trajetória da banda, sabe o que pode aguardar. Surpreendentemente, o público que o segue ao longo de seus três anos de existência não é apenas aquele que conheceu o percurso do grupo até o seu desfecho trágico em acidente aéreo. Por incrível que possa parecer, adolescentes e jovens que não presenciaram os Mamonas ao vivo, compõem as plateias deste espetáculo dirigido por ninguém menos que José Possi Neto. Possi esteve recentemente na cidade, acompanhando o exuberante Master Class, outro musical - este sem o tom da brasilidade, por ser um recorte da vida da soprano Maria Callas - que aportou em Uberlândia neste ano. Se em nível nacional a tendência do mercado de artes cênicas é apostar nos musicais, parte deles passa por Uberlândia e consolida o nosso Teatro Municipal como rota de passagem dos grandes espetáculos em turnê pelo País. O diferencial, no entanto, está na escolha do repertório que se estabelece aqui. São peças de absoluto sucesso, mas com o tempero da brasilidade. Foi assim com Suassuna - O Auto do Reino do Sol, no mês passado, calorosamente recebido na cidade em quatro sessões lotadas, que renderam aplausos esfuziantes da plateia e os melhores elogios possíveis. Em junho, é novamente o momento de contemplar o Brasil também com a obra Boca de Ouro, um Nelson Rodrigues revisitado pelo célebre Gabriel Villela, considerado um dos mais importantes diretores teatrais brasileiros, em cartaz dias 9 e 10, e O Musical Mamonas, despedindo-se dos palcos, depois de dois anos de sucesso pelo País, no que está sendo chamado de “a última turnê”, quando percorre apenas 12 cidades brasileiras, Uberlândia entre elas. As apresentações serão dias 23 e 24. É redundância falar mais de Suassuna - o Auto do Reino do Sol. O musical já foi aclamado pelo público, pela crítica e recebeu todas as indicações e prêmios possíveis. Por aqui o espetáculo também reverberou com o tom da comoção. Segue em trajetória de sucesso atualmente está em cartaz no teatro Frei Caneca em São Paulo - apresentando um teatro essencial, que toca e comove as pessoas, seja pela plasticidade exuberante, pela força poética da dramaturgia ou pela interpretação visceral de seu elenco de atores/ cantores em textos e canções de extrema beleza. Quem foi atesta a grandiosidade artística deste espetáculo.
Se as palavras amor e humor definiam a banda dos meninos de Guarulhos, as mesmas também fazem jus ao elenco de O Musical Mamonas. Os protagonistas dão a sensação que estamos diante de Dinho, Julio, Bento, Samuel e Sérgio. E o musical apresenta a mesma irreverência e o mesmo escracho que conhecemos do grupo 20 anos atrás. A montagem concebida por Possi traz no escopo a suntuosidade característica de seus trabalhos. O musical é espetaculoso, tem elenco grande e até um corpo de bailarinos, com coreografias pontuadas para dar ainda mais ênfase à vitalidade que o grupo possuía. Apesar de longo - o espetáculo tem 2h30m de duração, com um intervalo de 15m a impressão que se passou apenas uma horinha no teatro. Em cena, as mudanças de cenários são diversas, vão de ambientações dos quartos e garagens onde a banda Utopia arquitetava os planos e ensaios até o famoso show no ginásio de Guarulhos, berço do grupo, onde realizou show vexatório em início de carreira e lá retorna após a fama. As centenas de milhares que já assistiram à peça têm a mesma sensação. Saem do teatro com o coração em festa. A montagem não acentua o fim trágico da banda. Mostra mais a alegria que o grupo promoveu. Em se tratando de Mamonas, tudo é festa e brincadeira.
Já o Boca de Ouro não chega a ser um musical. Tem bastante música ao vivo em sua concepção - inclusive compondo o elenco uma cantora e um pianista -, mas é teatro interpretativo em potencial. Não tem a densidade que os textos de Nelson costumam provocar. Ao contrário, Gabriel Villela trouxe leveza ao texto rodrigueano, imprimindo um tom farsesco à obra, o que resulta em diversão garantida e admiração pela direção segura e pelo excelente desempenho do elenco. Sobre O Musical Mamonas, quem acompanhou a efêmera CULT_ 17