Revista NORDESTE - Edição 78

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í Ano 7 - Número 78

ENTREVISTA

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A um passo da vitória - Cientista brasileiro lidera grupo de pesquisadores que fará tetraplégico dar o primeiro chute na Copa do Mundo

POLÍTICA

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100 dias depois... - Prefeitos das nove capitais nordestinas mostram balanço das ações executadas nos primeiros meses

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Campanha precoce - Partidos políticos se preparam para a sucessão nos estados. Nomes já são pré-lançados

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TSE faz região perder força política - Decisão do TSE de diminuir número de deputados cria polêmica e mobiliza Congresso

Diretor Presidente

Walter Santos

Diretora Administrativa/Financeira

Ana Carla Uchôa Santos

Diretor Comercial

Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing

Vinícius Paiva C. Santos Logística

Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial

Marcos Paulo

CAPA

34 Recursos podem mudar rumo do Mensalão - Presidente do STF sofre primeiro baque. Prazo para defesa dos réus é ampliado

Atendimento Comercial

Jone Falcão REDAÇÃO

ECONOMIA 39 Precisa-se de inventores - Governo Federal incentiva empresas brasileiras a investirem em ciência e tecnologia

Editora

Rivânia Queiroz

42 Longe dos olhos da União - Porto de Cabedelo apresenta

Repórteres

resultados positivos, mas precisa de ajuda federal para avançar

Rafael Oliveira e João Pedrosa

48 O valor das estrelas - Hotéis resistem à nova classificação do

Colaboradores

Jéssica Figueiredo

Ministério do Turismo que vai avaliar nível da hotelaria brasileira

Editoria de Arte Ceiça Rocha (Editoração Eletrônica) Luciano Pereira da Silva (Diagramação e Tratamento de imagem) Vinícius Santos (Capa)

52 Nome sujo na praça - Prefeituras baianas não podem receber verba da união porque estão inadimplentes

54 Uma carrona de vantagens - Gestora de fundos paulista está à

Projeto Visual: Néctar Comunicação

procura de empresas nordestinas para investir recursos

ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar

56 Como a inteligência resolve as finanças - Consultor explica como

Kelly Magna Pimenta

a inteligência financeira é indispensável aos negócios da empresa

Contas a Receber

Milton Carvalho

58 Sem patrão e relógio de ponto - Profissionais estão deixando

Contabilidade

Emília Medeiros (contadora)

empregos formais e se arriscando nos seus próprios negócios

ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura

GERAL

64 Seca gera apreensão - Maior seca dos últimos anos se agrava e

gera apreensão. Estiagem pode atingir a Amazônia e chegar ao Sul do País

CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

74 Ancestralidade genética - Estudos mostram que os nordestinos

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br

têm raízes e heranças genéticas diferentes das suas aparências

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Sumindo do mercado - Fenômeno da pirataria forçou o fechamento de lojas especializadas na venda e aluguel de CD’s e DVD’s

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Disputa vitual acirrada - Apreciadores do rock enfrentam problemas na hora de comprar bilhetes para o Festival Rock in Rio

COLUNAS 8 Cartas e E-mails 14 Delfim Neto 16 Plugado (Walter Santos) 22 José Dirceu 28 Conexão América (Usha Pitts) 38 Carlos Roberto de Oliveira

Distribuição: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

46 Ipojuca Pontes

A Revista NORDESTE é editada pela Scientec - Associação para o Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia

80 Vinhos (Afra Soares)

www.revistanordeste.com.br 6

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86 Digestivo (Rivânia Queiroz) 88 Agito Nordeste


Joaquim sofre revés

internacional mostra que aquecimento global pode superar 5 graus

70 Cidade verde e

sustentável - A capital da Paraíba é escolhida pelo BID para desenvolver ações que a torne uma metrópole planejada. João Pessoa é a segunda no País a entrar no projeto do banco

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60 Um mundo mais quente - Cientistas preveem aumento da temperatura e relatório

Divulgadas em 23 de abril, as mais de 8 mil páginas que compõem o acórdão responsável por oficializar as decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal levam o caso do Mensalão a um novo patamar. Não existem mais dúvidas de que, ao menos por enquanto, o ministro Joaquim Barbosa perdeu a rodada ao não coseguir reduzir o prazo para apresentação de recursos de defesa dos réus do mensalão. O consenso, e o bom senso, fizeram com que a opinião dos outros ministros fosse levada em conta e o prazo fosse estendido até que todas as possibilidades de defesas dos réus sejam esgotadas. A Procuradoria Geral da República estima que, após o posicionamento do colegiado, o processo deve ser estendido até 2014. Contudo, a postura do presidente do STF não vai de encontro à estimativa do PGR. Barbosa declarou na base aérea de Natal, antes de retornar a Brasília, que deseja encerrar os trâmites finais do processo do Mensalão ainda no 1º semestre de 2013. Ao que parece, o ministro não poupará esforços para encurtar o prazo para o ingresso de embargos dos envolvidos no processo nem que, para isso, seja preciso atropelar o amplo direito da defesa garantido pela Constituição Federal. Joaquim é adepto às medidas céleres e tem encontrado opiniões divergentes no STF. Ministros como Celso de Mello têm ponderado com o presidente da corte sobre a revisão do seu posicionamento e parte da mídia veem as ações de Barbosa caindo em descrédito em decorrência de dados apresentados que foram por ele ignorados – o que fragilizou a acusação. Quem também analisou a postura de Joaquim com outros olhos foram os ministros Dias Toffoli e Luiz Fuix, os quais aderiram à tese de encaminhar o assunto ao Plenário. Resta aguardar quais serão os próximos desfechos e segredos reveladosno processo. Depois da publicação do acórdão, os advogados dos réus vão ter dez dias para ingressar com recursos denominados embargos de declaração e infringentes. Após a apreciação e julgamentos, a defesa pode recorrer da decisão através de novos embargos. Boa Leitura!


Cartas e E-mails

"A Revista se enquadra nos nossos clientes. Já recebemos várias revistas, mas esta se destaca pela qualidade

Estamos acompanhando o desempenho da revista impressionados com a consistência de seu conteúdo e a abrangência, fazendo a abordagem dos fatos do Brasil, pela visão e posição do Nordeste” José Roberto Martins Ribeiro Diretor executivo do BSB - Brasília

A Revista NORDESTE atingiu tamanho status que já é indispensável. O Nordeste e o País não abrem mais mão dela”

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A cobertura que a revista vem produzindo sobre os vários assuntos se credencia pela importância mercadológica que inaugura”

A Revista Nordeste é surpreendentemente impressionante e de alto padrão. Vamos estar mais próximo dela”

A revista tem tudo para crescer e expandir sua presença no Sudeste”

Luiz Carlos Carmona da Z Mais publicitário e responsável pela conta da HUYNDAI – São Paulo

Gladimir do Nascimento Secretário de Comunicação de Curitiba

Lindbergh Farias senador – Rio de Janeiro

A Revista NORDESTE é orgulho nacional” Eduardo Borges médico paraibano

Achei ótima a última edição da Revista Nordeste. As reportagens foram completas e concisas” Maria Inalda dos Santos Falcão João Pessoa PB

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação.

Gostei da matéria sobre as desistências dos processos de adoção. Retrata este absurdo que acontece com crianças que esperam por uma família” Geyse Wanderley, funcionária pública – João Pessoa PB

Marcelo Castro deputado federal por Teresina – PI

Tatianna Fonteles fonoaudióloga – João Pessoa PB

NORDESTE On-line Facebook: Revista Nordeste Twitter: @RevistaNordeste E-mail: faleconosco@revistanordeste.com.br Site: www.revistanordeste.com.br

REVISTA NORDESTE • Ano 7 • N.º 77 É muito bom saber que o mercado editorial já dispõe de uma revista com esse padrão de conteúdo e qualidade, tratando, responsavelmente, dos muitos assuntos de interesse do Brasil, mais ainda do Nordeste”

A partir de matérias como a da desistência da adoção, poderiam ser feitas outras retratando casos bem sucedidos, histórias felizes”

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Sônia Carneiro Chefe do Governo da Bahia em Brasília


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Entrevista

A um passo O

País está a um passo de mostrar ao mundo uma grande conquista da ciência. A expectativa é de que, na abertura da Copa do Mundo, um tetraplégico possa dar o primeiro chute do campeonato usando um exoesqueleto controlado por impulsos cerebrais. O líder da pesquisa, o médico Miguel Nicolelis, está à frente dos pesquisadores do projeto The Walk Again, de Neurociência da Universidade Duke (EUA) e declarou que as cadeiras de rodas serão objetos obsoletos

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João Pedrosa Por que o palco da Copa do mundo do Brasil foi escolhido para fazer a exposição do exoesqueleto? A ciência aprendeu a fazer marketing? É uma tentativa de atrair parceiros comerciais? Na realidade, a ideia da Copa surgiu treze anos e meio atrás quando eu estava dando uma palestra no exterior. O Brasil já tinha sido escolhido para ser a sede da Copa e todo mundo veio conversar comigo sobre futebol. O Brasil é evidentemente conhecido mundo afora, mesmo entre cientistas, como o País do Futebol. Então me deu um estalo de que seria excelente, porque nós estamos criando um outro País. Nesses últimos dez anos, o Brasil

Foto: João Pedrosa

mIGUEL NICOLELIS


o da vitória Foto: João Pedrosa

assumiu uma dimensão muito maior do que só a sua proficiência futebolística e artística. E me ocorreu que talvez a Copa pudesse servir como uma forma de mudar esse estereótipo. Então, como cientista, eu pensei que nada seria mais surpreendente, na abertura de um evento esportivo dessa magnitude, do que mostrar para o mundo que este é um País diferente, que investe, por exemplo, em ciência e em tecnologia. Eu imaginei essa demonstração como um presente do Brasil para o resto do mundo. O senhor acha que é uma corrida contra o tempo fazer uma pessoa com paralisia voltar a andar, até 2014, já que estamos a pouco mais de um ano da Copa do Mundo? Evidentemente é um desafio. Na verdade o que nós queremos mostrar é uma demonstração do conceito dessa nova terapia que a gente chamou de interface cérebro-máquina. Ela é o primeiro passo para mostrar que essa técnica é viável e que nós podemos pensar, em breve, em transformar a cadeira de rodas em um objeto obsoleto. Não é o final da historia, é o começo. A gente acabou de ter o encontro de todos os cientistas do nosso projeto “The Walk Again”, que vieram a São Paulo e passaram dias muitos intensos debatendo todo o projeto. A conclusão que chegamos é a de que é realmente viável e que estamos dentro do cronograma. Quais vão ser os benefícios em longo prazo? Essa demonstração e essa linha de pesquisa não terminam com a abertura da Copa. Nós estamos construindo um laboratório na ACD de reabilitação robótica que vai continuar trabalhando com os pacientes que nós vamos selecionar

Nada mais surpreendente na Copa 2014 do que mostrar para o mundo que o País investe em ciência e tecnologia

depois da Copa. Esse investimento que o governo brasileiro fez é um legado para a sociedade brasileira que vai ajudar a tratar crianças e adultos muito depois do campeonato ter terminado. No nosso projeto não vai ter elefante branco, tudo que a gente construiu vai ter aplicação na sociedade brasileira por muitos anos. O exoesqueleto vai funcionar a partir da atividade cerebral. Como isso vai ser na prática? Esse é o maior segredo do projeto. Se eu contar não tem surpresa nenhuma. Nos Estados Unidos eles dizem assim, “se eu

contar eu tenho que matar”. Como o Governo realiza investimentos já que a maior parte da pesquisa é desenvolvida fora do País? O governo federal financiou a pesquisa que foi feita no Brasil. O governo não paga um real para pesquisas feitas fora do País. Cada um dos parceiros do projeto The Walk Again, no exterior, conseguiu viabilizar o seu componente com pesquisas no seu país de origem ou projetos internacionais.

Quais são as dificuldades encontradas no desenvolvimento de pesquisas desse


Foto: João Pedrosa

porte aqui no Brasil? As dificuldades são inúmeras. A ciência brasileira não foi construída para funcionar, mas para ter uma série de procedimentos burocráticos, publicar uns trabalhinhos, continuar publicando uns trabalhinhos e é isso. As empresas brasileiras inovam muito pouco e a ciência brasileira se conecta muito pouco com a realidade do mundo aí fora. As pessoas chegam a uma universidade e vão bater na porta da reitora pedindo condições para funcionar porque o prédio não tem tomada que funciona, não tem mesa, não tem sala, não tem computador para o professor, não tem onde sentar. Nós temos que encontrar soluções porque o Brasil tem um exército de talentos.

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Como é visto, pelos cientistas de outras partes do mundo, o desenvolvimento das pesquisas aqui no Brasil? Esse projeto da Copa do Mundo, quando eu conto para os meus amigos americanos que eu quero fazer no Brasil, as pessoas olham para mim e falam “você perdeu o juízo, você perdeu uns três parafusos, porque não vai funcionar jamais”. Não porque a ciência não dá conta, mas devido à burocracia. A gente não consegue soltar o dinheiro na hora, a gente não consegue que os projetos sejam aprovados no tempo, não consegue que as pessoas dêem retorno no telefone, ou que as coisas estejam como foram acordadas. Mas essa é uma das funções do projeto The Walk Again: mostrar que, contra tudo isso que está acumulado, é possível realizar algo. Se a gente conseguir, vai mostrar para milhares de cientistas brasileiros que a coisa é ir lá e bater na porta. Não tem outro jeito. Os nossos professores têm que reivindicar condições para trabalhar. Professor tem que ter cadeira, tem que ter sala, tem que ter computador, tem que ter tempo para pensar, não pode estar dando 20 ou 30 horas de aula. Isso não existe em nenhum lugar do mundo, só aqui. Existem outras pesquisas desenvolvidas em paralelo as do projeto Walk Again? Iremos submeter, daqui a poucas semanas, um trabalho feito exclusivamente em Natal de uma nova terapia para a doença de Parkinson. Testamos em primatas

Temos um projeto em Natal de uma nova terapia para Parkinson. Testamos em primatas com êxito e vamos levar para humanos

com um êxito muito grande e já temos a perspectiva de levar a terapia para seres humanos. Desde que publicamos o nosso trabalho, em 17 casos, de pacientes do mundo afora, essa terapia foi tentada com êxito sem que estivéssemos envolvidos com isso. Seria o primeiro estudo controlado dessa nova terapia, dessa nova prótese para a doença de Parkinson. Uma nova prótese semi-invasiva, que fica na superfície da medula espinhal. Ou seja, uma cirurgia muito simples, rápida e pouco custosa, que deve permitir um controle mais cedo da doença. A minha filosofia de pesquisa, desde o inicio, sempre foi ter várias linhas em paralelo, nunca apostei em uma única coisa. Há intenção de firmar parcerias para o desenvolvimento das pesquisas? O nosso desejo, no Instituto interna-

cional de neurociências de Natal (RN), Edmond e Lily Safra, é estabelecer parceiras por todo o Brasil. Aqui na Paraíba, nossa proposta é firmar parcerias com terapeutas ocupacionais da Universidade Federal (UFPB). Precisamos de algumas condições mínimas para que possa ocorrer. Se conseguirmos essas condições, vai ser um grande prazer acertar um termo de colaboração com pesquisadores da Paraíba. Esse é um convite que eu faço para todas as universidades federais do Brasil. É desenvolvido algum projeto de capacitação de estudantes para difundir essa tecnologia? Nós estamos trazendo estudantes brasileiros para trabalhar conosco, mas o mais importante é que nós estamos na fase final de credenciamento, junto ao MEC, de um programa de pós-graduação em


Foto: João Pedrosa

Como está o andamento das pesquisas que vêm circulando na imprensa - sobre as próteses cerebrais que permitirão curar a cegueira? Nunca falei que a nossa ideia era reverter ou tratar doenças que geram perda de visão. Nós publicamos um artigo sobre a criação de uma nova prótese cortical que permite a ratos, pela primeira vez, detectar luz infravermelha - que é uma luz invisível para todos nós. O que nós estamos tentando demonstrar é a enorme capacidade de organização do cérebro. Usamos uma parte dele, que normalmente é utilizada para o processamento tátil, e criamos uma representação de luz infravermelha. Os nossos ratos adquiriram a capacidade de “tocar” uma luz invisível. Eles não veem a luz, os olhos deles continuam cegos para a luz infravermelha. O que nós fizemos foi capacitar esses animais a sentirem essa luz como se fosse o toque do corpo deles. Nós criamos uma modalidade sensorial que não é nem visão, nem o tato, é algo no meio do caminho. Evidentemente que a longo prazo essa pesquisa pode auxiliar no tratamento de pacientes que tenham perdido a visão ou outras modalidades sensoriais. Essa foi a primeira neuroprótese cortical que aumentou o espectro de percepção de um mamífero. Quanto tempo levará para que seja utilizado o implante cortical para o restabelecimento da visão? Do ponto de vista científico, umas duas ou três décadas. Já existem vários grupos trabalhando com isto. Nós vemos nos filmes que muitas vezes grandes descobertas acabam caindo em

A partir da nova terapia podemos pensar, em breve, em transformar a cadeira de rodas em um objeto obsoleto

mãos erradas. Existe esse temor que essa tecnologia acabe caindo em mãos que tenham interesses bélicos? Qualquer tecnologia pode ser usada para fins nefastos, mas não cabe a mim debater se ela vai, se ela pode, ou não. Cabe inventar coisas, pensar. A sociedade é que decide se o que eu estou pensando vai ser usado ou não. A responsabilidade não é minha, é sua. É minha também porque faço parte da sociedade, mas como indivíduo. Cabe a sociedade conhecer. As empresas brasileiras investem pouco em inovação científica. Com sua experiência, quais diferenças poderiam ser descritas entre os investimentos dos países do exterior e os do Brasil? Anos atrás eu tinha um telefone Black Berry. Hoje você entra nos Estados Unidos e é raro encontrar um. Lá fora, ino-

vação é uma questão de sobrevivência da indústria. Aqui ela sobrevive sem inovar. Não tem incentivo nenhum. Nós temos que ter telefone celular brasileiro, temos que ter a fábrica de microprocessadores, ir para o espaço, ter satélites brasileiros, pensar no que vamos fazer com a nossa fronteira marítima que tem 100 bilhões de barris de petróleo. A diferença é brutal, não dá nem para comparar. Eu moro em um lugar de 150 mil habitantes, onde tem três universidades e, em volta, tem o 2ª maior parque tecnológico dos Estados Unidos. A velocidade da implantação de novos procedimentos, novos processos e novos produtos, é assustadora, não dá para comparar com nada que eu conheço. A nossa cultura não é essa. Nós temos muita pompa e pouco substrato. Nós precisamos do substrato, a pompa a gente pode se livrar dela.

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Neuroengenharia. Queremos estender para neuroreabilitação, neurotecnologia e neurociência. Fizemos o pedido ao MEC e esperamos que ele seja atendido brevemente para criar, não só o curso de mestrado, mas o de Doutorado - que vai ser ministrado não só pelo corpo de docentes presente no Brasil, mas por dezenas de neurocientistas e neuroengenheiros do mundo que estão se dispondo a vir passar de 1 a 3 meses por ano no Brasil.


Opinião

Moderação e ansiedade

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estudo dos competentes economistas Waldyr Areosa e Christiano Coelho, que explora as diferenças das respostas das variáveis macroeconômicas das manobras nas reservas bancárias e na taxa de juros, concluindo que uma redução da relação de reserva tem o mesmo efeito qualitativo de uma redução da taxa de juros do Banco Central, ainda que seu efeito quantitativo seja menor, como era mesmo de esperar. Acreditamos que a visão do Banco Central tem tanta consistência quanto a do “mercado”, o que recomenda sua cautela na manipulação da taxa de juros real. Até agora a visão do Banco Central tem se revelado a mais ajustada à nossa realidade e mais antenada com a situação da econômica mundial. Se o que o COPOM previu para o futuro próximo não se realizar e a realidade mostrar a necessidade de uma manobra que sancione o aumento da taxa de juro real, o Dr.Tombini a fará com a mesma tranquilidade e autonomia com que tem recomendado “cautela”, em todos esses meses. Incertezas - Com a divulgação da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, na quarta-feira 18/04, certamente se tem a oportunidade de conhecer mais os motivos que levaram a elevar em 0,25% a taxa básica de juros – a SELIC – situando-a em 7,50% ao ano. Não é segredo que se havia formado uma espécie de cabo de guerra entre o setor financeiro e o governo a respeito do momento em que se teria que mudar a política monetária para combater a expectativa de inflação que vinha crescendo. Enquanto a taxa de juros real era de 10%, as pessoas reclamavam pouco; ninguém do mercado financeiro reclamava. Com a taxa de inflação ligeiramente superior, mas com o juro real em 2%, as pessoas tendem a reclamar mais. É evidente que se criou uma expectativa de crescimento da inflação prejudicial e é algo empiricamente verificável que a inflação de 2013 depende da inflação de 2012 e é corrigida pelas expectativas de inflação do próprio ano. Se não se introduz algum mecanismo para reduzir esta expectativa, a inflação vai assumindo uma dinâmica própria, e muito inconveniente.

Antonio Delfim Netto Professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento

A solerte insinuação de que o governo não arriscaria a atual popularidade no combate à inflação, faz pouco da sua inteligência

A

crítica de que há leniência com a inflação no atual governo apoia-se em boa parte no desconhecimento de suas causas mais complexas e revela, de outro lado, uma grande ansiedade de setores do mercado financeiro que enxergam ótimas oportunidades com o aumento da taxa de juro real, aproveitando o “bom momento” dos choques de oferta agrícola, antes que os preços cedam, como está começando a acontecer... O Banco Central não desconhece que o namoro inflacionário com a banda superior da “meta” (6,2% nos dois anos do governo Dilma, após os 5.1% do segundo mandato de Lula), é um convite à sua persistência. Isso deteriora as expectativas e reintroduz a incerteza na fixação dos salários. A solerte insinuação de que o governo não arriscaria a atual popularidade no combate à inflação, faz pouco da sua inteligência. Quando as condições objetivas mudam, a política muda. Da mesma forma como foi correto reduzir a taxa de juro real absurda à qual sobrevivemos durante as últimas décadas por equívocos da política monetária, será correto, se o COPOM achar necessário, elevá-la com a moderação que praticam quase todos os países civilizados. O que existe entre a autoridade monetária e os seus críticos, principalmente os economistas ligados ao sistema financeiro, é uma percepção diferente da realidade e das incertezas que a cercam. Essa percepção não envolve uma diferença do conhecimento entre variação da taxa de inflação e a variação do nível de desemprego. A autoridade monetária estaria tecnicamente inferiorizada diante dos bem “apetrechados” profissionais que assessoram as finanças privadas. Com relação à qualidade do conhecimento, experiência e sutilezas de funcionamento desse mercado financeiro, nem os mais sofisticados economistas do setor, ou da academia, podem competir com as informações armazenadas nas cabeças dos profissionais do Departamento de Estudos e Pesquisa de Banco Central. Quem tiver alguma dúvida, deve comparar a “ciência” das assessorias financeiras privadas e da academia, com a ciência do DEPEC, revelada em recente


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Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

Brasil abrirá mercado da Medicina para estrangeiros Embora o assunto esteja sendo tratado à boca miúda com poucas pessoas tendo acesso aos detalhes do projeto, o fato é que o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, está em vias de apresentar à presidenta Dilma Rousseff uma Medida Provisória que, na essência, permitirá a entrada de médicos estrangeiros na estrutura médico – hospitalar do Brasil, hoje com restrições. A medida traduz a necessidade constatada por diversas pesquisas – promovidas nos diversos estados e provando que os novos e antigos médicos resistem em atuar nas cidades ou regiões mais

longínquas do País, especialmente o interior do estados, especialmente, do Norte e Nordeste. O novo projeto deve atrair o interesse de médicos portugueses, espanhóis, cubanos, etc. Certamente, mexerá na estrutura da assistência médica brasileira. O Ministro trabalha paralelamente entendimentos com as entidades de classe, visando atenuar reações contrárias diante da reserva de mercado nacional, de certa forma sempre criando dificuldades ao reforço estratégico que o Governo está para anunciar em breve.

A fala direta de Ciro

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Quem conversa com o exministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, reconhece que ele, mesmo distante da mídia, anda muito atualizado quanto às questões estruturantes e conjunturais do Brasil, tanto do ponto de vista econômico, quanto político. É na questão política, por exemplo, onde ele exercita juízo de valor que incomoda demasiadamente o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, porque, a dados de hoje, muito dificilmente, Ciro o apoiaria para presidente. “Uma das primeiras atitudes que ele (Eduardo) precisa tomar é acabar com a dubiedade, pois, se é candidato, precisa sair do governo”, alfinetou.

Marcelo Deda vê dificuldades Amigo particular do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o chefe do executivo de Sergipe, Marcelo Deda, projeta momentos de dificuldades do seu colega pernambucano com a pretensão de querer disputar a Presidência da República em 2014 contra a presidenta Dilma Rousseff. Não é situação fácil de resolver e ele (Eduardo) cada vez mais fica sem argumentos para recuar, comentou Deda adiantando que “pelo andar da carruagem tudo tende a piorar em termos de recuo, levando ele a ter de assumir de vez seu projeto”. O governador de Sergipe acha que haverá situações boas e ruins para ele administrar, entre elas, as relações com aliados do Governo Dilma, especialmente o PT.


Collor para governador Ninguém segura Flávio Dino As articulações políticas no Estado do Maranhão já projetam entendimentos em diversos níveis, buscando entender a cena sucessória de 2014, onde o Grupo Sarney – liderado pelo senador José Sarney e, por tabela, pela governadora Roseana - admite até a possibilidade do Ministro da Energia, Edison Lobão, ser o candidato do grupo. Desta feita, contudo, o ex-presidente Lula e o PT não terão como segurar a candidatura posta a tanto tempo antes do processo do atual presidente da EMBRATUR, Flávio Dino, filiado ao PC do B.

Em princípio há reações negando, até mesmo pelo próprio Fernando Collor, mas em Alagoas cresce a onda de que o senador e ex-presidente da República pode vir a disputar o Governo do Estado. Ainda depende de muitas articulações, até porque argumenta estar cedo, entretanto, aliados do senador adiantam que tudo passará por um acordo político com o senador Renan Calheiros, presidente do Congresso Nacional.

Fátima Bezerra no Senado Quem convive de perto com o prefeito de Natal, Carlos Eduardo, tem a segurança como 2 mais 2 são quatro, de que a deputada federal Fátima Bezerra será candidata em 2014 ao Senado Federal. Ela tem trabalhado intensamente para ajudar o prefeito a fazer uma gestão de resultados e este passe a ser um de seus principais cabos eleitorais.

Eunício: nome do PMDB

Vital Filho, alternativa

Quem anda trabalhando fortemente nos bastidores para se credenciar no Ceará é o líder do PMDB, Eunicio Oliveira, por diversos fatores, entre eles, a realidade na qual o atual governador Cid Gomes não pode ser mais candidato à reeleição. Eunicio trabalha forte para consolidar este projeto, com chances de credenciamento. 17

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Vital do Rego Filho, anda se empenhando maximamente para ser seu irmão, ex-prefeito de Campina Grande, candidato com chances na disputa pelo Governo do Estado, contra o governador Ricardo Coutinho. Mas ninguém se assuste se por algum problema excepcional ele vir a ser o nome da sucessão. Esta é a tese de advogados ligados ao senador, admitindo a hipótese, considerada remota por eles, de inelegibilidade do ex-prefeito em face de vários processos de improbidade constituídas por seus adversários.


Política

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100 dias depois... Rafael Oliveira

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Revista NORDESTE faz balanço do trabalho realizado pelos prefeitos das capitais nordestinas nos primeiros meses de governo e mostra o que foi concretizado durante o período


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João Pessoa (PB)

Aracaju (SE)

Cumprindo promessas

Um dos principais desafios do prefeito de Aracaju, João Alves (DEM), foi saldar dívidas dos anos anteriores. O gestor recebeu a administração endividada. A pasta de Saúde é a mais problemática, ainda com dívidas a serem quitadas. Na educação, foram inauguradas duas escolas em reforma há anos e o salário dos professores foi pago. João Alves retirou de circulação 50 ônibus das linhas que trafegavam pela Grande Aracaju. Parte da frota apresentava problemas. Para suprir a demanda, temporariamente outros 50 ônibus de duas empresas substituíram as linhas. Reivindicação da população, o lixo de Aracaju passou a ser transportado para a estação de transbordo, dentro de novos padrões, seguindo para o aterro sanitá-

rio, na cidade de Rosário do Catete. Já a Guarda Municipal recebeu cerca de 180 excedentes do último concurso. O grande percalço dos 100 primeiros dias do prefeito foi o fato de João Alves Filho ter seu nome citado pelo STJ como um dos acusados na Operação Navalha que investigou, em 2007, o envolvimento de agentes públicos e empresários num esquema de desvio de dinheiro público e fraudes em licitações. O prefeito diz que não está temeroso e que irá conseguir provar sua inocência. Foto: Divulgação

Fortaleza (CE)

Força-tarefa para as ações Os 100 dias de Roberto Cláudio (PSB), em Fortaleza (CE) foi dedicado a três tarefas: levantar problemas (checar dívidas e obras inacabadas); fazer o diagnóstico das secretarias, pessoal e convênios, e iniciar as ações. As dívidas com os fornecedores foram negociadas e o dinheiro em caixa usado com ações. O número de famílias inscritas no CadÚnico foi ampliado. Foram abertas 47 turmas no Pronatec, totalizando 898 vagas preenchidas. Na educação, 29 escolas de tempo integral estão em fase de licitação e serão construídas até 2015. O número de creches aumentou de 39, em 2012, para 46, em 2013. Foram instaladas ou substituídas iluminações em 595 pontos. Serviços de limpeza urbana foram feitas em ruas

e avenidas, e foi concluída a limpeza das margens do Lago Jacarey. Dois mil operários realizaram a limpeza de 92 canais, lagos e lagoas. A exoneração dos 3.200 comissionados foi respondida com o anúncio de um concurso público para a Guarda Municipal, Defesa Civil e Agente de Segurança Institucional. Foi lançado o cadastramento de usuários do novo sistema de transporte para utilização do Bilhete Único, que integra os ônibus por um período de até duas horas.

O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), conseguiu realizar as ações planejadas em virtude de ter herdado uma prefeitura com as contas em dia. De cara, assinou ordens de serviço para a construção de 11 creches e 4 PSFs, a recuperação da orla marítima e a duplicação de avenidas. Na saúde, conseguiu cobrir 100% dos PSFs com médicos. Na educação, das 95 escolas municipais, 13 já funcionam em tempo integral, e 88 têm o projeto Mais Educação, que conta com atividades curriculares e extracurriculares no contraturno. Foi iniciada a substituição de 660 lâmpadas a vapor de sódio por lâmpadas de vapor de mercúrio na orla. Também foi lançado o projeto: “Olha Isso Limpinho” - aplicativo para smartphone que permite ao usuário constatar onde há lixo e notifica através do GPS. Uma subprefeitura foi implantada no bairro de Mangabeira. A reestruturação do sistema de transporte público está sendo feita através de um convênio com o BID. Ainda foi feita uma pesquisa com ciclistas para diagnosticar o número de usuários, a origem e o destino das viagens. O resultado será aplicado em projetos de infraestrutura cicloviária. Por fim, lançou o Passe Livre para os estudantes da rede municipal de ensino. Foto: Divulgação

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Saldando as velhas dívidas


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Maceió (AL)

Trabalho de Formiguinha Maceió possui indicadores sociais que a colocam em desvantagem regional e nacional, especialmente na área social – na gestão passada a capital foi desabilitada em programas do Ministério de Desenvolvimento Social. O prefeito Rui Palmeira (PSDB) teve que lidar, além disso, com uma dívida herdada de quase R$ 173 milhões com fornecedores, prestadores de serviço e débitos previdenciários. Ainda, 48 convênios paralisados com a Caixa devido a problemas em licitações ou ausência de prestação de contas. Uma equipe foi designada apenas para resolver estas questões. Apesar do projeto de Lei Orçamentária de 2013 não ter sido aprovado há um planejamento de cortes em todos os contratos de custeio. A escassez de recursos estourou na Educação. Mas o prefeito conseguiu que repasses federais fossem retomados e garantiu o início da construção de 20 creches. A prefeitura já conseguiu reacender mais de 7.200 pontos de luz, além da reposição de mais de 2.500 luminárias quebradas. O Plano de Mobilidade Urbana está em fase de planejamento. Ainda está sendo elaborado um plano que irá mapear as carências na área de saneamento para a ampliação da rede.

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Natal (RN)

Auditorias na folha e cortes Ao assumir a Prefeitura de Natal, Carlos Eduardo (PDT) passou os 100 primeiros dias tentando estabelecer a normalidade na cidade. Regularizou a coleta do lixo e recuperou a malha viária com o recapeamento asfáltico e a operação tapa-buracos. Os investimentos somaram R$ 15 milhões. Ainda foi feito o pagamento de salários atrasados do funcionalismo e a abertura do ano escolar em 144 escolas. Dessas, 30 já receberam melhorias. Outra ação foi a reabertura de três maternidades. Para evitar irregularidades na máquina administrativa, a prefeitura contratou uma empresa de auditoria para a folha de pagamento e enviou um projeto de reforma administrativa à Câmara Municipal com o intuito de

extinguir secretarias e cargos visando recuperar a capacidade de investimento. Também está licitando a recuperação do Parque Dom Nivaldo Monte, fechado na última gestão. O ano letivo foi aberto no dia 27 de fevereiro. A prefeitura contou com a ajuda da Cruz Vermelha e das Forças Armadas para recuperar a estrutura física de 30 escolas. Em fevereiro, foram convocados 19 professores para o quadro efetivo e outros 330 para a ocupação de cargos temporários. Foto: Divulgação

Recife (PE)

Arregaçando as mangas O prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), manteve o clima revolucionário da campanha eleitoral, ao ir às ruas, cobrar auxiliares e cuidar de um dos problemas crônicos da cidade: o lixo. A Coleta Seletiva foi ampliada de dois para cinco caminhões, cobrindo 45 bairros. A construção de um galpão de triagem de resíduos recicláveis também foi iniciada, orçado em pouco mais de R$ 1 milhão. Foi instalado o Comitê Municipal de Enfrentamento ao Crack e outras drogas em conjunto com seis secretarias. O reordenamento dos Centros de Referências de Assistência Social (Cras) foi feito e uma ordem de serviço assinada para reparos em dez casas de acolhimento ligadas ao Iasc, totalizando um investimento de R$ 800 mil. Na saúde, foram

entregues dois PSFs, além da efetivação de médicos e agentes comunitários. A Secretaria de Segurança Urbana foi criada e o ‘Pacto Pela Vida do Recife’ passou por uma consulta pública. O resultado será lançado até o final de maio. A prefeitura desobstruiu faixas de rolamento ocupadas irregularmente por ambulantes no entorno dos mercados públicos e colocou em funcionamento uma ciclofaixa ligando as zonas Norte e Sul ao Marco Zero aos domingos e feriados.


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Teresina (PI)

Salvador (BA)

Sem dinheiro em caixa

ACM Neto (DEM) precisou contingenciar gastos previstos para o ano. Isso, segundo ele, devido ao rombo deixado na prefeitura. O democrata começou sua administração com ações populares: reforçou o atendimento nos postos do CadUnico; criou o Bolsa Família Móvel - que leva profissionais da secretaria aos bairros; o videomonitoramento social das pessoas em situação de rua; e reformou o prédio do abrigo para idosos. Na educação, lançou o projeto “Aluno em Tempo Integral” (que amplia o tempo de permanência na escola) e instituiu a “Operação Salvador Alfabetiza” (para estruturar o sistema da rede). A jornada de aulas foi ampliada em 30 minutos. Na infraestrutura e limpeza, fez a troca de seis mil lâmpadas, instalou

703 papeleiras, 76 sanitários químicos e regularizou a coleta do lixo, a limpeza e dragagem de canais, a operação tapa-buracos, a poda e erradicação de árvores e o combate a pontos de alagamento. Na saúde, foram retomadas obras em duas UPAs e implantado o “Projeto de Cirurgias Eletivas” para atendimento de 1.850 pacientes e convocação de 239 profissionais da área. Em abril, foi entregue o primeiro trem climatizado da cidade e foi implantada a meia-passagem aos domingos. Foto: Divulgação

São Luiz (MA)

Gestão adota subprefeituras O prefeito de São Luiz (MA), Edivaldo Júnior (PTC), já cumpriu algumas de suas promessas, como a descentralização da gestão através das subprefeituras. Nestes 100 dias, a prefeitura a incluiu 2.566 pessoas no CadUnico, atualizou 4.876 cadastros e o desbloqueou 1.196 deles, totalizando 6.820 usuários atendidos. Na educação, o ano letivo foi iniciado em 25 de fevereiro para fazer a reposição das aulas pendentes. Também foi iniciado o Programa de Ensino em Tempo Integral com a implantação de projetos em três unidades de ensino. Foram obtidos recursos federais para a construção de 10 escolas, 26 creches e 33 quadras poliesportivas. Na área de limpeza foram eliminados 3.358m² de buracos. Também foram

adotados mutirões de manutenção, limpeza e desobstrução de galerias. Na saúde, o Samu teve o serviço normalizado com a aquisição de 18 veículos. Uma parceria com a Santa Casa fez mutirões de cirurgias ortopédicas e garantiu a oferta de leitos de retaguarda. Ainda houve o restabelecimento do atendimento no Socorrinho e o início da revitalização do Hospital da Mulher que estava desativado. Houve redução de 68,5% nos registros de caso de dengue no trimestre.

O prefeito Firmino Filho (PSDB) não esconde que a Prefeitura de Teresina não tem dinheiro em caixa e que o momento é de recolhimento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). A situação se agravou quando ele encarou a greve dos servidores municipais que já dura quase dois meses. Isso comprometeu serviços básicos como educação e saúde. Os piauienses enfrentam longas filas para atendimento no SUS e alguns bairros não suportam a demanda de pacientes nos postos de saúde. Na educação, Teresina tem 20% das crianças com idade de 4 anos fora da escola. O déficit de professores e a falta de material didático são problemas para o prefeito resolver. Assim como questões ligadas à mobilidade urbana. O Plano Diretor de Transporte será implantado a partir de junho e prevê a construção de terminais de integração com corredores exclusivos para os ônibus. Outros projetos só vão sair do papel quando a prefeitura estiver com as contas em dia, como entre elas: programa de microcrédito; as ações do plano diretor; o projeto de iluminação pública, e o de Saneamento. Teresina é a única capital do Nordeste que não tem Guarda Municipal, mas o assunto ficará na gaveta até que a prefeitura tenha dinheiro em caixa.

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Contenção de despesas


Opinião

O verdadeiro combate à seca

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um desses municípios terá seus próprios instrumentos de enfrentamento da seca. O governo também prorrogou os programas Garantia Safra, que prevê R$ 155 por mês a cada família afetada, e o Bolsa Estiagem, que destina R$ 80 por família. A dívida de cerca de 700 mil agricultores prejudicados pela seca será renegociada. Além disso, aumentou em 30% a oferta de caminhões-pipa para as regiões castigadas e vai promover a construção, até dezembro, de 267 mil cisternas (reservatórios de água tratada nos quintais das propriedades rurais). O valor disponibilizado pelo governo Dilma tem sido significativo, assim como ocorreu na administração do ex-presidente Lula. Mas o grande diferencial que o combate à seca recebeu nos últimos dez anos, desde que o PT chegou à Presidência da República, é justamente a ênfase nas medidas estruturantes. As obras para interligação da bacia do Rio São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional, talvez, sejam o exemplo mais emblemático. O projeto, cuja conclusão está prevista para 2015, deverá ter uma parte entregue até 2014. Ao todo serão cerca de 700 km de canais e reservatórios construídos para abastecer o Polígono da Seca, redistribuindo recursos hídricos a boa parte dos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, e de áreas do semiárido de Alagoas, Pernambuco e Sergipe. Antes, o dinheiro público gasto na época de estiagem obedecia a uma lógica cruel. Deputados e vereadores apresentavam projetos, faziam emendas, e governos federal, estadual e municipal promoviam algumas ações paliativas. A população as recebia como se fosse um favor dos governantes e agradecia-lhes em forma de voto. Era a chamada indústria da seca. Ao concentrar esforços em uma política hídrica de longo prazo e em ações duradouras, capazes de reduzir em definitivo o sofrimento causado pela escassez de água, o governo federal está combatendo mais do que a seca: está combatendo toda uma engrenagem que se beneficia da perpetuação dessa desgraça tão antiga quanto a própria história do país.

José Dirceu Advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

O pacote contra a estiagem envolve R$ 9 bilhões. Isso inclui ações emergenciais, claro, mas é um alento ver que o governo federal reconhece que as medidas de longo prazo são as mais importantes.

S

e o problema da seca pudesse ser resolvido apenas destinando verbas para a região do semiárido, a questão já estaria liquidada. Afinal, sucessivos governos despejaram milhões de reais em obras de emergência nos municípios que enfrentam, ano após ano, a escassez de água. No entanto, a seca persiste pela ausência de uma política de sustentabilidade hídrica. O recente anúncio da presidenta, Dilma Rousseff, de novas medidas de combate à seca, em reunião do conselho deliberativo da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), é uma resposta aos anseios da população dos vilarejos no interior nordestino e do norte de Minas. Dilma anunciou que vai concentrar recursos em ações estruturantes - ou seja, duradouras, de longo alcance. Ações emergenciais apenas mitigam o sofrimento dos habitantes do semiárido, algo necessário em momentos agudos, mas os mesmos problemas vão aparecer no período de seca do ano seguinte. Por isso, a intenção do governo federal, agora, é focar em ações que promovam a superação da seca. Resolver o problema, e não só adiá-lo. Na reunião no começo de abril, com a presença dos governadores do Nordeste, a presidenta disse que as medidas estruturantes vão garantir “um nível de segurança hídrica mais apurado, mais efetivo, de grande durabilidade”. Referindo-se ao crescimento econômico nos Estados nordestinos nos últimos anos, que foi superior ao do Brasil como um todo, Dilma foi certeira: “Não podemos nos dar ao luxo de investir recursos aqui e deixar que eles escorram pelo ralo quando houver seca. A seca é uma realidade. Mas vamos conviver com a seca com a capacidade de preveni-la e superá-la”. O pacote contra a estiagem envolve R$ 9 bilhões. Isso inclui ações emergenciais, claro, mas é um alento ver que o governo federal reconhece que as medidas de longo prazo são as mais importantes. Ao menos R$ 2 bilhões desse pacote garantirão o envio de retroescavadeiras, motoniveladoras, caminhões-pipa, caminhões-caçamba e pás carregadeiras a todos os 1.415 municípios atingidos pela falta de água. Assim, cada


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Política Fotos: Divulgação

Campanha precoce Partidos lançam seus candidatos e pesquisas apontam possíveis resultados para as próximas eleições nos estados

João Pedrosa

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A

um ano e meio das próximas eleições, partidos políticos de todo o Brasil começaram a mostrar seus potenciais candidatos nos estados. Isso porque a eleição foi antecipada devido ao processo eleitoral presidencial que está em curso e tem nomes quase certos para uma acirrada disputa. O tucano Aécio Neves foi o primeiro a colocar o bloco na rua, seguido pela presidente Dilma, lançada por Lula no evento que comemorou os dez anos do PT e, embora sem anúncio declarado, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que corre por fora para se credenciar. Embora cedo, já há um desenho das eleições 2014. Nos estados, os líderes tentam fortalecer seus palanques. Dos nove governadores nordestinos, seis deles precisarão indicar novos nomes para as disputas já que, atualmente, estão exercendo o seu segundo mandato. As únicas exceções são os gestores do Piauí, Wilson Martins (PSB), da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM).

Paraíba Ricardo Coutinho

Na Paraíba, a maior parte das siglas já aponta, entre seus membros, quais os prováveis candidatos para 2014. Em seu primeiro mandato como governador, Ricardo Coutinho (PSB) tentará a reeleição e pretende formar uma aliança que agregue várias legendas. “Queremos repetir a aliança

Rio Grande do Norte Rosalba Ciarlini

Rosalba Ciarlini (DEM) faz parte do grupo de governadores nordestinos que devem disputar a reeleição já que estão no primeiro mandato. Contudo, apesar da prerrogativa, a gestora potiguar tem grandes possibilidades de não se candidatar graças a problemas

Maranhão Roseana Sarney

No início deste ano, a atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), aproveitou a oportunidade para anunciar o chefe da casa civil do Maranhão, Luís Fernando Silva, como candidato ao governo para as eleições de 2014. O nome do peemedebista tem adeptos também fora do estado. O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, juntamente com o senador José Sarney têm buscado viabilizar o estreitamento da relação de Luís Fernando com a presidente Dilma, com o Senado e a Câmara Federal.

vitoriosa de 2010”, comenta o presidente estadual do PSB, Edvaldo Rosas. A intenção é que 16 siglas apoiem a candidatura do atual gestor: PSDB, DEM, PSD, PT do B, PRP, PPS, PRB, PTC, PRTB, PTN, PV, PHS, PTR, PSL, PSC e PHS. A chapa do PMDB deve ser pleiteada pelo ex-prefeito de Campina grande, Veneziano Vital do Rego. Já no bloco formado pelo PT, PP e PSC o nome do ex-prefeito de João Pessoa Luciano Agra é cogitado.

acumulados na sua administração. Rosalba não vem obtendo bons resultados no combate à seca (investiu menos de 2% dos R% 755 milhões destinados ao problema), além de enfrentar críticas na saúde e denúncias de corrupção de órgãos do governo estadual, a exemplo do Detran de Mossoró. Enquanto isso, o PSD já tem definido, desde o final do ano passado, o seu pré-candidato para 2014. O atual vice-governador, Robinson Faria (PSD), já


busca discutir a realidade do estado através do contato com as lideranças e comunidades das regiões maranhenses. A oposição também conta com os nomes da deputada Eliziane Gama (PPS), do ex-prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (PDT), e de Marcos Silva (PSTU). Apesar da legislação brasileira não permitir a realização de campanhas oficiais, em surdina, todos já iniciaram a construção dos seus palanques.

Do lado do PSDB, apesar de declarações do senador Cássio Cunha Lima (PSDB) de que não concorreria em 2014 para apoiar o governador, o presidente nacional dos tucanos, Sérgio Guerra, avisou que o partido quer ter candidatura própria, tanto que encomendou consulta ao TSE para confirmar a elegilidade do senador. O PSTU, em conjunto com o PSOL, assim como o PCO devem lançar candidaturas, contudo, ainda não indicaram os seus pré-candidatos.

Pesquisa - O levantamento realizado em março pela WSCOM/Consult apontou em primeiro lugar, entre as preferências de voto para o cargo de governador, o senador Cássio Cunha Lima. O parlamentar obteve 37,5% dos votos, seguido pelo governador Ricardo Coutinho (PSB),com 27,7%, o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, com 11,05%, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, com 5,15% e o Ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, com 0,9%.

começou a estreitar as relações com o presidente estadual do PV, Paulo Davim, para fortalecer sua campanha para as próximas eleições. Outro nome que está praticamente consolidado para a disputa é o da vice-prefeita de Natal (RN), Wilma de Faria (PSB). A decisão foi confirmada no início de Abril pelos partidários do PSB e, segundo pesquisa realizada pelo Consult, já conta com aceitação da população potiguar.

Pesquisa - Segundo levantamento realizado pelo instituto Consult sobre as disputas eleitorais para o Governo do Rio Grande do Norte em 2014, Wilma de Faria (PSB) lidera a pesquisa com 38,29% dos votos - caso as eleições ocorressem hoje. O candidato Robinson Faria (PSD) segue em segundo lugar com 17,18% das preferências e, por último, a atual governadora do estado, Rosalba Ciarlini (DEM), com 12,88% das intenções.

Pesquisa - De acordo com a pesquisa Conceito, divulgada pelo portal Folha Maranhão, se as eleições estaduais fossem hoje, o candidato de oposição Flávio Dino (PCdoB) lideraria as preferências de voto com 58,6%. Em

segundo lugar estaria o candidato apoiado pelo grupo Sarney, Luís Fernando (PMDB), com 18,5%. No final da lista estariam Eliziane Gama (PPS) e Marcos Silva (PSTU) com, respectivamente, 4,8% e 4,5%.

PESQUISA DO MARANHÃO FLÁVIO DINO (PCdoB)

58,6%

LUIS FERNANDO (PMDB)

18,5%

ELIZIANE GAMA (PPS)

4,8%

MARCOS SILVA (PSTU)

4,5%

NULO

4,0%

NÃO RESPONDERAM

9,7%

PESQUISA DA PARAÍBA CÁSSIO CUNHA LIMA (PSDB)

37,5%

RICARDO COUTINHO (PSB)

27,7%

VENEZIANO

11,05%

(PMDB)

5,15%

LUCIANO AGRA AGNALDO RIBEIRO

0,9%

(PP)

NENHUM

8,4%

NÃO SABE DIZER

9,3%

PESQUISA DO RN VILMA DE FARIA

(PSB)

38,29%

ROBINSON FARIA

(PSD)

17,18%

ROSALBA CIARLINI

(DEM)

12,88%

NENHUM

17,65%

NÃO SABE DIZER

14,0%

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O pré-candidato tem realizado movimentações em vários municípios maranhenses através de inaugurações e assinaturas de ordem de serviço. A prioridade de Luís Fernando tem se voltado às cidades do interior do estado. “Todas as visitas aos municípios fora institucionais, sem teor político. Estamos inaugurando obras, visitando as obras em andamento, verificando os pleitos dos municípios na área da Infraestrutura”, esclarece o pré-candidato. Do lado da oposição, o nome que tem se mostrado mais consistente é o do Presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), que também tem percorrido cidades do interior. Dino, que iniciou o movimento “Diálogo pelo Maranhão” no final de março, ressalta que a ação


Apesar de partidos de oposição já terem começado a divulgar seus pré-candidatos, o governador Cid Gomes (PSB) tem sido cauteloso quando o assunto é eleição. Alega que o momento não é oportuno para tratar de 2014, uma vez que o semiárido enfrenta uma das piores secas dos últimos anos. “A disputa eleitoral do próximo ano é um assunto que não está na pauta”, reitera Cid. Ainda assim, algumas legendas – a exemplo do PCdoB - já garantiram apoio ao PSB para o próximo pleito. “Iremos buscar dar prosseguimento ao projeto liderado pelo PSB com o

governador Cid Gomes. Apesar das dificuldades, o Governo aposta no desenvolvimento estadual, batalha no sentido de montar uma infraestrutura e mantém uma administração avançada nas áreas da saúde e da educação”, ressalta o presidente do PCdoB-CE, Carlos Augusto Diógenes. O PMDB lançou o presidente regional do partido, o senador Eunício Oliveira. O anúncio foi feito pelo vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena, momentos antes de sua viagem à reunião dos prefeitos das capitais, realizada em Brasília no dia 20 de Março.

Ceará Cid Gomes

Piauí Wilson Martins

O atual governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), deverá se candidatar ao senado. Com isso, o vice-governador Antônio José de Moraes Filho (PMDB) se prepara para substituí-lo. E já pensa em visitar os 223 municípios interioranos a fim de se fortalecer. Outra legenda que lutzzva para garantir destaque é o PT. A sigla também agendou visitas às cidades piauienses e acredita que pode ter apoio do governo estadual. A intenção é estreitar as relações do pré-candidato e ex-governador

Wellington Dias, com o governador Wilson Martins aliança com chances de se concretizar. Até agora o PSB não conseguiu firmar uma pré-candidatura. Pode fazer alianças com o PT ou o PMDB. O nome mais especulado é o do deputado e secretário estadual, Wilson Brandão (PSB). Os tucanos também estão desarticulados apesar de, na capital, Teresina, terem o prefeito Firmino Filho.

Bahia

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Jaques Wagner

Sucessores para o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), não faltam. São cotados para a disputa o ex-presidente da Petrobras e atual secretário de planejamento do Estado, José Sérgio Gabrielli; o chefe da casa civil, Rui Costa; o senador Walter Pinheiro e o prefeito de Camaçari, Luiz Caetano. Contudo, apesar das possibilidades, o nome que tem sido mais evidenciado é o de Rui Costa. Jaques Wagner já o teria

levado, inclusive, para reuniões com a presidente Dilma. Outros partidos também devem lançar candidatos. O PSB deve ser representado pela senadora Lídice da Mata; o PSD, pelo vice-governador Otto Alencar; e o PDT, pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo. Por enquanto, ainda é cedo para confirmar os nomes, mas as especulações são muitas.


No Nordeste, quem mais tem interesse em montar estratéPernambuco gias de sustentação é Eduardo Eduardo Campos Campos, já que precisa se fortalecer para enfrentar o poderio de Dilma e dos tucanos. O pernambucano não pode mais concorrer, pois está no segundo governo. Se for mesmo candidato em 2014, deve deixar sua cadeira para o vice João Lyra (PDT). Serão oito meses nos quais o atual vice-governador poderá intensificar as ações em prol de sua reeleição. Atualmente Lyra trabalha em sua saída do PDT para filiar-se ao PSB de Eduardo e ja avisou ao ex-ministro Brizola Neto e ao senador Cristovão

Buarque sobre sua desfiliação. Mas Eduardo vai ter muita dor de cabeça na hora de decidir sobre o seu sucessor. Isto porque tem outros aliados de olho no Palácio do Campo das Princesas. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerras Coelho, é do mesmo partido de Eduardo e mostra disposição para entrar no páreo, inclusive, com o respaldo de Dilma. Outro aliado do governador é o senador Armando Monteiro Neto (PTB) que vem preparando o terreno para uma disputa estadual há algum tempo. O PT está fragilizado no estado com a derrota sofrida em 2012 e, por enquanto, prefere manter a aliança com Eduardo, apoiando o nome que ele indicar. Mas, caso Eduardo escolha Armando, o PT sai com Fernando Bezerra.

Alagoas Teotonio Vilela

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Mesmo pretendendo cumprir os oito anos do mandato no Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB) tem sido apontado como um possível candidato ao Governo do Estado de Alagoas. Caso sua pré-candidatura não seja estabelecida, a expectativa é de que o atual vice-governador Thomaz Nonô (DEM) encabece a chapa que, inclusive, deve contar com o apoio do PSB. Estima-se que, no segundo semestre deste ano,

os nomes para a disputa alagoana já devam estar definidos. Apesar da situação já ter iniciado os preparativos para o pleito, a oposição, em relação ao governo estadual, anda a passos lentos e desarticulada. O PT carece de representantes fortes para a disputa do governo e o nome mais representativo do PSOL no estado, o de Heloísa Helena, não tem pretensão de ser lançado já que a atual vereadora de Maceió pretende disputar uma das cadeiras do senado federal em 2014.

Sergipe Durante encontro estadual do PSB, em Abril, o senador Valadares (PSB) confirmou o interesse do partido em manter o bloco governista unido no âmbito estadual. O partido tem demonstrado apoio à candidatura do peemedebista e vice-governador de Sergipe, Jackson Barreto. “A aliança que existe entre nós não é de interesses fisiológicos, nem financeiros. Visa à melhoria da condição de vida dos sergipanos”. Legendas menores como o PSD, PCdoB e PTdoB também têm

sinalizado a favor do vice-governador. O PT de Deda, entretanto, ainda não sabe o que vai fazer. O principal nome dos Democratas para a disputa de 2014 é o do prefeito de Aracaju, João Alves Filho. Mas, apesar da especulação, o gestor tem mantido sua rotina e já chegou a declarar que “nem lembra que há eleição em 2014”. João Alves, que tem aderido à política da boa vizinhança, tem dialogado com a base governista e com a lideranças da oposição - em especial com o senador do PSC, Eduardo Amorim.

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Marcelo Déda


Conexão América Olhar norte-americano no Nordeste Esta coluna marca a primeira edição da coluna Conexão América. Agradeço a Revista Nordeste pela oportunidade de falar com seus leitores sobre as atividades e prioridades dos EUA na região, e oferecer informações úteis sobre serviços consulares e atrações nos Estados Unidos fora do roteiro tradicional turístico. A coluna deste mês é dedicada a Educação. Há dois anos, a presidente Dilma lançou um programa para revolucionar a educação internacional, o Ciência Sem Fronteiras. O programa tem como objetivo enviar 101 mil brasileiros, nos níveis de graduação e pós-graduação, para o exterior em cinco anos. Desde o início, nós fomos parceiros do governo brasileiro para facilitar o acesso aos EUA, pois acreditamos que intercâmbios educacionais aproximam nossos povos e criam duradouros relacionamentos de aprendizado e amizade, abrindo caminhos para colaboração profissional. Este mês, Recife e Natal vão receber a maior

Informes • Para quem vai tirar o visto pela primeira vez, é preciso: 1) Visitar o Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV) para a coleta de dados biométricos (impressões digitais); 2) Ir ao consulado para entrevista. Saiba todo o passo a passo no site: http://portuguese.brazil. usembassy.gov/

delegação de universidades americanas que já visitaram o Nordeste. No Recife, 25 universidades dos EUA vão participar de uma feira de educação focada em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática),. Metade dessas universidades continuarão no Nordeste para participar da conferência anual da FAUBAI (Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais), no dia 1º de maio, para estabelecer parcerias com instituções brasileiras. Usha Pitts, cônsul dos EUA para o Nordeste

Personalidade

• EducationUSA é o único centro oficial para orientação sobre estudos nos EUA. Confira o site para saber mais: www. educationusa.org.br/ • A Missão dos EUA no Brasil está no Facebook: descubra as atividades desenvolvidas pelos consulados e embaixada: https://www.facebook.com/ EmbaixadadosEUA.BR

Turismo

Keola Beamer é um lendário guitarrista do Maui, Havaí, que consegue estender os limites do violão havaiano ao mesmo tempo em que se mantém fiel à alma das raízes locais. Uma música dele faz parte da trilha sonora do filme Os Descendentes, estrelado por George Clooney.

Eventos A EducationUSA - IIE TECh Fair, Circuito de Educação Superior Tecnologia, Engenharia e Ciências Dia: 29 de abril, das 16h às 20h Local: Empresarial JCPM - Recife, Pernambuco Inscrições gratuitas no site http:// goo.gl/AkpJX

Maui, Havaí -

A ilha de Maui é conhecida por suas bonitas praias e cachoeiras, pelo Parque Nacional Haleakalã (e seu vulcão adormecido), e por ser um lugar incrível para praticar surf e mergulho.

A frase é usada para descrever um lugar ou destino que não é muito conhecido ou raramente visitado. Em outras palavras, algum lugar novo, para os que gostam de aveturas.

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“Off the beaten track”

Show do músico havaiano Keola Beamer no Recife Dia: 28 de abril as 17h00 Local: Marco Zero, Recife Antigo Entrada Gratuita Informações: www.acontecenorecife. com.br

Consulado dos EUA no Recife: Rua Gonçalves Maia, 163, Boa Vista. Recife-PE / CASV: Av. Herculano Bandeira, 949- Pina Recife-PE


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Política

TSE faz região perder força política Decisão de alterar o número de deputados federais gera reação no Congresso. Medida prejudica quatro estados nordestinos

Rafael Oliveira

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C

om menos cadeiras para sentar em Brasília nas eleições de 2014, bancadas dos quatro estados do Nordeste que perderam força política prometem uma briga grande. No início de abril, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia decidido, por cinco votos a dois, alterar a quantidade de deputados federais de 13 estados brasileiros para as eleições de 2014, e quatro deles estão no Nordeste: Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Piauí. O Ceará foi o único que ganhou representatividade, segundo a decisão. Na conta do TSE, Alagoas e Pernambuco ficam com menos uma posição. O mesmo aconteceu com o Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Já os estados da Paraíba e do Piauí perdem dois deputados nas próximas eleições. A alteração do TSE também garantiu mais duas cadeiras extras: uma para o

Amazonas e outra para Santa Catarina. O Pará foi o maior beneficiado - passará de 17 cadeiras para 21. O Ceará recebeu mais duas vagas na Câmara, o que aconteceu também com Minas Gerais. Ou seja: colocando as contas no papel, os estados do Nordeste perderam 6 vagas e ganharam apenas duas. O mais curioso disso tudo é que o estado de São Paulo e o Distrito Federal sequer foram cogitados pela mudança, e permanecerão com as vagas já existentes. O TSE fez o novo cálculo baseado dos dados do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, a divisão das 513 cadeiras da Câmara tem por base a população dos estados, cuja contagem foi feita em 1998. Os dois ministros que votaram contra a redistribuição, Marco Aurélio Mello e a presidente do TSE, Cármen Lúcia, ressaltaram que existe um ato de inconstitucionalidade nesta divisão, uma

Foto: Valter Campanato/ABr

O ministro Marco Aurélio entende que a divisão é inconstitucional e que cabe ao TSE decidir sobre a mudança


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Favorável à medida, Henrique Neves justifica que mudança acompanha crescimento da população, que aumentou 14% de 1998 a 2010

Foto: Renato Araújo/ABr

Ministra Nancy Aldrighi alega que a Constituição diz que o número de deputados de cada bancada deve ser definido no ano anterior às eleições

vez que não caberia ao TSE decidir sobre a mudança, mas sim ao Congresso. "A competência que a Constituição permite não faz qualquer referência ao TSE. Diz que o número de vaga da Câmara deve ser estabelecido através de uma lei complementar", disse a ministra Cármen Lúcia. A República existe sobre três poderes harmônicos e independentes, e a Carta da República delimita o campo de atuação de cada poder. Não temos autorização constitucional para mexer com a representação de 13 estados, de fazer uma dança das cadeiras ", afirmou. O ministro Henrique Neves, que ajudou a criar a nova regra de distribuição e votou a favor, disse que a mudança acompanha a evolução do tamanho da população, que aumentou 14% entre 1998 e 2010. "É natural a necessidade deste reajuste", examinou. Também votaram a favor da mudança as ministras Laurita Vaz e Luciana Lóssio, além do ministro Dias Toffoli, que disse não haver inconstitucionalidade na medida. "Os partidos políticos foram ouvidos. Não há qualquer nulidade", ressaltou. “A legislação estabelece que a Câmara deve ter 513 deputados. Cada estado deve ter entre 8 e 70 parlamentares, a depender do tamanho da população. A Constituição diz que o número de deputados de cada bancada deve ser definido no ano anterior às eleições”, afirma a ministra Nancy Andrighi, atualmente ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela foi a relatora do pedido feito pela Assembleia Legislativa do Amazonas para que fosse feita a redefinição das cadeiras em razão do aumento populacional de diversos Estados. “Se algum estado considerar inconstitucional a nova divisão, pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF)”, disse. E foi o caminho das bancadas. Tramitação - O Senado aprovou requerimento de urgência para o projeto de decreto legislativo (PDS 85/2013) que suspendeu a decisão do TSE. A matéria seguiu para a Câmara Federal  e deve ser aprovada.

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Foto: Divulgação


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Piauí mobiliza estados O primeiro Estado nordestino a se manifestar foi o Piauí. A bancada piauiense avisou que iria recorrer ao Supremo e aproveitou para convocar outros estados a se mobilizar contra a decisão do TSE. “Tenho certeza de que não estaremos sozinhos. Outros estados também foram prejudicados e por isso, estabelecemos conversas com alguns representantes políticos”, afirmou o governador do Piauí, Wilson Martins. Para ele, a determinação do TSE é injusta. “A representatividade do Estado vai enfraquecer na Câmara Federal e isso vai exigir mais dos deputados”, avaliou o governador, que acredita que a decisão do TSE foi precipitada. “Era necessário uma discussão mais ampla sobre o assunto. Parece que o debate foi encerrado antes de uma conclusão mais sensata. O Piauí, por exemplo, possui mais eleitores que habitantes, e isso é o que levamos em consideração. E quem elege o político é o eleitor, ele é quem tem o poder. Se diminuirmos nossa representação, toda a população eleitoreira também perde o poder do voto”, declarou. O deputado federal Jesus Rodrigues (PT-PI) reclamou da desproporcionalidade nos cálculos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, em 2010 o Piauí tinha 2.263.834 eleitores. “O número de deputados foi reduzido em 20%, e nosso estado ficou equiparado a lugares que não têm nem 500 mil eleitores. É uma perda significativa. Nós queremos que essa seja uma decisão do Congresso Nacional, e não do Poder Judiciário”, disse. Em Alagoas, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB) – que até pouco tempo era deputado federal - lamentou a redução. “Nossa bancada já é pequena, e, agora, com um a menos, a dificuldade será ainda maior. Alagoas perde muito com isso”, disse Palmeira, afirmando que o Estado já não recebe a atenção devida pelo Governo Federal. Para ele, a medida só veio para diminuir ainda mais a visibilidade. “A bancada alagoana sente no dia a dia que, em

Foto: Marcelo Casal/ABr

Foto: Divulgação

Governador Wilson Martins acha divisão injusta

Jesus Rodrigues alega desproporcionalidade

muitas matérias é necessário fazer um esforço enorme com outros estados que também têm um número pequeno de parlamentares. Agora, este esforço será ainda maior”, avaliou. Na Paraíba, a Assembleia Legislativa se posicionou. “O nosso objetivo é reunir todos os prejudicados, mas independente da participação desses estados na empreitada, a AL-PB vai recorrer desta decisão. Inclusive, a composição dos dois votos contrários, votos dos também ministros do STF,

Marco Aurélio Mello e Cármen Lúcia, nos dão subsídios suficientes para levar esta decisão ao STF”, informou o procurador-geral da Assembleia, Abelardo Jurema Neto. O deputado federal Wilson Filho (PMDB) ressaltou que a Paraíba é um dos estados mais prejudicados. "Infelizmente, a situação política da Paraíba não está nada favorável. Com a reforma, perdemos 2 deputados federais e 6 estaduais. Tivemos a maior diminuição proporcional do Brasil", disse.

QUEM GANHA E QUEM PERDE VAGAS NO CONGRESSO Perdem deputados

Ganham deputados

Alagoas

-1

Amazonas

+1

Paraíba

-2

Santa Catarina

+1

Pernambuco

-1

Ceará

+2

Piauí

-2

Minas Gerais

+2

Espírito Santo

-1

Pará

+4

Paraná

-1

Rio de Janeiro

-1

Rio Grande do Sul

-1


Pernambuco lamenta Foto: George Gianni

A bancada pernambucana parece estar menos agressiva com a mudança. O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) argumentou, inicialmente, falta de viabilidade para recursos contra a decisão. Para ele, só resta lamentar. “É uma pena Pernambuco perder um representante, mas é importante ressaltar que isso já era um entendimento consolidado desde as últimas eleições. Só não valeram porque era necessário ter uma decisão no ano anterior”, explicou. Mesmo assim, o deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE), que esteve presente no anúncio da medida, se mostrou otimista com a possibilidade de um diálogo. “A ministra (Nancy Andrighi) é uma pessoa fácil de se conversar. Nós fomos lá para dizer que há uma possibilidade concreta da Câmara chegar a um entendimento”, declarou o deputado. Para Cadoca, a briga está só no início. O argumento jurídico dos estados que seriam prejudicados juntamente com a apatia das bancadas federais, que teriam direito a mais assentos na Câmara, pesariam no resultado final do processo. “Nós estamos baseados em um princípio sólido que é o da irredutibilidade das bancadas. Para se aumentar a

Foto: Divulgação

Bruno Araújo justifica que decisão do STF já era um entendimento consolidado

Redução estadual Se confirmada, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral também vai alterar o número de cadeiras nas assembleias legislativas estaduais do País a partir de 2015. Pela Constituição, o número de deputados das assembleias estaduais está diretamente ligado à representação do Estado na Câmara dos Deputados, em Brasília. O Nordeste, novamente, será a região mais prejudicada: quatro dos cinco estados perderão cadeiras nas casas legislativas. Os estados da Paraíba e do Piauí terão as maiores perdas, com uma redução de seis

posições. Alagoas deixa de ter três deputados estaduais e Pernambuco apenas um. O Ceará, de novo, será o único estado que terá um acréscimo de duas representações estaduais. Vale ressaltar que o estado de São Paulo e o Distrito Federal não terão nenhuma alteração, da mesma forma como acontece agora. Antes mesmo da medida entrar na pauta, os estados em desvantagem já informaram que pretendem questionar a nova norma na Justiça e tentar derrubar a decisão, por acharem a decisão injusta.

representação do Amazonas, se deveria aumentar o número total dos deputados. O problema é que Brasília está com sua limitação máxima. A própria bancada do Amazonas não quis se envolver com a questão. Para mim, mais parece picuinha da Assembleia para tentar aumentar as vagas”, declarou. Já o deputado federal por Pernambuco, Gonzaga Patriota (PSB) teve um discurso mais duro: disse que a determinação do TSE é inconstitucional, e vai contestar a medida no STF. “Eu entendo que é totalmente inconstitucional o TSE julgar essa ação, porque cabe ao parlamento, ao Congresso Nacional, fazer isso através de uma lei complementar”, afirmou. “Queremos que o STF suspenda, através de uma liminar, os efeitos dessa decisão.”, afirmou.

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Cadoca acredita que ainda haverá diálogo acerca da matéria


Capa

Recursos podem mudar rumo do Mensalão Foto: Divulgação

Joaquim Barbosa se irrita com ampliação do prazo de defesa dos réus, mas ministros decidem abrigar recursos garantindo amplo direito

Isolado, ministro já admite possibilidade de dilatar prazo do processo

Walter Santos

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segunda-feira 23 de abril amanheceu com a publicação na íntegra do acórdão que oficializou as decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Ação Penal 470 (Mensalão), que contém 8.405 páginas. A divulgação do documento gerou irritabilidade no presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa, contrário à decisão de outros colegas que defendem um maior prazo para que a defesa dos réus do Mensalão possam se pronunciar, bem como possam abrigar

os Embargos de Declaração para avaliar possíveis omissões e Infringentes – nos casos de pedido de revisão e/ou mudança do resultado do processo. Mais de olho na opinião pública do que na admissibilidade legal de recursos, como confessou ao jornalista Durmeval Pereira, Joaquim Barbosa se mantém decidido a querer acelerar o processo, agora, com a maioria do Supremo disposto a dar mais tempo às defesas. Neste caso, o desejo particular do presidente do STF vai precisar se enquadrar na Lei e no voto da maioria da Casa. Isolado, o presidente do STF já admi-

te a possibilidade de uma dilatação de prazo, no caso de aplicação de penas. E isso ele denomina de protelação, e “não a garantia do amplo direito de defesa dos réus” como apregoa a Constituição Federal. A irritação de Joaquim Barbosa tem procedência diante das projeções feitas no meio jurídico. Até o decano Celso de Mello admite o instrumento de Embargos Infringentes - no qual o réu com até 4 votos pode pedir a revisão da pena, depois de esgotada a fase dos Embargos de Declaração, estes adotados quando a defesa se queixa de omissões processuais - como também


Defesa cobra isonomia

MPF muda entendimento O Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, mudou, de um ano para cá, o entendimento sobre Embargos Infringentes – recurso admissível aos réus – a partir do Mensalão, mas em abril do ano passado o Ministério Público Federal deu parecer em uma ação penal favorável contra um ex-prefeito. No caso, hwouve quatro votos divergentes pela absolvição do acusado. De acordo com levantamentos feitos pela NORDESTE, o parecer foi

Foto: Divulgação

Advogados dos envolvidos querem fazer valer o diireito, sem prejuízo aos réus

desequilíbrio global em prejuízo de uma das partes”. É bom lembrar que o princípio do contraditório e o da ampla defesa são consequências do princípio da igualdade. Deste modo, ambos são assegurados a todas as partes. No entendimento jurídico, a exigência de defesa técnica é uma revelação da igualdade processual. Portanto, não basta conferir às partes o contraditório, este somente é real quando se desenvolve em simétrica paridade.

Foto: Agência Brasil

dado pela subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio Marques, e aprovado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Agora, sem querer explicar à Imprensa, ele disse que "os infringentes são manifestadamente inadmissíveis, não cabem de modo algum" no caso da AP 470. Mas 14 dos 25 condenados tiveram pelo menos quatro votos pela absolvição. Roberto Gurgel passou a considerar ermbargos infrigentes inadimissíveis

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abriga o entendimento de que a Corte Internacional dos Direitos Humanos, a qual o Brasil é signatário, pode afetar os futuros encaminhamentos sobre a Ação Penal 470. Neste contexto, os advogados conseguiram a primeira vitória: tiveram ampliados os prazos para apresentar contestações, devendo, a partir de 3 de maio, contar a fase em que forçosamente farão o Pleno do STF ter que escolher um novo relator, já não mais o ministro Joaquim Barbosa. Diante do resultado apresentado no acórdão, em casos como o do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e do ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, por exemplo, basta apenas um voto dos ministros do STF, em nova votação no plenário da Casa - na hipótese de acatamento do Embargo Infringente – para que ambos os réus possam ter direito a responder ao processo em regime semiaberto.

Para os advogados, os princípios adotados pelo entendimento consensual do jurista De Plácido e Silva indica que “os princípios são o conjunto de regras ou preceitos que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando a conduta a ser tida em uma operação jurídica”. Por isso, no caso Mensalão “não se pode negar o principio da igualdade ou isonomia das partes, segundo o qual significa dar as mesmas oportunidades e os mesmos instrumentos processuais para que possam fazer valer os seus direito e pretensões, ajuizando ação, deduzindo respostas, etc”. Como explicam, “essa paridade de armas entre as partes não implica uma identidade absoluta entre os poderes reconhecidos às partes de um mesmo processo e nem, necessariamente, uma simetria perfeita de direitos e obrigações. O que conta é que as diferenças eventuais de tratamento sejam justificáveis racionalmente, à luz de critérios de reciprocidade, e de modo a evitar, seja como for, que haja um


Posições do ministro em xeque Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Em Brasília, sempre há expectativa acerca das posições do ministro do STF, Joaquim Barbosa. Agora, acredita-se que ele vá resistir até o último momento para impedir que os réus do Mensalão consigam ingressar com recursos na tentativa de ampliar o prazo de suas defesas. As posições de Barbosa vêm sendo observadas e já há reações dentro da Corte no sentido de que a decisão deve ser tomada por todo o colegiado. Joaquim Barbosa defende que se não forem tomadas medidas céleres, o processo tende a se arrastar, favorecendo aos réus que terão mais tempo para apresentar recursos. Informações de bastidores dão conta de que as inquietações partem, inclusive, de membros do STF que foram favoráveis à condenação dos réus. Mas que hoje consideram um equívoco de Joaquim Barbosa ele querer engavetar pedidos da defesa visando que os prazos

“Me considero um condenado político”

Ministros Celso Melo e Luiz Fux também têm ponderado com Joaquim Barbosa sobre levar a decisão para o colegiado da Corte

Foto: Divulgação

Em entrevista ao portal Uol, o ex-ministro José Dirceu, um dos réus do Mensalão, desabafou sobre o escândalo. Ele revelou que objetivo da oposição era desestabilizar o governo Lula e levá-lo a um impeachment. Ele se diz inocente e garante que vai provar que não fez parte de nenhum esquema

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Recursos Vou apresentar recursos, tanto embargos declaratórios como infringentes. Vou bater às portas também na Comissão Internacional de Direitos Humanos para ir ao Tribunal Penal Internacional de San José. A minha expectativa é a de que a Justiça apareça, porque eu fui condenado... Não houve crime, eu sou inocente. Me considero um condenado político. Foi um julgamento de exceção, foi um julgamento político.

Julgamento Eu fui julgado e condenado às vésperas do primeiro turno e do segundo (eleitoral). A transmissão de um julgamento como esse pela TV, a exposição de um julgamento como esse, é algo inacreditável. Se há uma campanha... Se há uma disputa política durante sete anos, que havia o dinheiro público, que foram comprados parlamentares, o mínimo que, na medida em que se devia adotar, é que o julgamento obedecesse a norma de todos os julgamentos. Nenhum julgamento teve a exposição que esse teve.

Dinheiro público O Supremo cometeu um erro jurídico gravíssimo, que nós vamos levar isso à revisão criminal. Primeiro, o dinheiro (pagamentos do Visanet) não é público, é privado. A Visanet é uma empresa privada. Alguém que deve para a Visanet está inscrito na dívida ativa da União? Isso é ridículo. Segundo, há provas, e elas são apresentadas agora já nos recursos e na revisão criminal, que todos os serviços foram prestados. Há provas. A campanha do Ourocard.


cada vez maiores nos colunistas”. Há a recente manifestação de Elio Gaspari. “Avalizando o trabalho em que Raimundo Pereira, da Revista Retrato do Brasil, desconstrói as acusações contra João Paulo Cunha... Direto, Jânio de Freitas explicita as enormes dúvidas em relação as acusações contra Henrique Pizzolatto”. E continua: “Por uma razão explicada na publicação, os recursos do Visanet não são oriundos de dinheiro público, mas da iniciativa privada, como atestam auditorias existentes e ignoradas pelo ministro”. Os formadores de opinião entendem que há indignação decorrente do abuso de poder e, como tal, argumentam que “são caracterizadas as ações em que os magistrados colocam sua vontade acima dos fatos analisados”. Elio Gaspari “atribuiu a responsabilidade da destinação das verbas a Henrique Pizzolatto, ignorando documentos que demonstravam expressamente que as decisões eram colegiadas, com a participação de representantes de outros sócios da empresa”.

Inocência A expectativa que eu tenho é que se faça Justiça. Eu tenho direito a um embargo infringente e vou apresentar. Não é possível que se caracterize como formação de quadrilha os fatos que estão descritos na ação penal. Por isso que quatro ministros discordaram. Há duas teses para serem rediscutidas porque é um direito que nós temos. Nos embargos declaratórios, vou mostrar que a pena que recebi na corrupção ativa está fora da jurisprudência do Código Penal e de processo penal.

Esquema Eu estou dizendo que eu não participei (do esquema do mensalão), como eu nunca conversei com o Marcos Valério. Tem mais, quando eu saí do governo (Lula) e fui cassado, a Receita Federal fez uma devassa na minha vida de três anos e me deu um atestado de honestidade. Meu sigilo telefônico, a minha agenda, não mostra que eu tenho qualquer tipo de relação com esses fatos, entendeu? Então, porque eu tenho que responder por isso?

Lula era alvo O objetivo era o impeachment do Lula, era a desestabilização do governo do Lula. O Brasil tem uma história de transformar a história da corrupção... Não é fato que o Lula tenha recebido o Marcos Valério, que o Marcos Valério tenha ido à Casa Civil conversar comigo, que eu tenha me reunido com Marcos Valério... Eles dizem, a oposição, que se arrependem de não ter feito o impeachment! Que eles acharam que o sangramento do Lula levaria à derrota. Eles dizem, eles assumem.

Batalha A batalha agora é jurídica. A batalha pela narrativa do que foi o julgamento é política e jurídica. Eu vou travar essa batalha. Não é só por causa da minha condenação. É por causa da condenação de todos. Como é que eu posso ser acusado (de crimes) como formação de quadrilha se não há um ato que eu tenha participado de qualquer atividade que diz respeito aos supostos atos criminosos que foram feitos?

Fase atual expõe magistrados Foto: Divulgação

A fase atual do processo sobrou para os ministros Fux e Gilmar Mendes em situações diferentes. No primeiro caso, ainda ressoa fortemente dentro e fora do STF o detalhamento de conversas entre o ministro Fux com o ex-ministro José Dirceu, este revelou ter sido informado pelo magistrado de que aquele, espontaneamente, iria votar em favor de sua absolvição, mas acabou se posicionando contra. O fato mexeu com o Supremo, mas o ministro não quis se pronunciar sobre assunto, cabendo ao Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, sair em sua defesa. Dias depois do presidente Joaquim Barbosa acusar ministros do STF de fazerem parte de um conluio de promiscuidade e sugerir que alguns tinham vínculos com escritórios de advocacia, a imprensa descobriu que o renomado escritório do advogado Sérgio Bermudes teria patrocinado um jantar em homenagem ao ministro Fux, para comemorar seu aniversário de 60 anos, no Rio de Janeiro. Coincidência ou não, o escritório emprega a filha de Fux, a esposa do ministro Gilmar Mendes, e o filho do desembargador Adilson Macabu, que trancou o caso Satiagraha. Recentemente, Fux gerou a derrubada da PEC 62/2009, que instituiu regime especial para pagamentos de precatórios emitidos até aquela data. Sabe-se que parte expressiva dos precatórios está em mãos de escritórios de advocacia, adquiridos com descontos de clientes que necessitavam de caixa e não tinham esperança de receber o pagamento em vida, como revelou Nassiff.

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para os recursos sejam estendidos. Não é só o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, quem tem ponderado com o presidente da Corte sobre a revisão de seu posicionamento. Os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux se incorporaram à tese de levar o assunto ao Plenário, tanto que as observações renovadas foram encaradas como apelo, antes da publicação do acórdão do julgamento. Na mídia, também há reações de setores que já veem a postura do presidente do STF com outros olhos. Alguns analistas admitem que as razões do ministro Joaquim Barbosa, para a condenação dos réus, perdem consistência diante da revelação de novos dados ignorados por ele na fase do processo que tem fragilizado a acusação. O analista Luiz Nassiff observou que “a questão é que o tempo passou, houve a oportunidade de trabalhos, mais alentados e meticulosos sobre o inquérito e as críticas, em vez de esclarecidas, foram aprofundadas. Cada vez mais - alega, é evidente que a análise das acusações tem produzido dúvidas


Opinião

Autoridade sim, autoritarismo não

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nas suas invectivas. Quando Barbosa diz que “esses filhos, esposas, sobrinhos de juízes são muito acionados pelos seus clientes pelo fato de serem parentes”; e defende a “tentativa de segregar o Judiciário dessas relações duvidosas, senão promiscuas, com o empreendimento privado”; ou, ainda, acusa os juízes de terem uma mentalidade “mais conservadora, pró status quo, pró impunidade”; e, finalmente, denuncia que “esse conluio entre juízes e advogados é o que há de mais pernicioso”, acrescentando – “nós sabemos que há decisões absolutamente fora das regras” – está ele realmente sintonizado com a Nação. O ministro Joaquim Barbosa costuma palmilhar a tênue linha que separa autoridade de destempero, invadindo, em muitas oportunidades, o território deste último. Agiu assim com os ministros Lewandowski e Marco Aurélio, durante o mensalão, aos quais aplicou reprimendas que não resultaram em danos maiores, seguramente em função da já mencionada estratégia da cordialidade, empregada por Ayres Britto. E, recentemente, repetiu-se nas altercações com juízes e as Associações que os representam, chegando a dizer a um deles: “Só se dirija a mim se eu pedir!”. E mais, sentindo-se incomodado com a pergunta de um jornalista, disparou: “Me deixa em paz, rapaz. Vá chafurdar no lixo como você faz sempre”. Longe querer que o presidente do Supremo Tribunal Federal deixe de pôr o dedo nas provectas e persistentes feridas do Poder Judiciário, nem pretender que seja ele desprovido de naturais e corriqueiros vícios de comportamento. Afinal de contas, ele é humano. O que se exige, porém, de quem é Chefe de um dos Poderes do país é que rigoroso, seja lhano; corajoso, seja sereno; contestador, seja justo; e, usando de autoridade, não seja autoritário.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

Não se pode ignorar que o ministro Joaquim Barbosa costuma palmilhar a tênue linha que separa autoridade de destempero

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iscordando ou não de suas posições, ninguém pode minimizar a capacidade do ministro Joaquim Barbosa, atual presidente do STF, de catalizar as atenções da mídia e da sociedade, hoje e durante o julgamento do mensalão. Na opinião do jurista Joaquim Falcão, exposta no livro Mensalão – Diário de Julgamento – Barbosa foi um brilhante estrategista no uso da mídia. Ao conseguir dividir, no julgamento, o voto dos ministros por núcleos, manteve o país em suspense, durante meses, impondo uma comunicação que pegou de surpresa a defesa e o próprio revisor Lewandowski. A análise de Falcão é consequente e igualmente arguta quando destaca, também, o papel do então presidente do STF, ministro Ayres Britto, que, visando reduzir as tensões, teria potencializado a taxa de cordialidade entre os integrantes do Supremo. Falcão esquece, todavia, de adicionar à capacidade estratégica de Barbosa e de Britto a postura equivocada, para não dizer tendenciosa, da grande imprensa que, num claro exercício de caça às bruxas, montou plantão no STF, chegando mesmo a transmitir ao vivo suas sessões, cobrando não o julgamento, mas a condenação dos acusados. Objetivo este conseguido no índice dos 100%, no que se refere aos chamados “peixes políticos” do processo. O sucesso midiático e de opinião pública do ministro Joaquim Barbosa, na “novela” mensalão, parece tê-lo feito descobrir e apreciar os holofotes da imprensa, despertando nele uma ira sagrada que o faz adotar um comportamento que lhe tem assegurando presença constante na grande imprensa. Contudo, a desmesura e a rispidez, com que tem tratado alguns de seus interlocutores, mostram que, embora bem intencionado e falando a língua da moralidade, tem errado no trato, enfraquecendo, por via de conseqüência, os argumentos usados


Economia

Precisa-se de

inventores Carência de investimentos na área de inovação tecnológica deixa ciência brasileira em atraso. Governo Federal lança plano para reverter situação

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as mãos de muitos nordestinos há cicatrizes que marcam homens e mulheres que trocaram a enxada pela força motora das fábricas das grandes metrópoles. No auge da industrialização do Brasil, entre os anos 50 e 80, muitos desses guerreiros imigraram em direção ao Sudeste. O resultado foi visto décadas depois: um País repleto de divergências sociais, econômicas e tecnológicas. As distinções na participação do Produto Interno Bruto (PIB) são a prova de um Nordeste atrasado. Com uma população de 54 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação nordestina foi de 13,5% do total do PIB nacional. Já o Sudeste, que possui uma população de aproximadamente 82 milhões, contou com uma partici-

pação de 55,4% no PIB, quatro vezes a do Nordeste. Quando o assunto é crescimento, a região também anda a passos lentos: a participação na economia nacional aumentou 0,5 ponto percentual de 2002 a 2010. Entre as razões, está a carência de investimentos nas áreas de inovação tecnológica. Para se ter ideia, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) depositou sua primeira patente internacional (registro de criação) no ano de 2007 e a da Paraíba (UFPB) recebeu a sua primeira no ano passado. Trinta anos à frente da paraibana está a Universidade de São Paulo (USP), que desde 1982 realiza os pedidos e,atualmente, já possui mais de 800. Apenas no ano de 2011, o depósito de patentes da USP foi de, aproximadamente, 100 requisições. Segundo o pró-reitor de pós-graduação da UFPB, Isac Medeiros, “nós avançamos muito no respeito de produção científica

Foto: Divulgação

Pró-reitor da UFPB vê avanços na produção científica e atraso em patentes

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João Pedrosa


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Não existem no País programas que atraiam esse investimento para as universidades

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qualificada, mas não avançamos na obtenção de produtos, de patentes, de processos. Se estamos na 13ª posição na produção, no ranking mundial, estamos na 47ª no que diz respeito à produção de patentes, produtos, marcas”. Para a presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone, o desinteresse das empresas em investirem em pesquisa contribui com o atraso. “Os empresários brasileiros têm a característica de quererem resultados imediatos. Não existem no País programas que atraiam esse investimento para as universidades”. Luana esclareceu que, no Brasil, 80% dos incentivos à pesquisa vêm exclusivamente do governo. Paulo Coutinho, gerente de inovação da Braskem (empresa produtora de resinas termoplásticas das Américas) que possui aproximadamente 500 patentes, concorda que a taxa de crescimento poderia ser maior. "Tem um pouco a questão cultural e a necessidade de maior aproximação entre empresas e universidades", ressaltou. Na tentativa de reverter este quadro, o Governo Federal lançou, no mês de março, o Plano Inova Empresa que disponibilizará R$ 32,9 bilhões para as empresas brasileiras investirem em inovação e tecnologia. “É fato que em outros países existe um investimento privado maior. Se você olhar só a estatística é assim: o investimento público é um percentual e o privado é maior. Mas me foi mostrada uma tabela muito significativa sobre o quanto do investimento público resulta em incentivo ao investimento privado. Ou seja, como se fosse uma taxa, uma visão da produtividade do investimento público na geração de tecnologia”, ressaltou a

Ministro Raupp anuncia a criação da Embrapii, que vai apoiar projetos das empresas e instituições de pesquisas e desenvolvimento

presidente Dilma Rousseff durante o lançamento. Além do anúncio do Plano Inova Empresa, também foi divulgada a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) que tem o objetivo de promover o desenvolvimento de projetos de cooperação entre as empresas brasileiras e as instituições de pesquisa e desenvolvimento. Segundo o ministro da Ciência Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, a nova empresa “articula a demanda empresarial, o seu interesse, o que querem fazer, com uma rede de

laboratórios, uma rede de capacitações, tanto nos institutos do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), de um modo geral, como nos polos de inovação do MEC (Ministério da Educação) associados com os institutos de ciência e tecnologia, e institutos federais de ciência e tecnologia”. Para o pró-reitor de pós-graduação da UFPB, Isac Medeiros, é necessário que haja um maior contato entre as empresas e as instituições de pesquisa e ensino. “Eu acho que a gente tem que pensar muito maior. Nós temos que pensar no prêmio Nobel”, enfatizou.


A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) divulgou, no dia 15 de março, os primeiros editais para que as empresas possam conhecer os pré-requisitos necessários à obtenção das verbas federais destinadas ao Plano Inova Empresa. São R$ 144 milhões, em recursos não reembolsáveis, que podem ser requisitados por empresas brasileiras de qualquer porte, individualmente ou em associação. Inicialmente, as áreas beneficiadas serão as de nanotecnologia, biotecnologia, tecnologias da informação e da comunicação (TICs), construção sustentável e saneamento ambiental. As propostas devem ser apresentadas até maio. Segundo o diretor corporativo das empresas Randon, Astor Schimitt,

o Brasil possui dificuldades para superar a concorrência global e isto ocorre porque o País ainda tem cargas tributárias muito altas. “A política é benéfica porque promete facilitar o acesso aos recursos por empresas de todos os portes. Mas atacará apenas um dos gargalos", ressaltou Schimitt. A empresa, que atua no Nordeste através dos seus distribuidores presentes em 8 dos 9 estados da região (exceto o Piauí), aguarda o lançamento dos editais do Governo. Sete eixos estratégicos serão beneficiados pelas verbas federais: cadeia agropecuária e agroindústria, energias, petróleo e gás, complexo da saúde, complexo aeroespacial e de defesa, tecnologia da informação e comunicação, e sustentabilidade socioambiental.

Presos pela burocracia Em sua visita ao estado paraibano, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que lidera um grupou de pesquisadores da área de Neurociência da Universidade de Duke (EUA), esclarece que “a ciência brasileira não foi construída para funcionar”. Nicolelis, juntamente com sua equipe, é responsável pela descoberta de um sistema que possibilita a criação de próteses robóticas controladas através de impulsos nervosos. O pesquisador explica que as normas e procedimentos do processo acadêmico no Brasil não são condizentes a pesquisas de alto nível. E cita o projeto da Copa do Mundo, em que um jovem tetraplégico dará o primeiro chute do torneio, como exemplo do descrédito que há lá fora com a pesquisa brasileira. “As pessoas falam: ‘você perdeu o juízo, perdeu uns três parafusos, porque não vai funcionar jamais”. O cientista lamenta a dificuldade na liberação de verbas para o desenvolvimento das pesquisas e para a aprovação dos projetos. Sobre os investimentos das empresas privadas nas pesquisas científicas, observa que no exterior eles

Foto: João Pedrosa

Nicolelis confirma que falta incentivo no País

são necessários para a sobrevivência da indústria. “Aqui (no Brasil), a indústria sobrevive sem inovar, não tem incentivo. Uma vez que atinge um certo patamar, não precisa inovar mais. Mas você não pode manter um país só nesses termos nesse século”. Para o pesquisador, a ciência no Brasil não é pensada como uma atividade cultural fundamental para o desenvolvimento. “Ela ainda não se conectou com o desenvolvimento econômico do País como acontece nos EUA, na Inglaterra, na Suíça, no Japão”.

Sem confiança no governo Apesar do montante disponibilizado pelo Governo para o desenvolvimento do Plano Inova Empresa (R$ 32,9 bilhões), há um descrédito. Existem os que desconfiam que a nova medida federal possa potencializar as empresas brasileiras e, em especial, as do eixo norte-nordeste. Um dos que pensa assim é o senador Álvaro Dias (PSDBPR). Para ele, “o governo mantém a conhecida estratégia de lançamentos espetaculosos que depois frustram ou caem no esquecimento da sociedade brasileira pela ausência de resultados concretos”. Álvaro ressaltou, durante seu pronunciamento no Senado Federal, que o governo preserva a sua popularidade através de propagandas “fraudulentas” viabilizadas por recursos públicos. ”O governo alimenta-se dos anúncios mirabolantes, conquista popularidade ao anunciar e aposta na ausência de memória dos brasileiros”, explicou. O senador ainda relembrou que, em 2009, o Governo Federal lançou o programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) e não obteve bons resultados. “Certamente, daqui a alguns anos, ao final do governo Dilma, nós poderemos voltar à tribuna e afirmar que, dos R$ 32 bilhões anunciados (no Inova Empresa), apenas alguns milhões foram investidos, como ocorreu com o programa de R$ 1,4 bilhão (Prime) que aplicou apenas R$ 160 milhões", criticou.

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Aguardando os editais

Foto: Divulgação


Economia

Longe dos olhos da União Porto de Cabedelo apresenta excelentes índices de crescimento. Para avançar, precisa de recursos federais da ordem de R$ 700 milhões Rafael Oliveira

U

Wilbur Jácome: “os números mostram que Cabedelo é viável, tem vocação e competência”

organização que administra o Porto, existe há 15 anos, mas há apenas três vem apresentando lucros. Até então, para atuar no porto, existiam prejuízos acumulados em R$ 4 milhões. “Em sua maioria, eram dívidas tributárias e trabalhistas. A primeira coisa que fizemos foram as renegociações, reorganizamos o nosso departamento jurídico e fizemos um controle de custos para identificar onde precisávamos atuar para fazer o porto ter lucro”, conta o presidente. Resultado: Os custos foram reduzidos em aproximadamente 9%, e o caixa da empresa triplicou em dois anos.

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Foto: Andrea Gisele

m dos caminhos do crescimento do Brasil está vindo pelo mar. Nos últimos anos, nunca se falou tanto no desenvolvimento dos portos. Fala-se em Suape (PE), Porto de Santos (SP), Itaguaí (RJ), Pecém (CE)... todos com ótimos índices. Mas na Paraíba, apesar de não haver tanto alarde, o Porto de Cabedelo, situado na Grande João Pessoa, vem despontando como potencial unidade portuária: encerrou 2012 com o dobro do crescimento da média nacional dos portos. Enquanto o cálculo dos portos no País chegou a 3%, Cabedelo cresceu 6% na movimentação de granel sólido, granel líquido e carga solta, em relação ao ano anterior. Resultado que superou a meta para 2012, que era crescer 5%. O acúmulo nos últimos dois anos é de 34%. São 1,9 milhão de toneladas de produtos que passaram pelo porto no ano passado. E tudo isso sem investimentos do Governo Federal.

Os dados são motivo de orgulho para o presidente da Companhia Docas da Paraíba, Wilbur Holmes Jácome. Para ele, “os números mostram que Cabedelo é viável, tem vocação e competência”. O ano de 2013 começou com 226 mil toneladas em janeiro - um incremento de 75% em relação ao mesmo período de 2012; em fevereiro, este incremento chegou a 40%. “Começamos o ano com um aumento de 57%. Para se ter noção, estes números foram maiores do que os que alcançaram outros portos. Na comparação com o Porto do Recife, que acumulou, em 2012, 1,7 milhão de toneladas, nosso porto movimentou 175 mil toneladas a mais. E Natal movimentou 411 mil toneladas no mesmo ano. Isso sem contar nossa superação diante de portos como Areia Branca (RN), Ilhéus (BA), Antonina (PR), Pelotas (RS), Porto Alegre (RS), Angra dos Reis (RJ), São Sebastião (SP) e Belém (PA). Um crescimento intenso em muito pouco tempo”, ressalta Wilbur. A Fundação Companhia Docas,

Foto: Andrea Gisele


Foto: Andrea Gisele

Investimento próprio

Ausência do Governo Federal

E como 2012 foi o ano do superávit, a Companhia Docas já tinha condições de fazer bons investimentos. “Gastamos cerca de R$ 4 milhões, em recursos próprios, fazendo a recuperação do piso, o redimensionamento de projetos hidráulicos, elétricos e combate a incêndio e, agora, temos a finalização do plano de zoneamento garantido até 2020”, afirma Wilbur. Há também outras melhorias da estrutura do Porto de Cabedelo que vem sendo realizadas com investimentos próprios. Na entrada do porto, duas balanças de 36 metros de comprimento estão sendo instaladas – cada uma com capacidade para até 120 toneladas. Outra obra em execução vai possibilitar a chegada de trens que transportarão minério de ferro. A gestão atual também implementou coleta seletiva de resíduos e o projeto Porto Verde, lançado há quase três anos com ações para reduzir o impacto ambiental do porto na região. Há também um novo projeto de infraestrutura interna em andamento. Armazéns que estão desativados há cerca de 20 anos estão sendo demolidos para que o porto possa ampliar a área do pátio.

Dentro de um contexto como este, a Cia Docas da Paraíba observa que precisa de investimentos maiores para melhorar a infraestrutura. A atual gestão reforça que, ao contrário de outros portos no País, todas as conquistas recentes e o ressurgimento do crescimento do Porto de Cabedelo aconteceram sem investimentos do Governo Federal, mas reconhece que precisa dos recursos da União para fazer obras maiores. “A Paraíba vive um novo momento de captação de indústrias, novos negócios, e um futuro marítimo. E não existe desenvolvimento de um estado sem uma atividade portuária. E é por isso que a gente precisa de um bom posicionamento no mercado, um reconhecimento das nossas vocações portuárias”, ressalta o presidente da Companhia Docas. A tarefa de casa já foi feita: está concluído o projeto arquitetônico de estudos geotécnicos e geofísicos onde a Companhia Docas deixou prontas todas as informações sobre a necessidade de aprofundamento do canal de acesso (a dragagem). Cabe agora ao Governo Federal apenas executá-lo. “Não temos o dinheiro para a obra de conclusão da dragagem, mas temos o dinheiro para deixar tudo diagnosticado”, observa Wilbur Jácome.

Está incluída também a pavimentação de 45 mil metros quadrados. “Além dos recursos próprios, há uma parceria com a Secretaria de Mobilidade Urbana da Prefeitura de Cabedelo que está melhorando alguns trechos das vias no entorno do Porto para facilitar o fluxo de caminhões e de automóveis”, complementa. Atualmente, o Porto de Cabedelo tem uma estrutura de mais de 60 hectares de área, com 602 metros de cais e sete armazéns, totalizando 14 mil metros quadrados de área. São 26 tanques com capacidade total de 63.859 metros cúbicos, 16 silos com capacidade total para 57.748 toneladas, 18 mil metros quadrados de pátio e 32 hectares de retroárea. Toda esta estrutura coloca Cabedelo como um dos principais centros de distribuição do Norte-Nordeste. Quase 80% do combustível da Paraíba passa por Cabedelo, que interage com segmentos de mineração, indústria cimenteira e comércio. A localização é privilegiada: é o ponto mais oriental das Américas, fica a 18 km da BR-101, a 35 km do Aeroporto Internacional Castro Pinto e tem, ainda, acesso direto à BR-230 e à Ferrovia Transnordestina.

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Terminal de Cabedelo investe R$ 4 milhões em melhorias


A dragagem do Porto de Cabedelo é fundamental para a continuidade do desenvolvimento, pois habilita a área para receber embarcações maiores. Hoje, a profundidade oficial é de 9,14 metros, mas já chegou a 11 metros mesmo com o processo de aprofundamento incompleto. “Esta profundidade ainda não está homologada. Queremos ampliar para 12 metros de profundidade. Isso significa que Cabedelo poderá receber navios mais pesados, com 9,14 metros, por exemplo. Navios com 35 mil toneladas de carga podem atracar com segurança. Com 12 metros, poderemos receber, em uma única embarcação, 50 mil toneladas”, avalia Wilbur Jácome. De acordo com o presidente da Cia Docas, o custo para a conclusão do projeto de dragagem é de R$ 100 milhões. Para que ela possa acontecer, existe uma segunda obra que precisa ser realizada. “É preciso fazer um reforço da cortina do cais comercial existente. Precisamos fazer um reforço nos 602 metros do cais antigo, aumentando o estacamento da estrutura do Porto para 25 metros de profundidade. Só assim, poderemos viabilizar as futuras dragagens para 12, 13 metros ou até mais”, explica.

Obra amplia movimento Outro projeto fundamental para Cabedelo é a ampliação da movimentação do porto. Ou seja, a construção do Terminal de Múltiplos Usos (TMU). O terminal compreenderá 550 metros de novos berços e 102 mil metros quadrados de área de armazenagem e movimentação de cargas. A obra pode ampliar a capacidade de movimentação de contêineres, com uma média mensal de 4,5 mil contêineres. A projeção da Cia Docas é atrair cerca de 50 mil TEUS (unidades de contêineres de 20 pés) para o Estado. “Essa quantidade, atualmente, é movimentada pelo Porto de Suape. E as indústrias paraibanas ficam na fila, esperando para sair do porto pernambucano, absorvendo altos custos logísticos”, explica. Esta é a obra mais cara: é necessário que o Governo Federal libere R$ 400 milhões. O Porto de Cabedelo precisa de R$ 700 milhões do Governo Federal. E justificativas para estes investimentos não

faltam. “Nos próximos 5 anos vamos estar operando 5 milhões de toneladas de cargas. Nosso porto tem uma série de vantagens em relação aos mais próximos”, diz. Ele acrescenta: “hoje, você não consegue utilizar o Porto do Recife com cargas muito grandes devido às ruas do Recife Antigo que não têm espaço para o transporte de grandes cargas. Em Natal, o mesmo problema acontece já que o Porto fica na área histórica da cidade. Em Areia Branca não se tem espaço porque na região há muito sal. Cabedelo é o ideal porque tem entrada e saída fáceis e a BR-230 fica na porta”. Ele comprova as facilidades de Cabedelo em detrimento de outros terminais. “Recebemos 220 bases eólicas que não conseguiram ser operadas por Fortaleza. Ou seja, R$ 54 milhões de reais em carga que vieram para cá”. Wilbur Jácome ainda argumenta que a localização do porto fará com que os

Distância dos portos do mundo em relação a Cabedelo

Estados Unidos 3.400 milhas

Europa

Ásia

3.100 milhas

10.900 milhas

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Porto de Cabedelo: Distância na Cabotagem Pecém - 330nm Suape - 100nm Salvador - 470nm Vitória - 920nm Rio de Janeiro - 1.180nm Santos - 1.380nm Paranaguá - 1.500nm Rio Grande - 1.890nm

África 180 milhas

Porto de Cabedelo


íba

ara oP

Ri

Oceano Atlântico

insumos fiquem mais baratos, dando mais competitividade com os mercados internacionais. No entanto, as justificativas parecem ainda não terem sido suficientes para convencer a União a voltar as atenções para Cabedelo. “Nosso pedido foi protocolado em abril de 2011, mostrando que temos demanda, necessidade e projetos. A resposta que tivemos até agora é a de que não existe previsão”. A única posição mais concreta que Wilbur Jácome recebeu foi em uma reunião com a Secretaria de Portos, ligada ao gabinete da Presidência. “Disseram que não conheciam os projetos e que iriam avaliar. Enquanto isso, o Governo Federal destina mais de R$ 1 bilhão para portos vizinhos, e a gente movimentando mais do que eles. Que planejamento é esse? Desde 1864 se discutia que o Porto do Varadouro precisava de um terminal novo para receber navios maiores. Estamos em 2013 com a mesma discussão: ainda estamos com a dependência logística de Pernambuco”, lamenta Jácome.

Fonte: Cia. Docas da Paraíba

102 50

mil metros² de armazenamento terá a área do Terminal de Múltiplos Usos (TMU) mil unidades de contêineres de 20 pés podem ser acomodados no local

Foto: Andrea Gisele

Foto: Divulgação

A Medida Provisória pode criar entraves para o cresimento de portos como o de Cabedelo. Cia Docas alerta que a burocracia deve atrapalhar a movimentação nos terminais

MP dos Portos não é bem vista A Medida Provisória 595, conhecida como a MP dos Portos, não é vista com bons olhos pela Cia Docas da Paraíba. Ela entende que a legislação burocratiza a confiabilidade dos portos. “Essa MP quer centralizar, em Brasília, os processos de licitação dos arrendamentos. Você consegue imaginar como será uma única repartição pública assumindo todas as licitações do País? Tudo tem que ser licitado, como uma prefeitura, mas a exigência é de um ambiente privado. Tenho que fazer a troca de um equipamento o mais rápido possível, e não 60, 90 dias depois. O porto não pode parar em um caso desse”. Wilbur diz que a MP só gera incertezas jurídicas, e que não trata de temas determinantes para acelerar o crescimento dos postos. “As Cias Docas que existem no Brasil nunca foram ouvidas. Ninguém sabia disso. Acho que o Governo precisa reavaliar a MP”, conclui.


Opinião

Vilania carioca

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extinção da violência no que passou a ser chamado, num apelo comunistóide, de “comunidades”. Na dura realidade, tomando por base o que ocorre na junção de morros que formam o Complexo do Alemão, cartão-postal das UPPs, sua violência jamais foi extinta. Basta olhar o noticiário. Nele, o clima de tiroteios entre bandidos e policiais e também as constantes correrias dos seus moradores, demonstram que a festejada “pacificação” do Alemão não passa de embuste descarado. Lá, o comércio da droga rola solto. De fato, por trás da guerra que nada tem de clandestina, prevalece o imanente poder dos narcodólares, que contamina a própria polícia: envolvidos pelo dinheiro sujo do tráfico, considerável número de policiais, quando não se apropria da droga apreendida, se deixa corromper pelo rico propinoduto dos traficantes. E há o dedo pernicioso da intervenção ideológica no combate ao crime. Em recente programa da TV Record, denunciando o despreparo das UPPs para enfrentar o tráfico, melhor armado, um PM declarou que a força policial carioca é instruída para evitar o confronto com os bandidos, sempre lesivo à imagem pacificadora das UPPs. No frigir os ovos, Sérgio Cabral, o homem da “dança da garrafa” nas casas noturnas de Paris, mantém viva a irresponsável política de segurança adotada por Brizola, o alucinado criador do “socialismo moreno” que fez do Rio uma das cidades mais perigosas do mundo. A pergunta que me faço diante dos costumeiros assaltos a turistas no Rio de Janeiro (em geral cometidos com requintes de perversidade) é a seguinte: por que o cidadão pacato, seja americano, francês ou paraibano, deixa a sua cidade e vem enfrentar de peito aberto a violência maciça deste falso paraíso? A imagem do Cristo Redentor ou as promessas eróticas escondidas por trás do vasto paredão da Av. Atlântica, em Copacabana, seriam suficientes? Penso que não. Mas lamento pelos que se deixam enganar tolamente pela propaganda enganosa.

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

Na dura realidade, tomando por base o que ocorre na junção de morros que formam o Complexo do Alemão, cartão-postal das UPPs, sua violência jamais foi extinta. Basta olhar o noticiário.

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leitura do mapa da violência no Rio de Janeiro está longe de expressar os índices de felicidade que o jornal O Globo incensou e que têm como emblemáticas as figuras do falso malandro Zeca Pagodinho e do indigesto Luciano Huck, animador de chatíssimos programas de auditório da Rede Globo. De fato, a realidade vivida por sua população é bem mais trágica. Por exemplo: segundo o Instituto de Segurança Pública, a ocorrência de homicídios dolosos no Estado, considerada estável a partir da criação das badaladas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), aumentou em janeiro de 2013 em 20%, perfazendo um total de 391 casos, contra 345 ocorridos no mesmo período de 2012. Se considerarmos que os dados estatísticos divulgados pelos órgãos de segurança são todos fajutos, é de se presumir que os números de homicídios dolosos no Rio sejam bem mais elevados – por baixo, algo em torno de 100%. Por sua vez, os frequentes casos de latrocínios, furtos de veículos, seqüestros relâmpago, assaltos à mão armada, tentativas de homicídio e tudo mais que se possa imaginar em matéria de criminalidade, embora sonegados por pífios Boletins de Ocorrências disponíveis nas delegacias, duplicaram nos últimos anos. Só para exemplificar: os roubos a residências, sempre subestimados, pularam em 2012 para 1.302 (contra 710, em 2009). E os atentados a pessoas idosas subiram de 37.677 (em 2006) para 71.000, em 2013. Os casos de estupros subiram de 3.102, em 2010, para 6.029, em 2012, numa avaliação que fica a anos-luz da brutal realidade do cotidiano carioca, onde velhos, mulheres, crianças e turistas são assaltados aos montes por pivetes e bandidos armados de revólveres, canos de ferro, facas e estiletes. Chamam a isso “felicidade de viver no Rio”? Quanto às UPPs, criadas com estardalhaço pelo Governo Cabral na pretensão de instituir “policias comunitárias” para desmontar quadrilhas que controlam as favelas do Rio - bem, elas foram logo transformadas em peças de marketing eleitoreiro, para anunciar de forma demagógica a


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Economia

O valor das

estrel s Hotéis resistem à nova classificação do MTur, seja por não concordar, falta de conhecimento ou até medo de rebaixamento. Empresários do setor hoteleiro estão desconfiados do novo sistema

Rafael Oliveira

A

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té pouco tempo, quando se pensava onde se hospedar durante uma viagem, o primeiro questionamento ao buscar um hotel era: “quantas estrelas ele tem?” Com a democratização das viagens, os tempos certamente são outros para o mercado da hospedagem. Hoje, eles são variados e vão desde as mais simples, do tipo Cama & Café (ou Guest Houses, feitas em residências familiares, muito comuns na Europa), passando pelas pousadas históricas, hotéis boutique, até os luxuosos resorts (que algumas empresas inventaram o conceito inexistente de “seis estrelas”). E o sistema de classificação hoteleira, que andava ultrapassado e

chegava a confundir os turistas, também precisou de uma modernização. Para aumentar a competitividade do setor, o Ministério do Turismo (MTur) lançou, em setembro do ano passado, um novo Sistema Brasileiro de Classificação, o SBClass, mais flexível e adaptado a diversificação desses meios de hospedagem. Mas, seis meses depois, apenas 33 estabelecimentos foram cadastrados no Brasil – destes, só quatro estão no Nordeste: três na Bahia e um em Pernambuco. Uma quantidade muito inferior ao esperado já que, segundo o Fórum de Hoteleiros do Brasil, existem 9.592 meios de hospedagem no País - e o Ministério do Turismo queria ter chegado a pelo menos 100 cadastros nesses meses iniciais.

O processo de classificação é pago: o proprietário interessado faz o pedido pela internet, através de um hotsite do MTur (www.classificacao.turismo.gov. br), e desembolsa uma taxa que varia de R$ 838,64 a R$ 5.031,34 para marcar a visita de um avaliador do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que é responsável por checar se os itens estão de acordo com a nova classificação (ver tabela abaixo). O processo todo de cadastro é rápido: costuma durar entre 10 e 30 dias e vale por três anos. Mas a questão do custo não é um problema para o setor hoteleiro, como afirma o diretor do Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico do Ministério do Turismo, Ítalo Mendes. “Os meios


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de hospedagem ainda resistem em não querer utilizar a classificação por estrelas porque ela define um posicionamento de mercado, e nem todas as empresas querem esta definição. Isso, sem contar com o fato da classificação não ser obrigatória”, explica o diretor. No entanto, o estabelecimento que não aderir ao SBClass, não pode usar estrelas atreladas a marca do hotel sob risco de multas que variam de R$ 350 a R$ 1 milhão, podendo chegar até a perda do registro. Mesmo com a proibição já em vigor, o governo ainda faz vista grossa, e só pretende colocar a fiscalização em prática a partir do segundo semestre. A meta do MTur é chegar até a Copa do Mundo com pelo menos 500 hotéis listados na nova classificação. Como

atingir isso? “É preciso divulgação. Por ser recente, muitos meios de hospedagem ainda não têm conhecimento do sistema. A campanha teve início em fevereiro. Este mês, começaremos uma pesquisa por telefone para ouvir os proprietários das empresas de hospedagem do País para entender o motivo de ainda não terem aderido”, diz Ítalo Mendes. O secretário e técnicos do MTur vem explicando nas cidades-sede da Copa a importância dos hotéis aderirem ao SBClass e ao Sistema Nacional de Registro de Hóspedes (SNRH) e vem fazendo reuniões com os empresários para que tirem dúvidas sobre os programas. “Também oferecemos facilidades de adesão para acelerar a classificação nas sedes dos eventos”, explicou o diretor.

As reuniões são promovidas pelo MTur em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) Nacional, Fórum de Operadores e Hoteleiros do Brasil (FOHB), Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Associação Brasileira de Resorts (ABR) e entidades locais. Este ano, as reuniões já aconteceram em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza. Salvador receberá o encontro este mês, encerrando a rodada de discussões com as sedes da Copa das Confederações, além de São Paulo. Outros 97 hotéis estão em processo de classificação. A lista completa dos estabelecimentos já classificados está no hotsite do Ministério do Turismo (www.classificacao.turismo.gov.br).

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A nova classificação da rede hoteleira varia de acordo com o tipo de estabelecimento e não apenas com a quantidade de estrelas


Grandes redes ignoram Mesmo tendo o conhecimento do novo sistema, alguns empresários já se manifestaram contra a nova classificação. Uma delas é a multinacional Atlântica Hotels, que possui 78 unidades no Brasil – sendo 10 no Nordeste (Fortaleza (CE), Recife (PE), Natal (RN), Aracaju (SE) e Maceió (AL)). Sem dar muitos detalhes, a vice-presidente de venda e marketing da rede, Annie Morrissey, disse apenas que fez uma análise do SBClass, e que a empresa decidiu “não aderir a ele para continuar com nossa classificação interna, que funciona bem em nossas bandeiras internacionais, e são bem conhecidas dos nossos clientes”. Os hotéis da rede não possuem estrelas, e são divididos nas categorias Econômico, Intermediário, Superior e Luxo. “É uma questão de comunicação que existe há 15 anos. Não pretendemos mudar”, concluiu Morrissey. O Grupo Accor – que tem a maior rede hoteleira da América Latina, com 174 unidades no Brasil de marcas como Ibis, Sofitel, Mercury e Novotel, sendo 18 no Nordeste – também não vai aderir ao SBClass. “O amplo portfólio das

marcas hoteleiras da Accor já oferece ao consumidor uma oferta variada, do luxo ao econômico. As avaliações dos hotéis também constam de guias de referência como o Quatro Rodas, além de grandes redes de agências de viagens. Os próprios clientes emitem opiniões através de redes sociais como Facebook ou ainda pelo TripAdvisor. Desta forma, não vemos necessidade da classificação por estrelas”, informou o grupo em nota. Eles também não usam estrelas em suas marcas. O Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), que representa 25 redes hoteleiras nacionais e internacionais, totalizando 523 hotéis, não é contra a aplicação do SBClass, mas acha que ela não deve ser obrigatória. “As redes hoteleiras hoje em funcionamento em qualquer parte do mundo já possuem critérios próprios e claros de diferenciação, que descrevem os produtos e serviços disponíveis. No Brasil, elas realizaram altos investimentos em posicionamento e o reflexo direto disso é o crescimento do reconhecimento de bandeiras e marcas pelos consumidores. O SBClass pode ser uma ferramenta de marketing e promoção para a hotelaria

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Novidade e desconfiança Enrico Fermi Torquato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), disse que a novidade despertou a desconfiança de alguns empresários, principalmente em cidades com a rede hoteleira mais antiga, como Recife e Rio de Janeiro. “Nesses lugares, grande parte dos hotéis que já tinha conseguido as categorias através das estrelas da Embratur estava com medo de perder alguma estrela e ser rebaixado. Mas só depois de estudarem o processo, os empresários viram que o melhor seria se adequar à nova realidade para permanecer com as estrelas que tinham”. Para ele, o novo sistema pode fazer com que muitos meios de hospedagem independentes comecem a aparecer, se

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A Atlântica preferiu continuar com os critérios que são adotados internamente

independente, mas não obrigatória para todos os meios de hospedagem”, explicou Roberto Rotter, presidente da FOHB.

Itens avaliados no SBClass

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Hotel Café da manhã/Recepção aberta por 12h Sala de estar com TV Tv por assinatura/Ar Condicionado/Restaurante Estacionamento com manobrista/Internet Concierge/Camas King Size

Enrico Torquato: “setor teme rebaixamento”

tornando mais competitivos. “Certamente haverá uma mudança cultural. As estrelas são importantes para quem ainda não as possui, principalmente, para concorrer com os hotéis de rede, que têm classificação própria”, completou.

Resort 2 tipos de piscinas e restaurantes

Anfiteatro/3 restaurantes/Spa

Pousada Café da manhã/Recepção aberta por 24h Estacionamento/Aceitar cartões


Internet ajuda na hora da escolha

Um dos primeiros no Nordeste a entrar para a nova classificação foi o Grupo Vila Galé, responsável pela gestão de 23 unidades hoteleiras, sendo 17 em Portugal e 6 no Brasil. Para o diretor de operações do Resort Vila Galé Marés, José Antônio Bastos – único empreendimento no estado da Bahia classificado como cinco estrelas – a certificação do MTur é uma grande representatividade. "Acima de tudo o reconhecimento do elevado padrão que oferecemos aos clientes, não só em termos de instalações como de qualidade de serviço", afirmou. Com isso, o diretor disse que vai utilizar as estrelas da nova classificação como ponto importante nas campanhas publicitárias do grupo. “Isso vai ser passado para os clientes de uma forma consolidada. Utilizaremos as 5 estrelas em todas as nossas ações de promoção e marketing". Também na Bahia, em Caetité, o Hotel Porto do Sol é um dos primeiros a receber a classificação de 3 estrelas. O sócio e gerente Amador Oliveira disse que a decisão em aderir partiu de um estudo prévio. "Já tínhamos feito um estudo com a ABIH-BA de como se

A internet também inovou a forma como os hotéis são classificados, e os viajantes parecem estar gostando. Alguns sites especializados em reserva de passagens aéreas, hotéis e pacotes têm permitido aos viajantes buscar opiniões e relatos de outras pessoas que já utilizaram os serviços. É o chamado “serviço colaborativo de recomendação turística”. Um dos sites de recomendação de hotéis mais acessados no mundo é o TripAdvisor, com uma média de 900.000 usuários brasileiros por mês. “Eles buscam a lista de hotéis com vagas em uma cidade ou procuram um hotel específico. Lá, encontram opiniões de quem já se hospedou. É a propaganda boca a boca institucionalizada”, explicou o britânico Angus Struthers, diretor de comunicação global do TripAdvisor. Para ele, os viajantes têm desejo de compartilhar experiências boas ou ruins. “Fizemos uma pesquisa com 2.300 brasileiros perguntando sobre o tema e 82,5% disseram usar celulares, tablets e smartphones para compartilhar fotos e opiniões pela internet”, explicou. Outro aplicativo muito utilizado é o Foursquare, que é instalado no telefone. Ao chegar em um estabelecimento como um hotel, restaurante ou centro de compras, o GPS mostra uma lista com os lugares e as opiniões de quem já passou por ali. O usuário faz um “check-in” deixando uma marcação virtual por onde passou. Se quiser, também deixa suas impressões sobre o atendimento e uma recomendação de um prato especial servido, ou o melhor quarto para ficar, por exemplo. O analista de TI cearense, Fábio Chicout, utiliza o aplicativo como guia em suas viagens. “Fui a João Pessoa e lá procurei um restaurante perto de onde estava. Escolhi via Foursquare, e quando li as dicas, tinha um cliente falando muito bem de um prato que pedi e também gostei”, contou.

Restaurante/Ar condicionado/Frigobar Salão de jogos/Área para bebês Piscina/3 refeições/Espaço Kids

Hotel Fazenda Pomar/Animais/Estacionamento Restaurante/Aceitar cartões 3 refeições/Ar condicionado/Área para bebês Room Service(12h)/Piscina/Internet Espaço Kids/Trilhas

Cama e Café Café da manhã/Guarda-volumes Anfitrião acessível pelo telefone 24h

classificam os hotéis e, com isso, recebemos a orientação para nos adequar. O cliente nunca vai deixar de procurar os hotéis pelas estrelas. Isso para ele é tão importante quanto o preço que vai pagar pelo serviço”, completa. Acrescenta que a classificação do SBClass é como receber um prêmio. "Todo empresário busca o melhor, e ser reconhecido pelos serviços que oferecemos é uma recompensa por todo trabalho”. Foto: Divulgação

Grupo vai passar a usar a nova classificação para todas as suas unidades hoteleiras

Sala de estar com TV/ Ar Condicionado Lavanderia/TV no quarto/Internet

Hotel Histórico Ar condicionado/Room Service por 12h 3 refeições/ Internet/ área para bebês Cama King Size

Flat/Apart Hotel Frigobar/Tv por assinatura/ Lavanderia Sala de Reuniões/Sala de ginástica Eletrodomésticos no quarto/ Restaurante/Sauna e Piscina

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Vila Galé ganha estrela


Economia

Nome sujo n Foto: Agência Brasil

Prefeituras baianas parcelam dívidas com a União e recorrem à Justiça para sair da inadimplência ACM Neto corre para limpar o nome da Prefeitura de Salvador

João Pedrosa

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O

baiano Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), ao assumir a Prefeitura de Salvador, declarou que os primeiros meses da gestão iriam “ser de trabalho duro”. Se depender dos quase R$ 3 bilhões deixados em dívidas pelo gestor anterior, João Henrique (PP), vão ser mesmo. O atual prefeito já começou a suar a camisa para liberar os R$ 20 milhões garantidos pelo Governo Federal que estavam retidos devido à inadimplência, desde 2011, da capital baiana. Além de ACM Neto, outros 363 gestores municipais da Bahia estão correndo atrás do prejuízo para limpar o nome das prefeituras e obter as verbas da União. O maior abacaxi a ser

descascado é o da dívida com o INSS, que chegou a atingir 289 municípios, aproximadamente 81% das prefeituras negativadas pelo Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias. Ente outros débitos, estão as contas referentes ao Sistema de Coleta de Dados Contábeis dos Entes da Federação (230 prefeituras), os tributos federais (198), os convênios no Sistema Integrado de Administração Financeira (134), a Previdência Própria (114) e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (103). Para a presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria, os municípios baianos não conseguem reduzir os débitos devido às elevadas taxas de juros que são inseridas sobre os parcelamentos do INSS. “A taxa de juros que incide sobre

a dívida é a Selic (cujo valor atual é 7,5%), a mais alta do mercado”, alegou. Quitéria ressaltou que as prefeituras esperam que o Governo possa diminuir o valor descontado para, no máximo, 1% da arrecadação, já que algumas delas chegam a sofrer descontos de 15% para quitação do débito. “Somos poder público, prestamos serviços sociais. Equipes de futebol, por exemplo, recolhem somente 5%”, justificou. Outras razões levaram as prefeituras baianas à atual situação de endividamento. Entre elas está a seca que atingiu todo o semiárido baiano e causou um prejuízo estimado em R$ 7 bilhões. Segundo o coordenador de comunicação da UPB, Gutemberg Cardoso, “muitos municípios estão em seca, um total de 236, e Dilma diz que vai haver liberação de recursos, mas


na praça

Foto: Agência Brasil

Wagner tem feito ações para minimizar estiagem e melhorar situação dos prefeitos

realizados pelo Governo Federal, em especial, do Fundo de Participação (FPM), verba da qual são descontadas as parcelas das dívidas das cidades com a União. “A grande desvantagem que esses municípios recebem todos os anos é que o FPM sofre variações, chegando a ter redução, enquanto as despesas municipais aumentam”, informou a UPB. No início do ano, 21 prefeituras não receberam qualquer recurso do FPM devido à retenção do parcelamento com o INSS ou da Receita Federal. Apesar das dificuldades, muitos municípios, a exemplo de Salvador, adotaram medidas para obtenção dos recursos retidos por conta da inadimplência. O prefeito da capital baiana, ACM Neto (DEM), recorreu à Justiça

Maria Quitéria: “municípios não reduzem débidos devido às altas taxas de juros”

Federal a fim de conseguir a liberação de verbas para quatro convênios, entre eles a revitalização da orla da Barra e a nova sinalização turística. Contudo, a maior parte das cidades, 65%, acabou optando pelo parcelamento das dívidas. A coordenação de comunicação da UPB confirmou que muitas prefeituras conseguiram parcelar dívidas e já estão adimplentes.

Seca agrava quadro O governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), argumenta que há três anos consecutivos o seu estado apresenta uma média anual de precipitação abaixo dos 700mm e que, devido à estiagem, foi necessário intensificar as intervenções. “O clima é de altíssima preocupação. Já temos cidades como Bonfim (no interior) que você tem que abastecer com carro pipa. É uma situação dramática”. Apesar do quadro de seca, o governador ressaltou que estão sendo desenvolvidas ações para garantir água à população. “Lancei o programa ‘Água para Todos’ que já levou água para 3,5 milhões de pessoas”. Jacques Wagner ainda destacou que o estado já

conta com 100 mil cisternas e adutoras. “Entreguei a adutora de Guanabi e em Abril vamos entregar a adutora de Irecê. Do ponto de vista do abastecimento humano, esses cuidados todos foram tomados. Do ponto de vista do plantio, a situação é mais grave”, frisou. O coordenador de comunicação da UPB, Gutemberg Cardoso, disse que muitas prefeituras não irão realizar as festividades juninas em decorrência dos prejuízos gerados pela estiagem e que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não contribui para que os gestores amenizem os efeitos em suas cidades. A UPB avisou que vai mobilizar as prefeituras para que pressionem deputados em relação à LRF.

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quando vai chegar ninguém sabe. Há um protocolo grande para conseguir esse dinheiro”. Ele ainda ressaltou as divergências de postura da presidente frente aos problemas dos municípios baianos e o do Rio de Janeiro. “Quando há enchentes no Rio, não há tanta burocracia para liberar verba. Existe toda uma burocracia quando é em relação à seca. Existe um engessamento”, ressaltou. Somam-se a esses empecilhos: a redução do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, de R$ 339 mi para R$ 87 milhões; o reajuste do salário mínimo (9%) e do piso dos professores (22%); além das dívidas deixadas pelos gestores anteriores. Segundo dados da UPB, das 417 prefeituras baianas, 82% (342) dependem integralmente dos repasses

Foto: Digulgação


Economia

Uma carona d Rafael Oliveira

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O

desenvolvimento econômico do Nordeste está chamando a atenção dos empresários que querem pegar carona neste crescimento. Uma delas é a Rio Bravo Investimentos, gestora de ativos criada pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, com sede em São Paulo. Tendo como alvo empresas de bens de consumo duráveis, varejo especializado, saúde e serviços e indústrias relacionadas com infraestrutura, a Rio Bravo quer levantar até R$ 400 milhões em um fundo para investir em empresas no Nordeste. É uma organização que ganha dinheiro fazendo as outras crescerem: na Rio Bravo os investimentos são feitos através de fundos private equity (o dinheiro é colocado diretamente nas empresas com o intuito de fazê-las crescer para, depois, fazer o desinvestimento em longo prazo). “Nós investimos na economia real nos tornando sócios de companhias em crescimento”, explica Luiz Medeiros, sócio da Rio Bravo Investimentos e responsável pela operação da gestora na região Nordeste. “Investimos na melhoria dos processos de gestão e da profissionalização, acelerando o crescimento e fazendo com que ela gere mais lucro”, conta. Os investimentos têm um prazo médio de 5 anos. “Entramos na maior parte dos casos sempre como sócios minoritários. Acompanhamos o desenvolvimento da empresa e, no final do prazo estabelecido, optamos ou pela abertura de capital (bolsa de valores) ou a recompra da nossa parte pelos sócios originais; ou, ainda, colocamos a venda da companhia para um comprador estratégico”, explica. Apesar de não poder dar detalhes sobre para onde vão os R$ 400 milhões para evitar especulações, Luiz Medeiros

De olho na economia dos estados, gestora de fundos de São Paulo procura empresas no Nordeste para investir até R$ 400 milhões. E vem mais por aí Foto: Divulgação

Depois que recebeu investimentos, a Estaf conseguiu dobrar faturamente em dois anos

Luiz Medeiros vem analisando potenciais empresas na região

disse que o momento é o de captação de empresas. “Temos que buscar e analisar cada uma das empresas em que pretendemos investir. Esse processo é demorado, dura em média 3 anos. Só investimos se julgamos ter uma alta confiabilidade, uma empresa organizada e, de preferência, com balanço auditado”, diz.

Foto: Divulgação


de vantagens Capacidade regional Esta não é a primeira vez que a Rio Bravo direciona capital para empresas nos estados nordestinos. O primeiro fundo regional para investimentos específicos na Região Nordeste foi iniciado em 2002, com R$ 18,7 milhões de capital comprometido valores considerados até tímidos, se comparados aos investimentos atuais. Mas foi através deles que a gestora percebeu a capacidade de desenvolvimento econômico das empresas da nossa região. O Fundo Nordeste I foi suficiente para alavancar quatro empresas: a Hortus (uma empresa de produção de batatas palitos pré-fritas e congeladas, na Chapada Diamantina-BA), a Ecoluz (uma das principais empresas nacionais com foco em Eficiência Energética, que promove redução do consumo de energia, com sede em Salvador-BA), a Agira (fabricante de estações de compressão e abastecimento de Gás Natural), e a Pitang (desenvolvimento e manutenção de sistemas, consultoria, fabricação de software e testes).

O Fundo Nordeste II já teve um aporte bem maior: R$ 130 milhões. “Com um capital maior, o trabalho foi intenso. Pesquisamos 253 empresas, e quatro receberam investimentos”, explica Luiz Medeiros. Entre elas, está a fábrica MultiDia (RN), que fabrica cereais infantis da marca Nutriday, além dos produtos da linha de caldos, massas e biscoitos salgados da Nutrilar; a empresa de pré-fabricados T&A, que fornece estruturas básicas (pilares, lajes e vigas) para construções ,como o Shopping Mangabeira (João Pessoa-PB), Shoppings Riomar e a expansão do Tacaruna (Recife-PE) e do Shopping Salvador (BA). Também a Trevo Brasil, primeira empresa 100% brasileira a operar no mercado de drywall (placas de gesso acartonado), hoje produzindo para o mercado nacional e internacional. Para Medeiros, o Nordeste tem grande potencial e todos os estados são de igual relevância. ”A equipe dedicada ao Fundo Rio Bravo Nordeste II visitou todos os estados, e neste fundo, o fator determinante não foi em qual estado ficou,

Foto: Divulgação

Rio Bravo iniciou operação no NE em 2002 e sim a velocidade com que conseguimos evoluir com uma determinada empresa”, ressalta. O Fundo Nordeste III ainda está nos primeiros passos, mas a Rio Bravo já pensa em novos investimentos. “Estamos planejando algo entre R$ 300 milhões a R$ 400 milhões para investir em empresas que atuam na produção de bens de consumo, de serviços e indústrias B2B (“business to business” ou transações entre empresas via Web), além de saúde e varejo especializado”.

Os fundos de private equity fizeram bem para a Estaf Equipamentos, empresa pernambucana que trabalha com plataformas aéreas, andaimes e geradores de energia. “A empresa existe desde 1976, mas só começamos a estudar a possibilidade de crescimento através de fundos privados em 2006. No entanto, foi a Rio Bravo que acabou nos procurando em 2010”, conta Gustavo Inojosa Lima, CEO da Estaf. Para receber os investimentos, a Estaf passou pelo mesmo processo de avalia-

ção que as outras empresas. “Fizemos todo um planejamento: melhoramos o nível de governança e aprimoramos o controle contábil”, diz o gestor. O balanço da empresa já estava auditado quando a Rio Bravo fez a avaliação. “O objetivo era aumentar a confiabilidade. O contrato foi assinado em 2011”. O primeiro aporte foi de R$ 15 milhões. Também no caso da Estaf, a Rio Bravo passou a ser sócia minoritária da companhia, mas Gustavo não informou o tamanho da participação. Antes da

parceria, em 2010, a Estaf faturava R$ 22 milhões. Em apenas dois anos, o faturamento subiu para R$ 46 milhões. “A gente está tendo um excelente resultado”, diz. A parceria deu tão certo que este ano a Estaf conseguiu fechar um segundo aporte, com mais R$ 10 milhões. “A nossa projeção de crescimento é de até 40% ao ano”, revela. Entre 2011 e 2013, o capital da empresa vai chegar aos R$ 100 milhões. Resultado de um capital bem investido.

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Capital bem investido


Economia

Como a inteligência Foto: Divulgação

As empresas têm convivido com o sacrifício do fluxo de caixa e capital de giro em função de investimentos mal planejados. Estes são os problemas mais frequentes na análise de especialistas, como a do consultor Luiz Falbo Di Cavalcanti, conforme entrevista à Revista NORDESTE

Walter Santos

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O mundo dos negócios exige mais controle das finanças, até com previsibilidade de cenários? O planejamento e controle financeiro são fundamentais nos diversos momentos do ciclo empresarial. No planejamento para a implantação, a inteligência financeira atua para propor a análise prévia de viabilidade do negócio e colabora na mitigação de riscos que possam ser previstos. Além disso, pode e deve ser utilizada como instrumento de pleito de financiamento para os recursos necessários ao investimento inicial e capital de giro. É o planejamento financeiro bem estruturado que vai permitir que os agentes financeiros estudem a operação empresarial em implantação, percebam minimização do risco inerente e aprove a linha de crédito solicitada para financiar o investimento. No momento de consolidação do negócio, essas ferramentas passam a atuar no planejamento e monitoramento do resultado das ações

O Nordeste, com o seu movimento de crescimento econômico, tem que contar, cada vez mais, com o apoio desses mecanismos

operacionais, na previsão de fluxo de caixa, no orçamento empresarial e no controle das movimentações financeiras. A utilização das técnicas de finanças corporativas permite também que a empresa avalie, no decorrer de seu ciclo de vida, aspectos importantes como: necessidades de investimentos, necessidades de capital de giro, necessidade de ajustes nos prazos de pagamentos e recebimentos, possibilidades de reduções de custos e aumentos de receitas, análise dos preços praticados, margens e valor no negócio.

Olhando para o Nordeste, como está atualmente a estruturação financeira dos negócios? O Nordeste, com o seu atual movimento de crescimento econômico, tem que contar, cada vez mais, com o apoio da inteligência financeira como forma de gerar sustentação para a saúde financeira empresarial. E, para tanto, encontra uma estrutura de capital humano preparada para assessorar seus negócios. No meu caso, par ticularmente, foi o desafio de colaborar com a estruturação financeira dos negócios em desenvolvimento na região Nordeste que me motivou a montar a Falbo Di Cavalcanti Finanças Empresariais, no ano de janeiro de 2005. Hoje, me sinto feliz por ver que nossa região tem aumentado a procura por serviços de inteligência financeira, e como resultado, tem fundamentado seu crescimento numa estr utura mais sólida e de melhores resultados, tendo esse panorama atraído novos investimentos em todo o mundo.


a resolve as finanças

E o que fazer para resolver essas questões? É preciso sair da inércia, voltar a olhar para a empresa de uma forma mais abrangente, preocupando-se com aspectos estratégicos do negócio, e não apenas se focando na rotina operacional. É necessário que o empresário analise sua operação, rotineiramente, nos seus mais diversos aspectos: desde seu pessoal, seus ciclos de compras e vendas, seus controles, seus planejamentos operacionais e de investimentos e, com base nisso, defina ações que busquem a melhoria contínua de resultados. A valorização de uma marca se torna cada vez mais referência nos negócios. Levando em conta a difusão de mídias e a exposição das marcas, como tipificar o valor de uma delas? Se aliarmos no contexto empresarial o crescente movimento de ferramentas de gestão, controle e estratégia ao fato histórico do aumento da participação do intangível na geração de valor e riqueza, chegamos

Foto: Divulgação

É preciso sair da inércia, voltar a olhar para a empresa de forma mais abrangente, preocupando-se com aspectos estratégicos

uma marca possui vantagem na mente do consumidor tende a ter maior participação no mercado, potencial de gerar lealdade e notoriedade, entre outros. No mundo moderno, o que significa valor e marca forte? Uma marca forte gera valor econômico para a empresa, pois causa impacto nas curvas de oferta e demanda, à medida que tem o poder de elevar os preços dos produtos/mercadorias da empresa a patamares superiores; aumentar o volume de vendas e o market share; gerar lealdade e fidelizar os clientes, bem como pode resultar em menor custo de capital; economias de escala em função dos maiores volumes de vendas, e melhores negociações com fornecedores. Uma empresa ou produto com marca forte tende a gerar um fluxo de caixa mais favorável para seu proprietário e uma percepção de risco menor por parte dos demais stakeholders. Isto se dá em função da força do relacionamento entre marca e consumidores, fornecedores e outros públicos.

à conclusão de que é necessário passar a valorar e medir o intangível, incluindo-o nos sistemas de controle e gestão. Em empresas de marca forte, o valor da marca representa algo em torno de 40% a 60% do valor total do intangível. Isto não pode ser desconsiderado. Como projetar valores econômicos da marca empresarial com segurança? A avaliação é o processo de identificação e medição de determinada marca, e pode ser utilizada para os seguintes fins: aspectos financeiros e de marketing. No primeiro, destaco a gestão do ativo intangível estratégico; agregar o valor, à medida que contribui para o produto ou empresa diferenciando seu valor daqueles que não possuem marca forte. No segundo caso, o posicionamento do mercado, quando

O que difere seu escritório e quais as referências de sua formação? Comecei trabalhando no que sempre gostei e tive grandes escolas de formaçãol, como a PricewaterhouseCoopers, a Di Cavalcanti & Associados e o Grupo Industrial João Santos. Essas empresas me deram a oportunidade de estar dos dois lados da mesa, o de prestador de serviços e o de contratante. Foi com a ótica de quem esteve em ambos os lados que resolvi montar um escritório concebido para ser pequeno no número de clientes, porém, com grande atuação e expertise em finanças corporativas. A Falbo Di Cavalcanti Finanças Empresariais, em, oito anos, se estabeleceu como referência em projetos para BNDES e BNB, avaliação do valor de empresas e assessoramento em momentos de vendas/ compras ou reestruturações societárias. Construímos nosso trabalho sobre uma base séria e ética. Hoje, somos procurados, inclusive, para a formação profissional de herdeiros de grandes fortunas, passando ensinamentos sobre os negócios familiares de uma maneira estruturada e focada em resultados. 57

Quais os riscos mais frequentes advindos de erros comuns na atividade empresarial? Alguns dos erros mais frequentes encontrado em empresas dos mais diversos segmentos têm sido: sacrifício do fluxo de caixa, e seu capital de giro, em função de investimentos mal planejados e sem a devida análise e procura de fontes de financiamento com formatos de prazo e custo adequados; a falta de uma estruturação adequada de controles financeiros, de forma a manter os riscos envolvidos nos ciclos de compras e de vendas reduzidos ou mitigados; a cultura da “urgência” em detrimento ao planejamento; comunicação precária entre departamentos e dificuldades de comunicação geradas pelas relações familiares inerentes aos negócios. Problemas, às vezes simples, não conseguem ser resolvidos pelo simples fato de as pessoas estarem tão assoberbadas com a rotina operacional que não conseguem parar para identificar as fontes do problema e montar uma ação para saná-los, bem como outros que possam surgir, como o melhor aproveitadas das atividades, a confiança nas pessoas em detrimento dos processos; a falta de avaliação periodica do negócio, etc.


Economia

Sem patrão e relógio d Trabalhadores têm saído da comodidade dos empregos formais para investirem em seus próprios negócios. Empresas também têm adotado horários flexíveis para estimular empregados João Pedrosa

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perfil do trabalhador sempre foi mutante. Séculos atrás a produção era artesanal. Depois, com o auxílio de algumas poucas máquinas, chegamos à industrialização. Nos tempos atuais, os conhecimentos tecnológicos decorrentes da globalização da economia e da reestruturação produtiva determinaram um novo modelo de empregado e empregador. Para o mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Laércio Teodoro, se antes da Revolução Industrial o trabalhador conhecia todas as etapas do processo de fabricação de um produto, ele tendia a especializar-se cada vez mais. Atualmente a situação é parecida, “o profissional tem que procurar especializações, ser qualificado e empreendedor. Diz-se que a tecnologia permite que o trabalhador exerça seu trabalho a partir de casa. O trabalho tornou-se flexível. Ideais propagados e associados a um trabalhador que seria autônomo e que enfim conquista sua liberdade”, esclareceu. A paraibana Jéssica Azevedo, optou por trabalhar por conta própria. A jovem de 23 anos disse já ter trabalhado em publicidade - sua área de formação - mas, após descobrir a fotografia, percebeu que investir no ramo valeria mais a pena. “Consegui um emprego no ramo e gostei. Mas acabei optando por ser autônoma. O lucro

Jéssica Azevedo optou por trabalhar por conta própria e acha que está valendo mais a pena

é maior e eu mesma faço o meu horário”. O único problema para ela é a instabilidade. A jovem pensa que ter um emprego fixo, de carteira assinada e patrão, dá mais segurança. “Não pretendo voltar a ter patrão. Quero trabalhar por conta própria”. Apesar de toda uma propaganda que vende a imagem de novos trabalhadores independentes, autônomos e livres das exigências do patrão, Laércio enfatizou que

eles ainda são o lado mais fraco. “Acredito que a lógica atual que se mostra como inovadora, traz marcas antigas que tornam o trabalhador instrumento a serviço do capital e, por consequência, preso às suas regras”. Ele explicou que a resistência sempre existiu, mas que não acredita que ela se expresse nos novos perfis de trabalhadores que acreditam serem donos da força e do produto do seu trabalho.


Foto: Divulgação

de ponto Foto: Divulgação

Nem tão livres assim De acordo com as pesquisas publicadas pela Regus Brasil e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mais de 40% dos brasileiros ficariam mais felizes se tivessem empregos com horários flexíveis ou fossem donos do seu próprio negócio. Em 2012, a Regus divulgou que 66% dos seus entrevistados disseram que se não precisassem bater o relógio de ponto diariamente reduziriam o estresse e melhorariam a qualidade de vida. Já o levantamento realizado pelo Sebrae, constatou que 43,5% dos brasileiros sonham em ter o próprio empreendimento, enquanto que o número daqueles que pretendem seguir carreira como empregado de uma empresa é de 24,7%. O mestre em História Social pela UFC, Laércio Teodoro, explicou que,

mesmo o trabalhador se sentindo beneficiado pela flexibilização do horário ou por trabalhar para si, ele continua preso às regras do mercado. “Tende-se a negar que esse é o perfil de um trabalhador subordinado, quando, na verdade, ele está inserido numa lógica onde ele continua sendo o sujeito que vende a força e o produto do trabalho de acordo com as dinâmicas que o capital impõe”. O historiador explicou que a empresa cria e recria jornadas de trabalho, reformula contratos temporários e determina os salários de acordo com o seu interesse e o do mercado. “O trabalhador parece dono do seu próprio tempo. Ele submete a sua força de trabalho à lógica do capital, mas o produto do trabalho possui dono, o cliente, o contratante, e precisa atender a uma lógica de tempo que tende a ser a do mercado”.

De acordo com a pesquisa da Grant Thornton publicada em 2012, 45% das empresas privadas do Brasil tiveram políticas de horários flexíveis para os seus empregados. Na Consolidação de Leis do Trabalho brasileira (CLT), não há dispositivo legal que esclareça esse tipo de jornada de trabalho, o que gera receio por parte das empresas na hora de contratar profissionais. Para que não surjam problemas, a solução

é documentar a flexibilização do horário e informar ao sindicato do profissional empregado. O advogado maranhense Daniel Andrade, enfatizou que embora a CLT não tenha jornadas de trabalho com horários flexíveis, há súmulas do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que tratam do assunto”. O advogado disse que o profissional deve ter um horário regulamentado para exercer sua

função na empresa. O diretor de Gestão de Pessoas da Grant Thornton Brasil, Antoniel Silva, observou que é preciso considerar as dificuldades de quem reside longe do local de trabalho. “Há o hábito de valorizar o horário de chegada e saída dos trabalhadores. Alguns são mal vistos se atrasam. No entanto, as empresas precisam pensar na qualidade de vida dos funcionários, almejando suas melhorias”.

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Leis estão atrasadas


Geral

Um mundo mais quente Relatório feito pela ONU mostra que a situação deve ficar ainda pior no planeta. Há previsões científicas de um aquecimento global de até 5°C

Rafael Oliveira

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calor anda insuportável. E este aumento nos termômetros vem sendo percebido em todos os lugares do mundo. A questão tem sido tema frequente em conferências internacionais e nacionais e despertado interesse ainda maior a partir de 1992, quando da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, conhecida também como ECO-92. O alerta novamente foi feito na Rio+20, em 2012. De lá para cá, a temperatura média da Terra subiu 0,4oC. Um detalhe chama atenção: após 1998 tivemos todos os anos mais quentes de que se tem registro, segundo o relatório “Keep Tracking of Our Changing Environment”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A maior temperatura registrada em toda a história do Brasil foi vista

no Nordeste, em 21 de novembro de 2005, na cidade de Bom Jesus, no Piauí, onde os termômetros acusaram nada menos que 44,7°C. E a situação parece não dar sinais de melhora. Existem estudos que mostram que os seres humanos devem se preparar para um mundo até 5°C mais quente. O dado foi levantado pelo britânico Robert Watson, do Intergovernamental Panel on Climate Change, o IPCC. O cientista chefiou a instituição de 1997 a 2002, quando foi pressionado a deixar seu posto pelos EUA. Mesmo assim, não se calou diante da situação que vem se mostrando cada vez mais séria. Para ele, “o mundo perdeu a chance de manter as emissões de gases de efeito estufa abaixo do nível necessário para impedir um aumento de temperatura média superior a 2°C”. No entanto, ressalta que ainda há 50% de probabilidade de se evitar um aquecimento global superior a 3°C.

Foto: Divulgação

O cientista Robert Watson vem alertando sobre o aquecimento global e diz que a situação é preocupante


Sem explicação

Porém, confirma que “um aumento de 5°C é possível, o que é mais que o aquecimento no final da última era de gelo”. Em um simpósio em Londres, ele disse: “Todas as promessas do mundo que, de qualquer forma, têm pouca probabilidade de se realizar, não vão nos dar um mundo com um aquecimento de apenas 2°C. Todas as evidências, em minha opinião, sugerem que estamos no caminho de um mundo de 3°C a 5°C mais quente. Algumas pessoas estão sugerindo que a saída do problema é através da geo-engenharia, intervindo no sistema de clima para moderar o aquecimento”. Para se ter uma ideia de como o processo de aquecimento da Terra está acelerado, basta saber que o planeta demorou 10 mil anos para que a temperatura aumentasse 5ºC. Agora pode levar apenas 200 anos para aumentar mais 5 graus. Robert Watson diz que o alerta não é simplesmente “mais uma previsão catastrófica leviana. São estudos reais, científicos. A situação é preocupante e me deixa muito nervoso”, diz. Os motivos, segundo Watson, estariam na esfera governamental, pela falta de preocupação efetiva com o problema, mas não deixa de delegar como responsável o crescimento da população em todo o mundo. “Vamos ter mais pessoas no mundo consumindo mais produtos, gastando mais energia. E essa produção para atender a demanda energética certamente aumentará”.

A problemática está sendo amplamente discutida em todo o mundo e até parece um pouco distante da nossa, mas não é nem um pouco. O Nordeste enfrenta uma das piores secas dos últimos 50 anos e ainda não se tem uma explicação plausível para a falta de chuvas, de acordo com Raimundo Jaildo dos Anjos, coordenador do 3° Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), que tem estudos focados na região. “Em 2010, tivemos um ano com boas chuvas, atingindo níveis acima da média. De lá pra cá não tem mais chovido com tanta frequência”, comenta. Ele explica que as temperaturas dos oceanos seguem um comportamento cíclico, que fazia chegar a chuva no Nordeste no tempo certo. “Temos um sistema atmosférico onde as frentes frias que vem do sul organizam uma nebulosidade que se forma pelo aquecimento do Atlântico Sul, entre abril e julho, próximo da Bahia, e quando segue pelo litoral até Alagoas e Pernambuco deixa de ter características de frente fria, provocando as chuvas no Nordeste”, observa o meteorologista. Estudos apontam que a temperatura do oceano caiu – elas estão 1ºC abaixo do recomendado pela climatologia. “Por isso, não há formação de nuvens para que chova em quantidade suficiente.

Daí, a seca”, ressalta Raimundo. E o pior, é que o fenômeno dessa queda de temperatura ainda não tem explicação. “Os cientistas só confirmam a diminuição da temperatura, mas ainda não tem uma conclusão sobre as razões pelas quais isso está acontecendo”, conclui. Juntando-se a terra seca, com a falta de chuva e a baixa umidade do ar, o resultado é esse: temperaturas de 4 a 5 graus mais quentes entre o período que marca o fim do verão e o início do outono. Foto: Divulgação

Ainda não se sabe a razão de estarmos enfrentando a maior seca dos últimos 40 anos

RISCOS DE UM MUNDO 5°C MAIS QUENTE Colheitas agrícolas em queda (tanto nos países desenvolvidos quanto em desenvolvimento) Aumento do nível do mar (ameaçando cidades importantes) Escassez de água potável Maior número de espécies ameaçadas de extinção (cada 1°C coloca cerca de 10% das espécies em risco) Maior frequência de eventos climáticos extremos (furacões, tornados, tsunamis) Fonte: IPCC

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O aumento da temperatura é maior que o aquecimento no final da última era do gelo


Calor vai permanecer intenso Foto: Divulgação

afirmações categóricas, pois mesmo sabendo que há um El Niño em formação e que este favorece um aumento da média na temperatura do planeta, é fato que este fenômeno tende a ser fraco e de média ou curta duração”, avalia Mozar. O pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) José Marengo acredita que chuvas e secas no País podem se agravar no futuro. “As previsões são de que o tempo na região Nordeste fique entre 15% a 20% mais seco. Como consequência, poderemos ter a diminuição

Foto: Divulgação

O outono 2013 no hemisfério Sul teve início no dia 20 de março, exatamente às 8h02 (horário de Brasília). A estação que marca a transição entre o período chuvoso e o seco migrará também do período mais quente para o mais frio. De acordo com o meteorologista da Climatempo, Alexandre Nascimento, todas as condições esperadas são calculadas pelas médias já registradas em anos anteriores. “O que acontece realmente pode ter variações, depende muito das condições oceânicas predominantes”, diz. No Brasil, não haverá a influência de fenômenos como El Niño ou La Niña nos próximos meses. “Durante a primeira quinzena, a chuva no Norte e no Nordeste diminui até maio, quando o calor vai permanecer intenso”. O meteorologista Mozar de Araújo Salvador, da Coordenação Geral de Desenvolvimento e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), informa que no Brasil os efeitos mais típicos do fenômeno El Niño (alterações significativas de curta duração na distribuição da temperatura da água do Oceano Pacífico) são o aumento do risco de secas em parte das regiões Nordeste e Norte e de chuvas acima da média na região Sul, podendo atingir parte do Sudeste e sul do Mato Grosso do Sul. “Sobre 2013, não se pode fazer

Meteorologista Mozar Salvador diz que fenômeno El Niño aumenta o risco de secas

do nível dos açudes, aumento da seca, especialmente no semiárido, impactos negativos na agricultura de subsistência e na saúde, e até mesmo a perda da biodiversidade da caatinga”, diz.

O CLIMA ESQUENTOU

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CAPITAL

Média abril (1961-1990)

Média abril 2013

ARACAJU-SE

26.8 °C

30ºC

FORTALEZA-CE

26.5 °C

29ºC

JOÃO PESSOA-PB

25.5 °C

31ºC

MACEIÓ-AL

25.9 °C

32ºC

NATAL-RN

26.1 °C

30ºC

RECIFE-PE

25.9 °C

28ºC

SALVADOR-BA

25.2 °C

31ºC

SÃO LUÍS-MA

25.8 °C

30ºC

TERESINA-PI

26.3 °C

29ºC FONTE: FREEMETEO/CPTEC


Greenpeace chama atenção Apesar das mais pessimistas previsões, ainda há solução para reduzir os impactos do aumento da temperatura. Pelo menos, é o que pensam alguns especialistas. Durante a Rio + 20, o secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas Luiz Pinguelli Rosa atentou para a necessidade de políticas públicas urgentes."Para lidar com esse cenário preocupante são necessárias políticas de mitigação (intervenção humana para reduzir as emissões por fontes de gases que causam o efeito estufa) através de acordos internacionais e de adaptação, em nível nacional, que defendam as populações mais vulneráveis", diz. É preciso atuação do poder público para gerenciar metas de redução do efeito estufa. Esta é a conclusão de Ricardo Baitelo, coordenador de campanha de clima e energia do Greenpeace, ONG mundial que luta pela defesa do meio ambiente. “É preciso regulamentar leis que possam ser mais igualitárias no sentido do uso da energia renovável. Eles investem trilhões em subsídios pesados e nocivos à natureza, como o petróleo, o carvão e o diesel, e investem pouco em energias renováveis, como a eólica e a solar. Se os investimentos fossem equilibrados, sendo divididos igualitariamente entre energias renováveis e não-renováveis, seria mais fácil manter o controle”, explica Baitelo.

E as atitudes não são exclusivamente das empresas e do poder público. Segundo o coordenador, cada um, enquanto cidadão, pode contribuir para a redução do aquecimento global. “Nosso consumo desenfreado de produtos consomem muita energia e isso só tende a aumentar. O estilo de vida do ser humano está destruindo o meio ambiente sem que ele se dê conta. Quando comemos carne bovina, que causa impacto na Amazônia, quando passamos mais tempo no banho consumindo o chuveiro elétrico, quando insistimos em utilizar lâmpadas incandescentes ao invés das fluorecentes... nós perdemos o senso de economizar energia desde o começo da década passada. Esbanjamos muito e quando vem o governo Dilma e cria uma redução na conta de energia elétrica, aí as pessoas acham que porque está mais barato, podem consumir mais”, alerta Ricardo Baitelo. O Greenpeace tem feito campanhas de conscientização e cobrado ações do poder público. “Desde 2007 temos feito um trabalho com a energia eólica e mostrado o potencial de produção junto aos governadores. Este ciclo foi fechado e já temos parques eólicos sendo implantados no Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Bahia, regiões onde há muitos ventos fortes”, ressalta. A ONG também conseguiu unir

Foto: Paulo Pereira/Greenpeace

Ricardo: “estilo de vida do ser humano tem destruído o meio ambiente”

forças para convencer os governantes a tal ponto que resultou em uma das atitudes recém aprovadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL): permite que pessoas físicas possam instalar dispositivos para captação de energia solar. “As pessoas ainda têm dúvidas sobre a energia solar, por ser um sistema caro. Estamos pressionando os governistas para criar linhas de crédito e incentivos para que os brasileiros possam diminuir o custo e garantir o acesso desta tecnologia dentro de casa de forma mais simples. Continuamos brigando pelo planeta”, conclui. Foto: Divulgação

Em geral, os europeus já têm uma conscientização diferenciada sobre o consumo e a preocupação com o racionamento de energia. Mas é na Dinamarca onde se encontra o maior exemplo do mundo de sustentabilidade. Uma ilha chamada Samso, na Dinamarca, tem 100% de sua eletricidade e 75% de seu aquecimento gerado por fontes de energia renovável. Há dez anos, a situação era bem diferente. A ilha costumava emitir 45 mil toneladas de dióxido de carbono e dependia do continente para ter eletricidade. Hoje, é carbono zero.

E tudo partiu do próprio governo dinamarquês, em 1997, que incentivou a população a participar, através de um concurso, para aumentar a produção de energia limpa e preservar o meio ambiente. A ilha de Samso venceu e se tornou a ilha de energia renovável da Dinamarca. Hoje, ao invés de importar energia suja, passou a ser exportadora de energia limpa. Houve um investimento de US$ 90 milhões do governo dinamarquês e a mesma contrapartida do governo local, além do capital privado de fazendeiros que decidiram embarcar no projeto.

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Consumo consciente


Geral

Seca gera apreensão Foto: Divulgação

Enquanto um relatório climático prevê poucas chuvas até junho, outro estudo revela que 1/3 de todo o território nordestino tem áreas que não servem mais para a agricultura Rafael Oliveira

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U

ma seca histórica no Nordeste, considerada a pior dos últimos 40 anos, arranca a pouca esperança de quem mora no semiárido. Em 2011 e 2012 choveu abaixo da média, o relatório da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima), elaborado em conjunto com vários órgãos, como o Cemese (Centro de Meteorologia de Sergipe), Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), Semarh-AL (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Alagoas), e a EmpaRN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), confirma o cenário: a região vai entrar no terceiro ano seguido de escassez. A previsão, já a partir de abril, é de chuvas variando de normal a abaixo da média para o setor Leste

O INSA tem dados preocupantes sobre o problema da desertificação e das áreas improdutivas no semiárido

do Nordeste e chuvas abaixo da média histórica nas demais áreas. Isso acontece porque foi registrado um fenômeno conhecido como a inversão de temperaturas. “Há um esfriamento nas águas do Atlântico Sul, ao mesmo tempo em que houve um aquecimento no Atlântico Norte. No Pacífico, não houve nada significativo, por isso as nuvens que vão se formando na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) seguem para o Norte, deixando o NE com poucas chuvas”, diz Thiago do Vale, meteorologista da Apac. Segundo ele, não existem expectativas de que isso mude “pelo menos até junho, quando as temperaturas começarem a variar novamente”. O Instituto Nacional do Semiárido (INSA) tem dados preocupantes sobre o problema da desertificação e de áreas improdutivas. O relatório finalizado em março mostra que o semiárido ocupa 1.340.863 km², abraçando 1.488 muni-

cípios do Nordeste, e alguns municípios setentrionais dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Dessa área, o total atingido pela desertificação alcança aproximadamente 600.000 km² - ou seja, cerca de 1/3 de todo o território nordestino é de áreas inutilizáveis para a agricultura. Proporcialmente, a Paraíba apresenta a maior área desertificada do País, com 71% do território comprometido. Já a maior extensão encontra-se no Ceará, com 200 mil km² de terras degradadas. Outros estados que sofrem com o problema são o Rio Grande do Norte, com 40% da área comprometida, e Pernambuco, com 25%. Todo o semiárido é abrigado por quase 22,5 milhões de brasileiros, segundo o IBGE, dos quais 8,6 milhões residem no meio rural. Daqueles 14,7 milhões que residem em áreas urbanas, uma parcela significativa vivencia uma dinâmica rural, onde 90% dos municípios do semiárido


Foto: Divulgação

Vegetação é comprometida

Criação de cabras prejudica flora nativa

Processo de desertificação

Maranhão

Ceará

Rio Grande do Norte Paraíba

Piauí

Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia

Áreas do entorno Áreas subúmidas secas Áreas semiáridas Irauçuba Seridó Cabrobó

Fonte: Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil/2008

Gilbués

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são classificados como pequenos por apresentarem menos de 50 mil habitantes. A região apresenta 1,7 milhão de imóveis rurais, sendo 1,0 milhão com menos de 5,0 hectares, mas que respondem por 31% do valor da produção dessa região. O INSA considera seis áreas como sendo Núcleos de Desertificação: Seridó (entre o RN e a PB), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (no CE), Gilbués (PI), Sertão Central (PE), e o Sertão do São Francisco (BA). Apesar dos sinais de degradação serem evidentes, os estudos que poderiam quantificar o avanço da desertificação ainda estão no início e, por isso, o INSA não possui resultados consistentes.

Na região Nordeste, em geral, a perda da capacidade produtiva do solo quase sempre começa com o desmatamento e a substituição da vegetação nativa por outra de ciclo e por te diferente. O descobrimento do solo favorece o processo de erosão. “Ao longo da vida de cada geração as perdas são pouco sentidas, mas os 200 a 300 anos de práticas agrícolas inadequadas já deixaram sua marca irreversível em muitos locais”, aponta o relatório do INSA. Outro fator citado é a criação extensiva de cabras, ovelhas, bois, jumentos e similares que provocam a destruição dos estoques naturais de sementes. “Como na Caatinga, os frutos amadurecem ao fim da época das chuvas, durante o período de estiagem, os mesmos se acumulam no solo, aguardando a opor tunidade para reconstruir a vegetação adormecida. A surpreendente mobilidade labial desenvolvida pelas cabras, ovelhas e bois, faz com que os animais colham todos os frutos pendentes nos ramos das árvores e apanhem os frutos que se encontram no solo, em uma verdadeira operação de raspagem, na qual não escapam sequer as pequenas sementes das gramíneas, sobrando muito pouco para a recomposição da flora nativa”. O estoque animal no semiárido é hoje três vezes superior à capacidade de supor te do ecossistema: estima-se que na região exista um estoque de 28,2 milhões de animais (cabras, ovelhas e boi) para 22,5 milhões de pessoas, ou seja, 1,25 animal por pessoa para uma disponibilidade de 21,4 milhões de hectares. E para complicar a situação, as sementes que escapam dos animais são destruídas pelas queimadas durante o preparo do solo para a implantação das pastagens cultivadas e lavouras. “Nessas condições, dada a variação do clima, a demanda permanente de alimentos e a sazonabilidade da produção de forragem, não é possível equilibrar a ofer ta de alimentos e estabilizar a produção”, continua o documento.


Falta preparo da terra para inverno

Israel planta no deserto

Com 22,5 milhões de habitantes que precisam de água no Nordeste, o consumo no semiárido fica entre 100 e 143 Litros por dia/pessoa, ou seja, 52.195 litros por ano/pessoa. O coordenador de pesquisa do INSA, Aldrin Martin, afirma que manter o abastecimento de água para estas pessoas é um desafio, “já que no semiárido brasileiro as chuvas são irregulares no tempo e no espaço. A quantidade de água que cai é menor que a quantidade que se evapora, resultando em uma reduzida disponibilidade de água para o consumo humano, animal e vegetal”, explica. Mas um problema ainda maior é a falta de preparo para a chegada da chuva, pois muitos não sabem qual a melhor forma de coletar, tratar e armazenar a água que cai. Aldrin explica que é necessário ter uma boa infraestrutura para isso. “Ter reservatórios para captar e armazenar água é fundamental para garantir segurança hídrica no período de estiagem. Exemplos disso são as cisternas de placas, cisternas-calçadão, barragens subterrâneas e os tanques de pedra”, conta. Outra alternativa é a reutilização da água consumida, que depende da conscientização das pessoas. “O uso planejado de águas residuárias acaba em uma necessidade menor de captação dos recursos hídricos primários. É uma estratégia eficaz”, diz.

Existe um pensamento predominante que diz ser difícil estabelecer agricultura no deserto, pois só se tem referências de seca, calor e desolação. Há algumas décadas, não se pensava que áreas desertificadas pudessem ser convertidas em campos de cultivo. Mas há vários casos que podem provar o contrário. Em Israel, onde o índice médio de chuva é de 600 mm por ano (no semiárido brasileiro, o índice é de 800 mm/ ano), a produção agrícola é feita com o controle de irrigação por gotejamento. “É tudo muito bem controlado para economizar água, já que em um deserto, isto é uma questão de sobrevivência”, explica o pesquisador da Embrapa-MA, Luciano Accioly, que passou três semanas em Israel estudando a técnica. “Lá, o importante não é o tamanho da produção, mas a quantidade de água utilizada para produzir”, diz. Os dados não mentem: em dez anos, o número de fazendas de leite em Israel caiu 30%, mas a produção aumentou 9%. Desde a década de 50, a média da produção cresceu de 3.900 para 11 mil litros de leite/vaca/ano. No Sul de Israel, o deserto de Negev floresce cheio de vida, com uma produção de frutas e legumes. “Na

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Foto: Divulgação

Aldrin sugere a reutilização da água

Fotos: Divulgação

No país, há um controle para evitar o desperdício da água

Solo com novas técnicas Dá para reverter uma terra improdutiva? Aldrin Martin tem certeza que sim. “Existem muitas técnicas que o INSA vem colocando em prática que, se postas em larga escala, podem mudar a vida de quem vive no semiárido”, explica o coordenador. Uma delas é a implantação do chamado Tratamento Linear. “Pedaços de galhos, pedras e até mesmo pneus velhos são utilizados para formar uma barreira natural para que, quando a água da chuva chegar, não escoe e vá embora. Retendo esta água, diminuise a velocidade e ela tem mais tempo para ser absorvida pela terra. Um solo mais úmido, que também vai recebendo

nutrientes, volta a ser fértil”, conta. Mas se a solução encontrada parece tão simples, por que ela não resolve o problema? Aldrin responde sem pestanejar: “É a falta de interesse. Produzir barreiras em larga escala custa dinheiro e tempo. É necessário capacitar os agricultores, chegar com estas técnicas onde eles estão. O INSA vem fazendo isso, mas não existe uma estrutura que possa alcançar a todos na velocidade em que eles precisam. Falta a construção de obras estruturantes, como cisternas e sistemas de irrigação que poderiam levar até mesmo água onde não tem. Mas para isso, tem que ter dinheiro e vontade política. Quando os


bancos estão em crise, surgem bilhões de reais para salvá-los. Mas não há o interesse pela recuperação do semiárido, então os investimentos são sempre insuficientes”, lamenta. Aldrin verificou através de estudos que 2/3 de todo o planeta são áreas semiáridas. “E se é possível viver nestas áreas no contexto mundial (temos cidades construídas no deserto, como é o caso de Dubai), então você tem provas de que o problema da desertificação pode deixar de existir quando se tem interesse e investimentos”. Paralelo a isso, uma técnica que vem dando certo é a do cruzamento de espécies para tornar as plantas

Foto: Divulgação

Las Vegas transforma deserto em área habitável e de cultivo

EUA aproveita recursos Os Estados Unidos também são uma prova cabal de que é possível transformar o deserto em áreas completamente habitáveis e produtivas. Conhecida como a terra dos sonhos e da diversão para os adultos, Las Vegas fica no meio do Deserto do Mojave, na Califórnia. Mesmo com um clima bastante hostil e abrigando formações geológicas famosas, como o Vale da Morte, com seus leitos de lagos secos e cheios de sal, Las Vegas respira vida e produção. Segundo Henry Sun, pesquisador do Desert Research Institute, nas cidades desertificadas dos Estados Unidos, a

mais resistentes à seca. O modelo foi estudado por Luciano José de Oliveira Accioly, pesquisador da Unidade de Execução de Pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Maranhão. “O cruzamento genético entre espécies acontece quando os genes de uma planta que sobrevive bem em áreas secas são passados para uma planta que é sensível à falta de água, mas sua produção tem finalidade econômica. Isso é feito a partir do cruzamento de uma planta com um gene mais tolerante à seca com outra sensível à falta de água. São plantas transgênicas, que já são aplicadas no feijão, na soja e no milho”, diz.

plantação de vegetais é realizada no inverno. “Lá, são colocados cobertores plásticos por cima das culturas, para evitar o ressecamento”, explica Sun. No entanto, muitos moradores da região plantam vegetais nos jardins de suas próprias casas, principalmente na primavera, para evitar o calor do verão. “É possível plantar nessa estação utilizando telas de malha chamadas de sun shade screens, para proteger os vegetais do sol”, conta. E, apesar de parecer ilógico para alguns, as atrações mais bonitas de Las Vegas têm muita água, como é o caso das fontes dançantes do Hotel Bellagio. “E lá chove menos que na região mais árida do nordeste brasileiro. É uma questão de como aproveitar os recursos da melhor forma possível. Os cassinos, que predominam na cidade, consomem só 3% de toda a água”, analisa. Phoenix, no deserto do Arizona (EUA), também é mais uma prova da competência dos americanos em realizar coisas aparentemente improváveis. “Phoenix foi construída no deserto, numa das regiões mais secas e agrestes do oeste, o centro do estado do Arizona. Tirando o calor e o ar seco, é um lugar agradável, com prédios modernos e árvores bem cuidadas”, fala. Curiosamente, a cidade tem como um dos principais atrativos, um Jardim Botânico: o Desert Botanical Gardens, com 140 hectares de área cultivada com mais de 50 mil plantas.

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verdade, se você pensa no deserto como ele é, vai pensar que não existe água. Mas aqui em Negev encontramos um grande aquífero sob o deserto que nos permite usar a água, e na verdade podemos bombeá-la para fora e fazer a área desertificada florescer e ficar apta para utilizarmos na agricultura”, explica Raz Arbel, diretor da Ramat Negev Tours, empresa que fornece informações sobre agricultura na região. Ao longo dos anos, a equipe descobriu uma série de pontos positivos que mostram uma produção bem melhor do que muitas terras agrícolas pelo mundo. “Temos o clima perfeito para a agricultura: podemos cultivar legumes no inverno, algo difícil de se fazer no centro ou norte de Israel. A principal descoberta, no entanto, foi o resultado da utilização da água salobra: parece que a salinidade maior deixa a produção mais eficiente. As frutas ficam mais doces, e os vegetais melhores, porque uma planta em situação de estresse por causa do sal produz menos folhas e mais frutas. Elas são menores, têm menos água dentro e muito mais polpa, e isso na verdade a torna em uma fruta pelo menos três vezes mais adocicada”, diz.


Estiagem ameaça Amazônia Um estudo feito por pesquisadores da NASA, nos Estados Unidos, mostra o quão intenso podem ser os efeitos do aumento da temperatura na terra. A estiagem que aconteceu em 2005 ainda é sentida na Floresta Amazônica, que pode demorar ainda vários anos para se recuperar. O alerta é de um estudo publicado na última edição da revista PNAS, que avaliou, pela primeira vez, os efeitos a longo prazo da grande seca de 2005 na Amazônia. O estudo foi feito por meio de imagens de satélite no espectro de micro-ondas. A análise verificou indicações de que a floresta ainda sofria com os efeitos da seca de 2005 quando foi atingida pela seca de 2010. Segundo os cientistas, se as estiagens continuarem a acontecer numa frequência de 5 a 10 anos, o efeito cumulativo poderá alterar significativamente e permanentemente a estrutura biológica da floresta. Além dos pesquisadores da Nasa, houve também a colaboração dos brasileiros Luiz Aragão, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e Liana Anderson, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no interior paulista. Os dados do estudo vão até 2009, mas os pesquisadores preveem que os efeitos observados se repetiram e provavelmente se intensificaram - nos últimos anos, desde a seca de 2010, que

Foto: Divulgação

Região ainda sofre com efeitos da grande seca que aconteceu no ano de 2005

foi a maior já registrada na Amazônia. A estiagem também pode atingir a região Sul do País. No Centro Regional Sul do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CRS/Inpe), em Santa Maria (RS), e o Núcleo de Pesquisa e Aplicação de Geotecnologias para Desastres Naturais e Eventos Extremos (Geodesastres-Sul) utilizou, nos primeiros meses do ano passado, imagens de satélites para mapear as áreas recentemente atingidas pela estiagem no sul do Brasil. Os dados da região comprovaram que, tanto na primavera como no verão, o Rio Grande do Sul foi o mais afetado, pois chegou

a ter 58,7% de sua área atingida pela estiagem em 2012. O estado é seguido pelo Paraná, que antes das chuvas tinha 54,3% de seu território sob os efeitos da seca. Situação que pode ser parecida ou até mesmo pior, devido aos fenômenos do esfriamento do sul do oceano atlântico, que não favoreceram a formação de nuvens. O relatório do CRS/Inpe deve ser concluído até o final da primeira quinzena de maio, quando serão divulgados os dados que podem revelar a possibilidade de uma nova estiagem chegando ao Sul brasileiro. Foto: Divulgação

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Estiagem prolongada deixa barrancos da margem do Rio Amazonas aparentes. Algumas dessas áreas são usadas para plantio de pequenas roças


As obras de transposição do Rio São Francisco já foram discutidas à exaustão e, mesmo a passos lentos, estão acontecendo. Mas uma nova discussão vem aí: a presidente Dilma Rouseff já pensa que só as águas do São Francisco não sejam suficientes para acabar com o drama da seca no Nordeste e, por isto, autorizou a Agência Nacional de Águas (ANA) a iniciar os estudos de viabilidade de um projeto ousado: fazer a transposição das águas do Tocantins. A ideia não é nova: existem estudos superficiais desde 2003. Um desses é da Furnas Centrais Elétricas que prevê a construção de um canal de 1,6 mil quilômetros para despejo de 26% das águas do Tocantins na calha do São Francisco. É um sério desafio a ser superado pela engenharia brasileira, já que a reversão se refere ao curso do Rio do Sono, afluente da margem direita do Tocantins. Como o projeto ainda não está definido, o valor da obra ainda é incerto, mas um cálculo preliminar do BNDES, realizado em 2003, estima o valor em R$ 24 bilhões. Segundo estudos dos engenheiros da Furnas, o Rio do Sono corta boa parte do Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins, uma região com dunas e lagoas - um rio encachoeirado, o que significa aclives a serem vencidos e mudanças drásticas no ambiente. Para o engenheiro Walton Pacelli de Andrade, um dos autores do estudo, não há outra saída para o problema da escassez de água no semiárido que não seja a transposição. “Mais cedo ou mais tarde o governo vai ter que se debruçar sobre o projeto para analisar sua viabilidade técnica e econômica”, afirmou. O projeto também prevê a necessidade da construção de 18 reservatórios ao longo do desvio, nos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. O primeiro seria no município de Carolina, no Maranhão, e o último em Governador Dix Sept Rosado(RN). Neste caso, os reservatórios poderiam mexer com os cursos de água e também gerar energia elétrica.

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Rio Tocantins pode ser solução


Geral

Cidade verde e sustentável João Pessoa se prepara para desenvolver ações que a tornem uma metrópole planejada. É a segunda cidade no País nos planos do BID Rivânia Queiroz

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capital paraibana será a primeira cidade nordestina a ter um plano de sustentabilidade dentro do programa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - Iniciativas às Cidades Emergentes e Sustentáveis (ICES) - que projeta ações em toda a América Latina e Caribe. No Brasil, apenas a cidade de Goiânia (em Goiás) foi atendida com a iniciativa de fomento à sustentabilidade. Outras três estão em processo de avaliação pelo BID, em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF). Entre as quais, o Recife, em Pernambuco. O projeto piloto foi lançado em 2011 e aplicou a metodologia nas cidades de Trujillo (Peru), Porto da Espanha

(Trinidad e Tobago), Santa Ana (El Salvador), Montevidéu (Uruguai) e Goiânia (GO). A meta é que 26 cidades da América Latina e Caribe sejam contempladas até o ano de 2015. A escolha de João Pessoa para ser a primeira cidade em 2013 a iniciar o projeto no Brasil se deu por três razões: por estar em pleno crescimento econômico, pelo seu contingente populacional e por ter equilíbrio financeiro que possa garantir o pagamento dos aportes capitados através de órgãos financeiros e da iniciativa privada. Para executar as ações, serão levados em consideração 150 indicadores nas áreas apontadas como prioritárias. “O programa do BID é voltado a cidades emergentes, que estejam na categoria dos 100 mil e 2 milhões de habitantes, e


Foto: Alessandro Potter/Secom-PB

Coordenador do BID avisa que instituição financeira vai acompanhar a execução das ações da Prefeitura de João Pessoa

João Pessoa atende a esse pré-requisito”, explica o representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ellis J. Juan. O coordenador geral do programa adianta que há duas fases importantes para a execução deste projeto. A primeira delas é o estudo para a elaboração do plano de ação, que poderá dispensar até dez meses de trabalho. Na segunda fase, o BID irá acompanhar as intervenções estratégicas da Prefeitura de João Pessoa no que diz respeito à atração dos investimentos e execução das ações. A previsão é de que tudo seja feito num período de até três anos. Ao todo, serão disponibilizados para empréstimos 100 milhões de dólares do BID e da Caixa. O dinheiro será utilizado para financiar o desenvolvi-

mento de estudos, o levantamento das carências e potencialidades da cidade e a execução das ações em áreas como meio ambiente e mudanças climáticas; governabilidade e modelo de gestão; e desenvolvimento urbano, com foco na mobilidade. Dessa forma, o BID e a Caixa esperam promover o apoio às obras que proporcionem serviços básicos e garantam níveis adequados de qualidade de vida e emprego. “Estamos contentes em estar aqui (em João Pessoa). É uma boa parceria. Acredito que estaremos apresentando este plano de ação já no começo do próximo ano”, adianta Ellis J. Juan. A Prefeitura de João Pessoa entrará com um aporte de R$ 1 milhão, que será usado na carta-consulta a ser elaborada e apresentada aos dois parceiros da iniciativa.

Projeto piloto Maior cidade do norte peruano e considerada a capital da cultura desse país latino, Trujillo foi a primeira cidade da América Latina e do Caribe a ser escolhida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para desenvolver o projeto piloto de Cidade Sustentável. As ações tiveram início em novembro de 2010. Hoje, a importância desta emergente se reflete em vários setores, isso devido aos investimentos que foram possibilitados através de aportes financeiros do banco. Lá, foram realizados projetos em gestão de resíduos, mobilidade e gestão por resultados.

Acessibilidade

Recuperação de rios

Mobilidade

Urbanização

adequação do espaço urbano e dos edifícios às necessidades de inclusão de toda população

programas intensivos de proteção, conservação e recuperação do leito contaminado

conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço público

conjunto de ações para dotar uma área de infraestrutura (água, esgoto, gás, eletricidade) e de serviços urbanos (transporte, educação, saúde) 71

Intervenções prioritárias do projeto


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“Uma obra para o futuro” A equipe técnica do BID e CEF iniciou o trabalho na capital paraibana no mesmo dia em que foi assinado o termo de compromisso com a Prefeitura Municipal de João Pessoa. O grupo, que veio de Washington, nos Estados Unidos, e de Brasília, se reuniu com as 12 secretarias envolvidas no projeto Iniciativas às Cidades Emergentes e Sustentáveis (ICES) para traçar o esboço das atividades e passar a metodologia da iniciativa. A primeira avaliação de campo foi uma visita à comunidade do ‘S’, na Zona Norte de João Pessoa, e ao Porto do Capim, no centro histórico da cidade. Ambos estão dentro das áreas que sofrerão as intervenções iniciais. “Cerca de 30 famílias que moram praticamente dentro do lixão (no ‘S’) serão atendidas o mais rápido possível. Essa comunidade será tratada com planejamento, recebendo pavimentação, urbanização e a recuperação da área, que não pode virar um novo lixão”, avisa o prefeito. De acordo com Luciano Cartaxo (PT), serão realizadas, posteriormente, audiências públicas para ouvir a população pessoense acerca dos seus interesses. Ele adianta que também será montado um calendário de atividades que serão desenvolvidas ao longo do ano. “Vencida esta primeira etapa, partiremos para a execução efetiva”, disse o prefeito. Ele aposta em um crescimento sustentável em poucos anos e garante que a capital paraibana irá se transformar numa metrópole organizada, “que pensa na qualidade de vida de sua população”. “É um projeto ousado que não visa apenas quatro anos. É uma obra para o futuro”, acrescenta. A ideia do prefeito é preparar João Pessoa para um milhão de habitantes – no último censo IBGE a capital superava os 700 mil habitantes e deve chegar ao número estimado em 2030 - sem que a população sofra os efeitos da falta de planejamento. “Esta iniciativa possibilita uma série de ações integradas, que podem melhorar, por exemplo, a acessibilidade, as questões ambientais, a situação fiscal e finan-

Foto: Alessandro Potter/Secom-PB

Foto: Rivânia Queiroz

Prefeito Luciano Cartaxo já está atuando no sentido de elaborar um estudo que será apresentado ao BID e a Caixa

Elan Ferreira, da Caixa, diz que a instituição financeira já liberou um milhão para as primeiras medidas

ceira do município, a infraestrutura como um todo...”. Recursos - A Caixa já liberou um milhão para a execução das primeiras medidas. A instituição financeira ainda vai orientar a prefeitura na captação de recursos do BID, de acordo com o superintendente regional da CEF na Paraíba, Elan Ferreira de Miranda. “Vamos dar todo o apoio técnico e financeiro, juntamente com o BID, para que seja feito este levantamento

das carências e potencialidades para a gestão municipal atuar nos pontos essenciais e transformar João Pessoa numa cidade sustentável. As equipes técnicas da prefeitura, Caixa e BID estarão trabalhando, promovendo encontros, ouvindo a sociedade para efetuar o plano de trabalho”, comenta. E completa: “João Pessoa já é uma cidade boa para se viver. Imagine em vinte anos como será. Certamente será o melhor lugar do mundo”.


Goiania é referência mundial Foto: Divulgação

A capital de Goiás é a primeira do País a fazer parte da plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis do BID

A plataforma do BID A América Latina e o Caribe constituem uma região em desenvolvimento com a maior taxa de urbanização do planeta. Esta taxa foi duplicada na segunda metade do século XX, passando de 41% em 1950, para mais de 75% na atualidade. Prevê-se para 2050 uma taxa de 89% de urbanização na região, que também mostra uma importante concentração da atividade econômica nas cidades. Hoje, aproximadamente 55% do PIB regional é produzido nos centros urbanos. Diante do processo de urbanização da região, e pensando em um futuro urbano melhor para as próximas gerações, o BID instituiu a plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis (CES). O objetivo da plataforma é contribuir para que cidades, que hoje apresentam um alto índice de crescimento demográfico e desenvolvimento econômico, possam identificar seus principais desafios e ações de curto e médio prazo que permitam orientá-las em sua trajetória para uma situação de maior e melhor sustentabilidade. * Os dados estão contidos no relatório Goiânia Sustentável – Plano de ação.

mento Goiania Sustentável – Plano de Ação. Os projetos já estão em fase de implantação. A plataforma de ação é composta por cinco fases: identificação e diagnóstico de áreas de ação; priorização das áreas; priorização de soluções; plano financeiro e executivo e sistema de montoramento. “A participação de Goiânia como cidade piloto na aplicação da metodologia da Plataforma permitiu realizar um diagnóstico rápido, tendo como base para discussão dos problemas urbanos indicadores setoriais, coletados junto aos órgãos envolvidos para cada um dos temas propostos. Reuniões com a presença de funcionários da prefeitura, de atores locais e de especialistas do BID permitiram enxergar a cidade em uma perspectiva diferente, levando em consideração suas diferentes dimensões”, aponta o documento.

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O bom Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o sistema educacional implantado, a preocupação ambiental, a pujança das cadeias produtivas, somado a um estudo prospectivo que prevê ascensão contínua do desenvolvimento econômico do município, além de sua capacidade de investimento e de endividamento fizeram de Goiania (GO) a cidade preferencial para o pontapé inicial do projeto do BID no Brasil. A instituição financeira está apoiando projetos na cidade para as próximas décadas, a fim de tornar a futura metrópole sustentável. O plano estudado para a cidade prevê ações em áreas como transporte público e mobilidade urbana; competitividade e conectividade; modernização da gestão pública – gestão por resultados; segurança pública; gestão da expansão urbana; gerenciamento de desastres naturais e adaptação às mudanças climáticas. Ele faz parte de um levantamento realizado em 2011 em conjunto com o BID e Prefeitura Municipal, com a participação da sociedade civil, universidades e iniciativa privada que apontou as necessidades e os dasafios. O diagnóstico está contido no docu-


Geral

Ancestralidade genética

Estudos comprovam que nordestinos têm raízes e heranças bem diferentes das que suas aparências revelam

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João Pedrosa “Senhor repórter, já que tá me entrevistando, vá anotando pra botar no seu jornal, que o meu Nordeste tá mudado”. A frase, gravada em 1968 pelo Rei do Baião, Luís Gonzaga, relembra a trajetória nordestina comumente associada ao atraso que, ao longo dos anos, tem sido transformada por uma população de múltiplas raízes. Apesar de acompanharmos todas estas mudanças, uma dúvida não quer calar: de onde vieram os responsáveis por tudo isso? O empresário, médico e pesquisador Cândido Pinheiro tenta responder durante entrevista à imprensa cearense. Conclui que os nossos colonizadores, vindos da Península Ibérica - ao chegarem no Nordeste - já possuíam raízes do povo judeu, semita, muçulmano, negro e godo que se misturaram a dos indígenas nordestinos. “O íbero que chegou aqui, quem era? Primeiro foi o celta, que é o branco, mas também o íbero que veio do norte da África, negro. Em cima desse ibérico já negro e branco, a gente tem influência dos que atravessaram a Península e moraram lá: gregos, líbios, romanos, godos - fundadores do império espanhol durante 400 anos - e os muçulmanos, que dominaram a Espanha do ano 700 até 1400”. Cândido busca informações sobre

Foto: André Salgado

Foto: Divulgação

Cândido Pinheiro e Sérgio Pena comprovam herança africana nos brasileiros

o assunto há mais de 20 anos e, só agora, através da Fundação Roberto Freite, deve publicar um estudo, em 10 volumes, sobre as origens da população nordestina. “Estava querendo saber quem eu era. Quando descobri, achei essa mistura tão grande, tão forte. E não era só minha. Tenho que dizer que é do Nordeste todo. E estendi a pesquisa”. O pesquisador ressalta que a análise foi feita a partir de registros, da época da inquisição, consultados em acervos e bibliotecas da Espanha e de Portugal. Nas últimas duas décadas, pesquisas coordenadas pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade de Minas Gerais, obtiveram resultados que deixaram ainda mais evidentes a intensa miscigenação dos brasileiros

e, em especial, dos nordestinos. Um estudo realizado entre os baianos comprova que suas heranças genéticas estão mais associadas aos europeus do que aos africanos. O resultado obtido através da análise do DNA dos voluntários atesta que a proporção média da ancestralidade genética dos baianos é 53,9% europeia, 35,9% africana e 10,1% indígena. Ainda segundo as pesquisas, a maioria dos brasileiros possuem traços africanos e indígenas herdados das linhagens de suas mães (60%) e traços europeus vindos das linhagens dos seus pais (90%). Os resultados reiteraram o que Sérgio já havia dito há quase 25 anos, “é quase impossível achar um brasileiro que não tenha genes africanos”


Pluralidade de raças e culturas Estudos como os do médico Cândido Pinheiro e do geneticista Sérgio Pena ressaltam a pluralidade de raças e culturas que compõem os brasileiros e vão em sentido contrário às polêmicas declarações do deputado Marco Feliciano. O pastor, ao longo de sua trajetória como deputado e religioso, já fez afirmações contra católicos, negros, pais-de-santo e wiccanos, além de ter se posicionado contra os direitos das mulheres e dos grupos LGBT. Em seu primeiro ano de mandato, declarou, em seu twitter, que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” e que “sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá”. Segundo o pesquisador Cândido Pinheiro, para que seja revertido o quadro de preconceito que segrega a população negra, “é preciso a ajuda de quem é de fora, para que eles possam voltar e ganhar o DNA de elite, de sociedade, o que perderam. Acho correto e necessária uma política de cotas muito mais intensa com essa comunidade que perdeu esse DNA de cidadão. Da política de reposição e de alçá-los ao poder através disso”.

Preconceito na Câmara Outro parlamentar que também segue o mesmo pensamento do pastor Marco Feliciano é o deputado Jair Bolsonaro (PSC). Durante manifestação dos militantes do Movimento Negro contra a eleição de Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, no mês passado, Bolsonaro os agrediu ao dizer “voltem para o zoológico”. Este não foi o primeiro caso em que o deputado fez declarações racistas. Durante entrevista, em 2011, Bolsonaro respondeu a pergunta da cantora Preta Gil sobre qual seria sua atitude se um de seus filhos se apaixonasse por uma mulher negra. “Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”, respondeu. O deputado, que é aliado de Feliciano, defende a manutenção do pastor na presidência da Comissão de Direitos Humanos (CDHM) apesar das contestações de ativistas, parlamentares e artistas que compreendem as declarações do pastor como racistas e homofóbicas.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Feliciano é apoiado pelo ‘soldado’ Bolsonaro

Além dos manifestantes, líderes partidários e o presidente da Câmara dos Deputados já pediram ao novo presidente da CDHM que renuncie ao cargo, contudo, Feliciano não atendeu aos pedidos. Uma enquete feita pela Folha de São Paulo, na internet, perguntou se Feliciano deveria renunciar. O resultado foi expressivo: dos 149 mil entrevistados que responderam, 125.252 (84%) concordaram.

Descendência O lado europeu, africano e indígena dos brasileiros BAHIA

5,4 milhões

Brancos 66,8

Bahia

são os imigrantes europeus que vieram ao Brasil entre 1872 e 1975

8,8 24,4 8,9

Pardos

60,3

30,8

Negros

53,9

35,9

10,1 PARÁ

R. GRANDE DO SUL 5,3 9,3

7,7 14,1 85,5

11,4

10,6 20,9 Pardos

68,6

Negros

52,4

44,2

44,4

43,1

45,9

11

20,1 27,5

Proporções médias de ancestralidades genética, em % Europeia

Africana

Indígena Fonte: “PloS One”

75

Brancos 78,2


Saúde

Saúde além do tradicional

Foto: Divulgação

Yoga, Reiki e Medicina tradicional chinesa são algumas das práticas alternativas que o SUS oferece à população através de iniciativas dos municípios nordestinos

João Pedrosa

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A

regulamentação das abordagens alternativas à saúde teve início no final dos anos 80 depois da criação - determinada pela Constituição Federal de 1988 – do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o aumento da participação popular, os estados e municípios adquiriram maior autonomia e, a exemplo da cidade de João Pessoa, na Paraíba, começaram a implantar experiências pioneiras nos últimos anos. No mês de Agosto do ano passado, a capital paraibana inaugurou o Centro de Práticas Integrativas e Complementares ‘Equilíbrio do Ser’. A unidade oferece mais de 25 serviços gratuitos, entre eles estão Acupuntura, Reiki, Massoterapia, Yoga e Medicina tradi-

cional chinesa. “Apenas no primeiro dia, foram atendidas 350 pessoas entre práticas individuais e coletivas”, relembra a diretora geral do Centro, Andrea Carrer. As práticas individuais mais procuradas pelos usuários são Acupuntura e Massoterapia. Entre as coletivas, estão a Yoga e o Tai Chi Chuan. “Em pouco tempo já vemos os efeitos sobre a vida das pessoas. Já tivemos pacientes aqui que chegaram sem andar e que após sessões de acupuntura se recuperaram completamente”, esclarece a diretora. De acordo com os dados do SUS, em cinco anos o número de procedimentos de Acupuntura realizados na rede pública de saúde cresceu 429% no País. No ano de 2007, o número de sessões já chegava aos 97 mil. Já em 2012, ultrapassou os 500 mil. Segundo a diretora administrativa do Centro de Práticas

Integrativas, Patrícia Margarete, “o dado trimestral referente ao período de setembro a outubro de 2013 mostra que os atendimentos de Acupuntura chegaram a 270”. Há quase sete anos o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Práticas Complementares e Alternativas (PNPIV) com o objetivo de oferecer à população, gratuitamente, serviços de saúde como Acupuntura, Homeopatia e Fitoterapia. A iniciativa, que surgiu a partir das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das Conferências Nacionais de Saúde, implementou experiências que já vinham sendo desenvolvidas na rede pública. Segundo o último levantamento do Governo Federal, a procura por práticas alternativas de tratamento à saúde cresceu 358% de 2007 a 2008. Apesar do preconceito sobre a ineficácia de


Centro de Práticas Integrativas e Complementares ‘Equilíbrio do Ser’ oferece 25 serviços gratuitos para a população. A pedagoga Maria das Graças (no detalhe) faz automassagem para se livrar das dores

técnicas utilizadas na medicina não convencional, a exemplo da Homeopatia, seus benefícios têm sido constatados durante os tratamentos. “Frequentemente, a classe homeopática é surpreendida por críticas ao seu modelo terapêutico, na maioria das vezes por indivíduos que desconhecem os preceitos básicos. O jargão mais utilizado é que a Homeopatia não apresenta comprovação científica”, diz o homeopata Marcus Zulian Teixeira. Para ele, existem tratamentos que provam os resultados dos tratamentos. “Utilizando-se da reação secundária do organismo como forma de tratamento (método homeopático), administrou-se um contraceptivo para pacientes incapazes de ovular e engravidar. Após a suspensão da droga, observou-se a ovulação em aproximadamente 25% das pacientes e, dentre estas, 10% engravidaram”, argumenta.

Serviços gratuitos A pedagoga aposentada Maria das Graças também garantiu a eficácia dos tratamentos alternativos oferecidos pelo SUS e disse que, quando procurou os serviços no Centro de Práticas Integrativas e Complementares ‘Equilíbrio do Ser’, em João Pessoa, restavam poucas vagas. “Eu queria fazer Yoga, mas já estava tudo preenchido e fazia apenas duas semanas que o Centro havia sido aberto. Acabei escolhendo a automassagem porque queria aprender a me livrar das dores”, lembra. Segundo a pedagoga, o processo para participar das atividades do centro foi simples e totalmente gratuito, contudo, exigia pontualidade e assiduidade. “Levei o cartão do SUS e a identidade, passei por uma triagem e respondi a algumas

perguntas. Depois comecei a participar das aulas que eram uma vez por semana. Não podia faltar. Quem tivesse duas faltas teria que sair para dar a vez a outra pessoa que estivesse interessada”. Para a massoterapeuta e reikiana Mônica Maria da Silva, a oferta de serviços alternativos através do SUS ajuda a combater o preconceito sobre a ineficácia destes tipos de tratamentos. Para ela, trabalhar no serviço público de saúde “é uma experiência muito gratificante porque a ideia é popularizar e oferecer esses serviços às pessoas para que elas possam investir nestes tipos de terapias”. A profissional holística destaca que a doença tem papel de destaque em nossa sociedade e que é necessário possuir uma visão mais

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Foto: Divulgação

Foto: Dayse Euzebio


Foto: Dayse Euzebio

humanizada. “A gente não recebe uma doença, mas pessoas. Este é o nosso paradigma”, explica. A oferta de tratamentos alternativos não é exclusividade, no Nordeste, da Paraíba. Na cidade de Fortaleza, no Ceará, o Hospital Distrital Gonzaga Mota do José Walter criou, em 2009, um setor de práticas integrativas e complementares no qual são realizados tratamentos e sessões de Reiki, Shiatsu, Reflexologia e Massoterapia. De acordo com o médico cearense Francisco Osório, “todos os dias, dois terapeutas atendem aos pacientes que buscam solucionar seus problemas de saúde através da terapia Reiki”. Em relação aos tratamentos de acupuntura, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que desejem fazer sessões podem recorrer a ambulatórios, hospitais e centros específicos. Das unidades de saúde listadas pela Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), cujo atendimento pode ser realizado através do SUS, 21 estão situadas na região nordestina: 3 em Alagoas, 1 na Bahia, 4 no Ceará, 2 na Paraíba, 5 em Pernambuco, 1 no Piauí, 1 no Rio Grande do Norte e 4 em Sergipe.

Foto: Divulgação

Acupuntura, Reiki, Massoterapia, Yoga e Medicina tradicional chinesa são opções do centro Mônica diz que oferta de serviços ajuda a combater preconceito sobre a eficácia dos tratamentos

As terapias holísticas e seus benefícios Foto: Divulgação

Yoga

Massoterapia

Melhora a postura e alivia tensões associadas ao stress

Reduz a pressão sanguínea e batimentos cardíacos

Fortalece os músculos e desenvolve a flexibilidade

Melhora a amplitude dos movimentos articulatórios

Ajuda na concentração e diminui a ansiedade

Alivia dores e tensões corporais

Tai Chi Chuan

Reike

Acupuntura

Aumenta a disposição e fortalece o sistema nervoso

Reduz o stress e provoca sensação de relaxamento

Previne doenças e aumenta a expectativa de vida

Melhora a concentração e reduz o estresse

Ajuda no tratamento de doenças crônicas, agudas e relacionadas ao estresse

Diminui distúrbios de sono, depressão e ansiedade

Reforça o sistema imunológico e contribuiu para o equilíbrio

Melhora o sono, equilibra hormônios e alivia dores

Regula batimentos cardíacos e ajuda no tratamento contra drogas


Carência de profissionais qualificados Foto: Agência Brasil

Dificuldades para encontrar acupunturistas é recorrente no SUS

os repasses do SUS. O dinheiro é todo da prefeitura”. Segundo Patrícia, existe um projeto de lei que já foi aprovado no Conselho Municipal de Saúde e que, em breve, deverá passar pela Câmara. “Este projeto prevê a inserção dos serviços de práticas integrativas no SUS de João pessoa”. Questionada sobre a opinião da comunidade sobre os serviços oferecidos, Patrícia confirma que “muitos dizem que deveria haver um centro desses em cada bairro”. Adianta que, para apresentar um retorno à população, estão sendo organizados trabalhos científicos sobre os tratamentos e práticas desenvolvidas.

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Apesar da Política Nacional de Práticas Complementares e Alternativas, estes tipos de tratamentos ainda encontram dificuldades quando são postos em prática. Para a diretora administrativa do ‘Equilíbrio do Ser’, Patrícia Margarete, existe carência de profissionais, do Sistema Único de Saúde, qualificados para estes tipos de tratamentos. “Têm médicos que já são homeopatas. Fisioterapeutas que são acupunturistas. Mas mesmo assim ainda é uma dificuldade encontrar profissionais qualificados por ser uma ação nova dentro da região, nova no sentido de atender um público mais amplo que é o do SUS”, esclarece. A diretora explica que, por ser um centro novo, todos os serviços estão sob o financiamento do município paraibano. “Está se batalhando para ver se ele recebe uma contrapartida do Estado. Também não recebemos, ainda,


Vinhos [ por Afra Soares ]

Verde que te quero branco, rosé ou tinto Você naturalmente já ouviu falar em “Vinhos Verdes”, mas o que talvez você não saiba é que ele não é verde. O vinho verde pode ser branco, rosé ou tinto, embora estes dois últimos não sejam exportados. Eu, pelo menos, nunca vi no Brasil e em nenhum outro lugar fora de Portugal. E porque ele se chama “vinho verde”? O vinho é verde por vir da “região verde de Portugal” situada no extremo norte do país, fronteira com a Espanha, tendo o rio Minho como divisa. Esta região é assim chamada pelo alto índice de chuva e pela vegetação constante, ideal para a produção de excelentes vinhos brancos. Berço da conhecidíssima casta Alvarinho a Região dos Vinhos Verdes, teve sua demarcação reconhecida em 1908. O vinho verde é naturalmente leve e fresco, de baixo teor alcoólico, portanto menos calórico, frutado e fácil de beber. As características do solo, do clima, da forma de cultivo das vinhas e, naturalmente, das peculiaridades das castas autóctones da região dos Vinhos Verdes, dá tipicidade e originalidade a este vinho. As castas para produção do vinho verde são muitas. As principais para o vinho branco são: a já citada Alvarinho, Avesso, Azal, Batoca, Loureiro, Arinto e

Estamos dentro

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Há três anos o dia 17 de abril é festejado como o Dia Mundial da Malbec, a casta ícone da Argentina. Nesta terceira edição a Wines of Argentina, entidade responsável pela imagem do vinho argentino, realizou vários eventos por todo o mundo para festejar a cepa que tem projetado a Argentina no mundo

Trajadura. Para os tintos, as mais utilizadas são: Amaral (Azal Tinto), Borraçal, Alvarelhão, Espadeiro, Padeiro, Pedral, Rabo-de-Anho ou Rabo-de-Ovelha e Vinhão. Ta pensando que para por aí? Têm mais, pelo menos, umas duas dezenas de castas. O vinho verde é um cúmplice perfeito para uma reunião de amigos, um fim de tarde, uma manhã de sol ou um belo jantar ao lado da(o) amada(o). Acompanha muito bem saladas, comidas orientais, peixes, mariscos e carnes brancas. Provar um vinho Verde Rosé, de aromas jovens lembrando frutas vermelhas, com um fresco e intenso sabor é algo indescritível. O vinho Verde Branco, igualmente leve, frutado e fresco, quando bem produzido, é um néctar dos DEUSES. Se tiver oportunidade, prove um Espumante de Vinho Verde. O vinho verde mais famoso de Portugal é o Muros Antigos, mas tem muitos outros, tão bons quanto. Em maio, a Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes, em parceria com a ABS-SP, fará palestra acompanhada de um Curso de Degustação sobre os Vinhos Verdes, em João Pessoa, ministrado por Arthur Azevedo, consultor de vinhos da TAM. Visite o site: abs-pb.org.br

Essa não!, “ Los hermanos” estão vencendo Halle Berry, uma das atrizes mais bem pagas de Wollywood, em visita à Argentina para divulgar o seu mais novo filme, The Call (no Brasil, “Chamada de Emergência), onde interpreta uma operadora de disque-emergência que arrisca a vida para salvar uma adolescente das mãos de um serial Killer, declarou que tem paixão pelos vinhos do país, especialmente a Malbec. Grávida de três meses e sem poder beber, a vencedora do Oscar falou: “Estou muito feliz de estar na Argentina, esse lugar é fantástico. Vou jantar pela primeira vez aqui e sei que os argentinos têm boas carnes e são muito famosos por isso e pelo vinho. Não posso beber nada que tenha álcool agora, mas o Malbec argentino é um dos meus vinhos favoritos e vou sentir falta de apreciá-lo nessa viagem”.

internacional do vinho. Como a Paraíba entrou definitivamente na rota do vinho, nós que fazemos a ABS-PB, não poderíamos deixar nossa cidade de fora desta e realizamos uma degustação de vinhos TOP de Malbec, com exemplares do mais antigo e mais famoso produtor da Argentina, Nicola Catena Zapata. Alegria, alto astral, tango e gastronomia fizeram parte da grande noite.


Beaujolais Nouveau brasileiro sol o ano inteiro, a beira mar ou na piscina. Mas, você não precisa ir à França para degustar um Gamay. Seguindo o conceito francês “beaujolois nouveau” a Miolo e a Salton elaboram um Gamay, que é a expressão desta casta. Agora, na ExpoVinis, as duas vinícolas lançam os seus vinhos com grandes inovações. Os “mínimos” detalhes vocês verão na próxima edição da revista.

Será preconceito?

Yes, nós temos vinhos!!!

Se você quer ficar antenado(a) sobres os vinhos do Brasil, não pode perder a edição 2013 do Anuário dos Vinhos do Brasil, que vem recheada de entrevistas e avaliações das diferentes regiões brasileiras produtoras de uva e do vinho, e abordando a evolução do vinho nacional. A publicação será apresentada ao mercado durante o Circuito Brasileiro do Vinho, que este ano percorrerá sete capitais incluindo Recife, Fortaleza e Natal, pelo jornalista Marcelo Copello, palestrante do evento e diretor da Baco Multimídia, editora parceira do Ivravin, no desenvolvimento do anuário. O Circuito Brasileiro do Vinho surgiu de uma parceria entre o Ibravin e a Abrasel, que, infelizmente, deixa a Paraíba mais uma vez de fora.

O The House of Roosevelt e o Four Seasons Xangai há muito já ostentam em seu portfolio os vinhos da Miolo Wine Group. Agora eles estarão presentes, também, no maior site de vinhos da China, o Yes My Wine, o terceiro maior vendedor de vinhos chinês, responsável pela comercialização de 3,5 milhões de garrafas somente em 2012. “Estamos felizes com a expansão dos negócios na China e orgulhosos de termos nossos vinhos selecionados pela Yes My wine”, afirma a gerente de relações internacionais, Morgana Miolo. Os vinhos das linhas Reserva e Seleção e o espumante Millésime Brut, já poderão ser adquiridos pelo site chinês. Yes, nós temos vinhos!!!

Menos e melhor Um estudo feito pela Associação Empresa e Prevenção da França, criada em 1990 para lutar contra o consumo excessivo ou inapropriado de álcool, composta por mais de 20 empresas do setor de bebidas do país, concluiu que os franceses estão mais preocupados com a saúde e, por isto, estão ingerindo menos álcool. O vinho sempre foi a bebida preferida naquele país, mas, os franceses bebiam em grande quantidade e, nem sempre, vinhos de boa qualidade. Atualmente, eles estão escolhendo vinhos baseado na qualidade e estão bebendo cada vez menos. Esta é uma tendência de consumo que vem aumentando, também, em nosso país, e é um dos objetivos dos educadores do mundo do vinho, pois à medida que você conhece e estuda sobre o vinho, seu processo de seleção fica mais criterioso.

Prima pobre? Que nada! A região de Languedoc-Rosillón, que faz divisa com a Espanha e é banhada pelo mar mediterrâneo, tem um bom clima e terrenos que abrangem desde altas colinas até planícies e zonas costeiras e, mesmo assim, sempre foi considerada a “prima pobre” das famosas Bordeaux e Borgonha, produzindo vinhos de preços relativamente baixos. Mas, isto esta mudando. Produtores estrangeiros, especialmente da Grã-Bretanha, Austrália e Estados Unidos, estão invadindo a região com a inten-

ção de transformar a “prima pobre” em “prima rica”. Atualmente, Languedoc-Rossillón produz mais de 180 milhões de garrafas de vinho com Denominação de Origem. Charles Simpson, um ex-executivo da indústria farmacêutica britânica que comprou uma vinícola há uma década e já coleciona títulos internacionais em seus vinhos, declarou: “Quando cheguei a Languedoc, o cenário era o contrário do que vemos hoje. Todos estavam querendo fugir daqui”. Pois é “a fila anda”. Acesse o site: www.vinhoprosaerepente.com.br e vejam outras notícias.

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O “beaujolais nouveau” é um vinho elaborado com a uva Gamay que marca na França e em mais de duzentos paises a chegada da nova safra. O Gamay é um vinho de estrutura leve, com características para ser consumido jovem, no mesmo ano da elaboração, e que deve ser degustado gelado. Um vinho alegre e aromático, ideal para ser consumido no Nordeste, onde temos o brilho do


Cultura

Sumindo do mercado Boom do MP3 e fenômeno da pirataria fazem com que as lojas de discos e videolocadoras encerrem suas atividades sem perspectivas de volta Foto: Divulgação

Jéssica Figueiredo

J

á foi o tempo em que para se ouvir uma música do artista da moda era preciso ir até uma loja especializada no segmento. Hoje, basta apenas uma pesquisa rápida na internet e pronto! É possível baixar um álbum inteiro de músicas para a sua biblioteca virtual. Essa evolução da internet fez com que as lojas físicas de CD e DVD praticamente desaparecessem. Encontrar um desses estabelecimentos hoje é uma raridade. E os que resistem estão à beira de fechar as portas. Robério Rodrigues, fundador de uma das poucas lojas remanescentes de discos de João Pessoa, a Música Urbana, resistiu. Ele conta que passou por um período em que quase fechou sua loja. E que só não o fez porque os clientes mais

Colecionador de vinis há oito anos, o estudante Israel Costa não troca um LP por nada

Na linha do tempo

Cd Player

LP ou Vinil

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Fita Cassete 1948

1963

Pirataria MP3

Mp3

1982

1988

2004

No final da década de 80 e início dos anos 90, a invenção dos Compact Discs fez aposentar os discos de vinil, que tornaram-se obsoletos

*Fonte: Noticiário de Imprensa Elaboração: CEBC


Foto: Divulgação

O designer Dorivan Ferreira ainda mantém o hábito de locar filmes e lamenta que as locadoras estejam fechando

raro na sua vitrola. “Ouvir um álbum na vitrola é uma coisa completamente diferente do MP3 ou até mesmo do CD. Você se envolve com a banda quando possui algo físico dela, e não só um download. Vai além do simples escutar. É um mergulho no encarte, nas letras e na arte da capa”, reflete. Proprietária da Música.com, Fernanda Nércia confirma que a internet afastou boa parte de sua clientela. Ressalta, entretanto, que hoje muita gente vai à sua loja procurar discos físicos, alguns raros. “Aumentou o preço dos discos e diminuiu a clientela. Tenho um pessoal que só gosta do original”, observou. Na loja de Fernanda, assim como na Música Urbana, discos e vinis são os principais produtos da prateleira. Mas eles abrem espaço também para outros itens. Assim, conseguem manter

Originais são raridades Para a estudante Marina Freire (foto), os DVDs piratas podem até custar menos, mas assistir a uma coleção de originais não tem preço. “Para quem curte cinema e gosta de raridades, a sensação de estar num lugar com várias opções é inigualável. Além disso, os originais vêm com extras e bônus maravilhosos, e nos filmes pirateados você perde tudo isso”, considera. O designer Dorivan Ferreira não perdeu o costume de locar um bom filme e lamenta que as locadoras estejam em fase de

extinção. “A melhor coisa de pegar filmes nas locadoras é poder ler a capa com cuidado, ver a arte, as fotos do encarte. Além disso, muitas locadoras têm filmes que você não encontra em lugar nenhum”. Dorivan confessa que às vezes até compra filmes piratas, mas não confia no produto. “Eu fico com o pé atrás. Já aconteceu de eu começar a assistir um filme e ser outro diferente do que estava na capa, ou do filme falhar na metade, ou do vídeo estar em baixa resolução”, critica.

as contas em dia e as portas abertas. “Aos poucos foram reaparecendo pessoas que queriam deixar outras coisas (produtos) para vender aqui na loja e isso foi aumentando meu acervo. Fui colocando livros, quadrinhos, camisetas, até refrigerante e cerveja para vender junto aos discos. Isso ajudou no faturamento”, comenta Robério. Robério e Fernanda sabem das dificuldades de se manterem no mercado e garantem que, apesar de todas elas, advindas com o avanço da tecnologia, vão conseguir sobreviver. A fundadora do Música.com diz até que está pensando numa expansão do seu negócio. “Pois aparecem turistas aqui na cidade e no futuro vão vir muito mais”. O faturamento de Robério, por enquanto, tem garantido sua sobrevivência. “Não penso tão cedo em desistir”.  Foto: Divulgação

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antigos, aqueles que deixaram de comprar CDs para ouvir músicas em MP3, foram os mesmos que contribuíram para que se mantivesse de pé. “Muitos clientes deixaram de vir. Depois de um tempo eles foram reaparecendo a procura de discos e LP’s específicos, e deu para segurar”, afirma. Se por um lado a internet contribuiu para o desaparecimento deste tipo de mercado, por outro fez surgir um novo nicho: o de raridades. Colecionador de vinis há mais de oito anos, o estudante universitário Israel Costa é um dos que prefere ter o produto materializado. Ou seja, comprar os produtos (CD’s, DVD’s) em vez de apenas baixar músicas na internet. Ele explica que a web lhe ajuda a conhecer música de qualquer parte do mundo, porém, não troca a sensação de ouvir um disco


Filmes sofrem mesmo baque Foto: Andrea Gisele

Da mesma forma como aconteceu com as lojas de discos, as empresas especializadas em venda e locação de filmes, as chamadas videolocadoras, também quase desapareceram do mercado. É possível ainda encontrar uma ou outra com as portas abertas, mas com claros sinais de falência. Geralmente, as prateleiras estão vazias e não há novidades. Embora tenha sido um processo mais lento, aos poucos, o consumidor foi substituindo o hábito de locar um vídeo, ou mesmo comprá-lo, por adquirir esse produto através da web. O empresário Ney Araújo é sócio de uma das poucas locadoras de vídeos que ainda restaram na capital paraibana, a Carlitos, e que já está com os dias contados. Ele conta que por falta de cliente tem tido dificuldade de renovar o seu estoque. “A gente acabou ficando até mesmo sem recursos para comprar outros DVDs. Infelizmente, esse ano a gente tomou a decisão de que não há mais condições de continuar”, lamenta Ney. Ney Araújo é daqueles que defendem os produtos originais e por uma questão ética, moral e, até, cultural. “Tem gente que acha que comprar filme pirata é o mesmo que cometer um crime. E, na verdade, é. A gente vê essas pessoas vendendo DVDs piratas em qualquer parte e não imagina como isso deveria

O empresário Ney Araújo ainda resiste e mantém aberta uma das poucas locadoras da PB

ser banido”, lamenta. Ney acredita que algumas locadoras podem até resistir ao fenômeno da pirataria, mas observa que serão somente aquelas que têm um acervo diferenciado. “Locadoras que têm filmes diferenciados, geralmente clássicos, e raros, difíceis de encontrar até na internet, têm mais possibilidade de resistir”, coloca. Outra que está prestes a fechar é a locadora Ribalta - que já foi considerada uma das maiores de João Pessoa. A loja está vendendo todo o acervo. Respon-

ALTERNATIVA

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Recém-chegado, o blu-Ray (novo formato de disco) pode ser uma alternativa para o mercado de filmes originais. O produto é compacto, tem vídeo e áudio em alta definição, além de ter grande capacidade de armazenamento e durabilidade. Isso o torna vantajoso e o afasta do mercado pirata. “Os filmes piratas geralmente não têm qualidade. E muita gente quer filme com boa qualidade, de preferência, originais, que não se desgastem com o tempo. Por isso, estão começando a procurar locadoras que tenham DVD’s em Blu-Ray”, afirma Michel Abrahão.

sável pela empresa há mais de 20 anos, Michel Abrahão culpa a pirataria pelo falecimento do mercado. “Quando surgiu a TV a cabo, todo mundo falava que as locadoras iram acabar. Mas isso não afetou em nada o movimento. Quando a internet chegou, o mesmo foi dito. O problema foi o boom da pirataria, que mexeu com o mercado de tal forma que hoje ele não tem condições de sobreviver. Muitos não acham ser um crime, mas é e se popularizou, podendo dar prisão”, avalia.


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Digestivo

Rivânia Queiroz rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Bilheteria virtual não ajudou A quinta edição do Rock in Rio veio com novidades. A começar pela venda exclusiva de bilhetes pela internet. Os organizadores do festival esperavam que as negociações online facilitassem a compra fora do eixo Sul/Sudeste, uma vez que o público de qualquer estado poderia adquirir a entrada para algum show sem precisar se deslocar até a cidade do rock. Mas não foi bem isto que aconteceu! Mais da metade dos ingressos (54%) foram comercializados no Rio de Janeiro – anfitrião da festa. Os paulistas vieram atrás com 14% das compras, seguidos pelos mineiros (8,88%). Os nordestinos representaram apenas 6,2%, o que soma um total de 37.128 ingressos adquiridos. Na região, os baianos foram os que mais compraram (1,42%), ou seja, 8.449 ingressos, na frente dos pernambucanos (1,33% ou 7.914 ingres-

‘Viva Tom Jobim’

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A cantora Vanessa da Mata homenageia o cantor, compositor, músico e maestro Tom Jobim pelos 50 anos do lançamento de “The composer of Desafinado plays”, primeiro trabalho solo da carreira do cantor. A turnê ‘Viva Tom Jobim’ passará por seis cidades, começando por Salvador (BA), Recife e, 5 de maio, em Brasília. Porto Alegre e São Paulo terão shows nos dias 19 e 26/05, respectivamente. A última apresentação será no Rio, sem data definida.

sos) e dos cearenses (0,94% ou 5.593). O balanço foi divulgado pelos organizadores do Rock in Rio 2013 quatro horas após a abertura da bilheteria virtual, tempo suficiente para esgotar todos os tickets no site oficial do evento. Na edição passada, quando as vendas foram mistas (com pontos de vendas e na internet) as entradas se esgotaram em 21 dias. Mais de 2,5 milhões de pessoas ten-

Políticas para as artes

taram adquirir um dos 595 mil ingressos. Isso significa que quase dois milhões não poderão conferir a 5ª edição do festival. Na pré-venda foram comercializados 140 mil, ainda foram colocados à venda 80 mil passaportes do Rock in Rio Card, esgotados em tempo Record: 52 minutos. O festival acontece de 13 de setembro a 22.

Festival audiovisual A Associação Cultural Cine Ceará abre inscrições para produções cinematográficas destinadas à 23ª edição do Cine Ceará - Festival Ibero Americano de Cinema que acontece, este ano, de 5 a 13 de setembro. Os interessados podem inscrever-se até 31 de maio em duas categorias: competitivo para curtas (até 20 minutos)

A Fundação Nacional de Artes deu início, em abril, ao III Encontro Funarte de Políticas para as Artes. O evento vai percorrer, ainda neste mês, diferentes estados onde serão discutidas políticas para as diversas áreas culturais. O ciclo de reuniões visa promover uma reflexão e contribuir para a formulação e aperfeiçoamento das ações voltadas às artes.

e longas (acima de 70 minutos) de todos os gêneros. O evento tem mais de duas décadas de contribuições à imagem da cultura do Estado. Informações: www.cineceara. com.br.


curtas

GP Stock Car

Para descentralizar o São João, Maceió lançou três editais de apoio a arraiais juninos para todos os bairros que servirão, também para o projeto de construção da vila cenográfica e produção de parte dos eventos. A festa contará com mais de 70 atrações durante todo o mês de junho.

Os fãs da Stock Car – maior categoria do automobilismo do País – estão ansiosos para ouvir o ronco dos motores no GP Bahia. Pelo quinto ano consecutivo, a cidade de Salvador vai sediar o evento que acontece, agora em maio, no circuito Ayrton Sena. Quem estiver fora da capital baiana poderá comprar o ingresso por meio da internet. Basta acessar o site de vendas da Tickets for Fun: www.ticketsforfun.com. br. Os bilhetes têm preços variados. As arquibancadas vão de R$ 100 a R$ 180 e o Camarote Plus está sendo vendido a R$ 350.

Memorial da aviação

O Ministério do Turismo anunciou investimentos para Pipa (RN), que deve receber um grande número de turistas durante os eventos da Copa do Mundo, em 2014. O balneário fica distante apenas 80 km de Natal (RN), uma das cidade-sede do mundial. Foram empenhados R$ 17 milhões para obras como a construção de uma nova estrada duplicada e de acesso direto de Natal até Pipa. O Rio Grande do Norte vai receber recursos para a tão esperada instalação do Museu da Rampa, para o qual foram direcionados mais de R$ 7 milhões do Ministério do Turismo. O Estado passará a abrigar um memorial da aviação, às margens do Rio Potengi, para recobrar a importância histórica de Natal durante a Segunda Guerra Mundial, quando serviu como a base militar mais estratégica do País durante o conflito.

O grupo americano The Platters tem agenda marcada na capital pernambucana. Com fãs pelo mundo afora e dona de sucessos como a inesquecível canção Only You, a banda fará um mega show no Teatro Guararapes, dia 3 de maio.

O aquecimento de uma das maiores festas de e-music do País, a Skol Sensation, que acontece na cidade de São Paulo (SP), será em Recife, no dia 8 de junho. A produção da festa já está procurando possíveis locais para o evento e definindo as atrações. 87

De olho na Copa

A terceira edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo Baiano, já tem data fechada. Acontece de 23 a 27 de outubro, com a presença de intelectuais nacionais e internacionais. A novidade em 2013 é uma programação especial para o público infantil.


Nordeste Agito

01 O rápido encontro do empresário e presidente do grupo WSCOM, Walter Santos, com a presidente Dilma Rousseff, em evento que ocorreu em Fortaleza.

agitonordeste@revistanordeste.com.br

O presidenciável do PSDB, Aécio Neves, o ministro Joaquim Barbosa (presidente do STF) e o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, na solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto. Na cerimônia, Barbosa recebeu honras militares

Economia pernambucana Evento da Gere discute a economia pernambucana. O presidente Mauro Santos ao lado das palestrantes Tânia Bacelar (economista) e Cristina Buarque (Secretária da Mulher). O almoço no Spettus reuniu vários empresários, políticos e economistas

01 - O secretário de Turismo de Pernambuco, Alberto Feitosa, recebe exemplar da Revista NORDESTE. Ao lado, Severino Pessoa, diretor da Fundarpe, e a diretora do Festival de Turismo de João Pessoa, Paula Floriano

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02 - Cônsul dos EUA, Usha Pitts, e Jorge Sales (MIT) são recebidos por Cláudio Júnior (diretor do evento) no lounge do Festival de Turismo de João Pessoa

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O governador Eduardo Campos e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, celebram o aniversário do empresário Janguiê

O governador baiano Jaques Wagner e o presidente da Caixa Jorge Hereda, na inauguração da Arena Fonte Nova

03 04 - José de Calazans Neto, Orlando Chalegre, Jean Michel Gouy com o anfitrião Mauro Santos

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04 - Os representantes do grupo WSCOM, Marcos Paulo (gerente Comercial) e Gil Sabino (executivo de negócios) com Mauro Santos

O secretário de Comunicação de Curitiba, Gladimir Nascimento aprecia exemplar da Revista NORDESTE

A chefe do Governo da Bahia em Brasília, Sônia Carneiro ao lado dos médicos Antonio Carneiro Arnaud e Alcélio Gusmão

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Cláudio Júnior e o presidente da Fundação CTI Nordeste, Roberto Pereira, durante a feira BNTM de Salvador


Cultura

Foto: Divulgação

Foto: Arquivo Pessoal

Disputa virtual acirrada Problemas na compra dos ingressos para o Rock in Rio 2013 não desmotivaram nordestinos na hora de lutar por bilhetes para o festival mais esperado do ano João Pedrosa

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os quase 600 mil bilhetes que foram vendidos para os sete dias de música do Rock in Rio, pouco mais de 37 mil foram destinados aos nordestinos. Esgotados em 4 horas durante a venda oficial, acabaram antes que todas as atrações principais fossem confirmadas. Quem lutou para conquistá-los, participou de uma disputa virtual acirrada. Boas conexões e agilidade foram fundamentais na hora de garantir o bilhete. Segundo o estudante Vlademir Falcão, a compra foi ainda mais disputada do que em 2011, ano em que foi ao Rock in Rio pela primeira vez. “Dessa vez foi uma agonia. Em 2011 eu demorei uns 45 minutos para comprar três ingressos, mas este ano eu e um grupo de amigos tentamos por mais de 3 horas até conseguir todos”. O estudante chegou até a cogitar a hipótese de não ir ao festival por conta das dificuldades. “Achei que não iríamos conseguir porque nenhuma das compras

era finalizada. Fizemos um mutirão. Todo mundo estava tentando comprar ingressos para o outro. Abrimos várias páginas e utilizamos todos os cadastros disponíveis para ver quem conseguia ir até o final”, concluiu. O cearense Rafael Santiago, amigo de Vlademir, também enfatizou os problemas na hora da compra. “Foi anunciado que os bilhetes iriam estar disponíveis a partir das 10 horas da manhã. As propagandas do evento diziam que a previsão era que os ingressos acabassem em uma hora e meia. Eu já estava preparado desde às 9h30. Quando consegui, passava de meio dia”. Rafael, assim como seu amigo, comemorou depois de garantir a presença em dois dias no festival. Apesar dos contratempos, agora, o grupo formado por três paraibanos e um cearense pensa apenas nas atrações que verão durante os dois dias que vão estar no festival, 14 e 15 de setembro. Para isto, já compraram as passagens, reservaram a estadia e começaram a economizar. “Eu não pensava em ir, mas como meu amigo

O cearense Rafael Santiago sentiu dificuldade na hora de comprar o ingresso Foto: Arquivo Pessoal

O estudante Vlademir Falcão confirmou que irá ao festival pela segunda vez

(Vlademir) disse que um de seus parentes poderia hospedar a gente, resolvi ir”, esclareceu o cearense Rafael Santiago. O jovem ainda explicou que aproveitou as promoções das passagens aéreas para garantir a viagem até o Rio de Janeiro. “Tudo veio a calhar por conta da hospedagem garantida e das passagens que estavam na promoção. Acabei comprando de supetão, mas já estou me programando”, concluiu. Vlademir ainda esclareceu que a economia vai ser garantida e que, por isso, será possível aproveitar melhor o festival . "A vantagem é que não iremos gastar dinheiro com hospedagem e nem precisaremos pegar um táxi. Por causa da proximidade, podemos ir de ônibus, que passa na porta do Rock in Rio, ou de van”. O festival está previsto para os dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro, na cidade do Rock, no Rio de Janeiro, e terá atrações como Metallica, Iron Maiden, Nickelback, Bon Jovi, Justin Timberlake, Alicia Keys e Jessie J – última atração confirmada para o festival.


Tempo de conserto: 4 dias.

Tempo de recuperação: 4 anos.

A imprudência cobra um preço alto. Dê valor à vida.

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Moto. É preciso saber usar. É preciso respeitar.


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Bom mesmo é estar perto de quem a gente confia.

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TOTA L . MU ITO MAIS CON F IA NÇA PA RA S UA V IDA .


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