para a agenda positiva de temas convergentes da agroindústria. O aumento desse percentual foi uma das primeiras pautas do documento encaminhado ao Governo Federal. Outro ponto foi solicitar a ajuda da União na liberação de recursos que

concedam subvenção para os produtores da cana-de-açúcar e de etanol, que estão sofrendo com a seca. O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no estado de Pernambuco, Renato Cunha, afirma que um dos motivos da crise no setor foi a impossibilidade do etanol competir com a gasolina. “O Governo Federal ajustou o preço da gasolina para favorecer a Petrobras e o etanol hidratado não pôde competir com ela. O resultado foi que os usuários de carros flex começaram a optar pela gasolina”, explica. Renato Cunha ainda explica que essa mudança na composição do combustível não vai piorar o desempenho do carro. “A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) fez vários testes de misturabilidade em carros novos e antigos e o resultado é que, com essa mistura, o combustível será mais limpo”, afirma. A nova mudança passa a vigorar a partir do dia 15 de fevereiro.

“A Anfavea fez vários testes de misturabilidade em carros novos e antigos e o resultado é que, com essa mistura, o combustível será mais limpo” Renato Cunha Foto: Elza Fiuza (Agência Brasil)



apresenta

Solução

eficiente Atentar para o uso de um combustível de qualidade é fundamental para quem quer garantir o bom funcionamento do automóvel e ainda poupar gastos. A satisfação do motorista com o carro e a economia a longo prazo passam pela escolha de uma gasolina com atributos que beneficiam o motor do auto e prolongam sua vida útil

N

o posto de combustível, ao entregar a chave do veículo ao frentista, é comum ouvir a pergunta: “gasolina comum ou aditivada?”. Poucos param para refletir, no entanto, sobre as consequências dessa simples escolha, que afeta diretamente o bolso do consumidor. Não pela diferença de preço entre as gasolinas, mas pelos benefícios que a aditivada tem em relação à comum. Mestrando em Termofluidos, o engenheiro mecânico Fillipe Rocha explica que o combustível e a eficiência do veículo têm relação direta. Isso porque quando o motor tem perda em sua eficiência, ocorre uma queda na potência do automóvel e ainda o aumento do consumo da gasolina.

Segundo o especialista, isso pode ocorrer com o funcionamento normal do motor em seu tempo de vida útil, com o desgaste de suas partes móveis por atrito. Mas ele alerta que o uso de uma gasolina de qualidade pode evitar que isso ocorra prematuramente, garantindo a máxima eficiência do veículo e evitando prejuízos para o usuário. Foi justamente por isso que a Petrobras desenvolveu a gasolina Petrobras GRID, um combustível com novos atributos que trazem benefícios para os motores. Além do melhor desempenho, o produto diferenciado proporciona máxima eficiência e ainda ajuda o motorista a ter menos gastos de manutenção.

COMO A PETROBRAS GRID GARANTE MÁXIMA EFICIÊNCIA? Tem aditivos detergentes e dispersantes que mantêm limpo o sistema de alimentação do combustível do motor

Incorpora o aditivo modificador de atrito, que reduz o desgaste das peças do motor e prolonga sua vida útil


POR QUE ESCOLHER A PETROBRAS GRID?

1

ECONOMIA Ela viabiliza manutenções mais espaçadas e, por isso, menores custos

2

MAIOR DURABILIDADE DO MOTOR A presença de aditivos detergentes/dispersantes e modificador de atrito na gasolina Petrobras GRID proporciona baixa formação/menor acúmulo de resíduos

3

MAIOR DESEMPENHO A Petrobras Grid garante melhor desempenho nas retomadas de velocidade porque o aditivo modificador de atrito minimiza o desgaste dos componentes internos do motor, proporcionando maior aproveitamento da energia mecânica produzida.

Foto: Banco de Imagens Petrobras

O ESPECIALISTA RESPONDE Quando um motor alcança máxima eficiência?

Quais os benefícios para o consumidor?

Por que o usuário deve se preocupar com a eficiência do carro?

“Um motor eficiente é o que obtém maior potência com menor consumo do combustível”

“É possível ter maior economia e prolongar as condições adequadas para que o motor tenha maior vida útil”

“Porque manter uma boa eficiência evita desgastes prematuros dos componentes internos do motor, perda de potência do carro e maior consumo de combustível”

Fillipe Rocha, Engenheiro Mecânico


Opinião

O olho esquerdo de Cerveró

O

ano em que a mui desleal cidade de São Sebastião de Rio de Janeiro completa oficialmente 450 anos, o artigo carnavalesco mais procurado no Saara (centro do comércio popular estabelecido nas imediações da secular rua da Alfândega-Rio) tem sido a máscara de Nestor Cerveró, sinistro personagem envolvido até os ossos no rumoroso escândalo da Petrobras – o Petrolão – que ora avassala o país. Parece estranho, mas como sempre ocorre no cenário luxuriante da permissiva cidade, Cerveró não ficou tristemente célebre por ter possibilitado, sob o amparo da gerentona Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula e presidente do Conselho de Administração da empresa petrolífera, o rombo de 1 bilhão e 200 milhões de dólares no caixa da Petrobras, quando da fraudulenta negociação da Pasadena Refinery System inc, em 2006, no Texas, Estados Unidos. Tampouco Cerveró, ex-diretor internacional da Petrobras, chegou ao topo da fama no solo carioca por ter escrito relatório favorável à compra da falida refinaria americana que custara à sua antiga proprietária a quantia de meros US$ 50 milhões, acarretando aos cofres da estatal brasileira, com a negociata, um prejuízo líquido e certo de 1 bilhão, 150 milhões de dólares. E, ao contrário do que se possa imaginar, o astucioso burocrata da estatal do petróleo também não ficou famoso porque o seu parceiro de diretoria da empresa, o “Paulinho amigo de Lula” (Paulo Roberto Souza, o homem da delação premiada), informou à Polícia Federal de Curitiba que Cerveró teria recebido da Astra, sócia da Petrobras na maldita negociata da refinaria de Pasadena, propina de 30 milhões de dólares. Para ser preciso, ele nem mesmo se tornou herói (ou anti-herói) na imaginação da patuleia ignara por tentar blindar seu patrimônio e sacar de uma só vez a insignificante quantia de 500 mil reais de um fundo de reserva privado ou ainda transferir bens 38 Especial Presídios

imóveis de sua propriedade para seus afortunados familiares. Nada disso teve grande importância ou elevou Cerveró ao panteão do interesse popular. De fato, como o brasileiro mede sua opinião pelo lado estético das coisas e seres, segundo pesquisa exposta na internet, o que levou Cerveró ao status de celebridade nacional e despertou a atenção de todos foi o seu olhar perfunctório e ambivalente, singela mistura de duas doenças raras no ramo da oftalmologia: a ptose e a exoftalmia. Na anomalia em foco, enquanto o olho direito, num plano mais alto, apresenta a pálpebra caída, o olho esquerdo, embora num plano mais baixo, projeta de forma agressiva o globo ocular para fora da órbita – o que causa no perplexo observador uma sensação desagradável, mas tão intensa quanto a atraente expressão do belo e do horrível perceptível, por exemplo, nos caninos do Conde Drácula. Na obra dramática “O Mercador de Veneza”, que envolve um ambiente moral, político e cultural muito parecido com o nosso, Shakespeare nos fala de singular personagem vesgo, cujo olho direito, voltado para si, apenas enxerga suas entranhas e seus órgãos vitais em ebulição, pulsando pelo desejo de aplacar a fome do instinto animal - enquanto o olho esquerdo, implacável e fora de órbita, perscruta o mundo exterior de “olho grande” na riqueza do próximo e na vontade férrea de escravizá-lo e extorqui-lo. É sintomático, senão premonitório, que o olho esquerdo do personagem shakespeariano, revelador da sanha da cobiça, denuncie simbolicamente todas as formas de socialismo da face da Terra, particularmente nefastas, por exemplo, no governo petista que ora avilta o povo brasileiro. PS – Ah, ia esquecendo: Mao, segundo biógrafos, estremecia de prazer pelo olho esquerdo enquanto violentava garotas e garotos impúberes e Stalin, idem, quando mandava fuzilar dissidentes! Essência de toda forma de socialismo, sobremodo o petista.

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

O brasileiro mede sua opinião pelo lado estético das coisas e seres, segundo pesquisa exposta na Internet, o que levou Cerveró ao status de celebridade nacional e despertou a atenção de todos foi o seu olhar perfunctório e ambivalente


Geral Ele precisa de alimento, de educação e de trabalho. Mas no Brasil, a realidade às vezes consegue anular até o óbvio. Por aqui, os presídios estão longe de serem casas resocializadoras. Na verdade, são depósitos de seres humanos que, lá confinados, se transformam em coisas, pelo menos aos olhos da maioria dos cidadãos. Essa constatação é antiga e vem sendo escancarada desde que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pôs em prática o Programa dos Mutirões Carcerários. A Revista NORDESTE acompanhou o trabalho que vem sendo feito no estado da Paraíba. O resultado você vê neste caderno especial.

PRESO TAMBÉM É

GENTE Editoria, reportagem e fotos: Rivânia Queiroz Projeto Gráfico, diagramação e edição de fotos: Danielle Trinta

Especial Presídios 39


40 Especial Presídios

Lilian Cananéa, juíza

“Eu não estou entendendo.

“Estou lhe dando a oportunidade de uma nova vida”

Eu posso ir embora, doutora?”. Foi com essa surpresa que Francimara Fernandes recebeu a notícia de que passaria o aniversário fora dos muros que a aprisionavam há exatos dois anos, oito meses e onze dias. Embora livre das grades, ela ainda reponde por outro crime e pode voltar ao Presídio Regional Feminino de Patos (PB), onde cumpria até o final do ano passado pena por tráfico de drogas. “É um presente grande. Obrigada, meu Jesus. Eu vou mesmo?”. A fala, interrompida por soluços e desconfianças de que pudesse abandonar aquele lugar onde esteve resignada por todo esse tempo, deixava escapar a dor e a alegria de poder sair pela porta de onde entrou pela primeira vez em 8 de novembro de 2010. Ao deixar para trás o corredor das celas, Francimara comemorava com suas colegas de cárcere e falava da esperança que jamais perdera. Lá fora, agentes penitenciários a aguardavam com um olhar desconfiado. Era possível ouvir cochichos de que em breve ela estaria de volta. Mas ela pode não voltar. “Estou lhe dando a oportunidade de uma nova vida. Saia daqui e vá procurar algo digno para fazer. Se afaste do crime”, aconselhava a juíza Lilian Cananéa, responsável pelo livramento. A jovem que acabara de completar 22 anos foi ameaçada de morte e sabe que não pode levar a mesma vida de antes. Ainda na sala enquanto aguardava o documento que a libertaria do

confinamento ao qual foi submetida após o crime praticado, Francimara fazia planos de ir embora para outro estado. “Aqui (em Patos) eu não posso ficar. Já atentaram contra a minha vida. Quero ir embora pra Goiânia (GO), onde tenho família”, dizia ao levantar a camisa para mostrar as marcas de tiros que quase lhe tiraram a vida anos atrás. Já era noite quando os portões finalmente se abriram e uma nova Francimara caminhava apressada para o encontro com a liberdade. Ainda olhou para trás, quase como numa despedida. Não com saudade, mas com o olhar de quem dava adeus àquela vida cruel. Histórias como essa não são difíceis de encontrar nas prisões brasileiras. As unidades estão lotadas de homens, mulheres, idosos e jovens como Francimara que aguardam ‘por um milagre’, enquanto convivem com as lacunas de um sistema que penaliza ainda mais quem está lá dentro. As deficiências são de toda ordem: superlotação, déficit de vagas, falta de atendimento médico, de limpeza e estrutura mínima de funcionamento. A lentidão da Justiça, a escassez de técnicos nas varas de


execuções penais e as pilhas de processos que aguardam instruções se somam a todas essas dificuldades, fazendo com que o excesso de prazo vire regra num sistema que não suporta mais tantos problemas e agoniza. “O sistema carcerário brasileiro encontra-se em colapso, tendo contornos de barril de pólvora com pavio curto aceso e estando prestes a explodir”. A declaração é do criminalista Ércio Quaresma Firpe, de Belo Horizonte, que cita como exemplo o presídio central de Porto Alegre, “que tem as características das masmorras da idade média”. O advogado com mais de 20 anos de experiência na área de crimes e com casos polêmicos em seu currículo, como o do goleiro Bruno, ex-capitão do Flamengo, acusado de sequestrar e matar a ex-namorada Eliza Samudio, observa que há rotineiras rebeliões nos presídios brasileiros, acarretando risco de morte aos funcionários, e culminando com o extermínio de alguns encarcerados, como ocorreu no Paraná, onde presos foram decapitados no presídio de Cascavel, em agosto de 2014. “A omissão do poder público é generalizada, notadamente pela falta de investimentos no setor, aliada à falta de vontade política para solucionar o problema”, critica Ércio Quaresma, responsável pelo documentário “Por detrás das grades. Famílias no cárcere”, onde denunciou os flagrantes de um sistema prestes a explodir. Ele critica duramente a infraestrutura dos estabelecimentos prisionais, que considera deficitária. “Inexiste capacitação e valorização dos agentes penitenciários. Os prédios se mostram sucateados e há superlotação. O descaso com o setor é monumental”, conclui.

“Quero ir embora pra Goiânia (GO), onde tenho família” Francimara Fernandes

Especial Presídios 41


POR TRÁS DA CORTINA Os Mutirões Carcerários têm descortinado o quadro dos que vivem atrás das grades, jogando luz para uma realidade cruel que a população brasileira e o Estado preferem ignorar, como se o problema não existisse. Mas ele existe, se agrava e precisa de solução pragmática e não de medidas apenas paliativas. Carece de um conjunto de ações, que começa com o reconhecimento da extensão do problema e da responsabilidade do Estado e da sociedade. “Os mutirões da CNJ têm evidenciado situações escabrosas de indivíduos encarcerados por tempo superior ao de suas reprimendas. Ademais, quando se faz necessária a realização destas empreitadas, resta evidente a ineficiência do Estado e Poder Judiciário em lidar com o volume de processos e execuções em curso”, observa o criminalista Érico Quaresma. O promotor do Ministério Público da Paraíba, Manoel Henrique Serejo, destaca o trabalho que vem sendo realizado em seu estado e diz que a ação, iniciada pela juíza da 1ª Vara de Santa Rita, Lilian Cananéa, encampada pela Presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba, tem possibilitado avanços no sistema carcerário estadual. “O projeto vem dando condições de chegar ao apenado e lhe garantir direitos, como progressões de regime. Acima de tudo, vem fazendo uma revisão processual. É um trabalho que engrandece nossa Justiça e serve de referência ao resto do país”. O promotor ressalta a autonomia e o poder de decisão do mutirão estadual, o que, na sua avaliação, assegura a eficácia do programa. “É tudo feito na hora. Uma coisa automática. Isso é o que tem a valia do projeto. Uma ação que está dando exemplo de cidadania”. O promotor reconhece que as ações desenvolvidas em favor do sistema penitenciário brasileiro ainda são tímidas. Em sua opinião, falta vontade política. “A gente vê que não houve avanço no sistema. 42 Especial Presídios

Manoel Henrique Serejo, promotor do Ministério Público da Paraíba

Não houve melhorias desde o episódio do Carandiru (há 22 anos). Não foram desenvolvidas políticas públicas. Isso mostra a falta de vontade política em fazer alguma coisa em benefício dessa classe. Não é para o preso ficar encarcerado a vida toda, mas há muitos casos em que eles já cumpriram pena e continuam aprisionados. É aí que o mutirão está atuando”. Para o promotor, a ação não pode ser encarada como paliativa. Seria um complemento de ações a serem efetivadas. “O que interessa é a vontade e a vontade de realizar já é o início de uma ação política. Acho que o mutirão já é um avanço, e nós devemos acrescentar, buscar apoio e dar sugestões”, observa. Manoel Henrique Serejo usa como exemplo o caso da Paraíba, onde o trabalho tem surtido efeito. Ele explica que nos presídios do estado se o preso for pego com um celular ou um chip passará por uma sindicância e perderá o benefício do programa por um prazo de um ano. “O preso ficará sem uma remissão ou progressão de regime. Isso já serve de alerta para um bom comportamento. Na hora do mutirão, a juíza pede um parecer da direção do presídio sobre o comportamento do preso e isso pesa na decisão”.


O PREÇO DE UM ERRO Falhas da Justiça não são incomuns. Apenados que respondem por crimes que não praticaram, presos que tiveram seus nomes confundidos com o de outros criminosos ou mesmo porque foram esquecidos pelo sistema. O mutirão tem tido um olhar atento e buscado corrigir equívocos como esses. Bruno Ferreira Ramos, de 23 anos, é um dos casos que pode ser citado como exemplo. Ele foi preso em 14 de novembro de 2009 quando ainda era menor de idade e a decisão judicial se deu como se ele já tivesse atingido a maioridade. Na época, o juiz não poderia ter condenado o preso devido a essa situação, mas ele recebeu uma sentença por dois crimes praticados, um deles o de homicídio. Bruno estava na Penitenciária de Santa Rita (PB) há mais de 5 anos, mesmo depois de ter cumprido sua pena. “Ele já passou o tempo suficiente para o cumprimento, por isso estou pedindo sua extinção e dando a liberdade imediata”, determinou a juíza Lilian Cananéa. >

Processo de soltura do ex-presidiário Bruno Ferreira Ramos

Especial Presídios 43


> O pernambucano Antônio Marcos dos Santos também paga mais do que devia à Justiça brasileira pelos crimes que cometeu no passado. Encarcerado há 19 anos pelos artigos 157 (roubo mediante grave ameaça) e 121 (homicídio) do Código Penal, ele já teria direito a algum tipo de benefício, como a progressão de pena, mas continuava confinado dentro de uma cela de quatro metros quadrados na Penitenciária de Santa Rita (PB) até o final de 2014, depois de ter passado pela Ilha de Itamaracá (PE), Presídio de Sapé (PB), Silvio Porto (PB) e Roger (PB). A única esperança para ele era o mutirão. Enquanto aguardava a vez para ser atendido pela juíza Lilian Cananéa, ele conversou com a reportagem e confessou o quanto se sente excluído da sociedade. “Aqui, ela nos vira as costas. Eu me sinto um ausente”. Todos os dias, o preso tem a mesma rotina: espera com outros 11 apenados o tempo passar dentro de um ‘caldeirão’ de frente para um sol escaldante. O dominó é a única diversão, além do banho de sol que acontece uma vez por semana. Magro e abatido, ele ainda sonha com a liberdade e garante que quando ela chegar sua vida vai mudar. “Penso em sair daqui e refazer minha vida. Perdi tudo, a convivência com a minha família, não

“Aqui, ela (sociedade) nos vira as costas.Eu me sinto um ausente” Antônio Marcos dos Santos

44 Especial Presídios

quatro metros quadrados

pude acompanhar o crescimento dos meus filhos, sequer tive direito de ver o enterro de algum parente”. As duas acusações às quais responde somam 32 anos de reclusão. Restam ao preso 13 anos, que podem ser diminuídos pela remissão de pena. Mas ele sequer tinha uma guia na penitenciária em que se encontrava à época da reportagem. “Pedimos a documentação dele à Justiça de Recife (PE) para analisar o caso e ver o que podemos fazer em relação a algum benefício”, explica Lilian Cananéa. Emocionado, o apenado disse nunca ter participado de uma audiência com a presença de um juíz. “Essa é a primeira vez. É uma esperança que chega, pois eu não tenho sequer uma carta de guia e agora posso ter. Esse documento é o que me me prende aqui”, afirma Antônio.


GARANTINDO DIREITOS Alan Pedro Carneiro dos Santos entrou na prisão aos 20 anos e já está há seis atrás das grades. Ele pegou uma pena de 29 anos por ter participado de um crime de latrocínio em Guarabira, uma das cidades mais populosas da Paraíba. O jovem se sente injustiçado e diz que sua sentença foi resultado da influência da família da vítima perante a Justiça daquele município. “Eu não matei ninguém. Me envolvi numa briga com a vítima e um colega

cometeu o crime. Três pessoas respondem por esse crime e juntos tivemos uma sentença de 100 anos de prisão. Isso foi um circo armado, onde a família da vítima era totalmente ligada ao corpo de jurado. Se fosse em outra situação, eu jamais teria essa penalidade tão alta. Já vi sentenças de latrocínio muito mais brandas”, defende-se o jovem. Alan foi transferido do Presídio Regional de Guarabira, em 2011, para o de Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa (PB). Ele sofre de derrame pleural e precisa de cuidados médicos. Na prisão, trabalha como artesão e estuda o 1º ano do Ensino Médio, além de ter um bom comportamento, o que ajudará na remissão de pena. Há anos, ele vem solicitando o retorno a Guarabira, que é negada pela comarca municipal. O preso alega que quase não recebe a visita da esposa devido a distância da cidade. “É caro para minha mulher vir para cá. Lá, eu poderia ficar mais perto da família”. O apenado foi um dos beneficiados no mutirão e aguardava até o fechamento da reportagem o regresso ao município, mesmo sabendo que a estadia lá pode não ser fácil. No Presídio de Santa Rita, além de ter atendimento médico, o preso tem boa relação com os colegas de cela e com a direção. “Lá, eu sei que posso ter a vida ainda mais dificultada porque a direção tem relações próximas com a família da vítima. Mesmo assim quero voltar”.

Presidiário Alan Pedro sendo examinado

Presidiário Antônio Marcos dos Santos

Especial Presídios 45


RETRATO SEM RETOQUES Somos a terceira maior população mundial de apenados, com 711.463 pessoas presas (no sistema e nas prisões domiciliar), perdendo apenas para os Estados Unidos e China, que têm 2.228.424 e 1.701,344, respectivamente, de acordo com o diagnóstico revelado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em junho de 2014. Se formos levar em conta apenas as cadeias, são 563.526 encarcerados, para um total de 357.219 vagas, com um déficit que chega a 206.307, ou 36,62%, conforme os dados. “A punição pela prisão por si só não resolve o problema, porque essa terceira maior população carcerária e o contingente de crimes continuam aumentando. Então, essa relação e forma de cumprimento da pena é que precisa ser readequada”, declara o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luis Felipe Salomão. Para o ministro, o país precisa dar um tratamento mais digno aos seus presos, uma vez que esse sistema atual não consegue resolver problemas simples, nem recuperá-los. “É um bordão popular muito verdadeiro, mas hoje o preso que ingressa no sistema penitenciário brasileiro sai de lá um doutor em criminalidade. É preciso consertar isso e encontrar fórmulas eficazes adequadas de afastá-lo da prisão e estabelecer uma punição consentânea com o mundo moderno”, considera.

E o que a sociedade pode esperar de um preso que foi confinado num sistema carcerário degradante? Na opinião do ministro, pouco! “Por isso, tenho dito que é preciso uma virada, um cavalo de pau, uma guinada para que esse sistema possa funcionar. Ele é uma vergonha para nós”. Luis Felipe acha que prestar um melhor serviço à população carcerária e aos presos provisórios, garantindo seus direitos e dando mais dignidade, possa ser o início de uma mudança. Ele conclui ao observar que os mutirões são importantes, mas que se trata de uma medida profilática, ou seja, que atua apenas como prevenção. “Os defensores fazem um trabalho bom. O Ministério Público também tem um papel fiscalizador relevante, porque o juiz fica parado esperando que se encaminhem a ele os pedidos de benefícios, as progressões de pena, a resolução dos problemas. E volto a dizer, o juiz não estabelece política pública, de criação de penitenciária, reforma de prédios, nada disso passa pelo juiz, ele simplesmente é o gestor do sistema sem ter nenhum poder de comando do sistema”.

BRASIL

MAIOR POPULAÇÃO MUNDIAL DE APENADOS

Ministro do STF, Luís Felipe Salomão¹

VAGAS

357.219 1. foto: Pedro França / Agência Senado 46 Especial Presídios


INCHAÇO NAS PRISÕES CHEGOU A

403,5% RITMO CRESCENTE

“O preso que ingressa no sistema penitenciário brasileiro sai de lá um doutor em criminalidade” Luís Felipe Salomão

ENCARCERADOS

APENADOS

563.526

711.463

O Relatório Mundial sobre Direitos Humanos, divulgado no começo do ano passado pela organização não governamental Human Rights Watch (HRW), alerta para um crescimento populacional de 30% dos presos no país, nos últimos cinco anos. Ele informa que o número de adultos encarcerados é superior a meio milhão de pessoas, o que supera em 43% a capacidade do sistema prisional brasileiro. O ritmo crescente da população carcerária no Brasil assusta ainda mais quando levado em consideração os últimos 20 anos. De lá para cá o inchaço nas prisões chegou a 403,5%. Vale salientar que a média mundial de encarceramento é de 144 presos para cada 100.000 habitantes, de acordo com o Centro Internacional de Estudos Penitenciários, ligado à Universidade de Essex, no Reino Unido. Mas no Brasil, o número de presos explode para 300 para cada 100 mil habitantes.

Especial Presídios 47


UM OLHAR MAIS HUMANO Na Paraíba, onde acompanhamos os Mutirões Carcerários coordenados pela juíza Lilian Cananéa, há uma população carcerária de 9.270 presos, sendo 38% deles provisórios (aguardando julgamento), para apenas 5.892 vagas. O déficit chega a mais de 3 mil. Nessas unidades, as problemáticas são as mesmas que ocorrem no restante do país. Mas neste estado algo diferente vem acontecendo. Os mutirões nos presídios, que começaram um pouco antes das ações do CNJ, em 2009, trazem em seu formato as mesmas características: providências, incluindo pedidos de progressão de regime, habeas corpus, prisão domiciliar, livramento condicional, indulto, comutação, unificação e remição de penas, dentre outras, e buscam amenizar o sufoco do sistema, concedendo esses benefícios e enxugando as prisões. Mas a forma como tem se dado é que chama atenção e serve de exemplo para outras regiões. Ao invés de uma sala fechada de um fórum, as audiências acontecem nas unidades prisionais do estado, na presença da juíza, de um Promotor de Justiça, da Defensoria Pública e de um Técnico Judiciário, onde cada preso tem direito de ser visto e ouvido. “Eu costumo dizer que eles precisam ouvir pelo menos um não”, observa Lilian Cananéa. Ela conta que deu início a atividade com cerimônias de livramento condicional dentro das cadeias. “Saia de cela em cela anotando as necessidades de cada preso e levando para o meu gabinete. Mas notei que atrasava do mesmo jeito. Então, eu pensei em mudar, resolvendo os problemas dos presos no próprio local da audiência”. Hoje, a magistrada vem atendendo a população carcerária em presídios do estado por solicitação do Tribunal de Justiça da Paraíba. O trabalho tem surtido efeito por resolver de forma mais célere as situações

48 Especial Presídios

dos encarcerados e provisórios, que são vistos por ordem alfabética, caso a caso. “A defensoria faz o pedido, o promotor dá o parecer, a direção do presídio libera a certidão carcerária e eu dou a minha decisão para cumprimento imediato”. A juíza argumenta que o CNJ determina que os mutirões sejam feitos em todos os

“eles pr cisam ouvir pelo me nos um não”

“O meu estilo é este, o que não quer dizer que os outros não estejam fazendo o trabalho, cada um ao seu modo.” Juíza Lilian Cananéa estados brasileiros, mas não obriga que eles aconteçam dentro de uma unidade prisional. Isso depende da vontade e do perfil de cada juiz responsável pela ação. “O meu estilo é esse, o que não quer dizer que os outros não estejam fazendo o trabalho, cada um ao seu modo. Até porque, não é todo juiz que quer ir para dentro de um presídio, embora a Lei de Execução Penal determine que ele visite regularmente as unidades para ver as condições. “É uma obrigação a gente ir, mas não é obrigado fazer audiências lá. O que está acontecendo é uma decisão minha, por sentir a necessidade de fazer assim. Se eu queria fazer justiça, se eu queria dar celeridade, eu só podia fazer desse modelo”, conclui.

Juíza Lilian Cananéa


re-

em

Iniciativa do CNJ é vista como ineficiente Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos e coordenador da Pastoral Carcerária do Estado da Paraíba, João Bosco Francisco do Nascimento tem uma opinião formada sobre o trabalho do Conselho Nacional de Justiça. Para ele, o tipo de ação realizada desde 2009 não têm resultado efetivo, uma vez que acontece esporadicamente, ao contrário do que ocorre em alguns estados, como na Paraíba. “Os mutirões não devem acontecer apenas uma vez ao ano, pois todos os dias aumenta a população carcerária”, avalia. Para ele, o Estado também deve reforçar a estrutura judiciária. “Os mutirões ajudam, mas somente eles não resolvem. A sociedade é quem acaba sofrendo as consequências de

um sistema que não garante condições para que se mude a realidade das prisões. A gente fica de mãos atadas”, dispara. João Bosco explica que a Defensoria Pública é mínima para atender a grande demanda e que o juiz sozinho não consegue resolver todos os problemas. “A coisa não funciona e fica tudo encalhado nas varas”. Ele também critica casos de irregularidades simples que ocorrem devido a essa precariedade. “Há presos que passam longo tempo na cela, quando existe um prazo mínimo de 80 dias para que haja um parecer sobre o caso. Sem falar que muitos desses episódios envolvem crimes de bagatela, mas o preso permanece de forma irregular em virtude da situação precária do judiciário”, observa. O Conselho Estadual dos Direitos Humanos tem visitado os presídios e feito recomendações. No final do ano passado expôs o caso da revista íntima das mulheres nas unidades carcerárias. Para a entidade, a revista é vexatória. “As mulheres precisam tirar suas roupas e se agacharem diante de um espelho. O ritual é demorado e humilhante. De tão sério, o assunto vem sendo tratado com entidades como o Ministério Público”, denuncia João Bosco. Na Paraíba há uma lei de 2000 que aponta como deve ser feito o procedimento. “A lei está aí, mas não é respeitada. A revista deve ser uma exceção e não uma regra, mas o Estado adota como regra”. Em sua opinião, se trata da criminalização do ser humano. “A pessoa que vai visitar um parente preso não é criminosa, mas o Estado a trata como se fosse”.

“A pessoa que vai visitar um parente preso não é criminosa, mas o Estado a trata como se fosse” João Bosco Francisco Especial Presídios 49


FIM DA HUMILHAÇÃO Em alguns estados brasileiros a revista íntima foi banida. São Paulo é um exemplo. Lá, desde o ano passado há uma lei (15.552/14) que proíbe a prática nos estabelecimentos prisionais de submeter visitantes a procedimentos invasivos, como nudez e agachamentos sucessivos diante de um espelho, além de inspeções anal e vaginal. A legislação foi sancionada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Dados da Rede Justiça Criminal, colhidos entre os anos de 2010 e 2013, em São Paulo, demonstram que somente 0,03% das revistas identificou algum objeto com as visitantes. Também não foram encontradas armas com elas. A pesquisa utilizou informações da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo e informa ainda que cidades e estados que passaram a adotar a proibição das revistas íntimas não apresentaram aumento nas ocorrências relacionadas à segurança. Goiás e Espírito Santo possuem norma similar a de São Paulo. Joinville, em Santa Catarina, instalou scanners corporais em seus presídios e Pernambuco proibiu a revista vexatória na capital, Recife. Outros estados têm leis que restringem o procedimento, mas ainda não o proibiram, é o caso da Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul. Embora o procedimento ainda esteja em uso em muitas prisões brasileiras, a legislações do próprio país e outras internacionais a condenam. O artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso III, define que “ninguém pode ser submetido a tortura ou a tratamento cruel ou desumano”. No plano internacional, várias normas têm a mesma diretriz, como a Convenção contra a Tortura da ONU, de 1984, e a Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969.

50 Especial Presídios

No Senado, foi aprovado em junho do ano passado um projeto de lei (PL 4802013), que proíbe a prática em todo o país. A matéria, de autoria da senadora Ana Rita (PT-ES), aguarda votação na Câmara dos Deputados.

“ninguém pode ser submetido a tor-


m r .

Especial PresĂ­dios 51


Geral

52

JANEIRO / 2015

O mundo das ilusões Para filtrar a publicidade voltada para o público infantil, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente, aprovou a Resolução n°163. A medida ainda não foi aprovada pelo Congresso e ainda gera discussão.


2,2

bilhões

Queda na arrecadação de impostos

720 6,4

MIL

Cortes nos postos de trabalho

bilhões

Serão perdidos com salários fora de circulação

Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

U

m texto publicitário tem que, por essência, trabalhar com a persuasão, ou seja, buscar convencer, chamar a atenção ou seduzir um determinado público-alvo. Quando se trata de uma criança, nada mais fácil. Hoje, os pequenos são os alvos prediletos do mercado, isso porque são presas fáceis de serem atingidas. Quem não se recorda de uma das propagandas da marca Garoto que, em tom de brincadeira – usando a técnica da hipnose –, pedia para que um adulto comprasse o chocolate: “Compre baton, compre baton”. O uso do verbo “comprar” e a presença do pronome oculto “você” deixam claro o direcionamento ao receptor, o que confirma a função apelativa. Uma breve análise na história da publicidade e da propaganda nos mostra como os comerciais foram e continuam imperativos, embora hoje sejam mais maquiados. Mas essse assunto é debatido há anos sem que se chegue a nenhum entendimento. Empresas, agências e Foto: Acervo Pessoal

“A Resolução estabelece ou disciplina de que forma ou maneira deve ser praticada tal atividade quando a mesma envolver criança ou adolescente”

JANEIRO / 2015

Possível perda com fim da publicidade infantil

resolução não muda a publicidade na acepção pura do termo, pelo contrário, ela apenas estabelece ou disciplina de que forma deve ser praticada tal atividade quando a mesma envolver criança ou adolescente que, como sabido, são contemplados por proteção legislativa especial. Tal norma vem apenas corroborar com o ordenamento jurídico já existente sobre esse mesmo tema, em especial, o Estatuto da Criança e do Adolescente”, pontua.

William Wagner 53

33

bilhões

anunciantes defendem apenas a autorregulamentação do segmento. Enquanto o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), composto por entidades da sociedade civil e ministérios do Governo Federal, entende que é preciso avançar e garantir que campanhas abusivas sejam proibidas. A entidade chegou a aprovar, em 2014, a resolução 163, que tenta estabelecer critérios para essa comunicação. No entanto, a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), juntamente a outras oito associações de setores ligados ao comércio e à comunicação, divulgaram uma nota indicando que reconhecem apenas o Congresso Nacional como foro com legitimidade para legislar sobre publicidade comercial. A resolução ainda não passou pelo Congresso. Outras organizações não veem com bons olhos a medida. Interessado em saber qual seria o impacto econômico da resolução, a organização Maurício de Sousa Produções contratou um estudo com a consultoria GO Associados. O resultado foi divulgado no dia 11 de dezembro de 2014 e indica que o fim da publicidade infantil pode gerar uma perda de R$ 33 bilhões, além da queda de arrecadação de impostos em R$ 2,2 bilhões e do corte de 720 mil postos de trabalho, tirando, assim, R$ 6,4 bilhões de salários de circulação. O empresário e associado do Instituto Liberal de São Paulo, Marcelo Faria, acredita que os números apresentados pela GO Associados sejam reais, e se preocupa com o setor. “Basta pensarmos no mercado que depende da publicidade infantil: produções e canais de televisão, jornais, revistas, produtos infantis de varejo como sapatos e higiene, educação, entre outros. Todos dependem da publicidade infantil que a resolução n° 163 veta. Na verdade, esse é justamente o foco desta resolução: atacar tais setores para que fiquem ainda mais dependentes do estado”, opina. O advogado William Wagner afirma que a medida é coerente com a legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Entendo que a


54

JANEIRO / 2015

Luta contra o marketing Juliana Terra é mãe de Ravi, um garoto de apenas três anos e um dos alvos diretos do bombardeio publicitário. Ela é defensora da medida e acredita na força da resolução para regulamentar as jogadas do marketing. “Tento controlar o tempo do meu filho diante da televisão, jogos de celulares e filmes em geral, mas nem sempre é fácil, porque além da televisão tem os coleguinhas da escola, familiares e amiguinhos que falam sobre os produtos que a publicidade tenta vender a esse público”, relata. A mãe de Ravi diz que é difícil lutar contra toda a persuasão da propaganda e diz que a televisão tem um papel muito forte nisso. “Fica realmente difícil. Infelizmente, a gente não pode colocar o filho numa bolha, nem esperar que ele tenha discernimento sobre o que é certo ou errado, sobre o que é consumismo ou marketing. Então, cabe aos pais e cuidadores tomarem conta disso e, com a ajuda do Estado, isso fica um pouco mais fácil”, argumenta. Juliana é favorável à medida, mas para ela a conversa é sua maior aliada. “Acho a melhor maneira de mostrar as nuances do mundo é ir criando nele uma percepção própria das coisas”. A mãe acha que o filho deve aprender a trabalhar suas vontades e identificar os sentimentos, por isso procura passar os ensinamentos ao pequeno. “As crianças não possuem maturidade emocional e isso vai sendo construído até os sete anos. Então, é bom levar a criança em lojas de brinquedos e perguntar ‘por que ele quer determinado produto e como ele se sente ao adquiri-lo’”, diz. O convívio com outras crianças no círculo escolar também gera mais estímulos. Juliana percebe que controlar as vontades de seu filho Ravi ficou mais difícil depois que o mesmo começou a frequentar a escola. “Ele vê um desenho, reconhece o personagem na loja e depois sabe que o colega tem. O resultado é que ele também vai querer. Mas eu sempre converso e quando compro algo eu determino dois brinquedos para ele escolher, nem sempre é o que ele quer”.

Alice tem apenas 10 anos. Apesar da pouca idade, ela já deixa claro que sabe o que quer. A mãe, Maria Ferraz, entende que é melhor que a filha conheça e saiba porque quer determinado produto. “A gente assiste a programas infantis juntas e sempre que há publicidade sobre determinado produto eu pergunto a ela o que ela acha dele, se é bom ou se tem algo ruim por trás. Minha filha tem consciência de que a publicidade pode ser boa, mas muitas vezes ela camufla algo que faz muito mal”, comenta. Maria Ferraz observa que assistir a essas programações é absorver uma avalanche de propaganda equivocada e praticamente obriga o telespectador comprar determinados produtos. “Os intervalos dos desenhos são recheados de brinquedos bobos que se tornam interessantes devido aos recursos gráficos. É meio assustador”

A Maria Ferraz e sua filha Alice.

Juliana Terra Mãe de Ravi


O poder do diálogo

Foto: Acervo Pessoal

Alimentação

premiada

Letícia Guedes

O publicitário Pig Neto também concorda que o assunto deve ser discutido dentro de casa. “Acho a medida válida, afinal quem tem que decidir o que as crianças devem consumir ou não são os pais. Eles sim têm senso crítico para decidir se o produto é adequado para a criança”, entende. O publicitário afirma que essa geração já cresceu sendo bombardeada por propagandas e que elas aprendem a lidar com elas. “Proteger os filhos disso é criar uma pessoa alienada. Conversar sobre publicidade é tão importante quanto falar sobre como nascem os bebês. Eu, por exemplo, sempre quis ter os 12 cavaleiros de ouro, mas aos 10 anos aprendi que isso não seria possível. Entendi desde cedo que era ser consumidor e que nem tudo que eu via no intervalo comercial poderia ter”.

“ Os pais devem aprender a dizer não e saber que nem tudo está passível de diálogo” Jô Furlan

JANEIRO / 2015

“Os pais se dizem preocupados com o que os filhos andam vendo, mas não se preocupam em conversar com eles.”

Um dos aspectos mais sensíveis no que se refere à publicidade infantil está relacionado aos brindes das lanchonetes. Não só as crianças ficam tentadas, como os adultos se deixam persuadir pelos produtos. Além disso, existem situações em que as crianças têm tanta dificuldade em comer que os pais se veem tentados a dar algum tipo de recompensa quando a criança se alimenta. “Premiações são estimulantes. No quesito comida, todo mundo sabe que algumas (a maioria) das crianças têm certa dificuldade em se alimentar adequadamente. Acredito que as lanchonetes, principalmente as de fast-food, se aproveitam disso e alguns pais se iludem com a proposta. O brinquedo neutraliza a refeição ruim, a percepção de que se está pagando caro por algo sem valor nutricional relevante e ainda desvirtua uma prática saudável que é a de se alimentar corretamente simplesmente porque é o certo a se fazer”, comenta Maria Ferraz, mãe da pequena Alice.

55

A psicóloga Letícia Guedes vê a resolução com cautela e diz que o principal instrumento para fazer com que uma criança saiba lidar com a publicidade é o diálogo. “A mídia sabe o poder de influência que tem e usa isso a seu favor para que a criança queira consumir determinado produto. É preciso que os pais fiquem atentos a esse tipo de conteúdo. A maior ferramenta que nós temos é o diálogo”, fala. A profissional alerta para o comportamento dos pais em relação ao consumismo e diz que não é porque a criança pediu um brinquedo novo que eles têm de comprar. “Os pais se dizem preocupados com o que os filhos andam vendo, mas não se preocupam em conversar com eles. A mídia pode veicular o que ela quiser, mas cabe ao pai e a mãe monitorar o que os filhos estão assistindo”, afirma. No entendimento de Letícia, o horário de determinados comerciais deveria ser modificado, mas ela não concorda com a proibição da propaganda como a resolução impõe. O neurocientista Jô Furlan acredita que é preciso estabelecer limites com a própria criança. “Nós vivemos rodeados por informação e as crianças estão muito expostas a todo tipo de padrão dessas informações. É por isso que temos de dar limites. É preciso estabelecer isso”. Por outro lado, ele se diz preocupado com a questão da regulação da propaganda infantil. “Sempre que se fala em regular ou regulamentar vem alguém querendo coibir algo mais. É preciso discutir isso com serenidade”, alerta o médico. Jô Furlan acredita que os pais precisam ser mais firmes e deixar de lado essa postura de não saber dizer não. Pra ele, ser amigo dos filhos não significa ter de ser necessariamente “bonzinho”. “Os pais procuram ser amigos e evitam criar uma imagem dura. Mas se o pai nem a mãe forem os responsáveis pela formação dos filhos, quem vai ser? Eles devem aprender a dizer não e saber que nem tudo está passível de diálogo”, conclui.


UPGRADE Campus Party 2015 A oitava edição da Campus Party Brasil, um dos principais eventos sobre tecnologia e cultura geek do país, será realizada do dia 3 ao dia 8 de fevereiro, trazendo como assuntos principais startups, drones e a moeda eletrônica Bitcoin. Confirmado na programação estão o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis; Camille François, pesquisadora de internet e sociedade no Berkman Center; Chris Anderson, autor do livro A cauda longa; Paul Zaloom, ator da série O mundo de Beakman; John Cioff, considerado o pai da tecnologia de banda larga; 5: Matthew Reyes, estrategista da NASA, dentre outros palestrantes. Este ano, o evento será realizado no Parque Anhembi, com 8 mil campuseiros e velocidade de conexão de 40 Gbps. Uma das novidades da edição será a transmissão online de games, resultado de uma parceria entre a loja virtual de indie games Spliplay e a publicadora de jogos brasileiros Labindie. Outra novidade no evento é o “quarto de vidro”, que terá uma cama confortável, ar condicionado e videogame particular para o participante que for selecionado através de um concurso de melhor postagem sobre “a dureza de dormir mal” na Campus Party. A empresa responsável pela ação também irá transmitir pela internet tudo o que acontecer dentro da casa de vidro.

iPad é preferido entre os usuários Uma pesquisa feita pela empresa de pesquisas web-mobile MeSeems, realizada com 3.095 pessoas de todas as regiões do país das classes A, B, C e D, constatou que o iPad, da Apple, é o preferido entre os usuários de tablets, tendo conquistado a preferência de 62% dos entrevistados. O segundo lugar ficou com a Samsung, com 25%. As demais marcas representam 13% do total. Dos que possuem tablet, 22% adquiriram há mais de dois anos, 33% entre 1 e 2 anos e 29% entre 6 meses e 1 ano. Entre as funcionalidades mais aces-

sadas no dispositivo móvel, a resposta de múltipla escolha constata que 70% utilizam o tablet para acessar as redes sociais, 66% para ler notícias, 62% para jogos e 60% para ler e enviar emails. Somente 30% usam o aparelho para tirar ou ver fotos. A pesquisa apurou também a frequência que os usuários costumam adquirir um novo tablet: 65% dos respondentes compraram apenas um tablet até hoje, enquanto 9% adquirem um aparelho por ano e 15% trocam de dispositivo a cada dois anos.


Asus lança Zenfone 2

O relatório fiscal da Apple mostrou que foram arrecadados US$ 74,6 bi no último trimestre, contra US$ 57,6 bi do mesmo período de 2014. No Brasil, a venda de iPhones dobrou no período fiscal. A nível mundial, a Apple vendeu apenas 600 mil smartphones a menos que a concorrente Samsung.

O compacto eletrônico BMWi3, lançado no país em 2014, usa em sua composição painéis de porta e partes do console frontal feitos em plástico reciclado e apliques de madeira de árvores de eucalipto de reflorestamento. Outras empresas vêm buscando utilizar em protótipos, e em larga escala, produtos como bananeira, casca de arroz, garrafa PET, bagaço de cana e couro de peixe.

A companhia taiwanesa Asus lança o Zenfone 2, a nova edição de seu smartphone apresentado no ano anterior, e que teve uma média de 1,5 milhão de unidades vendidas no último trimestre de 2014. O aparelho foi apresentado em feira internacional com uma série de melhorias, como o processador Intel Atom de 2,3 GHz, com 4 GB de RAM e conectividade 4G/LTE. A câmera frontal é uma grande angular com 5 megapixels de resolução, enquanto a traseira tem 13 migapixels. O Zenfone 2 deve chegar ao mercado brasileiro no começo do segundo semestre, sem preço definido ainda.

TECNOLOGIA

sinal vermelho

Competição

Uma das maiores agências de notícias do mundo está há seis meses distribuindo textos escritos por robôs. As matérias geralmente são sobre resultados financeiros. Os textos são simples e sem criatividade, mas trazem muitos números. A tecnologia por trás disso se chama Wordsmith e foi criada pela Aumated Insights.

A games americana Sega anunciou que dará início a uma reestruturação e direcionamento da empresa. O objetivo é estancar as perdas que tem acendido o sinal vermelho. A empresa lucrou apenas US$ 34 milhões em seu último ano fiscal, uma queda abrupta em relação ao ano anterior que teve um ganho de US$ 260 milhões. Para tanto, vai se se concentrar em títulos para PC e dispositivos móveis.

João Pessoa sediou no final de janeiro o Global Game Jam (GGJ) - maior evento jam jogo do mundo. Todos os anos eles se reunem em uma sexta-feira e assistem a um keynote (pequeno vídeo) com conselhos de líderes do setor. Na ocasião, recebem um tema secreto. Os sites em todo o mundo são desafiados a fazer jogos baseados nesse mesmo tema e o resultado dever ser concluído até o domingo. Na edição de 2015, mais de 28 mil pessoas foram cadastradas, em 518 locais de 78 países. Em João Pessoa, foram 48 horas ininterruptas de trabalho, resultando em 18 games inéditos desenvolvidos.

JANEIRO / 2015

Peças de carro sustentáveis

57

Apple cresce no Brasil


Saúde

58

JANEIRO / 2015

Dieta saudável no trabalho Conciliar vida corrida à alimentação saudável é tarefa quase impossível. Especialistas em nutrição dão dicas de como ter uma dieta mais balanceada durante o expediente


Q

uando trabalhava como zelador, Jadson Pereira não tinha tempo para se alimentar em casa e deixava a refeição mais importante do dia para fazer no trabalho, às nove horas da manhã. Ele também levava marmita para comer no horário do almoço e, no meio da tarde, podia sair para fazer um lanche, geralmente um salgado. Já a professora Aline Medeiros de Lima trabalha quatro horas por dia e tem meia hora para lanchar,

Foto: Agência Brasil | Arquivo pessoal

“Essa busca por alimentação saudável, na maioria das vezes, sem orientação adequada, se torna um perigo”

JANEIRO / 2015

Por Umberlândia Cabral umberlandia@revistanordeste.com.br

junto com as crianças da escola. “Meu lanche geralmente é café e biscoito. Eu como cinco vezes por dia, mas não sigo as horas certas de alimentação e geralmente meus lanches são pouco nutritivos”, confessa. A rotina de ambos difere, assim como a da maioria dos brasileiros, mas traz um problema em comum: a falta de tempo e de organização para se alimentar adequadamente no trabalho. Não é raro encontrar pessoas que, devido à falta de tempo, optam por fast food. Isso, claro, vai em contramão ao interesse da maioria das pessoas de ter uma alimentação mais saudável. A nutricionista funcional Cláudia Oliveira afirma que, independentemente da faixa etária, as pessoas estão procurando se alimentar melhor, seja para prevenir doenças ou simplesmente para adquirir qualidade de vida. Mas com esse interesse podem surgir alguns riscos. “Essa busca por alimentação saudável pode se tornar um perigo. A indústria alimentícia tem ofertado aos consumidores alguns alimentos tidos como saudáveis, mas, na verdade, muitos são ricos em açucares, adoçantes e gorduras. Um exemplo são os snacks, apesar de práticos, têm alto teor de sódio e não oferecem os nuturientes que prometem”, afirma. A especialista diz que o mais indicado é procurar orientação nutricional para que o profissional responsável elabore um plano alimentar adequado para que as necessidades orgânicas individuais sejam atendidas. “Podemos sugerir alimentos de baixo índice glicêmico, que não tenham impacto

Cláudia Oliveira 59

Aline Medeiros tem meia hora para lanchar na escola onde trabalha

na glicemia, com baixo teor de sódio (menos e 200mg a porção) e ricos em fibras, como castanha de caju e iogurte natural sem conservantes”, recomenda. Outro conselho da nutricionista aos seus pacientes é para que eles nunca passem mais de três horas entre uma refeição e outra. A pedagoga Cristiane Viana tenta cumprir todas as recomendações nutricionais diariamente. “Eu trabalho de manhã, então eu tomo um café bem nutritivo em casa e levo uma fruta para lanchar de manhã. O almoço também faço em casa”. O ideal é que a fruta possa entrar no cardápio em qualquer refeição, inclusive sendo misturada a outros alimentos. “As frutas têm boa digestão e podem ser ingeridas junto ao almoço ou jantar, o que não pode é comer em excesso, pois mesmo sendo saudável têm alto teor de frutose que eleva a insulina”, esclarece Cláudia Oliveira.


Vale-refeição não é obrigação da empresa Fornecer o vale-alimento não é obrigação de nenhuma empresa. O artigo que versa sobre o assunto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) deixa claro que o valor do salário já inclui alimentação, habitação e vestuário. Mas, caso a empresa tenha mais de 300 funcionários, ela terá de ter um refeitório apropriado às condições sanitárias e de conforto para que os empregados possam utilizá-lo. Alguns empresários estão optando por essa medida para que os funcionários se ausentem o menor tempo possível do local de trabalho. Há também uma preocupação com os riscos de acidente do trajeto e as intervenções familiares, que poderiam tirar o foco do trabalhador.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estabelece as condições mínimas para que o empregado possa manter uma boa qualidade de vida. Com esse objetivo, foi criado o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que procura melhorar as condições nutricionais, a redução de acidentes e o aumento da produtividade. Segundo o MTE, o programa prioriza o atendimento aos trabalhadores de baixa renda, ou seja, os que ganham até cinco salários mínimos mensais. O PAT é uma parceria entre o Governo Federal, a empresa e o trabalhador. Nesse caso, a parcela paga pela empresa não se incorpora à remuneração, portanto não tem natureza salarial.

o lanche

IDEAL Nutricionista funcional dá dicas do que deve ser consumido

OLEAGINOSAS Amêndoas, nozes, macadâmia, pistache, castanhas de caju e do Brasil FRUTAS SECAS Damasco, passas,ameixa, tâmara FRUTAS Pêra, melão, mamão SEMENTES Girassol, abobora

60

JANEIRO / 2015

SALGADOS Já há no mercado alimentos como coxinha, empada e quiche assados no forno com massa de inhame e batata doce


a marmita

IDEAL

Nutricionista ensina como preparar a marmita para o trabalho

Cozinhe um dia antes

Leve carnes magras

A salada é essencial

combinação de grão e raiz

Leve uma fruta de sobremesa

marmita térmica

Você deve preparar a refeição 1 ou até 5 dias antes, dependendo do tipo de alimento. Ele deve ser conservado na geladeira

Frango e carnes vermelhas magras, como patinho e coxão mole, são fáceis de preparar, além de serem ideais para a conserva

Deve ser preparada no dia, já que ela é mais difícil de conservar. Uma sugestão é que você use frutos como pepino e pimentão

Prefira arroz integral e feijão magro. A batata doce, a macaxeira e o inhame têm um tempo de vida maior, logo são ótimas opções

A laranja, além de nutritiva, é uma fruta mais fácil de conservar. O abacaxi também é ideal, desde que você não tenha problema de acidez

É importante que você tenha uma marmita ou uma bolsa térmica, que podem ser encontradas a preços acessíveis no mercado

RENDIMENTO DEPENDE DA ALIMENTAÇÃO

“A alimentação envolve questões como o raciocínio, a concentração e a memória” Carolina Vasconcelos Foto: Agência Brasil | Arquivo pessoal

Refeições balanceadas ajudam a melhorar o desempenho. Isso porque aumenta a disposição e diminui o cansaço físico de quem vai trabalhar. A nutricionista Carolina Vasconcelos confirma que a alimentação realizada durante o horário de trabalho está diretamente ligada à saúde do trabalhador. “A alimentação envolve questões como o raciocínio, a concentração e a memória. Elas podem ser afetadas quando o indivíduo está mal alimentado. Também é importante fazer todas as refeições para manter o foco naquilo que você está desenvolvendo”, explica. Segundo Carolina, o tipo de alimento e a quantidade influem diretamente no resultado do trabalho. “As pessoas que não podem se alimentar nas horas ideais tendem a compensar

tudo na hora do almoço, aumentando a quantidade da comida e dilatando o estômago. O resultado é uma digestão mais pesada e sonolência no trabalho, o que faz cair o rendimento”, alerta. O primeiro passo para uma boa dieta é o planejamento. Segundo Carolina, por não se organizarem, muitas acabam indo trabalhar sem fazer a primeira refeição e a mais importante do dia, ou mesmo comprometendo as demais. “Isso pode virar um ciclo vicioso”. Muitas vezes, o acúmulo de tarefas faz com que os funcionários não consigam parar para comer e atrapalhem suas refeições. “Por falta de tempo, eles acabam sem fazer a alimentação de forma adequada. Muitas vezes não sentam, não mastigam bem ou mesmo respiram de forma correta. E isso vira uma bagunça”.


Saúde

Método alternativo Especialistas em terapias não convencionais adotam a auriculoterapia. O método oriental trata de doenças como cefaleias, neurastenia, insônia e dores através de pontos da orelha Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

62

JANEIRO / 2015

U

m dos mais antigos métodos terapêuticos praticados na China, ainda pouco disseminado por aqui, a auriculoterapia (ou cura através da orelha) chama atenção pelo diagnóstico e tratamento de mais de 200 doenças. A técnica é muito eficaz, pois atua no físico e emocional do paciente, sendo uma vertente da acupuntura. A terapia consiste na estimulação com agulhas, sementes de mostarda, objetos metálicos ou magnéticos em pontos específicos da orelha para aliviar dores ou tratar diversos problemas físicos ou psicológicos, entre os quais, ansiedade, enxaqueca e contraturas. Ajuda, inclusive, no emagrecimento, diminuindo a ansiedade, equilibrando a fisiologia do corpo e diminuindo a compulsão alimentar. A auriculoterapia é importante no diagnóstico e prevenção de patologias, através da observação dos pontos específicos da orelha que se encontram alterados. No Brasil, onde vem se desenvolvendo um sistema próprio de experimentação no Instituto Brasileiro de Acupuntura e Homeopatia (IBRAHO), essa técnica é aprendida e utilizada por

terapeutas e profissionais de acupuntura associada ou não à então denominada acupuntura sistêmica. “Os microssistemas são regiões específicas do corpo que têm uma relação com todo o resto. Além da área auricular, existe a reflexologia, que é a dos pés; a craniana, na cabeça; e a quiroacupuntura, nas mãos”, explica o fisioterapeuta Jader Duarte. Ele conta que a auriculoterapia é um dos ramos mais usados na atualidade. Jader tem interesse pela medicina chinesa há muitos anos e começou seus estudos com o tai chi chuan, um dos cinco pilares da medicina chinesa. Adriane Lafemin também se interessou pela aplicação das agulhas e há 15 anos vem trabalhalhando com ativididades relacionadas ao corpo. Ela associa o método a aulas de Yoga, alongamento e hidroginástica. “Conheci a auriculoterapia através de uma aluna terapeuta. Ela me ajudou a acabar com uma ciatalgia que me incomodou por três anos. Usei também para auxiliar no tratamento de uma bursite de quadril e, eventualmente, quando há necessidade, uso para rinite alérgica e TPM”, relata.

Tainá Myra se surpreendeu com os resultados do tratamento

Adriane explica de onde partiu a crença de que a orelha é um microssistema da acupuntura. “Segundo a medicina tradicional chinesa, acredita-se que o formato de nossas orelhas seja semelhante ao de um feto humano. Por isso, é possível perceber que determinados pontos correspondem a alguns sentidos, órgãos e emoções. Quando esses reflexos são estimulados o cérebro recebe um impulso que desencadeia uma série de fenômenos físicos, relacionados com a área do corpo, produzindo a cura”, ressalta.


Aliando tratamentos

Foto: Divulgação | Acervo Pessoal

A acupuntura já é reconhecida no SUS e é complementar à medicina moderna.

Indicações e contra-indicações Nem sempre a auriculoterapia oferece resultados imediatos, mas em alguns casos os pacientes sentem alívio instatâneo. O resultado mais eficiente observado por especialistas é em relação às cólicas menstruais. Com o tratamento isolado da auriculoterapia é possível resultado na primeira sessão. Se houver continuidade do tratamento, as dores passam a vir com menos intensidade e desconforto nos meses seguintes.

A auriculoterapia não é, entretanto, indicada para qualquer caso. É preciso tomar cautela com gestantes antes do quinto mês de gestação ou com história de abortos frequentes. Do quinto ao nono mês, as gestantes não devem usar pontos do ovário, do útero, secreção glandular, do abdomen e pelve. É contra-indicado em casos de lesões, inflamações do pavilhão auricular, em pessoas com hipersensibilidade, anemia ou em casos de esgotamentos excessivos.

JANEIRO / 2015

Problemas relacionados a dores articulares também são tratados com o método e o resultado é bastante eficiente.

63

Mas a prática milenar ainda desperta desconfiança no mundo ocidental. A estudante de farmácia Tainá Myra conta que só procurou o tratamento na última instância. “Comecei a ter dores de coluna e fui a mais de oito médicos ortopedistas e alguns fisioterapeutas. Mas não adiantou. Fiquei sem andar e somente nesse momento me rendi ao tratamento alternativo. Confesso que não acreditava muito e que só procurei tratamento no desespero”, relembra a estudante. Apesar da desconfiança, ela afirma que se sentiu segura desde a primeira consulta. Isso porque passou por uma avaliação criteriosa, que considerou não apenas os sintomas, mas todo o seu histórico. “O que nenhum médico fez antes”. Ela começou o tratamento com a acupuntura para aliviar os sintomas e garante que na primeira sessão já sentiu melhoras. “As dores foram ficando mais suportáveis. Fui ao neurologista por indicação da acupuntura e a suspeita do que eu tinha se confirmou. Tratei do meu problema a partir da osteopatia, ou seja, sem a necessidade de remédios ou cirurgias”.

A produtora cultural Nina Bamberg também buscou métodos tradicionais para aliviar seu estresse. Por causa de suas inflamações nas costas, Nina optou por tomar primeiramente anti-inflamatórios para solucionar o problema, mas não bastou. Há dois meses, a produtora faz semanalmente uma sessão de acupuntura e auriculoterapia. “A acupuntura é para tratar as inflamações e a auriculoterapia para aliviar a musculatura e não deixar que os músculos fiquem numa posição que inflame novamente”, contou. Mas nas orelhas, Nina não faz uso das agulhas. “Passo o dia com sementes de mostarda nos pontos específicos”, explicou. Para Jader, que não descarta a medicina ocidental dependendo do problema de saúde, a chave na auriculoterapia é o aspecto holístico. “Dependendo do problema que o paciente apresentar, a gente não pode descartar a utilização da medicina tradicional”, disse. No Brasil, a acupuntura também é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e é reconhecida como especialidade médica de acordo com a deliberação do Conselho Federal de Medicina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a prática um complemento da medicina moderna. “Às vezes se tem um resultado imediato na acupuntura, porque nem sempre se trata de um problema do corpo físico, mas a relação pode ser bio-psíquico-social do indíviduo. Por exemplo, quando uma pessoa está com algum problema gástrico, você se questiona ‘será que não existe algum problema emocional?’. Algumas emoções como a raiva, acabam atingindo alguns órgãos do corpo humano. A raiva atinge diretamente o fígado, que é um dos meridianos do nosso corpo. E o fígado tem uma relação direta com o estômago e essa relação pode estar bloqueada por causa desse sentimento. E aí você vai um pouco mais além dessa emoção, buscando compreender porque ela existe”, completa.


Meio Ambiente

CRISE EM SP PROVOCA Mudanças de hábitos Procurar formas de reutilizar a água tem deixado de ser opcional para virar necessidade. Muitas pessoas e empresas vêm se aproximando de medidas alternativas para evitar a escassez desse precioso líquido


Agatha Justino

Foto: Duke University, da Carolina do Norte (EUA) | Divulgação

JANEIRO / 2015

“Nunca faltou água na minha torneira quando morava na Paraíba. Quando cheguei em São Paulo, por ironia do destino, senti o que era falta d’água. Além de ter de tomar banhos mais curtos, precisei me reeducar em outros sentidos”

o fluxo na empresa aumentou. Contabilizamos um aumento de 300 a 400% nas nossas vendas”, afirma Bruno. Se depender da crise, provavelmente as vendas vão continuar aumentando. No dia 14 de janeiro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, admitiu o racionamento da água. Na mesma data, em entrevista ao jornal local SPTV, o presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, anunciou a possibilidade de que o principal reservatório de água do estado, o Cantareira, secasse em março deste ano. Os dados do Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), observados até o fechamento desta edição, também não dão sinais positivos. Os índices dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam em 19%, enquanto no Nordeste estavam em 17%. As regiões Sul e Norte apresentam taxas bem mais tranquilas em comparação com as anteriores, 70% e 35%, respectivamente. Segundo um levantamento feito pela Comerc Energia, desde 2000 os reservatórios do Sudeste não ficavam com os níveis de armazenamento abaixo de 20%. Na época, o pior número registrado foi o de setembro de 2001, quando o nível chegou a 20,61% da capacidade, desencadeando o racionamento de energia no país.

Bruno Priszculnik Diretor da BraClean

65

M

udanças climáticas têm provocado situações atípicas em todas as regiões do país. O Sudeste, por exemplo, conheceu de perto a tão sofrível seca, enfrentada pelos nordestidos há décadas. Em virtude da crise hídrica, a escassez de água nessa região provocou mudanças de hábitos na população. No Nordeste, onde o povo já é acostumado a ter pouco líquido, o problema é enfrentado com criatividade. Buscar formas de reaproveitar e reutilizar a água tem sido mais do que uma medida ecológica, mas fundamental para a sobrevivência dos sertanejos. Embora seja da Paraíba, a jornalista Agatha Justino confessa nunca ter vivido tão de perto o problema em sua terra natal. Nascida no interior, ela foi para a capital paraibana muito nova. Mas foi em São Paulo, onde está morando atualmente, que sentiu na pele as consequências da escassez de água. “Na Paraíba, nunca faltou água na minha torneira, apesar de a palavra ‘seca’ fazer parte da nossa realidade. Mas, mesmo não sendo afetada por isso, acompanhava o sofrimento dos sertanejos. Eu cheguei aqui em São Paulo e, por ironia do destino, senti o que era falta d’água. Além de ter de tomar banhos mais curtos, precisei me reeducar em outros sentidos”, conta. A mudança de hábito criou demandas diferentes também para o ex-piloto Bruno Priszculnik. Hoje, ele é diretor da BraClean, uma empresa destinada a produtos de higienização de carros sem a utilização de água. Em atividade desde 2014, Bruno diz que as pesssoas passaram a apostar mais no produto, porque a necessidade falou mais alto. “No começo, a gente via um pouco de resistência. As pessoas tinham medo até pelo histórico de outras empresas semelhantes, mas que usavam produtos que desgastavam o carro ou causavam odor. A partir do último trimestre de 2014, com o aperto na crise hídrica,


Aproveitar a água da chuva é uma solução sustentável. Um projeto com esse objetivo vem sendo desenvolvido na comunidade Santo Amaro, no município de Santa Rita, próximo à capital paraibana. A iniciativa faz parte de uma parceria iniciada em 2013 entre Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e a Duke University, da Carolina do Norte (EUA). A equipe conta com oito alunos brasileiros, oito da Duke e dois professores brasileiros, além de seis voluntários . O estudante de Engenharia Civil da UFPB, Márcio Gonçalves, participa da pesquisa desde seu início, em 2013. “Não chamamos isso de reuso, nesse caso é ideal usarmos o termo ‘aproveitamento de águas pluviais’, isso porque antes a água era simplesmente descartada”, argumenta o estudante. A opção da equipe que está desenvolvendo a pesquisa foi pelo sistema de descarte, devido a maior praticidade de operação e manutenção. “Os primeiros volumes de chuva são conduzidos, através de tubos de PVC, a um tonel com capacidade para 100l litros. Quando esse tonel enche, uma bola flutuante sobe e tampa o tubo, que desemboca nele e a água passa para o reservatório de armazenamento”, explica Márcio. Por enquanto, o sistema só foi aplicado em dois imóveis, um deles no local onde funciona a ONG Casa dos Sonhos, que também atua no desenvolvimento de medidas sustentáveis. A água do reservatório é para uso não potável, sendo utilizada para lavagem de ambientes externos e para as descargas dos banheiros. Por enquanto, o grupo não está buscando novas parcerias públicas ou privadas para ampliar a aplicação do projeto.

Preparação do terreno para a construção dos tanques

Equipe trabalha no levantamento das paredes dos reservatórios

3

2

Tonel tem capacidade de armazenar até 1001 litros de água

4

Imóvel recebe tubos em PVC para a captação da água da chuva

66

JANEIRO / 2015

Parceria entre universidades

1

Foto: Duke University, da Carolina do Norte (EUA)


medidas simples para a reutilização de água Medidas para evitar a escassez da água vêm sendo adotadas em vários locais do Nordeste. Na Paraíba, por exemplo, a organização católica Ordem do Carmo vem realizando métodos de reaproveitamento da água usada na cozinha e na lavagem de roupas para a irrigação de plantas. Na casa das irmãs em Cajazeiras, interior do estado, foi implantado um sistema de reutilização da água. “Construímos quatro tanques para fazer a filtragem do líquido, mas só o último serve de reservatório da água que utilizamos para irrigar as fruteiras”, explica Irmã Vilma, que foi a responsável pela instalação do sistema em outubro de 2014. Para a Irmã Giuseppe, que mora na residência das carmelitas em Cajazeiras, a medida veio em boa hora.

“Nós utilizamos muita água em casa, porque são dezoito irmãs e sempre recebemos pessoas aqui. Há um fluxo muito grande. Nós lavamos roupa quase todo dia”, relata. A Ordem do Carmo tem experimentado outros métodos nas demais cidades em que atuam. No sul do estado, em Princesa Isabel, o sistema é um pouco mais simples, de acordo com Irmã Vilma. “Além da instalação na nossa congregação. O centro das carmelitas funciona como um espaço de formação, porque buscamos entender como funciona a tecnologia para que possamos passar o conhecimento para as comunidades próximas. Nosso objetivo é promover uma melhor convivência entre a população e o semi-árido”, conta.

“Nós procuramos aprender como funciona a tecnologia para passarmos para as comunidades próximas” Irmã Vilma


68

JANEIRO / 2015

Turismo


Turismo para todos Cresce o investimento na atração de turistas com deficiência ou mobilidade reduzida. As mudanças são incipientes, mas já trazem resultados importantes

Foto: Divulgação

ção do aeródromo da ilha, o aumento de transporte público que atende os principais atrativos e a oferta de ônibus acessíveis para pessoas com deficiências. A cidade de Ipojuca, também em Pernambuco, foi outro destaque do estudo. Criado em 2013 pela Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur) em parceria com a prefeitura do município, ela faz parte do projeto Praia sem Barreiras, que atendeu em um ano mais de 2,5 mil usuários nas cinco praias contempladas com a ação: Boa Viagem, Porto de Galinhas, Fernando de Noronha, Olinda e Candeias. O projeto foi eleito uma das 11 iniciativas inovadoras apresentadas no Índice, entre mais de 80 analisados. Para o presidente da Empetur, André Correia, a escolha dos destinos pernambucanos no Índice de Competitividade do Turismo Nacional reflete a importância do tema acessibilidade no estado. “A criação do Praia Sem Barreiras, além de outras ações voltadas para a acessibilidade, tem o objetivo de proporcionar conforto e momento de lazer a pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida. Estamos muito felizes em ver que esta iniciativa está sendo reconhecida devido a sua importância para Pernambuco e também para o país”, comemora.

69

C

adeirante desde os seis anos, o pernambucano José Camilo Dias (39) sempre fora apaixonado pelo mar, mas desde que perdeu o movimento das pernas, pensava que não voltaria a sentir o gosto salgado da água e muito menos fazer um mergulho nos corais, experiência que sempre quis vivenciar. Aos 37 anos, ele realizou o sonho em um dos destinos mais procurados do país, Fernando de Noronha. “Lá eles fazem o que se chama de mergulho adaptado. Foi um momento mágico. Debaixo da água as deficiências praticamente desaparecem. Senti que era dono de mim mesmo, não tinha calçadas inacessíveis ou escadas para me preocupar. Não me lembro da última vez que senti tamanha liberdade”, conta o professor de inglês. O local escolhido por José Camilo para mergulhar foi, em dezembro de 2014, destaque do Índice de Competitividade do Turismo Nacional. De acordo com a pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, Sebrae e Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Noronha é o destino brasileiro que mais avançou no quesito Acesso. A avaliação revelou que dentre as ações que alavancaram a evolução do arquipélago estão a amplia-

JANEIRO / 2015

Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br


70

JANEIRO / 2015

Iniciativas são pontuais Ricardo Shimosakai ficou paraplégico em 2001, quando levou um tiro em um sequestro relâmpago. Após o incidente, ele graduou-se turismólogo e criou em São Paulo a primeira operadora de turismo acessível da América Latina, chamada Turismo Adaptado. Ricardo conta que antes de precisar da cadeira de rodas, passeava e viajava com frequência e, quando teve que enfrentar a deficiência, resolveu retomar esse prazer. “Comecei a pesquisar e organizar meus passeios e viagens, enfrentando dificuldades e superando inúmeras barreiras, mas sempre tomando isso como um aprendizado. Meus colegas com deficiência, sabendo disso através de meus registros em foto, vídeo e minhas histórias, começaram a pedir dicas, informações, e que eu levasse eles junto comigo”, lembra o empresário sobre quando decidiu se dedicar ao segmento. Ricardo diz que a empresa é procurada por pessoas que passaram por decepções tentando viajar sozinhas ou com uma empresa despreparada e que a Turismo Adaptado auxilia não só pessoas com deficiência, mas todas que tenham a acessibilidade como um desafio, como idosos, pessoas com problemas de saúde, como os que fazem hemodiálise, têm hipertensão pulmonar ou qualquer outro tipo necessidade que geralmente o mercado do turismo não está acostumado a atender. Para o empresário, a questão da acessibilidade no turismo ainda é muito heterogênea no país. “Temos ótimas iniciativas ou lugares onde ela é praticamente inexistente. Essa observação se aplica também para o Nordeste. Mas por ser uma região muito procurada principalmente pelas praias e natureza, são nessas áreas que surgem algumas iniciativas”, explica. Ele cita o exemplo da

jangada acessível em Maceió, dos sítios arqueológicos com passarelas no Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí, os passeios de buggy pelas dunas de Natal e a adaptação no Pelourinho em Salvador, mas alerta para o fato de que essas são ações pontuais. Para o empresário, de modo geral, os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Sergipe e Paraíba são os que mais precisam desenvolver projetos nessa área, porque têm raras iniciativas para o turismo acessível.

“Comecei a pesquisar e organizar meus passeios e viagens, enfrentando dificuldades e superando barreiras, mas sempre tomando isso como um aprendizado” Ricardo Shimosakai


Falta informação Ricardo Shimosakai diz que é preciso fazer um bom planejamento para viajar e encontrar hotéis com quartos adaptados, veículos com acessibilidade e guias que entendam as necessidades desse público. Ele afirma que o viajante muitas vezes cai em algumas armadilhas, fazendo reserva em hotéis que dizem ser adaptados, mas na realidade não tem a compreensão do que é a acessibilidade. “Pessoas com deficiência podem ter necessidades e habilidades diferentes uma das outras, e nessa linha de pensamento, devemos enfatizar pessoas com deficiência visual, auditiva e intelectual, que quase nunca são lembradas. Um estabelecimento pode estar adaptado para um tipo de deficiência, mas dificilmente um hotel brasileiro está plenamente pronto para atender a todos os tipos de necessidades especiais”, argumenta. Para Ricardo, o maior problema em relação à frustação dos viajantes com deficiência quando chegam aos seus destinos é proveniente da falta de informação. Por um lado, do hotel, atrativo turístico ou prestador de serviço que não sabe informar as condições reais de acessibilidade e, por outro, do próprio turista que não busca informações. “Na verdade, até uma prestadora de serviço como uma agência de viagens deveria colher mais informações sobre a necessidade de seu cliente. Mas aí caímos em outra dificuldade que são os pacotes de viagens, que são produtos prontos, onde dificilmente se aceitam adaptações, o que é muito importante para pessoas que possuem necessidades específicas”, explica Ricardo.

Foto: Divulgação


No caminho do lucro

72

JANEIRO / 2015

Em um vilarejo simples, um padeiro vive com a sua esposa, onde têm que lidar com vários personagens famosos de contos de fadas, como o Lobo Mau, interpretado pelo ator Johnny Depp. Tudo segue a sua normalidade até o dia em que recebem a visita de uma bruxa, interpretada por Meryl Streep. Como castigo por algo feito pelo padeiro anos antes, ela joga um feitiço sobre o jovem casal para que eles não tenham filhos. Para desfazer a maldade, eles têm que seguir uma série de exigências. Essa é a sinopse de Caminhos da Floresta, filme que estreou no fim de janeiro e que está em cartaz nos cinemas. O filme apresenta uma estética que lembra o “Labirinto do Fauno”, filme de 2006, que conta a história de uma menina que abre um mundo de fantasias ao descobrir um labirinto. Mas diferente do longa de Guilermo de Toro, “Caminhos da Floresta” é um musical. E propõe uma mistura de músicas, cores sombrias, contos de fadas e grandes atores para conquistar o público e a crítica.

Para facilitar a vida de quem está em dúvida sobre qual filme escolher para assistir foi criado o Hinter, aplicativo gratuito que reúne dicas de amigos e avaliações sobre os produtos audiovisuais. Funciona assim: quando o usuário assiste a um filme, ele entra no aplicativo e pode escrever uma sinopse ou avaliar aquela produção, além de dar uma nota que vai até cinco estrelas. O post fica no feed dos amigos, que podem comentar e trocar informações. O aplicativo já está disponível na Apple Store e no Google Play.

Usar um musical da Brodway como matéria-prima para um filme não é novidade. A indústria cinematográfica já adaptou inúmeros sucessos como Cabaret, Chicago e My Fair Lady. Caminhos do Floresta é a terceira tentativa de adaptação do musical Into the woods (nome original do longa). Modernizar contos de fadas também já aconteceu muitas vezes antes, como em Malévola, grande sucesso que adaptou o conto da Bela Adormecida para contar a história da vilã. Somar todas essas características é também uma tentativa dos estúdios de cinema de conseguir lucro após vários prejuízos de grandes produções que não decolaram. Muito cotado em Hollywood, Johnny Depp é um dos atores que amargam essa baixa do cinema. Considerando só o mercado americano, o último filme de sucesso do ator foi Alice no País das Maravilhas (2010). Caminhos da Floresta pode ser a nova opção para quebrar o feitiço.

São Paulo está recebendo a mostra de um dos maiores artistas plásticos brasileiros da atualidade. O Centro Cultural Banco do Brasil trouxe a exposição “Bracher – Pintura e Permanência”, que reúne aproximadamente 90 obras do pintor mineiro Carlos Bracher. A mostra é uma retrospectiva dos 57 anos de carreira de Bracher e dá destaque para os retratos, marca registrada do artista. O público pode visitar a exposição até o dia 2 de março no CCBB SP e a entrada é gratuita.

Estão abertas as inscrições para os projetos de música, teatro, dança e exposições para compor a programação do Espaço Furnas Cultural, um espaço da empresa de economia que desenvolve ações no campo das artes. Projetos de todo o Brasil podem concorrer e as inscrições são gratuitas. Os interessados podem acessar o www.furnas. com.br para se inscrever até o dia 2 de fevereiro. No ano passado, o evento contou com 22 projetos e incluiu espetáculos de teatro adulto.

No próximo dia 6 um dos maiores blocos de pré-carnaval vai sair nas ruas de João Pessoa (PB). O Picolé de Manga se concentra no Posto 99, na Epitácio Pessoa, a partir das 19h. No ano que completa 22 anos, o bloco celebra ao som de Gabriel Diniz, Capilé, Ramon Schnayder e Gracinha Telles. O artista plástico Dadá Venceslau foi o responsável pelo estandarte do Picolé de Manga e também o compositor do hino da versão infantil do bloco, o Dindin de Manga, que sai no dia 3, no centro.


Metal em Fortaleza A banda finlandesa Sonata Artica vai se apresentar em Fortaleza no dia 21 de fevereiro. O grupo, representante dos estilos musicais power metal e melodic metal, traz um repertório de grandes sucessos dos quinze anos de carreira. Desde sua formação, o Sonata Artica já lançou oito álbuns. O show na cidade cearense também servirá para apresentar ao público o mais novo álbum da banda, o Pariah’s Child. Os ingressos custam entre R$ 60 e R$180 e estão sendo vendidos no site bilheteriavirtual.com. br.

Eletrônica em Salvador O DJ francês Bob Sinclair será uma das principais atrações do carnaval da Bahia. Com a tradição de ter seis dias de festa durante o mês da folia, Salvador abrirá as festividades com a presença de Anitta e de Saulo, na terça-feira (12). No dia seguinte (13), Claudia Leitte, Timbalada e Bob Sinclair animarão as ruas da cidade. No sábado (14), a festa fica por conta de Ivete Sangalo e Cheiro de Amor. Harmonia do Samba, Jorge e Mateus e Jammil sobem nos trios elétricos no dia seguinte (15). Por fim, Cheiro de Amor, Harmonia do Samba e Tuca Fernandes fecham a festa.

As inscrições para a 5ª edição do Festival de Cinema Baiano, que será realizado em Ilheus, estão abertas. O evento tem o objetivo de debater sobre a produção audiovisual baiana. Quem quiser se inscrever deve ficar atento às regras do festival: o filme tem que ser produzido na Bahia ou contar com a maioria de profissionais nascidos ou residentes do estado. As inscrições ficam abertas até o dia 20 de fevereiro, são gratuitas e devem ser feitas pelo site do evento, o feciba.com.br. O valor da premiação vai até R$ 3 mil.

Prêmio de Literatura O Prêmio Sesc de Literatura está com as inscrições abertas. Todos os escritores brasileiros ou estrangeiros residentes no país podem participar, desde que sejam maiores de 18 anos. As obras inscritas no concurso devem ser inéditas (até mesmo livros publicados apenas na internet não serão aceitos). As duas categorias do prêmio são contos e romances e cada autor só poderá participar com uma obra em cada classe. As inscrições podem ser feitas no site www.sesc.com.br.

Poesia paraibana A poetisa paraibana Débora Gil Pantaleão lançou, no último dia 29, o seu primeiro livro digital, que foi intitulado “Se eu tivesse alma”. O e-book retrata o universo poético e os sentimentos da autora de 25 anos. Embora seja mais adepta do livro impresso, Débora optou por lançar a obra em formato de e-book porque a leitura é mais rápida em aparelhos eletrônicos. Com cerca de 43 páginas (o número pode mudar de acordo com aparelho de leitura), o e-book pode ser comprado por R$15 no site da Amazon, da Livraria Cultura e nos aplicativos Google Play e Kobo.

JANEIRO / 2015

Ponto alto no carnaval do Brasil, a folia de rua de Recife este ano trará grandes nomes da música nacional. A abertura acontece no Marco Zero no dia 13 de fevereiro com Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, entre outros. No dia seguinte (14), será a vez de Titãs e Gabi Amarantos, Nação Zumbi e O Rappa animarem a festa. No Pátio de São Pedro, as atrações serão Luiza Possi (14/02), Luiz Melodia (15/02), Marcelo Jeneci (16/02) e Nádia Maia (17/02). As principais atrações se apresentam sempre a partir das 19h.

Cinema Baiano

73

Folia no Marco Zero


Cultura

Compositor cearense e um dos maiores ícones da música popular brasileira, Humberto Teixeira compôs clássicos como Asa Branca e Qui nem Jiló

100 anos do Doutor do Baião Por Umberlândia Cabral umberlandia@revistanordeste.com.br

74

JANEIRO / 2015

O

mês de janeiro é marcado pelo nascimento de um dos maiores compositores da música popular brasileira. No dia 5 de janeiro, se estivesse vivo, Humberto Teixeira faria cem anos. Ele, ao lado de Luiz Gonzaga, foi responsável por várias composições que elevaram a imagem do Nordeste, a exemplo de “Assum Preto” e “Asa Branca”. Em 2012, ano do centenário de Gonzaga, houve centenas de homenagens em todo o Brasil, entre elas o lançamento de um filme e um desfile

de escola de samba. Com o samba-enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”, a Unidos da Tijuca prestou o maior tributo que uma personalidade pode receber no Carnaval. No entanto, o aniversário do maior parceiro de Gonzaga não teve nem de longe a mesma recepção. A única festividade que foi realizada para a celebração da data aconteceu no Ceará, estado de Humberto Teixeira. O show musical “Humbertos” acontece no estado desde 2013 e

neste ano viajou por seis cidades até chegar a Iguatu, terra natal do compositor. Mas na ocasião do centenário do músico a data simplesmente foi ignorada e, dias depois, incluída nas festividades de emancipação política da cidade, que ocorreram no dia 19. Em 2014 o senador cearense Inácio Arruda propôs à então ministra da Cultura Marta Suplicy que o compositor fosse homenageado, in memoriam, com a Ordem do Mérito Cultural (OMC), prêmio que reconhece pessoas ou grupos artísticos pela sua contribuição à cultura brasileira. Mas o Doutor do Baião não estava na lista de 26 homenageados da edição passada do prêmio, na qual constavam músicos como Mano Brown e a dupla Bruno e Marrone. Aparentemente a relevância artística de Teixeira foi ignorada não só pela comissão técnica do concurso, mas também por artistas que esqueceram de prestar algum tipo de culto ao cearense que fez tanto pela nossa cultura. Eleito deputado federal pelo Ceará em 1954, obteve a aprovação da Lei Humberto Teixeira, que tinha o objetivo de divulgar a música brasileira no exterior.


São raras as imagens e entrevistas feitas com Humberto na mídia, mas algumas foram recuperadas e exibidas no documentário “O homem que engarrafava nuvens”, do cineasta pernambucano Lírio Ferreira. Além dessas imagens, o documentário traz depoimentos de artistas sobre a importância do compositor para a cultura brasileira. Como foi bem definido pelo cantor Otto, “Humberto era a pólvora e Gonzaga era o canhão”, e a partir desse encontro dos dois explodia o baião no Brasil. Quem ligava os aparelhos de rádio da época certamente escutava os versos ‘Eu vou mostrar pra você como se dança um baião’. Era a música brasileira sendo totalmente modificada. As músicas se popularizam tanto que no fim dos anos 60, o maior nome do rock brasileiro, a banda Os Mutantes gravou uma versão psicodélica de Adeus Maria Fulô, uma parceria de Humberto Teixeira com Sivuca. Outro exemplo é a canção Asa Branca, parceria de Teixeira com Gonzaga, que foi interpretada por inúmeros músicos, entre eles Maria Bethânia, Elba Ramalho e David Byrne.

Foi em Iguatu, no interior do Ceará, que nasceu Humberto Cavalcanti Teixeira, onde desde cedo já mostrava grandes aptidões musicais. Aos seis anos aprendeu a tocar musette, uma espécie de gaita de foles francesa. O interesse pela música foi crescendo junto com ele e um dos maiores sonhos de Humberto era aprender piano. O plano foi logo cortado pelo pai, alegando que o instrumento era ‘coisa de mulher’. Para o pai, o menino poderia aprender flauta ou qualquer outro instrumento. E foi o que Humberto Teixeira fez. Aos treze anos, Humberto já tocava flauta na orquestra que musicava filmes mudos no Cinema Majestic de Fortaleza. Aos quinze, fugindo da seca, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde mais tarde cursaria Ciências Jurídicas e Sociais. Ao se formar, em 1943, ele já tinha composto marchas, sambas e xotes e fazia uma parceria com Lauro Maia, com quem tentava lançar o ritmo balanceio. Dois anos depois, os parceiros fizeram o samba “Deus me Perdoe”, que foi um enorme sucesso na época, o primeiro de muitos.

Um legado

artístico Em 2014, a cantora paraibana Lucy Alves teve um das suas performances mais conhecidas no Brasil cantando “Qui nem Jiló” no programa The Voice Brasil, da Rede Globo. A artista conta que a infância dela foi totalmente influenciada pelas músicas de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga e que eles certamente marcaram a vida de muitos brasileiros. “Humberto foi muito importante principalmente para a cultura porque ele conseguiu traduzir em suas letras muito da nossa história, dos festejos populares. Em “No meu pé-de-serra” quando a música fala da festa, como se dança, ele trata da dança dos fogueiros populares, e junto a Luiz, eles conseguiram traduzir falando da melhor forma, né? Falando da religião, falando da festa, da comida, da nossa tradição”, declara. Por ser um intelectual no meio de homens mais simples do baião, Humberto logo ganhou a alcunha de “doutor do Baião”. O homem sertanejo do interior do Nordeste, que na época não tinha vez nem voz, teve sua imagem desenhada pelas letras de Humberto, como em “Asa Branca”, onde o eu-lírico pergunta a Deus o porquê de ‘tanta judiação’. Esse sofrimento do homem nordestino representado nas letras foi lembrado pelo cantor Flávio José, um dos intérpretes das canções de Humberto. “Ele prestou um serviço fantástico à nossa cultura e o maior legado dele foi a sua obra, como as músicas “Assum Preto”, “Dono dos teus olhos” e “No meu Pé de Serra”. Ele realmente escreveu a imagem do sertanejo’”, afirma o músico paraibano.

JANEIRO / 2015

um nordestino

75

sucesso popular

Foto: Divulgação


VITRINA Para brincar

Carnaval Esse é o período no qual as amantes de maquiagem tiram da gaveta as purpurinas, lantejoulas e cílios postiços exagerados para combinar todos os itens em um look só. No Carnaval, todas podem exalar a criatividade através da face, misturando cores, acabamentos e texturas que resultam na alegria e ousadia características da mais famosa festa brasileira. Não é preciso ser profissional para se aventurar nas maquiagens carnavalescas, que parecem ser muito elaboradas, mas na verdade só demandam criatividade e estilo. O glitter extrapola os limites da pálpebra e pode ser utilizado nas maçãs do rosto, corpo e até lábios, as lantejoulas não estão só nas roupas, podem compor a maquiagem sendo fixados na pele com cola para cílios postiços, as sobrancelhas podem ganhar novas cores e os delineadores coloridos podem fazer desenhos na pele.

Para 2015, os estilos de óculos com toque futurístico, em armações hexagonais são a aposta do mercado eyewear. Os modelos são ideais para quem procura peças mais modernas e quer compor o look com estilo.

Moda do mar Inspirada nas roupas dos marinheiros, o Navy continua presente nos verões como tendência forte e bem aceita pelo público feminino. As cores azul, vermelho, P&B e amarelo e as listras mais largas se destacam. Os símbolos navais, como âncoras, cordas e barcos estão sempre presentes e compõem looks que têm tudo a ver com a estação.

76

JANEIRO / 2015

Tendência para os olhos

Foto: Shameless Maya Youtube | divulgação


A cor de 2015

batom Bela Tracta

bolsa Tory Burch

As redes sociais são a melhor forma de chamar atenção para boas causas. Agora é a vez da campanha #SmearforSmear, lançada pela organização britânica Jo’s Cervical Cancer Trust, que quer alertar mulheres jovens a fazerem o Papanicolau, exame preventivo contra o câncer de colo de útero, que é o terceiro tumor mais frequente na população feminina. Celebridades como Georgia May Jagger e Rita Ora já prestaram seu apoio e postaram uma selfie com a boca borrada.

Cosméticos mais caros

camisa Crawford

blusa Dimy

Uma mudança na tributação do setor de cosméticos vai provocar uma alta média de 12% acima da inflação no preço de produtos como batons, esmaltes, perfumes e cremes de barbear. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), João Carlos Basílio, com esse custo adicional para o consumidor, a venda de cosméticos deve cair até 18% este ano.

Beleza de dentro para fora O envelhecimento precoce é causado por diversos fatores, dentre eles, o mais prejudicial é a exposição solar crônica. Na estação mais quente do ano, os cuidados com a saúde da pele devem ser redobrados. Por isso, a Vitaminas Sundown Naturals lançou produtos em cápsulas como o Betacaroteno, Licopeno e Gelatina, que podem contribuir para a saúde da pele, retardando o envelhecimento cutâneo

JANEIRO / 2015

relógio Lince

Boca borrada

77

Todos os anos o instituto Pantone Color, referência internacional em colorações, anuncia a cor do ano. Marsala foi o tom escolhido para 2015, um marrom avermelhado. Inspirada no nome de um famoso vinho, a cor é sofisticada e pode ser usada em vários contextos. Veja opções de moda e beleza:


Cultura

Um alento na recuperação de Shaolin Mestre do sorriso, humorista vem superando obstáculos e família acredita em plena recuperação

O

78

JANEIRO / 2015

mês de janeiro entra para o calendário como o período em que, pela primeira vez desde que sofreu grave acidente automobilístico, em 2011, o humorista Shaolin dá sinais concretos de recuperação. Ele abriu os olhos e sorriu diante de estímulos de familiares e amigos que o visitaram na cidade de Campina Grande (PB), famosa por ser vanguarda na área de Tecnologia da Informação. O humorista ainda não pode se locomover sozinho e vive acompanhado de especialistas nestes anos de tratamento e alta expectativa quanto ao seu futuro. Mas, em face do tratamento continuado, ele já responde aos estímulos de programas de computador, acompanhado de profissional na área de fonoaudiologia, conforme explica a esposa Laudicéia.

O fatídico acidente que tirou o humorista dos palcos e da TV no auge de sua carreira completou quatro anos. Passado todo esse tempo, Francisco Jozenilton Veloso, o Shaolin, dá sinais de evolução. O tratamento é lento e requer paciência, principalmente dos familiares que não perdem a esperança de ver o humorista fazendo o Brasil sorrir de novo. Os progressos, segundo a esposa Laudicéia Veloso, são perceptíveis. “É impossível perder a esperança quando se crê em Deus. Ao final de cada dia, sempre há o que agradecer”, diz Laudicéia. Durante o período em que está internado, o humorista tem recebido muitas manifestações de carinho por parte de fãs e amigos. “Agradeço muito aos que nos acompanham e respeitam

o nosso espaço”, completa a esposa. Conforme informações da equipe médica, o humorista se recupera gradativamente e chega a identificar amigos e familiares com o olhar. Shaolin já passou por várias cirurgias e ficou dias internados no Hospital das Clínicas em São Paulo. Desde julho de 2012 se recupera em Campina Grande.

“Agradeço muito aos que nos acompanham e respeitam o nosso espaço” Laudicéia, esposa do humorista

O acidente Shaolin sofreu um acidente automobilístico no dia 19 de janeiro de 2011 na BR 230, trecho da Alça Sudoeste em Campina Grande, a 125 quilômetros de João Pessoa. Desde então, perdeu os movimentos do corpo e a fala. O humorista passou cerca de cinco meses internado em um hospital de São Paulo (SP), mas, por decisão da família, foi transferido para casa, em Campina Grande, com todo o aparato hospitalar. Ele vem fazendo tratamento contínuo e apresentando melhora gradativa. Foto: Divulgação


ANÚNCIO



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.