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Comandante Nádia

O que pensa e quais os anseios da primeira mulher a se tornar Comandante no RS

Entrevista: Lucio Vaz e Voltaire Santos Edição: Patrícia Poitevin

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A última notícia, que sacudiu o tabuleiro da corrida ao Senado, foi que a Manuela d’Ávila não seria mais candidata, como isso modifica o cenário?

Todas as peças ainda não estão colocadas e ainda tem muita mudança para acontecer, que é o último dia das convenções. Os partidos estão tentando se organizar em coligações, com os seus candidatos à majoritária, uma vez que os candidatos das proporcionais estão postos. Ainda temos algumas lacunas, seja para vice-governador, vice-presidente da República e até mesmo para o Senado, que tem muita especulação, em nome de várias pessoas. A desistência de Manuela d’Ávila era algo que já vinha sido conversado, uma vez que o PCdoB tem interesse em formar ban-

cada e isso significa ter um puxador de votos. Se ela for candidata à deputada federal ou estadual, a tendência é de que traga outros candidatos a serem eleitos. É sempre bom lembrarmos, que a Manuela nunca teve êxito em uma eleição majoritária. Ela não está em nenhum cargo eletivo e muito tempo fora dos mandatos, isso também deixa um candidato mais fragilizado, a partir do momento em que não tem um trabalho contínuo dentro da política.

Sob o ponto de vista de ter candidaturas no mesmo campo ideológico, por exemplo, a sua candidatura junto com a do atual vice-presidente Hamilton Mourão. Como comunicar para o eleitor que já é identificado contigo, mas que também se identifica com o Mourão, a sua opção ao seu Senado?

São muitos compromissos, nós temos andado mais do que nunca pelo Rio Grande do Sul, conversando com as pessoas, sentindo as dores delas e nos colocando em seus lugares, como sempre fiz na Brigada Militar. Sou a criadora da Patrulha Maria da Penha, fui diretora de Justiça do nosso estado e secretária Municipal de Desenvolvimento Social de Porto Alegre. A política apenas fez com que desse continuidade ao trabalho de proteção do povo gaúcho, do combate à criminalidade, com um outro olhar e outra perspectiva. Eu concordo que o General Mourão está no mesmo campo ideológico, mas nós temos características totalmente diferentes. Eu sou gaúcha raiz, nascida, criada e vivida. Trabalho, casei-me, tive os meus filhos no Rio Grande do Sul, minha vida toda é aqui. Sou contra o aborto e armamentista. Eu tenho convicção de que as pessoas de bem, o cidadão que preenche todos os pré-requisitos de estar de acordo com a lei, deve ter o seu armamento, é um direito constitucional de nos defender a si, a família e a propriedade. Tenho certeza que a partir dos debates, conversas e quando os programas eleitorais começarem a ir para a TV, cada eleitor poderá fazer a sua melhor opção. DE VEREADORA À SENADORA? Na disputa considerada mais acirrada, a Comandante Nádia conta com a força do Progressista no interior, somada ao seu patrimônio eleitoral na Região Metropolitana

O Progressistas é um partido municipalista, hoje ele é o que mais elegeu prefeitos e vice-prefeitos aqui no RS. O PP acerta justamente ao fazer esse casamento entre o fortalecimento do interior com nomes extremamente relevantes na capital, que é o caso da senhora. Isso pode trazer ao partido uma popularidade maior aqui em Porto Alegre?

Eu sou gaúcha raiz, nascida, criada e vivida. Trabalho, casei-me, tive os meus filhos no Rio Grande do Sul, minha vida toda é aqui. Sou contra o aborto e armamentista

O Progressistas é um dos maiores partidos aqui do RS, conta com 147 prefeitos, mais de 120 vice-prefeitos, em torno de 1.200 vereadores espalhados pelo estado. Desde sempre foi de direita. Apoiou o Bolsonaro, foi a favor da família, polícias, armamento, liberdades, empresários e do trabalho digno para o cidadão. Ele efetivamente tem raízes fortes no interior. Eu tenho falado bastante, em alguns vídeos, que não gosto do nome cidade, gosto de município. O Município é aquela coisa mais acolhedora. Quando nós falamos neles, falamos exatamente naquilo que o Bolsonaro tentou e ainda está tentando fazer, que é “mais Brasil e menos Brasília”. Naquela ideia de que o que é produzido dentro do município, tributos e impostos não podem ir todos para Brasília. Depois os prefeitos ficam passando o chapeuzinho para retornar com migalhas daquilo lhes é de direito. Então, é importante fazer esse casamento com o Heinze, que é uma pessoa muitíssimo ligada ao agronegócio e reconhecido no interior do estado, com uma vereadora da capital, que é o meu caso. Nasci no Beneficência Portuguesa, morei a minha vida toda no bairro da Glória, num local muito simples, onde a rua não era asfaltada, no morro perto da Intendente Alfredo Azevedo. Estudei em escola particular, mas porque eu era bolsista, senão meu pai, sargento da Brigada Militar, e a minha mãe funcionária da CEEE, não teriam condições de pagar um estudo particular para mim. No ensino médio fui para uma escola do Estado, ou seja, vivi a minha vida toda aqui. A experiência que a Brigada Militar me deu, em poder conhecer os municípios do interior, não tem preço, porque isso te mostra o quanto de potencial tem cada região do nosso estado.

Quais são as vantagens e desvantagens da polarização?

As pessoas dizem que agora está tendo polarização, acredito que sim, porque nesses 14 anos, em que o PT esteve no governo do Brasil, a direita aceitou a democracia, não ficava fazendo comícios nas ruas, brigas, disputas e xingamentos. A direita aceitou que a democracia havia colocado pessoas de esquerda no governo federal. A partir do momento que é colocado um presidente de direita, começou a polarização, porque a esquerda não aceita que alguém de direita esteja no poder. A eleição ainda vai ser polarizada, não acredito em terceira via, as pessoas não estão mais em cima do muro. Eu me lembro de uma pequena história, que retrata o momento atual. Um homem em cima do muro, olhando para um lado onde tinha um anjo chamando e do outro um demônio, com o bracinho cruzado e parado. Chega uma quarta pessoa e pergunta para o demônio, porque ele está parado, enquanto o anjo está fazendo campanha. O demônio olha e diz: “Eu não preciso fazer nada, porque o muro já é meu”. Quem fica em cima do muro não escolhe um lado e tu tens que escolher um. Ter alguém que te represente, naquelas pautas que te são mais caras. Ficar em cima do muro, é como deixar um cheque em branco para outras pessoas decidirem por ti. Aí vai uma dica, não vote em branco, não anule o teu voto, porque ele é muito importante. Para aquelas pessoas que dizem que não gostam de política, eu digo para começar a gostar ontem, porque ela muda a tua vida pessoal e profissional. A política tirou a possibilidade de as pessoas terem os seus armamentos, mesmo com o referendo, em que os brasileiros disseram que não queriam entregar as suas armas. Num governo que era dito popular e democrático, do Lula e da Dilma, mas que iniciou com Fernando Henrique Cardoso. Mesmo com a maioria democraticamente, dizendo não, por uma decisão política, as armas foram retiradas do cidadão de bem. Então, a política deve ser tratada como algo muito sério, porque a propriedade privada das pessoas podem também estar correndo risco e clubes de tiro também. Tem candidato à presidência, que está dizendo que vai acabar com os clubes de tiro, porque quer fazer mais clubes de livros. Eu também quero mais clubes de livros, mas uma coisa não é excludente da outra.

Como a senhora vê a participação da mulher na política para a eleição deste ano?

Em 2016, eu assumi pela primeira vez, como a primeira mulher, um Batalhão da Polícia Militar no nosso estado, que também foi uma referência, assim como na política. A mulher tem estado em locais diferenciados e isso é importante. Outro dia, eu estava lendo um artigo pelos 250 anos de Porto Alegre, que fazia uma menção muito dura e crítica de que existiam poucas ruas e praças com nomes femininos na capital. Hoje como vereadora, eu sei que nome de praça ou rua tem que ser de uma pessoa que morreu e independente se for mulher, homem, branco ou negro, que tenha realizado um trabalho

HÁ TEMPOS EM EVIDÊNCIA Apresentador do Em Evidência na TV mostra matéria da Revista Em Evidência que entrevistou a primeira Comandante da BM no RS

de destaque público. Nós vemos que ao longo dos anos, as mulheres não se envolveram tanto com o público, mais com o privado e por isso não temos tantos nomes de mulheres, em ruas. Daqui pra frente vai mudar, porque ela está se envolvendo com o público e isso não é um demérito, é uma realidade de construção. Não sou nenhum pouquinho feminista, daquelas que acham que tem que ter mulher a todo pano, só porque é mulher. Eu sou pela pessoa, que trabalha, tem conhecimento, se qualifica e que chega em espaços de administração, presidência e poder, pelo seu trabalho. A mulher está abrindo o seu espaço na política, um pouco tímido, ainda por conta da proporcionalidade, desse quociente de 30%. Eu sou contrária a essa cota, porque nós mulheres não precisamos de cotas e negros também não. Eu acredito que a cota faz um preconceito muito maior. Eu estou eleita na Câmara de Vereadores, com 11.172 votos, a quarta mais votada de 36 e tenho certeza que não é por ser mulher, mas é pela minha competência, história e trabalho que tenho desenvolvido até então. Se nós tirássemos essa obrigatoriedade dos 30%, tenho certeza que menos mulheres estariam na política, mas essas seriam muito mais valorizadas pelos partidos, porque acaba vindo mulher que, infelizmente, é laranja. Eu sou totalmente contra isso, para colocar o seu nome num pleito eleitoral, tem que efetivamente querer representar alguma pauta, segmento, comunidade ou município.

Como tem sido a pré-campanha, junto com o Luis Carlos Heinze?

Tem sido um prazer e um aprendizado diário andar com Luis Carlos Heinze, pelo interior do estado. Nós temos também a vice-governadora Tanise Sabino, minha colega na Câmara de Vereadores. Ela é voltada para a área da saúde e tem uma fala maravilhosa, principalmente pós-pandemia. A pandemia não fez bem para ninguém, se queriam terminar com a crise pandêmica, criaram uma crise econômica em que as pessoas se desesperaram, porque não tinham mais o seu trabalho para levar o pão para dentro de casa. Isso eu vivenciei diretamente, porque fui contra o “fecha e abre”. O Luis Carlos Heinze é um homem muito leve e verdadeiro, um alemão que fala pouco, mas faz muito. Tem sido uma experiência muito importante, porque a cada dia que nós caminhamos, conquistamos outras pessoas. Para mim, política é uma construção coletiva, não é para o seu umbigo, é pela busca do bem comum. Eu não estou aqui pré-candidata ao Senado pelo meu ego, mas é por aquilo que nós podemos fazer e construir juntos, conhecendo realmente o que cada município precisa. Eu conheço muito bem, porque a Brigada Militar, através da farda me legitimou a conhecer, o que as pessoas mais precisam e eu não tenho dúvida nenhuma, que o nosso pré-candidato ao governo, Luis Carlos Heinze, tem muito a dar nessa construção coletiva.

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