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Vieira da Cunha

Pré-candidato ao governo do RS

Entrevista: Lucio Vaz e Voltaire Santos Introdução e legendas: Jennifer Nunes Edição: Patrícia Poitevin

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Seria o nome de Vieira da Cunha, a terceira via no Rio Grande do Sul? Tido como um nome que paira acima das diferenças ideológicas, Vieira da Cunha é uma figura carismática, querido por todos os outros personagens do teatro público rio-grandense. Nesta entrevista exclusiva ao programa Em Evidência na TV (RDC TV sábados e domingos, às 19 horas), o pré-candidato ao governo do RS, soltou o verbo e num discurso contundente foi incisivo em relação à postura de oposição do seu partido aqui no sul, Confira a seguir, alguns momentos desta entrevista reveladora

Por que o senhor escolheu o PDT para trilhar o seu caminho na política?

Eu sou um trabalhista, quando decidi o meu caminho era ainda muito jovem. Eu tinha 21 anos de idade, quando me filiei ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), meu primeiro e único partido, são mais de 40 anos de filiação. Resolvi tomar esse caminho pela identidade com um líder gaúcho, chamado de Leonel de Moura Brizola. Eu gosto de história, de ler e conhecer o que aconteceu no nosso estado. Aquele episódio da Legalidade, em 1961, sempre me chamou a atenção, porque foi o momento em que o Rio Grande se uniu em defesa daquilo que temos de mais precioso, que é a democracia. Brizola se preparava para voos mais altos, quando veio a ditadura militar, em 1964. Ele passou 15 anos no exílio, quando retornou, eu era presidente do Centro Acadêmico André da Rocha da Faculdade de Direito da UFRGS. O Brizola veio ao nosso convite, falar num Seminário, promovido pelos estudantes e eu era o coordenador deste evento. Ele contou que tinha a missão de refundar o PTB e que gostaria que os jovens assumissem o protagonismo no partido. Nos convidou para ingressar no então PTB, depois PDT. Houve o episódio da sigla do PTB, que foi para a Ivete Vargas, portanto ele fundou o PDT. Naquela palestra do Brizola, eu me identifiquei plenamente com o trabalhismo, tudo o que ele falava, era o que eu acreditava, começando pela prioridade à educação.

O senhor defende que a educação é a base para todas as mudanças que o Estado precisa enfrentar. Quais os planos para o setor?

Esse é o caminho, todos os países do mundo que deram um salto de desenvolvimento foi porque investiram numa educação pública de qualidade. É isso que eu quero para o nosso Rio Grande, um estado que já foi referência nacional em educação. Hoje, todos os indicadores o colocam numa posição vergonhosa, no que diz respeito aos índices educacionais. Eu fui secretário de Educação, no governo José Ivo Sartori e conheço essa realidade, sei o que fazer e como fazer. As pessoas me perguntam, porque que não fiz, quando fui secretário. Primeiro, porque o governo não era nosso, nós estávamos participando de um governo que tinha as suas prioridades. Segundo, foi que fiquei apenas um ano e meio. Em terceiro, a situação que o Estado atravessava na época era de uma profunda crise financeira e o governo colocou o equilíbrio financeiro como sua prioridade. Fizeram com que eu deixasse precocemente o cargo, exatamente porque não encontrei o ambiente necessário para que nós pudéssemos implementar as políticas públicas na área da educação. Mesmo assim, nós elevamos o número de estudantes em tempo integral, no estado do Rio Grande do Sul, de 9.900 para 20.000. Quando eu assumi, em janeiro de

Nós temos que fazer Concurso Público, porque só através dele, que nós podemos recrutar na sociedade de maneira democrática, as melhores cabeças para a missão de ensinar

TERCEIRAS VIAS Assim como Ciro Gomes, Vieira da Cunha aposta sua candidatura numa maioria que ainda não se decidiu no RS

2015, havia um pouco mais de 40 escolas funcionando em tempo integral. Quando eu deixei o cargo eram mais de 100 escolas. Mesmo com todas as dificuldades, nós implementamos a política para que houvesse essa escola revolucionária. Agora mesmo, saiu um estudo dizendo que reduziu a violência nas regiões onde foram implantadas as escolas de tempo integral, em Pernambuco. Foi feita uma pesquisa, ao longo de 15 anos, acompanhando o Índice de Violência, que diminuiu muito nessas comunidades, porque a criança que fica o dia inteiro na escola vai ter toda a assistência. A proposta do Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) não é só uma educação formal, mas toda uma proposta pedagógica, para que a criança tenha: esporte, lazer, recreação, dentista, médico e o segundo professor. Eles implementaram essa escola que eu quero implantar aqui no Rio Grande, começando pelos nossos bolsões de pobreza, que existem no nosso estado, porque cada CIEP é uma escola que tem capacidade de mil alunos, são mil crianças que eu tiro do caminho do crime, do mundo das drogas e resgato socialmente. Claro, que a pandemia fez com que o abismo que existe entre aqueles que podem estudar numa escola particular e os que estão na rede pública. Esse abismo é muito profundo, nós temos um desafio de fazer com que a qualidade do ensino da escola pública seja tão boa, ou melhor do que na rede privada. Isso é possível, porque os países que investem em educação pública mostram que a diferença é muito pouca.

Qual a importância de fazer Concurso Público no Estado?

Uma das causas, para que deixasse a Secretaria precocemente no governo Sartori, é que o governador não autorizou realizar Concurso Público. Não é possível que o governador todos os anos vá à Assembleia Legislativa para pedir a autorização para fazer contrato emergencial. Nós temos que fazer Concurso Público, porque só através dele, que nós podemos recrutar na sociedade de maneira democrática, as melhores cabeças para a missão de ensinar. Poucas missões são mais importantes do que a do Magistério, porque o professor na sala

PARA RESGATAR O PROTAGONISMO TRABALHISTA Além de almejar o Piratini, Vieira carrega consigo a missão de recolocar o PDT no protagonismo político gaúcho. Para isso conta com a retomada de cadeiras no Parlamento Gaúcho

de aula está preparando as futuras gerações. Nós temos que ter um professor valorizado, respeitado e bem remunerado. Quando eu fui secretário, a relação com o CPERS foi de muito respeito e diálogo, enfrentei uma greve que terminou com um aperto de mão, porque realmente valorizamos e respeitamos a carreira do professor. Nós precisamos fazer Concursos Públicos, para professor e servidor de escola inclusive. Com isso, vamos oxigenar os recursos humanos e fazer com que o professor tenha uma identidade com a instituição. Nós queremos que ele possa fazer uma carreira, ter perspectiva de ascensão, abrace a escola e a comunidade se envolva.

Qual a sua posição, quanto às privatizações?

O governo Britto vendeu um terço da área de distribuição da Companhia

Estadual de Energia Elétrica (CEEE), arrecadou bilhões e o dinheiro não resolveu absolutamente nada dos problemas financeiros do Estado. Nós ficamos com uma CEEE inviável, porque ele privatizou e as empresas privadas que assumiram ficaram com o filé. A parte pública que restou é como uma carne de pescoço, ou seja, todas as dívidas trabalhistas ficaram com ela. O governo atual, quando vendeu, disse que ela é inviável e deficitária. Lá atrás, quando privatizaram, entregaram dois terços para a iniciativa privada e deixaram todos os ônus para a pública. O Banrisul é outro exemplo, deu agora no primeiro trimestre 164 milhões de reais de lucro. Para onde vai esse lucro se o banco é público? Vai para o Estado que é o acionista majoritário, para que ele possa investir nas necessidades da população. Então o que justifica essa sanha privatista? Não é porque a empresa é privada que funciona sempre bem e a pública mal. A empresa pública funciona mal, com governos incompetentes, que colocam gestores que não sabem administrar. Modéstia à parte, quando eu presidi a CEEE, ela se transformou numa empresa superavitária, porque administramos de uma maneira eficiente e a empresa apresentou resultado. Agora, venderam a CEEE e assumiu um grupo privado. No primeiro temporal, as pessoas não tinham nem para quem reclamar. A tarifa foi para cima e o serviço piorou de qualidade. É o que nós estamos testemunhando na área de energia e não queremos que isso aconteça na área de saneamento, por isso que também a minha opinião é contrária, água e energia são bens públicos essenciais e eles são monopólio pela própria natureza.

Muito se fala sobre o endividamento da máquina pública, comente sobre o endividamento do Estado.

Esse é um dos temas chaves da nossa campanha. Será pela simples razão de que o atual governo resolveu assinar um acordo com a União, que particularmente considero altamente lesivo aos interesses do Estado. Nós estamos comprometendo os dois próximos governos, sem saber qual será a visão dos futuros governantes sobre o tema. Eu assino no apagar das luzes do meu período um acordo, que vai comprometer os próximos nove anos, isso não é ético, para começar. Se fosse um bom acordo ainda vai, mas foi um mau acordo, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), secção do RS. A dez anos atrás, ela entrou com uma ação na Justiça, contestando o montante da dívida. Faz dez anos que essa ação tramita, há inclusive um estudo técnico nos autos desse processo, cuja relatora no Supremo Tribunal Federal é a ministra Rosa Weber. Esse parecer técnico diz que se a dívida não está paga, resta um saldo pequeno a pagar, foram impostas taxas de juros inaceitáveis e indexadores draconianos. No primeiro minuto, eu contestarei, se necessário judicialmente. Não é possível que se pratique contra o Estado do RS como se fez, um juro maior que se impõe a um empresário privado, quando vai tomar um financiamento no BNDES, por exemplo. Está tudo errado, nós vamos contestar e não é bravata. Tu tens que defender os interesses do teu Estado.

As pesquisas mostram que 80% da população ainda não decidiu quem será o seu candidato ao governo do Estado. Como o senhor analisa o cenário eleitoral?

As convenções sequer foram realizadas, a lei eleitoral diz que o período da Convenção ocorre entre 20 de julho e 05 de agosto. Ali os candidatos são escolhidos. Então, muita água vai rolar debaixo dessa ponte. Claro, que as pesquisas neste momento são um retrato de um determinado momento da disputa, mas a maioria do povo ainda não está ligado na eleição, vai se ligar quando começarem as propagandas eleitorais no rádio e televisão, na segunda quinzena de agosto. Eu não me assusto com esses primeiros índices das pesquisas, pois a nossa rejeição felizmente é muito baixa. Além disso, todas as pesquisas mostram que de cada dez entrevistados, oito não têm candidato escolhido ainda. Vamos para a luta e para o debate. Eu me sinto preparado para disputar essas eleições, já fui candidato em 2014, não é novidade para mim essa disputa. Eu espero que seja um debate qualificado, que nós possamos evitar ofensas pessoais, porque a nossa política hoje está muito polarizada, há muito radicalismo. As pessoas não estão abertas para ouvir, raciocinar, interagir e respeitar o pensamento do outro, isso é democracia. Eu também tenho um propósito, governar com todos e todas as forças políticas serão chamadas, independentemente de opção ideológica. Eu construí ao longo da minha vida relações em todos os campos, de respeito recíproco, tanto na esquerda, quanto na direita e acho que o nosso Estado está precisando de uma união de forças, que nós coloquemos nossas divergências num segundo plano e como foco vamos recuperar nosso Estado. Precisamos de um governo que não atrapalhe, pelo contrário, que exerça o seu papel de indutor do processo de desenvolvimento tanto econômico quanto social.

Quais são as suas considerações finais?

Eu estou preparado para exercer essa honrosa missão de governar o Rio Grande do Sul. Estou encarando essa eleição com uma grande oportunidade para que nós possamos fazer no Estado do RS, aquilo que precisa ser feito, qualificando a nossa educação, os nossos serviços de saúde e de segurança. Constituímos um grupo de trabalho com técnicos preparados, que são coordenados por um professor e doutor da UFRGS, Christian Velloso Kuhn e estamos aprofundando o diagnóstico dos problemas do Estado e estaremos oportunamente, ao longo da campanha eleitoral, apresentando as nossas propostas para que o nosso RS possa crescer, se desenvolver e voltar a ser aquele Estado que sempre foi motivo de orgulho para todos nós gaúchos.

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