Resistance magazine 7

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RES STANCE 7ª Edição

Novembro 2012

O Curiosity e mais um passo na exploração de Marte

Empreendedorismo onde menos se espera

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Editorial A 7ª Edição da Resistance finalmente chegou. Pedimos desculpa pelo atraso, mas este ano as aulas começaram muito tarde e a Latada muito cedo, o que contribuiu para que a edição se atrasasse um pouco. Esperemos que gostem desta edição e que se sintam interessados em colaborar connosco ou em escrever artigos para a próxima. Não sejam tímidos que nós não mordemos, bem, alguns de nós não mordem. Crise A crise teima em ser o foco de quase todas as conversas do dia a dia. O comportamento do governo português demonstra um desnorte completo com o PSD a tentar atingir as inantigíveis metas do défice a todo o custo e o CDS a fingir

que não é nada com eles. Esta atitude partidária só prejudica a imagem de Portugal nos mercados e adia o retorno de Portugal a estes. O facto de a Espanha estar num buraco bancário superior ao nosso não prespectiva um futuro a curto prazo risonho, pois Espanha é o país que mais importa a Portugal. Como a população perde poder de compra as exportações de Portugal para Espanha estão a diminuir. Mesmo assim, Portugal está a exportar mais de mês para mês estando perto de equilibrar a conta importações/ exportações, algo nunca visto desde 25 de Abril de 74. Um ponto positivo que a comunicação social gosta de ignorar. Eleições dos EUA Estamos a duas semanas do ínicio das

eleições presidenciais dos EUA e após o último de três debates o candidato democrata e actual presidente, Barack Obama, aparenta ter uma ligeira vantagem sobre o candidato republicano, Mitt Romney. Aos olhos do Mundo, Barack Obama é o candidato mais consensual devido ao discurso demagogo de Romney que promete mudar a situação económica dos EUA e criar postos de trabalho sem explicar como, e o receio de medidas bélicas e de aumento do défice preocupam as economias mundias. Mas o aumento do desemprego e a dificuldade em controlar o défice jogam contra Obama que se defende dizendo que as medidas que tomou evitaram uma situação mais difícil que a existente. Uma eleição a acompanhar por perto.

Índice 2_”Estado estacionário” . Bernardo Fabrica 3_”Entrevista” . Comandante José Vicente Moura 5_”Estado exitado” . Ana Telma Santos e Carlos Filipe Moreira 7_”Empreendedorismo onde menos se espera” . Diogo Sousa 9_”24 frames por segundo” 11_”78 rotações por minuto” 13_” O Curiosity e mais um passo na exploração de Marte” . David Alegre Vaz 15_”Crónicas” 17_”Festivais e música” . Gonçalo Louzada 18_” Copos + Boas notas + Extra-currículares = Possível” . Maria de Fátima Machado

Ficha técnica: Editores: André Silva, Frederico Borges, Joana Faria, Pedro Silva, Karen Duarte e Rui Nunes Revisão: Andreia Fernandes

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Estado estacionário

São João da Madeira Texto por_Bernardo Fabrica

São João da Madeira. Município mais pequeno de Portugal, com unicamente 8 km2 de área. Cidade que tem uma JUNTA de freguesia embora o concelho possua só uma. Cidade em que a cada cem metros é possível encontrar uma rotunda, às vezes pequena, outras vezes grande; às vezes redonda, outras vezes estranhamente retangular (e numa subida ainda por cima, como se não bastasse ter uma forma estupida ainda é preciso às vezes mexer na caixa de velocidades para o carro não ir abaixo, porque aí, os senhores não podiam colocar a porcaria de um semáforo ali, naaaaão, ficava feio e tal!). Cidade em que é mais provável passar-se por um carro do que por uma pessoa quando se caminha pelas ruas.Tendo sofrido um gigantesco crescimento por altura da Revolução Industrial, e como nunca anexou nenhuma outra freguesia a si, SJM é na sua essência uma aldeia que, devido ao seu intenso trabalho no início do século passado, conseguiu em 4 anos tornar-se independente. E, quem procurar sinais dessa história ainda consegue encontrá-los. As zonas industriais nas periferias da cidade ainda empregam grande parte da população, e muitos dos edifícios grandes e abandonados que existem são antigas fábricas que a economia não amnistiou. Mas São João é mais do que a sua história. É a cidade onde os lugares comuns predominam, onde as pessoas se conhecem e sabem sempre onde se encontrar. É uma cidade que acolhe tanto aqueles que procuram a sua vida na noite pesada como aqueles que

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buscam um simples espetáculo de poesia à mesa. Uma cidade com espetáculos culturais, que embora não ocultos, trazem sempre grupos com quem alguém se pode identificar. Uma cidade cujo lema é Labor, criada pela indústria e afetada pela sua queda. Uma cidade pequena, estranhamente organizada e com ornamento de território duvidoso. Uma cidade na qual a mensagem mais frequentemente enviada nas noites de fim-desemana é “Anda ter ao pirilau (nome carinhoso dado à torre da Praça Luís Ribeiro) ”. Uma cidade acolhedora. São João da Madeira.

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Entrevista “...é necessária a definição de uma Política Integrada de desenvolvimento desportivo, Desporto Escolar e Universitário curricular, ... ”

Texto por_Karen Duarte

Cmdt. José Vicente Moura

- Boa Noite Exmº. Sr. Presidente do Comité Olímpico Português, poderá então começar por nos balancear a participação de Portugal nos Jogos Olímpicos este ano? A participação foi ao nível das participações olímpicas anteriores, tanto em número de diplomas, (ate ao 8º lugar), como nas classificações ate ao 16º lugar, 29, mais 5 que em Pequim, embora só se tenha ganho uma medalha de prata. - Se compararmos a participação de Portugal com os países semelhantes (Holanda, Hungria, Républica Checa, Nova Zelândia), vemos que possuímos resultados piores. A que se deve esta diferença de resultados? Portugal tem os mais baixos índices de pratica desportiva e de atletas federados da Europa, devido à ausência de tradição desportiva das populações, ausência de Desporto Escolar curricular, Desporto Universitário de fraca expressão e o desporto associativo à beira da falência ou apostando no Futebol. Sem uma

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base alargada de apoio, sem políticas desportivas integradas, sem existir um programa nacional de detecção de talentos, não teremos condições para diminuir o fosso que nos separa dos países desenvolvidos em termos desportivos. - O que deverá ser modificado no desporto em Portugal para melhorar a participação olímpica? No seguimento da questão anterior, é necessária a definição de uma Política Integrada de desenvolvimento desportivo, Desporto Escolar e Universitário curricular, implementar um programa de detecção de talentos desportivos, apoios financeiros e outros aos clubes que trabalhem na área da formação desportiva e fazer chegar a prática desportiva a todos os distritos. - Qual o papel do Comité Olímpico de Portugal? O Comité Olímpico de Portugal – COP - tem como missão constituir e chefiar a Missão aos Jogos Olímpicos, e

representar junto dos poderes públicos os anseios e os interesses das Federações que o constituem. Desde 2005 substituiu o Estado na distribuição das verbas que este colocou a disposição das federações para a preparação olímpica. - Porque razão decidiu não se recandidatar para o Comité Olímpico de Portugal? Estou no fim do meu quarto mandato consecutivo, a que se soma um outro, 1989/92, penso que chegou o tempo de dar o lugar a mais novos. Por outro lado, estou desapontado com a resposta que o nosso país tem dado às necessidades de desenvolvimento na área desportiva.

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Entrevista

- O que vai fazer depois do Comité? Não tenho nada definido, começam a aparecer alguns convites para actividades benévolas. O tempo o dirá.

mesmos resultados e não só desportivos. O pior foi o facto da atleta Naide Gomes não se ter qualificado para a final do

salto em comprimento em Pequim, quando tinha a melhor marca de todos os concorrentes.

Qual a melhor experiência nos Jogos Olímpicos? E a pior? O melhor momento desportivo foi ter tido a oportunidade, nos Jogos de Los Angeles em 1984, era eu o Chefe de Missão, de ouvir o hino português e ver a bandeira nacional desfraldada no mastro olímpico mais alto, aquando da vitória de Carlos Lopes na maratona. O que comprovava que se tivermos as mesmas condições obtermos os

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Estado exitado

Rússia Texto por_ Carlos Filipe Moreira e Ana Telma Santos

приве!! (Pronúncia: priviét, tradução: olá) Bem, qualquer pessoa fica curiosa quando alguém lhe diz que vai à Rússia. “Fazer o quê?” Não estão muito longe de ter razão. A Rússia não é País de aparecer nas montras de agências de viagens nem destino turístico de exceção. Mas não é bem assim: o maior País do mundo tem realmente muito mais do que aquilo que se espera. Tanto, que é humanamente impossível visitar tudo. Não fosse a área daquele país maior que a área de Plutão! Os propósitos foram aprender russo e a estadia de um mês. Aterrámos na capital e revelou-se um Mundo novo à nossa frente. Moscovo,

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com os seus 11,5 milhões de habitantes, não é nada, mesmo nada, pequeno. E os moscovitas também não poupam no espaço. Ruas intermináveis entre parques gigantes. Para não falar nos prédios, raras vezes com menos de 10 andares. A cidade fervilha! O trânsito nem se compara com nada que já tenhamos visto, aliás, como milhentas outras coisas bem características da cultura russa. Destacamos, ao lado dos típicos vendedores de rua com as suas bancas de roupa branca, frutos silvestres ou flores, as constantes referências espalhadas pela cidade do progresso de agora e das

conquistas e derrotas de outrora, como estátuas, memoriais, museus, praças, parques e monumentos. Já o patriotismo dos russos acompanha, sem exceções, esta cultura bem agarrada ao passado e ao futuro. A moeda é o rublo e em relação ao euro não vale lá grande coisa. Mas isso não impede que o custo de vida da cidade seja dos mais caros do Mundo, especialmente na comida. O que foge à regra são os combustíveis, e, claro está, a vodka. Desenganem-se aqueles que pensam que o verão lá é que deve ser fresquinho. Passámos um mês inteiro a suar em bica, a pensar como é que aquele

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Estado exitado

povo aguenta amplitudes térmicas de mais de 50˚C entre Invernos e Verãos. Visitas a não perder na capital são, sem dúvida, o Kremlin, a Praça Vermelha com a mítica Catedral de S. Basílio, a enorme variedade de parques, os museus de arte e coleções históricas (Galeria Tretyakov, Museu Pushkin de Belas Artes, Museu de História, etc.), as inúmeras catedrais ortodoxas (em particular a Catedral do Cristo Salvador) e, peculiarmente, as estações de metro, riquíssimas em arte, materiais, arquitetura e retratos históricos do povo russo. De facto, a rede de metro de Moscovo impressiona qualquer um pelo seu tamanho e eficiência, servindo mais de 9 milhões de pessoas por dia! Convém estar preparado para algumas visitas que podem sair caras. Claro que não poderíamos deixar território russo sem visitar a mundialmente conhecida cidade de São Petersburgo e o seu rio Neva. Considerada a capital do Norte na Rússia, a mais de 700 Km da capital, o seu centro histórico e inúmeros marcos e monumentos são Património Mundial da UNESCO. Mais parecida com as grandes cidades europeias, a cidade está recortada por alguns canais, estes atravessados pelas famosas pontes que levantam durante a noite para permitir a passagem de embarcações. Com menos habitantes mas igualmente agitada, há lugares em São Petersburgo que não se deve perder. Para começar, o museu Hermitage, com acervo de mais de 3 milhões de peças,

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tem coleções de praticamente todas as regiões do Mundo e que percorrem quase todas as grandes épocas históricas. Reservar um dia inteiro para visitar tudo é mesmo necessário. Passear na Nevsky Prospect e apreciar os inúmeros monumentos que vão aparecendo também é indispensável para conhecer melhor a cidade. Imperdível também é uma passagem pela Catedral ortodoxa da Ressureição de Cristo, a mais imponente obra ortodoxa que qualquer outra na cidade. Nós reservámos um dia para visitar, nos arredores de São Petersburgo, os palácios e jardins de Peterhof, uma

grande propriedade construída pelo Czar Pedro, O Grande, há quase 300 anos. Durante o passeio, pudemos apreciar a maior diversidade de cenários possível, desde jardins luxuosos, floresta natural, praia para o mar Báltico, lagos, trilhos, enormes e fantásticas fontes e cascatas, museus, pequenas igrejas, e claro, o grande palácio. Muito bonito! Ao lado, a Catedral de Peterhof também merece uma passagem. Foi uma viagem cansativa, mas sobretudo, única! Lá, não é possível escapar de algumas valentes caminhadas. Mas depois de tudo, sem dúvida uma viagem com vista a repetir!

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Empreendedorismo onde menos se espera Texto por_Diogo Sousa Todos nós temos vindo a sentir os efeitos da crise, que um pouco por toda a Europa tem vindo a crescer e a causar dificuldades económicas a larga escala. Não é novidade para ninguém o tipo de consequências que essa situação tem provocado na nossa sociedade, basta ligarmos a TV ou lermos um jornal para constatar tudo isso. Com o aumento da austeridade, torna-se imperativo a busca de novas fontes de rendimento, fontes essas que permitam atenuar esses mesmos efeitos. Este artigo vai incidir nessa questão, mostrando, a partir do meu exemplo pessoal, que às vezes, basta termos uma simples ideia e ter coragem para a colocar em prática, para essa mesma ideia se tornar empreendedora e capaz de gerir fundos, que nos dias que correm são uma grande mais-valia. Desde pequeno que sou um amante de animais, este gosto, fez com que o meu irmão mais velho me oferecesse, no meu 9º aniversário, 2 casais de periquitos australianos. Rapidamente a minha

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curiosidade despertou, queria colocá-los a procriar mas não sabia como. O meu irmão ao partilhar a minha frustração, pesquisou e informou-se sobre esse e sobre outros aspetos sobre a vivência e dinâmica dos periquitos. Em menos de 2 meses os 2 casais já tinham as suas primeiras crias fora dos ninhos, crias essas que tinham cores completamente diferentes dos progenitores. Isso veio ainda despertar ainda mais a nossa curiosidade, e assim aos 9 anos de idade comecei a ter conhecimentos sobre a genética relacionada às mutações de cor dos periquitos. Em conjunto com o meu irmão começámos a fazer planeamentos de casais, para ter determinadas cores, registávamos todas as informações possíveis sobre cada exemplar, desde a sua data de nascimento, cor, tipo de genes (recessivos e dominantes) que cada ave possuía, e à medida que o número de pássaros ia crescendo, foi aparecendo também uma enorme árvore genealógica, mostrando todas as ligações entre as aves do nosso “plantel”. Em menos de 3 anos, o número de periquitos passou de 4, para 120. Esta situação fez com que tivéssemos de pensar em maneiras de os escoar, visto que a despesa já era considerável e o espaço reduzido. Fomos a várias lojas de animais e algumas mostraram interesse em comprar os nossos excedentes. Mas devido ao seu reduzido valor comercial, este hobbie para além de algo trabalhoso, mal dava para fazer face às despesas associadas (sementes, agua, complexos vitamínicos, etc). Por volta dos meus 13 anos tudo mudou. Certo dia, o meu irmão falou-me da existência de uma outra vertente do

periquito, que era muito semelhante ao periquito australiano, mas muito maior, com mais porte e com uma cabeça mais volumosa, por outro lado o seu valor comercial também era muito superior, custando o mais banal exemplar, em média, 50 euros nas lojas de animais, contrastando com os 7 euros por exemplar no caso do periquito australiano. Este periquito tinha como denominação periquito Inglês. Ao perceber que o meu irmão pretendia vender todos os meus preciosos e amados periquitos australianos, opusme vivamente! E durante algum tempo a minha determinação deu frutos. Até que numa das lojas onde habitualmente vendia as minhas aves, me deparei com 2 exemplares de periquitos ingleses… fiquei fascinado! Foi nesse momento que finalmente decidi concordar com o meu irmão. Decisão essa que veio mudar a minha vida. Nas semanas seguintes vendemos todos os periquitos australianos e adquirimos 5 casais de periquitos Ingleses.

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Nos meses seguintes, rapidamente me apercebi que era muito mais difícil criar este tipo de periquitos, pareciamme menos férteis e mais vulneráveis a doenças. Foi um processo demoroso e complicado para perceber ao certo que tipo de modificações teríamos de fazer para aumentar o seu índice reprodutivo, e rapidamente nos apercebemos também do porquê de cada exemplar ser tão caro, eram raros os criadores em Portugal com êxito na sua criação, daí a sua escassez. De facto, a esmagadora maioria de fornecedores deste tipo de aves para as lojas eram provenientes de outros países europeus, tais como a Inglaterra ou Alemanha. Na realidade, eu e o meu irmão eramos os únicos criadores de periquitos ingleses na região Oeste. Quando nos apercebemos que a procura era maior que a oferta, ou seja, que nos queriam comprar mais aves do que as que conseguíamos vender, começámos a olhar para este hobbie com outros olhos. Com o passar do tempo os nossos conhecimentos foram-se expandindo, a nossa experiencia aumentando, bem como o nosso número de exemplares. Estabelecemos que o número ideal para corresponder à procura seriam 25 casais a criar

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alternadamente em 3 ninhadas por ano. Passámos também a concentrarmonos mais na qualidade do que na quantidade, a querer destacar-nos não só pelo número de produção, mas também pela qualidade de cada ave. Começámos a levar as nossas aves a exposições de aves, competindo contra as melhores do país. Foi grande surpresa que conquistámos diversos prémios, tornando o nosso nome conhecido dentro do meio. Começaram a surgir encomendas de outros criadores, de diversas partes do país. Os preços de venda variavam desde os 20, 40, 60 ou mesmo 100 euros por cada exemplar, dependendo da qualidade dos mesmos. Por sua vez, os custos desta atividade por mês não ultrapassam os 70 euros, tornando a nossa atividade muito rentável a nível financeiro. Já passaram dez anos desde que me iniciei na criação de Periquitos Ingleses, e posso assegurar que se não fosse isso, a minha vida teria sido completamente diferente. Sou de origens humildes e foi este hobbie que me ajudou a pagar o carro, computador, roupa, e que hoje em dia me ajuda e muito, a pagar a universidade. Se dá

para viver disto? Não, apesar de em alguns países europeus se verificar essa situação, em Portugal não creio que isso seja possível, mas é uma excelente fonte de rendimentos extra. Em relação ao futuro, as nossas metas passam pelo acréscimo de qualidade ano após ano, só assim esta atividade pode permanecer sustentável, criando uma boa imagem associada a um bom produto, que neste caso específico, são os periquitos. Por outro lado, também temos como objetivo aumentar o número de aves expostas nas exposições nacionais, adquirindo o maior número de prémios possíveis, cimentando cada vez mais o nosso nome na elite. Mais numa perspetiva a longo prazo, se tudo correr da melhor forma, queremos o título de melhor criador nacional, passando, quem sabe, a competir em exposições em outros países europeus com mais prestígio, mas mantendo sempre como prioridade principal o aprimorar ao máximo a qualidade das nossas aves. Como referi no início do artigo, por vezes basta pôr em prática uma ideia para isso dar frutos no futuro. O espirito empreendedor é isso mesmo.

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Batman, o Cavaleiro das Trevas Joana Paiva De noite todos os morcegos são heróis. Batman, o Cavaleiro das Trevas, o HomemMorcego ou o alter-ego de Bruce Wayne terá regressado, oito anos depois, não para acabar com o seu “autoimposto” exílio, nem sequer para destronar o Mal que se impõe novamente nas ruas de Gotham City, mas sim apenas para a conclusão épica da trilogia do realizador Christopher Nolan, isto porque... sem filme, não há herói. Infelizmente, vivemos numa sociedade em que “quadradinho” só o ecrã “LED Full HD” todo XPTO lá de casa, ou, então, para os miúdos, o da consola da PlayStation; surgindo figuras como o Harry Potter, Spiderman, Superman e muitas outras nas pequenas mentes, só depois da Warner Bros. ou a Columbia Pictures ter assinado o contrato. Não valerá a pena acrescentar, portanto, que acompanhar, a nível literário, estes pequenos tesouros que presenteiam a nossa infância torna-se muito mais proveitoso do que a perceção tardia do que teriam significado, anos antes. Julgamentos à parte, esta produção, apesar de tudo o que foi dito, revela-se como o terceiro diamante da saga, porém, não o mais brilhante, tomando o segundo lugar no pódio o filme “The Dark Knight”, o qual ao presente antecede. Em “The Dark Knight Rises”, assistese ao surgimento de um novo terrorista, Bane, que adota um perfil bem menos simpático que Joker, personagem apresentada na segunda produção da sequela. Fazendo uso do intelecto, tecnologia de ponta, de uma avulta conta bancária e de um físico igualmente bem cotado, o Cavaleiro das Trevas, descurando de poderes sobrenaturais, mas deixando brilhar a audácia feminina, demonstra que tudo o que de negro se reveste, o Sol aclarerá.

Oslo, 31 de Agosto Frederico Borges Nos últimos anos saiu de moda cultural a espiral destrutiva do mundo da droga. Oslo, 31 de agosto, capta essa energia e coloca-a em Oslo, numa sociedade profundamente marcada pelo ataque terrorista no verão passado. A personagem principal é um anti-Breivik, uma personagem que procura a total destruição pessoal em vez da destruição da sociedade atual, como procurava Breivik. O (personagem principal) é um toxicodependente que passou os últimos anos numa clínica de desintoxicação e a sua recuperação é premiada dando-lhe um dia fora da clínica para recomeçar a vida “normal”. Mas o (personagem principal) possui uma visão destructiva do mundo e dele mesmo, chocando com a visão que o mundo tem dele impossibilitando a integração deste no mundo. A câmara acompanha o (personagem principal) durante o fatídico dia, e podemos ver as cicatrizes a serem abertas à medida que este se encontra com o passado, entrando lentamente na espiral destructiva que afeta (personagem principal) e todas as pessoas do seu passado. A droga não destrói uma vida, mas todos os que se envolvem com ele. Oslo, 31 de agosto é um filme profundamente marcante classificado como o “melhor filme deprimente do ano”. A não perder.

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24 frames por segundo

2 dias em Nova Iorque Joana Paiva

“2 Dias Em Nova Iorque” ilustra a versatilidade que a nossa vida poderá assumir nos dias de hoje, uma volubilidade deliciosamente personificada através de um encontro familiar altamente comprometido pela barreira linguístico-cultural. Os mais variados aspetos tipicamente europeus sobressaem, neste pedaço de história, de uma forma grosseira mas cativante e divertida, como se fossem pepitas de chocolate num “brownie” americano comprado à pressa na Ninth Square. A trama remete-nos, então, para um episódio da vida de Marion, uma fotógrafa de nacionalidade francesa, que vive confortavelmente com o seu novo namorado Mingus, famoso apresentador de um programa de rádio, num apartamento em Nova Iorque. Resumindo, apesar de uma crocante baguete francesa “devorar” completamente uma “apple pie” nova-iorquina, ou a Statue de la Liberté segredar ao ouvido da Eiffel Tower que a liberdade económica não ganhará contornos europeus, este novato casal vive feliz e contente, não na sua total independência familiar, mas sim com um gato e dois filhos, frutos de relacionamentos anteriores de ambos... Até que os conceitos de oportunidade e delicadeza norte-americanos são destronados por personagens tão “franciú” quanto o pai, a irmã e o namorado da irmã que estarão de visita a Nova Iorque durante 2 dias, para a exposição fotográfica de Marion. E agora: será que Marion terá encomendado visitantes para a sua mostra ou as próprias peças de arte? Uma história divertida e doce, a sua assistência dispensa totalmente pipocas.

De Roma com Amor Frederico Borges A missão de superar o Meia-noite em Paris era uma tarefa bíblica e Woody Allen não a conseguiu cumprir. É verdade que Roma, Paris, Barcelona e Londres são cidades com ambientes completamente diferentes mas parece que o realizador não capta Roma da mesma forma que as outras. Sim, é verdade, está lá o sangue latino e o amor ardente (não esquecendo a confusão total do trânsito) mas o argumento não é o que Woody Allen nos acostumou. Não quero com isto dizer que não devem ver o filme, muito pelo contrário. Nunca se deve perder nenhum filme de Woody Allen porque as subtilezas são espetaculares. Neste filme o realizador faz uma ópera com o cantor principal no chuveiro, coloca a Elen Page como femme fatale, contrastando com a imagem desta, como menina bem comportada que carrega desde Juno, realiza um filme sem linha temporal e por fim mete a Penélope Cruz a falar italiano (o que não fará esta mulher?). Apesar de não ser um filme muito conseguido, este é sempre um filme de passagem entre dois grandes filmes. Quem se lembra do filme entre Meia-noite em Paris e Whatever Works? (You will meet a Tall Dark Stranger, se estiverem curiosos). Mas vão ao cinema e matem saudades de Woody Allen à frente do ecrã. Nunca sabemos quando o voltaremos a ver interpretar o papel de Woody Allen.

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78 rotações por minuto

The Feelies - Crazy Rhythms Bernardino Rocha A génese do seu nome deriva de um dispositivo de criação de prazer, encontrado no “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley, e os The Feelies comprometem-se com esta premissa. Embora nunca usufruindo de um estatuto de cariz mainstream, os The Feelies foram essenciais na cena “indie” nos anos 80 do século anterior. A formação inicial ocorre em 1976 nos subúrbios de New Jersey, com Bill Million e Glenn Mercer na voz e guitarra, Keith Clayton no baixo e Anton Fier na percussão. Com clara influência dos The Velvet Undergroud, até pela neutralidade vocal de Million em paralelo à de Lou Reed, sendo ainda fácil de perceber uma inerente influência dos Talking Heads e Modern Lovers. Mercer, em tempos idos, disse que a ambiência sonora a que se propuseram foi de reação ao movimento Punk. Neste primeiro disco, Crazy Rhythms, editado pela Stiff Records em 1980, procuraram um registo denotado pela sonoridade seca e muito limpa das guitarras, o que conseguiram pelo “bypass” ao amplificador, ligando-as diretamente à mesa de mistura, sob a batuta enérgica da veia percussionista de Fier, que acrescenta vitalidade ao Krautrock, e pontualmente complementadas por maracas, caixas de sapatos, latas e outros bizarros idiofones. As letras, de matriz dispersa e desconexa, (“he never helps out in the yard”, “you remind me of a TV show/that´s alright, I watch it anyway”) apontam em direção incerta, sendo que o que torna este registo um irrepetível e fascinante documento musical é sem dúvida a sua fação instrumental. Em algumas faixas como “Forces at work” e “Moscow Nights” o silêncio toma conta de boa parte do tempo, mas assim que a engrenagem é propulsionada somos tomados por estes “crazy rhythms” (que também designa o título de uma faixa deste disco). De referir ainda uma cover dos Beatles (“Everybody´s got something to hide except me and my monkey”) com uma roupagem muito própria, e numa edição posterior uma cover dos Stones “Paint it Black”. Crazy Rhythms, é com certeza um exercício taquicárdico de uma bipolaridade anunciada, mas tanto na depressão como na mania é sem dúvida um grande disco.

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Bloc Party - Four João Borba A chicotada psicológica após a edição de Intimacy em 2008 era inevitável, devido à fraca qualidade do álbum. Os Bloc Party entraram num hiato indefinido, e o rumo de uma das bandas que possui no seu portfólio um dos melhores álbuns indie rock da década anterior (Silent Alarm, 2005) foi posto em causa. E quando já se previa que o regresso não fosse para breve, os Bloc Party surpreenderam tudo e todos, colocando no seu site oficial a mensagem “Bloc Party is still Bloc Party” anexada a uma caricatura da banda num registo dos The Simpsons. Four é o resultado deste aclamado regresso dos londrinos. Em Four, nota-se algo que a banda parecia ter perdido com o tempo antes do hiato: motivação. Sente-se em cada segundo de Four que a banda está motivada em fazer música, e aparenta estar preocupada em soar a Bloc Party, uma banda em que a guitarra pauta a música, sem as desnecessárias experimentações eletrónicas. “So He Begins To Lie” e “3x3” abrem o álbum com distinção e tal como os Bloc Party gostam: visceral e sem pedir licença. E já que falamos em música pesada, Four pode não ser o álbum mais pesado da banda no conjunto, mas é certamente o que tem as músicas mais pesadas. As influências hardcore do projeto Young Legionnaire do qual o baixista dos Bloc Party fez parte durante o hiato são notórias, não só nessas faixas iniciais, mas também em “Kettling”, “Coliseum” e na última “We Are Not Good People”. O que resta do álbum parece um regresso ao fim – de – semana na cidade, em memória ao segundo registo da banda, com as melodias pop de “Real Talk”, “Day Four” e “V.A.L.I.S”. Os destaques do álbum vão para “Team A” (onde os Bloc Party finalmente voltam a tocar dance rock da forma certa), para a saborosa “Truth” e para a sensibilidade de “The Healing”. “Four” é uma importante mostra de vitalidade por parte dos Bloc Party. A banda voltou a encontrar a sua consistência e soube adicionar novos elementos post – hardcore nos momentos certos. Não é, de todo, um álbum brilhante. Mas chega e sobra para ser considerado um bom regresso. De saudar!

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78 rotações por minuto

John Mayer - Born and Raised Bernardino Rocha

Quero desde já, assumir um partido. John Mayer é o artista mais talentoso da música contemporânea. Sem passar dos 35 anos, já lançou álbuns de grande qualidade (onde se destaca Continuum), criou a banda de blues John Mayer Trio com Pino Palladino e Steve Jordan, e já ganhou 7 Grammy Awards. Contudo, Mayer voltou a ser afetado por um granuloma, uma doença benigna que afeta as cordas vocais e que impediu Mayer de entrar em tour para promover o seu próximo álbum. De qualquer forma, e como Born and Raised tinha sido gravado antes do reaparecimento desta condição, não deixou de chegar às lojas por decisão pessoal do artista norte – americano. John Mayer já tinha avisado que qualquer dia era ele, um chapéu de cowboy, uma guitarra acústica, uma harmónica comprada em Minnessota, e influências óbvias de Neil Young, Bob Dylan e Bruce Springsteen. E Born and Raised é mesmo isso. Abre desde logo com uma das melhores faixas, a maravilhosa “Queen of California”, inspirada no canyon rock de Neil Young e Joni Mitchell. “Age Of Worry” mantém a linha, mas de uma forma mais entusiasta e impressionantemente…paternal. Uma boa amostra da contínua superação de John Mayer em termos líricos. “Shadow Days” é o primeiro single, com uma dedicatória escondida a Jennifer Anniston, num country - rock bem conseguido. Menos conseguidos são “Speak for Me” e “Someone Like Olivia”, principalmente quando as versão acústicas não incluídas são melhores. “Born and Raised” é facilmente uma das melhores músicas deste álbum, ou não fosse o prato principal. Segue-se “If I Ever Get Around A Living”, uma jam com resquícios de um já distante Room For Squares. A metafórica “Walt Grace Submarine Test 1967” é diferente, mas genial. Restam ainda, “Whiskey, Whiskey, Whiskey”, uma ode ao álcool, a “Face To Call Home”, que molda na perfeição uma tal de “Fix You” dos Coldplay e um bem conseguido reprise de “Born and Raised” que fecha (ou será que abre?) o álbum. Born and Raised é um John Mayer a desabafar, da forma mais sincera possível, o seu maior medo. Um medo que até o mais comum dos mortais identifica perfeitamente: o ser adulto e o que muda quando nos tornamos adultos. É impossível não ceder à franca intimidade deste álbum. Facilmente, um dos seus melhores trabalhos.

The Stone Roses - The stone roses João Esteves Criada em 1983, em Manchester por Andy Couzens, Pete Garner e Simon Wolstencroft e mais tarde por Ian Brow, John Squire, Gary Mountefield e Alan Wren, a banda “The Stone Roses” é caracterizada como um marco da música britânica, tendo o seu reconhecimento devido no final dos anos 80. A banda de Ian Brown lança o seu primeiro álbum no final de 1989 intitulado “The Stone Roses” e este é imediatamente lançado para o topo da pop Britânica. O álbum dos “Roses” é considerado revolucionário, uma lufada de ar fresco, e um novo rumo para o mundo da música, uma vez que mistura Alternative Rock , Psychedelic Rock e Dance Music. Assim, surge uma novo género musical conhecido como “Madchester”, este possuiu um grande impacto na época uma vez que se repercutiu um pouco por algumas bandas, tais como os Happy Mondays , The Fall e New Order. Ao ouvir este álbum é impossível não falar dos singles “I wanna be adored”, “Waterfall”, “I Am The Resurrection” e “Fools Gold “ que são facilmente caracterizados pela voz de Ian Brown e por um ritmo bem marcado que facilmente fica no ouvido sem esquecer também o som limpo e estranhamente psicadélico proveniente da guitarra de John Squire. Sendo uma das bandas mais aclamadas da época , os “Roses” tiveram um período de vida bastante curto, visto que só fizeram 2 álbuns devido a problemas com a justiça e a uma má gestão realizada pelo seu manager.

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O Curiosity e mais um passo na exploração de Marte Texto por_David Alegre Vaz Corria o ano de 1976 quando os módulos de exploração da Viking 1 e 2 amartaram com sucesso na superfície de Marte. Desde então os veículos de exploração ganharam mobilidade, autonomia e tamanho. Em 1997 o rover Soujourner, com pouco mais de 60 cm percorreu um total de 100 m. Já o Opportunity (do tamanho de uma máquina de lavar roupa) continua ativo na superfície desde 2004, tendo já percorrido mais de 34 km. A mais recente missão da NASA com destino ao planeta vermelho chama-se Mars Science Laboratory (MSL). Esta tem como propósito dar continuidade à exploração robótica utilizando o maior (do tamanho de um automóvel) e mais bem equipado rover alguma vez enviado a outro corpo celeste, o Curiosity. Os principais objetivos da missão são estudar as

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condições de habitabilidade passada e presente no planeta. Para o fazer, o rover conta com um conjunto único de instrumentos, que lhe permitirão estudar não apenas a superfície do planeta, mas também a atmosfera e a sub-superfície. O Curiosity Um conjunto de câmaras permitirá a navegação do rover e serão os “olhos” que os operadores utilizarão para selecionar rochas e estruturas a estudar com mais detalhe. Este processo de seleção e análise de alvos a

investigar será complementado pela ChemCam, que possui vários espectrómetros e um laser que irá vaporizar à distância as rochas, permitindo uma análise rápida da composição dos solos ou rochas em questão. De seguida o rover terá que se aproximar das rochas e poderá então fazer uma análise mais detalhada. Poderá utilizar o espectrómetro de raios X e de partículas alfa (APXS, Alpha Particle X-Ray Spectrometer), ou observar com mais pormenor a superfície das rochas recorrendo à MAHLI (Mars Hand Lens Imager), que mais não é que uma cópia das lupas de campo utilizadas pelos geólogos na Terra. A fase seguinte passará pela abrasão e perfuração das amostras, de forma a obter um pó que poderá seguidamente ser analisado por outros dois instrumentos: CheMin (Chemistry & Mineralogy X-Ray Diffraction) e SAM (Sample Analysis at Mars). Pela primeira vez, um

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difractómetro de raios X fará medições diretas dos tipos e abundâncias de minerais que constituem as rochas e os solos marcianos, e o SAM terá a seu cargo a busca de componentes orgânicos, tanto em amostras de rocha como em gases atmosféricos. Em especial, espera-se que as medições realizadas por este instrumento ajudem a esclarecer algumas das questões levantadas pelas observações orbitais em que se detetaram quantidades significativas de metano na atmosfera. Pensa-se que estas emissões sejam sazonais e localizadas apenas em algumas regiões. Poderá esse metano ser de origem biológica, ou haverá algum

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processo geológico responsável por estas emissões? Um detector de neutrões (DAN, Dynamic Albedo of Neutrons) irá dar indicações sobre a quantidade de água presente abaixo da superfície. O rover transporta ainda uma verdadeira estação metereológica (REMS, Rover Environmental Monitoring Station) que permitirá a monitorização do clima marciano. A cratera de Gale Indícios mineralógicos e geomorfológicos da existência de água em Marte são relativamente abundantes e demonstram que no passado (pelo menos nos primeiros 500 milhões de anos do planeta) a paisagem marciana

seria completamente diferente do cenário seco e desolado que possui atualmente. Lagos, rios e até possivelmente um oceano fariam nessa época parte da paisagem. Usando como referência o nosso planeta, é claro que a habitabilidade, ou por outras palavras as condições para a vida se manter e prosperar, é sinónimo de água. Foi este um dos aspetos considerados durante a seleção do local a explorar pela missão. Um processo de seleção em que a comunidade científica apresentou e discutiu várias possibilidades, sendo que no final, a escolha recaiu na cratera de Gale. Trata-se de uma cratera de impacto em que se pensa que no passado terá existido um lago. Esta forte possibilidade é sugerida pela existência de uma série de indicadores que têm sido estudados, recorrendo apenas a dados recolhidos pelas várias missões que continuam a orbitar o planeta. Por um lado são visíveis canais e leques aluvionares no bordo interno da cratera, por outro, reconheceram-se vários estratos sedimentares ricos em minerais argilosos e sulfatos (minerais tipicamente associados a meios aquosos) localizados no monte central da cratera. Após ter chegado em segurança no passado mês de Agosto, o Curiosity tem agora pela frente uma caminhada que o levará do bordo da cratera até ao monte central. Pelo caminho procederá à aquisição de dados que podem uma vez mais alterar a perspetiva que temos hoje em dia da evolução geológica de Marte.

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Crónica

Imigração Frederico Borges A grande surpresa na minha viagem pelos países nórdicos foi a quantidade de imigrantes que existem nestes países. Seria fácil presumir que devido ao teor da minha viagem, interrail, que seria normal deparar-me com imigrantes nas estações de comboio, supermercados e hostels, pois estes locais são normalmente frequentados por pessoas de baixo extracto social. Mas numa viagem de barco a uma ilha arqueológica, fui acompanhado por uma visita de estudo do ensino primário. A diversidade étnica existente nestas turmas é deveras surpreendente pois a percentagem de crianças arianas era semelhante às crianças caucasianas, negras, árabes e asiáticas. Esta multiculturalidade foi magnífica de se observar devido à inocência daquelas. Não se notavam diferenças de relacionamentos devido à etnia, religião

ou cultura. A única diferença entre esta turma e as portuguesas era a boa educação desta. Os países nórdicos, como Portugal e o resto da Europa, estão a sofrer graves problemas demográficos. Estão a nascer cada vez menos crianças fazendo com que a média de idades esteja cada vez mais alta. A solução óbvia para alterar este balanço é aumentar a idade de reforma e abrir a fronteira a mais imigrantes. Abrir as fronteiras encontra dois contra argumentos. O primeiro é a insegurança. Os demagogos usam os mendigos e a criminalidade como factor da imigração, mas uma análise comparando os imigrantes com a pobreza mostra que a relação não é étnica, mas social. A dificuldade de adaptação de alguns imigrantes poderá levar à criminalidade, mas não condenar os imigrantes pelos erros de alguns, pois grande parte deles imigram

para trabalhar. Isto leva-nos ao segundo contra argumento. Alguns defendem que os imigrantes vêm “roubar” os nossos trabalhos. Apesar dos naturais afirmarem que têm dificuldades em arranjar emprego, os imigrantes tendem a ter menos dificuldades. Isto explica-se por estes estarem disponíveis para fazer qualquer tipo de trabalho, como a agricultura em Espanha, Construção Civil em Portugal, e empregados de balcão na Escandinávia. Estes argumentos populistas esquecem as vantagens da imigração. Porque estes dois contra argumentos focam-se nas gerações de adaptação. À medida que as gerações vão passando, estas pessoas deixam de ser imigrantes e passam a ser naturais, fazendo a regeneração demográfica de população tão necessária nas sociedades modernas.

Terra do nunca Frederico Borges Na estação de comboios de Kew, a 30 min de Londres, uma senhora aproxima-se de mim e pergunta-me se sou português provavelmente porque tenho um casaco com o nome de Portugal escrito nele. Orgulhosamente digo que sim e a senhora fica instantaneamente com um sorriso de orelha a orelha. É das poucas oportunidades que têm para falar a língua natural, a 5ª língua mais falada do mundo, o português. Rapidamente descubro que vive em Londres há 40 anos, é casada com um francês, que têm uma filha e que também já é avó. Desculpase por estar a falar tanto, mas diz que são as saudades de falar português. Para abrir a conversa, pergunta-me de onde sou. A resposta a essa pergunta há muito que já mudou. Apesar de ser estudante de Coimbra, esta já passou a ser a minha cidade. Não consigo perceber quando é que Coimbra passou a ser a minha cidade. Aparece um brilho nos olhos da senhora. Também foi uma estudante de Coimbra, e passa automaticamente a ser uma colega, e afirma: “Foram os melhores anos da minha vida”. Este parece ser o efeito que Coimbra transmite a todos os que passaram por cá. Coimbra é um Universo paralelo onde tudo

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parece mágico e eterno. Os antigos estudantes de Coimbra serão para sempre estudantes deixando para sempre uma marca em nós. A história mágica de Coimbra não pára aqui, nesta viagem pela Europa descobri que poucas são as que ouviram falar de Coimbra. Esta cidade parece um tesouro perdido que poucos têm a sorte de encontrar. É este o espírito de Coimbra. Vivemos numa “Terra do Nunca”, onde o tempo parece não passar e os estudantes são “Meninos Perdidos” neste maravilhoso mundo que poucos sabem que existe. Sempre vivi na margem sul do tejo, e todos os meus colegas do secundário foram estudar para Lisboa. Eles vêem a universidade como uma passagem entre a adolescência e a vida adulta. Para nós, estudantes de Coimbra, a Universidade é o cerne. É a adolescência e a vida adulta que são experiências de passagem, para nós existe o antes e o depois de Coimbra. Coimbra não pode ser explicada, tem de ser vivida. É graças a esta inexplicabilidade que se estabeleceu o elo entre mim e a senhora, e o resto da nossa conversa centrou-se nas nossas experiências de Coimbra até sairmos da nossa paragem, deixando um rasto de capa negra atrás de nós.

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Crónica

Portugal a duas velocidades João Manuel Andrade Portugal é hoje um país a duas velocidades com dois centros urbanos de “alta cilindrada” e um interior que está “avariado” e à espera de um mecânico. O nosso país é um conjunto de regiões completamente desniveladas e marcadas por profundas assimetrias entre si. Interior é o cruzamento de vários factores como a ruralidade, a proximidade da fronteira com nuestros hermanos, a distância ao litoral, entre outros. Chega quase a ser sinónimo de zonas pouco desenvolvidas com profundos problemas económico-sociais. Quem, como eu, nasce e vive rodeado de paisagens austeras mas belas e abraçado pelo granito da Estrela, facilmente identifica um punhado de problemas que se nos apresentam como barreiras à nossa fixação. Quem por aqui anda nota que o acesso a serviços é relativamente problemático uma vez que é necessário percorrer grandes distâncias para conseguir aceder aos mesmos, nomeadamente a cuidados de saúde, espectáculos ou por vezes a algum comércio. Outro grave problema com que nos deparamos é a falta de oportunidades de trabalho que só agrava a desertificação que é degradante do ponto de vista social, económico e territorial. Não é preciso fazer uma análise muito exaustiva para perceber que a riqueza não é igualmente distribuída pelas regiões. Temos quase 30% da população nacional a residir nos centros urbanos de Lisboa e Porto e o restante espalhado pelo país fora e esta situação torna-se mais dramática quando parece ser impossível inverter a tendência. O interior não tem grande “capital eleitoral” que é como quem diz não vale votos, e isto

não incentiva os governos a preocuparem-se com os problemas que afectam estas regiões deixando para trás quem mais precisa. Sou um verdadeiro defensor da Regionalização uma vez que a descentralização do Estado iria trazer autonomia às regiões e com que estas fizessem por si, sem ter delegar ao poder central responsabilidades para as quais não conhece a realidade das populações. Apostar nos produtos endógenos é também uma possível saída desta situação. As zonas rurais são por natureza grandes produtoras de produtos com enorme qualidade e com uma procura relativamente elevada tanto em mercado nacional como internacional e esta seria a solução para inúmeras empresas familiares assim como para os produtores. O turismo não pode ficar de fora. A maior parte destas regiões tem património único e com um valor histórico incalculável assim como as suas paisagens únicas. Como vista a fixar a generalidade da actividade económica será necessária uma clara discriminação positiva destas regiões, seja ela de ordem fiscal ou não. A melhor maneira de captar o investimento dos privados será garantir-lhes melhores condições que nos grandes centros. Isso poderá ser, como disse, através da redução de cargas fiscais ou atribuição de outro tipo de benefícios. Viver por cá é óptimo, mas por vezes torna-se complicado. Por muito que os cabeços e o granito da Serra nos tentem esconder o horizonte, teremos que encontrar formas de os contornar. Sejamos empreendedores, tenhamos iniciativa, procuremos a solução para o problema e lutemos por um interior que o seja só de nome.

O Bar de todos nós? João Azevedo Nos primeiros dias deste ano lectivo deparo-me com um grande universo de estudantes a mal tratarem uma tal de D. Vitália, não conheço dada Senhora, mas pelo que soube é esta a responsável pelo fecho do suposto bar dos estudantes às 00:00 horas. Realmente não compreendo tais insultos, uma vez que esta senhora está no seu perfeito direito de reclamar pelo barulho excessivo que uma discoteca à porta de casa lhe proporciona. Ok! Era exactamente aqui que eu queria chegar, a discoteca. O suposto bar que nós estudantes da Universidade de Coimbra e sócios da AAC temos ao nosso dispor

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é tudo menos um bar de estudantes! Pelo que sei, bar de estudantes era aquele espaço onde não há muitos anos atrás (talvez antes da mercantilização da AAC) ocorriam as mais diversas tertúlias, onde a cultura predominava, com constantes debates, exposições e onde os estudantes aí se juntavam, claro que para beber uns finos mas sobretudo porque ali se sentiam em casa, e porque sentiam o bar como parte importante da sua formação académica e pessoal, onde a qualquer momento uma tuna aparecia e alegrava a malta com uma balada de Coimbra. Hoje, com a concessão do bar a uma qualquer empresa, que como é de esperar procura

o lucro, nós estudantes encontramos lá um espaço sem qualquer sentimento académico, onde não se respira tradição e ao invés de um lugar de culto é apenas mais um a juntar-se a muitos outros espaços nocturnos desta cidade. Está na hora de a DG/AAC ter a coragem de pensar verdadeiramente nos estudantes e de concessionar o bar aos SASUC por um preço justo, onde voltem a ser praticados preços acessíveis a qualquer estudante e onde possamos recuperar uma identidade perdida e fazer do bar da AAC o bar de todos nós, de modo a que pelo menos a balada da despedida tocada às 04:00 faça o mínimo sentido.

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Festivais e música texto por_Gonçalo Louzada

Há muitos anos que Portugal possui um circuito de festivais invejável. Clássicos como Paredes de Coura, Super Bock Super Rock e Sudoeste TMN que se mantêm no ativo há cerca de duas décadas a mostrarem sustentabilidade, o mais recente Optimus Alive com uma grande afirmação e imagem além fronteiras e o festival de massas Rock in Rio, de dimensão global são exemplos. Isto para não falar no pequeno Milhões de Festa, que trouxe este ano Alt-J, nomeados para Mercury Prize com o seu album de estreia, e no Optimus primavera Sound, irmão de outro festival que já existe em Barcelona há muitos anos, reconhecido pelos seus cartazes de grande qualidade e trazendo grupos que raramente frequentam estas paragens. Este ano apenas estive presente no último dia do Optimus primavera Sound, estreante por terras lusas (finalmente!) e nos 3 dias do Optimus Alive, que há 4 anos me iniciou nestas andanças de festivais. Já tive o prazer de frequentar tambem o Super Bock Super Rock, e o mítico Paredes de Coura, e neste artigo tentarei falar mais deste ano, da atualidade, mas obviamente terei em conta experiências passadas. O

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último dia do Optimus primavera Sound era para mim atrativo por três nomes: Death Cab for Cutie, The xx e Kings of Convenience (sendo que estes dois últimos era uma segunda vez). Algo que é sempre complicado nestes eventos é gerir os concertos: há sempre concertos sobrepostos (embora o OPS tivesse dois palcos principais, lado a lado, para que não se perdesse tempo entre concertos durante a montagem dos equipamentos). Assim, no meio de muita chuva que pela primeira vez em festivais me deixou completamente encharcado, pude ver os britânicos Veronica Falls, um pouco de The Weeknd, os aclamados Spiritualized, Afghan Wighs, até sofrer com uma falha de organização: o palco onde os DCFC deviam atuar não estava completamente coberto, e entrava chuva por trás. Resumindo: o tempo que demoraram a fazê-lo foi o tempo de os DCFC cancelarem pois tinham de seguir viagem. E foi a única falha que encontrei numa boa organização, num espaço verde ótimo para receber este evento (o Parque da Cidade, no Porto) e com uma frequência a lembrar PdC, ainda que mais citadino. Venha o OPS 2013. Em julho pude

carimbar a minha quarta matrícula no Optimus Alive, festival que por ter sido o meu primeiro, acarinho de modo especial. E mais uma vez a organização deste festival não deixou créditos por mãos alheias e trouxe músicos de qualidade e que passeiam pelos ouvidos do Mundo. Começando pelos cabeças de cartaz, os recém reunidos The Stone Roses, menos conhecidos por Portugal mas com estatuto de lendas no UK, passando pelos incontornáveis The Cure e terminando naquela que é para muitos uma das bandas mais únicas, mais criativas e reinventivas da atualidade, os Radiohead, passando por The Maccabees, Metronomy, The Antlers, Justice, Caribou, The Kills, e muitos mais que mereciam menção. Muita música, muita arte para disfrutar. E as expectativas não saíram defraudadas: grande evento de arte e cultura, grandes concertos com Radiohead a demonstrarem o porquê de toda a aclamação que os rodeia . Resumindo: os Portugueses têm uma variedade enorme de escolhas, é verdade que se fazem alguns quilómetros mas os espetáculos e as experiências fazem valer a pena a despesa extra.

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Copos + Boas notas + Extra-curriculares = Possível texto por_Maria de Fátima Machado “Actividades extra-curriculares, saídas á noite, copos e boas notas. Bem, escolheram-me para escrever o artigo e aceitei o desafio, não quero ser enfadonha portanto vou tentar ser breve.” Para mim é possível conjugar estas três coisas, Quanto a atividades extra-curriculares estou na jeKnowledge, no núcleo de estudantes do departamento de física, e sou voluntária (com uma idosa). Relativamente ao voluntariado é algo que me enriquece como pessoa e que me permite conhecer o outro lado de Coimbra, conhecer os que nela moram desde sempre. Sintome bastante útil quando o faço, sei que melhoro um pouco a qualidade de vida desta pessoa. Na minha opinião, se cada estudante fizesse o mesmo talvez a

população idosa não estivesse sozinha, aproveito portanto para deixar aqui um incentivo :D. Pratico desporto e adoro ver séries e filmes, mas não considero uma atividade extracurricular e é algo que faço consoante o meu estado de espírito. Quanto a saídas, bem, não há muito a dizer, saio com alguma frequência, gosto de ir para os copos com os amigos e relaxar um bocadinho, algo essencial na vida de um estudante e estando eu a estudar em Coimbra seria impossível não disfrutar da vida noturna, assim como é essencial gozar as festas académicas! Mas, como é óbvio, em época de exames não saio à noite regularmente, tudo tem uma hora certa para acontecer. Quanto a boas notas, pediram-me para falar do meu método de estudo. Eu não tenho método, depende da cadeira, do interesse que tenho por ela e da vontade. Gosto de acompanhar a matéria, portanto tento seguir as aulas. Não tenho tempo para estudar todos os dias ou ter o estudo sincronizado com as aulas, mas tento nunca ‘perder o fio à meada’ e sempre que tenho dúvidas nas aulas pergunto. Dado que em Coimbra muitas cadeiras são por exame a estas posso relaxar mais, o que me permite ter tantas atividades extra, e na época

de exames estudo bastante, pois como é óbvio as notas também não caem do céu. Quando tenho pouco tempo prefiro estudar em grupo porque todos sabem alguma coisa, e assim ajudamo-nos uns aos outros, tendo mais tempo prefiro estudar sozinha pois desta maneira a matéria fica guardada no cérebro durante mais tempo. Bem, acho que é apenas isto e foi um texto bastante extenso! Tudo é possível, basta querer. Acho que são importantíssimas as atividades extracurriculares, saídas, e o estudo porque cada um à sua maneira te enriquecem como pessoa e profissional, e se te divertires o estudo até corre melhor!

Mãe, já sei cozinhar

Almôndegas com molho de tomate picante Ingredientes : 1 Kg de massa à escolha -Almôndegas: 500 g de carne de vaca picada 1 malagueta

1 ovo 3 dentes de alho Canela em pó, qb. Sal, pimenta qb. - Molho:

3 dentes de alho 1 malagueta 800 g de tomates Manjericão, vinagre e azeite Sal e pimenta, qb

Receita: Misturam-se todos os ingredientes das almôndegas e formamos pequenas bolas. Coloca-se uma panela com água e sal ao lume para cozer a massa. De seguida, fritam-se em azeite, em lume baixo. Noutra frigideira começamos a fazer o molho, colocamos o azeite, alhos, manjericão, malagueta, tomates, vinagre, sal e pimenta. Assim que as almôndegas estejam fritas colocam-se na frigideira do molho, assim como um pouco de manteiga. Escorre-se a massa, reservando um pouco da àgua da cozedura. Junta-se a massa ao molho, com alguma àgua da cozedura (se necessário).

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Riddles What is the unique characteristic of the following words: coughing, thirsty, defiant? There is a word in the English language in which the first two letters signify a male, the first three letters signify a female, the first four signify a great man and the whole word a great woman. What is the word? Complete this sequence of letters: o, t, t, f, f, s, s, _, _, _.

If you know the answear to this riddles send it to “resistancemag@gmail. com”. If you are the first with three correct answers you will win a prize.

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