Resistance magazine 4

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RESISTANCE 4ª Edição

Dezembro 2011


Editorial “If you have ideas, you have the main asset you need, and there isn’t any limit to what you can do with your business and your life. Ideas are any man’s greatest asset.” Harvey S. Firestone Sim, temos de escrever sempre um editorial mas nunca sabemos o que escrever. Decidimos, então, bater o paleio do costume (NOT!). Já repararam mas os cantos da revista foram alterados: sim o nosso logótipo mudou, tal como é visível na capa. E se estiveram na festa de lançamento de quinta-feira já se devem ter apercebido que a revista está a

crescer em quantidade e qualidade. Com os nossos novos membros, Guilherme Simões de Eng. Informática e da nova caloirinha Catarina Oliveira de Eng. Biomédica, as nossas áreas de incisão estão a aumentar, sendo os temas abordados cada vez mais diversificados. Qualquer coisa já sabem, comuniquem:

resistancemag@gmail.com facebook.com/resistancemag

Table of contents 2_”TEDX”. Sérgio Pinto 3_”Biomédica, curso do futuro”. Ana Cortez 5_”Um olhar...DFUC”.Miguel Morgado, Ph.D 7_”À grande e à fracesa”. Carlos Moreira 8_”Caminhos do cinema português”. Fred Borges 9_”Entrevista”. Maria Constança Providência Santarém e Costa 12_”Se divertindo em Genebra”. Edson Ferreira 13_”Estado estacionário”. João Borba 14_”Estado excitado”.Pierre Barroca 15_”16 fps”. 17_”78 rpm”. 19_”Stanford e Milgram”. Pedro Cunha 21_”Alfazema amarela”. Catarina Oliveira 22_”Pensamentos ao acaso”. Bernardo Fabrica 23_”Crónicas” 25_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nuno Balhau 26_”A gamer (re)view”

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Ficha técnica: Editores: Joana Faria, Frederico Borges, Pedro Silva Colaboradores: Karen Duarte, Patrícia Silva, Ana Telma Santos, Rui Nunes, André Silva, Guilherme Simões e Catarina Oliveira Revisão: Ângela Dinis Capa e Design Rui Nunes e Pedro Silva RESISTANCE


Sérgio Pinto

TEDx Coimbra

15 de Outubro de 2011 O grupo TED foi fundado em 1984 e a primeira conferência aconteceu em 1990. Poderia começar por tentar explicar o que é o conceito de uma TED talk, mas certamente nada melhor do que dar um exemplo, numa altura em que possivelmente se perdeu o melhor orador que alguma vez fez uma TED talk mesmo não tendo sido num evento oficial, estou a falar de Steve Jobs e do seu discurso em Stanford, uma TED talk é apenas uma conversa, uma conversa para “dar assas aos pensamentos”. Atualmente um evento TED aborda as mais amplas temáticas, quase todos os aspectos de ciência e cultura podendo até ser apenas uma conversa moral, uma história, um retrato de vida...possivelmente é por ser isto tudo que os eventos TED conseguem ter o sucesso global que possuem. Passando ao evento TEDx Coimbra, este começou por prestar 2 homenagens, 2 homenagens mais que merecidas, homenagens devidas. Falo de 2 TED talkers que faleceram recentemente, Steve Jobs, mais que um visionário, um exemplo de sucesso e de entrega e de Diogo Vasconcelos, um dos melhores empreendedores que existia em Portugal e que tinha confirmado presença neste evento...Cada um diferente mas ao mesmo tempo referencias, mais que oradores, eram inspiradores! Com estas homenagens iniciou-se o TEDx Coimbra, de seguida passamos a uma velocidade estonteante por todas as palestras, cada uma diferente da anterior e da seguinte, cada uma única. Não vou falar de todas, apenas de algumas, daquelas que a mim me surpreenderam ou pela temática ou pelo próprio orador: “Ossos”: Eugénia Cunha – E não é que afinal a série “Bones” não é ficção? Pois é, realmente tudo aquilo é verdade, é possível e mais que isso é passado, costuma-se dizer que os olhos são o espelho da alma, pois então agora digo então os ossos são o espelho de uma história de vida. “Estratégias para investigar o que não pode ser investigado”

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– João Ramalho Santos – Porque às vezes a investigação tem destas coisas, nem tudo está escrito como numa receita, nem tudo é fácil, às vezes é preciso inovar, à bom português é preciso “desenrascar”, esta palestra foi o mais puro exemplo disso, como conseguir investigar o que não pode ser investigado, aliando o tema com a à-vontade demonstrada pelo orador, temos a receita para uma excelente TED talk. “Uma nova era na imagem digital”: André Boto – Quem não tem um fundo daqueles todos “futuristas” como wallpapper do PC? Mas será que sabemos como é feito? O André primou por mostrar o resultado final mas acima de tudo fazer algo que nunca tinha visto que é a evolução como pegar numa imagem de um Castelo, uma pedra e uma correntes e provar que é possível fazer um castelo levitar ao ponto de ter de estar preso por correntes... Afinal muitas das vezes para poder apreciar a complexidade de uma imagem era bom poder ver como começou, como evoluiu até chegar ao resultado final...Ficção Digital na sua mais pura essência. “Voluntariado”: Fernanda Freitas – Talvez um tema que muitas pudessem achar que estaria desenquadrado de uma TED talk, ficou provado que todos os temas têm espaço nestes eventos, simplesmente fabulosa a interação com a plateia, suficiente para que todos se levantassem e aplaudissem (quem lá esteve percebe melhor esta). Não me posso alongar muito mais, deixo uma sugestão não percam a próxima edição e deixem os vossos pensamentos voar!

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Biomédica Curso do futuro Ana Cortez “Foi em tempo de adversidade que os portugueses souberam realizar os seus maiores feitos”

Começo esta breve “reflexão” com uma análise prática dos acontecimentos que acomodam a sociedade em que vivemos e influenciamos. De facto, todos os dias fazemos parte de uma História, que apesar de um passado e de um presente cheio de acontecimentos marcantes e evolutivos, não esquece nunca o futuro e os novos passos que ficarão marcados pelo significado profissional, pessoal e científico daqui a alguns anos. O caminho adoptado pela sociedade actual não é totalmente correcto, ou será que hoje em dia e no futuro, todos os cidadãos deverão ter uma formação académica superior? A questão é controversa. Mas de facto, a evolução da humanidade é baseada nas descobertas que todos os dias são potenciadas nas mais diversas áreas e, dessa forma, os efeitos da inovação têm uma forte influência nos costumes e comportamentos das sociedades. Assim, será que amanhã ainda existirão pessoas para desempenharem as funções mais básicas da nossa sociedade? A resposta é óbvia, mas não tanto como há vinte anos atrás, em especial em Portugal. O exemplo é muito fácil, para um investigador poder fazer o seu trabalho tem de se deslocar para o local do laboratório, por exemplo, para isso é necessário que o seu veículo de transporte esteja disponível e em

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bom estado. Para isso tem de haver mecânicos. Para o investigador se poder alimentar tem de haver pão, por isso tem de existir o padeiro. Para o investigador dividir trabalho, tem de ter uma secretária. Para a rua estar limpa e evitar a propagação de doenças tem de haver o “homem do lixo”. De facto, para

haver conhecimento e inovação, tem de existir uma sinergia de funções na sociedade, isto é, nas profissões. Apesar desta realidade, deve-se ainda partir para “o outro lado da moeda”. À medida que a sociedade muda, existem outras necessidades e dessa forma é imperativa a adaptação dos sujeitos e das profissões a essas mesmas modificações. Segundo o Bureau of Labor Statistics’ list of the fastest-growing occupations prevê-se o surgimento de mais de um milhão de novos empregos até 2018, mas o mesmo não significa que existam profissionais

suficientes preparados para esse efeito. Das dez categorias previstas, oito dizem respeito à saúde ou cuidados médicos, uma a serviços financeiros e a última ao campo da tecnologia. Contudo, um outro alerta é salientado pela mesma entidade, o facto de estas serem as áreas com maior oferta e com maior índice de crescimento nos próximos anos, tal não significa que todos os interessados tenham um emprego, já que estas exigem muito tempo e muitas áreas de formação. Em 17 de Abril deste ano, o The New York Times publicou a lista dos dez empregos mais promissores, intitulada de Top 10 List: Where the Jobs Are. Com base no juízo crítico que apresentei anteriormente, o Engenheiro Biomédico surge em primeiro lugar, com um crescimento de 72%, ou seja, 12 000 novos empregos em 2018. A descrição feita acerca das funções de um Engenheiro Biomédico é cada vez mais clara, passando por áreas muito abrangentes, desde os Biomateriais até aos Componentes Electrónicos com especial destaque na inovação e até nas adaptações de técnicas já existentes. O principal objectivo de um profissional nesta área visa criar técnicas mais rápidas, eficientes e não invasivas para diagnóstico e tratamento médico, com vista à melhoria da qualidade de

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vida da sociedade. Obviamente para isso, os profissionais desta área devem passar por uma formação académica muito intensiva nas mais diversas áreas da Matemática, Física, Química, Medicina e Engenharia, sem nunca pôr de parte o espírito de inovação e empreendedorismo. Na minha opinião, os gostos profissionais na sociedade passam por ciclos, consoante a área que oferece emprego e confere estatuto. Infelizmente, existem sujeitos que exercem uma dada profissão para a

mudar de rumo para nos sentirmos realizados profissionalmente. É neste contexto que nasce o conceito de Empreendedorismo! As funções de um Engenheiro Biomédico exigem-lhe que seja empreendedor na aplicação prática e nas ideias de negócio. Isto é, não basta ter a ideia brilhante e pôr um dispositivo em prática, é necessário levá-lo a conhecer ao mercado de trabalho e fundar um negócio próprio inovador e obviamente sustentável. Nos tempos actuais, a conjuntura aconselha à

...o The New York Times publicou a lista dos dez empregos mais promissores (…) o Engenheiro Biomédico surge em primeiro lugar qual não tem aptidão porque sabiam que após a sua formação teriam um emprego garantido e/ou porque a sua influência na sociedade lhes confere importância e altos salários. No nosso país essa é uma realidade, infelizmente. Assim, olhando à condição sócioeconómica de Portugal, e até mesmo do Mundo, existem profissões sobrelotadas e desgastadas, pelo que é necessário

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prudência, mas não ao marasmo. Foi em tempo de adversidade que os portugueses souberam realizar os seus maiores feitos. O universo empresarial não é excepção. Com riscos e investimentos mais controlados é possível empreender em Portugal, desafiando todas as barreiras (in Expresso – Emprego 22 de Outubro de 2011). A ideia final que pretendo partilhar é que existem cada vez mais

relatos de que os talentos portugueses “fogem” para o estrangeiro em busca de melhores oportunidades. Na minha opinião, é em busca de melhores salários, já que em Portugal existem locais de instituições de prestígio para a divulgação científica de novos trabalhos, mas os financiamentos ainda não são os suficientes. No mês passado foi apresentada uma nova plataforma que mostra toda a investigação que está a ser produzida em Portugal na área das ciências da Saúde. O projecto dá a conhecer os projectos de Health Cluster Portugal, salientando a importância da retenção dos talentos nacionais nesta grande área para uma ajuda na recuperação económica do nosso país. A maior ligação dos jovens talentos entre a investigação e as empresas poderia evitar essa fuga e ajudar a criar melhores condições de trabalho de modo a produzir mais riqueza para a ciência e para Portugal, já que actualmente 24% dos investigadores trabalham em empresas e 76% em Universidades. Para terem ideia, nos EUA acontece o contrário.

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Um olhar sobre os cursos de Engenharia no DFUC Miguel Morgado, Ph.D Não sei precisar a data, mas em Setembro passaram 27 anos desde o dia em que um grupo de 20 alunos, no qual me orgulho de estar incluído, iniciava as primeiras aulas da Licenciatura em Engenharia Física da Universidade de Coimbra (UC). Com isso começava também a coordenação de cursos de Engenharia no Departamento de Física (DFUC). Estávamos no ano lectivo de 1984/1985. Hoje, setenta por cento dos alunos inscritos nos cursos coordenados pelo DFUC são alunos de cursos de Engenharia. A criação do curso de Engenharia Física (EF) foi impulsionada por um conjunto de professores do DFUC, dos quais é justo destacar o Prof. Carlos Nabais Conde. Contudo, conforme rapidamente me vim a aperceber, o novo curso não foi bem visto por toda a comunidade do DFUC. Uma parte significativa dos docentes achava que a existência de um curso de Engenharia não

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fazia sentido e era contrária à missão do DFUC. Ensinar um curso de Engenharia era visto como algo que desvirtuava a pureza do ensino da Física. Recordo bem o cartoon, da autoria de um professor, com que a nova licenciatura e os seus alunos foram mimados. Importa notar que o DFUC assumia a tarefa de coordenar o curso de EF sem que nele existisse qualquer cultura de engenharia. Não havia praticamente contactos entre o DFUC e o tecido empresarial. Dos seus professores em 1984, apenas 3 eram detentores de uma licenciatura em Engenharia. O principal argumento para tal coordenação era a forte componente de investigação em Física Tecnológica, particularmente em instrumentação, testemunhada pelas diversas publicações relacionadas com detectores de radiação ou com electrónica nuclear e pela participação em projectos como o desenvolvimento do ENER1000, o

primeiro computador português. Apesar de todos os constrangimentos, o curso de EF prosperou. Se olharmos para os primeiros 10 anos da sua existência, verificamos que o curso conseguiu sempre atrair alunos, muitos deles de elevada qualidade. Quando em 1989 os licenciados começaram a sair para o mercado de trabalho beneficiaram de um forte crescimento económico e, em particular, da expansão da rede de ensino superior e de investigação científica. Entre 1989 e 1994, o curso teve 37 licenciados. Destes, apenas 10 tiveram o seu primeiro emprego fora do sistema científico. Na minha opinião, e algo paradoxalmente, o sucesso na atracção de alunos de qualidade (54% dos licenciados entre 1989 e 1994 vieram a doutorar-se) acabou por ser prejudicial para o curso. Não existindo relações entre o sector empresarial e o DFUC, também não houve a preocupação de as criar. Afinal o curso ia suprindo as necessidades dos centros de investigação do DFUC e isso era considerado como indicador de que tudo estava bem. Quase que poderíamos dizer que ao DFUC bastava que o curso cumprisse esta função. E com este conforto nunca houve a preocupação em criar relações com o mundo empresarial. Claro que as consequências surgiram. Apesar de o número de recém-licenciados com primeiro emprego fora do sistema científico ter aumentado a partir do meio da década de 90, uma boa parte destes empregos correspondiam a funções de docência no Ensino Secundário e em Formação Profissional. Nem o facto de a designação “Engenharia Física” ter adquirido maior visibilidade junto dos empregadores obstou a que se criasse a ideia, na minha opinião injusta, de que o curso, além de ser difícil, não dava emprego. As candidaturas RESISTANCE


diminuíram, as vagas de acesso deixaram de ser preenchidas. O DFUC demorou a reagir. Muitas vezes ouvi dizer que não havia problema. As vagas não eram preenchidas mas os alunos que vinham eram muito bons… Em 2002 entrava em funcionamento o segundo curso de engenharia coordenado pelo DFUC: a então Licenciatura, hoje Mestrado Integrado, em Engenharia Biomédica (EB). A sua criação inseriu-se numa vaga nacional de cursos de Engenharia Biomédica, quase todos criados no seio de departamentos de Física. E se é verdade que estes departamentos já realizavam investigação biomédica, nomeadamente nas áreas da imagem e da instrumentação, também o é que a criação destes cursos resultou essencialmente da conjugação de dois factores: a falta de alunos nos cursos oferecidos por esses departamentos, com consequências no seu financiamento, e o elevado número de alunos de grande qualidade que ficavam de fora dos cursos de Medicina. Com o curso de EB, o DFUC procurou não repetir erros passados. A convivência com o curso de EF e o evoluir dos tempos tinham alterado substancialmente a forma de encarar a presença de cursos de Engenharia. Os alunos foram incentivados a realizar o Projecto final fora da Universidade: dos 184 projectos já concluídos, 41% foram totalmente realizados em empresas ou instituições externas à UC e outros 16% resultaram de colaborações entre instituições externas e a UC. As ligações ao mundo empresarial foram ainda RESISTANCE

incentivadas com o programa de Estágios de Verão, que já envolveu 71 alunos. Qual é o panorama actual? Desde há uns anos, o DFUC encarou o problema do recrutamento de alunos para os seus cursos, adoptou uma atitude proactiva e realizou um trabalho notável de divulgação junto das Escolas Secundárias que foi crucial para se atingir o estado actual em que todas as vagas de EF e EB são preenchidas na 1ª fase. No entanto muito está ainda por fazer. Os próximos anos vão ser de grande exigência em termos de colocação dos nossos Engenheiros no mercado. Quer por condicionantes externas como a crise económica, quer pelo maior número de finalistas que resulta inevitavelmente do sucesso no recrutamento de alunos. E o DFUC não pode esquecer que a empregabilidade dos seus cursos é o melhor argumento para esse recrutamento. Ainda são poucos os empresários que se lembram do DFUC quando querem recrutar um engenheiro. Os que se lembram são basicamente sempre os mesmos. É raro ver um empresário no DFUC a dar uma palestra. Menos ainda a leccionar um módulo numa cadeira ou a avaliar um curso. Se exceptuarmos a Blueworks e a jeKnowledge, nos últimos 15 anos pouco há a assinalar em termos de empreendedorismo. Apesar do sucesso do curso, 50% dos diplomados de EB estão colocados no sector de investigação científica, um número muito superior ao desejável (cerca de 20%). O número de empresas que colabora com o curso de EB estagnou nos últimos anos. Diria que os cursos de Engenharia do DFUC estão a precisar de um novo abanão. E há urgência em fazê-lo. O DFUC pode e tem que fazer mais. Pode fazer um esforço adicional para aumentar o número de empresas que proporcionam estágios e projectos e para alargar a base geográfica dessas empresas. Pode criar estruturas de avaliação e aconselhamento dos seus cursos que integrem elementos externos à UC. Pode abrir a leccionação de matérias de cariz tecnológico a especialistas de empresas. Pode, em colaboração com o NEDF, criar iniciativas que resultem na presença de

empresários no DFUC, particularmente aquelas que promovam uma cultura empreendedora. Mas não pode fazer tudo. Há limitações institucionais que dificultam a promoção dos cursos e dos seus diplomados. A solução passa, na minha opinião, pela criação de Associações de Apoio aos cursos do DFUC, iniciativa que deverá partir necessariamente dos antigos e actuais alunos. Sei que está na forja uma associação de apoio ao curso de EB. Penso que há lugar para outras associações, em particular para a EF. Elas podem captar recursos financeiros e ter instrumentos de promoção que não estão ao alcance do DFUC. Um simples site web de divulgação dos perfis dos alunos finalistas, dos projectos que eles realizam, dos seus CVs, das carreiras daqueles que já acabaram o curso, foi algo que nunca foi possível fazer dentro dos limites impostos pelos recursos do DFUC e pela imagem institucional da UC. E isto é apenas uma ideia relativamente óbvia. Terminada uma primeira fase de consolidação do curso de EB e de recuperação do curso de EF, é urgente trabalhar para um novo patamar. É fundamental que seja criada, na comunidade empresarial, a percepção de que o DFUC é também uma escola de engenharia. Tal exige um esforço considerável para tornar o DFUC um lugar que os empresários se habituem a frequentar. É tarefa do DFUC iniciar e promover esse esforço mas a sua total realização implica a criação de organizações onde actuais e antigos alunos se possam congregar no apoio e promoção deles próprios e dos seus cursos.

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À grande e à francesa

Carlos Moreira Pode-se dizer que esta expressão é levada à letra pela indústria cinematográfica Francesa. Com um dos mais prestigiados festivais de cinema do Mundo, a França tem habituado ávidos cinéfilos a obras da sétima arte que tocam os píncaros da excelência. Pela 12ª vez, Portugal partilhou de obras cinematográficas Francesas “novinhas em folha”, do mais “audaz” e “eclético” que por lá se fez, “delirantes”, “corrosivas”, “magistrais” e mais qualquer coisa de causar “pele de galinha”. Na verdade, aqui por Coimbra, o festival passou nos dias 2 aa 8 de Novembro, mais uma vez, pelo Teatro Académico de Gil Vicente e os anfitriões deste evento não se pouparam nos elogios na sessão de inauguração. O sucesso deste festival por terras lusitanas parece ser crescente ao longo das sucessivas edições e não há dúvidas de que veio para ficar. Como nos anos anteriores, a Festa do Cinema Francês trouxe estreias que ainda não saíram comercialmente, comédias e dramas bem ao estilo europeu e até animações para os amantes de cinefilia mais novinhos. E, para meu agrado, acrescentou novamente este ano vários clássicos recuperados e inovou com a nova categoria de homenagem. Também para festejar o 50º aniversário da Semana da Crítica do Festival de Cannes, foi possível fazer uma pequena retrospectiva ao melhor cinema feito até hoje. Mas nem tudo foi perfeito como me fizeram acreditar, com alguns trabalhos de fazer contar os minutos no relógio e outros que intrigam e põem em causa a suposta criatividade do realizador. Sim, porque, por detrás de películas de me levar às lágrimas tanto de rir às gargalhadas, como de chorar discretamente, há outras que me fizeram levar as mãos à cabeça, tanto de pasmo por tantas cenas ocas e sem nexo todas juntas como de revolta pelo investimento de 3,5€ numas horinhas de consecutivos bocejos e reflexões sobre as leis do Universo.Com a possibilidade de adquirir um passe para 5 filmes num valor mais em conta, suspeito

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que a organização tentou atrair assim mais espectadores. Resultou comigo. Ainda assim, não me vi a comprar mais bilhetes para além do passe, como no ano passado. Talvez a crise tenha chegado, não à minha carteira, mas à organização do festival. Isto porque, desta vez, nem a inauguração teve tanta pompa nem os organizadores falaram bem português. Ah! E não houve macarrons… Pena. A escolhida para abrir a festa foi a fita Poupoupidou de Hustache-Mathieu, mas sem a presença da protagonista Sophie Quinton, que deu o ar de sua graça na abertura em Lisboa. Um filme premiado e com óptimas criticas, conta uma historia incomum ao estilo inimitável do realizador. Mas nada comparável ao inesquecível L’Arnacoeur que abriu por estes lados o festival passado. Vi que este acontecimento teve o apoio de tudo o que se possa imaginar, incluindo a Universidade, mas por Coimbra isso não se notou assim tanto. Até as legendas dos filmes tiravam folgas por momentos, o que irritava sobretudo naquela comédia onde a única pessoa a rir-se era o estudante francês sentado na fila da frente. Nem a madrinha do festival, a excepcional Carole Bouquet cá pôs os pés, ficando-se também pela capital.Mas esquisitices à parte, há que concordar que iniciativas destas são muito bem-vindas. Pela minha parte, até podiam fazer festas do cinema de outras origens quaisquer, já que, no fim de contas, vi bons filmes, excelentes histórias e grandes actores. Os bilhetes são relativamente baratos e o TAGV tem excelentes condições. E agora, vestindo a pele daqueles críticos de cinema mas sem as expressões carregadas de palavras difíceis que impressionam, mas que ninguém percebe muito bem, acho que resumo esta experiência como uma oportunidade única para admirar o espantoso trabalho que nesta velha Europa se faz. Uma viagem à cultura gaulesa sem ir muito longe, numa magnífica ocasião que deve ser partilhada. RESISTANCE


Caminhos do cinema português “Porque não gostam os portugueses do cinema português? — Ninguém gosta de se ver ao espelho!” Manoel de Oliveira

Frederico Borges Manoel de Oliveira, um realizador português com 103 anos, responde com uma frase genial à relação dos portugueses com a cultura. Nós não gostamos de nos ver ao espelho. Preferimos, ver, ouvir ou ler histórias fantásticas sobre seres que têm as vidas que gostaríamos de ter. Contam-nos as histórias dos nossos sonhos e brincam com as nossas emoções de forma a terem a maior receita possível. Mas a arte não é isso. Como disse o Woody Allen no seu último filme, o objectivo da arte é procurar um antídoto para a insignificância da vida. “Caminhos do Cinema Português” mostram as diversas tentativas dos nossos realizadores para chegar a esse mesmo antídoto. Por isso,

Contam-nos as histórias dos nossos sonhos e brincam com as nossas emoções de forma a terem a maior receita possível. no TAGV não houve efeitos especiais, nem filmes em 3D, explosões ruidosas ou perseguições de carros. Só houve Amor. Amor pelo Cinema. E que melhor filme para demonstrar esse amor, que o grande vencedor do festival. “Sangue do Meu Sangue” de João Canijo. Com grandes interpretações das três mulheres RESISTANCE

(heroínas?) num Portugal que desejamos fingir que não existe. Vencedor de 4 prémios, incluindo o grande prémio do júri, realizador, argumento original e actriz principal. Mas o que fez do Festival uma experiêancia a não perder

foi a diversidade e quantidade de bons filmes. Grandes documentários como “José e Pilar” (Melhor documentário e Prémio do Público), “Chamo-me António da Cunha Teles” (sobre a nova vaga do cinema português), “Meio Metro de Pedra” (história do rock português) ou “Éden” (Amor dos cabo-verdianos pelo Cinema), exploram a realidade

das histórias esquecidas em Portugal. Nas curtas-metragens vemos os novos grandes realizadores a crescer para assegurarem um futuro brilhante ao cinema português. Nuno Piloto (vencedor do prémio da melhor curta) e André Badalo são exemplos disso. No entanto é nas longas-metragens que o cinema chega à sua essência. Com “Viagem a Portugal”, vencedor da melhor longa-metragem e com uma representação assombrosa de Maria de Medeiros, e “América”, a grande revelação do festival, ambos abordando o tema da imigração em Portugal. “O Barão”, um remake de um filme destruído pelo Estado Novo com uma montagem e fotografia memorável , e “Quinze Pontos na Alma”. Estes filmes ficaram com os prémios do “Caminhos”. O grande perdedor foi “A Morte de Carlos Gardel”, numa adaptação de um livro do António Lobo Xavier. Deverá ter ficado em segundo lugar em muitas categorias, tais como, melhor realizador e melhor longa-metragem. Também tenho de referir a não atribuição do prémio de melhor actor secundário a Nuno Melo por “Sangue do Meu Sangue” como uma enorme surpresa negativa. Nuno Melo encheu a tela com esta representação. Este festival proporcionou cerca de 50 horas de Cinema Português oferecendo uma experiência fantástica a todos os que participaram. Durante uma semana vimos o verdadeiro Portugal e as suas tristezas e felicidades. Já é altura de nos começarmos a ver ao espelho, não?? Dezembro 2011

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Entrevista

Maria Constança Providência Santarém e Costa Profª Catedrática da FCTUC texto_Rui Nunes

Quando despertou o seu interesse pelas ciências exactas, ou mais concretamente, para a física? Eu sempre gostei muito de Matemática, mas a Matemática só por si acho que é um pouco abstracta, e a Física completa-a porque temos que usar a matemática para descrever o mundo que nos rodeia. Eu não tinha ideia nenhuma em mente para outra carreira, mas sempre gostei de Matemática e de Física, portanto foi um percurso natural. No final do secundário tive muito bons resultados também a Biologia e disse à professora de Biologia que estava indecisa se havia de ir para Física ou para Biologia e ela disse que Biologia não, que devia apostar na Física (risos). A partir daí não tive mais nenhum ponto de interrogação sobre o que deveria seleccionar. Apesar de ter nascido em Birmingham, tem nacionalidade Portuguesa e veio a Licenciar-se pela Universidade de Coimbra. Como era estudar em Coimbra nesse tempo? Quão diferente era do que o que observa agora? Eu nasci em Inglaterra mas só fiquei lá um ano. O meu pai estava lá a estudar, nasci lá e quando regressei tinha um ano, portanto os estudos foram todos feitos cá em Portugal. Estudar em Coimbra nesse tempo não era muito diferente de agora. Bem, não havia barulho… (risos) Eu acabei a minha licenciatura, que na altura eram 5 anos, em 1981. A tradição académica foi reposta em 1980, ano em que houve já cortejo da Queima das Fitas… no qual eu não participei. Algum motivo pessoal? Tenho a impressão que foi uma questão de não ter crescido com a tradição e portanto não me dizia nada de especial. No ano seguinte, em 1981, os meus colegas

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desafiaram-me para integrar o cortejo e fui com uma cartola, não como agora, que a cartola na altura era preta, mas fui. Apesar disso nunca fiquei muito ligada às tradições e às vezes acho que há muitos excessos. Se calhar porque nunca vivi as tradições como têm sido vividas aqui, mas eu, quando fui fazer doutoramento em Inglaterra, fui considerada caloira, ou “fresher”, e os caloiros lá também são muito bem tratados. Não como aqui: lá são convidados para todos os clubes,

para todas as associações e instituições que estão ligadas à vida académica ou à vida cultural… à vida da cidade. Portanto, aquele primeiro trimestre é um trimestre de ir tomar o “port wine”, de integração. Ficamos a conhecer bem a oferta e eu acabei por fazer parte da equipa feminina dos barcos de 8 (remo). Isto só foi possível porque os estudantes que chegam todos os anos são integrados e acho que a integração é importante. Coimbra tem essa vida académica: tem uma Associação Académica muito forte, uma vida cultural e desportiva com uma oferta muito variada e eu acho que é importante integrar os estudantes, mas às vezes há excessos. Começou a dar aulas logo após a licenciatura… E na altura foi mais fácil do que agora. Na

altura, logo após a licenciatura houve um concurso para vários lugares, de modo que fiquei colocada. Agora não é tão fácil… Eu também não vejo tão mal o que agora se passa no que diz respeito à possibilidade de, depois de terminarmos um mestrado, podemos ter facilmente uma bolsa e tirar um doutoramento, porque também quebrava (a continuidade). Depois de terminar o mestrado, tínhamos sempre que dar aulas e só depois podíamos ter uma possibilidade de dispensa para fazer um doutoramento. Quebrava a continuidade do estudo e uma pessoa, nos anos em que é mais activa e pode produzir mais, ficava parada e tinha que dar aulas. Conseguia conciliar, mas não com aquela dedicação que devia acontecer. Eu acho que nos primeiros anos nós devíamos ter a possibilidade de ficarmos especialistas numa área de modo a tornarmo-nos independentes para podermos fazer a nossa própria investigação. Se não há aquele empurrão naqueles anos, depois é mais difícil e as coisas vão estender-se no tempo. Mais tarde, após o mestrado, doutorouse em Oxford. O que a levou a voltar a Inglaterra? Na altura em que terminei o mestrado tive uma bolsa Alemã, por 2 meses, para ir discutir o meu tema de mestrado com um professor e a experiência que eu tive na Alemanha foi má. A comunicação era a seguinte: tudo o que dizia respeito à Física, discutia-se em Inglês, mas não havia nada para além disso. Portanto, durante dois meses eu vivi como uma ermita. Discutia Física mas não havia vida própria. Infelizmente, fui para uma Universidade não muito grande, que ficava num meio industrial, sem vida cultural e eu senti isolamento. Lá está, não houve integração. O grupo era RESISTANCE


disciplina. Tínhamos que fazer três disciplinas por trimestre e os trimestres tinham 8 semanas, sem feriados. Podia haver feriados na cidade, que eram sempre à segunda-feira, mas a Universidade não tinha feriados. Exigia trabalho dos alunos, tinham as aulas teóricas, chamadas lectures, e aulas tutoriais, onde se discutiam todos os problemas que tinham sido resolvidos. Isso obrigava a um trabalho permanente… mas também havia festa. Dava tempo para tudo.

pequeno, e talvez esse tivesse sido outro motivo que dificultou… Aí eu logo pensei “Alemanha, não”. Como o Inglês era uma língua que eu conhecia, pois tinha nascido em Inglaterra e tinha vontade de voltar ao país, fui trabalhar com um Professor de Física, David Brink [1], em Oxford. Ele era muito boa pessoa do ponto de vista científico e também muito agradável do ponto de vista humano. Conjuguei essas duas coisas: voltar a Inglaterra e trabalhar com uma pessoa de quem eu gostava e que já conhecia. Que diferença notou no método Britânico? A investigação, neste momento, é feita em todos os lados segundo os mesmos parâmetros. Mas claro, se estamos num meio que tem um grande número de pessoas a fazer investigação em temas de fronteira é muito mais fácil ficar a conhecer os novos campos, os novos temas, e de estabelecer ligações para futuras colaborações, o que torna tudo muito mais rico. Além disso, uma saída do país é sempre importante porque nos mostra que o país é pequeno, que há muito para lá das nossas fronteiras. É algo sempre vantajoso, mesmo que a experiência não seja 100% positiva, porque nos dá outra perspectiva. Ali, no Departamento de Física Teórica, que estava também próximo do Departamento de Física Nuclear e do “Rutherford Laboratory”, as pessoas encontravamse e falava-se dos vários temas, o que é muito enriquecedor. Relativamente às aulas, tive que frequentar cursos durante dois trimestres, obrigatoriamente, mais um trimestre optativo, e tínhamos que resolver problemas. Todas as semanas tínhamos uma folha de problemas para resolver, alternadamente, ou seja, na mesma semana não tínhamos de outra RESISTANCE

Como eram os momentos de lazer? As pessoas encontravam-se nos colégios uns dos outros. Vivíamos em colégios, e encontrávamo-nos no bar de cada colégio. O bar não ficava aberto até às 5h da manhã… (risos) No máximo até à 1h ou 2h da manhã. Também havia saídas, ia-se ouvir um concerto, ver uma peça de teatro, idas até Londres ver um espectáculo e havia um grande envolvimento no desporto: todos os colégios tinham campos de ténis, campos de squash… Mesmo que não fossemos peritos, pegávamos numa raquete e jogávamos, e tudo isso eram momentos de encontro. Em que incidiu a sua tese de Doutoramento? Naquela altura era um problema que estava a ser discutido em meados dos anos ’80: a produção de piões, ou de fotões muito energéticos, em colisões de iões pesados com energias intermédias (por volta de 50 MeV/partícula). Numa colisão de carbono em carbono, ia haver um núcleo com 12 x 50 = 600 MeV de energia cinética que ia incidir no alvo. O que se verificava é que era possível produzir piões com uma massa de 140 MeV. Ora uma só partícula, resultante da colisão de uma partícula com outra, não era possível produzir esse pião. A única maneira era juntar a energia de parte dos nucleões para conseguir produzir essa partícula, o que significava que tinha que haver um movimento colectivo que possibilitasse a sua produção. Chamava-se a isso “a produção de piões abaixo do limiar”, ou seja, abaixo do limiar nucleãonucleão. Tratava-se de um problema núcleo-núcleo e o meu trabalho desenvolveu-se de modo a tentar perceber se um certo mecanismo podia explicar essa produção de piões, ou de fotões muito energéticos, que é o mesmo tipo de problema.

Como investigadora, faz parte do Centro de Física Computacional. Que tipo de trabalho é desenvolvido? O Centro de Física Computacional está dividido em cinco grupos: o grupo a que eu pertenço dedica-se a problemas do núcleo ou de muitos corpos. O meu tema de investigação é as estrelas compactas e a equação de estado de matéria assimétrica. Uma estrela compacta é aquilo que é conhecido por uma estrela de neutrões com muitos neutrões e poucos protões. Isso permite explorar a matéria nuclear numa região do espaço que não era conhecida e que agora, com os novos equipamentos nos laboratórios, vai sendo possível obter resultados experimentais. Há também um conjunto de pessoas que estão mais ligadas a modelos de quarks ou mesões. Há um segundo grupo que também está ligado a esta vertente, a matéria hadrónica, um terceiro grupo que tem como tema de investigação tanto a Astrofísica como a Geofísica e há ainda um quarto grupo que está relacionado com a história, o ensino da Física e a divulgação da Física, que tem sido sempre uma vertente forte deste Centro. Há ainda outro grupo muito activo, coordenado pelo Professor Fernando Nogueira, que presentemente se tem dedicado ao estudo da resposta de nano-partículas incluindo biomoléculas complexas a perturbações exteriores. Para o futuro, tanto próximo/distante: Alguma descoberta importante eminente? Tem algum(s) projecto (s) em vista? Numa estrela compacta, uma estrela de neutrões por exemplo, um objecto de 12km (de diâmetro), toda a informação que nos chega, atravessa a crosta que tem 1 km. Enquanto o interior é composto, mais ou menos, por matéria homogénea, a crosta não é homogénea. Neste momento tenho-me dedicado mais às propriedades da crosta, e perceber coisas como como é que se propagam as excitações e as ondas, e quais as propriedades dos

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materiais da crosta (viscosidade, etc.). Tudo isto é importante para perceber o sinal que recebemos dessas estrelas e é a perceber este sinal que podemos ficar a saber mais sobre a matéria dos núcleos. Este objecto é como um só núcleo enorme, com 10km diâmetro e com uma matéria muito densa, enquanto que o campo magnético da terra é 0,5 G, lá pode ser 1015 G à superfície. Neste momento estou envolvida na descoberta das propriedades internas destes objectos e é um tema que me atrai. Também já esteve ligada a projectos de divulgação e ensino da Física… Estive ligada a vários projectos da Ciência Viva porque, à medida que as minhas filhas foram crescendo, eu fui acompanhando as escolas e desenvolvendo algumas actividades nas escolas delas, que acabei por juntar em livros. Penso que a maneira como as ciências são abordadas no 1º, 2º e 3º Ciclos em Portugal não é como podia ser: o programa permite que se faça mais mas os professores não têm essa preparação.

e dá aso à imaginação. Será que a Professora está a lançar um desafio aos estudantes do Departamento? Eu acho que isso era uma boa ideia! Em primeiro lugar, estão mais próximos: as crianças gostam muito e reagem muito bem a ter visitas na sala de aula, principalmente para abordar este tipo de temas. O meu método era partir de uma pergunta, por exemplo “quantas cores tem a tua caneta preta?”, algo em que eles nunca tinham pensado. Fazíamos primeiro uma discussão, via-se o que é que eles sabiam ou não sobre o tema, o que é que eles já tinham pensado e por vezes perguntava-lhes como é que podiam testar alguma ideia que já tivesse surgido. Se não tivesse ideias, propunhaas e eles realizavam a experiência, interpretávamo-la e discutíamos. É um percurso que acho que todos podiam desenvolver, nomeadamente aperceberem-se que há questões para as quais não temos respostas, mas podemos tentar encontrar uma resposta e tentar perceber o que se está a passar.

Mas vocês, estudantes, já sabem: se precisarem de alguma coisa é só virem ter comigo e falarmos, estou à vossa disposição para diálogo. Os professores têm medo de fazer experiências. Isso era um campo em que vocês, como estudantes, podiam ganhar experiência: obriga a pessoa a ganhar vocabulário, a conseguir exprimir ideias complexas de uma maneira simples, ajuda a saber relacionar-se com os outros

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Descobrir que podemos pensar sobre um problema e chegar a algo que leve a uma solução, que não é magia, e que as coisas que estão nos livros é porque alguém as testou e alguém as experimentou. Foi presidente do Conselho Científico do Departamento de Física desde 2007 a 2009. Como consegue conciliar tantas actividades? Quais são as principais funções desempenhadas neste Conselho? Essa experiência terminou mas já vai recomeçar brevemente pois acabei de ser eleita Directora do Departamento de Física. Eu acho que temos que ser organizados e é necessário colaborar. Ser Directora do Departamento ainda não sei bem o que é mas rapidamente saberei (risos). Como presidente do Conselho Científico tinha que resolver problemas do âmbito científico do Departamento e os problemas são problemas de um Departamento, de um conjunto de pessoas que vivem num Departamento. É preciso perceber o que é que se passa e é preciso ter colaboradores com quem trabalhemos bem, em quem confiemos e

com quem possamos dialogar de modo a encontrar as funções que sejam as mais adequadas. O trabalho de presidir, ou dirigir, uma instituição é simplesmente um trabalho de pôr as pessoas a falar e a chegar a soluções para os problemas que se levantam na instituição. Na altura, naqueles dois anos, já se tinha feito toda a transformação de “Bolonha”, já tinham sido aprovados os primeiro e segundo ciclos, de Física e de Engenharia Física, e o curso de Engenharia Biomédica já havia sido formulado como mestrado integrado. Foram os anos em que foi preciso pôr a funcionar esses novos currículos e criar os terceiros ciclos. Acho que o essencial é o diálogo e terse bons colaboradores. Tem que se ver quais são as actividades que é importante desenvolver, e responsabilizar pessoas para essas actividades. Isso é bom para a instituição, porque temos o ponto de vista de outras pessoas, que é sempre enriquecedor, e é bom para a pessoa, porque se ganha experiência em algo que talvez ainda não se tenha feito, e isso é sempre importante. Quais são as suas espectativas para a Direcção do Departamento de Física? Para já não tenho espectativas nenhumas porque foi inesperado… (risos) Para já, ainda não estou bem inteirada e ainda nem estudei bem os problemas que o Departamento possivelmente tenha como Instituição. Sempre estive envolvida mais na parte científica, mas logo que tome posse como Directora ficarei a saber quais são os problemas que terei que resolver. Mas vocês, estudantes, já sabem: se precisarem de alguma coisa é só virem ter comigo e falarmos, estou à vossa disposição para diálogo. 1 Prof. David Brink, Ph.D. é um dos fundadores da Física Teórica Nuclear, membro da Royal Society e galardoado com a Rutheford Medal do Institute of Physics, Reino Unido. RESISTANCE


Se divertindo em Genebra Edson Ferreira

A viagem foi fantástica, pois a cidade de Genebra é linda, muito organizada e as pessoas são simpáticas. Basicamente toda a cidade de Genebra é plana, este é uns dos motivos pelos quais grande parte da população andam de bicicleta. É interessante e até engraçado você esta caminhado pela cidade e vê muitas pessoas várias delas com terno indo trabalhar de bicicleta, e as crianças andam de patinete. Uma coisa que me chamou muito a atenção é a organização dos suíços, é espetacular! Eles possuem um sistema de transporte bem eficiente, composta de autocarro (ônibus), trem e pequenas embarcações. Que para os visitantes é gratuito, isto mesmo desde o aeroporto e durante toda a sua estadia em Genebra os transportes públicos são gratuito. Quando você está caminhando pelas ruas e fecha o sinal de transito, mesmo que não esteja vindo nenhum carro ninguém atravessa a faixa. Genebra é um dos centros mais importantes da diplomacia internacional, sendo sede de vários órgãos de cooperação, como a ONU, a Cruz Vermelha, OMC, OIT, CERN etc. Sendo por isso conhecida como a Capital da Paz. Genebra também se destaca como um dos principais centros financeiros do mundo. Em várias partes da cidade você encontra enormes bancos internacionais. Este é uns dos motivos pelos quais os preços dos produtos em Genebra são considerados bem elevados em relação a grande parte da Europa. Geralmente uma refeição simples fica no mínimo entre 12,5 e RESISTANCE

15,0 franco suíço se procurar algo um pouco mais elaborada o preço sobe exponencialmente. Se paga bem mais a qualidade dos produtos é excelente, por isso os relógios e os canivetes suíços são conhecidos mundialmente pela sua excelência. Não fica só nisto, até os biscoitos considerados mais baratos são deliciosos! Em relação à diversificação cultural encontram-se pessoas vindas de várias partes do planeta. Nota-se uma grande concentração de árabe, chinês, português etc. A Suíça possui vários idiomas entres eles: alemão, francês e italiano. O idioma oficial de Genebra é o francês, mas quase toda gente fala também o inglês, e desta forma não tivemos problemas com o idioma. Fomos visitar o CERN, o maior acelerador de partículas do planeta, não deu para ver muita coisa, pois os aceleradores estavam em funcionamento. Mas deu para conhecer o seu funcionamento, visitar a estação onde são processadas as informações de um dos aceleradores que é o Atlas, conhecemos também um enorme armazém onde são construídos e testados os equipados que serão utilizados nos aceleradores, deu para ver vários equipamentos de perto, foi fantástico! Por fim visitamos o microcosmo que é uma exposição permanente de divulgação científica que por sinal foi muito interessante. Por Genebra ser toda plana a estratégia utilizada para conhecê-la melhor foi à caminhada visitamos quase todos os principais pontos andando. Visitamos a ONU (Organização das Nações Unidas), foi uma visita guiada com uma senhora muito simpática, conhecemos a estrutura da organização, um pouco da sua história e deu para entrar e sentar nas cadeiras dos representantes dos vários países, foi bem divertido! Demos um pulinho em França para subir uma de suas montanhas de teleférico, chegamos ao ponto mais alto que era 1 100 m de altitude em cinco minutos. A vista lá de cima era descomunal, dava para ver toda Genebra e uma parte da França. Para tornar o passeio um pouco mais interessante decidimos descer

andando. A descida foi bem divertida, a chão estava um pouco molhado, resultado muitas pessoas escorregaram, nada séria, mas suficiente para ser motivo de muita graça. Descobri que levo jeito para descer montanha, e que isto pode ser uma atividade muito interessante. Perdemonos durante a descida, mas conhecemos um pequeno povoado muito bonito e em que os moradores eram bem simpáticos. Depois de algumas voltas encontramos novamente o caminho, toda esta aventura levou cerca de três horas e meia. A descida em si valeu muito a pena. Outro lugar interessante que visitamos foi o Museu de História Natural, que é um prédio com cerca de cinco andares. Em que cada andar ficava com uma classe de animal como: mamíferos, repteis etc. Além disso, possuía uma sessão destinada aos minérios possuindo rochas e cristais de varias partes do planeta.Visitamos também o Jardim botânico que tinha cerca de 30 hectares, o interessante além de ser a paisagem que possuía espécies de vários países, eram as estufas por eles construídas. Estas estufas buscava representar as varias características como pressão, umidade, temperatura etc. De diversos ambientes diferentes. Conhecemos também o Museu Ariana, que é um museu de artes cerâmica, que possuía uma grande coleção de porcelanas das diferentes regiões e épocas históricas. Como era fantásticos os detalhes empregados na construção das peças, algo realmente digno de admiração. Como não podia deixar de ser visitamos três igrejas: uma cristã, uma protestante e uma russa. Cada uma com suas diferentes arquiteturas e peculiaridade.

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Estado estacionário

Ilha Terceira João Borba É algures entre os EUA e Portugal Continental, no meio do Oceano Atlântico, que se situa a minha terra natal. Sendo uma das mais carismáticas ilhas do arquipélago dos Açores, a Ilha Terceira apresenta no mapa uma forma praticamente elíptica, e tem um perímetro de 90 kms e uma área de cerca de 402,2 km2. Estes números já me valeram as mais diversas piadas durante os meus seis anos em Coimbra, que vão desde “Lá onde vives sais de casa, dás um passo errado e cais ao mar!” ou “Quando as crianças vão para o infantário levam sempre braçadeiras para o caso de acontecer algo de errado!” ou até “Lá nos Açores, os carros têm duas mudanças…a primeira e a segunda! A mudança para fazer recuo não é precisa, dá-se a volta à Ilha!”, entre outras anedotas que até já me valeram algumas risadas. Por vezes, porque tiveram mesmo piada, outras vezes porque são o auge da ignorância. E aviso desde já: nós, os Terceirenses, somos pessoas bastante protectoras do seu território e qualquer piada semelhante poderá não ser respondida da forma mais agradável. No entanto, e não querendo afugentar qualquer turista, nós somos, por norma, pessoas extremamente acolhedoras, humildes, e divertidas. Comunicamos entre nós num dialecto extremamente peculiar (e que não tem nada a ver com o dialecto de São Miguel, como muitos julgam), onde falamos extremamente rápido, não acabamos as sílabas e adicionamos “Is” antes de certas palavras. Para nós “Escada”, dito é “Esquiada”, ou “Vamos Embora” é “Vamos Embiora”, uma ‘Sagres Mini’ é uma ‘Fresca’, ou quando estamos impressionados com algo, usamos uma variância do termo “É, Homem!”, que é “É, uóme!” para exprimir o nosso espanto. Existem diversos locais onde este dialecto é mais forte, principalmente nas freguesias onde habitam menos pessoas. A melhor altura para vir visitar a ilha Terceira (bem como

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qualquer ilha dos Açores) é, obviamente, no Verão. Primeiro, porque é Verão, e apesar do clima ameno e húmido predominar durante os doze meses de cada ano, a humidade é menor durante o Verão, o que permite a existência de ondas de calor. E segundo, porque a ilha Terceira, durante o Verão (e fazendo uma analogia com Coimbra), resume-se a festa atrás de festa. Nós até costumamos dizer em jeito de piada que os Açores têm oito ilhas e um parque de diversões! Desde Junho a inícios de Outubro que a festa não pára, tendo como exemplos maioritários as míticas Sanjoaninas e as sempre esperadas Festas da Praia. De salientar também a cultura taurina da ilha Terceira. Se um dia estiver nalguma rua e esta ficar vedada ao trânsito, não estranhem. É apenas uma das maiores atracções da nossa Ilha, as touradas à corda! Nestas, um touro é amarrado com uma corda pelo pescoço que é segurada por 6 homens (os denominados ‘pastores’). O touro é então, largado na rua que tinha ficado vedada, e alguns mais corajosos saem à rua para correr com ele. As outras pessoas juntam-se nas casas e convidam os amigos e conhecidos para entrarem para comer e beber enquanto vislumbram a tourada da varanda ou da entrada da casa. Não se preocupem se perderem uma tourada! É raro o dia de Verão em que não haja pelo menos uma toirada à corda em algum local, é só estar informado sobre qual será o próximo sítio! Não menos importante será referir que Angra do Heroísmo (uma das duas cidades da Ilha Terceira, sendo a outra a Praia da Vitória) é considerada Património Mundial pela UNESCO, e que temos, num território pequeno, uma beleza natural praticamente inigualável no Mundo [1]. O único senão para se deslocarem aos Açores poderá ser os preços das passagens. Devido à monopolização da parceria SATA/TAP, 90% das passagens ida e volta rondam os 300 euros por pessoa de Lisboa para qualquer ilha, um valor que não é certamente suportável por grande parte dos Portugueses, e ainda mais em época de crise. No entanto, será um crime ir deste Mundo sem nunca ter visitado os Açores, e principalmente, sem nunca ter passado umas belas semanas no seu parque de diversões, a Ilha Terceira! [1] Relativamente a esta afirmação, falo em nome dos Açores. RESISTANCE


Estado exitado

Ser Estudante em Uppsala: viajar é aprender Pierre Barroca “SÓ viajas, SÓ viajas”, dizem uns; “SÓ vida boa, não fazes nenhum”, dizem outros. Em parte é verdade mas não é SÓ isso. Tenho tido o privilégio de viajar por alguns países com estatuto diferente de mero turista e é difícil passar esta ideia para o outro lado. Mais que visitar a cidade, esforçome em aprendê-la e, nessa medida, considero-me mais um Estudante Viajante que um mero Turista. Em Abril deste ano tive a sorte de ser aceite como ajudante na organização de um curso para estudantes europeus na cidade universitária de Uppsala, Suécia. Em Uppsala podem encontrar umas das universidades mais antigas da Europa, fundada em 1477 e à noite, ruas recheadas de estudantes em festa! À semelhança de Coimbra, são os estudantes que fazem da cidade de Uppsala uma cidade cheia de vida, no entanto Caros conterrâneos, não esperem sentir-se em casa por terras escadinavas! Esqueçam saídas à noite a partir da 1h, esqueçam escandaleira nas ruas, esqueçam cerveja a 50cent, esqueçam aquele xixi orgásmico nos recantos das ruelas ou no meio de arbustos, esqueçam fazer lixo, ESQUEÇAM! 20h de quarta-feira (melhor noite em Uppsala a par de sexta) e já se viam fileiras a seguir ordeiramente rua fora toneladas de meninas bonitas bem vestidas (reitero, TONELADAS) e meia dúzia de seres humanos do sexo masculino. Perante isto, pensava eu: “Toda a gente a jantar fora? Rica vida!”. Mas NÃO! Eles já se estavam a preparar para mais uma noite boémia. Em Uppsala os bares alvo estão divididos pelas chamadas RESISTANCE

Nações que são mini-associações de estudantes que representam os estudantes cujos associados podem dar entrada nos bares a custo zero. Não sendo associado paga-se um pequeno valor de entrada onde a cerveja é baratíssima! Baratíssima em Uppsala é sinónimo de 3,50eur no mínimo por garrafinha de 33cl de birra!! Depois de dar entrada é dá-se lugar à festa até máximo dos máximos 2h da manhã. Agora fora a vida noturna, que Uppsala não se resume só a combeber, tenho a referir que o modo de vida Sueco é totalmente diferente do que estava habituado. O meio de transporte número um de todo e qualquer estudante é a bicicleta. Mesmo vivendo a 30 min da sua Faculdade. Perdi todos os dias, no mínimo, 1h30min de bicicleta a percorrer as ruas achatadas da cidade. Fiquei impressionado com a capacidade física de meninas de cabelo amarelo e dos velhotes.Indo a uma cidade maravilhosa como esta podemos darmo-nos conta daquilo que é realmente o resultado de um sistema de Educação que funciona. O sistema sueco ultrapassa qualquer coisa que alguma vez pude imaginar. Desde infraestruturas super cuidadas e com tecnologia recente, serviços competentes, todo o tipo de serviços oferecidos aos alunos dentro do próprio edifício da faculdade como chuveiros acessíveis a qualquer hora do dia, salas comuns com equipamento de cozinha recente para fazermos as nossas próprias refeições, salas de estudo para pequenos grupos de

estudantes e até uma sala dedicada aos estudantes de muçulmanos poderem rezar na paz de Alá. Não se cobra qualquer tipo de propina para além de se garantir quase imediatamente uma bolsa de no mínimo 200euros para ajudar os estudantes a suportar custos de alojamento em residências universitárias.No que resulta tudo isto? Conforto, sem dúvida mas não só. Entre estudantes sentia-me um primata durante discussões sem qualquer tipo de atropelo lógico, na pontualidade e na forma de interpretar algumas questões. Dou como exemplo uma das maiores lições que vem de uma história de um grande amigo meu que estudou em Uppsala que irei tentar transcrever. “Estava eu a meio de um exame quando vários suecos saem subitamente da sala com o professor presente. Passado algum tempo voltam e retomam o exame. Depois do exame acabado perguntei o que tinham ido fazer fora da sala, no que eles me dizem com toda a calma do mundo que tinham ido a casa de banho. Chocado, perguntei como podia o professor aceitar tal coisa visto assim ser fácil copiar, no que eles me respondem: “Copiar, como assim? Se copiares não aprendes!”. “ Posto isto o meu amigo calou-se, acenou educadamente e refugiou-se na vergonha em que a sua pergunta, aparentemente ridícula, o deixou. Esta é parte da realidade que se vive numa cidade de estudantes sueca que só um Estudante terá oportunidade de viver e que eu recomendo a todos experimentarem. Dezembro 2011

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“Jamaica Inn” (1939) Um dos filmes mais esquecidos e injustiçados de Hitchcock - um caso sério de afecto. Por volta de 1800, na Cornualha, um bando de contrabandistas liderados discretamente por Sir Humphrey Pengallan, o juiz local, provoca naufrágios na costa marítima, saqueando os navios. O seu “quartelgeneral” é a “Pousada da Jamaica”, gerida pelo casal Merlyn, que acolhe Mary Yellan, uma sobrinha órfã que vai alterar o estado das coisas. Última fita britânica de Hitchcock antes do rumo à América, A Pousada da Jamaica é uma surpreendente obra que não merece o desprezo a que foi votada. Tem um preto-e-branco apaixonante, com a fotografia contendo uma saudável “sujidadezita” que emana na perfeição aquela pureza dos filmes antigos consideravelmente estilizados. E que estilo tem Hitchcock! Aproveita com uma perícia insuperável o céu, os navios, os cenários naturais exteriores, os close-ups e até a indumentária dos actores para projectar planos de um deslumbramento visual arrebatador. É sim um filme de cenas marcantes, mas acima de tudo, é um filme de sentimento estético marcante. Charles Laughton dá um autêntico show interpretativo como Pengallan, com um egocentrismo destacável mas com uma classe assombrosa. É um imponente e requintado vilão que só deixa boas recordações. Já Maureen O’Hara, faz aqui a sua estreia ao encarnar a protagonista feminina, e fá-lo em grande, demonstrando um carácter forte e um empenho não menos sentido, intervindo exemplarmente num bom leque de cenas de puro fascínio superiormente filmadas. Quanto à cena final do filme, que obviamente não revelarei, e que poderá parecer algo estranha, não prima por uma surpresa estonteante, mas sim por uma afinada inteligência que proporciona um adequamento superior à obra. Não há dúvidas: a fase britânica de Sir Alfred merece mais.

Artur Almeida

“Peaceful Warrior” (2006) Filme de 2006, realizado por Victor Salva e baseado no livro “pseudo-auto-biográfico” motivacional, The Way of The Peaceful Warrior. A história contada é a de Dan Millman (Scott Mechlowicz), um estudante universitário e ginasta que sonha representar o seu país nas olimpíadas. E apesar de aparentemente ter tudo o que deseja, o arrogante Dan parece não conseguir preencher um vazio no campo da felicidade. Até que conhece Socrates (o veterano Nick Nolte), e se aventura por estradas que ainda não tinha percorrido. As performances dos dois actores principais estão dentro do aceitável tendo em conta o guião, que em muitos momentos se revela demasiado surreal. Aceitando que este se baseia numa história verídica, e que o ponto forte do filme é a sua mensagem, de crença na força do espírito humano, seria de esperar um argumento que reflectisse melhor a realidade. Que não desse azo a que o espectador sinta que tudo não passa de mais uma historia banal e figurada de esperança. Ainda assim, não deixa de ser uma historia inspiradora, que relembra ao espectador que mesmo nas alturas mais difíceis, o Homem dá a volta ao mais improvável rumo dos acontecimentos. No final fica a sensação que o filme perde credibilidade na transmissão do seu significado, e com isso, valor. Mas se o espectador conseguir abstrair-se de alguns momentos menos credíveis, encontrando o verdadeiro significado do filme, então não são (de todo!) duas horas perdidas.

Gonçalo Louzada

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16 frames por segundo

“Submarine” (2010) Oliver Tate (Craig Roberts) é um jovem de 15 anos que vive problemas com as duas mulheres da sua vida. De um lado, a sua depressiva mãe (Sally Hawkins) que vive um aborrecido e monótono casamento com o seu ainda mais depressivo pai (Noah Taylor). As coisas ainda ficam piores com a presença de um ex-namorado (Paddy Considine) de longa data da sua mãe na vizinhança. De outro lado Jordana (Yasmin Paige), a sua recente namorada, e cuja relação entre ambos aparenta ser o oposto do tradicional romance. O realizador Richard Ayoade retrata um Oliver que vive as ansiedades da juventude (romance, sexualidade, pais, escola, colegas…) com um sentido de humor cru e por vezes cruel, enriquecendo a história alegoricamente, fugindo à monotonia e linearidade. Num filme povoado de pessoas aparentemente tristes, Ayoade evita o foco nessa tristeza, levando a viagem para o modo como Oliver e companhia encaram a sua realidade. Os porquês são subjectivos, o tempo não pára e Oliver segue caminho, perseguido pelas questões tão comuns da idade: Crescer? Viver? Fugir? Mas desengane-se quem pensa que este é um filme comum. A banda sonora, composta pelo génio britânico de Alex Turner, parece sempre encaixar perfeitamente nos momentos chave do filme. Nesses instantes, a música fala pelas personagens. A peça que faltava a este puzzle. Uma comédia delicada, por vezes negra, agridoce, que vive da sua continuidade enquanto história. A bela sensação de estar na mente do alguém com 15 anos é real. Oliver pode não ser feliz para sempre. Mas por agora, o sempre não é assim tão importante.

Gonçalo Louzada

“Atonement” (2007) Expiação. Castigo. Pena. Penitência. Termos que a nossa mente não reconhece, na medida em que, na sua perspectiva, tudo se trata da realidade; e o que é real é autêntico, não havendo forma de ser revertido. Deste modo, é sempre uma tarefa árdua incutir-lhe não a realidade, pois ela própria constrói uma sua, mas sim instigar-lhe a interpretação correcta do mundo exterior. Para isso, é necessário um treino quase transcendental do nosso entendimento. E que o diga a pequena Briony, que, vitimada por uma versão errónea dos factos que a sua mente lhe terá apresentado, despedaçara o afortunado futuro da sua irmã, Cecilia, ao lado do seu eterno amado, Robbie, um simples filho de um caseiro. Tudo terá sucedido no dia mais quente do Verão de 1935 que, apesar dos banhos refrescantes nas mais paradisíacas lagoas; das roupas frescas e leves a “voluptuarem-se” sobre os corpos tórridos; dos passeios no éden de jardins verdejantes; um balde de gelo precipitava-se sobre Inglaterra, vaticinando a terrífica 2ª Guerra Mundial. Com 13 anos, uma vida luxuosa e oponente, e influenciada pelas piores atitudes das pessoas menos indicadas, que se erguiam à sua volta, a pobre Briony terá iniciado a sua própria guerra… um confronto invencível com a sua própria mente, com a conquista da paz interior. Uma sequência de mal-entendidos, cenários irreais postos em causa, mentiras, e o velho problema do “timing” errado, aniquila assim qualquer possibilidade de Robbie e Cecilia resistirem às atrocidades hitlerianas. Um filme fantástico, arrepiante, emocionante e, acima de tudo, purificante; sim, porque nos dá leveza à alma, porque nos obriga a rever-nos na personagem da pequena Briony e relembrar todas as situações em que poderemos ter colocado a felicidade de alguém em causa, vitimizados pela nossa mente frágil e adúltera e; paralelamente, a encontrarmos a paz interior. Sim, porque a realidade verdadeira, aquela que não é falsificada pelo nosso intelecto, passa por nós a sorrir; nós é que não lhe retribuímos o gesto, preferindo abraçar o espírito esvoaçante de um propósito egoísta sem retribuição definida. Resta ver, para gratificar a realidade “concreta” pelo gesto tão simpático.

Joana Paiva RESISTANCE

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78 rotações por minuto

Foals Florence + The Machine Antidotes

Ceremonials Desengane-se quem pensa que Oxford é só Universidade. Depois de construírem uma sólida comunidade de fãs, com singles como Hummer ou Mathletics, e com loucas festas que protagonizaram pelo meio, os Foals lançam Antidotes em 2008. Produzido originalmente por Dave Sitek (guitarrista de TV on The Radio), os próprios Foals refizeram esse trabalho em Londres depois de não ficarem totalmente satisfeitos. Antidotes é um álbum revigorante em que é impossível ser absorvido pelas agudas guitarras de Yannis (também vocalista) e Jimmy, que tão bem se completam e conjugam durante 44 minutos. The French Open dá as boas vindas da melhor maneira, conseguindo transmitir várias das sensações que o álbum vai explorar. Depois da solene abertura, Cassius estala o verniz, está na hora de dançar. Red Socks Pugie é reconhecida pela sua inconfundível e enérgica bateria mas no final dá espaço para Olympic Airways estabelecer o ambiente perfeito à entrada de Electric Bloom. Sublime e bela na sua simplicidade, dura quase 5 minutos, ainda assim demasiado efémeros. Balloons volta a subir o ritmo e as tímidas Heavy Water e Two Steps Twice guardam o melhor para o seu fim. Inatamente alegre é Big Big Love (Fig. 2), leve e serena. No final, um mergulho em Like Swimming e Tron, que tal como o filme homónimo nos leva ao virtual e nos deixa por lá. Uma fusão da energia do “DanceRock”, a complexidade do “Math-Rock” e aquele toque único de “Brit-Indie-Rock”, tornam este álbum um misto de emoções e energia, um antídoto para a monotonia musical que se vive cada vez mais no mundo artístico.

Gonçalo Louzada

Devido a um primeiro álbum de enorme qualidade (Lungs, 2009), a uma atitude carismática fora e dentro do palco, e a espectáculos ao vivo emocionantes e intimistas, Florence Welch e a sua ‘máquina’ ganhou rapidamente uma fanbase fiel e elitista, sem deixar de conseguir chegar ser mainstream num ou noutro momento (principalmente com a tão conhecida “You Got The Love”). Ceremonials é o sophomore effort de Florence, e foi lançado no dia 31 de Outubro. Acaba por ser difícil descrever Ceremonials. Florence deu asas à imaginação, e sempre frágil mas confiante, exprime-se ainda mais do que se julgava possível. Florence explora novos caminhos, algures entre o soul e o gospel, o que resulta num álbum com um clima bastante sombrio. Esses ambientes mais negros estão exemplarmente expressos na faixa inicial “Only If For The Night”, na misteriosa “Seven Devils” e na honesta “Never Let Me Go”. E para não destoar, “What The Water Gave Me” e “Breaking Down” juntam ambientes pseudo – progressivos aos coros de igreja. Pelo meio, Florence continua com uma facilidade notável em fabricar hinos atrás de hinos (“Shake It Out”, “No Light, No Light”) e em saber construir músicas poderosas, capazes de mandar uma casa abaixo como “Heartlines” ou “Spectrum” (provavelmente a melhor faixa do álbum). “Leave My Body” é também uma forma perfeita de acabar um álbum emotivo: com um estrondo (e com uma fantástica performance vocal de Florence Welch). Ceremonials é uma investida extremamente bem-sucedida por caminhos bastante perigosos. Durante as dozes músicas, dá sempre a sensação que Florence canta os seus temas com o anjo e o diabo em cada mão. O resultado é misto gritante de emoções à flor da pele. Ceremonials é violento, poderoso, intenso, humano. Um dos álbuns do ano!

João Borba

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78 rotações por minuto

Noel Gallagher High Flying Birds Noel Gallagher’s High Flying Birds João Borba Oasis. É difícil não reconhecer pelo menos uma/duas músicas de uma das bandas mais icónicas da infância/adolescência da tão injustamente afamada geração “à rasca”. Apesar deste sucesso a nível mundial, era certo e sabido que o ambiente dentro da banda nunca foi o melhor e que as brigas dos orgulhosos irmãos Gallagher iriam, eventualmente, levar ao fim da banda. Há dois anos, esse final foi uma realidade, e cada irmão seguiu o seu caminho. Liam Gallagher segurou os elementos dos Oasis e criou a banda Beady Eye logo após o término dos Oasis. Já com um álbum lançado, a banda atingiu algum sucesso no Reino Unido. Já Noel preparou algo que há muito pretendia: a sua carreira a solo. E assim nasceu Noel Gallagher’s High Flying Birds, cujo álbum homónimo foi lançado no dia 17 de Outubro em território europeu. O álbum abre com “Everybody’s On The Run”, que ou muito me engano, ou estará na lista de melhores músicas de 2011. A mistura de elementos clássicos com uma vontade auspiciosa de gritar a cantar está magistral. É também possível vislumbrar que a chama dos Oasis ainda não se apagou no coração de Noel. “Dream On” e “If I Had A Gun” são cheesy brit pop, “The Death Of You And Me” parece uma “The Importance Of Being Idle” (Oasis - Don’t Believe The Truth, 2005) limada até à perfeição, e “I Wanna Live A Dream (In My Record Machine)” faz lembrar os bons psicadelismos de certos álbuns. E se julgavam que não é possível dançar num álbum de Noel, serão surpreendidos por “AKA…What a Life!”, onde um piano triunfante dita um ritmo irresistível. Destaque ainda para a polémica “Stop The Clocks”, uma música que estaria prevista para sair num dos álbuns do Oasis, mas que nunca chegou a ver a luz do dia. É brilhante, e extremamente pessoal a produção que Noel colocou nesta música. Perdão, obra-prima! Foi Noel quem decidiu colocar um ponto final nos Oasis. Terá sido a melhor decisão, em termos de fazer a sua música chegar às massas? Claramente, não. Terá sido a melhor decisão a nível musical? Provavelmente. O prólogo do livro de Noel Gallagher tem um começo mais auspicioso que o do seu irmão. Seguem-se os próximos capítulos…

Umphrey’s McGee Anchor Drops Rui Nunes Desta vez trago-vos uma banda originária de Chicago; pouco conhecida no panorama Americano, muito menos internacionalmente. O primeiro contacto que tive com a música deles foi em Abril de 2007, no dia da Terra, num concerto gratuito (e genial), ao ar livre, no Millennium Park, em Chicago. Os Umphrey’s McGee tocaram literalmente do início ao fim, com sessões de jamming e solos de guitarra e bateria unindo as músicas (enquanto um dos elementos da banda descansava, à vez). Devo dizer que ouvir este álbum é uma experiência musical, mas vê-los ao vivo é algo único. A energia e a versatilidade dos Umphrey’s McGee, banda preferencialmente de Rock Progressivo, é claramente audível neste álbum com muitas músicas criadas a partir de jam sessions (a arte de improvisar em conjunto, seguindo ou não um dos elementos da banda). Anchor Drops foi o terceiro álbum da banda e une as raízes de rock progressivo com outras linhas de influência, desde electrónicas (como por exemplo, em “Robot World”) ao folk americano (em “Bullhead City”). Pessoalmente, a minha música preferida é a terceira, “In the Kitchen”, por começar com uma gravação da voz ouvida no metro de Chicago anunciando “This is Chicago. Doors Closing” (ouve-se no final da música anterior) e por retratar o rigoroso inverno de Chicago, transportando-me para uma noite de Janeiro, a nevar lá fora. Dou uma classificação de 5 estrelas a este álbum, pela sua versatilidade e textura, que explora vários ritmos e instrumentos, em fusões pouco comuns ao ouvido. É de destacar a qualidade do baterista, que tanto consegue criar aberturas explosivas (“Mulche’s Odyssey”) como de criar um ambiente jazzy e reconfortante (trechos iniciais de “13 days”). RESISTANCE

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3 Day Startup Portugal Evento originário de Austin – EUA que chegará pela primeira vez a Portugal (em Coimbra) em Fevereiro de 2012 12 eventos nos Estados Unidos e na Europa deram origem a 14 empresas a receber cerca de $4 milhões em financiamento. 7 empresas criadas no 3DS foram aceites por incubadoras como a YCombinator, 500 Startups andDreamit Ventures. É assim que começa o Documento de Apresentação deste evento, originário de Austin, no Texas – EUA, e que chegará pela primeira vez a Portugal nos dias 24, 25 e 26 de Fevereiro de 2012. O 3 Day Startup Portugal é um evento que terá lugar em Coimbra, e que se realiza com o objetivo de ajudar os estudantes a transformar as suas ideias em empresas de sucesso. O que se quer é juntar alunos de diferentes áreas (Engenharias,

Gestão, Economia, Direito, …) para que durante um fimde-semana intenso possam transformar as suas ideias ainda vagas em empresas concretas de base tecnológica Durante os dias do evento, os participantes debatem as suas ideias, analisam a validação de mercado, desenvolvem modelos de negócio e constroem protótipos ao mesmo tempo que vão recebendo feedback de mentores e investidores que estarão presentes no terreno. Esta será, portanto, uma oportunidade única para que os estudantes possam, de forma absolutamente gratuita, desenvolver não só as suas ideias como o seu espírito proativo, inovador e criativo. As inscrições estão a ser aceites até ao dia 1 de Janeiro no site do evento (http://coimbra.3daystartup.org), sendo que o número de participantes está limitado a 40 estudantes, havendo posteriormente uma fase de seleção presencial, visto que é de expectar que se inscrevam mais pessoas. Ainda antes do evento, existirão algumas breves sessões de networking com os participantes, que servirão de preparação para o fim-desemana. Podem ainda acompanhar o 3 Day Startup Portugal através do facebook ou do twitter.

Stanford e Milgram Pedro Cunha A experiência de Milgram

Neste artigo pretendo descrever duas experiências sociais que revelam um lado obscuro da psicologia humana. De acordo com os seus resultados destas, qualquer pessoa pode cometer actos terríveis se o contexto for adequado. Na verdade, tenho dúvidas que qualquer pessoa se imagine a eletrocutar alguém, a humilhar e forçar um grupo de pessoas a olhar para o chão ou ainda a colocá-las em posições que

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abusem a integridade física e sexual. Na verdade é precisamente isso que acontece nas seguintes experiências, a pessoas perfeitamente normais: A experiência de Milgram foi pela primeira vez efectuada na Universidade de Yale (Estados Unidos) por Stanley Milgram e pretendeu determinar o modo como uma pessoa normal reage quando os seus valores morais entram em colisão com ordens directas de uma autoridade, assumindo esta última total responsabilidade

pelos actos dessa pessoa. Para o efeito era selecionado aleatoriamente um voluntário experimental sem que este tivesse conhecimento da experiência em que estava realmente a participar. Em vez disso, da sua perspectiva, estaria a participar numa experiência completamente diferente: determinar se a memória de um indivíduo (“estudante”) aumenta se, por cada resposta errada, este sofrer um choque eléctrico de voltagem crescente pela parte de um “professor”.

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O indivíduo em teste assumia o papel de “professor” sem ter conhecimento que o respectivo “estudante” era de facto um auxiliar do laboratório a representar o papel de um outro voluntário experimental. Após terem contato visual, o “professor” e o “estudante” são colocados em salas adjacentes, sendo feita questão de mencionar que o “aluno” tem problemas cardíacos. Um cientista é também colocado na mesma sala que o sujeito em teste para monitorizar a experiência. Tal como foi sugerido anteriormente, o “professor” questiona sistematicamente o “aluno” e por cada resposta errada deste

dá-lhe um choque elétrico com voltagem progressivamente crescente. Pelo menos essa é a perspectiva do indivíduo: na realidade ninguém apanha choque nenhum e os gritos de dor que ele ouve são mensagens pré-gravadas. Todas as pessoas testadas chegaram a um ponto algures durante a experiência em que por momentos hesitaram em continuar e questionaram a experiência. No entanto, ao serem pressionados para continuar pelo cientista e após este lhes assegurar total impunidade pelas suas acções, a grande maioria acabava por continuar, ignorando os gritos de dor da sala do lado. Concluiu-se que cerca de 65% das pessoas testadas chegava à tensão final de 450V, sendo esta letal. Das pessoas que recusaram ir até ao final, curiosamente todas pediram autorização quando pretenderam ir verificar o estado de saúde do “aluno” e nenhum exigiu o final da experiência. Acabou por se verificar mais tarde que os resultados eram consistentes com os de outros grupos populacionais no mundo. A conclusão arrepiante que qualquer indivíduo sob a acção de uma autoridade e pressão suficiente poderá cometer actos horríveis (especialmente se tiver impunidade), levou a que esta experiência ficasse famosa em psicologia. Dos resultados também se verificou que

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são muito raras as pessoas que são capazes de resistir a este tipo de manipulação e permanecer fieis aos seus valores morais. Relembrando as atrocidades cometidas pelos nazis nos campos de concentração e a justificação de muitos deles: “Estava só a cumprir ordens!” é possível atribuir à experiência de Milgram um fundamento bem real.

Experiência prisional de Stanford A experiência prisional de Stanford foi efectuada na Universidade de Stanford (Estados Unidos) por Philip Zimbardo e pretendeu determinar se os abusos cometidos pelos guardas nas prisões estavam relacionados directamente com as suas personalidades ou se são antes influência do contexto em que estes estavam inseridos quando cometeram o abuso. Para o efeito foi seleccionado um grupo de voluntários, sendo este dividido em “guardas” e “prisioneiros”. Aos guardas era permitido usar os meios que achassem necessários para manter a ordem e aos prisioneiros era permitido desistir e sair se o exigissem. Zimbardo analisou a evolução da experiência através de câmaras de vigilância. Apesar de ter sido planeada para 2 semanas, a experiência foi abortada ao fim de apenas 6 dias. Ao fim de pouco tempo os guardas começaram a apresentar comportamentos violentos, em parte causados pelo receio de não terem controlo sobre os prisioneiros e pela alienação causada pelo sentimento de impunidade e de poder absoluto. De forma a controlar os motins, os guardas implementaram castigos cada vez mais cruéis, desde retirar o colchão para dormir no chão, a impedir de urinar e defecar. Outros tipos de humilhação incluíam nudez e exercícios com contato físico abusivo. De forma a despersonalizar os prisioneiros, estes eram também forçados a repetir o seu número de cela, por vezes até á exaustão. Note-se que após o seu turno, cada guarda podia sair das instalações e tinha tempo para pensar nas suas acções na experiência. No entanto alguns utilizavam esse tempo livre para encontrar novas formas de humilhação. Ao fim de poucos dias, cerca de um terço dos guardas tinha desenvolvido atitudes sádicas. A despersonalização efectuada ao longo da experiência levou a que todos

os intervenientes atingissem uma quase obsessão pelo seu papel (tanto guarda como prisioneiro). Este facto tornou-se notório quando mesmo após a experiência ser terminada, os prisioneiros continuaram a responder pelo seu número de cela. Esta lavagem cerebral levou a que tivessem uma atitude passiva perante os abusos a que eram sujeitos. O próprio Zimbardo acabou por participar: ao optar por não intervir para não influenciar o resultado, atravessou a linha que separa uma experiência científica de uma experiência social bem real. Da sua perspectiva nada de mal estava a ser cometido pois era tudo a “fazer de conta”. Este só se apercebeu das implicações éticas quando um agente exterior (a namorada na verdade) visitou a experiência e o alertou. Antes dela cerca de 50 pessoas tinham também visitado as instalações prisionais sem se aperceberem do mesmo. A conclusão da experiência é aterradora: as acções de uma pessoa são quase totalmente induzidas pelo contexto social em que o indivíduo se encontra em cada momento. Ou seja, mudando o contexto, mudam as acções consideradas socialmente aceites. Neste caso concreto, ao assumir que era tudo uma simulação, os intervenientes não se aperceberam que as suas acções eram bem reais. Poucas pessoas têm a robustez moral para, ao mudar de contexto social, manter os seus valores éticos. Os resultados desta experiência são também coerentes com a de Milgram, onde um indivíduo aceita dar choques eléctricos a outra pessoa em nome da ciência. Os abusos na prisão em AbuGraib, Iraque, por soldados americanos e a falta de apatia destes, revelam o quanto estes resultados são reais. No julgamento militar consequente, o próprio Zimbardo prestou declarações de forma a clarificar perante o júri o comportamento horrível dos soldados, uma vez que estes não eram psicopatas ou mentalmente perturbados. Eram apenas pessoas normais.

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Alfazema Amarela Uma vez que sou adepta dos intrapessoalismos clichés e dos generalismos, é isso mesmo que vou fazer! E que esteja perdoada em caso de erro! É certo que estudar em Coimbra é o sonho de qualquer futuro universitário! Mas, no preciso momento em que se recebe o «mailzinho» mágico que nos avisa que vamos passar os próximos anos a dezenas de quilómetros de casa, não há nó no estômago atestado com uma espécie de ansiedade agridoce – vinda de partes de nós que nem sabíamos que existiam – que escape ao inócuo e verde adolescente, prestes a entrar na que será, provavelmente, a maior das aventuras da sua vida. A noite da véspera é sempre um tormento! Não há sono que espreite e sentimos o corpo num colossal turbilhão de energia que nem duas dúzias de Red Bulls conseguiriam igualar. Porém, mal se consegue, finalmente, pregar o olho, toca o despertador – e bolas!, olheiras até o umbigo logo no primeiro dia! Vestimos, num ápice, a roupa já previamente idealizada e preparada em antemão, demorámos mais vinte minutos a arranjarmo-nos do que o costume (e não digam que não!) e caminhámos, em microhiperventilações, em direcção ao nosso futuro lar; percorremos a multidão, isolados, em busca de caras conhecidas, e sentimo-nos estranhamente desconfortáveis com o incógnito que nos rodeia. Entretanto, e chegados do nada, aparecem uns fulanos trajados, a quem, supostamente, temos de chamar “doutores” (aqueles que - “Ai, meu Deus!” – são descritos e pintados pelas bocas do mundo como sendo uns assombros sedentos do sangue imaculado dos pobres caloiros, ansiosíssimos por descarregar-lhes em cima as suas frustrações, enquanto os ridiculizam, manhosos, na sua superioridade). E aí inicia-se a primeira espécie de solidariedade telepática entre aquelas criaturas noviças que se perdem vinte vezes num único metro quadrado, assarapantadas

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Catarina Oliveira “Etta Pandora” com o “mas o que é isto?” e o “que raio vai sair daqui?”. No início é sempre uma confusão! “Olhos no chão!”, mãos dadas ao gajo do lado que nunca se viu na vida, nada de rir e toca a cantar o hino, “que isso ainda não está em condições”! E se alguém riposta, pumba!, lá vem um velhaco zangado, com mais matrículas do que nós, prestes a passar-nos um «blá blá» fastidioso! Mas não tarda muito para que percebamos que a praxe não passa de uma nanometáfora dos obstáculos que nos irão surgir na nossa jornada e que o «blá, blá», afinal, não é mais do que um alerta de alguém que já passou pelo mesmo (sobrevivendo!) e até se preocupa connosco. Inconscientemente, aprendemos a não desistir à primeira dificuldade, a respeitar, a colaborar e a ser persistente – uma série de coisas que só com o passar de uma vida poderíamos assimilar, caso não entrássemos de cabeça nesta (bela!) fase da nossa existência. E, no fim de contas, os “doutores” - aqueles bichos-de-sete-cabeças maquiavélicos e astutos - não faziam nada mais do que «desperdiçar», voluntariamente, o seu tempo útil (que poderia, por certo, ser aproveitado para seu belprazer noutra coisa qualquer) para que nos integrássemos, nos conhecêssemos e criássemos laços – o que seria difícil de outra forma, dado o alto número de alunos por curso, em cada ano -, sem estabelecermos, logo de início, grupinhos preferenciais. Porque na praxe é assim: não há melhores nem piores, bonitos ou feios - somos todos farinha do mesmo saco. Terminado com as generalizações, é certo que esta mudança brusca foi acompanhada de um choque inicial – como não poderia deixar de ser. (Muita) mais liberdade, (muita) mais responsabilidade… e o mesmo cérebro! Porém, e apesar de ainda só cá estar há dois meses, sinto que já tenho a felicidade de puder chamar vários colegas de «amigos» e estou super impaciente para o que ainda está para vir! Como se diz: “só se é caloiro uma vez”! RESISTANCE


Pensamentos ao acaso

Bernardo Fabrica Para todas as senhoras: sim, nós estamos a olhar-vos para os seios; não, não vamos desviar a cara; sim, queremos tocar. Têm algum problema com isso? Muito bem, para a próxima não tragam a camisola tão puxada para baixo. Não me digam que, com um decote desses, vocês esperavam que nós reparássemos nos vossos olhos e personalidade. Outro dia entrei num cubículo do quarto de banho dos homens de um Pizza Hut e vi lá escrito algo semelhante a “ (Nome de Rapariga) amo-te mt pra xempre. (Nome de Rapaz) xoxo”. O que me ocorreu naquele momento não foi o porquê do “sempre” com x nem o quão querido era existir ali uma declaração de amor. O que me passou pela cabeça foi um profundo momento de tristeza pela raça humana. Que besta-quadrada se lembra de colocar uma declaração de amor a uma rapariga, num cubículo de quarto de banho, que, para além de ter o característico aspecto e cheiro desses mesmos locais, era dos homens! Terei eu lido mal o nome, e na realidade aquilo era uma declaração de um rapaz para outro? Se assim fosse tudo bem, continua a ser um pouco parvo colocar uma declaração num local onde parece que um cego foi urinar (a sério, gostava de perceber como é que as casas de banho chegam a tal ponto de limpeza; será assim tão difícil acertar no urinol?), mas pelo menos foi posta num sítio onde é possível que o outro vá ver. Terá aquilo sido escrito pelo rapaz depois de eles terem estado lá dentro a praticar o amor? Se assim foi continuo a torcer o nariz, pois fazê-lo não me aparenta RESISTANCE

ser muito bom para a saúde púb(l)ica em geral. Sem contar que é para essas declarações que existem jardins com árvores para escrever e arbustos para esconder. Portanto, dá para perceber a minha tristeza. Aquela leitura para mim foi mais que o vislumbramento de um momento de estupidez. Aquilo para mim foi uma carta de despedida da minha esperança na inteligência humana. Mas, pelo menos, mandou beijos. Questão: terá sido a regra de não falar com a boca cheia alguma coisa que surgiu como todas as regras do nada ou terá havido alguma mãe prostituta que aprendeu isso no emprego e resolveu ensinar aos filhos, que não entenderam na altura a mensagem? Falando de

da boca era uma tentativa delas de manterem pelo menos um orifício maior do corpo ligeiramente livre de doenças. Se bem que esta teoria cai pelo chão se eu pensar em todas as coisas que essas senhoras fazem com a boca. Sabem o que eu odeio? O facto de ser visto com maus olhos por não me lembrar do nome de alguém com quem falei duas vezes, só porque essa pessoa se lembra de mim. Quão egocêntrico isso é: “Claramente, tens que te lembrar de MIM! Eu, uma pessoa tão importante! Eu, que me dignei a dirigir-te a palavra!”. Desculpa lá, a tua presença não me marcou a vida para todo o sempre. Devia estar distraído. Obviamente eu tenho a culpa toda,

Não me digam que, com um decote desses, vocês esperavam que nós reparássemos nos vossos olhos e personalidade. prostituição, nunca entendi aquela lendária regra do “Só não dou beijo na boca”. Será isso algo real? Se sim, será alguma imposição que elas colocam para ter a certeza que não existe qualquer ligação emocional? Eu sempre achei isso estranho. Sei como facto que é possível existirem batalhas de línguas entre pessoas sem que ocorra grande conversa anterior. Basta colocar duas raparigas bêbadas e oferecer-lhes shots se elas beijarem-se para comprovar esta teoria. E não, isto não é machismo. Só nunca vi isto a funcionar com pessoas do sexo masculino. Sabem o que eu sempre achei? Sempre achei que essa

nada recai sobre tu seres incapaz de ter uma conversa de interesse capaz de me captar a atenção. Lembrei-me agora sobre quartos de banho (sim, onde isso já vai) um poema que li certa vez num que ia assim: “Neste local solitário/Onde toda a vaidade se apaga/Onde todo o cobarde faz força/Onde todo o valente se caga”. Algures aqui existe uma mensagem sobre a existência humana, não me consigo lembrar qual. Outra coisa que odeio? Não saber como acabar esta mistela de pensamentos mais ou menos interligados. Portanto… É isso… Adeus e assim. Dezembro 2011

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Crónica

“Clash of Titans” texto_Rita Morais Desde há muito que, tal como os actuais estudantes dos departamentos de Física e Química da UC, estas duas ciências disputam a derradeira batalha: qual delas a melhor? Qual delas a mais importante? Estaríamos a ser honestos se disséssemos que uma jamais poderia “sobreviver” sem a outra, que caminham de mão dada? Talvez. Sabemos, perfeitamente, que é a Física quem nos fornece as leis científicas, as relações entre simples factos do quotidiano, que nos fornece o como. E como obter o porquê? Tal seria impossível sem a química, sem as suas experiências, tentativas cegas com destinos possíveis: o sucesso ou um memorável desastre!Já Einstein dizia que “a teoria é

assassinada mais cedo ou mais tarde pela experiência”, ou seja, e perdoem-me desde já por uma perspectiva um pouco química, que sem a prática, as teorias apresentadas pelos físicos pouca ou nenhuma validade teriam, uma vez que sobre elas não pairaria qualquer tipo de certeza. Afinal qual a conclusão, se é que nos é possível chegar a alguma? Não sei, e penso nunca vir a saber qual das duas ciências reina neste mundo, no entanto, acredito que é fulcral a união das ambas para que esta grande máquina giratória possa continuar a avançar no tempo e no conhecimento. Devemos, por isso, “(…)aprender sempre, até mesmo com um inimigo” (Isaac Newton)!

Afinal as touradas não são só na cama… texto_André Silva A tauromaquia é um assunto que gera sempre controvérsia, seja em Portugal ou em qualquer outro ponto do mundo: uns apoiamse na tradição como peça chave para a preservação deste acto; outros acham esta prática uma barbaridade obsoleta que apenas serve como forma de prazer através da “sacrifício” de animais. Posso ser um bocado suspeito talvez por ter crescido num meio tauromáquico, mas sim, sou a favor das touradas e estou a escrever para vos elucidar o porquê desta minha escolha: primeiro acho uma das formas de cultura mais bonitas e nobres que existe já que a destreza do homem é posta à prova. E sim, apesar de eu ser pró-touradas não aprecio muito o facto de um indivÍduo se sentar em cima de um cavalo a espetar farpas no touro só porque sim. O resto demonstra uma destreza e risco humano ao qual só se submete quem tem a coragem necessária para o efeito: e aí sim, há que dar valor, já que o limiar entre a vida e a morte está a ser posto à prova de uma maneira totalmente voluntária não havendo qualquer protecção. O confronto homem-touro é digno aqui e quem não gosta de sentir a adrenalina de situação de risco extremo? Por mais paleio que me possam dar, a minha opinião não muda neste ponto. Sim à custa de um animal, mas quem não o faz? Ter um cão fechado num apartamento todo dia, um periquito na gaiola ou até um porco a ser criado para depois ser comido é equiparado a esta situação; preocupem-se antes em estar contra o massacre intelectual que é um programa televisivo chamado “Casa dos Segredos”, onde se metem pessoas fechadas numa casa (equiparada à arena) e onde se gozam os intervenientes apenas para belo prazer do público; mas ninguém é contra isso.

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A meu ver, o ser humano ainda está num patamar superior ao do animal; caso contrário, tornem-se todos vegans. E aí vai haver alguém que quer “salvar as alfaces”: repito são opiniões. Digo mais só vê touradas quem quer, ninguém é obrigado. Facto: 75% dos portugueses são a favor das touradas ou são indiferentes à realização das mesmas. Facto: desde quando é que uma minoria (e mesmo que fosse uma maioria) tem o direito de interferir

...preocupem-se antes em estar contra o massacre intelectual que é um programa televisivo chamado “Casa dos Segredos”... num acto de outros desde que esse acto não esteja directamente relacionado com eles? Podem dizer que não, mas ponto assente: os touros bravos são dos animais mais respeitados e adorados por nós; o processo de criação é o mais digno e acreditem que a larga maioria das ganadarias tratam melhor os touros do que muitas pessoas são tratadas. Preocupem-se então em salvar o mundo das questões que realmente interessam e deixem-se de coisas.Finalizo, não com o intuito de “converter” pessoas à tauromaquia mas com um apelo àqueles que se auto intitulam anti-touradas, para que respeitem quem o faz. Mas pessoas do contra só porque sim sempre houve e sempre vai haver. E essas, nem merecem sequer participar numa discussão.

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Crónica

Crise? Qual crise? texto_Frederico Borges Nos últimos três anos a palavra que, provavelmente, mais lemos nos jornais deverá ser a palavra ‘Crise’. Crise para aqui, e Crise para ali. O PIB de Portugal diminui, o da UE e dos EUA também. E segundo os economistas, aparentemente, na última década todos os países ditos civilizados viviam acima das suas possibilidades. E aquando do Crash da bolsa em 2008 a bolha rebentou. Mas, para os mais atentos, no fim dos jornais não sensacionalistas aparece uma frase que diz: O PIB do Mundo tem aumentado sucessivamente ao longo das últimas décadas. Isto significa que o mundo está a produzir mais riqueza de ano para

problema. Agora apercebemo-nos que os empregos que estes países nos estão a tirar são altamente necessários para todos os países desenvolvidos. Finalmente já nos apercebemos que Portugal não pode somente depender do Turismo e da Tecnologia de ponta. O Turismo está muito dependente de modas e do estado dos mercados; não há dinheiro, não há férias. A Tecnologia de ponta precisa de muitos investimentos para resultados completamente incertos. Não são todas as empresas que se tornam numa Apple ou numa Airbus. Existem muitas a falir porque não conseguem competir com outras do mesmo ramo. A Tecnologia

Temos de acabar com a mania que temos de ser todos doutores e engenheiros em Portugal ano. Então, se o mundo está a produzir mais riqueza por que é que nós estamos mais pobres? Basicamente o dinheiro está a sair dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento como a China, a Índia, o Brasil, a Turquia, etc. Isto é outra forma de dizer que o PIB está a aumentar a níveis de 5% a 8% nos países em desenvolvimento, enquanto o PIB em Portugal se estima que seja à volta -2%, em 2011. Parece que vamos entrar em recessão. Mas o que é importante salientar é que pessoas que há dez anos estavam a passar fome, agora começam a ter os postos de trabalho que nós já não queremos ter. Em vez de adiarmos o problema, como sempre o fizemos, através da caridade; estamos a dar-lhes emprego e dinheiro para sobreviverem um pouco mais condignamente. Mas isto leva-nos a outro

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de ponta não é um investimento seguro, caso contrário teríamos conhecimento de empresas Austríacas e Dinamarquesas, que investem muito mais que Portugal em Tecnologia e não obtêm resultados de relevância internacional. A verdade é que temos de voltar ao passado. Precisamos de investir no sector primário que sustentou Portugal durante décadas. Temos que investir na pesca (porque somos o país europeu com maior região exclusiva marítima da UE), na agricultura (porque temos terrenos muito férteis e clima apropriado para tal), nas minas (temos minérios altamente necessários para a respectiva Tecnologia de ponta) e nas fábricas têxtil (os nossos produtos têxtil são reconhecidos internacionalmente pela qualidade superior). Temos de acabar com a mania que temos de ser todos doutores e engenheiros

em Portugal. Mas existe um enorme problema político nisto. Enquanto um trabalhador do sector primário português recebe o ordenado mínimo, existem outros países que produzem o mesmo produto com trabalhadores a receber até 10 vezes menos. Obviamente que o produto será bem mais barato, e o sector primário não poderá escoar os produtos, e o investimento será em vão. Mas tem de haver alguma solução…Como o regresso ao Escudo é um suicídio a longo prazo, porque apesar da desvalorização da moeda resolver o problema a curto prazo, deixaríamos de evoluir a longo prazo porque precisamos da UE para tal. Portanto, para competirmos no sector primário existem duas soluções. Ou os nossos trabalhadores trabalham por dois ou três trabalhadores, ou temos de ter ordenados semelhantes aos dos países que produzem os mesmos produtos. Esta é a única maneira para termos possibilidade de ter os nossos produtos com preços competitivos no mercado. Uma ideia para tal, diminuam o ordenado mínimo e introduzam uma taxa de suplemento de ordenado por cada quilo, peça, etc. que o trabalhador produza. Se o trabalhador quer ganhar mais, então que trabalhe para tal. Vamos acabar com aqueles que passam a vida a viver à custa do trabalho dos outros. Concluindo, se Portugal produzir mais, consumiríamos mais produtos nacionais o que significaria que as importações iriam diminuir e por sequentemente estaríamos menos dependentes dos mercados externos. Com o aumento da produção também iríamos exportar mais, o que aliado com menos importação iria fazer aumentar o PIB. Portanto pergunto. Crise? Qual Crise?

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Mãe, afinal sei cozinhar!

Pontapés de javali com batatas à Floriana “avec touts”!

Nuno Balhau

TEMPO DE PREPARAÇÃO 48 horas se congelado, 36 se descongelado…. CUSTO APROXIMADAMENTE EXACTO Se tiveres sido tu a matar o javali, o que custa mais é a grade de minis por isso gastas por volta de 9 euros porque entretanto te lembraste dos cacahuetes! Se tiveres que comprar o javali, então este não é o prato para ti…. E custa por volta de 50 euros, sem cacahuetes. CALORIAS tenho é fome, pá…

Ingredientes :

Uma perna de javali (sem pele); várias cebolas; alho (e quando digo alho, é alho a sério! Muito… mais ainda!); vinagre; vinho branco; piripiri; tomate pelado, o do pingo doce é fixe… “praí” uma cena das grandes; louro; pimentão-doce; batata; mais cebola para a batata; alho, mais alho; limão(s); sal; pimentão; cogumelos; um pimento, vermelho (viv’ó Benfica!).

Modo de Preparação:

Corta a porção de perna de javali, que vejas que consegues malhar, em pequenos cubos. Coloca a carne cortada dentro de um recipiente e mistura vinho, muito limão, alhos e não te esqueças do sal. Bebe a grade, come os cacahuetes… dorme, acorda e vai comprar outra grade (de médias, as minis vão num instante) e mais cacahuetes… Passaram 24h15min: lava a carne, muda de recipiente (isto foi para tirar o cheiro a bedum da carne)… No novo recipiente da carne coloca alho e

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BASTANTE VINHO! Junta-lhe pimentão, piripiri, o tomate pelado e de seguida mistura (com as mãos lavadas). Mistura mais… Descasca as batatas, os alhos, as cebolas… Corta as batatas aos cubos, e os alhos e as cebolas aos bocadinhos. Mistura esses três suplementos num tacho com azeite. Bebe a grade, come os cacahuetes… Passaram 12 horas (tenho o javali descongelado, não sou tolo…). Tentando afastar o molho, coloca a carne numa panela com alho e cebolas previamente alourados e deixa de maneiras a carne a guisar. Guarda o molho do recipiente onde estava a carne temperada. Em paralelo, uma meia hora mais tarde, liga o lume do tacho das batatas. Com as batatas alouradas, junta um pouco de polpa de tomate, pimentão e uns poucos de tomates pelados, não são precisos muitos é só para dar cor. Junta o molho que ainda está no recipiente (onde estava a carne) com a carne alourada e tapa… Junta uns pimentos cortados pequeninos e uns cogumelos. Junta um copo de água às batatas para não agarrarem ao fundo. A batata é para cozer sempre no nível mais fraco de lume, enquanto que a carne é com mais “fogacidade”. Junta um pouco de sal às batatas e um pouco de vinho branco… não muito, se não as batatas não acabam de cozer (as batatas não cozem com vinho). A carne já deve cheirar bastante bem, mas deve ainda estar dura que nem uma pedra… adiciona mais molho, caso ainda tenhas e haja pouco na panela… se não tiveres e a panela estiver a secar junta vinho branco: um copo deve chegar… Deixa a cozinhar tapado mais meia hora! Com as batatas no mínimo e a carne no lume com pujança, faz uma salada de tomate, alface, couve roxa… etc. (a Resistance impõe regras acerca das calorias!) e 30 Minutos depois desliga tudo. Põe a mesa, arranja um bom tintol, disfruta do jantar (depois de um banho, que agora quem cheira a javali és tu) e… jantar cumprido, arranja um mitra para lavar a loiça.

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A gamer (re)view

Bruno Galhardo

1947, Los Angeles. A cidade vivia um clima de prosperidade advindo de um pós-guerra, onde a vida exuberante de Hollywood se encontrava lado a lado com uma crescente onda de homicídios, tráfico de droga em proliferação e uma corrupção descontrolada. É neste cenário que o ex-militar Cole Phelps é inserido na polícia de LA, após o regresso do seu destacamento em Okinawa. O jogo encontra-se dividido em casos. Cada caso é um crime que tens de resolver, passando tanto pela análise das provas, como pelo interrogatório aos indivíduos com que te vais deparando. Com alguma ajuda musical, acabas por encontrar facilmente essas tais provas do crime. Quanto ao interrogatório, esse envolve conseguires detectar a veracidade do discurso dos inquiridos. Depois da tua análise das expressões faciais e corporais, se eventualmente desconfiares do sujeito, verificas se tens provas para o poder acusar. Tudo isto é possível graças a uma nova tecnologia que é capaz de capturar movimentos faciais

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dos actores, e os transportar para o motor de jogo, dando resultado às personagens mais reais alguma vez representadas em videojogos. Este é dos pontos mais fortes do jogo, sendo possível distinguir no jogo diversos actores conhecidos tanto do cinema, como das séries de TV. Uma coisa é certa: quer sejas o Gil Grissom ou não faças a mínima ideia do caso que estás a tentar desvendar, acabas sempre por conseguir resolver os crimes! O jogo dá-te a mão ao longo de toda a experiência, levando-te a crer que estás mesmo a resolver o crime. Isso é apenas uma ilusão. São muitas as ajudas que vais tendo ao longo dos casos e, mesmo que a solução que encontres não seja a melhor, passas ao próximo caso, onde recebes felicitações dos teus superiores por um crime supostamente bem resolvido. A única recompensa que vais ter pela tua inteligência vão ser as estrelas atribuídas no final na missão. Esta desconexão entre os casos tem o intuito de fazer avançar a história principal - independentemente do sucesso nows casos isolados. Esta história principal em paralelo vai deixarte a adivinhar até ao fim, sendo outro grande ponto alto deste jogo. Também o setting LA dos Anos 40 está bastante bem conseguido. Durante os casos tens a liberdade de andar por onde quiseres na cidade e conduzir qualquer um dos 90 e poucos veículos da época que encontres. Como deves imaginar, conduzir pelas ruas da única recreação virtual fiel da LA desses anos dá uma grande satisfação! Apesar da sensação de liberdade que o jogo te oferece ao poderes andar livremente pela cidade, não há muito para fazer ao explora-la. Podes conduzir entre localizações nos casos e, de vez em

quando, podes fazer trabalho de polícia em missões secundárias, mas que não demoram mais de dois minutos e que nada têm a ver com a história. Podes, ainda, ter de perseguir suspeitos pelas ruas da cidade, quer em veículo, quer a pé, num artifício para criar alguma acção no meio de uma aventura que, de outra forma, seria bastante calma. Como as perseguições são bastante semelhantes entre si, estas tornamse aborrecidas muito rapidamente, já que estes encontros são muitas vezes scriptados para que as perseguições acabem sempre da mesma maneira. Em resumo: se procuras um jogo de acção com um grande desafio, este não é definitivamente pra ti. Estamos perante uma “experiência interactiva” onde o jogo te convida a seguir com ele. Vale certamente a pena principalmente se fores fã de CSI ou de policiais em geral, ou até se simplesmente gostares do setting, e tenhas curiosidade em saber como era ser polícia naquela época. Disponível para PS3, XBox360 e PC

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Monopoly HARDCORE Consoante o número de peças, n, podem jogar n-1 pessoas. Itens necessários: Jogo do monopólio Regras: Atribuir um número do dado a cada jogador. Se o teu monopólio tiver moedas, deves distribui-las por todos os jogadores. As moedas servem para dar aos outros jogadores e estes têm de beber um gole de sumo. A pessoa que ficar com a banca bebe um shot a cada transacção. A peça que fica de fora deve ser o moinho e troca de jogador de 5 em 5 minutos, para trocar o moinho lança-se o dado e o jogador que calhar bebe um shot de um sumo muito forte. Quem quiser sair da mesa bebe um shot de um sumo extremamente forte.Para sair da prisão o jogador deve pagar 50€ e beber um shot. Sempre que saiam duplos nos dados o jogador deve beber o número de goles correspondente. A cada transacção de 100€

corresponde um gole de sumo e o número de goles é sempre arredondado para cima. Cada jogador que calhe na propriedade de um adversário deve além de pagar o aluguer, beber os goles correspondentes a esse valor. Cada vez que o jogador passa na partida, além de receber os 200€, bebe 2 goles. Nas casas da sorte, quando ganhas dinheiro mandas beber e quando perdes dinheiro bebes os goles correspondentes ao valor. Quem calhar no estacionamento livre manda beber o número de goles correspondente ao valor que recebe. Todas as negociações devem envolver transacções de sumo. Nota: ao contrário do que o Fred pensa o objectivo do jogo não é ganhar, mas sim beber e inventar as tuas próprias regras ;)

by Bruno Agatão

E um feliz natal a todos

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