Edicao 21

Page 6

De San Antonio, no Texas, palco do maior encontro anual da especialidade, Antonio Wolff nos atende para um bate-papo e aponta novidades e caminhos para o tratamento do câncer de mama.

Onco& – O cenário da mamografia hoje parece

“O diagnóstico de um câncer de mama HER2 positivo trazia um risco de recorrência enorme. Hoje em dia, pacientes com esse diagnóstico têm à sua disposição tratamentos que literalmente mudaram a história natural da doença “

cercado de controvérsias, com recomendações diferentes da American Cancer Society e da Preventive Services Task Force. Isso confunde médicos e pacientes? Antonio Wolff – Na verdade eu acho que não, mas isso reacende a importância do diálogo médico-paciente, porque cabe ao médico conversar e examinar as características individuais da paciente antes de tomar uma decisão. Quando você toma uma decisão caso a caso é sempre mais simples, mas quando tem que aplicar uma medida de rastreamento em escala populacional a situação é bem diferente, porque não há como levar em consideração o histórico individual de risco, a partir de histórias pessoais, ou história familiar, por exemplo. E, no final, é preciso lembrar que o câncer de mama é relativamente incomum em mulheres na faixa de idade que antecede os 40 anos, o que significa que diante de uma recomendação de rastreamento populacional você corre o risco de ter um grande número de resultados falso-positivos. Significa que muitas mulheres poderiam ter a recomendação de uma biópsia sem necessidade, expostas a um resultado falso-positivo que levou ao risco de um procedimento desnecessário na maior parte das vezes. Então, o que se discute é a sensibilidade, a acurácia do exame de mamografia em mulheres mais jovens, porque sabemos que isso aumenta a possibilidade de um resultado incorreto. Eu não acho que existe uma idade bem definida para se começar o rastreamento, mas acho fundamental haver uma conversa entre o médico e a paciente, levando em consideração características pessoais, como por exemplo a história familiar, porque para algumas pacientes seria importante começar na idade dos 40 anos, outras podem esperar até os 50.

Onco& – Muitos especialistas têm observado nos consultórios pacientes cada vez mais jovens com câncer de mama. Como entender então

8

janeiro/fevereiro 2014 Onco&

essa recomendação de rastreamento a partir dos 50 anos? Antonio Wolff – Eu ainda considero que em escala populacional o ideal é a partir dos 50 anos, mas depende muito da idade média do desenvolvimento do câncer de mama, que nos Estados Unidos é ao redor de 64 anos de idade. Eu não tenho certeza se está havendo uma mudança nessa idade de uma maneira significativa, mas o que acontece hoje em dia por causa do uso mais disseminado do rastreamento é uma grande quantidade de mulheres diagnosticadas com câncer de mama ductal não invasivo. Isso acaba levando de certa maneira ao risco de um diagnóstico maior, que, em alguns casos, são excessivos, porque sabemos que nem toda doença ductal não invasiva virá a se tornar um câncer invasivo. Obviamente, não temos condições de avaliar exatamente quais são os carcinomas ductais não invasivos em estadio zero que jamais se tornarão invasivos. Nos EUA, basicamente 30% dos tumores de mama são diagnosticados no estadio zero, mas não tenho esse dado em relação à idade média do diagnóstico do câncer de mama no Brasil. Como a acurácia da mamografia é pior nas pacientes mais jovens, acho que é mandatório cumprir a recomendação de começar o exame na idade de 50 anos, mas defendo que os casos individuais devem ser discutidos a partir dos 40 anos.

Onco& – E o autoexame, bastante recomendado no Brasil, qual o seu papel?

Antonio Wolff – A questão do autoexame preocupa, porque é um método muito ruim para fazer diagnóstico. A ideia é sempre a detecção precoce, quando o tumor ainda não é palpável. A proposta do autoexame serve apenas para conscientizar sobre a necessidade do rastreamento. Esse é o único motivo de se recomendar o autoexame. Acho que uma questão central no Brasil é o percentual de mulheres com mais de 50 anos de idade que faz o rastreamento anual. Se os dados apontarem um número pequeno, fica patente a necessidade de se descobrir maneiras mais eficazes de implementar o rastreamento para todos os pacientes. Essa seria a questão número 1, antes de começar a pensar em mudar a idade do rastreamento.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.