Revista Maré Alta - 3ª edição

Entrevista

O som e a poesia de Mateus Fazeno Rock

Artes Visuais

O digital como ferramenta para criar arte

Dança

A representatividade da dança Voguing

3a edição

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Expediente DIRETORA DE CONTEÚDO Ana Vitória Almeida COORDENADOR DE COMUNICAÇÃO Nathanael Filgueiras JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Nathanael Filgueiras Nyara Cavalcante TEXTO Nyara Cavalcante FOTOGRAFIA DE CAPA Nathanael Filgueiras DESIGN DE LOGOMARCA Tim Oliveira PROJETO GRÁFICO Nathanael Filgueiras REVISÃO FINAL Ana Vitória Almeida Sugestões de pauta revistamarealta@gmail.com Vem anunciar nessa maré de coisa boa! revistamarealta@gmail.com Instagram @revistamarealta

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Editorial Trazendo uma maré artística para lá de recheada, a primeira Revista Maré Alta do ano navega pela periferia de Fortaleza, mostrando a realidade de uma cidade que muitas vezes é invisível, mesmo para quem vive aqui. Em parceria com o Cria Juventude, programa da Rede Cuca, esta publicação abre alas para apresentar espaços de muita música, dança, criatividade e, principalmente, resistência.

Nesta edição você confere uma entrevista com Mateus Fazeno Rock, artista que se destaca na cena musical cantando sobre a realidade de ser preto e favelado no Brasil. A dança Vogue também é destaque na revista, vamos conhecer tudo sobre as apresentações performáticas que fazem sucesso desde 2018 por aqui. Além disso, você ainda confere matérias sobre a criação de artes digitais, os desafios do teatro e da atuação nas periferias e um panorama completo de artistas, projetos e coletivos que fazem a diferença nas comunidades da capital cearense.

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Índice 06

Dança Vogue: representatividade na periferia

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#Coletividade Arte que conecta Entrevista Mateus Fazeno Rock

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Vivência (Rolê Fotográfico) 4

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Ensaio (r)existir

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Acessa aí

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O teatro na periferia-palco

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Vitrine

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Dança Vogue: representatividade na periferia

Foto: Eduardo Barrosa

Q

A performance começa baseada nas poses e movimentos das modelos em passarelas, daí o nome Vogue e, a partir disso, são desenvolvidas acrobacias complexas que demandam muita técnica, desenvoltura e elasticidade. Entre os passos estão o “duck walk”, que consiste em andar agachado como um pato mexendo ou não as mãos, os “spins”, giros elaborados, e o “dip”, uma finalização no chão que pode ser feita de várias formas.

ue a Vogue é um ícone fashion internacional todo mundo já sabe, mas você tinha conhecimento que, além disso, o nome da famosa revista também categoriza um estilo de dança cheio de personalidade? A Vogue, ou Voguing, foi criada dentro do movimento Ballroom, durante a Nova Iorque dos anos 60. Esta comunidade formada por negres e latines LGBTQIA+, buscava criar um espaço de acolhimento, onde No Brasil, a expressão artística se populaessas pessoas, que normalmente eram marginalizadas e esquecidas pela sociedade, pudes- rizou muitos anos depois, chegando de forma concreta à Fortaleza apenas em 2018, com sem se sentir bem e seguras. a dançarina e professora Yagaga Kengaral. “A primeira vez que eu vi Vogue foi em um vídeo da Legendary Iconic Amazon Mother Leiomy 6 6

fazendo uma entrada de jurada no Streetstar 2013. Isso foi em 2016 e eu fazia parte de um grupo de dança. Nós até tentávamos, mas não era nada parecido. Nos envolvemos com outros grupos, aumentamos nossa quantidade, mas mesmo assim a informação era difícil e em inglês. Em setembro de 2017, consegui viajar para competir no BH Vogue Fever daquele ano, na Translumbrante Ball. Nessa Ball (baile/ um evento competitivo dividido em categorias de performance e estética) pude fazer aulas com váries professores maravilhoses e caminhar pela primeira vez, ali vi a [Comunidade] Ballroom de verdade”, conta a artista.

Clique e confira o Instagram da Becha Cearense Ball

Na capital cearense, a Vogue ganhou força dentro da periferia, se tornando símbolo de resistência. “Em junho de 2018 pude realizar a primeira verdadeira Ball de Fortaleza, a Becha Cearense Ball, que aconteceu no equipamento do Cuca Barra. Tivemos a presença de uma Pioneira de São Paulo, Pioneira Mãe Akira Avalanx, que também foi muito importante para a disseminação da informação no primeiro momento”, complementa Yagaga.

Foto: Eduardo Barrosa

“Foi um processo bem difícil, tive que ir atrás de informações em outros estados, muitas viagens aconteceram, e depois de muito tempo traduzindo e praticando, ficou mais fácil passar pra frente e inovar a forma de ensinar e aprender.”

Foto: Jorge Silvestre

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As dificuldades nessa época estavam apenas começando. Além do desafio de obter informação, a pouca idade e a falta de adesão de performers também foram alguns obstáculos a serem superados. “Foi um processo bem difícil, tive que ir atrás de informações em outros estados, muitas viagens aconteceram, e depois de muito tempo traduzindo e praticando, ficou mais fácil passar pra frente e inovar a forma de ensinar e aprender. Tinham poucos [locais para se apresentar], como éramos muito mais jovens, as pessoas não davam tanta credibilidade e confiança nas nossas performances, foi

um caminho de muitas explicações”, conta a professora.

Para a artista, o significado da dança vai muito além da apresentação nos palcos, além de todas as técnicas, figurino e atitude necessária, o estilo é um verdadeiro rompimento de amarras e barreiras. “Vogue por si só é uma movimentação social, por incorporar tantas lutas e história em seus movimentos que são baseados em tantas culturas e corpos. Quando essa dança é criada e protagonizada por pessoas pretas, LGBTQIA e periféricas, quebramos os privilégios e criamos uma nova história.

Mais importante que a própria dança, é a representatividade, as pessoas que criaram devem protagonizar”, pontua.

Para quem se interessou e deseja participar ou conhecer mais sobre a dança Vogue, basta acessar as redes sociais @ballroomceara e @bechacearense. Se você já quer mergulhar de cabeça no mundo da comunidade e aprender cada técnica, é só entrar em contato com Yagaga Kengaral, que atualmente é professora, apresentadora, chanter (como é chamada a MC da Ball), jurada e produtora, pelo @eysoumiranda.

“Quando essa dança é criada e protagonizada por pessoas pretas, LGBTQIA e periféricas, quebramos os privilégios e criamos uma nova história. Mais importante que a própria dança, é a representatividade, as pessoas que criaram devem protagonizar”

Foto: Eduardo Barrosa

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#Coletividade Conheça coletivos atuantes nas periferias de Fortaleza.

Coletivo Dendê de Luta

A página busca divulgar, para a população do bairro Dendê, projetos e atividades que acontecem na região, além de denunciar irregularidades que ocorrem dentro da comunidade. Também tem como foco mostrar a realidade do Dendê para outras comunidades e, assim, firmar interesses em comum e trocar ideias sobre a convivência.

Instagram: @dendedeluta

Casa das Negas A Casa das Negas é um espaço de cultura, valorização e apoio das mulheres, negros e LGBT+ da periferia de Fortaleza, que visa proporcionar formação e conscientização sobre os direitos humanos, sobretudo no que se refere aos direitos raciais e de gênero, buscando formular mecanismos de combate ao racismo, à misoginia e à LGBTfobia, principalmente através da arte e cultura.

Instagram: @casa_das_negas

Coletivo Raízes da Periferia

O coletivo Raízes da Periferia surgiu em 2017, junto ao crescente desejo de resgaste, de uma juventude que luta, que acredita na arte, cultura, educação popular e lazer como ferramentas de transformação e ressignificação de projetos de vida, protagonizando locais de destaque que a todo momento o sistema tende a alimentar que não temos capacidade de ocupar.

Instagram: @cltvraizesdaperiferia 9 9 Todas as informações contidas nessa página foram repassadas pelos próprias perfis.

Clique e confira o trabalho de PretArt

Arte que conecta

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ntre os diversos benefícios que a era digital pode nos oferecer, a possibilidade de conectar pessoas é, sem dúvida, um destaque. Dentro deste cenário a arte também vem ganhando espaço.

Com a impossibilidade de trabalhar presencialmente durante a pandemia, em feiras e exposições, muitos artistas encontraram no meio online uma forma de manter a saúde mental e continuar criando.

com mais de dois mil seguidores, tendo artes espalhadas pelo país e pelo mundo. “As vantagens são múltiplas, desde a otimização do tempo até a economia nos materiais. Na arte digital o único material que utilizo é meu próprio celular e isso traz um custo benefício muito bom”, conta.

Na arte de PretArt, os traços formam rostos e corpos negros que parecem saltar a tela, tamanha é a vivacidade das imagens. Morador do Jardim Cearense, na periferia de Fortaleza, o artista luta para que seu trabalho seja representativo para a arte preta. “Acredito que minha arte seja capaz de atravessar as barreiras da periferia, mas eu não quero que ela atravesse, eu quero que ela seja um espiral, que ela vá da periferia ao centro, e do centro a periferia. Eu quero que ela seja importante pra periferia, que ela seja um movimento de anúncio e denúncia”

Davison Souza, conhecido como PretArt no mundo digital, é artista desde pequeno, e como a maioria dos jovens negros no Brasil, enfrentou dificuldades e falta de oportunidades para ter acesso à cultura e à educação. Mesmo assim, não desistiu do desenho e entrou no mundo das artes digitais através de um aplicativo. Hoje, usando apenas um celular como ferramenta, PretArt retrata a negritude em um página no Instagram 10 10

A ideia de imortalizar, por meio das ilustrações, figuras negras nasceu quando o jovem artista ingressou na universidade. “Comecei a ler e me aprofundar nas questões raciais, fui me “descobrindo negro” como diria a Professora Neusa Souza, e assumi politicamente esse compromisso.

Então, no começo de 2020, nasce o PretArt, um movimento artístico-pedagógico-social-político.

Ele tem a missão de tornar a arte negra, sabe? A arte que nos é apresentada diariamente é uma arte branca, eurocêntrica e com recorte burguês.

O PretArt tem o intuito político de ser um espelho, onde corpos negros possam se ver e ver os seus e as suas como arte”, explica.

Quem também entrou no mundo da arte digital em 2020 foi o colagista e jornalista, Lucas Almeida. Ele é responsável pela página Recortes Enquadrados, que hoje tem cerca de três mil seguidores. O artista estava em busca de uma atividade terapêutica, que aliviasse a ansiedade causada pela pandemia, mas encontrou neste universo uma verdadeira forma de expressão.

“O digital é fundamental em diversos aspectos, seja na criação e na divulgação de um trabalho.

Tem um universo de possibilidades para elaborar uma colagem. Diversidade em elementos, formas e cores. Na internet, consigo captar imagens e transformar no resultado que quero. Isso facilita bastante o processo. Quanto à divulgação, a internet tem o poder de ampliar o alcance. Hoje, através do meu Instagram, tenho conseguido me conectar com pessoas fora da minha bolha. Seguidores de outros estados e países visualizam as minhas colagens. Isso é muito importante, utilizar do digital, das redes sociais, para dar visibilidade ao meu projeto”, pontua Lucas.

“O PretArt tem o intuito político de ser um espelho, onde corpos negros possam se ver e ver os seus e as suas como arte”

As colagens são processos artísticos que usam imagens de cores, texturas, formas e estilos diferentes para criar um novo produto completamente autêntico e diferente. “O processo de criação começa a partir da escolha do tema. Procuro uma imagem que possa representar e vou inserindo elementos secundários que possam complementar a história contada. Cada objeto possui um sentido, nada é somente pela estética. Então, 11 11

Seja no meio virtual ou físico o desejo de ama curadoria dos elementos também é muito importante para compor a obra”, complementa o bos os artistas colidem numa vontade em comum, uma ânsia que é compartilhada por praticamente colagista. qualquer pessoa que busca viver da cultura e da Apesar da possibilidade de se tornar mais arte: ter a profissão reconhecida, com apoio e, sovisto, alguns percalços se tornam mais presen- bretudo, com valorização. tes àqueles que criam online, como é o caso da desvalorização da arte produzida, percebida diariamente no PretArt. “A arte digital é vista como domínio público muitas vezes, e não é! Temos direitos sobre essa arte e ela não pode ser reproduzida sem autorização”, explica o autor da página. Lucas vive o mesmo, e explica que há uma dificuldade de compreender que a obra é produzida em um processo artesanal. “Nem sempre o valor cobrado é bem aceito, pelo fato de ser uma colagem feita à mão, personalizada. Antes, quando eu vendia a obra apenas via e-mail, as pessoas pediam desconto, comentavam que outro artista cobrava mais barato”.

“O digital é fundamental em diversos aspectos, seja na criação e na divulgação de um trabalho. Tem um universo de possibilidades para elaborar uma colagem. Diversidade em elementos, formas e cores.”

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Clique e confira o perfil de Mateus Fazeno Rock

A poesia e o som do Rock de Favela

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Foto: Fernando Maia

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RMA: Mateus, você sempre quis ser artista desde pequeno? Na sua infância já tinha essa ascido e criado na periferia de Fortale- veia artística? za, Mateus teve uma infância repleta de contato Na verdade eu tive mil e um outros sonhos, com a natureza e com a música, grandes inspirações para entrar no mundo da arte. Em pouco mas eu sempre estive vinculado com a música mais de duas décadas vividas, já teve inúmeras desde novo mesmo. O meu primeiro sonho de profissões. Foi garçom, montador e professor de vida da infância, a primeira profissão que eu reforço. Apesar das muitas facetas, se encontrou queria ser era biólogo. Eu amava ser biólogo! músico, poeta, e agora é Mateus Fazeno Rock, Gostava do Globo Repórter, aí eu via os bióum artista que canta sobre a favela ainda esque- logos vindo pra Amazônia, achava incrível. Aí na mesma época, quando eu decidi ser biólogo cida aos olhos da sociedade. ainda criança, o mico leão dourado entrou em Revista Maré Alta: Você cresceu na Sapi- ameaça de extinção. Ai eu pensava: “ah, vão acaranga, periferia de Fortaleza.Como foi a sua bar com os animais. Daqui que eu vire adulto!”. infância lá, quais são as suas principais lem- Mas é isso, aí depois eu acho que eu já quis ser branças? até vigia de condomínio, porque eu achava tudo A Sapiranga é um bairro que fica ali colado ficar na guarita de noite, ouvindo o rádio e vencom a Sabiaguaba, é uma região de mangue do a rua. (risos). também, né? Então eu cresci num lugar que tinha muita natureza. A gente tinha muita relação com o rio. A parte onde eu morava se chama Alecrim. E aí o rolê mesmo é de ter visto a galera aterrar a lagoa pra poder construir condomínios. Eu observei muito essa transição, por exemplo, na minha rua tinha muito pescador e depois todos eles viraram pedreiro, começaram a trabalhar na construção civil. Cresci lá, mas eu saí de lá no ano passado e fui morar no Pirambu. Lá também já curti um Sarau, já estive bem envolvido com outros movimentos de ocupação de praças. E, como toda periferia, a gente convive com mil e uma realidades.

“Eu cresci num lugar que tinha muita natureza. A gente tinha muita relação com o rio. (...) E aí o rolê mesmo é de ter visto a galera aterrar a lagoa pra poder construir condomínios.”

Mas na música… Nos meus álbuns de infância tem muita foto: eu com violão de brinquedo ou com violão de verdade. Meu tio tinha um violão, hoje em dia ele nem sabe tocar, mas tinha aquele rolê dele, de ficar tocando nos bares, com os amigos, tinha um povo lá da rua que fazia uma batucada também, tinha um time de futebol que fazia um samba depois do jogo, lá na frente de casa e eu gostava muito. Meu avô também amava música e ele tinha um amigo fo-

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tógrafo, que todo domingo passava lá em casa e ficava tocando pro meu avô. Aí quando meu tio se casou, se mudou e levou o violão. Então meu avô comprou um violão, ele não sabia tocar nada, mas era pra ter lá em casa pra quando o Sr. Fausto fosse lá tocar violão pra ele. Eles tinham uma amizade de muitos anos.

“Tal hora foi que comecei uns questionamentos: o que eu faço da minha vida?”

E foi nesse violão que eu aprendi. Inclusive, minha mãe é da igreja católica, né? E uma freira me ensinou umas notas. Eu esqueci a música que ela me ensinou, mas os acordes eu nunca esqueci, aí eu comecei a aprender violão. Lá na comunidade tinha um projeto, vivo até hoje, mas não sei o que funciona dentro desse projeto. É uma biblioteca que tinha aula de teclado, canto, violão, flauta e alguns esportes. Aí eu fiz vilão.

Estudei violão na infância, teoria musical durante um ano mais ou menos. Depois eu gostei de guitarra, me desfiz do violão e comprei uma guitarra, depois eu desfiz da guitarra e comprei um violão de novo. No Sarau foi que eu comecei a ter alguma experiência criativa.

que comecei uns questionamentos: “o que eu faço da minha vida?” Aí entrei no curso de Letras, estudei Letras, mas vieram greves, greves e greves. Aí tal hora eu larguei o rolê acadêmico, mas eu já estava na música. Participei de vários projetos, tanto com Sarau, onde lá a gente tinha um projeto chamado Arte no Beco, na Sapiranga.

Era um projeto de percussão e, no último Sarau de cada mês, a gente montava um show, tinha um repertório de música brasileira, nordestina. Foi o meu primeiro exercício coletivo de tocar e de interagir com pessoas tocando, fazendo música numa praça e, por mais que eu tenha tido essas experiências com formação, Por acaso eu entrei no teatro também mui- meu aprendizado com o instrumento também to novo. Um cara que estava se formando na foi de certa forma muito autodidata. primeira turma de de artes cênicas na UFC me Partilhado ali com pessoas que também eschamou para um trabalho em que a proposta era dirigir uma peça com não atores. Aí eu acho tavam no mesmo nível de conhecimento, então que essa foi a minha experiência de teatro. Eu eu acabava escrevendo muita música quando assisti umas peças, gostei de teatro. Tal hora foi criança, adolescente, 13, 14 anos. Aí mais na frente foi que eu fui ter a perspectiva de que é 16 16

exercício ficar compondo, é um trabalho de exercitar essa linguagem. E aí tal hora não tinha mais como, eu já estava trabalhando com música, com teatro. Já fiz peça comercial, já fiz palhaço e já não me imaginava mais fazendo outra coisa. Eu já fui pro busão, já toquei música no busão e sobrevivi com isso durante três anos, tocando e fazendo poesia nos ônibus. Então fui entrando assim. Foi na caminhada mesmo. É impulso, mas é paixão também. Eu ia pra onde eu sentia mais vontade de estar. Já trabalhei com muita coisa. Já trabalhei em mercantil.

Já fui montador de armário daqueles de atacados, com vários andares, já dei aula de reforço, já fui garçom, já fui tanta coisa!

“Eu já fui pro busão, já toquei música no busão e sobrevivi com isso durante três anos, tocando e fazendo poesia nos ônibus.” não voltará”. Então por hora eu me vejo concretizando esses planos, trabalhando com isso para que eles aconteçam e tem sido o máximo, tem feito sentido.

RMA: As suas composições falam muito RMA: E hoje você decidiu que quer seguir como artista ou você também está aberto para sobre a periferia, do que você vê lá. Eu queria saber o que te inspira, dentro da periferia, a o que aparecer? escrever as letras, o que te toca nessa realidaAgora eu tenho sonhos relacionados a esse de? trabalho. Quando eu decidi começar, quando eu Então o Rolê nas Ruínas começa numa persentendi o Fazeno Rock, a partir do álbum que eu estava pensando, que era o Rolê nas Ruínas, pectiva, porque de alguma forma tudo parte de eu comecei a concretizar isso e a ter uma au- mim. Tudo parte do que eu vivencio. E o Rolê tonomia de pensar o momento do show, o mo- nas Ruínas foi um álbum escrito enquanto eu mento de tocar para e com as pessoas. Quan- fazia muitas travessias. Eu, por exemplo, tinha do eu pus esse diálogo no mundo, entendendo um ensaio que acontecia na Serrinha, e pra esse as respostas, ele foi me estimulando a pensar a ensaio o único ônibus que dava acesso da Sapicontinuidade. Então agora eu tenho um plano, ranga até lá era no bairro Seis Bocas. Eu andava já tenho outro álbum pra acontecer, né? “Jesus 16 quarteirões da minha casa até lá toda vez pra Clique e confira o lyric video de Pose de Malandro/Me Querem Morto” no Youtube.

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fazer esses ensaios. Eu comecei a andar muito a pé e, nessas andanças, eu comecei a brotar vários pedacinhos dessas músicas e foi aí que eu fui entendendo também o que era o álbum Rolê nas Ruínas.

Era muito numa perspectiva que eu considero de uma vivência jovem, porque eu acho que é um momento que a galera está correndo atrás pra poder construir a sua vida, pra poder ter perspectiva. Porque em vários momentos quando você é preto, preta, favelado (sem necessariamente também ser preto, que na favela é um movimento misto. Além das pessoas pretas, tem as pessoas indígenas, as pessoas brancas também) a gente se sente sem perspectiva, e com isso tem vários processos.

Uns vão pela fé, outros negam completamente que é de favela. Essa palavra para alguns pode significar uma coisa vergonhosa e aí a pessoa tenta passar uma outra imagem. O que eu entendo também, porque são nesses processos de entendimento que as periferias, as favelas, passam por uma série de violências cotidianas, né?

E é essa falta de estrutura, falta de logística, falta de acesso, todas essas guerras. Que envolvem as pessoas, a gente perde nossos amigos e aí isso entra em contato juntamente com nossos sonhos.

Você tá lá, aí você conquista alguma coisa, mas um amigo seu tá muito mal, muito fodido, tem um preso, tem um que tá adoecido da cabeça, porque passou por processos traumáticos.

Não tem como andar sozinho, você fica sempre querendo que as pessoas do seu lado estejam bem. Então o Rolê nas Ruínas, e tudo que eu tenho feito, eu venho pensando nessa dimensão de estabelecer uma rede mínima de apoio.

“Eu andava 16 quarteirões da minha casa até lá toda vez pra fazer esses ensaios. Eu comecei a andar muito a pé e aí nessas andanças eu comecei a brotar vários pedacinhos dessas músicas” é também quando a gente quer esquecer de tudo, se divertir, ter direito ao lazer e pensar esse lazer que também é criminalizado, é atacado, as chacinas que acontecem, a polícia que acaba o rolê de gente preta.

Desde sempre estive nesse exercício de tocar e de me divertir com isso, viajar e cantar, entender esse movimento, de exercitar ali as palavras, a melodia, como o meu exercício da composição, né? Então, quando eu comecei a fazer as outras músicas do álbum Jesus Não Voltará, eu entendi que ele é um aprofundamento, ou uma outra camada desse mesmo diálogo, que começa pensando corpos em travessia, pensando corpos jovens favelados andando, saindo, e 18 18

Obviamente em vários momentos eu estive totalmente desestruturado e sem conseguir dar qualquer tipo de amparo, nem afetivo, pra pessoas que eu queria que estivessem bem, porque eu estava mal. E é isso que as músicas falam, sobre essa andança, sobre essas travessias dentro da cidade, que elas são físicas no sentido de que a gente pega o ônibus, a gente corre. E não é só sobre o momento de correr pra trabalhar, como

o que acontece no cotidiano desse atravessamento. Esse álbum já é um outro lugar, ele tem muitas histórias reais que eu vivi ou foram compartilhadas comigo e fazem parte da memória de um território que é o bairro onde eu nasci principalmente.

“O funk é presente, música de terreiro é presente, roda de coco é presente e rock eu escuto no fone.”

RMA: Em “Melô do Djavan” você fala sobre ter dificuldades pra gravar seu som. Essa dificuldade enquanto artista, de mostrar para mil reais! Mas é mais fácil do que cem mil reais. o mundo a sua arte, é recorrente?

E mesmo assim tem gente que grava com aquele Existe! Quando eu comecei a fazer esse tra- microfone da igreja mesmo, ruim. E vai fazenbalho, que eu falo Rock de Favela, eu quis jus- do ali sua primeira demo, depois vai juntando tamente fazer esse recorte, fincar uma bandei- dinheiro, fazendo outra. Então eu também cosra mesmo no sentido de localizar esse trabalho turei o álbum pensando em formas de fazer ele dentro de um tipo de linguagem que é o rock. acontecer.

O rock brasileiro é uma cena branca, de gente que tem muito dinheiro, tem acesso aos estúdios.

Gravar um disco com banda é uma coisa extremamente cara e difícil, necessita de estruturas muito específicas. A gente quer trabalhar e fazer as coisas com qualidade. Então esse nome vinha pra colocar esse lugar. E sim, o acesso a estúdios ainda é uma coisa muito restrita, o acesso a bons equipamentos também. Tanto é que atualmente as linguagens mais produzidas por artistas periféricos são o funk e o rap. Entre aspas, né? Eu abro aspas gigante porque a galera faz dança do coco, faz forró... mas eu digo porque a galera se desdobra ali com o fruitloops, um programa de computador onde se produz os beats, e um microfone condensador que custa mil reais? Custa

RMA: Em algumas de suas músicas, como “Pose de Malandro/Me Querem Morto” e até “As Vozes da Cabeça”, você trouxe um mix de batidas, tem um beat, com rap e rock. Essa mistura faz parte da identidade que você está construindo enquanto artista?

Algumas das músicas eu fiz cantando, andando, né? Só cantando, só a voz. Então a melodia é quem me diz que ritmos a música tem. Se eu só cantasse pela primeira vez pra vocês “As Vozes da Cabeça”, é nitidamente uma música de funk, e aí depois a gente pensa na reorganização desses elementos dentro do que seria o arranjo, a prótese musical.

Mas, de qualquer forma, eu acho que eu sou uma pessoa que eu ando, eu escuto todo tipo de música e gosto de festa também. Atrás da minha casa era um baile funk, então o funk é presente, música de terreiro é presente, roda de coco é presente e rock eu escuto no fone. O rock moveu boa parte da minha adolescência, então tem uma energia ali, de timbres e de sonoridade, que eu gosto e que eu identifico como linguagem.

E aí outro entendimento é que eu percebi que eu tô trabalhando dentro de um cruzamento do rock com outras linguagens que eu considero pretas e diaspóricas, de origem de favela também como é o reggae, o funk e o rock.

O rock é uma linguagem que passou por um processo de apagamento gigante, mas os gran-

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des nomes do rock e quem inventou o rock foi gente preta, quem inventou as escalas de guitarra mais clássicas do rock and roll foi gente preta, utilizando as guitarras. Então é favela também, né? Essas pessoas viveram precarizadas, essas pessoas são emergentes do processo de escravidão ali nos Estados Unidos. Por isso que independente se eu estiver cantando algo que seja mais próximo ao funk ou se tiver mais próximo ao reggae eu ainda entendo que tudo aquilo ali faz parte da minha forma de fazer rock, entende? É por isso que é Rock de Favela também, por conta dessas histórias que são articuladas através da palavra e do ritmo.

RMA: Por ter influência de vários ritmos, você tem algum artista que sonha em gravar, fazer um feat?

Toda vez que me fazem essa pergunta eu fico muito sem saber o que responder. Mas eu tenho uma resposta que serve pra esse momento agora (novembro de 2021) pode ser que amanhã já não sirva mais. Mas, recentemente, por conta desses processos, dessas desestruturas, precarização do trabalho e tudo mais, eu estava bem desanimado e aí eu conheci a Alewya, ela é uma gata do Egito que canta inglês e faz rock. E ela é muito foda, desde que eu a conheci, eu quero gravar com ela.

RMA: Recentemente você voltou aos palcos. Como foi esse retorno? Como foi a sensação?

Então, eu fiquei muito surpreso e achei muito massa. Porque quando eu fechei o primeiro show na JamRock não estava nada organizado.

Na verdade minha vida, de forma geral, estava uma bagunça financeira e tudo. E aí eu pensei assim: ah, vou fazer um show e chamar só o Guilherme que faz PA (“Public Address”, refere-se às caixas de som destinadas ao público) pra ele soltar os beats e eu cantar ali. Eu nem ia divulgar muito, só que de repente, tinha muita gente querendo ir, virou uma loucura e lotou.

Ficou muita gente do lado de fora. Só podia entrar 200 pessoas por conta da limitação do decreto, então 200 pessoas ficaram do lado de

“Quem inventou o rock foi gente preta, quem inventou as escalas de guitarra mais clássicas do rock and roll foi gente preta, utilizando as guitarras. Então é favela também, né?”

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fora também. Foi muito louco, a primeira experiência de cantar e as pessoas saberem todas as músicas, cantarem o show inteiro. Se eu calasse, todo mundo cantava, e eu nunca tinha vivenciado isso, foi a primeira vez.

RMA: Quais os projetos para 2022? O novo álbum deve ser lançado?

O álbum vai sair em 2022. Não tenho previsão ainda. A gente fez uma campanha de financiamento, não atingimos a meta, mas com o que foi atingido,conseguimos produzir um clipe pra “Pose de Malandro”, que está pra sair também e foi o dinheiro também pra finalizar a faixa, produzir a capa, enfim, pagar parte das pessoas envolvidas.

A gente quer lançar mais um single e estamos entendendo como é a melhor forma de conseguir finalizar o álbum. Ainda falta gravar algumas vozes, queremos colocar alguns instrumentos, ainda tem todo o processo de finalização, fora isso tem toda a parte da identidade visual, que dá um grande trabalho.

álbum inteiro. Então se for possível, se a gente conseguir articular o dinheiro pra que isso aconteça vai ser um álbum visual, senão vai ser um álbum.

Mesmo só o álbum envolve muita coisa, a foto, a distribuição, precisa de uma assessoria pra gente poder fazer com que ele chegue em mais pessoas. Então a gente precisa que nosso trabalho possa estar chegando em mais gente pra que talvez assim os festivais do Brasil olhem pro trabalho que a gente está fazendo e aí convidem e nos levem, porque precisa circular. A gente precisa circular pra que outras pessoas possam circular, entendeu? Não tem como a gente ficar só tocando em Fortaleza, né? Tem todo um ciclo de artistas aqui fazendo mil coisas, então precisa que esse movimento aconteça.

Temos um projeto, que vai depender de muitas coisas pra saber se ele vai acontecer ou se a gente vai adaptar ele pra outra estrutura. Que é um plano desse álbum ser visual. Um clipe, inclusive, é parte de um roteiro que compõe o

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VIVÊNCIA Rolê fotográfico

Foto: Luiz Alves

Ana Vitória Almeida*

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credito que existem várias formas de ver a cidade. Uma delas é por meio da fotografia, pela arte dos registros de um local. Nem sempre como turismo, mas como experimento de um lugar.

Partindo dessa ideia, decidimos seguir o rolê fotográfico, uma experiência onde exercitamos um outro olhar para a cidade, por meio das lentes das câmeras. O rolê parte de uma collab, quando ainda nem se usava essa palavra. Um guia local e um fotógrafo se unem para mostrar as periferias para as pessoas que desejam fazer registros e ensinam também princípios básicos da fotografia.

O rolê tem início em um ponto de encontro pela cidade e segue depois para o bairro desejado para esse diálogo entre as câmeras, os guias e os espaços. Hoje acontece tanto no Titanzinho como também no Poço da Draga. Gandhi, o responsável pela criação desses eventos nas periferias, conta que são dois estilos diferentes.

Apesar de terem o mesmo propósito, cada comunidade tem suas particularidades.

Nossa experiência teve a comunidade do Titanzinho como palco, recepcionado por Gleison Cruz, guia local, e o fotógrafo Cartola, também morador do local. Ele conta que, quando iniciou seus registros na comunidade, os próprios moradores não acreditavam que era o local onde eles moravam. Ele ressaltou por meio de um olhar delicado e artístico o quanto de beleza tem neste espaço da cidade.

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Muito conhecido pelos que não frequentam por ser uma região perigosa, o espaço é tranquilo e rodeado de muita arte, como contam o Gleison e o Cartola. Tem grupo de teatro, turismo, surf e grandes saraus de música no famoso Farol, pelo menos era assim que acontecia antes da pandemia. Quando tudo voltar ao “normal”, já existem planos para novos grandes shows com artistas.

Essa vivência nos faz sentir a grande diferença entre a contemplação e a valorização do espaço durante o rolê e de quando se está numa viagem. Aqui o tempo fica mais dilatado em cada pequeno espaço, a câmera te envolve com detalhes por minutos. Não é uma simples passagem de conhecer e pronto, é sentir o que cada espaço e acontecimento ali traz para ser registrado.

“Aqui o tempo fica mais dilatado em cada pequeno espaço, a câmera te envolve com detalhes por minutos.”

Saiba mais:

Rolê Fotográfico Experiência na Fotografia de Rua em Fortaleza Organizador: @gandhiguimaraes Guia Titanzinho: @gleisoncruz37 Siga no Instagram: @rolefotografico.br

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[ENSAIO]

Ginger Grace

r(existir) Por Jerônimo Neto A exposição (r)existir” é uma forma de resiliência do atual momento que vivemos, aos discursos proclamados contra a classe LGBTQ+, de um líder conservador e autoritário. A (r)existência desses registros configura como forma de resistência ao processo de higienização e purificação do ser “gay”.

As fotografias dissolvem os padrões héteros-normativos patriarcais de um “cis-tema” autoritário e opressor que se baseia num comportamento mecânico dos indivíduos para marginalizar os que não se encaixam nessa norma.

(R)existir para residir. (R)existir para progredir e tornar os direitos humanos mais igualitários numa sociedade mais justa.

Betha Houston

24 Todas as informações contidas nessa página foram repassadas pelo artista.

Yasmin Salvatrix

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Yasmin Salvatrix

Tchaka

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Silvero Pereira

Sobre o artista Jerônimo Neto é fotógrafo profissional desde 2017. Ao longo de 6 anos já atuou na fotografia artística, eventos, teatral, publicitária, fotojornalismo, skill e audiovisual.

Já expôs em centros culturais , exposições coletivas e galerias da cidade de Fortaleza, destacando a galeria Multiarte, Centro Cultural Dragão do Mar, Porto Iracema das Artes, Mostra ICA/UFC, Salão de Abril e Centro Cultural Grande Bom Jardim.

Confira o Instagram do artista: @jeronimonetofoto 27

Acessa aí!

Confira a nossa curadoria de apresentações, shows, podcasts e muito mais! Aproveite os trabalhos dos artistas clicando nas imagens desejadas.

A poética visual da (Des)esperança Criada pelo artista Jansen Lucas, a obra (Des)esperança fala sobre a confusão mental e o desespero que se passa na cabeça de alguém ansioso/depressivo ao se sentir abandonado. Nas artes digitais, Jansen utiliza um contraste entre imagens em preto e branco e elementos com uma paleta de cores vivas.

Trabalho disponível no Instagram: @byjansen

A beleza na arte de Demeilson Ferreira Artista cearense, Demeilson Ferreira apresenta em seus trabalhos a vida sertaneja e cotidiana com objetivo de preservar as tradições nordestinas. Busca através da arte tocar as pessoas e alcançar expectadores com as belezas retratadas nos trabalhos.

Na trajetória artística adquiriu um estilo próprio mostrando técnica, originalidade e temática regionalista. Desde 2001 tem como missão proporcionar uma viagem em memórias afetivas, através das tradições nordestinas contidas nas belezas da vida sertaneja. Tem como inspiração grandes artistas cearenses, como Raimundo Cela e Afonso Lopes.

Trabalho disponível no Instagram: @demeilson_artes

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Tyanhaguaba O artista Enejaru lançou o EP Tyanhaguaba, que carrega consigo uma mistura entre ritmos ibiapabanos e elementos do Hip-Hop, utilizando-se de técnicas de samples para referenciar os trabalhadores da música local, gravações analógicas, e desenvolvimento de letras com músicos da cena musical da Serra da Ibiapaba.

Clique na imagem e confira o EP disponível no canal do Youtube.

Instagram: @enejaru Foto: Diego Moreira

A Tardinha A Tardinha é um selo de lançamento de set’s, remixes, bootlegs, mashups e tracks de música eletrônica. É também um evento onde Djs residentes e convidados se apresentam. Tem como objetivo a fruição e valorização da música eletrônica, produção musical local e do trabalho do DJ. A ação acontece mensalmente no Crato.

Para mais informações, acesse o instagram: @gvaraofc | @tardinhafesta

Brilho Oculto Lançamento do poeta e compositor, Neto da Paz, a canção “Brilho Oculto” fala da superação de um anjo, que, mesmo com as asas quebradas, não desiste, uma vez que ainda acredita que existe amor.

Neto da Paz é do cenário underground e da resistência cultural, com poesias e músicas de protestos, romances e fantasias.

Clique na imagem para ouvir a música Instagram: @netodapaz_poesia

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Single Pegue Viagem O single “Pegue Viagem” - Orlângelo feat. Léa Katharina foi uma das 12 finalistas no II Festival de música de Fortaleza. Uma composição de Orlângelo e Artur Braga, seu filho. Os arranjos e produção musical ficaram por conta de Pepeu e Thiago Almeida. A capa foi produzida por Alice David.

Escute na sua plataforma preferida e embarque nessa trip.

Disponível nas plataformas digitais Instagram: @orlangeloleal

Projeto Bocas De autoria da atriz Nathalia Fiuza, o projeto “Bocas” é pensado como uma forma de transbordamento do corpo pela boca. A boca que fala, que sente, degusta, ama, julga e é julgada.

Pela boca vermelha transbordam os sentimentos de um corpo inteiro, um corpo feminino, um corpo que se relaciona com a boca.

Clique na imagem para conferir a performance no Youtube Instagram: @comfiuza

Foto: arth3mis

VEM AÍ Enunciado - É sal ou é cena?

“Pega a visão, não é apenas sobre fazer uma dança, mas é também considerar de onde partimos, nossas corporeidades, as oralidanças, onde somos encontro. Pé no chão, no pé da mão, pé de dança. Eaí, população!? É sal ou cena?”

Disponível em breve Informações: @umartistaperiferico ou @eai_populacao 30 30

O teatro na periferia-palco Foto: Acervo do grupo

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eja com as tradicionais apresentações católicas da “Paixão de Cristo”, reisados ou maracatus nas festas de Carnaval, o teatro, em suas múltiplas possibilidades, se faz presente nas periferias há gerações, sendo meio e forma de expressão da comunidade. Para muitos, o início de uma carreira artística é ambientado nessas manifestações, como é o caso do ator Henrique Gonzaga, que conheceu a teatralidade a partir de uma apresentação cultural realizada na festa da padroeira no local onde morava.

Clique e confira a página do grupo Nóis de Teatro

taleza. O grupo começou no bairro Granja Portugal, com os participantes ainda adolescentes, enfrentando a ausência de políticas públicas e falta de recursos, realidade de muitos outros artistas na cidade. “Não só para a gente, como para a grande maioria dos grupos, a dificuldade ainda hoje é a possibilidade de manter um trabalho continuado. Os investimentos em arte e cultura estão cada vez mais escassos, a gente tem uma política federal hoje de sucateamento, com a destituição do Ministério da Cultura, o sucateamento de várias entidades que trabalhavam e fomentavam cultura no Brasil, e isso reflete na gente”, conta.

Henrique é professor, produtor e integrante do Nóis de Teatro, coletivo que, em 2022 comO artista ressalta ainda que o estereótipo pleta duas décadas de história atuando em For- carregado pela periferia, sendo midiatizada 31 31

“Não é fácil fazer teatro no Brasil, muito menos fazer teatro na periferia. Durante muito tempo a gente ouviu que era um grupo amador, que não se sustentaria muito, tudo isso foi se desmistificando durante o tempo.”

Foto: Caroline Sousa

apenas pela violência, torna a atuação ainda mais complexa. “Não é fácil fazer teatro no Brasil, muito menos fazer teatro na periferia.

Durante muito tempo a gente ouviu que era um grupo amador, que não se sustentaria muito, tudo isso foi se desmistificando durante o tempo. Trabalhamos pela periferia como um espaço de potência de criação, potência de poética, potência de mobilização social, mobilização política”.

As adversidades do trabalho cultural na periferia também afetam Natália Fiuza. Apesar de sonhar desde pequena em fazer arte, a atriz começou nessa carreira há pouco mais de cinco anos. Moradora da Lagoa Redonda, um dos bairros mais afastados dos espaços culturais centrais de Fortaleza, a artista conta que já teve que fazer trajetos que duravam mais de duas horas para ter acesso a cursos ou realizar apresentações.

Foto: Magno Rodrigues

“Um dos maiores desafios que eu vejo como artista de periferia é que é muito difícil chegar equipamentos qualificados na periferia”, desabafa. “Muita galera da periferia precisa trabalhar e estudar ao mesmo tempo, se é artista da periferia algumas portas já nascem fechadas pra você. Nós temos esse deslocamento, o tem32 32

“Dentro da periferia existem várias pessoas extremamente potentes mas que não tem espaço para serem potentes.”

Clique e confira a página de Natália Fiuza no Instagram

po, o cansaço físico e o que a gente gasta até estar nos lugares centrais. Nesses lugares que, muitas vezes, são tirados de nós”, complementa.

Natália faz parte de um grupo teatral formado por mulheres chamado Coletivo Cabeça, e lamenta a perda de possíveis talentos para as dificuldades impostas a quem tenta viver de arte na comunidade. “Dentro da periferia existem várias pessoas extremamente potentes, mas que não têm espaço para serem potentes.

Eu fico muito triste quando eu vejo que várias pessoas que têm uma capacidade enorme de fazer trabalhos muito massa são simplesmente

Foto: Mateus Falcão

apagadas por falta de divulgação, falta de espaço, pelo cansaço do corpo, do artista, por falta de grana, isso muitas vezes nos faz perder nomes que poderiam ser extremamente grandes”.

Apesar dos obstáculos permanentes, a periferia se ergue contra tudo e contra todos. Cria, produz, constrói e ressurge constantemente, se mantendo firme como símbolo de representatividade. Henrique permanece otimista por um cenário de mais respeito e valorização cultural. “Eu acredito que não só o teatro, mas a arte em si é um espaço de resistência nas periferias, ela tem essa potência de mobilização, de discussão sobre a realidade, sobre o espaço que esses artistas ocupam”, conta.

“A nossa luta, a partir do que a gente faz, está em poder habitar uma cidade que os nossos corpos, em maioria pretos, LGBTs, mulheres, possam estar seguros. Hoje nós temos uma cidade, um estado, um país que não é seguro para nenhum desses corpos. Nós somos os corpos mais eliminados dentro da estrutura.

Nosso trabalho é em busca de destituir a forma opressora que o estado intervém nos nossos corpos e quem sabe, o nosso sonho é ainda poder habitar uma cidade segura pra gente”, finaliza o ator.

Foto: Mateus Falcão

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Vitrine @martelo_atelie

Antonio de Pádua de Oliveira é artesão e trabalha há cerca de 20 anos com foco em materiais em couro e madeira. Realiza criações cenográficas e figurinos para espetáculos, grupos teatrais e performances urbanas.

@eu_marcosdesa

O escritor e educador social Marcos de Sá lançou o livro Reciclável - Acomode-se ou Recicle-se.A obra trata de um romance contemporâneo onde mostra um adulto na crise dos 30 tentando se encontrar no mundo. O livro está disponível para compra na Amazon e na Livraria Lamarca (Benfica).

@rafa.ela.leite

Escrito pela jornalista Rafaela Leite, o livro-reportagem “O Leito das águas “ traz um relato jornalístico sobre duas gerações de mulheres — uma mãe e nove filhas — de Paraipaba. A narrativa se constrói ao longo de nove capítulos, que se conectam conforme as personagens são apresentadas. Em breve pré-venda da obra no Instagram da autora.

@vanessiagomes

“Cicatriz - Desmontagem de uma Trajetória Cênica em Teatro de Rua” é um livro sobre processos de criação em teatro, em que a atriz Vanéssia Gomes compartilha memórias traçadas na sua trajetória artística de mais de duas décadas. A pesquisa que resultou em publicação aconteceu no Mestrado em Artes do Instituto Federal do Ceará.

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