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profissionais e referência nacional em beleza

matéria especial Cabeleireira supera dificuldades e hoje é inspiração para profissionais e referência nacional em beleza

Cabelereira supera dificuldade e hoje é inspiração para profissionais e referência nacional em beleza Nada do que eu tenho hoje veio fácil, quem vê de fora pode até achar mil coisas, mas eu sei o quanto lutei para chegar até “ aqui. Tudo que senti, tudo que chorei, tudo que enfrentei me ajudou a ser o que sou hoje.

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Eu consegui quebrar o ciclo familiar que vinha se repetindo por gerações. Consegui me refazer. Aprendi a valorizar minha equipe, a respeitar as pessoas, respeitar minhas clientes. Os frutos desse trabalho pessoal e profissional estão sendo colhidos ” e sou muito grata a tudo e a todos que me trouxeram até aqui”

Reportagem: Miriam Névola FOTOS: Anderson Zanatta, Charles Aparecido e Flávio Henrique.

A fachada do salão de beleza impressiona. É o mais chique de Dourados (MS). Ao entrar, o requinte e a elegância são vistos em cada detalhe. A dona disso tudo é tranquila, tem fala mansa e demonstra ser a gentileza em pessoa com os funcionários. Quem vê essas cenas hoje não imagina o quanto ela mudou, não imagina a história por trás dessa jovem de 27 anos.

Quem guardar a primeira impressão do salão luxuoso pode julgar errado (muito errado), achando que foi tudo fácil, que foi herança, que alguém fez tudo. Mas não! Natali Morel colhe o que plantou. Depois de uma infância e adolescência de pobreza, vergonha, revolta, conseguiu reescrever sua história. E é essa história que você vai conhecer agora!

FAMÍLIA DO TRÁFICO – POBREZA - ABANDONO

Uma criança que não tinha casa, não tinha referência e passou por vários cuidadores. Essa foi a infância de Natali. Viveu dos 9 aos 14 anos sem os pais. Ela é de uma família de traficantes. O pai foi preso. A mãe foi impedida pela justiça de cuidar da filha. Foi por isso que até os onze não tinha endereço fixo, cada hora era cuidada por uma pessoa diferente, em cidades diferentes. Em algumas casas onde morou, chegou a passar fome, como quando viveu com uma vizinha que catava lixo. “Não tinha geladeira, a gente dependia de doação para comer. Por muitos anos eu não tive um quarto. Dormia em qualquer canto”, lembra.

Aos 11 anos, voltou para Dourados, foi morar com a namorada do pai. “Foi ela que fez o papel de mãe nessa época”. Natali conta que era revoltada e muito triste por tudo que já tinha passado. Também tinha vergonha da família que ganhava dinheiro traficando drogas. Mas foi na casa da madrasta que encontrou o primeiro lugar onde aprendeu ensinamentos importantes que carrega até hoje. “Ela me ensinou a trabalhar, a fazer unha, a lavar carro. Na época, eu achava que ela estava me explorando, mas depois percebi que não. Ela estava me ensinando a viver. Ela dizia que eu tinha que saber fazer de tudo”.

Aos 15 anos, voltou a morar com a mãe. Ela achava que tudo seria mais fácil. Que voltaria a ter uma vida melhor, com regalias que tinha quando era bem pequena, antes ser afastada da mãe. No entanto, as coisas mudaram. A mãe mudou de vida. O pouco que tinha era conquistado com muita luta. Vendia pão caseiro, bombom... Natali não entendia. Sempre quis ter as próprias coisas.

Até que um dia resolveu conseguir as coisas de maneira mais fácil. Furtou uma bicicleta. Quando chegou em casa, a mãe perguntou como tinha conseguido o veículo. Ao saber, levou a filha para a delegacia. Natali foi fichada como menor infratora. “A minha mãe deu um sermão, me colocou no lugar certo. Esse dia foi um divisor de águas na minha vida. A vergonha que eu senti na delegacia não tem como descrever. Pensei que eu não queria seguir o caminho da minha família, eu queria quebrar o ciclo da minha família”.

APRENDIZADO - MUDANÇA VISIONÁRIA

Daí em diante, Natali não parou de trabalhar. Garçonete, vendedora, caixa de supermercado... Até que foi trabalhar como manicure em um salão de beleza. Nas horas vagas, ajudava a lavar os cabelos das clientes e, com o passar do tempo, aprendeu a fazer escova. Chegou um momento em que ela estava fazendo mais cabelo do que unha. Foi aí que percebeu que deveria mudar de profissão. O dinheiro que recebia como cabeleireira pagava contas e investia em cursos.

CARREIRA - EMPRESÁRIA

A partir daqui, a história se torna tempo presente. Natali tem 17 pessoas na equipe. Todos são treinados. Cortar cabelo com ela exige paciência. A fila de espera é de um mês. São cerca de 10 cortes por dia. “Eu poderia cortar um cabelo em 10 minutos, mas levo uma hora. É que não chego e corto, há uma entrevista antes, eu converso, entendo a pessoa, quero saber a intenção, o tempo que a pessoa tem para cuidar dos fios, dou dicas, ouço. O cabelo é extremamente importante para a autoestima da pessoa, não posso tratar de qualquer jeito. Eu não faço um corte. Eu entrego a realização de um sonho”.

Natali não para de se aprimorar. Entre os diversos cursos do currículo, está a Formação Internacional em designer de corte pela Academia Pvot Point, a maior e mais cobiçada do país. Toda técnica e satisfação dos clientes a transformou numa das profissionais referências na área. Já são mais de 60 mil seguidores só no Instagram e dezenas de cabeleireiros que vêm até Dourados fazer cursos com ela.

“Nada do que eu tenho hoje veio fácil, quem vê de fora pode até achar mil coisas, mas eu sei o quanto lutei para chegar até aqui. Tudo que senti, tudo que chorei, tudo que enfrentei me ajudou a ser o que sou hoje. Eu consegui quebrar o ciclo familiar que vinha se repetindo por gerações. Consegui me refazer. Aprendi a valorizar minha equipe, a respeitar as pessoas, respeitar minhas clientes. Os frutos desse trabalho pessoal e profissional estão sendo colhidos e sou muito grata a tudo e a todos que me trouxeram até aqui”, declara emocionada.

Em 2014, uma amiga fez uma proposta: abrir um salão de beleza. A amiga entraria com os custos e ela com a mão de obra. Ela topou. A sociedade durou apenas três meses. “Ela percebeu que salão não era a praia dela, já eu amava aquilo, era o que queria pra mim, mas tinha receio de não dar conta”. Parcelou por um ano e pagou a parte da amiga na sociedade.

Até aí Natali já tinha crescido muito profissionalmente, mas confessa que, como pessoa, ainda precisava amadurecer. “Minha profissão não crescia como poderia por minha culpa, eu era arrogante, não tinha empatia, meu salão era desorganizado. Consequentemente, meus funcionários eram mal-educados, pois isso é reflexo do chefe. Eu só queria aplausos, mas não aceitava críticas”, assume.

TRANSFORMAÇÃO INTERNA

Natali resolveu investir nela. Fez coaching e terapia. “A terapia foi fundamental. Tinha mágoas profundas que não me deixavam andar pra frente. Sempre fui empenhada em tudo que fazia, mas criei uma couraça dura. Antes que me atacassem eu já me defendia. Essa Natali precisa se reconstruir”.

A mudança interna ocorreu quase no mesmo momento em que o contrato do aluguel do local onde ficava o salão estava acabando. Ela precisava de um novo lugar. Natali estava para dar o passo mais ousado de sua carreira.

O marido trabalhava na área de informática. Natali fez uma proposta: que ele se tornasse funcionário dela. A parceria deu certo e logo depois viraram sócios. E aí os dois estavam em busca de um novo local. Quando Natali viu uma casa, praticamente uma mansão, já conseguiu imaginar seu novo projeto. “Eu tinha muito bem definido o público que queria alcançar, o estilo de salão que eu queria, que já era o que eu vinha atendendo, mas podia crescer e tornar tudo ainda mais personalizado e especial”.

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