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Câncer: onde estamos? Por Sérgio Vieira

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NÚMERO É ALARMANTE, MAS MUITO IMPORTANTE PARA ANÁLISE: A CADA MINUTO, UM PACIENTE BRASILEIRO é diagnosticado com algum tipo de tumor maligno. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde, indicam a extensão da realidade envolvendo a oncologia brasileira: estima-se que, em 2010, sejam detectados 489.270 casos de câncer no país, sendo 236.240 diagnósticos para o público masculino e 253.030 para a população feminina. Os principais casos são de câncer de próstata e pulmão para homens, e mama e colo do útero para mulheres. Tudo isso para ser atendido por 1,3 mil oncologistas no país – por ano, se formam 150 profissionais especialistas na área. O mais alarmante é que 80% desses pacientes serão atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 20% utilizarão serviços de convênios médicos. Nesse mesmo período, a projeção é de que o país some, até o fim do ano, 196,8 milhões de habitantes. Boa parte das pessoas que receberão a notícia sobre o câncer passará justamente nas mãos de médicos de outras especialidades, que têm o importante papel de perceber o quanto antes qualquer tipo de evidência que indique um futuro problema de saúde. Por isso, existe hoje o consenso na classe médica de que é nesse primeiro atendimento que se inicia a corrida para preservar a vida do paciente. O fato é ainda mais preocupante quando chegamos à marca da segunda maior causa de morte no país, atrás apenas das doenças cardiovasculares. São cerca de 150 mil mortes por ano, ou um Maracanã lotado. Isso significa 17% dos óbitos registrados no Brasil por causa conhecida. Não é pouco. A Organização Mundial de Saúde (OMS) traça um quadro pouco animador para o futuro caso nada seja feito: se continuarmos no mesmo ritmo, doenças relacionadas a tumores serão, em 2020, a principal causa de mortalidade em países desenvolvidos e em desenvolvimento – onde se inclui o Brasil –, superando os problemas de coração.

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agosto/setembro 2010 Onco&

Um fator que denota para o crescimento da curva ascendente da população com câncer tem um outro aspecto – este, inexorável. A população brasileira está envelhecendo, e com uma expectativa de vida cada vez maior. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro médio saltou de 69 anos, em 1998, para 72, em 2008. Em alguns casos, infelizmente, esse aumento significará mais tempo com doença ou uma maior possibilidade de desenvolver um tumor, por exemplo. Acredita-se que em 2050 teremos atingido a impressionante marca de 58 milhões de brasileiros com mais de 60 anos. Desse total, 10 milhões terão mais de 80 anos. Os números indicam que, se mantido esse ritmo, teremos daqui a 40 anos mais idosos do que toda a população do país de 1950, de cerca de 54 milhões.

Tratamento adequado no momento certo Há quem acredite que os já altos índices de casos de câncer apresentados pelo INCA sejam ainda maiores. Essa discrepância entre estatísticas e vida real tem início num fenômeno muito comum em boa parte das especialidades médicas: a má distribuição dos profissionais da área no território brasileiro, panorama que pode ser bem percebido no estudo “Estimativa 2010 – Incidência de Câncer no Brasil”, realizado pelo próprio Instituto. No levantamento, a maior parcela dos prováveis diagnósticos está justamente nos estados onde há grande concentração de unidades de referência no combate ao câncer: São Paulo (136.060), Rio de Janeiro (55.950), Rio Grande do Sul (48.930) e Minas Gerais (46.630) – o que mostra, notadamente, que onde há mais médicos, há mais casos de notificações das doenças. Entre as regiões carentes que necessitam de mais profissionais o relatório destacou o Nordeste, também carente de “ilhas de excelência”, como são chamadas as unidades de referência no país.


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